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As transformações recentes na cadeia suinícola e suas consequências no desenvolvimento local: o caso do Médio Alto Uruguai gaúcho

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Academic year: 2021

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UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação Departamento de Estudos Agrários

Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

EZEQUIEL PLÍNIO ALBARELLO

AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA CADEIA SUINÍCOLA E

SUAS CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO

DO MÉDIO ALTO URUGUAI GAÚCHO

IJUÍ-RS

2011

(2)

EZEQUIEL PLÍNIO ALBARELLO

AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA CADEIA SUINÍCOLA E

SUAS CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO

DO MÉDIO ALTO URUGUAI GAÚCHO

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento – nível Mestrado – da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, linha de pesquisa em Desenvolvimento Local Sustentável, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Argemiro Luis Brum

IJUÍ-RS

2011

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A327t Albarello, Ezequiel Plinio.

As transformações recentes na cadeia suinícola e suas conseqüências no desenvolvimento local : o caso do médio alto Uruguai gaúcho / Ezequiel Plinio Albarello. – Ijuí, 2011. –

86 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Argemiro Luis Brum”.

1. Cadeia suinícola. 2. Desenvolvimento local. 3. Sustentabilidade. 4. Codemau. I. Brum, Argemiro Luis. II. Título. III. Título: O caso do médio alto Uruguai gaúcho.

CDU: 334.1 631/635:339

Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/ 1879

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA CADEIA SUINÍCOLA E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO DO MÉDIO

ALTO URUGUAI GAÚCHO

elaborada por

EZEQUIEL PLINIO ALBARELLO

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Argemiro Luis Brum: _________________________________________ Prof. Dr. Antonio Joreci Flores: ________________________________________ Prof. Dr. David Basso: ________________________________________________

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Dedico esta conquista como gratidão aos meus pais, a minha esposa Janine e meus filhos Maria Clara e Pedro Henrique, pelo amor, carinho, compreensão, companheirismo e estímulo que sempre me ofereceram durante esta etapa importante da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as oportunidades que coloca em meu caminho.

À minha família, pelo suporte dado durante toda a minha trajetória.

Aos amigos de todas as horas, pelo apoio moral.

Aos professores do Mestrado em Desenvolvimento da UNIJUÍ, principalmente, Dr. David Basso (pelas primeiras orientações, que mais do que relação entre professor e aluno, se tornou amizade).

Ao meu orientador Dr. Argemiro Luis Brum, pela verdadeira dedicação a este trabalho.

Aos meus colegas acadêmicos do Mestrado, que se tornaram amigos nesses anos de estudos.

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RESUMO

A presente dissertação busca estudar as recentes transformações na cadeia suinícola e suas consequências para o desenvolvimento da região do CODEMAU. Assim, foram investigadas as principais vicissitudes (sociais, culturais, políticas e econômicas) que se tornam, historicamente, propulsoras do desenvolvimento da cadeia regional. A hipótese principal é que o Brasil, assim como o resto do mundo, passaram por grandes transformações advindas da globalização, a qual fez com que se alterassem profundamente os processos produtivos, gerando modificações positivas e negativas nas cadeias pertencentes. O método de análise utilizado foi o compreensivo, e a técnica de pesquisa utilizada foi à bibliográfica. A reflexão partiu de problemas atuais apresentados pelo novo modelo de produção suinícola, onde a maioria dos produtores atuais faz parte de uma integração indústria/agricultor tendo investimentos e processos alterados consideravelmente. O maior desafio então foi analisar até que ponto este novo modelo agropecuário gerou desenvolvimento regional. No encerramento que se faz sobre este estudo, deixa-se como relato final a orientação sobre a necessidade de se investigar e realizar novos estudos sobre o tema suinocultura sustentável na área agrícola regional, e para isto, espera-se que este estudo tenha contribuído um pouco para que se desperte um novo pensamento produtivo, onde todos os atores envolvidos na cadeia suinícola sejam respeitados e inseridos justamente no novo modelo socioeconômico mundial.

Palavras-chave: Cadeia Suinícola. Desenvolvimento Local. Sustentabilidade. Codemau.

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ABSTRACT

This dissertation seeks to study the recent transformations in the pig and its consequences for the development of the region of CODEMAU. Thus, the main events were investigated (social, cultural, political, and economic) that become historically, propelling the development of regional chain. The main hypothesis is that Brazil, as well as the rest of the world, underwent major transformations resulting from globalization, which has profoundly changing the processes generating positive and negative changes in chains belonging. The method of analysis used was comprehensive, and search technique used was to literature. Reflection departed current problems presented by the new model of pig production, where most producers today is part of an integration industry/farmer having investments and processes changed considerably. The challenge then was to analyse to what extent this new model agricultural generated regional development, and if generated, how can we confirm it. At the end which makes about this study, leaves himself as the final reporting guidance on the need to investigate and carry out new studies on the topic sustainable pig production in regional agricultural area, and for this, it is hoped that this study has contributed a little to awaken a new productive thinking, where all the actors involved in the pig are respected and inserted in new world socioeconomic model.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Tendência, quantidade de suínos abatidos e estabelecimentos frigoríficos suinícolas sob inspeção federal no Rio Grande do Sul de 1960 a 2008. ... 40

FIGURA 2 – Número médio de abates anuais por estabelecimento frigorífico suinícola do Rio Grande do Sul de 1960 a 2008 e Taxa Geométrica de Variação Anual da relação abates/frigorífico em diferentes décadas. ... 41

FIGURA 3 - Mapa do Rio Grande do Sul, destacando a região do CODEMAU. ... 47

FIGURA 4 - Fluxograma da Cadeia Suinícola... 50

FIGURA 5 – Prognóstico da produção agrícola Nacional, para 2011, dos principais produtos agrícolas... 61

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Exportações brasileiras de carne suína no período da crise econômica ... 27

TABELA 2 - Produção Mundial de Carne Suína (Mil t - em equivalente-carcaça) ... 31

TABELA 3 - Consumo Mundial de Carne Suína (Mil t - em equivalente-carcaça) ... 32

TABELA 4 - Consumo Mundial Per Capita de Carne Suína (Kg per capita)... 33

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1. A GLOBALIZAÇÃO DAS NAÇÕES IMPACTA NAS CADEIAS PRODUTIVAS REGIONAIS ... 14

1.1 A GLOBALIZAÇÃO E SEUS REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL ... 14

1.1.1 Aspectos atuais da globalização ... 15

1.1.2 O ambiente de mudança rumo ao livre-comércio... 17

1.1.3 Os reflexos da globalização nas empresas brasileiras ... 20

1.1.4 A crise econômico-financeira de 2007/08 e seus reflexos na cadeia suinícola ... 23

1.2 HISTÓRICO DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS NA CADEIA SUINÍCOLA... 28

1.2.1 A suinocultura no mundo ... 28

1.2.2 A suinocultura no Brasil ... 34

1.2.3 A suinocultura no Rio Grande do Sul... 39

2. A REGIÃO DO CODEMAU E SUA SUINOCULTURA... 44

2.1 A ESTRUTURAÇÃO DA CADEIA SUINÍCOLA NA REGIÃO DO CODEMAU ... 49

2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA CADEIA SUINÍCOLA ... 52

3. A CADEIA SUINÍCOLA GERA CONDIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO MÉDIO-ALTO URUGUAI GAÚCHO, MAS GARGALOS PERSISTEM ... 57

3.1 OS PRINCIPAIS ATORES DA CADEIA SUINÍCOLA DO CODEMAU E SUAS CARACTERIZAÇÕES ... 57

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3.2 OS AGENTES COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DA CADEIA

SUINÍCOLA NA REGIÃO DO CODEMAU ... 67

3.3 BREVE ANÁLISE SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA CADEIA SUINÍCOLA REGIONAL... 72

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 80

ANEXOS ... 84

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INTRODUÇÃO

Analisar a cadeia suinícola brasileira, na ótica da mesma gerar desenvolvimento em uma determinada região do país, é um desafio que exige levar em conta a inovação e a tecnologia utilizada neste sistema produtivo agropecuário, sua viabilidade econômica, seus impactos no meio ambiente e seus efeitos na qualidade de vida dos habitantes da região em questão, sob o ponto de vista de um desenvolvimento sustentável. Assim, o problema que motivou o presente trabalho perpassa as seguintes perguntas: quanto à viabilidade econômica, será possível, frente aos modelos de contrato de integração entre produtor rural e agroindústria, obter lucros relevantes quanto ao capital investido e a mão de obra dispensada para tal? Ainda é possível para o agricultor desempenhar a suinocultura com recursos próprios? Quais são as maiores dificuldades socioeconômicas que a suinocultura vem apresentando frente ao sistema econômico mundial? Será que o sistema atual de produção de suínos é realmente rentável, inclusive com retorno do capital investido por parte do agricultor?

