• Nenhum resultado encontrado

Mídias digitais: o desafio cristão do relacionar-se num mundo pós-moderno e virtual

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Mídias digitais: o desafio cristão do relacionar-se num mundo pós-moderno e virtual"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

MÍDIAS DIGITAIS: O DESAFIO CRISTÃO DO RELACIONAR-SE NUM MUNDO

PÓS MODERNO E VIRTUAL

Digital media: the christian challenge of relationship in a post modern and virtual world

Carlos Alexandre Carvalho Duarte1

Roney de Carvalho Luiz2

Resumo

A presente pesquisa tem como proposta a investigação do relacionamento e comunhão cristã por meio das mídias sociais digitais. A comunhão e o relacionamento que antes da pós-modernidade eram feitos de modo pessoal e físico diminuíram, e as redes sociais digitais apresentam-se como uma nova maneira de relacionamento. As mídias sociais, como meios de comunicação digital, promovem a interação dos indivíduos por meio de uma sensação de sociabilidade, relacionamento e comunhão, ainda que sem presencialidade. As que mais se destacam no ocidente são: Facebook, WhatsApp, Instagram, dentre outros. Este novo modo de se comunicar impactou o modo de relacionamento dos indivíduos, representando assim, um paradigma considerado um grande desafio cristão em sua eclesiologia, tanto na práxis eclesiástica quanto na comunhão cristã de seus fieis. O trabalho utiliza como início à sua reflexão duas teses de Doutorado para balizar a discussão da maneira que este processo de comunicação afeta a práxis eclesiástica e a comunhão cristã. Na primeira tese, Dr. Sbardelotto (2017) defende que este fenômeno comunicacional afetou a igreja e fez com que todo processo de comunicação fosse alterado e revisto. Em contrapartida, o Dr. Spadaro (2012) reforça e pontua a oportunidade comunicacional que emerge nesse ambiente; e, que se faz necessário ainda, investigar e dialogar com outras ciências, necessitando inclusive de uma teologia especializada neste tipo de comunicação. Assim, este paradigma representa ser um desafio cristão, o qual aparentemente ainda se mostra como uma comunicação falha, ineficiente e incapaz de mudar ou promover impactos religiosos, sobretudo na maioria das vezes causando conflitos e rupturas de relacionamentos nos indivíduos inseridos nas mídias sociais digitais. Por fim, a pesquisa busca apontar uma maneira do relacionar-se e comunicar-se dentro do ambiente digital, a partir dos princípios cristãos.

Palavras-chave: Cibercultura religiosa, Teologia da Comunicação, Práxis Eclesiástica, Mídias Digitais. Abstract

The present research aims to investigate the relationship and Christian communion through digital social media. The communion and pre-postmodernity relationship made in a personal and physical way has diminished, and digital social networks present themselves as a new way of relationship. Social media, as a digital communication, promote the individuals interaction through a sense of sociability, relationship and communion, even not in person. The ones that stand out most in the

1 Acadêmico do Curso de Bacharelado em Teologia, UNICESUMAR, Maringá-PR, Bolsista do PIC/ICETI,

palestrante@terra.com.br

(2)

West are: Facebook, WhatsApp, Instagram, among others. This new way of communicating impacted the relationship way of individuals, thus representing a paradigm considered a great Christian challenge in their ecclesiology, both in ecclesiastical praxis and in the Christian communion of their faithful. The research uses as a starting reflection two PhD theses to mark the discussion in the way that this communication process affects ecclesiastical praxis and Christian communion. In the first thesis, Dr. Sbardelotto (2017) argues that this communicational phenomenon affected the church and made every communication process altered and revised. In the other hand, Dr. Spadaro (2012) reinforces and points out the communication opportunity that emerges in this environment; that it is still necessary to investigate and dialogue with other sciences, even requiring a theology specialized in this type of communication. That being said, this paradigm represents a Christian challenge, which apparently still appears as a failure, inefficient communication and incapable of changing or promoting religious impacts, especially in the majority of times causing conflicts and ruptures of relationships in individuals inserted in the digital social media. Finally, the research seeks to point out a relating and communicating way within the digital environment, based on Christian principles.

KEYWORDS: Religious cyberculture; Communication Theology; Ecclesiastical Praxis, Digital Media.

