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1. A GLOBALIZAÇÃO DAS NAÇÕES IMPACTA NAS CADEIAS PRODUTIVAS

1.2 HISTÓRICO DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS NA

1.2.1 A suinocultura no mundo

O período mais relevante para a história das transformações socioeconômicas na cadeia suinícola foi no período pós-guerra. A implantação de empresas preocupadas com a produção massificada e a distribuição massificada foi o ponto de partida para um novo padrão de empresa industrial que ainda expandiu suas atividades para outros países. Para a agropecuária em específico, junto com o padrão de produção e de distribuição foi disseminada a necessidade de uso de novos insumos.

A partir de então, há um aumento da produção e aumento da intensidade do uso de capital nas fazendas. É significativa a concentração do poder de mercado nos setores de insumos para a agricultura e nos de processamento de produtos da agricultura. A redução da renda dos agricultores relativa aos preços dos insumos encolhe o mercado das indústrias a montante, que reagem desenvolvendo estratégias de incentivo à fidelidade do agricultor a uma marca, e de contínua inovação de produto, para manter o volume de vendas e a taxa de lucro. O resultado é o condicionamento da trajetória tecnológica da agricultura pelos pacotes técnicos da indústria a montante, vendidos com facilidades de crédito e assistência técnica.

Desde a década de 1970, segundo Ward e Almas (1997), acelerou-se a concentração nas agroindústrias processadoras a partir de aquisições e fusões. É o período de desorganização do fordismo, de uma redução da produtividade, de seu repasse de ganhos de

para os salários, da taxa de lucro e da taxa de acumulação do capital em geral nos países desenvolvidos. A crescente mobilidade do capital e a concentração do capital financeiro facilitam a expansão geográfica da rede agroindustrial de produção e distribuição.

A operação das indústrias de número reduzido dentro de seu segmento, em escala nacional ou mundial, aliada às novas tecnologias industriais flexíveis, torna viável produzir em elevada escala um produto específico para uma proporção reduzida da população que, mesmo sendo um pequeno grupo dentro do total, representará milhares ou milhões de consumidores. Desenvolve-se a lógica de segmentação de produto focalizada em grupos populacionais de renda e hábitos específicos. A mesma rede de uma empresa distribui produtos diferentes, dirigidos a segmentos distintos de mercado.

Conforme Ward e Almas (1997), uma parte crescente do comércio internacional de alimentos e produtos agrícolas passa a ser controlado por poucas empresas multinacionais. Nos países desenvolvidos, é o início da ascendência das grandes redes varejistas, em termos de poder econômico em relação às agroindústrias e em relação aos produtores agrícolas. As ligações verticais dentro das cadeias de agroprocessamento se acentuam a fim de controlar a produção e sustentar a acumulação de capital.

A união comercial europeia incentivou a internacionalização do capital agroindustrial. Na década de 1980, ocorre a concentração industrial e o desenvolvimento de estratégias de produção para a inserção internacional do capital europeu. A abertura comercial e o aumento da mobilidade de capitais aumentaram o poder do capital internacional industrial ante a regulação macroeconômica nacional.

A década de 1990 é marcada por reformas econômicas nos países subdesenvolvidos orientadas para a liberalização do comércio internacional e valorização do capital privado. Destacam-se as desvalorizações monetárias, as reduções de barreiras tarifárias e não tarifárias, a retirada do capital estatal de empresas industriais e a abertura para os investimentos diretos de capital estrangeiro. Esta tendência aumentou a integração do fluxo de bens e de capitais entre regiões do mundo, inclusive no campo de ação agroindustrial.

Crescentemente, produtores rurais em países subdesenvolvidos ligaram-se comercial e produtivamente a corporações internacionais e os consumidores dos países desenvolvidos. O ritmo de abertura e integração comercial, no entanto, é distinto entre subdesenvolvidos e desenvolvidos. Os últimos retardam a redução de suas barreiras para produtos agroindustrializados, de forma a induzir à especialização dos subdesenvolvidos na produção e exportação de produtos de elaboração primária ou de commodities.

O aumento da integração comercial acarreta a necessidade de padronização de qualidade e segurança alimentar dos produtos - de forma semelhante à necessidade de padrões de qualidade e de peso da integração americana do século XIX -. Empresas agroindustriais e cadeias varejistas instalam-se em vários países subdesenvolvidos. Operam aí a sua lógica de crescimento, similar à descrita para os Estados Unidos. O que muda é a tecnologia, com a biotecnologia sucedendo ou combinando-se com a química (enquanto continuam ocorrendo melhorias no empacotamento, estocagem e no transporte), e o centro do poder de coordenação, que a indústria passou a dividir com o varejo. Redes varejistas ou de fast-food participam das cadeias agroindustriais, impondo padrões de qualidade e de segurança alimentar que induzem à adoção de novas tecnologias pelos produtores rurais e pela indústria à montante e à jusante da agricultura. Este movimento do capital, atrelado aos produtos agroindustrializados, novamente, não é diferente de uma lógica de acumulação geral do capital, pelo qual o varejo pressiona também outras indústrias, a partir do poder de mercado que os grandes pontos de venda e a proximidade com o consumidor final lhe conferem.

