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ENTRE O FANTÁSTICO E O REAL: BATMAN E O IMAGINÁRIO SOBRE OS SUPER-HEROIS

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Academic year: 2021

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ENTRE O FANTÁSTICO E O REAL: BATMAN E O IMAGINÁRIO SOBRE OS SUPER-HEROIS

Mario Marcello Neto Graduando em História, pela Universidade Federal de Pelotas

Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa, ainda em andamento, no qual pretendemos compreender como os Desenhos Animados de Super-Herois são responsáveis por difundirem valores e ideologias aos seus expectadores. Apresentaremos aqui à parte teórica, em fase final, deste projeto. A segunda parte, que ainda está em construção, se dividirá entre a análise dos Desenhos e Filmes sobre Herois – que ainda serão selecionados –, buscando entender desde sua construção até a sua recepção pelo público. Tendo em vista a enorme difusão deste tipo de gênero de entretenimento, os Super-Herois, tornaram-se parte do cotidiano de muitos jovens. Para este momento, temos como objetivo mostrar como o Imaginário existente em torno deste tipo de desenho o torna um produto altamente vendável e fascinante. Sendo assim, através da análise do personagem Batman, desde a sua trajetória nos Quadrinhos, passando pelas animações, chegando ao Cinema e ao Vídeo Game, buscamos referências que nos ajudassem a compreender melhor este fenômeno que são os Super-Herois em relação ao uso da imagem como forma de um símbolo, um mito. Para isso, utilizamos autores como Eco (2010), Chartier (2009), Baczko (1985) e etc. Como resultados, podemos afirmar que os conceitos de Heroi (PAIVA, 2005), Imaginário (BACZKO, 1985) e Representação (CHARTIER, 2009) são fundamentais para esta pesquisa, uma vez que nos permitem entender que a relação de identificação e projeção da imagem, símbolo, como uma forma mítica e viva, participante do mundo ao qual estamos inseridos. Portanto, podemos compreender que o imaginário com relação aos Herois, tem em sua essência um caráter de dualidade, onde a divisão entre o humano e o sobre-humano nos permite sonhar com o real e o fantástico, ao mesmo tempo. Palavras-Chave: Imaginário, Real, Batman

“Cada sociedade produz um sistema de „representações‟ que legitima tanto a ordem estabelecida quanto às atividades contra esta dirigidas. Entre estas representações ocupam um lugar a parte os símbolos e as imagens veiculados, quer através da linguagem - em particular através da literatura-, quer através das artes. Ali encontramos, portanto, utopias que mostram sociedades perfeitas, escatologias, que apresentam imagens do fim do mundo; de igual modo, as ideologias, particularmente os etnocentrismos, põem em funcionamento sistemas de imagens. Podem-se encontrar imagens seja como expressão formal de conteúdos de propaganda a que recorrem o estado ou os partidos políticos, seja nos vários tipos de representação que as nações, os grupos e as classes sociais, os partidários de uma religião ou de uma crença dão tanto de si quanto dos outros. Este papel das imagens manifesta-se, sobretudo nas situações de crise social e em particular durante as revoluções que são sempre acompanhadas de uma explosão da imaginação social que conduz a modificações nas instituições.”

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O Surgimento do Tema

Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa que busca compreender o Imaginário Social construído em relação aos Super-Herois de Desenhos Animados. A animação escolhida para ser analisada foi a Liga da Justiça (produzida pela DC Comics, 2001). Esta escolha deve-se ao fato deste desenho ainda está em circulação na televisão aberta do Brasil e de vários outros países, alcançando números de espectadores e vendas de produtos em grande escala1.

Entretanto, por se tratar de um trabalho em andamento, sabíamos que o tema precisaria, necessariamente, passar por uma triagem ainda maior devido ao grande número de Herois envolvidos na mesma animação. Por isso, para este trabalho resolvemos trazer a discussão acerca de um dos personagens mais enigmáticos de todos os tempos, o responsável por uma das maiores tiragens de toda a História dos quadrinhos: o Batman (WHITE; IRWIN, & ARP, 2008).