Levando em consideração que o mercado mundial vem sendo cada vez mais competitivo e as empresas do setor suinícola estão buscando como alternativa o comércio exterior, a suinocultura necessita de grandes investimentos, fazendo com que os agricultores de menor poder aquisitivo estejam sob a ameaça de exclusão desta modalidade de agronegócio. A diversidade genética dos suínos está em plena evolução, os custos passam por um processo de renovação tecnológica quanto à alimentação e equipamentos e a localização geográfica das agroindústrias contribui para a competitividade do setor. Todo este processo está diretamente ligado à demanda e procura levando em consideração a escala de produção capaz de ser atingida por um único produtor ou por um único sistema produtivo.

A maior dificuldade é avaliar as condições socioeconômicas que o setor da suinocultura se encontra na atual economia, avaliação esta balizada nos moldes atuais de produção e comercialização de suínos de alta qualidade e com demanda produtiva capaz de atingir metas impostas pelas indústrias integradoras desta produção. É nesse contexto, e visando oferecer respostas aos questionamentos que compõem o problema inicial deste

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estudo, que se tratará de analisar a produção suinícola da região do CODEMAU (Conselho Regional de Desenvolvimento do Médio Alto Uruguai). A ideia é verificar se a atual estrutura da cadeia produtiva regional dá conta de gerar o desenvolvimento sustentável que se pode esperar de tal atividade, considerando que a mesma é composta particularmente de pequenos e médios produtores rurais, hoje conhecidos como agricultores familiares.

Para tanto, a metodologia utilizada se concentra em pesquisas documentais, científicas e bibliográficas, pesquisa de dados quantitativos, buscando assim garantir uma análise qualitativa. O presente estudo se divide em pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, a partir de um estudo de caso (o frigorífico Mabella, situado em Frederico Westphalen-RS), envolvendo análise dos arquivos de entidades ligadas à agricultura familiar e às empresas agroindustriais da cadeia suinícola.

Assim, a pesquisa dividiu-se em três grandes eixos. Em primeiro lugar, a parte bibliográfica. Sendo a pesquisa bibliográfica, aquela desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, ela também inclui outras formas de publicação, tais como artigos de jornais e revistas dirigidos ao público em geral. Nesse contexto, como primeiro passo, foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica com as devidas comparações entre diversos autores. As literaturas utilizadas foram voltadas particularmente para as áreas de estudo da globalização econômica mundial e o desenvolvimento sustentável, da produção agropecuária, da história suinícola brasileira, e dos impactos econômicos e sociais desta cadeia produtiva. Desta forma, a pesquisa bibliográfica foi dividida em dois grandes eixos: a) literaturas voltadas à cadeia suinícola, levantando dados históricos da suinocultura, seu processo de modernização, o impacto que a abertura do mercado brasileiro ocasionou nesta cadeia, teorias econômicas e sociais e outros ainda que tratassem a respeito da cadeia estudada; b) literaturas voltadas ao desenvolvimento local, com ênfase às teorias do desenvolvimento local a fim de comparar se a cadeia estudada contribuiu, contribui ou ainda contribuirá para o desenvolvimento da região estudada.

Em segundo lugar, a pesquisa de campo. Sendo esta uma pesquisa que pretende buscar a informação diretamente com a população envolvida no processo estudado, é comum usar-se de processos com caráter exploratório ou descritivo. No atual caso, foram alvos da pesquisa uma empresa do ramo agroindustrial, onde se buscaram informações que dão conta dos sistemas atuais de criação e produção de suínos no sistema de parceria produtores e agroindústria; sindicatos rurais e/ou outras entidades representativas de agricultores e pecuaristas, buscando também, informações sobre os moldes do sistema atual de produção de suínos e informações sobre os modelos passados (de duas a três décadas) de produção de

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suínos; e entidades de representação social, buscando informações quantitativas e qualitativas que dizem respeito a vantagens e desvantagens do modelo atual de produção suinícola para a população em geral.

Em terceiro lugar, destacou-se um caso específico ligado ao setor agroindustrial da suinocultura da região estudada. Sendo o estudo de caso um tipo de pesquisa que privilegia um caso particular, uma unidade significativa, considerada suficiente para análise de um fenômeno, buscando retratar a realidade específica e a multiplicidade de aspectos globais, o mesmo, em geral, objetiva colaborar na tomada de decisão sobre o problema estudado, indicando as possibilidades para sua modificação. Assim, nesta fase do estudo foi analisado o caso envolvendo o ator principal da cadeia suinícola regional, ou seja, a Mabella Alimentos, empresa fortemente presente na cadeia e detentora da maioria das parcerias agroindustriais da região estudada.

Buscou-se, desta forma, encontrar elementos reais que deem suporte para o estudo de viabilidade socioeconômica dos sistemas atuais da suinocultura na região do CODEMAU, apresentando alternativas viáveis para a produção, investimento e retorno financeiro, tanto para os agricultores quanto para as agroindústrias.

Para tanto, o presente trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro trata da globalização da economia e alguns de seus impactos nas cadeias produtivas regionais, com ênfase na cadeia suinícola brasileira. O segundo capítulo enfatiza a região do CODEMAU e sua suinocultura, oferecendo condições de melhor situá-la no contexto gaúcho e nacional. E o terceiro capítulo destaca algumas das condições que a cadeia suinícola gera para o desenvolvimento da região estudada, porém, observando que ainda certo número de gargalos persiste para que esse desenvolvimento se consolide e venha a se tornar, futuramente, sustentável.

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1. A GLOBALIZAÇÃO DAS NAÇÕES IMPACTA NAS CADEIAS PRODUTIVAS REGIONAIS

Este capítulo é destinado a uma revisão da literatura disponível sobre os temas tratados nesta dissertação, em particular a globalização das Nações, o desenvolvimento e a cadeia suinícola na região do CODEMAU.

1.1 A GLOBALIZAÇÃO E SEUS REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Os últimos anos vêm registrando importantes acontecimentos no cenário internacional cujas implicações sobre os campos político, econômico, social e comercial são ainda difíceis de precisar. Em seu interior, a crescente dinâmica da globalização tem provocado um impacto significativo sobre as modalidades de políticas econômicas e o conteúdo das negociações comerciais adotadas pelos países, bem como sobre os padrões internacionais de expansão tecnológica. Neste cenário, o recrudescimento das políticas de integração regional salta aos olhos dos analistas da globalização. Artigos, ensaios e manchetes, estampados nos principais veículos de comunicação em todo o mundo, anunciam frequentemente o estabelecimento de novas propostas mercadológicas que façam frente ao processo de globalização. Os últimos anos do século XX registraram o surgimento expressivo de novos acordos de integração, cujo sentido e possibilidades de articulação ainda estão por serem negociados.