***

A proposta cristã de relacionamento e comunhão

Já considerada por muitos estudiosos como a maior revolução depois da revolução industrial, a internet, mais especificamente as redes sociais mudaram a comunicação no mundo pós-moderno e tem impactado também o modo de relacionamento, representando um paradigma carregado de novos desafios. Sobretudo, com o surgimento e o avanço das tecnologias comunicacionais também emergem novas oportunidades, oferecendo novos patamares em diversos sentidos, principalmente na questão da comunicação e do relacionamento. Alguns poucos anos atrás para receber uma simples mensagem aguardavam-se dias e até semanas, e esta era somente por meio impresso. No mundo pós-moderno somos instantaneamente e integralmente inseridos em todos os tipos de comunicação em tempo real, o que acontece do outro lado do mundo, em centésimos de segundos somos informados, uma simples carta escrita que levava dias para chegar ao destino foi substituída pelo email e mais recentemente pelos programas de mensagens instantâneas, fazendo assim com que a ‘internet’ esteja nas pessoas e as pessoas façam parte da ‘internet’. Todos estes novos cenários comunicacionais corroboraram com as mudanças de comportamentos, relacionamentos e comunicação no mundo pós-moderno, que inclusive foram responsáveis pelos impactos e mudanças em todos os segmentos, áreas e afins. O que antes era necessário um certo tempo para se estabelecer um diálogo e participar com nossos argumentos, pensamentos, respostas e ideias, hoje se faz de maneira instantânea, quebrando assim a barreira de uma ideologia virtualizada.

Segundo Pierre Lévy que é o filósofo, sociólogo e pesquisador em ciência da informação e da comunicação e que estuda o impacto da internet na sociedade, enfatiza, de maneira eloquente, que “a virtualização atinge mesmo as modalidades do estar junto, a “constituição do ‘nós’: comunidades

(3)

virtuais, empresas virtuais, democracia virtual, relacionamentos virtuais, etc” (LEVY,1996, p.11). Pois dentro deste processo de comunicação acontece a função de receber – acolher a informação transmitida, interpretar e fazer o comentário ou contra argumentar, pois é assim que se estabelece um processo de comunicação.

Esta maneira de comunicarmos em tempo real traz alguns paradigmas e representam ser um desafio cristão tanto na práxis eclesiástica quanto no modo cristão de viver, já que as mensagens de cunho religioso causam desencontros e não conseguem penetrar no âmago do receptor, tampouco causar algum tipo de impacto que o leve a buscar o divino ou ter maiores interesses. Muitas destas mensagens acabam sendo mal entendidas e não compreendidas, incitando àquelas pessoas que já possuem um caráter afastado dos princípios cristãos a promoverem um verdadeiro ambiente de guerra e hostilidade por meio das redes sociais.

Para Antonio Spadaro, que é padre Jesuíta, teólogo e escritor italiano, é preciso pensar qual impacto que este novo mundo de relacionamento tem sobre o modo de pensar a revelação, a graça e a comunhão cristã. O questionamento vai além com os termos da reflexão quando o próprio Papa Bento XVI se pronuncia aos participantes do Pontifício Conselho das Comunicações (2014, p.9): “Não se trata de exprimir a mensagem evangélica na linguagem atual, mas é preciso ter a coragem de pensar de maneira mais profunda, como aconteceu em outras épocas, a relação entre a fé, a vida da igreja e as transformações que o homem está vivendo.”(2014, p.9, grifos nossos).

A comunicação pelas mídias digitais deixou de ser abstrata e se integra consumadamente no concreto dos indivíduos, o grande desafio do indivíduo cristão é se inserir neste meio de comunicação e não se deixar ser abatido por uma rebeldia de diferentes tribos e culturas expressando livremente sua fé, suas crenças e gerando impactos nas pessoas que utilizam das redes sociais digitais para se relacionarem. Esta pesquisa promove uma interatividade por meio da reflexão sobre o que é ético e reforça a perda de identidade cristã das pessoas em meio a tantas culturas digitais e diferentes tribos existenciais dentro deste processo de ‘relacionar-se e comunicar-se’.

A tese de Moisés Sbardelotto, jornalista, doutor e mestre em ciências da comunicação, aponta que este fenômeno comunicacional afetou a igreja e fez com que todo processo de comunicação fosse alterado e revisto. Em contrapartida, Spadaro (2012) reforça este cenário e pontua a oportunidade comunicacional que emerge, inclusive postula a necessidade de investigar e dialogar com outras ciências, cita em sua tese a criação de uma teologia especializada neste tipo de comunicação e no novo modo de relacionamento das pessoas, praticado e já consumado no mundo digital. Para ele este novo processo comunicacional através das redes sociais gera um desconforto e causa desentendimento nas relações interpessoais, eclesiástica e reflete diretamente na práxis da vida cristã. Em suma, Spadaro defende a necessidade real e de urgência no labor de um novo saber, um novo preparar acadêmico que preencha esta lacuna comunicacional e compreenda a comunicação digital da Teologia, oferecendo substancial e efetivamente ferramentas que sejam capazes de inserir a práxis eclesiástica e a religião de modo a responder as perguntas que os indivíduos apresentam hoje nas mídias sociais, ou pelo menos que seja capaz de dialogar com os indivíduos nelas inseridos sem criar rupturas ou conflitos existenciais e emocionais, a este novo saber ele sugere a criação de uma disciplina teológica, e a esta ele da o nome de Ciberteologia.

