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Estudo do Meio Físico-Natural I Sistema Solar

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Estudo do Meio F´ısico-Natural I

Sistema Solar

J. L. G. Sobrinho

∗1,2

1

Centro de Ciˆ

encias Exactas e da Engenharia, Universidade da Madeira

† 2

Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira

16 de Dezembro de 2013

Conte´

udo

1 O Sol 3

1.1 O interior do Sol . . . 3

1.1.1 Composi¸c˜ao do Sol . . . 3

1.1.2 A fonte de energia do Sol . . . 3

1.1.3 Mecanismos de transporte de energia do interior para o exterior do Sol . . . . 4

1.1.4 O Sol em equil´ıbrio . . . 5 1.1.5 Neutrinos Solares . . . 5 1.1.6 Sismologia Solar . . . 5 1.2 A atmosfera do Sol . . . 6 1.2.1 Fotosfera . . . 6 1.2.2 Cromosfera . . . 7 1.2.3 Coroa . . . 8 1.3 O Sol activo . . . 9 1.3.1 Manchas Solares . . . 9

1.3.2 A invers˜ao dos p´olos magn´eticos do Sol . . . 11

1.3.3 Eje¸c˜oes de massa coronais . . . 12

1.4 Observa¸c˜ao do Sol . . . 12

2 Os Planetas do Sistema Solar 12 2.1 Merc´urio . . . 12

2.1.1 A superf´ıcie de Merc´urio . . . 13

2.1.2 O interior de Merc´urio . . . 13

2.2 V´enus . . . 14

2.2.1 A rota¸c˜ao de V´enus . . . 14

2.2.2 A atmosfera de V´enus e a cobertura de nuvens . . . 14

2.2.3 O interior de V´enus e a atividade vulcˆanica . . . 15

sobrinho@uma.pt

Caminho da Penteada, 9000-390 Funchal, Portugal, http://ccee.uma.pt/http://www3.uma.pt/Investigacao/Astro/Grupo/index.htm

(2)

2.2.4 A superf´ıcie de V´enus . . . 16

2.3 Terra . . . 17

2.3.1 Atmosfera da Terra . . . 17

2.3.2 O interior da Terra . . . 18

2.3.3 O campo magn´etico da Terra . . . 19

2.3.4 A Lua . . . 20 2.4 Marte . . . 21 2.4.1 A superf´ıcie Marciana . . . 21 2.4.2 O interior de Marte . . . 23 2.4.3 A atmosfera Marciana . . . 23 2.4.4 Agua em Marte . . . .´ 23

2.4.5 As duas luas Marcianas . . . 25

2.5 J´upiter . . . 25

2.5.1 A atmosfera de J´upiter . . . 25

2.5.2 O interior de J´upiter . . . 27

2.5.3 O campo magn´etico de J´upiter . . . 28

2.5.4 Os an´eis de J´upiter . . . 28

2.5.5 Os sat´elites de J´upiter . . . 28

2.6 Saturno . . . 31

2.6.1 A atmosfera de Saturno . . . 31

2.6.2 O interior de Saturno . . . 32

2.6.3 Os an´eis de Saturno . . . 33

2.6.4 Tit˜a: a maior lua de Saturno . . . 34

2.6.5 Outros sat´elites de Saturno . . . 35

2.7 Urano . . . .´ 35

2.7.1 O eixo de rota¸c˜ao do planeta . . . 36

2.7.2 A atmosfera de ´Urano . . . 36

2.7.3 O interior de ´Urano . . . 37

2.7.4 O campo magn´etico de ´Urano . . . 37

2.7.5 Os An´eis e os sat´elites de ´Urano . . . 37

2.8 Neptuno . . . 38

2.8.1 A atmosfera de Neptuno . . . 39

2.8.2 Os An´eis e os sat´elites de Neptuno . . . 39

3 Planetas An˜oes e pequenos corpos 39 3.1 Plut˜ao . . . 39

3.2 Cintura de Kuiper e outros planetas an˜oes . . . 41

3.3 Sedna e outros corpos da cintura de Kuiper . . . 41

3.4 Asteroides . . . 42

3.4.1 Cintura de Asteroides . . . 42

3.4.2 Ceres . . . 43

3.4.3 Asteroides troianos . . . 43

3.4.4 Asteroides que passam perto da Terra . . . 44

3.5 Meteoroides, meteoros e meteoritos . . . 44

(3)

1

O Sol

1.1

O interior do Sol

1.1.1 Composi¸c˜ao do Sol

O Sol ´e composto essencialmente por hidrog´enio e h´elio que s˜ao os dois elementos mais simples que existem no Universo e tamb´em os mais abundantes. O n´umero de ´atomos no Sol ´e da ordem de 1057 sendo que 92% deles s˜ao ´atomos de hidrog´enio e 7.8% de h´elio. Em termos de massa as percentagens alteram-se uma vez que os ´atomos de h´elio tˆem massa superior aos de hidrog´enio. Assim, 73.4% da massa do Sol consiste em hidrog´enio e 25% em h´elio. O terceiro elemento mais abundante ´e o carbono com 0.02% do total de ´atomos e cerca de 0.2% da massa total.

1.1.2 A fonte de energia do Sol

Em meados do s´eculo XIX Lord Kelvin e Hermann von Helmholtz sugeriram que a contra¸c˜ao gra-vitacional do Sol, dada a grande massa deste, aqueceria as regi˜oes mais interiores ao ponto de ser radiada energia. Este processo, que de facto ocorre durante as fases iniciais da vida de estrelas como o Sol, n˜ao ´e por si s´o capaz de justificar a emiss˜ao de energia observada atualmente. Por outro lado, se este fosse o principal processo respons´avel pela emiss˜ao de energia, o Sol n˜ao poderia ter uma idade superior a 25 milh˜oes de anos. Acontece que, por data¸c˜ao radioativa, sabemos que a Terra (e a pr´opria vida sobre a Terra) existem h´a mais de 4500 milh˜oes de anos e que, portanto, a idade do o Sol n˜ao pode ser inferior a esse valor.

Pensou-se ent˜ao que a energia libertada pelo Sol poderia resultar de de rea¸c˜oes qu´ımicas. Sabemos, no entanto, que a energia libertada numa rea¸c˜ao qu´ımica ´e, em m´edia, ∼ 10−19 J por ´atomo. Para termos a Luminosidade do Sol ter´ıamos de ter a combust˜ao de ∼ 1045 ´atomos por segundo. Tendo em conta que o Sol ´e composto por ∼ 1057 ´atomos estes teriam de ser todos consumidos em menos de 10000 anos o que ´e, novamente, muito inferior `a idade da Terra e, portanto, esta hip´otese deve ser tamb´em rejeitada.

A apresenta¸c˜ao da Teoria da Relatividade Especial, por Albert Einstein, em 1905, bem como o de-senvolvimento da F´ısica Nuclear nos anos seguintes acabaram por dar resposta a este problema: o mecanismo respons´avel pela enorme quantidade de energia radiada pelo Sol ´e a fus˜ao nuclear, mais concretamente a fus˜ao nuclear do hidrog´enio em h´elio.

Sabemos que cargas el´etricas do mesmo sinal repelem-se. No entanto a gravidade no centro do Sol ´e suficiente para vencer a repuls˜ao existente entre os n´ucleos de hidrog´enio (prot˜oes) permitindo que estes se juntem para formar n´ucleos de h´elio. Por cada n´ucleo de h´elio formado libertam-se ∼ 10−12 J, ou seja, ∼ 107 vezes mais energia do que no caso da descrito anteriormente. Fica assim resolvido o problema da fonte de energia do Sol bem como o problema da sua idade.

Em estrelas como o Sol a fus˜ao nuclear ocorre mediante a chamada cadeia prot˜ao-prot˜ao. Esta pode dividir-se em trˆes passos (ver Figura 1):

1. Ocorre a colis˜ao de dois prot˜oes (n´ucleos de hidrog´enio, 1H) sendo um deles transformado num neutr˜ao dando origem a um n´ucleo de deut´erio (is´otopo do hidrog´enio, 2H). No processo libertam-se um neutrino (ν) e um positr˜ao (β+).

1H +1H −→2H + β++ ν

O neutrino interage muito pouco com a mat´eria pelo que o mais prov´avel ´e que abandone rapidamente o Sol. O positr˜ao ´e a antipart´ıcula do eletr˜ao (tem as mesmas propriedades mas

(4)

Figura 1: Esquema simplificado da fus˜ao nuclear do higrog´enio em h´elio no interior do Sol [3].

carga el´etrica de sinal oposto). Como existem eletr˜oes em abundˆancia no interior do Sol este positr˜ao encontra um desses eletr˜oes e aniquilam-se mutuamente. No processo s˜ao emitidos dois fot˜oes de raios gama (γ):

β++ e−−→ γ + γ

2. O n´ucleo de deut´erio formado acaba por colidir com um prot˜ao formando um n´ucleo de h´elio-3 sendo tamb´em emitido um fot˜ao de raios gama.

2H +1H −→3He + γ

Os fot˜oes emitidos neste e no passo anterior v˜ao constituir a radia¸c˜ao solar (ap´os um longo e complicado percurso at´e a superf´ıcie).

3. Finalmente da colis˜ao de dois n´ucleos de h´elio-3 forma-se um n´ucleo de h´elio-4. O processo fica completo com a dispensa de dois prot˜oes.

3He +3He −→4He +1H +1H

1.1.3 Mecanismos de transporte de energia do interior para o exterior do Sol

As rea¸c˜oes de fus˜ao nuclear ocorrem nas zonas mais interiores do Sol. Os fot˜oes de raios gama emitidos nessas rea¸c˜oes viajam para o exterio primeiro pelo mecanismo de difus˜ao radiativa e depois por convex˜ao:

difus˜ao radiativa - os fot˜oes emitidos no centro mais quente viajam para o exterior sendo por diversas vezes absorvidos e reemitidos o que faz com que esta seja uma viagem demorada (um fot˜ao pode demorar um milh˜ao de anos neste processo). Durante este processo os fot˜oes perdem energia. A zona radiativa vai desde o centro do Sol at´e 0.7R (Figura 2).

convex˜ao - movimento de bolsas de g´as quente em dire¸c˜ao `a superf´ıcie acompanhadas do movimento contr´ario de bolsas de g´as frio (como acontece, por exemplo, num recipiente com ´agua em ebuli¸c˜ao). A chamada zona convectiva estende-se dos 0.7R at´e a superf´ıcie (Figura 2).