O espantoso desenvolvimento de tecnologias de comunicação e o processamento de dados contribuem enormemente para o processo de globalização. Neste novo cenário mundial as relações tornam-se mais transparentes, com trocas comerciais mais baseadas na competição do que na proteção. Para Torres 2000, O fenômeno da globalização caracteriza-se pela redução da capacidade de intervenção e regulação da economia dos Estados Nacionais. A globalização é um processo que vem se intensificando com o passar dos anos. Os limites territoriais vão perdendo a importância e os países tornam-se cada vez mais próximos. Ainda, “Globalização é a unificação do mercado em escala planetária”. (MAIA, 2000, p. 61).

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Então, a globalização é a capacidade que os países possuem de fazer um intercambio de informações, tecnologias, pessoas, materiais, melhorias, fazendo com que as nações cresçam juntas na busca de qualidade e crescimento social e sustentável.

1.1.1 Aspectos atuais da globalização

De todas as mudanças que vêm ocorrendo desde o final do século passado, talvez a globalização seja a que tem causado mais impacto, com reflexos tanto nas organizações como na vida de praticamente cada indivíduo, em qualquer lugar do mundo.

Conforme aponta Delfim Netto,

“A Globalização é a revolução do fim do século. Com ela a conjuntura social e política das ações passa a ser desimportante na definição dos investimentos. O indivíduo torna-se uma peça na engrenagem da corporação. Os países precisam se ajustar para permanecer competitivos em uma economia global e aí não podem ter mais impostos, mais encargos ou mais inflação que os outros.” (Delfim Neto, 1996).

A esta definição, pode ser acrescentada a oferecida por Ballestero-Alvarez:

“Globalização é um processo social que atua no sentido de uma mudança na estrutura política e econômica das sociedades, ocorrendo em ondas, com avanços e retrocessos separados por intervalos de tempo que podem durar séculos. A expressão globalização também é conhecida como um processo de integração protegido pelo neoliberalismo. Podemos caracterizar a globalização pelo predomínio dos interesses financeiros, pela desregulamentação dos mercados, pelas privatizações das empresas estatais e pelo abandono do estado de bem-estar social.” (Ballestero-Alvarez, 2001, p. 37).

O termo globalização ainda carrega um alto grau de complexidade conceitual. De modo geral, vem sendo utilizado para designar diferentes aspectos da vida social como a universalização de padrões de cultura e de informação, a expressão e o fortalecimento de instituições supranacionais, a ênfase na cooperação para o equacionamento de questões como meio ambiente, narcotráfico, desarmamento e crescimento populacional, além da crescente internacionalização dos processos econômicos. Consequentemente, podemos perceber que o termo globalização vem sendo usado para caracterizar a crescente transnacionalização das relações políticas, econômicas e sociais que se verificam no mundo, em especial nos últimos 30 anos. Esta visão abrangente da globalização é confirmada também por José Maurício Domingues. Para ele,

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[...] verifica-se, então, que o acentuado processo de unificação do mundo, hoje em curso, apresenta tendências multidimensionais, multifacetadas e contraditórias. Os melhores exemplos das teorias contemporâneas da globalização tem-se ocupado em decifrar esta realidade plural e complexa [...]. Decerto, a globalização implica questões de toda ordem, desde a divisão social do trabalho à posição da mulher, de temas do esporte, à industrialização de guerra, da ordem política da ONU ao ritmo do mercado financeiro [...]. Teórica e empiricamente, a globalização é uma questão crescentemente relevante. (DOMINGUES, 1993, P. 289).

Esta visão inclusiva da globalização, que engloba questões de ordem econômica, política e cultural, dentre outras, encontra no pensamento de Sammuel Huntington uma oposição significativa. Para o autor, “com o fim da União Soviética a política mundial entra em uma nova fase, onde as fontes fundamentais de conflito deixam de ter um caráter predominantemente econômico-comercial e político-ideológico, voltando à base sobre a qual se centraram historicamente, o choque de civilização.” (HUNTINGTON, 1993, p. 138). De acordo com esta visão, os conflitos mais significativos dos próximos anos ocorrerão nas linhas de fusão entre aquilo que, arbitrariamente, Huntington classificou como sendo as grandes civilizações do mundo moderno: “a ocidental, a confuciona, a japonesa, a islâmica, a eslavo-ortodoxa, a hindu, a latino-americana e a africana.” (HUNTINGTON, 1993, p. 138).

Então, conforme relatos do autor, em primeiro lugar, as diferenças civilizatórias são relacionadas aos diversos padrões de se entender as relações entre Deus e os homens, governo e sociedade, igualdade e hierarquia, dentre outros, não possuem o caráter das disputas entre ideologias e regimes político-econômicos. Extintas estas barreiras, restará aquilo que efetivamente distingue as diversas sociedades humanas, a cultura. Em seguida, o progressivo aumento das interatividades entre os povos, em especial através da mídia da internet, tem levado a intensificação de suas diferenças fundamentais. Este movimento colabora com o conhecimento antropológico de que os homens definam suas identidades a partir das desigualdades reconhecidas no outro e fortalece a noção de que a comunicação de massa, sob qualquer ângulo considerado, não é um mecanismo ótimo de integração cultural. Ao contrário, sem um bom conceito de cidadania global, a mídia concentra-se, sobretudo num instrumento eficaz para a difusão de bens e serviços em escala mundial. Por fim, a irregularidade no âmbito do desenvolvimento politico e econômico das nações também tem levado a um processo incompreensão do mundo valorizando a região como marco distintivo das civilizações e fazendo-a recuperar sua autonomia centralizada na organização política dos povos. Coincidentemente ou não, já na primeira metade dos anos 90 o movimento mais preocupante para os analistas internacionais das potências ocidentais, quer vinculado a órgãos

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estatais ou não, era a então recente constituição dos estados Islâmicos (tais como do aiatolá Khomeini, o Irã ou o Afeganistão de Osama Bin Laden).

Desta forma, as afirmações de Huntington realmente vieram a se afirmar, uma globalização integrando sócio, política e economicamente os povos seria impossível. Como destaca o próprio José Maurício Domingues. “[...] deve-se ter cuidado de não se tentar transformar temas específicos, por maior que seja sua amplitude, em panaceias universais e em áreas que almejam a tudo subordinar.” (DOMINGUES, 1993, p. 289).

Dissociada da esfera política e cultural, a globalização passa, necessariamente, a ser referenciada por critérios de natureza econômica. Neste sentido, “[...] este trabalho passa a reconhecer a globalização como um processo diretamente relacionado à lógica da acumulação capitalista.” (ABREU, 1995, P. 6). Em outras palavras, a globalização passa ser compreendida como um processo histórico presidido por costumes e por uma racionalidade de cunho liberal e burguês, que apoia a livre iniciativa, o desenvolvimento técnico-produtivo e o crescimento dos vínculos econômicos e comerciais como os novos parâmetros de ordem internacional dos anos 90. Assim considerada, a globalização é essencialmente um fenômeno de mercado. Contudo, ao contrário do que afirma o liberalismo clássico, o mercado globalizado não é uma figura da “riqueza das nações”, conforme livro de Adam Smith. Assim, a nova dinâmica de circulação do capital, a ampliação dos mercados de produção e consumo, os novos aportes tecnológicos e a integração produtiva em escala mundial, dentre outros elementos, expressam não só um padrão de acumulação, mas também uma nova divisão internacional do trabalho onde as forças do mercado globalizado estão cada vez mais relacionadas aos produtores e aos consumidores e menos aos estados nacionais.

1.1.2 O ambiente de mudança rumo ao livre-comércio

Como vimos acima, a globalização se dá de fato, com maior intensidade, na área econômica. O início da década de 1970 marca a emergência de outra fase na produção industrial capitalista. As transformações verificadas, estão configurando uma nova estrutura industrial neste final de século. Na raiz das mudanças está a manifestação de um quadro de crise, com forte desaceleração do crescimento econômico. Esse fenômeno, que se espalha pelas economias de diferentes países, não decorre de movimentos de altos e baixos da atividade econômica, que se sucedem em períodos de tempo e que são denominados de ciclos conjunturais de produção. Trata-se, ao contrário, de fato mais profundo, estrutural, que resulta de ruptura, ou esgotamento do padrão de acumulação até então vigente.