Ao lado de movimentos de padronização, as oportunidades tecnológicas e o processo concorrencial seguidamente trazem perspectivas de diferenciais de qualidade nos produtos alimentares. Tais perspectivas não se limitam ao produto alimentar final, - a carne processada, o hambúrguer ou a salsicha, ou os grãos modificados, cereais matinais, compostos alimentares entre outros -, mas atua sobre a qualidade e a produtividade do próprio produto primário transformado, processos técnicos no produto agropecuário original – o animal e a sua carne in

natura, com mais ou menos gordura entremeada, com cor clara ou escura, com maior ou

menor capacidade de retenção de água, “ecológica” ou produzida “industrialmente”, “caipira” ou “de granja”; ou a planta e a sua semente – transgênica convencional ou “ecológica” -. Este viés, potencializado pela biotecnologia, acarreta uma relação de especificidade de qualidade entre o produto primário e o produto alimentar final. Há uma “descomoditização” anterior ao processamento industrial que potencializa as possibilidades competitivas nos mercados agroindustriais.

Ao integrar produção massificada com distribuição massificada, uma única empresa internaliza as diversas operações que envolvem produzir e vender uma linha de produtos. Chandler (1995) afirma que a mão visível da gerência empresarial substitui a mão invisível do mercado na coordenação do fluxo de bens, desde os fornecedores de matéria-prima e bens intermediários, até o varejista ou o consumidor final. Reduzem-se os custos de transação e informação, a firma é capaz de coordenar melhor oferta e demanda, e de usar sua força de trabalho e capital mais intensivamente, reduzindo seus custos unitários. A rapidez do fluxo de

insumos, de produto e de caixa, reduz os custos do capital fixo e dos trabalhadores. O volume de vendas e o fluxo de caixa permitiram a expansão destas empresas da cadeia suinícola.

O ganho de produtividade, decorrente da tecnificação do setor suinícola fez com que ocorresse uma significativa expansão do setor no país, nos últimos anos. Um salto de 36.540 milhões em 2006, para 37.048 milhões em 2007 (ANUALPEC, 2007).

Dados da Anualpec (2007) mostram que os maiores produtores de suínos são a China, União Européia, Estados Unidos, Brasil, Federação Russa e Canadá, responsáveis por 90% da produção mundial, sendo que os mesmos tiveram um crescimento de 2% na produtividade.

Podemos comprovar isso com os dados da tabela abaixo:

TABELA 2 - Produção Mundial de Carne Suína (Mil t - em equivalente-carcaça)

País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* China 41.231 42.386 43.410 45.553 46.505 42.878 46.205 48.905 50.000 U. Europeia - 27 21.531 21.712 21.753 21.676 21.791 22.858 22.596 22.159 22.250 Estados Unidos 8.929 9.056 9.313 9.392 9.559 9.962 10.599 10.442 10.052 Brasil 2.565 2.560 2.600 2.710 2.830 2.990 3.015 3.130 3.170 Rússia 1.630 1.710 1.725 1.735 1.805 1.910 2.060 2.205 2.270 Vietnã 1.209 1.257 1.408 1.602 1.713 1.832 1.850 1.850 1.870 Canadá 1.709 1.730 1.780 1.765 1.748 1.746 1.786 1.789 1.750 Japão 1.236 1.260 1.272 1.245 1.247 1.250 1.249 1.310 1.280 Filipinas 1.095 1.145 1.145 1.175 1.215 1.250 1.225 1.240 1.255 México 1.070 1.035 1.064 1.103 1.109 1.152 1.161 1.162 1.161 Coreia do Sul 1.153 1.149 1.100 1.036 1.000 1.043 1.056 1.062 1.097 Outros 5.342 5.329 5.265 5.336 5.504 5.714 5.240 5.219 5.352 Total 88.700 90.329 91.835 94.328 96.026 94.585 98.042 100.473 101.507 Fonte: USDA / Abipecs

Conforme pesquisadores da FAO, calcula-se que o mundo iria produzir 105 milhões de toneladas de carne suína no ano de 2010. Este indicador está muito próximo de ser batido pela produção mundial de carne suína, efetivamente o mundo produziu 101.507 milhões de toneladas de carne suína. Isto representa um crescimento de 11,44% nos últimos 2 anos. Cerca de 60% desta produção, uma bagatela de 63 milhões de toneladas está concentrada nos países em desenvolvimento. Isto demonstra que a tendência é de maior concentração de suínos nos

países em desenvolvimento, decorrente do crescimento preocupante dos países desenvolvidos com o aumento da poluição provocada pelos dejetos de suínos.