(5)

Figura 2: Esquema do interior do Sol mostrando as zonas convectiva e radiativa [4].

1.1.4 O Sol em equil´ıbrio

O Sol est´a em equil´ıbrio t´ermico. Embora a temperatura no interior do Sol varie com o raio, para um dado raio a temperatura ´e constante. Em particular a temperatura no centro do Sol ronda os 15.7 × 106 K e na sua superf´ıcie ´e de 5800 K aproximadamente.

O Sol est´a em equil´ıbrio hidrost´atico. No Sol atuam duas for¸cas: a gravidade que aponta para o centro e a press˜ao da radia¸c˜ao que aponta para o exterior. As duas for¸cas equilibram-se mutuamente conferindo ao Sol uma grande estabilidade. O Sol tem cerca de 5000 milh˜oes de anos e est´a mais ou menos a meio da sua vida como estrela da Sequˆencia Principal.

1.1.5 Neutrinos Solares

De acordo com os modelos s˜ao produzidos ∼ 1038 neutrinos no Sol em cada segundo. Estes saem quase todos do interior do Sol para o espa¸co (`a velocidade da luz) uma vez que interagem muito pouco com a mat´eria. Por segundo cada metro quadrado da Terra ´e atravessado por ∼ 1014neutrinos provenientes do Sol. Detetar estes neutrinos ´e uma forma de mostrar que ocorrem rea¸c˜oes de fus˜ao nuclear no Sol e tamb´em uma forma de sondar as zonas mais interiores do Sol. ´E muito dif´ıcil de detetar (capturar) um neutrino. Em raras ocasi˜oes um neutrino interage com um neutr˜ao e transforma este num prot˜ao. Como estes eventos s˜ao raros temos de ter uma grande quantidade de mat´eria para que a probabilidade de detetar um deles seja um valor mensur´avel. Assim, os detetores de neutrinos s˜ao, em geral, compostos por grandes tanques cheios de uma substˆancia adequada (por exemplo `agua bastante pura).

1.1.6 Sismologia Solar

O Sol vibra de diversas formas. O estudo destas vibra¸c˜oes permitem sondar o interior do Sol at´e uma certa profundidade. Podemos identificar, por exemplo, a separa¸c˜ao entre a zona convectiva e a zona radiativa.Esta ´area de estudo designa-se por Sismologia Solar.

Em 1960 descobriu-se que a superf´ıcie do Sol oscila constantemente para cima e para baixo com uma amplitude de 10 metros a cada 5 minutos (o fen´omeno ficou conhecido como oscila¸c˜ao dos 5 minutos). Estas oscila¸c˜oes resultam da propaga¸c˜ao de ondas sonoras na superf´ıcie do Sol.

(6)

Figura 3: Espectro solar com as principais linhas de absor¸c˜ao – A: 759.4 nm, oxig´enio terrestre; B: 686.7 nm, oxig´enio terrestre; C: 656.3 nm, hidrog´enio (Hα); D1: 589.6 nm, s´odio neutro (Na I); D2: 589.0 nm, s´odio neutro (Na I); E: 527.0 nm, ferro neutro (Fe I); F: 486.1 nm, hidrog´enio (Hβ); G: 430.8 nm, c´alcio e ferro neutros (Ca, Fe); H: 396.8 nm, c´alcio ionizado (Ca II); K: 393.4 nm, c´alcio ionizado (Ca II) [5].

contr´ario ´e poss´ıvel saber como roda o Sol a diferentes latitudes e diferentes profundidades. Verificou-se, assim, que a rota¸c˜ao da superf´ıcie do Sol ´e diferencial. Isto significa que um ponto sobre a linha do equador desloca-se mais rapidamente que um ponto mais pr´oximo dos p´olos.

Esta rota¸c˜ao diferencial, observada na superf´ıcie do Sol, ´e comum a toda a zona convectiva. A zona radiativa, por seu turno, roda como um corpo r´ıgido com um per´ıodo de 27 dias. Julga-se que ´e nesta zona de separa¸c˜ao, devido `as diferen¸cas de velocidade de rota¸c˜ao, que tem origem o campo magn´etico do Sol.

1.2

A atmosfera do Sol

A atmosfera do Sol ´e composta por trˆes camadas: coroa (mais exterior), cromosfera e fotosofera (mais interior). Tanto a coroa como a cromosfera s˜ao transparentes para a luz vis´ıvel pelo que quando observamos o Sol o que vemos ´e a fotosfera.

1.2.1 Fotosfera

Quando observamos o espectro do Sol vemos linhas correspondentes `a absor¸c˜ao de fot˜oes pelos ´atomos presentes nas camadas mais externas da fotosfera. Temos em particular a linha Hα do hidrog´enio, duas linhas do s´odio neutro e duas linhas do c´alcio ionizado (Figura 3). Se os ´atomos estivessem todos em repouso as linhas seriam bastante estreitas e bem localizadas. No entanto, como os ´atomos apresentam movimento aleat´orio as linhas registadas acabam por ter uma certa espessura. Medindo essa espessura podemos ter uma ideia da agita¸c˜ao dos ´atomos e consequentemente da temperatura registada na fotosfera do Sol. A fotosfera ´e aquecida de baixo para cima. As partes mais exteriores desta camada s˜ao mais frias.

Um dos fen´omenos observados sobre a superf´ıcie solar ´e a granula¸c˜ao: regi˜oes que se estendem por cerca de 1000 km rodeadas por uma fronteira mais escura correspondendo a uma diferen¸ca de temperatura de 300 K (a diferen¸ca de cor n˜ao ´e assim t˜ao grande embora aos nossos olhos pare¸ca ser uma regi˜ao escura devido ao contraste) - Figura 4. Esta granula¸c˜ao ´e causada por processos de convex˜ao na fotosfera (as zonas mais claras s˜ao g´as quente a subir e as zonas mais escuras s˜ao g´as frio a descer). Os grˆanulos formam-se e desaparecem em ciclos de apenas alguns minutos. Em cada instante a superf´ıcie do Sol est´a coberta por cerca de 4 milh˜oes de grˆanulos.

(7)

Figura 4: A imagem mostra uma pequena sec¸c˜ao da superf´ıcie solar bastante ampliada onde se pode ver claramente o efeito de granula¸c˜ao. A granula¸c˜ao ´e causada por processos de convex˜ao na fotosfera (as zonas mais claras s˜ao g´as quente a subir e as zonas mais escuras s˜ao g´as frio a descer). A imagem foi obtida pelo Hinode Solar Optical Telescope [6].

Figura 5: Imagem da cromosfera obtida no eclipse solar total de junho de 2001 [7].

1.2.2 Cromosfera

A cromosfera do Sol, cerca de 10−4 vezes menos densa do que a fotosfera, s´o ´e vis´ıvel durante os eclipses solares ou mediante a utiliza¸c˜ao de equipamentos adequados. Ao contr´ario da fotosfera (cujo espectro ´e rico em linhas de absor¸c˜ao) a cromosfera apresenta no seu espectro linhas de emiss˜ao. Uma das linhas mais comums ´e a linha Hα resultante da emiss˜ao de um fot˜ao de 656.3 nm (vermelho) quando um eletr˜ao salta do n´ıvel n = 3 para o n´ıvel n = 2 do hidrog´enio. Esta emiss˜ao confere um tom avermelhado `a cromosfera (ver Figura 5). Existem tamb´em linhas de emiss˜ao do c´alcio, h´elio e outros metais ionizados (Figura 6). De notar que o h´elio foi descoberto em 1868 no Sol, 30 anos antes de ser isolado na Terra.

A cromosfera estende-se por cerca de 2000 km. A temperatura aumenta com a altitude na cromosfera. Come¸ca nos 4400 K na fronteira com a fotosfera e sobe at´e aos 25000 K nos pontos mais altos.

Numa imagem da cromosfera s˜ao normalmente vis´ıveis diversas fa´ıscas verticais designados por esp´ıculas. Estas consistem em jatos de g´as que sobem a cerca de 20 km/s durante aproximadamente 15 minutos. Em cada instante existem cerca de 300 000 esp´ıculas no Sol o que corresponde `a cobertura de 1% da superf´ıcie total do Sol. Uma esp´ıcula pode estender-se por cerca de 700 km e subir at´e aos 7000 km

(8)

Figura 6: Espectro da cromosfera solar obtido momentos antes de ser atingida a totalidade do eclipse solar em 2006. A risca Hβ ´e a mais forte ´e (banda do ultravioleta) logo seguida da risca Hα na banda do vis´ıvel [8].

Figura 7: Esquema da atmosfera solar mostrando uma esp´ıcula [9].

(Figura 7).

1.2.3 Coroa

A coroa ´e a camada mais exterior da atmosfera solar. Ela estende-se por v´arios milh˜oes de km. O seu brilho ´e cerca de um milh˜ao de vezes inferior ao da fotosfera e por isso s´o pode ser observada durante eclipses ou mediante a utiliza¸c˜ao de telesc´opios especiais. A coroa n˜ao tem uma forma esf´erica, apresentando contornos irregulares que variam ao longo do tempo (Figura 8).

A temperatura na coroa ´e muito elevada atingindo valores da ordem dos 106 K O arrefecimento da coroa ocorre mediante a colis˜ao de ´atomos ionizados entre si. No entanto, como essas colis˜oes s˜ao relativamente raras, dada a baixa densidade do g´as, este dificilmente arrefece. Assim se justifica o facto de a temperatura na coroa ser superior `a da fotosfera.

A velocidade do g´as na coroa por vezes atinge valores superiores ao da velocidade de escape imposta pela gravidade do Sol. Como resultado algum do g´as da coroa consegue escapar dando origem ao chamado vento solar. Isso ocorre sobretudo nos chamados buracos coronais (zonas onde a densidade da coroa ´e menor). Em cada segundo s˜ao ejetados para o espa¸co 109 milh˜oes de toneladas de g´as. Trata-se essencialmente de eletr˜oes, n´ucleos de hidrog´enio e h´elio. Apenas 0.1% corresponde a i˜oes de

(9)

Figura 8: Imagem da coroa solar obtida durante o eclipse total de 11 de julho de 1991 [9].

c´alcio, cr´omio, sil´ıcio, enxofre, n´ıquel, ferro e ´argon.O vento solar atinge a Terra com velocidades da ordem dos 400-450 km/s e uma densidade de 5 part´ıculas por cada 10 cm3.