Esse personagem que possui 72 anos desde sua criação, e o mais interessante de tudo isso é que ele ainda assim se mantém no topo como o Heroi mais vendido em todos os setores: DVD‟s, games, camisetas, brinquedos, souvenirs e etc. Os filmes sobre ele, normalmente, são sucesso de crítica e público, um exemplo é o filme lançado este ano Batman: O Cavalheiro das Trevas Ressurge, que se manteve em primeiro lugar nos cinemas mundiais por mais de um mês.2 Isso é uma prova que de alguma forma a sociedade “comprou” este tipo de entretenimento, os Herois passaram a fazer parte de um Universo fantástico, imaginário, que tem uma relação com o mundo, dito, real. Esta relação entre o real e o fantástico que só os Herois nos permitem analisar com tanto especificidade é o foco deste trabalho. Partiremos desta premissa como o ponto principal por este produto do entretenimento ser tão atrativo e vendável.

1

Sobre isso indicamos esta reportagem do site Cosmic Teams formado por críticos e fãs de Quadrinhos e Desenhos Animados que fazem uma excelente analise da Liga da Justiça desde as HQ‟s até a animação. Disponível em: <http://www.cosmicteams.com/jla/_docs/artcl-jla-prss-rlse.html> Acesso em: 11/02/2012.

2

Sobre isso ver essas reportagens a seguir. A primeira comenta sobre a repercussão disso no Brasik: Disponível em: < http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,cavaleiro-das-trevas-bate-recorde-de-bilheteria-nos-eua,208704,0.htm> Acesso em: 20/08/2012. E sobre o cenário mundial. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/entertainment-arts-18951174> Acesso em: 20/08/2012

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A relação do Batman com a sociedade como um todo não está só em seu personagem, embora isto seja muito importante, ela encontra-se também no seu universo. Gotham City e seus inimigos fazem parte de um imaginário que os autores ajudaram a construir fazendo com que a cidade fictícia fosse tão semelhante a qualquer outra cidade real, que muitas vezes os problemas desta se confundem com os daquela. Essa relação entre o fictício e o real nos permite dizer que o universo do Homem-Morcego é o mais intrigante de sua história.

Os conceitos e suas aplicações

Na tentativa de compreender melhor a relação dos Herois com a realidade, é preciso ter claro a concepção de Heroi a qual estamos nos referindo. Para Kulsar (2001), os heróis são incapazes de ferir sentimentos de alguém sem se culparem posteriormente, são intelectualizados, dispostos e acima de tudo possuem um caráter universalista de ajudar o próximo, muito mais do que a si. Para Paiva:

O conceito de super-herói demonstra um herói, dedicado a uma causa, que possui habilidades superiores às demais pessoas. Ao invés de usar essas habilidades para seu próprio bem as emprega para o bem coletivo. Mesmo apresentando valores humanos, por diferentes motivações os super-heróis decidem que devem intervir na execução da justiça. (PAIVA, 2009. p. 1) Os autores supracitados compartilham da ideia de que o Heroi3 deve possuir características humanas, porém deve ter algum elemento de destaque sobre o resto. Esse elemento que o coloca em superioridade ao resto da humanidade é o principal fato da construção desse imaginário. O segundo fator importante de se ressaltar é que o Heroi, quase que em sua totalidade, tem sua relação com o planeta Terra e o chamado mundo real, onde vivemos. Isso deve-se atribuir ao elemento mais mágico que até então só existia em forma de mito e lenda4: a relação de um ser superior, mas ao mesmo tempo humano. O questionamento que nos permite aproximar ainda mais dessa discussão é: seria Hércules um Superman grego? Umberto Eco em sua obra Apocalípticos e Integrados, entre muitas outras questões discute a relação do Superman como Heroi e dotado de um poder incrível com o Clark Kent, seu Alter Ego, a sua parte humana. Sobre isso ele comenta que:

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Neste artigo não discutiremos as diferenciações conceituais entre Herois e Super-Herois, trataremos isso apenas como uma diferenciação semântica.