Parte-se do pressuposto de visão, de modo geral, que o impacto das redes sociais tanto na cultura quanto na construção da personalidade de indivíduos provoca um novo ideário, embora este

(4)

não seja indicado sumariamente em uma mudança que possa ser considerada efetivamente boa ou ruim (Lévy3, 2011; Sbardelotto, 2017; Ferreira, 2014; Spadaro4, 2012).

A pesquisa fomentada através de ambas as teses e conhecimentos das diversas ciências promove um diálogo aberto para que novos estudos ocorram. Sbardelotto e Spadaro, pontuam essa necessidade emergente e trazem sob o foco uma nova maneira de olhar para o processo de comunicação na práxis eclesiástica e na vida cristã. Busca-se um elo nessa corrente que contribua com a compreensão de uma ruptura comunicacional do velho com o novo modo de relacionamento das pessoas, uma nova oportunidade imensurável de saber e conhecimentos como nunca antes existiram, gerando oportunidades a fim de serem exploradas (Lévy, 2011).

Não é positivo, todavia, usar as mídias digitais para lidar com religião e testemunho de vida, até que tenha maior conhecimento sobre a profundidade e a interpretação desta comunicação.

Portanto, a abordagem desta pesquisa parte dos pensamentos da linha de trabalho do Dr. Antonio Spadaro e do Dr. Moisés Sbardelotto, a fim de servirem como um elo para somarem conhecimento e agregar conteúdo de relevância com o viés de uma práxis eclesiástica eficaz e uma comunicação eficiente no relacionamento e na vida das pessoas.

Busca-se, efetivamente, um método não sistêmico, mas prático, para que o modo de relacionamento aconteça de maneira saudável e que seja reflexo de uma única identidade cristã em que tanto o emissor quanto o receptor contem com uma práxis onde testemunhem e vivenciem sua fé, seus credos e suas confissões sem gerar conflitos ou rupturas de identidade nas mídias digitais, e não represente mais ser um desafio cristão para a igreja. Em outras palavras, que exista certa congruência entre o que é escrito através das mídias digitais sociais e o que é vivenciado fora delas. O que são mídias sociais e qual a sua ambiência?

Mídias digitais sociais ou simplesmente chamadas de Redes sociais são plataformas/ambientes formados ‘dentro’ da internet, por pessoas ou organizações que se conectam a partir de interesses ou valores comuns, ou objetivos específicos. Em outros termos, Redes sociais, são sites e aplicativos que operam em níveis diversos — como profissional, de relacionamento, dentre outros — mas sempre permitindo o livre compartilhamento de informações entre as pessoas que se utilizam delas.

Na internet, as redes sociais têm suscitado discussões como a da falta de privacidade, e servido como uma ambiente de guerra frente à diferentes ideologias, mas também servido como meio de convocação para manifestações públicas em protestos e como visto recentemente capazes até de elegerem um presidente da república (Jair Messias Bolsonaro, 2018). Essas plataformas criaram, também, uma nova forma de relacionamento entre as pessoas, abrindo caminhos tanto para interação quanto à maneira que a sociedade se comunica.

Segundo a pontuação feita por Dr. Sbardelotto, as mídias digitais, mais do que a palavra impressa, é agora nosso principal meio de comunicação e também de relacionamento, indo além quando permeia com a práxis eclesiástica, visto que o campo religioso brasileiro é bastante difuso com variadas matizes e ideologias, capazes de gerarem naturalmente um sentido de pluralidade de conceitos e pensamentos. Fala-se, assim, em um momento que corrobora para uma certa

3 LÉVY, Pierre, filósofo, sociólogo e pesquisador em ciência da informação e da comunicação e estuda o impacto da

Internet na sociedade, as humanidades digitais e o virtual. Vive em Paris e leciona no Departamento de Hipermídia da Universidade de Paris-VIII.

4 SPADARO, Antonio, padre Jesuíta, diretor da revista La Civilitá Cattolica e professor da Pontifícia Universidade

Gregoriana, na qual obteve seu doutorado em Teologia; consultor do Pontifício Conselho da cultura e do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais do Vaticano, autor de muitas obras sobre cultura contemporânea e de ensaios sobre a internet. Em janeiro de 2011 criou o blog Cyberteologia.it (Prêmio WeCa 2012), que mantém até hoje ativamente.