1.3

O Sol activo

Grˆanulos, esp´ıculas e vento solar s˜ao processos que ocorrem continuamente no Sol. S˜ao caracter´ısticos do chamado Sol quieto. Existem, no entanto, outros processos como, por exemplo, as manchas solares ou as eje¸c˜oes de massa coronais que ocorrem apenas periodicamente e s˜ao caracter´ısticos do chamado Sol ativo.

1.3.1 Manchas Solares

As manchas solares s˜ao regi˜oes escuras de forma irregular que aparecem sobre a superf´ıcie do Sol de forma isolada ou em grupo. A sua dimens˜ao ´e vari´avel. As maiores podem atingir os milhares de km. O seu tempo de vida pode ir desde algumas horas a alguns meses.Cada mancha solar tem uma zona central mais escura chamada umbra e uma zona exterior mais clara chamada penumbra. As manchas parecem escuras por causa do contraste com o brilho da fotosfera. No entanto a umbra tem um tom avermelhado (4300 K) e a penumbra ´e cor de laranja (5000 K). A umbra emite cerca de 30% da luz que emitiria se n˜ao estivesse perturbada (Figura 9).

A observa¸c˜ao das manchas solares permite observar a rota¸c˜ao do Sol. O Sol d´a uma volta completa em cerca de 4 semanas e um grupo de manchas pode durar at´e dois meses o que permite servir de referˆencia para duas rota¸c˜oes completas. Podemos tamb´em observar que a rota¸c˜ao do Sol ´e diferencial. Um conjunto de manchas pr´oximas do equador demora 25 dias a circundar o Sol, a 33◦N demora cerca de 27 dias e meio, a 75◦N cerca de 33 dias e junto aos polos cerca de 35 dias.

O n´umero m´edio de manchas solares n˜ao ´e constante no tempo. Apresentam uma varia¸c˜ao peri´odica em ciclos de 11 anos designados por ciclos de manchas solares. Um per´ıodo com muitas manchas solares ´e designando por m´aximo solar ao passo que um per´ıodo com poucas ´e designado por m´ınimo solar. No in´ıcio de cada novo ciclo as manchas come¸cam por aparecer nos 30◦N ou 30◦S. Com o decorrer do ciclo aparecem cada vez mais pr´oximas do equador. Daqui resulta o Diagrama em Borboleta (Figura 10).

As manchas solares est˜ao relacionadas com zonas onde o campo magn´etico do Sol ´e mais intenso. Um campo magn´etico intenso desvia o fluxo de plasma que sobe por convex˜ao. Assim, nessas zonas, o

(10)

Figura 9: Imagem de alta resolu¸c˜ao mostrando uma mancha solar bem desenvolvida onde podemos ver clara-mente as zonas da umbra e da penumbra [9].

Figura 10: Cada ponto do diagrama indica a latitude, norte ou sul, onde foram detetadas manchas solares. Com o desenrolar do ciclo solar as manchas surgem cada vez mais perto do equador. Este diagram ´e usualmente designado por Diagrama em Borboleta [10].

que vemos ´e o g´as frio e, portanto, uma mancha escura. As manchas solares assemelham-se a um ´ıman gigante com uma das extremidades exibindo polaridade magn´etica Sul e outra Norte. Todos os grupos de manchas no hemisf´erio norte do Sol apresentam a mesma orienta¸c˜ao na polariza¸c˜ao. Todos os grupos de manchas no hemisf´erio Sul apresentam a polariza¸c˜ao sendo esta contr´aria `a do hemisf´erio norte. A cada 11 anos a polaridade ´e invertida tanto nas manchas como no pr´oprio Sol. Assim o padr˜ao repete-se a cada dois ciclos solares de manchas solares, ou seja, a cada 22 anos. Assim, o ciclo solar s˜ao 22 anos correspondendo a dois ciclos de manchas solares de 11 anos cada.

Estes ciclos n˜ao se repetem todavia sempre com a mesma intensidade. Entre 1645 e 1715 praticamente n˜ao foram observadas manchas. Designou-se este per´ıodo, que provavelmente j´a se repetiu em ´epocas mais recuadas, por M´ınimo de Maunder. Este per´ıodo coincidiu com uma ´epoca onde a Europa registou limites inferiores de temperatura. Pelo contr´ario nos s´eculos XI e XII tivemos per´ıodos de grande atividade solar e um aumento da temperatura na Terra. Estas rela¸c˜oes ainda n˜ao s˜ao bem

(11)

Figura 11: Arcos de mat´eria coronais seguindo as linhas de campo magn´etico acima da superf´ıcie do Sol [11].

Figura 12: As linhas de campo magn´etico s˜ao arrastadas com o plasma nas camadas mais externas do Sol. Como o Sol roda mais rapidamente na zona equatorial do que nas zonas mais pr´oximas dos polos as linhas do campo ficam mais esticadas sobre o equador. Na imagem mais `a direita mostra-se como as manchas solares surgem em zonas de grande concentra¸c˜ao do campo magn´etico [9].

entendidas.

1.3.2 A invers˜ao dos p´olos magn´eticos do Sol

A convex˜ao do g´as na fotosfera cria emaranhados nas linhas do campo magn´etico. Algumas das linhas do campo magn´etico est˜ao de tal forma torcidas que acabam por projetar-se sobre a superf´ıcie solar (Figura 11). As manchas solares surgem precisamente nas zonas onde o campo magn´etico se projeta sobre a fotosfera. A rota¸c˜ao diferencial do Sol altera a configura¸c˜ao do emaranhado de linhas do campo magn´etico. Em consequˆencia disso as manchas da frente do grupo dirigem-se para o equador enquanto que as da retaguarda movem-se em dire¸c˜ao aos p´olos.

Manchas provenientes de hemisf´erios diferentes tˆem polaridades diferentes pelo que estas cancelam-se sobre o equador. As que v˜ao para os p´olos acabam por anular e depois inverter a polaridade do pr´oprio Sol. Assim come¸ca tudo de novo mas agora com a polaridade invertida (Figura 12). Contudo os p´olos magn´eticos do Sol n˜ao se invertem sempre em simultˆaneo. O Sol pode permanecer durante algum tempo com, por exemplo, dois p´olos Norte e nenhum p´olo Sul (n˜ao sabemos ainda a raz˜ao para tal).

(12)

Figura 13: Eje¸c˜ao de massa coronal (CME) [12].

1.3.3 Eje¸c˜oes de massa coronais

Nas eje¸c˜oes de massa coronais (CME – Coronal Mass Ejections) mais de 1012 kg de g´as podem ser lan¸cados para o espa¸co `a velocidade de centenas de km/s (Figura 13). Este tipo de evento repete-se de merepete-ses a merepete-ses (embora possam ocorrer erup¸c˜oes menores entre duas grandes). Parecem estar relacionadas com altera¸c˜oes de grande escala no campo magn´etico do Sol.

1.4

Observa¸

ao do Sol

Aten¸c˜ao: a observa¸c˜ao do Sol deve ser feita apenas mediante a utiliza¸c˜ao de equipamento adequado e na presen¸ca de quem o saiba manejar. Olhar diretamente para o Sol (`a vista desarmada, com ´oculos de Sol ou com bin´oculos) pode provocar les˜oes graves e irrevers´ıveis na nossa vista.

Em particular devem ser utilizados telesc´opios pr´oprios para a observa¸c˜ao do Sol ou telesc´opios con-vencionais munidos de um filtro solar. Antes de cada utiliza¸c˜ao deve verificar-se se o equipamento est´a em boas condi¸c˜oes.

Atualmente o Sol ´e observado em permanˆencia por telesc´opios espaciais como o Solar and Heliospheric Observatory (SOHO) em opera¸c˜ao desde 1995 [14].

2

Os Planetas do Sistema Solar

2.1

Merc´

urio

Merc´urio, na sua fase mais brilhante, ´e um dos objetos mais luminosos do c´eu (reflete cerca de 12% da luz recebida do Sol, ou seja tem de albedo 0.12). No entanto, o facto de ser muito pequeno e estar muito perto do Sol (0.387 UA; 57.9 milh˜oes de km) dificulta o seu estudo e simples observa¸c˜ao a partir da Terra. A observa¸c˜ao de Merc´urio ´e mais f´acil quando este est´a na sua elonga¸c˜ao m´axima o que nunca ultrapassa os 28◦ acima da linha do horizonte (estando no m´aximo vis´ıvel apenas duas horas antes do nascer do Sol ou duas horas antes do pˆor do Sol).

Em 1962 foram detetadas ondas de r´adio emitidas por Merc´urio o que revelou a sua temperatura. Em 1965 foram enviadas ondas de radar para Merc´urio que, ao serem refletidas de volta para a Terra,

(13)

Figura 14: Aspeto da superf´ıcie de Merc´urio. A foto foi tirada pela sonda Mariner 10 a uma altitude de 55000 km. Podemos ver diversas crateras rodeadas por zonas planas extensas [15].

permitiram determinar o per´ıodo de rota¸c˜ao do planeta (efeito Doppler). Apenas em 1974 o planeta pode ser observado de perto quando a sonda Mariner 10 o visitou fazendo trˆes passagens (fly-by) pelo planeta (uma delas a apenas 300 km da superf´ıcie). Ficamos assim a saber que o seu per´ıodo orbital ´e de 88 dias, que o per´ıodo de rota¸c˜ao ´e de 58.6 dias e que a temperatura ´e de ≈ 100 K no lado escuro e ≈ 700 K no lado iluminado. Esta grande diferen¸ca entre temperaturas diz-nos que n˜ao existe no planeta uma boa condu¸c˜ao de calor (via atmosfera ou via solo) entre a face escura e iluminada.

2.1.1 A superf´ıcie de Merc´urio

Merc´urio apresenta uma superf´ıcie repleta de crateras muito semelhante `a observada na Lua. As crateras da Lua parecem, no entanto, muito mais concentradas do que as de Merc´urio. No planeta existem zonas planas (que provavelmente foram cobertas por lava) com extens˜oes ∼ 100 km entre crateras (Figura 14).