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Todavia, a imagem do Superman não escapa totalmente às possibilidades de identificação por parte do leitor. De fato, o Superman vive entre os homens sob as falsas vestes do jornalista Clark Kent; e, como tal, é um tipo aparentemente medroso, tímido, de medíocre inteligência, um pouco embaraçado, míope, súcubo da matriarcal e mui solícita colega Míriam Lane, que, no entanto, o despreza, estando loucamente enamorada do Superman. Narrativamente, a dupla identidade do Superman tem uma razão de ser, porque permite articular de modo bastante variado a narração das aventuras do nosso herói, os equívocos, os lances teatrais, um certo suspense próprio de romance policial. Mas, do ponto de vista mitopoiético, o achado chega mesmo a ser sapiente: de fato, Clark Kent personaliza, de modo bastante típico, o leitor médio torturado por complexos e desprezado pelos seus semelhantes; através de um óbvio processo de identificação, um accountant qualquer, de uma cidade norte-americana qualquer, nutre secretamente a esperança de que um dia, das vestes da sua atual personalidade, possa florir um super-homem capaz de resgatar anos de mediocridade. (ECO,2004. p. 247-248)

Esse sonho de que das vestes de um homem comum surja um Super-Heroi faz parte do que Baczko (1985) chama de Imaginação Social. E é essa aproximação entre a realidade do leitor com os Herois que faz com que as práticas incentivadas por eles remontem a um modelo comportamental representativo de determinada sociedade. Essa forma de pensar coletivamente sobre um tema em comuns elementos que sejam perceptíveis a todos os sentidos do corpo humano apenas ao aguçar um deles são frutos das possibilidades que a imaginação pode propiciar. Sobre isso Baczko comenta que:

O imaginário social é cada vez menos considerado como uma espécie de ornamento de uma vida material considerada como a única “real”. Em contrapartida, as ciências humanas tendem cada vez mais a considerar que os sistemas de imaginários sociais só são “irreais” quando, precisamente, colocados entre aspas. É banal, por exemplo, verificar que os percursos imaginados pelos agentes sociais para si próprios e para os seus adversários só raramente se cumprem. A posteriori, os próprios agentes ficam muitas vezes surpreendidos com os resultados das suas ações. Este desfasamento nada tira, porém, as funções reais desses percursos imaginários. Pelo contrário, apenas as põe em realce. (BACZKO, 1985, p.298)

Com isso, o autor defende a ideia, mesmo que a imaginação coletiva sobre algo, quase, nunca se concretize isso não tira dela a carga de importância ao qual ela Representa. A relevância desse tipo de imaginação são os fatores que levaram aquela coletividade a imaginar, pensar em imagens sobre o tema. O caso do Batman não é diferente, os fatores que levam as pessoas a realizarem uma espécie de arquivo, no qual estão depositados elementos que poderão ser consultados quando algum sentido for aguçado por alguma informação que remeta a ele, isso projetará, automaticamente, uma imagem acerca disso. Esses signos e

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símbolos estabelecidos podem ser compreendidos como o passo principal para a construção de um imaginário. Sobre isso Baczko ratifica:

Ora, só é possível comungar ou comunicar entre os homens através de símbolos exteriores aos estados mentais individuais, através de signos posteriormente concebidos como realidades. Um dos caracteres fundamentais do fato social é, precisamente, o seu aspecto simbólico. Na maioria das representações coletivas, não se trata da representação única de uma coisa única, mas sim de uma representação escolhida mais ou menos arbitrariamente a fim de significar outras e de exercer um comando sobre as práticas. Freqüentemente, os comportamentos sociais não se dirigem tanto as coisas em si, mas aos símbolos dessas coisas. As representações coletivas exprimem sempre, num grau qualquer, um estado do grupo social, traduzem a sua estrutura atual e a maneira como ele reage frente a tal ou tal acontecimento, a tal ou tal perigo externo ou violência interna. Existe uma relação íntima e fatal entre o comportamento e a representação coletiva. (BACZKO, 1985, p.306)