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Alguns autores atribuem um espaço bastante amplo a essas metamorfoses, e que ultrapassariam o mundo estritamente industrial. Peter Drucker (1993) acredita que a humanidade estaria entrando em uma nova era, dessas que se evidenciam a cada dois séculos, que não seria nem comunista, nem capitalista, mas pós-capitalista, e cuja característica marcante é estar baseada no conhecimento: uma sociedade do conhecimento.

De acordo com Conhen & Zysman (1987), uma visão propagada a partir do início dos anos 1980, principalmente nos Estados Unidos, em decorrência da perda de competitividade internacional, advoga que o declínio industrial americano seria o resultado de movimento natural da economia em direção a setores com maior conteúdo de valor em serviços. Assim então, desde o início da Revolução Industrial, a estrutura produtiva dos países desenvolvidos teria percorrido um curso cujo caminho iria da agricultura para a industrialização e dessa para os serviços. Estaríamos então vivendo uma época em que podemos denomina-la de pós-industrial, estruturada em torno do conhecimento e com a maior parte da força de trabalho envolvida nas atividades de serviços.

Independentemente da amplitude das transformações em andamento, já se pode distinguir traços marcantes desse novo ambiente econômico. Trata-se de movimento em direção à globalização financeira, da produção e dos mercados. Bem como no surgimento de um novo paradigma tecnológico.

A globalização dos mercados é estimulada pela presença de grandes empresas multinacionais, como expressiva participação no fluxo de comércio e nos setores industriais básicos.

No processo de globalização as empresas precisam ganhar escala e atuar no exterior e isto vem acontecendo gradativamente com algumas empresas brasileiras. Um bom número de empresas vem resistindo às ofertas de compra por parte das multinacionais e adota postura agressiva de compra no exterior.

Acredita-se que a disseminação de práticas produtivas associadas às modernas tecnologias e às novas formas de organização da produção redirecionaria o crescimento mediante investimentos nos setores geradores de progresso técnico e na revitalização daqueles segmentos que amadureceram sob a base técnica anterior. Esse movimento, por sua vez, deslocaria os fatores tradicionais de competitividade, induzindo a um novo padrão de especialização no comércio exterior.

Ciente das transformações ambientais do livre comércio, podemos nos aventurar nas macrotendências relacionadas a este novo fator econômico. Para isso levamos em consideração as macrotendências relatadas por (BRUM, 2002) em seu livro.

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Em primeiro lugar...

“[...] ele estimula a entrada, mais uma vez, de um modelo econômico liberal, onde o livre-comércio se torna a mola do processo. Ou seja, a abertura comercial, que passou a ser o elemento motor da economia mundial nos últimos vinte anos do século XX, só foi possível em escala planetária graças ao avanço tecnológico das informações, o qual permitiu globalizar o mundo, em especial nas suas relações comerciais.” (BRUM, 2002, P. 15).

Em segundo lugar...

“[...] um mundo globalizado e economicamente aberto reforçou a interdependência entre os países, países esses que, na sua maioria, para poderem fazer à competição econômica que se instalou, passaram a construir parcerias, traduzidas em blocos econômicos regionais (União Europeia, Mercosul...).” (BRUM, 2002, P. 15).

Em terceiro lugar...

“[...] a primeira procurou demonstrar que a formação dos blocos econômicos era uma reação protecionista, á medida que a economia mundial poderia assistir a uma guerra econômica entre blocos, ou seja, haveria um acirramento do protecionismo entre os blocos. Por outro lado, a segunda corrente, na qual nos incluímos, pensa que a formação dos blocos é um passo intermediário na construção de um mundo econômico mais aberto, portanto, menos protecionista.” (BRUM, 2002, P. 16).

Em quarto lugar...

“A necessidade de poupança interna para realizar investimentos e preparar o país para entrar ou manter-se nessa economia globalizada e aberta exige que não só a sociedade e seus agentes econômicos aprendam a fazer poupança, mas e, sobretudo os estados criem mecanismos de geração de poupança ou pelo menos de equilíbrio das contas públicas.” (BRUM, 2002, P. 16).

Em quinto lugar...

“[...] tal realidade permite diferenciar as vantagens comparativas das competitivas. Se as primeiras podem designar as chamadas vantagens naturais que um país possui em relação a outro, a segunda permite analisar as vantagens construídas com base no custo do Estado e na infraestrutura posta à disposição dos agentes econômicos para que realizem o comércio internacional.” (BRUM, 2002, P. 17).

Em sexto lugar...

“[...] formação de megaempresas, por via das chamadas megafusões, aquisições ou joint-ventures. Os agentes econômicos, mais rapidamente e diretamente expostos ao processo de abertura comercial num mundo globalizado, aceleram a estratégia de formarem empresas mais fortes, com mais escalas, visando a obter mais competitividade econômica.” (BRUM, 2002, P. 17).

Em sétimo lugar...

“Trata-se aqui de construir uma estratégia em quatro pontos: a obtenção da melhor informação disponível no mercado; a capacidade para analisar essa informação, isto é, ter elementos com formação para poderem interpretar o que as informações nos indicam; ou seja, aquela que teria mais probabilidade de se confirmar. O quarto passo é inserir-se nessa tendência, fato que exige elementos como infraestrutura e pessoal preparado.” (BRUM, 2002, P. 18). Em oitavo lugar...

“[...] se os blocos econômicos são uma realidade, igualmente a construção de moedas únicas parece ser o melhor caminho.” (BRUM, 2002, P. 19).

Em nono lugar...

“[...] o mundo entrou na era das indústrias do conhecimento, totalmente criadas pelo homem, independentemente dos recursos naturais, o que leva ao desaparecimento das vantagens comparativas.” (BRUM, 2002, P. 19). Por fim...

“[...] diante da complexidade das decisões e encaminhamentos que o mundo globalizado enfrenta, outra macrotendência será a criação de organismos supranacionais para resolverem questões relativas às relações internacionais.” (BRUM, 2002, P. 19).

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As dez macrotendências citadas acima, realmente são as que norteiam o liberalismo econômico, desenvolvendo assim uma interdependência dos países, obrigando-os a redimensionar suas economias de forma que obedeçam aos critérios atuais da economia mundial, tais com: formação e blocos econômicos, desenvolvendo uma forte poupança interna, diferenciação das vantagens comparativas, formação de mega empresas, preparação social para as novas transformações econômicas e de infraestrutura, a entrada na era da indústria do conhecimento e por fim, a criação de entidades supranacionais para dirimir dúvidas relativas à busca da globalização dos mercados.

Podemos concluir então, que todo processo de globalização capitalista teve forte êxito na década de 70, muito em função da crise econômica registrada naquela época e daí em diante houve um grande interesse das empresas industriais em abrirem portas rumo ao comércio internacional em busca de demanda. Assim, a seguir, damos início a um estudo das empresas brasileiras que, após a abertura do mercado brasileiro, tiveram, necessariamente, que abrir seu capital ou buscar novos mercado no exterior, tudo em função da concorrência imposta, obviamente, pela nova economia de mercado adotada pelo Brasil.

1.1.3 Os reflexos da globalização nas empresas brasileiras

No que tange o processo de globalização as empresas precisam ganhar escala produtiva e atuar no exterior, isto vem acontecendo gradativamente com algumas empresas brasileiras. Um bom número delas vem resistindo às ofertas de compra por parte das multinacionais adotando uma postura agressiva de compra no exterior.

Por ter sido um país de economia fechada e subdesenvolvida, o Brasil não sentiu a forte crise capitalista dos anos 70. O movimento de internacionalização das empresas brasileiras começou a ficar significativo em 2004, quando ocorreu a fusão da cervejaria Ambev com a belga Interbrew e se intensificou a partir de 2005 impulsionado pelo dólar barato.