(5)

inculturação5, mas há de se ressaltar que este é um processo de duas vias. As influências acontecem

em laterais e em profundidade, não somente de conceitos, mas principalmente oferecendo uma consoante adjacente à fé e também à espiritualidade dos indivíduos; sobretudo é um caso específico que não admite conjecturas ou especulações, existe uma necessidade real de estudo e direcionamento.

Nesta pesquisa este quesito permanecerá aberto para um futuro olhar, pois sua visão vai de encontro ao desafio cristão no processo de comunicação nas redes sociais.

O Doutorado, enfatiza ainda que esta relação entre o ambiente digital e o fenômeno religioso está provocando além de mudanças uma “reviravolta comunicacional” (2017, p.95), trazendo parte desta culpabilidade às inovações sociotecnológicas digitais (p.95), discorre também, sobre a necessidade de uma “reproblematização” da própria noção de religião e de sua relação com os processos midiáticos; traz este conceito a luz sob o olhar de Martino, vejamos:

A midiatização da religião traduz-se não apenas como um momento de alteração das práticas das instituições religiosas, mas também como uma aparente reestruturação, mais ampla, dos significados do que é “sagrado”, “religioso” e da experiência religiosa. (MARTINO, 2012, p.237, grifo nosso)

Interessante ressaltar que, mesmo diante ambas teses, desde o surgimento da Internet até a maneira que atualmente atinge toda uma sociedade, a religião e a espiritualidade se tornaram em desafios, os quais foram capazes de mudar a maneira das pessoas de se relacionarem e comunicarem. Para o sociólogo e teólogo luterano Berger6, a religião passa por uma grave crise das

suas estruturas de plausibilidade; isto é, com o fim da escatologia, da metafísica e o advento da modernidade em toda sua potencialidade, foi tirada da religião a função de sustentar e explicar a realidade. A crise da religião é um dos efeitos claros da secularização e que foi ‘atomizado’ pelos indivíduos através das mídias digitais, "o processo pelo qual setores da sociedade e da cultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos religiosos" (BERGER, 1985, p.118-119, grifos nossos).

Esta ambiência, surge como um campo imensurável de saberes e de possibilidades, sendo que neste novo cenário que emerge, também surge um grande desafio cristão, o qual foi muito bem colocado e observado pelo estudioso Pierre Lévy (2011, p.128), quando menciona que a mídia digital é forte e imensuravelmente capaz de mudar e de promover uma conexão interpessoal sem a existência de precedentes históricos sobre os impactos gerados, sobretudo com o fim da função da religião como ordenadora do cosmos, da paz social e do bem maior, entramos numa situação de pluralismo onde todas as instituições podem explicar e fundamentar a realidade.

A mídia digital do século XXI é caracterizada por uma possibilidade de expressão pública, de interconexão sem fronteiras e de acesso à informação sem precedentes na história humana. (LÉVY, Pierre, 2011, p.128)

Há uma crescente consciência das profundas transformações que a mídia realiza nas relações humanas, demonstradas objetivamente em ambas as teses objetos desta pesquisa. Em ambas, este viés perpassa aspectos meramente conceituais, analisam e pontuam à luz da prática comum e da práxis eclesiástica. Vale-se ressaltar, que em uma constante sociedade em midiatização, o religioso já não pode ser explicado nem entendido sem levar em conta o papel das mídias. Por isso é relevante analisar que religião nasce da mídia, e, por outro lado, perceber o que a religião em uma sociedade em midiatização revela acerca da mídia.

5 Inculturação é o intento de assumir a cultura de um outro grupo social, a fim de comunicar, reviver e assumir o

Evangelho com expressões, linguagens, e em contextos históricos e sociais totalmente diferentes.

6 Peter Ludwig Berger (Viena, Áustria, 17 de março de 1929 – Brookline, Massachusetts, Estados Unidos, 27 de junho

de 2017) foi um sociólogo e teólogo luterano austro-americano, conhecido por sua obra "A Construção Social da Realidade" publicada em co-autoria com Thomas Luckmann. (fonte Wikipédia online – acessado 3-10-2018)

(6)

Fausto Neto (2008, p. 92) sinaliza que “a convergência de fatores sócio-tecnológicos, disseminados na sociedade segundo lógicas de ofertas e de usos sociais produziu, sobretudo nas três últimas décadas, profundas e complexas alterações na constituição societária, nas suas formas de vida, e suas interações”.