Essa relação existente entre o símbolo e a ação perante ele, ou seja, entre o fazer e o ver, Chartier (2010) chama de Representação. Para ele, essa dicotomia só é possível através da subjetividade de cada um aliada as diferenciadas formas de compreensão e acepção dos símbolos e signos. Para Chartier: Representações:

[...] não são simples imagens, verdadeiras ou falsas, de uma realidade que lhes seria externa; elas possuem uma energia própria que leva a crer que o mundo ou o passado é efetivamente, o que dizem que é. (CHARTIER, 2010, p. 51).

Vejamos como os conceitos se assemelham e se completam. Se as Representações não fazem parte de uma realidade externa, mas sim de um modo de perceber as coisas de uma forma a qual ela parece ser real; podemos dizer que os Super-Herois se encaixam perfeitamente nesse conceito. Isso pode ser afirmado devido a forma como o expectador/leitor/ouvinte é realocado para um mundo que inicialmente pode ser considerado real e em outros momentos fictícios, porém não importando o seu potencial de realidade e levando em conta, sim, a capacidade de discernimento e de imaginação do mundo “heróico”. Aquele sonho de um dia surgir das vestes de um homem comum um Super-Heroi é a forma mais clara deste exemplo de formas diferentes de ver uma pratica e a sua representação, propiciando uma construção de um Imaginário em torno deste ser. Sobre isso José D‟Assunção Barros comenta que:

De acordo com este horizonte teórico, a Cultura (ou as mais diversas formações culturais) poderia ser examinada no âmbito produzido pela relação interativa entre estes dois pólos. Tanto os objetos culturais seriam produzidos entre práticas e representações, como os sujeitos produtores e

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receptores de cultura circulariam entre estes dois pólos, que de certo modo corresponderiam respectivamente aos „modos de fazer‟ e aos „modos de ver‟. (BARROS, 2004, p. 76)

Complementando, Barros considera que:

As representações, acrescenta Chartier, inserem-se, “em um campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominação” – em outras palavras, são produzidas aqui verdadeiras lutas de representações. E estas lutas geram inúmeras apropriações possíveis das representações, de acordo com os interesses sociais, com as imposições e resistências políticas, com as motivações e necessidades que se confrontam no mundo humano. (BARROS, 2004, p. 87-88)

Esse conceito nos auxiliou na compreensão sobre a assimilação do universo “heróico” por parte do público. E na sua utilização na pratica; foi possível perceber que através da compreensão deste mundo, as formas, regras, leis são transpostas para o dia-a-dia de quem convive com este universo que acabando reconstruindo a sua sociedade. O espírito altruísta acaba se tornando obrigatório em um mundo que está prestes a descobrir um novo Heroi. Ratificando isso Baczko diz que:

É assim que, através dos seus imaginários sociais, uma coletividade designa a sua identidade; elabora certa representação de si; estabelece a distribuição dos papéis e das posições sociais; exprime e impõe crenças comuns; constrói uma espécie de código de “bom comportamento”, designadamente através da instalação de modelos formadores tais como o do “chefe”, o “bom súbdito”, o “guerreiro corajoso”, etc. Assim é produzida, em especial, uma representação global e totalizante da sociedade como uma “ordem” em que cada elemento encontra o seu “lugar”, a sua identidade e a sua razão de ser. (BACZKO, 1985, p.309)

Obviamente que não estamos dizendo que o Imaginário sobre os Super-Herois são os responsáveis pelos códigos de bom comportamento no mundo. O que estamos tentando dizer É que ele faz parte desse todo simbólico ao qual estamos envolvidos, nos estabelecendo sim códigos de condutas, lições de moral e impondo uma hierarquia típica dos Herois, mas que podem ser realocadas facilmente para o dito mundo real.