Rodeando as referidas plan´ıcies existem escarpas com 20 a 500 km de comprimento e at´e 3 km de altura. Estas devem ter-se formado quando o planeta arrefeceu e se contraiu. Como n˜ao existem sinais do derrame de lava junto das escarpas podemos concluir que a sua forma¸c˜ao ocorreu j´a numa fase tardia da forma¸c˜ao do planeta quando o seu interior j´a estava solidificado. Uma das crateras mais proeminentes na superf´ıcie de Merc´urio ´e Caloris Basin (diˆametro ≈ 1300 km). Esta cratera ´e relativamente jovem em rela¸c˜ao `as restantes uma vez que n˜ao se encontra ainda salpicada por crateras menores. O impacto mete´orico que deu origem a Caloris Basin foi t˜ao violento que deixou marcas do lado oposto de Merc´urio. A Mariner 10 detetou uma vasta zona formada por montes do lado oposto `

a cratera. Estes montes podem ter-se formado quando as ondas s´ısmicas do impacto se focaram nessa regi˜ao depois de atravessarem o interior do planeta.

2.1.2 O interior de Merc´urio

Merc´urio tem um n´ucleo rico em ferro como a Terra. No caso de Merc´urio o n´ucleo ocupa 42% do volume do planeta (correspondendo a cerca de 70% da massa total) fazendo de Merc´urio um dos corpos mais ricos em ferro no Sistema Solar (Figura 15). A crusta de Merc´urio parece ser composta por uma ´unica placa.

Os aparelhos da Mariner 10 detetaram a existˆencia de uma campo magn´etico global em Merc´urio (cerca de 100 vezes inferior ao terrestre). Um resultado completamente inesperado pois para termos um

(14)

Figura 15: Esquema mostrando a estrutura interna do planeta Merc´urio. O n´ucleo de ferro do planeta destaca-se claramente pela sua dimens˜ao [16].

campo magn´etico implica que deve existir material l´ıquido no interior do planeta capaz de movimentar cargas el´etricas. Para al´em disso a velocidade de rota¸c˜ao do planeta tem de ser relativamente elevada o que n˜ao ´e o caso.

2.2

enus

V´enus ´e por vezes o objeto mais brilhante no c´eu noturno (albedo de 0.59) sendo muitas vezes designado por estrela da manh˜a ou por estrela da tarde. Na sua elonga¸c˜ao m´axima V´enus atinge 47◦ acima da linha do horizonte.

V´enus foi durante muito tempo um planeta misterioso. ´E muito semelhante `a Terra em termos de massa e tamanho mas est´a sempre coberto por uma espessa camada de nuvens. Durante muito tempo pensou-se que V´enus poderia ser um planeta repleto de vida. Esta quest˜ao s´o ficou devidamente esclarecida com as primeiras sondas enviadas para o planeta. A primeira nave a passar por V´enus, a pouco mais de 34000 km da superf´ıcie, foi a Mariner 2 em 1962.

2.2.1 A rota¸c˜ao de V´enus

V´enus roda sobre si pr´oprio no sentido retrogrado (sentido oposto ao do movimento orbital) sendo o seu per´ıodo de rota¸c˜ao de 243.01 dias o que ´e superior ao per´ıodo orbital que ´e de 224.7 dias. Em V´enus o Sol e as estrelas deslocam-se de oeste para este. N˜ao sabemos a raz˜ao pela qual V´enus apresenta este comportamento. Sabemos, todavia, ser um ponto importante para entendermos a forma¸c˜ao e dinˆamica do Sistema Solar. As primeiras medi¸c˜oes relativas `a rota¸c˜ao do planeta foram feitas nos anos 60 do s´eculo XX, a partir da Terra, com recurso a radar. V´enus n˜ao tem campo magn´etico, provavelmente, devido `a sua rota¸c˜ao ser muito lenta.

2.2.2 A atmosfera de V´enus e a cobertura de nuvens

Os dados enviados pela pioneira Mariner 2 permitiram concluir que a temperatura na superf´ıcie de V´enus ´e superior a 400◦C. Isto exclui a possibilidade de existˆencia de ´agua l´ıquida na superf´ıcie ou de vapor de ´agua na atmosfera do planeta. A sonda Venera 7 desceu `a superf´ıcie do planeta em 1970 tendo registado uma temperatura de 460◦C, uma press˜ao equivalente a 90 atmosferas e uma densidade

(15)

Figura 16: As diferentes camadas de nuvens na atmosfera de V´enus e a varia¸c˜ao da temperatura com a altitude [17].

do ar cerca de 50 vezes superior `a verificada na Terra ao n´ıvel do mar.

A atmosfera ´e composta por 96.5% CO2 (na Terra temos apenas 1% de CO2) e 3.5% N2. A enorme quantidade de CO2 causa um forte efeito de estufa contribuindo para que a temperatura `a superf´ıcie do planeta seja sempre 460◦C independentemente do local, da hora do dia e da ´epoca do ano.

As nuvens venusianas definem trˆes camadas distintas: 48-52 km, 52-58 km e 58-68 km. As camadas mais baixas s˜ao mais opacas e mais densas. Acima da camada mais externa e abaixo da camada mais interior existem camadas de neblina. Entre a camada de neblina mais inferior e o solo (´ultimos 30 km) a atmosfera ´e limpa (Figura 16).

O Enxofre ´e um elemento abundante na atmosfera de V´enus. Este aparece em compostos como SO2 (di´oxido de enxofre), H2S (sulfeto de hidrog´enio) e H2SO4 (´acido sulf´urico). As nuvens de V´enus s˜ao compostas por H2SO4 concentrado. Quando chove as gotas ´acidas n˜ao conseguem atingir o solo pois, dada a alta temperatura, elas evaporam em plena queda e voltam a subir.

As altas camadas da atmosfera rodam em torno de V´enus em apenas 4 dias o que contrasta com a lenta rota¸c˜ao do planeta. Os gases presentes na atmosfera de V´enus s˜ao aquecidos pelo Sol principalmente na zona do equador. Decorre depois um processo de convex˜ao que leva este calor para os polos. Em V´enus, dada a sua lenta rota¸c˜ao, existem apenas duas c´elulas de convex˜ao, uma para cada hemisf´erio (na Terra existem seis ao todo). Na Terra a rota¸c˜ao, mais alta, ´e capaz de distorcer e dividir as c´elulas de convex˜ao. A rota¸c˜ao de V´enus, mais baixa, consegue apenas arrastar as c´elulas de convex˜ao formando uma esp´ecie de V (Figura 17).

2.2.3 O interior de V´enus e a atividade vulcˆanica

O facto de a atmosfera de V´enus ser rica em SO2 (e outros derivados do enxofre) ´e uma consequˆencia da atividade vulcˆanica registada no planeta. Em 1990 a sonda Magalh˜aes detetou cerca de 1600 vulc˜oes em V´enus e diversas correntes de lava (Figura 18). A maior parte destes vulc˜oes est´a inativa no presente. Foram, no entanto, detetados fluxos de lava com idade inferior a 10 milh˜oes de anos. De acordo com os dados enviados pela Venera 13 e outras sondas que desceram `a superf´ıcie o solo venusiano ´e composto por rochas bas´alticas (origem vulcˆanica).

Na Terra, compostos como SO2, H2O e CO2, libertados pelos vulc˜oes, acabam por se dissolver nos oceanos, sendo mais tarde incorporados em rochas sedimentares. No caso de V´enus, como n˜ao existem oceanos, n˜ao ocorre essa reciclagem. O SO2 e o CO2 ficam na atmosfera (enquanto que as mol´eculas

(16)

Figura 17: V´enus fotografado em UV pela sonda Pioneer Venus em 1979. Consegue-se ver nitidamente a forma de V devida ao arrastamento das c´elulas de convex˜ao [18].

Figura 18: Maat Mons: uma monte de origem vulcˆanica em V´enus fotografado pela sonda Magalh˜aes [19].

de H2O s˜ao separados por radia¸c˜ao UV proveniente do Sol).

O interior do planeta ´e formado por um n´ucleo met´alico (muito provavelmente semelhante ao da Terra) rodeado por um manto de rocha fundida e exteriormente por uma crusta rochosa. Embora apresente bastantes sinais de vulcanismo V´enus ´e composto por uma ´unica placa tect´onica.

2.2.4 A superf´ıcie de V´enus

O mapa superficial de V´enus, obtido pelo radar da sonda Magalh˜aes, mostra um relevo bastante suave com apenas 5% da superf´ıcie a se desviar mais do que 2 km do seu raio m´edio. Destacam-se duas zonas no planeta: Terra de Ishta no hemisf´erio norte (onde se destacam os Maxwell Montes com 12 km de altura) e Terra de Afrodite no hemisf´erio sul.

V´enus apresenta cerca de 100 crateras com dimens˜ao superior a 1 km (muito mais do que foi encontrado na Terra mas muito menos do que existe em Merc´urio ou em Marte). A distribui¸c˜ao destas crateras ´e mais ou menos uniforme pelo que se julga que a superf´ıcie do planeta tem mais ou menos a mesma idade a qual est´a avaliada em 500 milh˜oes de anos.

(17)

2.3

Terra

Uma das grandes diferen¸cas entre a Terra e os restantes planetas reside no seu dinamismo. A Terra apresenta, por exemplo, um ciclo da ´agua e a sua superf´ıcie ´e constantemente rejuvenescida por meio de erup¸c˜oes vulcˆanicas ou atrav´es do material expelido por fendas submarinas. Embora a idade da Terra ronde os 4.5 mil milh˜oes de anos a sua superf´ıcie tem uma idade da ordem dos 100 milh˜oes de anos. Existem trˆes fontes de energia respons´aveis pelos efeitos dinˆamicos observados na atmosfera, oceanos e superf´ıcie da Terra: radia¸c˜ao solar, for¸cas de mar´e da Lua e calor interno da Terra.

2.3.1 Atmosfera da Terra

A composi¸c˜ao atual da atmosfera da Terra ´e: 78% N2, 21% O2, 0.035% CO2e ≈ 1% H2O. Nem sempre foi assim. Ao longo da hist´oria o material expelido pelos vulc˜oes, por exemplo, alterou gradualmente a composi¸c˜ao da atmosfera. Os pr´oprios processos associados `a existˆencia de vida tamb´em deram a sua contribui¸c˜ao.