Segundo relatório da Unctad, órgão da ONU, o total de investimentos de empresas brasileiras no exterior chegou a US$ 28 bilhões em 2006. Em 2007 já há 13 empresas brasileiras que atingiram o grau de investimento, concedido pelas agências de risco a empresas e países mais seguros do planeta.

Entre 2006 e 2007, os investimentos das multinacionais brasileiras no exterior atingiram US$ 36,5 bilhões, mais do que estas empresas investiram no exterior nos últimos 12

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anos. De 1994 a 2005 os investimentos diretos de brasileiros no exterior foram de US$ 30,6 bilhões.

“O número de empresas estrangeiras por brasileiras vem crescendo. Foram 57 em 2004, 44 em 2005, 96 em 2006 e 2007. Da mesma forma vem crescendo o número de companhias no exterior por empresas brasileiras: 22 em 2004, 24 em 2005, 47 em 2006 e 66 em 2007”. (Exame, 16.07.2008, p. 24).

“Levantamento feito pelo departamento de engenharia de produção da Escola Politécnica da USP, mostra que há 42 empresas brasileiras com mais de 130 fábricas produzindo no exterior. Estima-se que apenas 5% destas unidades foram implantadas pelas próprias empresas, a maioria delas é resultado de aquisições, pois o processo é muito mais rápido.” (Exame, 10.09.2008, p. 109).

Pesquisa Ranking Transnacionais Brasileiras 2009, da Fundação Dom Cabral mostra que as 20 empresas brasileiras mais internacionalizadas já tem quase 30% de seus ativos e funcionários no exterior e as receitas provenientes de outros países respondem por mais de 25% do total do faturamento, e os três indicadores – receitas, ativos e funcionários – vêm crescendo ano a ano, desde 2006. As mais internacionalizadas em 2008 por índice de transnacionalidade são: Gerdau (0,570), Sabó (0,408), Marfrig (0,407), Vale (0,385), Metalfrio (0,378). (Folha de São Paulo, 5.8.2009, p. B-12). (http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/multinacionais-brasileiras/45604/).

Uma das maiores empresas do ramo suinícola, a Marfrig adquiriu em 2007 a argentina Quickfood, com oito fábricas, maior frigorífico exportador da Argentina. Em 23 de junho de 2008 anunciou a compra por US$ 680 milhões de 15 fábricas do grupo OSI no Brasil e na Europa. Em julho de 2008 anunciou a compra da marca Pemmican, por meio da subsidiária Mirab USA, além de equipamentos para produção de "beef jerky", da Conagra Foods, por US$ 25 milhões. (http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/multinacionais-brasileiras/45604, 11.04/2011.)

A Sadia no ramo de alimentos tem escritórios comerciais e centros de distribuição nos EUA e Argentina e mais 9 (nove) países e inaugurou em dezembro de 2007 a primeira unidade de processamento de aves em Kaliningrado, um enclave russo entre o território polonês e a Lituânia, às margens do mar Báltico e é o único porto russo que não congela no inverno, uma joint venture com a russa Miratorg, unidade batizada de Concórdia, com investimentos de US$ 93 milhões e produção anual de 53 mil toneladas de embutidos, empanados e outros produtos com as marcas Sadia e Myasnaya Guildia. Kaliningrado isenta as empresas do imposto de importação de matérias primas desde que um mínimo de 30% do valor do produto seja fabricado no país. Na construção da fábrica foram encontradas 82

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(oitenta e duas) bombas não detonadas, retiradas pelo Exército Russo. (Folha de São Paulo, 3.12.2007, p. B-4). (http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/multinacionais-brasileiras/45604, 11.04/2011).

Como podemos ver acima, as empresas estão entrando em um novo modelo organizacional, precisam prestar muita atenção no mercado econômico mundial, pois é ele quem determina o rumo das organizações.

Mais do que simplesmente um fenômeno surgido nos nossos dias, a globalização, como a vemos hoje, é o resultado de um longo processo que, talvez, tenha se iniciado com o próprio advento das primeiras sociedades humanas. Sempre houve interações entre as pessoas e o comércio é praticado há muito tempo, mas nunca nas dimensões atuais. Hoje é extremamente comum produtos de empresas sediadas em determinado país serem fabricados em outro, com matérias primas de um terceiro para serem vendidos praticamente no mundo inteiro. As organizações têm uma necessidade crescente de pensar suas estratégias a nível global. As barreiras econômicas, uma a uma, vão caindo e expondo mercados locais à concorrência de gigantes transnacionais. Os hábitos de consumo de povos muito diferentes estão ficando mais parecidos. Neste contexto, as organizações precisam estar em constante processo de transformação, sob pena de perderem, muito mais que oportunidades, seu lugar no mercado.

“As organizações estão mudando. Em um artigo da Harvard Business Review, Larry Hirschhorn e Thomas Gilmore do Centro de Pesquisa Aplicada de Wharton anunciaram com alarde a nova realidade: ‘As novas tecnologias, os mercados altamente dinâmicos e a competição global estão revolucionando os relacionamentos comerciais. À medida que as empresas atenuam suas fronteiras tradicionais para responder a esse ambiente de negócio mais fluido, as funções que as pessoas desempenham no trabalho e as tarefas que executam se tornam correspondentemente difusas e ambíguas’.” (Crainer, 2000, p. 56).

Os modelos tradicionais de gestão, baseados em estruturas hierárquicas rígidas, continuam presentes, mas a agilidade e a flexibilidade vêm ganhando cada vez mais importância. As organizações estão buscando novas maneiras de desenvolver seus negócios e, para permanecerem vivas, não hesitam em promover mudanças radicais que afetam profundamente suas estruturas internas e, não raro, mudam até suas relações com a sociedade. O próprio perfil das pessoas que as empresas desejam ter em seus quadros está mudando.

O mundo globalizado é extremamente dinâmico e nele a competição é cada vez maior. Para sobreviver, as organizações precisam ser flexíveis, precisam ser capazes de aprender continuamente, de mudar rápido, precisam ser eficientes e estar sempre atentas às mudanças ambientais. Tanto as grandes quanto as pequenas organizações são afetadas pela globalização,

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mas estas possuem características específicas que fazem com que nem sempre as soluções adotadas pelas primeiras sejam as ideais para elas. Por sua equipe reduzida e pela disponibilidade de recursos limitada, as pequenas organizações precisam ser muito eficientes em sua operação, procurando sempre transformar sua agilidade e capacidade de adaptação natural em diferenciais que as ajudem a sobreviver no mercado. Modelos e ferramentas de gestão adequados podem ajudar muito nesse processo. As pequenas organizações, para serem ágeis, precisam ter uma estrutura organizacional horizontal, com poucos níveis hierárquicos e maior descentralização na tomada de decisões. Precisam ser orientadas ao mercado e ter processos bem desenhados que proporcionem a máxima otimização na aplicação dos recursos disponíveis.

Precisam aprender continuamente e gerir o conhecimento eficientemente, de modo que ele esteja disponível quando for necessário. Precisam, por fim, estar muito atentas às mudanças ambientais.

A grande prova de que as empresas brasileiras precisam estar atentas às mudanças ambientais no que tange à economia mundial pode ser explicada pela última crise econômico-financeira que assolou o mundo no ano de 2008. É disso que trataremos no próximo subtítulo.

1.1.4 A crise econômico-financeira de 2007/08 e seus reflexos na cadeia suinícola

Conforme artigo escrito por Fausto Bernardes Morey Filho em fevereiro de 2009, ele cita um pequeno resumo sobre a crise econômico-financeira mundial de 2008:

No início de 2008, o debate econômico tratava basicamente de dois focos principais: a eventual desaceleração da economia americana e a elevação dos preços das commodities agrícolas com consequências severas para a segurança alimentar entre as populações mais pobres. Para lidar com a provável desaceleração econômica, o FED - Federal Reserve cortou no final de janeiro a taxa básica de juros em 0,75 pontos percentuais e em março o governo americano aprovou, sem uma discussão mais aprofundada, um pacote de ajuda de US$ 150 bilhões de restituição de imposto de renda para as famílias, mas o tempo demonstrou que esta medida fora praticamente inócua.