Como visto e pesquisado, existe uma crescente preocupação interdisciplinar nas possibilidades dos impactos causados pelos relacionamentos e na mudança do processo comunicacional do século XXI. Um ambiente que está ‘dicotomizado’ (FERREIRA, Rita Campos, 2014) perde em sua essência, e a ciência contribui demonstrando suas bases. Assim, as teorias científicas, psicológicas e pedagógicas ajudam e corroboram no conhecimento de determinados fatos ou condições humanas, e ao mesmo tempo, podem obscurecer parte ou mesmo toda uma realidade de comunidade.

Enfim, na sociedade, os meios de comunicação transformam a identidade individual em massa, passando uma nítida sensação de que todos somos iguais e que existe uma cultura politizada global (FERREIRA, Rita Campos, 2014).

Para Dr. Spadaro, neste processo comunicacional de mão dupla, quando se refere nitidamente ao ambiente da plataforma de rede social Facebook, existe um dualismo exacerbado e que acaba de certa forma atenuando o processo de comunicação chegando a causar má interpretação de mensagens, rupturas e descriminações a partir da própria ideologia ou pensamento. O objetivo a priori de Dr. Spadaro, juntamente com a Igreja Católica Apostólica Romana, é utilizarem-se da rede (entende-se mídias sociais digitais) como uma poderosa ferramenta para a evangelização (2012, p.8), porém em início de estudos, ele demonstra uma certa preocupação quanto a este tipo de ferramenta: “...comecei a explorar um território que me pareceu desde o começo ainda selvagem, pouco freqüentado.” (2012, p.9, grifos nossos).

Existe em suas preocupações além do espírito desbravador e aventureiro frente ao mundo digital, uma necessidade de adentrar corajosamente este mundo, e este pensamento corrobora com as palavras do Santo Papado em 28 de fevereiro de 2011, à assembleia geral do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais:

Não se trata somente de exprimir a mensagem evangélica na linguagem atual, mas é preciso ter a coragem de pensar de maneira mais profunda, como aconteceu em outras épocas, a relação entre a fé, a vida da Igreja e as transformações que o homem está vivendo. (Papa Bento XVI, Ciberteologia, p.9 e 10)

Nasce assim, em meados de 2011, um pensamento acadêmico científico com o fim de trazer luz a um novo modo de pensar a Teologia, a partir da rede e das mídias digitais. Criada por Spadaro com o título conceitual de Ciberteologia, estes estudos que perduram até hoje, fazem parte assim de um “ecossistema” de reflexões que vão ao encontro com ideias e pensamentos que são fortalecidos com o compartilhamento profundo e amplo com outros pesquisadores. (2012, p.13)

Para o Dr. Spadaro, o cristianismo é fundamentalmente um evento comunicativo (2012, p.24), que a tecnologia não é somente, como pensam os mais céticos, uma forma de viver a ilusão do domínio sobre as forças da natureza tendo em vista de uma vida feliz (2012,p.25); sendo neste sentido corroborada fortemente com uma pesquisa saudável e aberta que identifica alguns campos de ação para reflexão, entre estes o da Teologia Pastoral que se dedica à comunicação da mensagem Cristã através do polêmico mundo das mídias digitais. (2012, p.31)

Durante o desenrolar desta pesquisa e estudos, ficou mais cristalino que Dr. Spadaro sofreu uma forte influência do sociólogo Pierre Lévy. Muitos pensamentos e conceitos foram postulados a partir da visão do sociólogo, sobretudo expandidos para a área da Teologia por Spadaro, por serem considerados um tanto quanto antigos (2012, p.155)

A tese do Dr. Spadaro trata de buscar, encontrar os pontos de contato e de interação produtiva entre a rede e o pensamento cristão, representando assim um desafio – o de não em

(7)

saber usar bem a rede ou as mídias digitais, mas em como “viver” bem nos tempos destas mídias, uma práxis efetiva, eficaz e que dialogue com a sociedade.

Neste mesmo sentido os trabalhos do Dr. Sbardelotto, são mais profundos e vão além de reflexões, remetem ao pensamento a priori de que a comunicação e a fé das pessoas partem da lógica de fruição dos conteúdos (SBARDELOTTO, 2017, p.17), os programas televisivos e os meios de comunicação tradicionais são substituídos pelas buscas pessoais e pelos conteúdos sempre acessíveis em rede (2017, p.17), a principal busca irradia-se na preocupação estampada de quais desafios tudo isso coloca à Fé e à sua comunicação.