O albedo da Terra ´e de 0.4 o que significa que apenas 60% da energia proveniente do Sol ´e absorvida pela Terra. Os restantes 40% s˜ao devolvidos para o espa¸co essencialmente na banda do IV. No entanto, nem toda a radia¸c˜ao IV emitida pela Terra escapa para o espa¸co devido ao efeito de estufa. Este ´e provocado pelo vapor de ´agua e CO2 existentes na atmosfera, os quais deixam passar a luz vis´ıvel mas n˜ao deixam escapar a radia¸c˜ao IV. A temperatura m´edia da superf´ıcie da Terra ´e, assim, de 287 K (14◦C) o que corresponde a um valor cerca de 40 ◦C mais elevado do que seria sem o efeito de estufa. A press˜ao atmosf´erica ao n´ıvel do mar ´e de 1 atm. `A medida que subimos em altitude a press˜ao vai diminuindo. No caso da temperatura a varia¸c˜ao da altitude pode traduzir-se num aumento do seu valor ou num decr´escimo. Tudo depende da forma como cada uma das camadas da atmosfera ´e aquecida. A seguir indicam-se as diferentes camadas da atmosfera terrestre e algumas das suas caracter´ısticas (ver tamb´em Figura 19):

• Troposfera (0-12 km) ´e aquecida de baixo para cima pelo calor radiado pela Terra. A condu¸c˜ao de calor ´e feita por interm´edio de c´elulas de convex˜ao. O clima ´e uma consequˆencia direta desta convex˜ao. Se o movimento de rota¸c˜ao da Terra fosse muito lento existiria apenas uma c´elula de convex˜ao levando o ar quente do equador para os p´olos e trazendo o ar mais frio dos p´olos para o equador. A velocidade de rota¸c˜ao da Terra ´e, no entanto, suficiente para quebrar esta c´elula noutras mais pequenas. Os avi˜oes deslocam–se na troposfera.

• Estratosfera (12-50 km). Nesta camada existe o ozono que ´e muito eficiente a absorver a radia¸c˜ao UV do Sol. Esta camada ´e, assim, aquecida de cima para baixo o que faz com que aqui a temperatura aumente com a altitude. N˜ao existem c´elulas de convex˜ao na estratosfera. Alguns bal˜oes meteorol´ogicos sobem at´e a estratosfera.

• Mesosfera (50-85 km). Nesta camada o ozono ´e praticamente inexistente. A temperatura diminui com a altitude atingindo -75oC a 80 km. Os meteoros ocorrem nesta camada da atmosfera.

• Termosfera (85-700 km). Nesta camada o azoto e o oxig´enio aparecem na forma monoat´omica absorvendo a radia¸c˜ao UV de comprimento de onda maior (que o N2 e o O2 n˜ao absorveriam). Assim, na Termosfera, a temperatura aumenta com a altitude. A 300 km de altitude s˜ao atingidos cerca de 1000oC. No entanto deve real¸car-se que a densidade desta camada ´e muito baixa (cerca de 10−11 a densidade do ar ao n´ıvel do mar). Na Termosfera podem circular naves espaciais sem grande atrito. A barreira dos 100 km ´e conhecido por linha de K´arm´an. Cerca de 99.99997% da massa da atmosfera situa-se abaixo desta linha. Por conven¸c˜ao esta linha marca

(18)

Figura 19: As diferentes camadas da atmosfera terrestre [20].

o in´ıcio do espa¸co (embora a atmosfera continue para cima): a partir daqui os viajantes s˜ao considerados astronautas.

• Exosfera (700-10 000 km). Trata-se da camada mais externa da atmosfera. ´E composta por ´

atomos de hidrog´enio e de h´elio que descrevem autˆenticas trajet´orias bal´ısticas uma vez que as colis˜oes entre eles s˜ao extremamente raras.

A Ionosfera ´e a parte da atmosfera que ´e ionizada pelo vento solar. Come¸ca pr´oximo dos 50 km e engloba as camadas mais exteriores da atmosfera (mesosfera, termosfera e exosfera). Tem grande influˆencia na forma como se propagam as ondas de r´adio.

2.3.2 O interior da Terra

A Terra ainda n˜ao teve tempo para arrefecer completamente desde o seu processo de forma¸c˜ao. O seu interior continua quente. A juntar a isso temos a energia libertada pelo decaimento radioativo do Urˆanio e outros elementos presentes no interior da Terra. No entanto, a energia proveniente do interior da Terra ´e cerca de 6000 vezes inferior `a energia que recebemos do Sol.

A densidade m´edia das rochas encontradas `a superf´ıcie da Terra ´e de 3000 kg/m3. A densidade m´edia da Terra ronda os 5515 kg/m3. Podemos, assim, concluir que no interior da Terra existem substˆancias mais densas do que aquelas que encontramos `a superf´ıcie. Um bom candidato ´e o Ferro. Os seus ´

atomos s˜ao pesados e o Ferro ´e o s´etimo elemento mais abundante nesta zona da gal´axia (existem elementos mais pesados mas em muito menor abundˆancia). A estrutura interna da Terra consiste num:

• N´ucleo - zona mais interior da Terra composta por ferro e n´ıquel. Estudando as vibra¸c˜oes da Terra durante sismos foi poss´ıvel determinar que o n´ucleo ocupa apenas 17% do volume do planeta. O n´ucleo apresenta duas camadas: uma camada s´olida no centro (n´ucleo interno) e uma camada l´ıquida em volta da primeira (n´ucleo externo).

(19)

Figura 20: O interior da Terra e a propaga¸c˜ao das ondas s´ısmicas [21].

• Manto - composto por minerais ricos em ferro. A espessura do manto atinge os 2900 km. Embora seja s´olido as camadas mais externas s˜ao pl´asticas e podem deslizar lentamente umas sobre as outras.

• Crusta - composta pelos elementos mais leves. A sua espessura varia entre 5 e 35 km. A crusta est´a dividida em placas tect´onicas que se deslocam sobre o manto provocando ocasionalmente sismos e vulc˜oes. Uma consequˆencia, a longo prazo, deste movimento, ´e a forma¸c˜ao de grandes cadeias montanhosas ou de grandes falhas.

Os sismos ocorrem no interior da crusta, em geral, a grandes profundidades. Produzem trˆes tipos de ondas s´ısmicas que viajam em torno da Terra a diferentes velocidades e de diferentes formas:

Ondas de superf´ıcie: semelhantes `as ondas do mar s˜ao as que sentimos junto ao epicentro do sismo. Ondas P e ondas S: deslocam-se pelo interior da Terra. As ondas P oscilam na mesma dire¸c˜ao em que se deslocam. As ondas S oscilam na dire¸c˜ao perpendicular ao seu deslocamento.

Os sism´ografos na zona do sismo registam ondas S e P. Todavia, em zonas do lado oposto da Terra apenas detetam ondas P. Isto acontece porque as ondas S n˜ao se propagam em l´ıquidos e o interior da Terra (manto) ´e l´ıquido. O estudo das ondas P permite sondar as regi˜oes mais interiores da Terra. Grande parte das ondas P ´e refletida pela camada mais externa do n´ucleo ao passo que uma pequena fra¸c˜ao atravessa esta camada sendo apenas refletida pela camada mais interna. Assim ficamos a conhecer a estrutura interna da Terra (Figura 20).

2.3.3 O campo magn´etico da Terra

O campo magn´etico da Terra tem a sua origem no movimento de cargas el´etricas na camada exterior do n´ucleo a qual ´e liqu´ıda. A rota¸c˜ao da Terra desempenah um papel essencial na cria¸c˜ao do campo magn´etico. V´enus, por exemplo, embora tenha um n´ucleo muito semelhante ao da Terra n˜ao apresenta um campo magn´etico compar´avel. Isso acontece devido a V´enus rodar muito devagar sobre si mesmo. O campo magn´etico da Terra interage fortemente com o vento solar (composto maioritariamente por prot˜oes e eletr˜oes) desviando o fluxo de part´ıculas do seu trajeto normal. Nas proximidades da Terra o vento solar desloca-se `a velocidade supers´onica de aproximadamente 450 km/s.

A zona em torno de um planeta na qual o movimento de part´ıculas com carga el´etrica passa a ser dominado pelo campo magn´etico do planeta designa-se por magnetosfera. Quando o vento solar

(20)

Figura 21: O interior da Lua [22].

entra na magnetosfera as suas part´ıculas s˜ao desaceleradas para velocidades subs´onicas. Para al´em da magnetosfera existe uma outra camada chamada magnetopausa para a qual a press˜ao exercida pelo vento solar iguala a press˜ao exercida pelo campo magn´etico da Terra. Se as part´ıculas do vento solar tiverem energia suficiente para atravessar a magnetopausa ent˜ao elas acabam por ficar aprisionadas nas chamadas Cinturas de Van Allen. Estas cinturas consistem em dois an´eis em torno da Terra: 2000-5000 km e 13000-19000 km. A intera¸c˜ao do vento solar com as altas camadas da atmosfera d´a origem `as chamadas auroras que se podem observar junto aos polos da Terra.

Rochas vulcˆanicas com mais de 30 000 anos est˜ao magnetizadas com a polariza¸c˜ao magn´etica invertida em rela¸c˜ao `a verificada atualmente. Isto significa que a polariza¸c˜ao do campo magn´etico da Terra deve ter-se invertido algures no passado. Os registos geol´ogicos mostram que devem ter ocorrido mais de 170 invers˜oes do campo magn´etico da Terra nos ´ultimos 71 milh˜oes de anos.

2.3.4 A Lua

A Lua tem rota¸c˜ao sincronizada com a Terra: d´a uma volta completa sobre si pr´opria no mesmo inter-valo de tempo em que completa uma volta em torno da Terra (aprox 27.3 dias). Como consequˆencia a Lua apresenta sempre a mesma face virada para a Terra. O facto de a ´orbita da Lua em torno da Terra ser ligeiramente el´ıptica e do seu eixo de rota¸c˜ao estar ligeiramente inclinado em rela¸c˜ao ao plano da ´

orbita faz com que se consiga ver da Terra cerca de 60% da superf´ıcie da Lua e n˜ao apenas 50%: a esta oscila¸c˜ao que permite ver mais 10% da superf´ıcie da Lua chama-se movimento de libra¸c˜ao da Lua.

A Lua n˜ao tem atmosfera. Isto implica que n˜ao pode existir ´agua l´ıquida na superf´ıcie da Lua pois n˜ao existe press˜ao atmosf´erica. Na superf´ıcie da Lua podemos observar crateras, ”mares”e ”terras”(zonas altas). As crateras resultam de impactos de meteoritos e n˜ao de atividade vulcˆanica. De facto, nas grandes crateras lunares, existe um pico central caracter´ıstico de impactos a grande velocidade. Os mares (15% da superf´ıcie lunar) s˜ao regi˜oes onde existem menos crateras e, portanto, mais jovens. S˜ao zonas que foram inundadas por correntes de lava no passado.