O Batman, dentro dessa conjuntura em que se encaixam os Herois, está em destaque por um motivo bem especial: ele é um dos únicos Herois que não possui Super-Poderes. Obviamente que suas características como ser especialista em muitas artes marciais, criminologia e escapismo aliados ao fato de não possuir medo, o coloca em destaque ao resto da sociedade, porém qualquer ser humano dedicado poderia alcançá-lo, diferentemente do Superman, que veio de outro Planeta (LOEB & MORRIS, 2005)

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Batman: o Heroi Humano

O mito do Herói dos quadrinhos e depois das animações e filmes, criado na década de 1920, no qual o contexto de criação desses personagens pode-se definir ao caos social que o Crash da Bolsa de Valores de 1929 causou nos EUA e no Mundo (HOBSBAWM, 2011). Os problemas sociais internos como roubos, desemprego, fome entre outros temas são os principais alvos do combate destes heróis. Segundo depoimento de Mark Waid, escritor de quadrinho da DC Comics, no documentário: Secret Origin The Story of DC Comics (2010):

Dá para contar nos dedos de uma mão os personagens de gibis que foram criados por pessoas bem-sucedidas. Os personagens de longevidade sempre surgem da opressão. Sempre vem de alguém que quer sair do mundo onde está. Todos nós éramos garotos do Bronx. (Secret Origin The Story of DC Comics, 2010.15:39,828 –15:58,349)

Irwin Hasen, desenhista da DC Comics, no mesmo documentário supracitado, ratifica dizendo que:

Todos nós éramos um bando de tolos, um bando de tolos judeus. Éramos inocentes, talentosos e tolos. Nós nunca desenhávamos a nós mesmos. Por quê? Por que desenharíamos pobres? O que nos inspiraria a desenhar pobres? A indústria de gibis é feita de pessoas que não são aceitas e que querem muito ser aceitas. Eles queriam muito virar tendência nos EUA. Por isso Batman é um milionário e Super Homem é um fazendeiro. Queriam ser tendência real mesmo, dos EUA reais. Então, eles viram marcas em imagens heróicas que personificam tudo o que eles queriam ser. Ricos, bonitos, musculosos capazes de lidar com qualquer situação e desembaraçados. (Secret Origin The Story of DC Comics, 2010. 00:15:58,646 – 00:17:02,446)

Esta ideia surtiu efeitos inigualáveis na sociedade, principalmente americana, naquele período. Os Comics Books, como são chamados os quadrinhos na língua inglesa, alcançaram vendas de tiragens realmente altas para os padrões aos quais estavam acostumados. Afinal eram feitos justamente para os maiores consumidores dos EUA no período, os trabalhadores alfabetizados. Sobre isso, René Jarcem (2007) auxilia na compreensão deste contexto de surgimento desses Heróis.

Batman foi o primeiro Herói a não ter poderes, surgido em 1940, porém suas características pessoais – não possui medo, é sagaz e muito inteligente – e destreza com relação às artes marciais e apoio da tecnologia de seus equipamentos o tornou um dos personagens preferidos dos consumidores. Além disso, ele representa em seu Alter Ego uma identidade secreta que é o sonho de muitos homens ainda nos dias de hoje: ser um bilionário que nas horas vagas salva o mundo, ter mulheres lindas e carros luxuosos sempre a sua

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disposição, ser bonito e além de tudo isso humilde. Batman é a representação mais clara do que autores pobres poderiam sonhar dentro de um mundo capitalista (EISNER, 1995).