Dr. Sbardelotto deixa a superficialidade conceitual acadêmica e adentra de modo intenso na postulação de sua teoria reconhecendo que para as religiões em geral, esse é um grande desafio contemporâneo, entender, compreender e dialogar através das mídias digitais sociais.

O ambiente digital emerge como um novo lócus religioso e teológico. Formam-se novas modalidades de percepção, de experiência e de expressão do “sagrado” em novos ambientes comunicacionais. E as práticas sociais no ambiente on-line, a partir de lógicas midiáticas, complexificam hoje o fenômeno religioso. (SBARDELOTTO, 2017, p.24, grifo do autor)

Nota-se que, em ambas as teorias, tanto a apresentada por Dr. Spadaro quanto a do Dr. Sbardelotto, é comum notar a equivalência de conceitos. Um ponto em comum a ser levado em observância é que não somente há um impacto como também as mudanças causadas na práxis cristã e no processo comunicacional a partir das mídias digitais que se estende às redes sociais. Este conceito é reforçado pelo sociólogo HERNES (1978) que comenta sobre estas mudanças e impactos; altera-se o foco, muda-se paradigmas, este novo processo comunicacional altera não somente o seu contexto, como também o campo de atuação, uma mudança tanto interna quanto na maneira e no modo de relacionamentos, que segundo o sociólogo a mídia em qualquer forma é capaz de promover e impactar profundamente toda uma sociedade.

[...] perguntar quais consequências a mídia tem para as instituições e para os indivíduos: as formas como a administração pública, as organizações, os partidos, as escolas e os negócios funcionam e como eles se relacionam entre si. De que maneiras os meios de comunicação redistribuem o poder na sociedade? [...] Em suma, do ponto de vista institucional, a questão-chave é: como a mídia altera tanto o funcionamento interno de outras entidades sociais quanto suas relações mútuas.(HERNES, 1978, p.181).

Conforme anotado e expandido neste tópico em epígrafe, faz-se uma necessidade real, emergente e urgente oferecer um diálogo capaz da compreensão desta comunicação frente às mídias digitais sociais a fim de entender o que as pessoas, mais especificamente, os fiéis cristãos apresentam de dúvidas quanto a questões da sobrevivência, da fé, da sociedade, da ética e da vida como um todo e como estes fiéis estão se expressando frente às plataformas digitais.

Como se dão os relacionamentos virtuais na pós-modernidade?

Nos últimos dez anos, a maneira com que as pessoas se relacionam mudou. A revolução começou nos países mais ricos e logo chegou ao continente asiático e ao americano. Índia e Brasil são alguns dos países com mais usuários em redes sociais e com as taxas mais expressivas do ranking em mídias digitais. Observar que tipos de relações são construídas ou derrubadas nesses espaços virtuais e sociais tem sido uma das tarefas de sociólogos, antropólogos e psicólogos nesta última década.

Com a tecnologia e o acesso à internet disponíveis fica fácil compartilhar conteúdo, dividir e divergir sobre vários assuntos. É nesse campo, do conteúdo, onde as interações virtuais e sociais merecem uma atenção. Os usuários da internet afirmam, algumas vezes, se sentirem em um

(8)

tribunal, onde seus pensamentos, materializados em curtidas e compartilhamentos, podem ser combustível para uma longa e desgastante discussão com direito a platéia mundial.

Sabe-se, outrora, que o homem vive de relacionamentos, tem necessidades sociais de criar laços e é através destes que ele constrói sua identidade, descobre o mundo e vivencia as experiências fora de si. Este pensamento corrobora com a explicação de Malena Contrera (2005, p. 47) ao afirmar que no próprio nascimento o ser humano já cria um laço profundo com sua mãe e pratica ali o primeiro ato de comunicação – chora para indicar a necessidade da qual carece (fome, afeto, proteção). Assim, temos um vislumbre da estrita relação entre a comunicação e os relacionamentos.

Ao dialogar a visão desta pesquisa com outras ciências e outros grandes pensadores, é interessante salientar que apesar desta velocidade do cotidiano e das informações, os relacionamentos não saem do foco do ser humano, é uma de suas preocupações constantes por mais que isso não seja admitido tão facilmente.

Ao realizar esta junção de estudos com outros estudiosos, fica mais que provado, que a era virtual trouxe algumas modificações no modo de enxergar e viver os relacionamentos e não se pode querer omitir este fato consumado, mas nem por isso devem ser vistas ou encaradas como positivas ou negativas.