A Lua n˜ao tem campo magn´etico no presente. No entanto, o estudo das rochas lunares revela que existiu um pequeno campo magn´etico no passado o que significa que a Lua j´a teve uma camada l´ıquida no seu interior. A Lua tem um n´ucleo rico em ferro, parcialmente l´ıquido, cujo diˆametro ´e de 700 km. A crusta tem 60 km de espessura. Na Lua n˜ao existem placas tect´onicas. Os sismos registados tˆem origem apenas nas for¸cas de mar´e exercidas pela Terra (Figura 21).

(21)

Figura 22: Relevo do planeta Marte. No hemisf´erio sul a superf´ıcie eleva-se, em geral, 5 km acima do que acontece no hemisf´erio norte pelo que estes s˜ao designados, respectivamente, por Terras Altas e Terras Baixas [24].

2.4

Marte

Observa¸c˜oes feitas a partir da Terra, desde o s´eculo XVII, permitiram concluir que o per´ıodo de rota¸c˜ao de Marte ´e semelhante ao da Terra, que o seu eixo de rota¸c˜ao est´a inclinado cerca de 25◦ em rela¸c˜ao ao plano da ´orbita (o que sugere a existˆencia de esta¸c˜oes como na Terra) e que existem calotes polares que aumentam e diminuem de tamanho consoante as esta¸c˜oes.

A observa¸c˜ao de algumas estruturas na superf´ıcie marciana (erradamente traduzidas do italiano para canais) levou mesmo `a especula¸c˜ao sobre a existˆencia de vida inteligente em Marte. Os canais eram vistos como condutas que levavam ´agua das zonas polares para as zonas equatoriais. A altera¸c˜ao da colora¸c˜ao da superf´ıcie era interpretada como um coberto vegetal em desenvolvimento. Entre 1964 e 1967 passaram por Marte as sondas Mariner 4, 6 e 7. Nas imagens e dados enviados n˜ao existem quaisquer evidˆencias de canais ou de vegeta¸c˜ao. Desde ent˜ao foram enviadas dezenas de miss˜oes para Marte (sistemas orbitais, sistemas de descida, rovers) – ver [23].

2.4.1 A superf´ıcie Marciana

A superf´ıcie de Marte est´a coberta de crateras resultantes de impactos de meteoritos. Algumas delas s˜ao relativamente grandes. As crateras s˜ao mais abundantes no hemisf´erio Sul o que significa que a superf´ıcie do hemisf´erio Norte foi alvo de um processo de rejuvenescimento (que ainda n˜ao sabemos bem qual foi). No hemisf´erio sul a superf´ıcie eleva-se, em geral, 5 km acima do que acontece no hemisf´erio norte pelo que estes s˜ao designados, respectivamente, por Terras Altas e Terras Baixas (Figura 22).

Existem diversos vulc˜oes inativos em Marte. O maior deles (e maior conhecido no Sistema Solar) com 24 km de altura e uma base com 600 km de diˆametro ´e Olympus Mons (Figura 23). Este est´a rodeado por escarpas de 6 km de altura. Perto deste monte existe uma cadeia de montanhas vulcˆanicas designada por faixa de Tharsis. No lado oposto do planeta existe uma montanha vulcˆanica de menores dimens˜oes designada por Elysium Mons.

(22)

Figura 23: Imagem 3D de Olympus Mons, a maior montanha vulcˆanica conhecida no Sistema Solar [25].

Figura 24: Valles Marineris: um grande desfiladeiro em Marte [26].

A este da regi˜ao de Tharsis existe um grande desfiladeiro, paralelo ao equador, designado por Valles Marineris (Figura 24). A extens˜ao de Valles Marineris atinge os 4000 km e sua profundidade chega, nalgumas partes, aos 7 km. Este desfiladeiro deve ter–se formado em resultado de uma fratura na crusta do planeta talvez quando a atividade vulcˆanica estava no seu auge. Na mesma regi˜ao encontramos desfiladeiros mais pequenos.

Em Marte existe uma ´unica placa tect´onica. Por isso mesmo existe apenas um grande vulc˜ao (Olympus Mons). Na Terra o movimento das placas deslocam os montes vulcˆanicos dando lugar `a forma¸c˜ao de novas montanhas (como acontece nas ilhas do Havai). Em Marte, n˜ao existindo esse deslocamento, assistimos ao avolumar de uma ´unica montanha.

A superf´ıcie do planeta est´a em geral coberta de poeira formando dunas em alguns locais. s˜ao comuns as tempestades de poeira. Por vezes estas assumem um carater global envolvendo todo o planeta. Devido `a magnetite existente na poeira o c´eu marciano apresenta um aspeto amarelado. O solo marciano ´e rico em ferro, enxofre e sil´ıcio.

Um dos objetivos das sondas Viking 1 e 2, que desceram em Marte em 1976 (de facto as primeiras a descerem no planeta), era o de procurar vest´ıgios da existˆencia de vida. Embora tenham sido registados alguns processos qu´ımicos interessantes n˜ao foi encontrada qualquer pista conclusiva que suporte a existˆencia de vida – ver [23].

(23)

Figura 25: Um dust devil fotografado em Marte pelo rover da sonda Spirit [27].

2.4.2 O interior de Marte

O n´ucleo de Marte deve estender-se at´e aos 0.5 raios marcianos. Esse n´ucleo deve ser rico em enxofre e deve ser suficientemente quente para que esteja derretido (a massa do planeta ´e suficiente para tal). As propriedades el´etricas do enxofre diferem das do ferro pelo que no caso de Marte n˜ao temos um campo magn´etico global como na Terra. Existem, no entanto, regi˜oes fracamente magnetizadas no hemisf´erio sul do planeta o que sugere que em tempos pode ter existido um campo magn´etico.

2.4.3 A atmosfera Marciana

A atmosfera de Marte ´e muito t´enue se comparada com a da Terra. A press˜ao na superf´ıcie ronda as 0.0063 atmosferas (o mesmo que na Terra `a altitude de 35 km). ´e composta por 95.3% de CO2, 2.7% de N2 e vest´ıgios de ´argon, oxig´enio, mon´oxido de carbono e vapor de ´agua. Formam-se algumas nuvens compostas por cristais de vapor de ´agua e de CO2. No entanto, nunca chove em Marte. Os gases presentes na atmosfera de Marte s˜ao os necess´arios para que ocorra o efeito de estufa. No entanto como a atmosfera ´e t´enue o efeito n˜ao ´e muito acentuado aumentando a temperatura em apenas 5◦C. O CO2 foi libertado pelos vulc˜oes. Na Terra aconteceu o mesmo mas com o CO2 a se dissolver nos oceanos e a ficar aprisoando nos sedimentos. Em Marte isso n˜ao aconteceu e por isso a atmosfera continua a ser composta maioritariamente por CO2.

Durante um dia marciano a temperatura pode variar entre −76◦C e −10◦C como registou a Mars Pathfinder que chegou a Marte em 1997. Todas as tardes formam-se diabos de poeira (dust devils) como nos desertos da Terra (Figura 25). Em Marte, dada a menor gravidade, estes chegam a atingir os 6 km de altitude. Durante o inverno forma-se neve carb´onica (CO2) fazendo com que a press˜ao atmosf´erica baixe. No ver˜ao volta tudo ao valor inicial.

2.4.4 Agua em Marte´

Existem diversos ind´ıcios na superf´ıcie marciana que apontam para a existˆencia de ´agua corrente no passado especialmente no hemisf´erio sul. Existem canais fluviais (Figura 26), crateras com o fundo plano (dep´osito de sedimentos), sinais de eros˜ao provocados por ´agua corrente e vest´ıgios de inunda¸c˜oes repentinas (Figura 27). Isso deve ter acontecido, todavia, num pasado remoto do planeta uma vez que essas estruturas apresentam j´a bastantes crateras sem sinais de eros˜ao significativa.

(24)

Figura 26: Canais fluviais onde se julga ter existido ´agua corrente em Marte. A imagem ´e muito semelhante `a de canais fluviais secos observados em desertos da Terra. [28].

Figura 27: Ilhas marcianas resultantes de um grande inunda¸c˜ao no assado remoto do planeta. Nota–se clara-mente a dire¸c˜ao tomada pela ´agua. [17].

A ´agua no estado l´ıquido pode existir mediante uma press˜ao e temperatura adequadas. A combina¸c˜ao destes valores no Marte atual apenas possibilita a existˆencia de ´agua no estado s´olido ou no estado vapor (como nos nossos congeladores). A existˆencia de ´agua l´ıquida no passado implica que a atmosfera do planeta era ent˜ao mais densa e mais quente.

Para onde foi a ´agua marciana? Na atmosfera n˜ao est´a. Pode estar nas calotes polares. Sabemos, no entanto, que as calotes polares n˜ao podem ser apenas ´agua gelada. A temperatura no inverno marciano desce ao ponto de possibilitar a congela¸c˜ao do CO2 e, portanto, parte do gelo ´e tamb´em CO2. Com a chegada da primavera as calotes polares recuam. A Mariner 9 em 1972 registou o recuo da calote polar norte. No entanto com a chegada do Ver˜ao o recuo deteve-se abruptamente ficando uma calote polar residual (correspondendo talvez `a ´agua). A existˆencia de ´agua gelada foi finalmente confirmada em 2004 pela Mars Express.

Existem ind´ıcios da existˆencia de ´agua n˜ao s´o nos polos mas tamb´em noutras regi˜oes. Neste caso a ´

agua est´a gelada no subsolo. Existem sinais de que emergiu ´agua do subsolo no momento da forma¸c˜ao de algumas crateras. Existem tamb´em vest´ıgios de ´agua corrente relativamente recentes.

(25)

Figura 28: Imagem do mesmo local captadasem 1999 e 2005. Na imagem mais recente pode observar–se um dep´osito de matreial que antes n˜ao existia. Isto pode indicar a existˆenica de alguma ´agua corrente rotando do subsolo no presente [29].