Entre meados de 2007 e maio 2008 a crescente percepção de risco no setor bancário levou investidores a intensificarem a aplicação de seus recursos nas bolsas de valores e de commodities concorrendo para a ampliação da elevação das cotações e reforçando o movimento de alta dos últimos anos. Esta elevação pode ser atribuída em parte ao aumento da demanda e, em parte, como resultado do aporte destes recursos especulativos. O aumento

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extraordinário dos preços das commodities já deveria ter sido considerado um sinal antecipatório da crise.

Em maio, contrariando os sinais vindos da economia americana, os preços das ações e das commodities atingiram picos históricos. A crise financeira tornou-se o centro das discussões e a divulgação de uma sequência de fatos negativos trouxe volatilidade aos mercados globais culminando com a quebra do Lehman Brothers em setembro.

Porém, até mesmo bons tomadores de crédito exageraram. A crise atingiu inclusive os créditos regionais. As típicas casas de subúrbio que mediam entre 200 e 300 metros quadrados, com as facilidades de crédito, dobraram de tamanho e o comprador, com o mesmo salário comprava também uma casa de veraneio. Mas o segmento comercial e industrial também foi atingido. Os escritórios, as sede de bancos e multinacionais, símbolos desta era, tornaram-se dispendiosos e justificáveis por modelos de negócio somente possíveis neste ambiente alavancado.

As bolhas hipotecárias têm parentes espalhados pela economia, o setor automobilístico é um deles. Não parece sustentável vender tantos carros no mundo desenvolvido onde todos já possuem carros. O sistema só funcionava com a oferta de financiamentos cada vez mais tentadores, levando as pessoas a trocarem de carro cada vez mais rapidamente, a cada 18 ou 24 meses, quando sabemos que os carros são produzidos com qualidade para durar mais de cinco anos, isto obviamente acabaria mal.

A crise bancária mostrava-se grave e a confiança no sistema financeiro foi profundamente abalada, mas naquele momento não era possível determinar sua verdadeira extensão ou ainda afirmar se ela estaria restrita ao mercado americano. A confiança é fundamental para a saúde do mercado financeiro e a percepção que outros mercados poderiam estar expostos ao sub-prime deflagrou uma corrida de saques aos bancos e aos fundos de investimento que, aliada aos prejuízos causados por estes papéis nos balanços das instituições e o travamento do crédito interbancário, levou várias instituições à situação de insolvência. Até então, o governo americano havia feito pequenas intervenções visando facilitar as operações interbancárias e resolver problemas pontuais de liquidez, oferecendo apoio para algumas aquisições e fusões no setor. Então, o governo foi instado a intervir mais diretamente e a forma, os volumes e a profundidade das intervenções tiveram caráter inédito no sistema capitalista.

Bancos e seguradoras, sinônimos de solidez e segurança por décadas, como a American International Group – AIG, Fannie Mae, Freddie Mac, Bear Stearns, Washington Mutual, Wachovia, citando apenas algumas das instituições americanas com problemas,

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estavam próximas do colapso e, de fato, algumas quebraram, ou foram adquiridas, ou ainda foram "nacionalizadas" (um eufemismo para "estatizadas"). O governo americano, após uma turbulenta discussão no congresso, lançou um pacote de ajuda para o resgate do sistema financeiro de até US$ 700 bilhões. Após ter sido aprovado ele teve a sua dinâmica de funcionamento alterada várias vezes o que demonstrou que as autoridades não sabiam bem o que fazer. O tesouro americano resgatou as agências hipotecárias americanas Fannie Mae e Freddie Mac, oferecendo garantias de até US$ 100 bilhões para cada uma delas.

A crise se alastrou, contaminando outros bancos e seguradoras ao redor do mundo, culminando, por exemplo, na quebra de todo o sistema financeiro da Islândia. Várias medidas foram adotadas pelos governos, tanto nos EUA quanto em outros países, para tentar restabelecer a confiança no sistema financeiro e restringir a extensão dos danos sobre a economia, mas as boas notícias acabaram não chegando e alguns dos maiores bancos do mundo, como o Citigroup, anunciaram prejuízos bilionários e notificaram que corriam o risco de falência.

Até aquele momento, havia a crença que países como Brasil, Rússia, China e Índia, entre outros, pudessem estar blindados e que suas economias iriam conseguir crescer e puxar a economia global. Mesmo tendo impactos assimétricos nos países e nas empresas, a primeira onda de choque da crise do sub-prime se espalhou rapidamente pela economia mundial. Até em países com um sistema bancário regulado e sem exposição a estes ativos, caso do Brasil, houve contaminação, verificada principalmente pela interrupção dos fluxos de crédito.

A partir deste primeiro momento da crise, novos desajustes ocorrem em ondas no sistema econômico, afetando a liquidez, a oferta de crédito e, por consequência, o nível da demanda e da oferta, o uso da capacidade instalada e principalmente, os preços relativos da economia, entre outros aspectos. A volatilidade e a imprevisibilidade se instalaram no mercado acionário e em todo sistema produtivo.

Considerando que as decisões econômicas passaram a basear-se em variáveis que oscilavam em uma abrangência desconhecida e sem tendência definida, seria justificável que os agentes econômicos desenvolvessem uma expectativa de eventuais quedas de preço. Esta possível "deflação" afetaria novamente o nível geral de demanda. Neste contexto, os agentes econômicos enfrentam dificuldades para realizarem suas previsões econômicas de curto prazo e para determinarem os riscos de suas operações.

Com a desorganização dos preços relativos, fato que já pode ser observado inclusive nas cotações cambiais e nos preços do capital (juros reais), os produtores perdem referencial e confiança para estabelecerem seus níveis de produção e os preços para seus produtos, ou

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ainda para saberem quais os custos reais e relativos dos componentes de sua cadeia de produção e, assim a produção travou. Muitas outras surpresas desagradáveis ainda poderão surgir. (http://www.webartigos.com/articles/15854/1/A-crise-de-2008-pior-que-se-pensava/pagina1.html#ixzz1JDiFXxok), (11.04.2001, 16h13min).

A globalização está levando as organizações a rever seus conceitos e formas de gestão para sobreviver em um ambiente cada vez mais competitivo. As mudanças estão afetando, inclusive, o perfil dos colaboradores e as formas de trabalhar. Novas ferramentas, como a Internet e outras baseadas no uso cada vez maior da Tecnologia da Informação se fazem cada vez mais necessárias para a competitividade.

A cadeia suinícola, assim como todas as outras cadeias produtivas brasileiras, também foi atingida pelos fatores negativos oriundos da crise econômica de 2008. Seguem agora alguns fundamentos relativos ao mercado suinícola no período pós-crise segundo dados da ABIPECS (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína):

Os principais fundamentos da cadeia suína brasileira foram o aumento robusto da produção, a maior oferta das carnes concorrentes a preços competitivos, a comercialização prejudicada pela crise econômico-financeira, a acentuada queda nos preços, a valorização do Real e a forte pressão sobre os custos.

Quanto à produção: Ainda sob a influência dos acontecimentos de 2008 (estabilização dos alojamentos de matrizes e da produção no mercado spot), a produção de 2009 teve um desempenho robusto, atingindo 3,19 milhões de t, devido principalmente a ganhos da produtividade nas integrações e, de modo geral, no peso médio de abate.

A suinocultura industrial foi a que mais cresceu (7%); a oferta deste segmento atingiu 2,87 milhões de t, 187 mil t a mais.