Não se deve agregar um conceito polarizado sobre este assunto, segundo Leandro Karnal, pois a tecnologia é neutra. Em outras palavras, as mídias digitais sociais não foram criadas para a propagação do mal, causar rupturas ou semear discórdia num ambiente tão hostil. Todas estas tecnologias são totalmente neutras, o problema se encontra na raiz da humanidade, onde a essência dormente aguarda para se revelar, ou para o bem ou para o mal, dependendo assim da natureza do homem e não da ferramenta que ele utiliza para se expressar ou se relacionar. O grande estudioso traz em tela a explicação sobre este pensamento:

A tecnologia é apenas um meio. A forma de utilizá-la é que faz a diferença. Ele cita como exemplo de neutralidade a bomba atômica que foi criada para cavar túneis, mas acabou matando milhares de pessoas. Assim são as redes sociais. É uma maneira revolucionária de se comunicar, mas pode ser usada para o bem ou para o mal. (KARNAL, 2016, O Brado Retumbante nas redes sociais, online 30/10/2018).

Tanto para o Dr. Sbardelotto quanto Dr. Spadaro, o ponto de contato e que serve de elo para esta pesquisa é justamente o reconhecimento de ambos que nós nos encontramos em um período de mudanças nos processos de comunicação e relacionamento, profundamente impactados pelas mídias digitais sociais, e que o cristianismo se trata de um evento comunicativo.

Segundo Dr. Sbardelotto (2017, p.32), trata-se de em um período histórico que os processos de comunicação midiática se tornam generalizados no tecido social, a internet, como ambiente midiático. Corrobora assim o entendimento que “vai-se construindo como um meio de comunicação, de interação e de organização social” (CASTELLS, 2005, p.257)

A intolerância nas redes é resultado direto de desigualdades e preconceitos sociais em geral, não é uma invenção da internet. O que ocorre é que o ambiente em rede facilita que cada um solte seus demônios, ao dar a sensação de um pretenso anonimato. O mundo virtual é, portanto, mais uma forma para que os intolerantes se manifestem e ampliem o seu alcance. Quando o assunto é no campo religioso, o conflito é quase iminente nas mídias digitais sociais.

Em um primeiro instante, sob a ótica observatória, percebe-se que as pessoas geram conflitos por dois principais motivos.

A priori pela falta de entendimento e compreensão da mensagem de cunho religioso publicada, e isto ganha consonância quando falamos em velocidade, em conectividade e ao fato de estarem vinte e quatro horas conectados na rede. Estas pessoas, seja por vício ou por um ledo engano de ganhar tempo, se concentram muito mais nos títulos e nas 3 primeiras linhas do texto e

(9)

por si não buscam entender ou compreender o contexto da mensagem. Baseiam-se apenas pelo título e fazem destas suas próprias razões e entendimentos. Não se dão o trabalho de lerem a mensagem completa, e, quando o fazem, não conseguem manter um diálogo justamente pela falta de discernimento ideológico.

Justo, então, falar que em um primeiro instante os conflitos, e subsequentemente as rupturas são frutos de visões individualistas e do pensamento maléfico que a sociedade passa sobre o plano temporal: tudo aqui, agora e para ontem. Corroborando assim, com a perda de identidade da mensagem religiosa, pois não foi criado um vínculo afetivo, emocional ou até mesmo racional. Dentro deste papel comunicacional, quase que num estilo de monólogo, o emissor também tem sua parcela de culpabilidade, afinal justo também falar que este emissor por muitas vezes não procurou entender o público alvo ou o receptor, gerando assim um desencontro de tentativa de evangelização ou de práxis eclesiástica via rede social. Nitidamente existindo, em muitos casos, uma falta de desvelo e preparo por parte do emissor religioso cristão.

O segundo ponto que se destaca é sobre a questão da recepção e interpretação por parte do receptor – entenda-se leitor – que não demonstra mais nenhum tipo de interesse em mensagens de cunho religioso de forma unilateral e que são baseadas em versículos ou apelos religiosos espirituais. Um claro exemplo deste cenário pode ser mentalizado quando se pensa em uma mensagem tipo: “Jesus, é o caminho e a Salvação!”. A minoria dos leitores compreende o contexto dentro do texto desta mensagem, e por este motivo enseja na robustez de um monólogo e na causa de conflitos, justificando assim que “ele” o leitor, sabe desta mensagem há tempos, mas que esta mensagem em nada lhe ajudará ou contribuirá para que ele passe pela prova ou tribulação daquele momento determinado. O leitor imagina e sente que aquela mensagem não foi preparada unicamente para “ele”, e sim para qualquer pessoa em qualquer outro momento. Chega-se a imaginar e conjecturar que o emissor religioso sequer conhece ou procurou uma resposta para o determinado problema, sendo que, no pensar do receptor, uma mensagem supostamente pluralizada não contribuirá singularmente na resolução do problema daquele determinado indivíduo, que esperava por algo mais “particular” e direcionado. A mensagem cristã de cunho religioso é perdida em vão e sequer capaz de promover ou incitar qualquer tipo de impacto espiritual, emocional ou religioso.