2.4.5 As duas luas Marcianas

Marte tem duas pequenas luas de forma irregular e com bastantes crateras: Phobos e Deimos. N˜ao ´e conhecida a origem destas luas. Podem tratar-se de antigos asteroides capturados por Marte ou ent˜ao podem ter-se formado juntamente com Marte. Phobos aproxima-se gradualmente de Marte devendo colidir com este daqui a cerca de 40 milh˜oes de anos. Por seu turno Deimos afasta-se gradualmente de Marte.

2.5

upiter

J´upiter ´e o maior planeta do Sistema Solar. A melhor altura para observar J´upiter ´e quando este se encontra em oposi¸c˜ao. Nessa situa¸c˜ao, que ocorre a cada 13 meses, ´e cerca de 3 vezes mais brilhante do que S´ırius (a estrela mais brilhante), ocupando no c´eu 50 segundos de arco.

2.5.1 A atmosfera de J´upiter

J´upiter ´e o planeta que roda mais r´apido sobre si mesmo em todo o Sistema Solar. A r´apida rota¸c˜ao leva ao aparecimento de fen´omenos atmosf´ericos comos as bandas e as manchas. De facto, J´upiter apresenta bandas coloridas paralelas ao equador alternadamente escuras (chamadas cinturas) e claras (chamadas zonas). Predominam os tons de vermelho, laranja, castanho e amarelo (Figura 29). As zonas parecem ser formadas por g´as quente subir ao passo que as cinturas parecem ser formadas por g´as frio a descer.

Uma das caracter´ısticas de J´upiter ´e a Grande Mancha Vermelha situada no hemisf´erio sul do planeta (Figuras 29 e 30). Foi observada pela primeira vez em 1644 por Robert Hoke mas pode ser muito mais antiga. Trata-se de uma tempestade persistente na dinˆamica atmosfera do planeta. Tˆem sido observadas outras tempestades cuja dura¸c˜ao ´e da ordem das semanas ou meses.

Embora a Grande Mancha Vermelha seja uma tempestade persistente n˜ao ´e est´atica. Entre as pas-sagens da sondas Pioneer (1973 e 1974) e as Voyager (1979) foram detetadas altera¸c˜oes em torno dos contornos da mancha. Para al´em disso ao longo dos ´ultimos 300 anos tˆem-se verificado varia¸c˜oes no tamanho da mancha. A mancha ´e formada por nuvens de grande altitude e por uma camada mais

(26)

Figura 29: Imagem de J´upiter obtida pela sonda Cassini a caminho de Saturno. Podemos ver bem a Mancha Vermelha e as bandas paralelas ao equador. A pequena sombra sobre o disco do planeta ´e provocada pela lua Europa. [30].

Figura 30: Imagem da Grande Mancha Vermelha obtida pela Voyager 1 em 1979. Na imagem ´e tamb´em vis´ıvel uma oval branca [31].

inferior de nuvens cerca de 50 km abaixo. Roda no sentido anti-hor´ario com um per´ıodo de aproxi-madamente 6 dias. No lado norte da mancha os ventos sopram para oeste ao passo que no lado sul sopram no sentido contr´ario. Um fen´omeno semelhante na Terra tenderia a modificar-se e a dissipar-se ao interagir com os oceanos ou massas continentais. O facto de isso n˜ao ser poss´ıvel em J´upiter pode explicar a grande longevidade desta tempestade.

Outro fen´omeno observado na atmosfera de J´upiter s˜ao as designadas ovais brancas (ver Figura 30). Estas tˆem caracter´ısticas semelhantes `a da Grande Mancha Vermelha, entre as quais alguma longevidade (est˜ao no mesmo local desde que foram observadas em 1938). Aparecem sobretudo no hemisf´erio sul. No hemisf´erio norte s˜ao mais comuns as ovais castanhas. Os estudos revelam que as ovais castanhas s˜ao buracos na atmosfera ao passo que as brancas s˜ao zonas onde existem nuvens altas.

A velocidade do vento pode exceder os 500 km/h. Os ventos alteram de dire¸c˜ao entre zonas e cinturas. Em J´upiter existem cerca de cinco ou seis correntes diferentes em cada hemisf´erio (na Terra temos apenas duas).

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Figura 31: As diferentes camadas de nuvens na atmosfera de J´upiter e a varia¸c˜ao da temperatura com a altitude [32].

de J´upiter at´e se desintegrar quando a press˜ao atingiu as 24 atm. Mesmo assim a sonda pode registar a ocorrˆencia de trovoadas e ventos ainda mais fortes (650 km/h). A temperatura no topo das nuvens ronda os 125 K. A cada km de descida a temperatura aumenta em 2 K. Quanto `a composi¸c˜ao em massa da atmosfera temos: 75% hidrog´enio molecular; 24% h´elio at´omico; 1% para o metano, am´onio, vapor de ´agua e outros gases.

2.5.2 O interior de J´upiter

Embora J´upiter seja o planeta com maior massa no Sistema Solar (318 vezes a massa da Terra) a sua densidade ´e inferior `a da Terra. O planeta ´e composto em grande parte por hidrog´enio (71%) e h´elio (24%). A parte mais exterior do planeta ´e composta por um envelope de hidrog´enio molecular (H2) e h´elio. `A medida que vamos descendo para o interior do planeta a temperatura e press˜ao aumentam fazendo com que o hidrog´enio se torne liqu´ıdo e depois liqu´ıdo-met´alico. Nesta zona concentra-se mais de 70% da massa de todo o planeta. Estima-se que no centro exista um n´ucleo (equivalente a 4% da massa do planeta) rochoso e/ou composto por hidrog´enio met´alico (talvez no estado s´olido). A press˜ao no centro do planeta deve rondar os 70 milh˜oes de atmosferas e a temperatura deve ser pr´oxima de 22 000 ◦C. Entre zonas adjacentes existem camadas de transi¸c˜ao (Figura 32).

J´upiter emite cerca de duas vezes mais energia do que aquela que recebe do Sol. Essa energia emitida na banda do IV resulta da contra¸c˜ao gravitacional do planeta. No interior do planeta est´a ainda armazenado, desde o tempo da sua forma¸c˜ao, um excesso de energia potencial gravitacional que ainda n˜ao escapou completamente. Deve ser esta a fonte de energia respons´avel pela emiss˜ao observada em J´upiter.

J´upiter, sendo um planeta gasoso, tem rota¸c˜ao diferencial. No equador o per´ıodo de rota¸c˜ao ´e de 9h 50m 28s ao passo que perto dos polos ´e de 9h 55m 41s. Se o planeta n˜ao estivesse a rodar sobre si mesmo seria uma esfera perfeita. No entanto, devido `a sua rota¸c˜ao apresenta nos p´olos um achatamento de 6.5% em rela¸c˜ao ao equador.

(28)

Figura 32: O interior do planeta J´upiter [32].

2.5.3 O campo magn´etico de J´upiter

J´upiter emite uma grande quantidade de energia na banda do r´adio. Uma pequena parte dessa radia¸c˜ao ´e t´ermica (radia¸c˜ao do corpo negro) mas o grosso da radia¸c˜ao ´e n˜ao t´ermica. Esta apresenta-se em dois comprimentos de onda espec´ıficos:

• 10 m (ondas decam´etricas) - observam-se nesta banda explos˜oes espor´adicas provavelmente devidas a descargas el´etricas na ionosfera do planeta. A ocorrˆencia destas descargas ´e provocada pela passagem de Io, a lua mais interior de J´upiter;

• 10 cm (ondas decim´etricas) - nesta banda ´e emitido um fluxo constante de radia¸c˜ao resultante do movimento, a velocidades relativistas (velocidades muito pr´oximas da velocidade da luz), dos eletr˜oes no campo magn´etico de J´upiter. Esta radia¸c˜ao ´e designada por radia¸c˜ao de sincrotr˜ao.

A radia¸c˜ao de sincrotr˜ao ´e um indicador claro da existˆencia de um campo magn´etico. No caso de J´upiter o campo magn´etico ´e cerca de 14 vezes superior ao registado na Terra ao n´ıvel do equador. O campo magn´etico de J´upiter ´e provocado pelo movimento de cargas el´etricas no seu interior. Neste caso trata-se de hidrog´enio met´alico no estado l´ıquido o qual ocorre 700 km abaixo da superf´ıcie do planeta onde a press˜ao ´e suficiente para que o hidrog´enio exista nesse estado. O campo magn´etico de J´upiter est´a inclinado cerca de 11◦ em rela¸c˜ao ao eixo de rota¸c˜ao do planeta e tem a polaridade invertida em rela¸c˜ao ao da Terra.

2.5.4 Os an´eis de J´upiter

Em 1979 a sonda Voyager 1 descobriu que J´upiter tamb´em tem um sistema de an´eis. Estes s˜ao compostos por pequenas part´ıculas de rocha com tamanhos da ordem de 1 micr´ometro as quais refletem apenas 5% da luz recebida do Sol. Resultam provavelmente do impacto de meteoros nas pequenas quatro luas mais interiores de J´upiter (Amalthea, Thebe, Adrastea e Metis).

2.5.5 Os sat´elites de J´upiter

Os 4 maiores sat´elites de J´upiter (Io, Europa, Ganimedes e Calisto) foram observados pela primeira vez em 1610 por Galileu. s˜ao, por isso, designados atualmente por sat´elites galileanos. A sua

(29)

Figura 33: Erup¸c˜ao vulcˆanica em Io captada pela sonda Voyager 2. Trata–se da primeira imagem que mostrou um vulc˜ao em plena atividade para al´em da Terra [33].

Figura 34: Da esquerda para a direita: Calisto, Ganimedes, Europa e Io (as quatro maiores luas de J´upiter)[34].

observa¸c˜ao est´a ao alcance de qualquer pequeno telesc´opio. S´o n˜ao s˜ao vis´ıveis a olho nu pelo facto de estarem muito pr´oximos de J´upiter (que ´e muito mais brilhante) e os nossos olhos n˜ao terem o poder de resolu¸c˜ao necess´ario para os separar. Rodam relativamente r´apido em torno de J´upiter pelo que em noites de observa¸c˜ao sucessivas podem ser observados em configura¸c˜oes diferentes. Podem observar-se regularmente trˆansitos (passagem de um sat´elite sobre o disco de J´upiter) e oculta¸c˜oes (sat´elite escondido por J´upiter).

Estes quatro sat´elites apresentam sempre a mesma face voltada para J´upiter. A rela¸c˜ao entre o per´ıodo orbital de cada sat´elite e respetivo per´ıodo rotacional ´e assim de 1:1. Curiosamente existe tamb´em uma rela¸c˜ao de 1:2:4 entre os per´ıodos orbitais de Io, Europa e Ganimedes. Enquanto Ganimedes completa uma volta, Europa completa duas e Io completa quatro voltas em torno de J´upiter.