Concluindo

O universo de Gotham City é imenso, talvez um livro fosse pouco para que se conseguisse fazer a análise deste personagem e seu universo. Entretanto, analisar o Batman em relação ao imaginário construído em torno desse Heroi é o que pouco foi discutido nas referências consultadas. Isso se deve a tentativa de esgotar a análise de seu mundo, como compreender o Alfred (mordomo e tutor de Bruce Wayne, Alter Ego de Batman), O Comissário Gordon (um dos poucos incorruptíveis em Gotham), a própria cidade de Gotham City (cidade onde praticamente todos os políticos são corruptos e a criminalidade rola solta) já foi muito estudada. Até mesmo os seus vilões como o Coringa e a Mulher-Gato, os quais mantêm com os dois vilões uma relação de dualidade, onde já foi ajudado e prejudicado por eles diversas vezes, fato que põe em pauta a discussão sobre até que ponto eles podem ser considerados vilões. A discussão sobre o Coringa e Mulher-Gato serem Herois com uma visão de mundo diferente já foi estudado por White; Irwin, & Arp (2008) de uma maneira bem interessante.

Todas essas análises, embora sejam importantes, não definem este trabalho como um todo. O que buscamos aqui é compreender que este universo tão complexo e conflituoso aliado a um personagem cheio de conflitos internos tem uma identificação muito maior com o público. Sendo assim, essa identificação é o passo inicial para uma aceitação tão grande do público para com o Batman, além disso, o Imaginário construído através da Representação de Gotham e seus inimigos e é tão pertinente ao nosso mundo que muitas vezes nos vemos no lugar destes personagens e nos frustramos por eles não existirem, ou não termos visto eles ainda.

Hoje Desenhos Animados, filmes, brinquedos, games, camisetas e inúmeros outros produtos como tatuagens são comercializados e admirados em todo o mundo quando se trata do Batman. Podemos assim concluir que este universo de um mundo obscuro e quase sem futuro sendo iluminado por uma pessoa comum, mas rica e audaciosa, agradou e agrada muita gente, tornando este personagem despretensioso da década de 1940 em um dos maiores

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personagens de todos os tempos. Construindo em grande parte dos seus expectadores o poder de imaginar, de relacionar alguns fatos como a luta por justiça ao Homem-Morcego.

Referências

BACZKO, Bronislaw. A Imaginação Social. In: LEACH, Edmund et all. Anthropos-Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985.

BARROS, Jose D´Assunção. Campo da Historia, Especialidades e Abordagens. São Paulo: Vozes, 2004.

CHARTIER, Roger. A História ou a Leitura no Tempo. São Paulo: Autêntica, 2010.

DUTRA, J. P. História e História em Quadrinhos. Omelete, São Paulo, set. 2001.

Disponível em:

<http://www.omelete.com.br/quadrinhos/artigos/base_para_artigos.asp?artigo=507>. Acesso em 20 out. 2003.

EISNER, Will. Quadrinhos a Arte Sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

HOBSBAWN, Eric J. Era dos Extremos; O Breve Século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

JARCEM, René Gomes Rodrigues. História das Histórias em Quadrinhos in: História,

imagem e narrativas. n.5, Ano 3, setembro/2007 Diponivel em:

http://www.historiaimagem.com.br Acesso em: 12/03/2012.

KULSAR, A. M. As Noções de Justiça dos Super-Heróis. Agaquê. São Paulo, v.3. n.2, ago. 2001.

LOEB, Jeph; MORRIS, Tom. Heróis e Heróis. In IRWIN, William (org.) Super-Heróis e a Filosofia-verdade, justiça e o caminho Socrático.São Paulo: Madras, 2005.

VIANA, Nildo. Herois e Super-Herois No Mundo Dos Quadrinhos. Rio de Janeiro: Achiamé, 2005.

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WHITE, Mark; IRWIN, William & ARP, Robert. Batman e a Filosofia: o Cavaleiro das Trevas da Alma. São Paulo: Madras, 2008.

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