Quanto ao mercado interno: A oferta de suínos para abate, em 2009, aumentou 6%, passando de 31,9 milhões de cabeças, em 2008, para 33,8 milhões de cabeças. No período, os abates sob Inspeção Federal – SIF, ao atingirem 28,1 milhões de cabeças, cresceram 7,7 % em relação ao ano anterior e os abates sob outras certificações mantiveram a tendência de decréscimo.

A disponibilidade interna cresceu perto de 3,8%, mantendo-se próxima ao consumo (13,8 kg por habitante ano). Iniciamos o ano com grandes volumes estocados em virtude da queda abrupta das exportações no fim de 2008 que somados à oferta de carnes, em geral, comprometeram os resultados dos produtores e das indústrias.

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As vendas no mercado interno foram mais afetadas pela crise econômica do que pela gripe A (H1N1). A concorrência com as demais carnes afetou o comércio de carne suína “in natura”. Como mostra quadro abaixo:

O primeiro semestre se caracterizou pelos altos estoques e crescente aumento da oferta interna, custos altos e preços em baixa. Com a gradativa recuperação dos volumes exportados e das vendas no mercado interno, os preços apresentaram uma modesta recuperação no segundo semestre.

O mercado interno, que absorve 80% da produção, tende a ser fortemente influenciado pelo crescimento econômico do País, pela estabilidade na oferta e pelo consumo que deve permanecer firme ao redor dos 14 kg per capita.

Quanto ao mercado externo o engessamento do mercado mundial devido à crise financeira, a queda dos preços internacionais, a desvalorização do dólar e o aumento da concorrência desestimularam as exportações. Diante dessa situação, estimou-se que em 2009 o volume exportado se aproxime das 600 mil toneladas.

TABELA 1 – Exportações brasileiras de carne suína no período da crise econômica

EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CARNE SUÍNA - 2008 E 2009

TONELADAS US$ MÊS/AN0 2008 2009 % 2008 2009 % JAN 28.982 37.802 30,43 67.271 75.374 12,05 FEV 39.397 45.991 16,74 92.763 93.720 1,03 MAR 42.741 51.007 0,19 102.658 104.164 1,47 ABR 48.725 53.997 10,82 130.667 103.999 -20,41 MAI 59.098 51.760 -12,42 167.009 102.585 -38,58 JUN 51.731 53.921 4,23 147.498 103.228 -30,01 JUL 56.119 48.108 -14,28 168.858 100.508 -40,48 AGO 48.082 46.466 -3,36 148.387 87.546 -41,00 SET 49.066 59.678 21,63 156.367 116.740 -25,34 OUT 46.928 63.027 34,31 144.492 130.520 -9,67 NOV 27.469 78.242 DEZ 31.080 75.030 SUB TOTAL 470.869 511.757 8,68 1.325.970 1.018.384 -23,20 TOTAL 529.418 511.757 1.479.242 Fonte: www.abipecs.org.br

Analisando a tabela acima, de janeiro a outubro, as exportações atingiram 511,76 mil toneladas, aumento de 8,68% em relação ao mesmo período de 2008. A receita de US$1,02 bilhão foi 23,20% menor, configurando uma perda cambial superior a US$ 300 milhões.

Esta então é a prova cabal de que a cadeia suinícola foi atingida profundamente pela crise econômica mundial de 2008. A superação da crise financeira mundial, a retomada mais firme da demanda nos países emergentes e os excedentes exportáveis menores nos

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concorrentes, Canadá e União Europeia, são os principais fatores que devem influir na elevação dos volumes e dos preços internacionais.

Permanece a grande preocupação com a questão cambial. Os impactos dos fluxos financeiros ainda não foram digeridos pelo governo federal e representam certamente grandes desafios macroeconômicos no pós-crise e junto a isso também, seus reflexos na cadeia suinícola brasileira.

Considerando a globalização uns dos fatores que mais contribui para transformação da cadeia suinícola mundial, no capítulo a seguir, buscaremos relatos históricos das transformações socioeconômicas na cadeia suinícola no mundo, no Brasil e consequentemente no estado do Rio Grande do Sul.

1.2 HISTÓRICO DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS NA CADEIA SUINÍCOLA

1.2.1 A suinocultura no mundo

O período mais relevante para a história das transformações socioeconômicas na cadeia suinícola foi no período pós-guerra. A implantação de empresas preocupadas com a produção massificada e a distribuição massificada foi o ponto de partida para um novo padrão de empresa industrial que ainda expandiu suas atividades para outros países. Para a agropecuária em específico, junto com o padrão de produção e de distribuição foi disseminada a necessidade de uso de novos insumos.

A partir de então, há um aumento da produção e aumento da intensidade do uso de capital nas fazendas. É significativa a concentração do poder de mercado nos setores de insumos para a agricultura e nos de processamento de produtos da agricultura. A redução da renda dos agricultores relativa aos preços dos insumos encolhe o mercado das indústrias a montante, que reagem desenvolvendo estratégias de incentivo à fidelidade do agricultor a uma marca, e de contínua inovação de produto, para manter o volume de vendas e a taxa de lucro. O resultado é o condicionamento da trajetória tecnológica da agricultura pelos pacotes técnicos da indústria a montante, vendidos com facilidades de crédito e assistência técnica.

Desde a década de 1970, segundo Ward e Almas (1997), acelerou-se a concentração nas agroindústrias processadoras a partir de aquisições e fusões. É o período de desorganização do fordismo, de uma redução da produtividade, de seu repasse de ganhos de

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para os salários, da taxa de lucro e da taxa de acumulação do capital em geral nos países desenvolvidos. A crescente mobilidade do capital e a concentração do capital financeiro facilitam a expansão geográfica da rede agroindustrial de produção e distribuição.

A operação das indústrias de número reduzido dentro de seu segmento, em escala nacional ou mundial, aliada às novas tecnologias industriais flexíveis, torna viável produzir em elevada escala um produto específico para uma proporção reduzida da população que, mesmo sendo um pequeno grupo dentro do total, representará milhares ou milhões de consumidores. Desenvolve-se a lógica de segmentação de produto focalizada em grupos populacionais de renda e hábitos específicos. A mesma rede de uma empresa distribui produtos diferentes, dirigidos a segmentos distintos de mercado.

Conforme Ward e Almas (1997), uma parte crescente do comércio internacional de alimentos e produtos agrícolas passa a ser controlado por poucas empresas multinacionais. Nos países desenvolvidos, é o início da ascendência das grandes redes varejistas, em termos de poder econômico em relação às agroindústrias e em relação aos produtores agrícolas. As ligações verticais dentro das cadeias de agroprocessamento se acentuam a fim de controlar a produção e sustentar a acumulação de capital.

A união comercial europeia incentivou a internacionalização do capital agroindustrial. Na década de 1980, ocorre a concentração industrial e o desenvolvimento de estratégias de produção para a inserção internacional do capital europeu. A abertura comercial e o aumento da mobilidade de capitais aumentaram o poder do capital internacional industrial ante a regulação macroeconômica nacional.

A década de 1990 é marcada por reformas econômicas nos países subdesenvolvidos orientadas para a liberalização do comércio internacional e valorização do capital privado. Destacam-se as desvalorizações monetárias, as reduções de barreiras tarifárias e não tarifárias, a retirada do capital estatal de empresas industriais e a abertura para os investimentos diretos de capital estrangeiro. Esta tendência aumentou a integração do fluxo de bens e de capitais entre regiões do mundo, inclusive no campo de ação agroindustrial.

Crescentemente, produtores rurais em países subdesenvolvidos ligaram-se comercial e produtivamente a corporações internacionais e os consumidores dos países desenvolvidos. O ritmo de abertura e integração comercial, no entanto, é distinto entre subdesenvolvidos e desenvolvidos. Os últimos retardam a redução de suas barreiras para produtos agroindustrializados, de forma a induzir à especialização dos subdesenvolvidos na produção e exportação de produtos de elaboração primária ou de commodities.