Io

Tem uma densidade superior `a da Lua pelo que deve ser essencialmente rochoso na sua composi¸c˜ao. Das quatro luas galileanas Io ´e a ´unica que n˜ao tem vest´ıgios da presen¸ca de ´agua. Io ´e um corpo vulcanicamente ativo (ver Figura 33) pelo que a sua superf´ıcie est´a constantemente em renova¸c˜ao n˜ao apresentando quaisquer sinais de crateras. O material expelido pelos vulc˜oes, essencialmente enxofre e di´oxido de enxofre, sobe a mais de 250 km de altitude. A maior parte deste material volta `a superf´ıcie dando a Io a sua colora¸c˜ao caracter´ıstica (Figura 34).

(30)

Figura 35: A crusta gelada de Europa [35].

Como Io se encontra dentro da magnetosfera de J´upiter alguns dos i˜oes expelidos pelos vulc˜oes acabam por ser capturados por outros i˜oes presentes na magnetosfera de J´upiter, formando, assim, uma esp´ecie de toro (com raio igual ao da ´orbita de Io) em torno de J´upiter. Com tantas cargas el´etricas presentes e um campo magn´etico t˜ao intenso acaba por estabelecer–se uma corrente el´etrica intensa entre J´upiter e Io (400 000 Volt, 5 milh˜oes de Ampere). Parte dessa corrente ´e devida ao movimento de eletr˜oes. Estes acabam por emitir ondas de r´adio na banda dos 10 m.

Europa

Europa ´e o corpo mais liso e suave observado no Sistema Solar. O seu relevo n˜ao regista varia¸c˜oes superiores a algumas centenas de metros. Praticamente n˜ao tem crateras (Figura 34). A sua superf´ıcie est´a coberta por um manto de ´agua gelada bastante pura onde se podem observar um emaranhado de riscos, ranhuras e fraturas (Figura 35). A ´agua sobe `a superf´ıcie atrav´es das fraturas (o que justifica a pureza da ´agua) transportando consigo alguns minerais (o que justifica a colora¸c˜ao castanha de certas zonas).

Europa n˜ao tem calor interno que justifique a sua dinˆamica. Esta deve-se `as for¸cas de mar´e impostas por J´upiter e tamb´em por Io e Ganimedes. Estas for¸cas de mar´e n˜ao s˜ao suficientemente fortes para originar vulcanismo como em Io. Tem todavia uma densidade superior `a da crusta terrestre pelo que deve ser essencialmente rochosa na sua composi¸c˜ao correspondendo apenas 10-15% da sua massa total `

a ´agua. O n´ucleo rochoso tem um raio de cerca de 600 km. A camada externa, com uma espessura de cerca de 200 km ´e composta por ´agua no estado l´ıquido e no estado s´olido. N˜ao se sabe ainda qual a fra¸c˜ao de cada uma das componentes.

Ganimedes

Ganimedes ´e o maior sat´elite de J´upiter e do Sistema Solar sendo mesmo maior do que o planeta Merc´urio. A sua densidade ´e muito inferior `a da Lua pelo que para al´em de uma parte rochosa deve ter na sua composi¸c˜ao bastante ´agua no estado s´olido. Apresenta bastantes crateras formadas no gelo. As crateras mais escuras s˜ao, regra geral, mais velhas do que as mais claras (Figura 34). A superf´ıcie ´e sulcada por extensas estrias (com centenas de km de extens˜ao) e com profundidades de at´e 1 km. Tamb´em se observam longos e profundos sulcos (Figura 36). Tudo isto indica que no passado Ganimedes foi geologicamente bastante ativo. Tem um n´ucleo met´alico com cerca de 500 km de raio rodeado por um manto rochoso e uma camada externa de gelo.

Calisto

(31)

Figura 36: A superf´ıcie de Ganimedes com os seus longos e profundos sulcos [36].

composi¸c˜ao bastante ´agua no estado s´olido. Apresenta bastante crateras formadas no gelo embora tenha muito poucas com menos de 1 km o que significa que estas devem ter sofrido algum processo de eros˜ao. A sua superf´ıcie parece coberta por um mineral bastante escuro cuja composi¸c˜ao e origem ainda nos s˜ao desconhecidas (Figura 34). Tem um campo magn´etico e tem uma atmosfera t´enue composta por CO2.

Outros sat´elites de J´upiter

Ao todo J´upiter tem mais de 60 sat´elites de pequenas dimens˜oes (1 km a 270 km) na sua grande maioria com forma irregular. Quatro deles est˜ao mais pr´oximos de J´upiter do que Io. s˜ao eles Metis, Adrastea, Amalthea e Thebe. Amalthea tem uma cor avermelhada devido ao enxofre proveniente de Io. Todos os restantes sat´elites conhecidos est˜ao mais distantes de J´upiter do que Calisto. Muitos deles tˆem orbitas em sentido retrogrado pelo que devem ser asteroides capturados por J´upiter.

2.6

Saturno

Saturno ´e o segundo maior planeta do Sistema Solar. A melhor altura para observar Saturno ´e quando este se encontra em oposi¸c˜ao. Nessa situa¸c˜ao, que ocorre a cada um ano e duas semanas, ´e um dos objetos mais brilhantes do c´eu noturno embora sem ultrapassar a estrela S´ırius. O per´ıodo orbital ´e de 29.37 pelo que entre duas oposi¸c˜oes consecutivas a Terra encontra Saturno quase na mesma posi¸c˜ao. Saturno apresenta bandas coloridas paralelas ao equador mas n˜ao t˜ao marcantes como as de J´upiter (Figura 37).

2.6.1 A atmosfera de Saturno

A composi¸c˜ao em massa da atmosfera de Saturno consiste em 92% de hidrog´enio molecular, 6% de h´elio at´omico e 2% de outros gases. O facto da percentagem de h´elio ser muito inferior `a da atmosfera de J´upiter levanta um problema uma vez que ´e admitido que os dois planetas formaram-se na mesma ´epoca. Uma poss´ıvel explica¸c˜ao tem a ver com o facto de Saturno ser mais pequeno. Sendo mais pequeno arrefeceu mais rapidamente do que J´upiter pelo ´em que o h´elio inicialmente existente na atmosfera acabou por cair tambmais rapidamente para o interior do planeta.

Tˆem sido observadas algumas tempestades na atmosfera de Saturno com dura¸c˜ao da ordem das se-manas ou meses mas nada que fa¸ca lembrar a Grande Mancha Vermelha de J´upiter. A velocidade do vento junto ao equador pode atingir a ordem de 1800 km/h. Existem trˆes camadas de nuvens como em

(32)

Figura 37: O planeta Saturno e o seu sistema de an´eis fotografados pela sonda Voyager 2 em 21 de julho de 1981 [37].

Figura 38: As diferentes camadas de nuvens na atmosfera de Saturno e a varia¸c˜ao da temperatura com a altitude [32].

J´upiter (Figura 38). A composi¸c˜ao das nuvens ´e an´aloga mas as altitudes a que ocorrem as diferentes camadas diferem (em Saturno est˜ao menos comprimidas pois a gravidade ´e menor).

2.6.2 O interior de Saturno

A densidade de Saturno ´e inferior `a da Terra e at´e mesmo inferior `a da ´agua. O planeta ´e composto em grande parte por hidrog´enio e h´elio: 71% hidrog´enio molecular, 24% h´elio at´omico e 5% de elementos pesados. Tal como J´upiter, Saturno tamb´em emite para o espa¸co mais energia do que aquela que recebe do Sol.

Saturno, n˜ao sendo um corpo r´ıgido, como os planetas rochosos, tem rota¸c˜ao diferencial. No equador o per´ıodo de rota¸c˜ao ´e de 10h 13m 59s ao passo que perto dos polos ´e de 10h 39m 24s. Saturno apresenta um achatamento nos polos de 9.8% em rela¸c˜ao ao equador. Se n˜ao estivesse a rodar seria

(33)

Figura 39: Compara¸c˜ao entre os interiores dos planetas J´upiter e Saturno [32].

uma esfera perfeita. O achatamento n˜ao depende apenas da rota¸c˜ao mas tamb´em da forma como a massa do planeta est´a distribu´ıda no seu interior. Assim estima-se que exista em Saturno um n´ucleo s´olido com mais ou menos com 10% da massa do planeta.

O campo magn´etico de Saturno atinge apenas cerca de 3% do de J´upiter. Isto significa que no interior de Saturno a quantidade de hidrog´enio met´alico no estado l´ıquido deve ser bem menor (o que ´e de esperar pois a press˜ao ´e tamb´em inferior, dada a menor massa do planeta). Na Figura 39 ´e apresentado um esquema com a estrutura interior dos planetas J´upiter e Saturno.

2.6.3 Os an´eis de Saturno

Saturno apresenta um amplo conjunto de an´eis sem paralelo no Sistema Solar (Figura 37). Os an´eis s˜ao compostos por part´ıculas soltas. Se fossem s´olidos seriam despeda¸cados pela gravidade de Saturno. As part´ıculas devem ser gelo pois os an´eis s˜ao bastante brilhantes refletindo cerca de 80% da luz recebida do Sol (Saturno reflete apenas 46%). O tamanho m´edio das part´ıculas ´e de 10 cm embora se tenham observado aglomerados com at´e 5 m. A sua temperatura varia entre −180◦C e −200 ◦C.

A origem destas part´ıculas ´e desconhecida. Pode ter sido um sat´elite que nunca se chegou a formar ou ent˜ao um que foi destru´ıdo pelas for¸cas de mar´e provocadas pela proximidade de Saturno. A massa total que forma os an´eis deve rondar os 1017− 1019 kg. Juntando toda a mat´eria que forma os an´eis obter´ıamos uma lua com um diˆametro m´aximo de 100 km.

Do ponto de vista de um observador terrestre a configura¸c˜ao do sistema de an´eis vai-se alterando `a medida que Saturno orbita em torno do Sol. Os an´eis est˜ao no plano do equador de Saturno e este tem o eixo de rota¸c˜ao inclinado cerca de 27◦ em rela¸c˜ao ao seu plano orbital. Quando vistos de frente os an´eis parecem desaparecer. Isto significa que s˜ao muito finos.

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