Neste sentido,

Calcula-se que em 2075 a população da terra atingirá o seu ponto de saturação, passando a manter-se na faixa de 11 bilhões de pessoas. A criação de suínos, pela capacidade de reprodução da espécie e facilidade de seu manejo, é atividade chamada a responder ao desafio de produzir em quantidade proteína animal de alta qualidade para atender ao crescimento populacional. (ANUALPEC, 2002, P. 281).

Como já é de conhecimento de todos que a produção de carne suína como fonte de proteína animal para uso na alimentação dos seres humanos é a de menor custo e de menor ciclo temporário de produtividade, então é a única que se pode em curto espaço de tempo alterar a demanda de produção de acordo com seu consumo.

TABELA 3 - Consumo Mundial de Carne Suína (Mil t - em equivalente-carcaça)

País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* China 41.015 42.113 43.010 45.139 46.014 42.710 46.691 48.823 50.050 U. Europeia - 27 20.689 20.683 20.528 20.632 20.631 21.507 21.024 20.782 20.580 Estados Unidos 8.684 8.818 8.822 8.660 8.643 8.965 8.806 9.013 8.428 Rússia 2.429 2.417 2.338 2.486 2.639 2.803 3.112 3.049 3.119 Brasil 1.975 1.957 1.979 1.949 2.191 2.260 2.390 2.423 2.545 Japão 2.322 2.330 2.529 2.509 2.452 2.473 2.486 2.467 2.437 Vietnã 1.190 1.244 1.386 1.583 1.731 1.855 1.880 1.876 1.867 México 1.334 1.358 1.470 1.464 1.489 1.523 1.605 1.770 1.766 Coreia do Sul 1.202 1.286 1.336 1.311 1.420 1.502 1.519 1.480 1.524 Filipinas 1.134 1.167 1.169 1.198 1.239 1.275 1.270 1.298 1.380 Ucrânia 599 623 606 545 585 715 828 713 770 Outros 5.794 5.960 6.109 6.081 6.419 6.503 6.539 6.647 6.660 Total 88.729 90.267 91.624 93.956 95.453 94.091 98.150 100.341 101.126 Fonte: USDA / Abipecs

TABELA 4 - Consumo Mundial Per Capita de Carne Suína (Kg per capita) País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* Hong Kong 56,78 59,47 65,06 59,58 60,37 61,46 64,97 68,50 68,60 Macau 43,28 47,28 48,33 48,52 50,06 51,38 49,48 50,01 51,06 Belarus 31,14 34,73 34,70 36,60 40,75 39,08 44,91 41,98 42,65 União Europeia - 27 42,50 42,42 42,03 42,17 42,11 43,83 42,79 42,30 41,80 China 31,94 32,61 33,11 34,50 35,00 32,30 35,10 36,50 37,10 Sérvia 38,70 35,57 32,44 33,99 33,84 38,40 36,30 34,80 35,70 Taiwan 42,67 41,43 41,91 41,58 38,10 36,90 35,70 36,90 35,60 Montenegro 16,70 12,60 15,60 12,90 28,90 32,10 41,30 40,20 33,00 Suíça 33,55 33,07 32,75 33,25 34,02 33,60 33,50 33,30 32,90 Coreia do Sul 25,34 26,98 27,92 27,31 29,51 31,13 31,40 30,51 31,30 Fonte: USDA / Abipecs

Como podemos ver nas tabelas acima, a China lidera há muitos anos a produção e o consumo de carne suína. Quanto à produção, em 2010 a China produziu 55,5% a mais do que o segundo colocado, que neste caso é a União Europeia, foram 50.000 milhões de toneladas de carne suína produzida pela China contra 22.250 milhões de toneladas produzidas pela União Europeia. O Brasil em comparação com a China conseguiu produzir apenas 6,34% comparado ao montante da produção Chinesa, foram 3.170 milhões de toneladas de produção brasileira contra 50.000 milhões de toneladas de produção chinesa. Isso mostra o quanto ainda doeremos crescer neste ramo de atividade, mas é claro que este possível crescimento não poderá se basear apenas na capacidade física do crescimento produtivo, precisamos também levar em consideração problemas sociais, culturais, econômicos e ambientais.

Quanto ao consumo, o Brasil também possui um grande trabalho a ser desenvolvido neste campo, culturalmente não somos um povo habituado ao grande consumo de carne suína, prova disso, são os dados da tabela acima onde comprova que somos apenas o quinto colocado na escala dos maiores consumidores mesmo sendo o quarto na escala dos produtores. Enquanto produzimos 3.170 Milhões de toneladas, consumimos apenas 2.545 milhões de toneladas, isso significa que o restante produzido é exportado pra países onde o consumo é maior que a produção como, por exemplo, a Rússia.