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O aumento da integração comercial acarreta a necessidade de padronização de qualidade e segurança alimentar dos produtos - de forma semelhante à necessidade de padrões de qualidade e de peso da integração americana do século XIX -. Empresas agroindustriais e cadeias varejistas instalam-se em vários países subdesenvolvidos. Operam aí a sua lógica de crescimento, similar à descrita para os Estados Unidos. O que muda é a tecnologia, com a biotecnologia sucedendo ou combinando-se com a química (enquanto continuam ocorrendo melhorias no empacotamento, estocagem e no transporte), e o centro do poder de coordenação, que a indústria passou a dividir com o varejo. Redes varejistas ou de fast-food participam das cadeias agroindustriais, impondo padrões de qualidade e de segurança alimentar que induzem à adoção de novas tecnologias pelos produtores rurais e pela indústria à montante e à jusante da agricultura. Este movimento do capital, atrelado aos produtos agroindustrializados, novamente, não é diferente de uma lógica de acumulação geral do capital, pelo qual o varejo pressiona também outras indústrias, a partir do poder de mercado que os grandes pontos de venda e a proximidade com o consumidor final lhe conferem.

Ao lado de movimentos de padronização, as oportunidades tecnológicas e o processo concorrencial seguidamente trazem perspectivas de diferenciais de qualidade nos produtos alimentares. Tais perspectivas não se limitam ao produto alimentar final, - a carne processada, o hambúrguer ou a salsicha, ou os grãos modificados, cereais matinais, compostos alimentares entre outros -, mas atua sobre a qualidade e a produtividade do próprio produto primário transformado, processos técnicos no produto agropecuário original – o animal e a sua carne in

natura, com mais ou menos gordura entremeada, com cor clara ou escura, com maior ou

menor capacidade de retenção de água, “ecológica” ou produzida “industrialmente”, “caipira” ou “de granja”; ou a planta e a sua semente – transgênica convencional ou “ecológica” -. Este viés, potencializado pela biotecnologia, acarreta uma relação de especificidade de qualidade entre o produto primário e o produto alimentar final. Há uma “descomoditização” anterior ao processamento industrial que potencializa as possibilidades competitivas nos mercados agroindustriais.

Ao integrar produção massificada com distribuição massificada, uma única empresa internaliza as diversas operações que envolvem produzir e vender uma linha de produtos. Chandler (1995) afirma que a mão visível da gerência empresarial substitui a mão invisível do mercado na coordenação do fluxo de bens, desde os fornecedores de matéria-prima e bens intermediários, até o varejista ou o consumidor final. Reduzem-se os custos de transação e informação, a firma é capaz de coordenar melhor oferta e demanda, e de usar sua força de trabalho e capital mais intensivamente, reduzindo seus custos unitários. A rapidez do fluxo de

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insumos, de produto e de caixa, reduz os custos do capital fixo e dos trabalhadores. O volume de vendas e o fluxo de caixa permitiram a expansão destas empresas da cadeia suinícola.

O ganho de produtividade, decorrente da tecnificação do setor suinícola fez com que ocorresse uma significativa expansão do setor no país, nos últimos anos. Um salto de 36.540 milhões em 2006, para 37.048 milhões em 2007 (ANUALPEC, 2007).

Dados da Anualpec (2007) mostram que os maiores produtores de suínos são a China, União Européia, Estados Unidos, Brasil, Federação Russa e Canadá, responsáveis por 90% da produção mundial, sendo que os mesmos tiveram um crescimento de 2% na produtividade.

Podemos comprovar isso com os dados da tabela abaixo:

TABELA 2 - Produção Mundial de Carne Suína (Mil t - em equivalente-carcaça)

País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* China 41.231 42.386 43.410 45.553 46.505 42.878 46.205 48.905 50.000 U. Europeia - 27 21.531 21.712 21.753 21.676 21.791 22.858 22.596 22.159 22.250 Estados Unidos 8.929 9.056 9.313 9.392 9.559 9.962 10.599 10.442 10.052 Brasil 2.565 2.560 2.600 2.710 2.830 2.990 3.015 3.130 3.170 Rússia 1.630 1.710 1.725 1.735 1.805 1.910 2.060 2.205 2.270 Vietnã 1.209 1.257 1.408 1.602 1.713 1.832 1.850 1.850 1.870 Canadá 1.709 1.730 1.780 1.765 1.748 1.746 1.786 1.789 1.750 Japão 1.236 1.260 1.272 1.245 1.247 1.250 1.249 1.310 1.280 Filipinas 1.095 1.145 1.145 1.175 1.215 1.250 1.225 1.240 1.255 México 1.070 1.035 1.064 1.103 1.109 1.152 1.161 1.162 1.161 Coreia do Sul 1.153 1.149 1.100 1.036 1.000 1.043 1.056 1.062 1.097 Outros 5.342 5.329 5.265 5.336 5.504 5.714 5.240 5.219 5.352 Total 88.700 90.329 91.835 94.328 96.026 94.585 98.042 100.473 101.507 Fonte: USDA / Abipecs

Conforme pesquisadores da FAO, calcula-se que o mundo iria produzir 105 milhões de toneladas de carne suína no ano de 2010. Este indicador está muito próximo de ser batido pela produção mundial de carne suína, efetivamente o mundo produziu 101.507 milhões de toneladas de carne suína. Isto representa um crescimento de 11,44% nos últimos 2 anos. Cerca de 60% desta produção, uma bagatela de 63 milhões de toneladas está concentrada nos países em desenvolvimento. Isto demonstra que a tendência é de maior concentração de suínos nos

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países em desenvolvimento, decorrente do crescimento preocupante dos países desenvolvidos com o aumento da poluição provocada pelos dejetos de suínos.

Neste sentido,

Calcula-se que em 2075 a população da terra atingirá o seu ponto de saturação, passando a manter-se na faixa de 11 bilhões de pessoas. A criação de suínos, pela capacidade de reprodução da espécie e facilidade de seu manejo, é atividade chamada a responder ao desafio de produzir em quantidade proteína animal de alta qualidade para atender ao crescimento populacional. (ANUALPEC, 2002, P. 281).

Como já é de conhecimento de todos que a produção de carne suína como fonte de proteína animal para uso na alimentação dos seres humanos é a de menor custo e de menor ciclo temporário de produtividade, então é a única que se pode em curto espaço de tempo alterar a demanda de produção de acordo com seu consumo.

TABELA 3 - Consumo Mundial de Carne Suína (Mil t - em equivalente-carcaça)

País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* China 41.015 42.113 43.010 45.139 46.014 42.710 46.691 48.823 50.050 U. Europeia - 27 20.689 20.683 20.528 20.632 20.631 21.507 21.024 20.782 20.580 Estados Unidos 8.684 8.818 8.822 8.660 8.643 8.965 8.806 9.013 8.428 Rússia 2.429 2.417 2.338 2.486 2.639 2.803 3.112 3.049 3.119 Brasil 1.975 1.957 1.979 1.949 2.191 2.260 2.390 2.423 2.545 Japão 2.322 2.330 2.529 2.509 2.452 2.473 2.486 2.467 2.437 Vietnã 1.190 1.244 1.386 1.583 1.731 1.855 1.880 1.876 1.867 México 1.334 1.358 1.470 1.464 1.489 1.523 1.605 1.770 1.766 Coreia do Sul 1.202 1.286 1.336 1.311 1.420 1.502 1.519 1.480 1.524 Filipinas 1.134 1.167 1.169 1.198 1.239 1.275 1.270 1.298 1.380 Ucrânia 599 623 606 545 585 715 828 713 770 Outros 5.794 5.960 6.109 6.081 6.419 6.503 6.539 6.647 6.660 Total 88.729 90.267 91.624 93.956 95.453 94.091 98.150 100.341 101.126 Fonte: USDA / Abipecs

Referências

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