Qual é a proposta cristã frente a esse desafio dos relacionamentos virtuais?

Vivemos num período em que já estamos conectados à internet 24h por dia, e isto é um fato consumado. Até quando dormimos estamos recebendo notificações de mensagens, e-mails ou curtidas. Uma das dúvidas que permeia a pesquisa é descobrir alguns parâmetros que sirvam de elo, de pontos que unam o que seria considerado um relacionamento cristão genuíno, a fim de manter uma comunicação eficiente e que seja capaz, também, de promover mudanças através de impactos, sejam estes emocionais ou espirituais religiosos. Outra questão narrada é viver neste mundo pós-moderno e de constante mutação comunicacional e, agora, também de conceitos. Mantermo-nos conectados a rede mundial e vivenciarmos experiências através das mídias digitais sociais pode ser algo que transcenda a racionalidade, permeando assim não mais um ‘novo cenário’ conforme apontado pelos pesquisadores e estudiosos, mas sim como um desfrute de uma nova ferramenta muito mais ágil, veloz e abrangente. Uma oportunidade imensurável de possibilidades infinitas e ferramentas comunicacionais. Fazemos parte da internet e a internet é parte do nosso corpo, mente e alma, como uma extensão neural do nosso viver.

Mas, será que precisamos estar atualizados o tempo inteiro sobre a vida dos nossos “amigos”? Será que não temos gastado tempo demais com aplicativos que criam laços superficiais

(10)

e esquecendo as pessoas com quem temos laços reais? Até que ponto somos ou nos deixamos influenciar pela pluralidade de ideologias e conceitos religiosos?

A pesquisa incita um estudo mais aprofundado e mais direcionado, com um viés não acadêmico ou sistêmico, sobretudo com um olhar mais real a partir da práxis eclesiástica e do compartilhamento de mensagens religiosas, este ainda é um grande desafio, afinal o apelo, por estar conectado o tempo inteiro, tem nos tornando pessoas divididas, distraídas e desatentas, sem mencionar que os conceitos cada vez mais se distanciam da ética e de uma saudável conduta cristã: que é o desvelo com o próximo.

Além de surgirem como uma ferramenta de comunicação e aproximação, as mídias digitais sociais têm uma característica que faz parte da sua base: o compartilhamento de opiniões, gostos, notícias, momentos etc. Essa é uma das funções das redes sociais e sem isso seriam apenas aplicativos de troca de mensagens. Então, o problema não é compartilhar coisas na internet, mas sim o que e para quem você as compartilha e de que maneira isto é feito.

Primeiro de tudo, existe uma banalização do termo “amigo”. De fato, com amigos gostamos de compartilhar a vida, porém é preciso refletir de que a cada mil “amigos” que adicionam outro perfil no Facebook, quantos destes são verdadeiramente amigos. De uma certa forma, as redes sociais trazem também uma falsa sensação de popularidade. Percebe-se o número de “amigos” aumentando, entre uma e outra foto postada, recebe-se uma recompensa por compartilhar aquilo (uma curtida ou retuíte) e enchem-se de vaidade por terem sido notados, curtidos, retuitados. O desejo de ser notado vai aumentando e vai se compartilhando cada vez mais a vida, buscando mais popularidade, e isso vai virando uma bola de neve. As pessoas se esquecem das verdades e aceitam viver num mundo fantasioso, cheio de idolatrias e de falsidades, afinal nota-se em estudos e pesquisas realizados ao longo dos tempos que muitas das postagens são falsas e não retratam a vida ‘verdadeira’ que vivenciam fora das redes sociais: posta-se fotos ao lado de carros importados e caríssimos, mas possuem um calhambeque todo desbeiçado, e assim com as demais áreas da vida. Cria-se um mundo fantasioso em busca das realizações pessoais, ressaltando-se o egocentrismo e a vaidade.

E este conceito ideológico não temporal se aflora com o mundo presencial, um vai entrando e pertencendo ao outro e vice-versa. O que era então ‘permitido’ ou praticado somente no mundo virtual, acontece agora no modo de vida das pessoas: omitem, mentem, falham, transgridem, ofendem, machucam, ignoram sentimentos alheios, brincam de deuses, amam beldades etc. E em contrapartida, o que era então praticado com mais frequência fora do mundo digital, agora é feito de modo eloquente por todas as mídias digitais sociais: propagação de falsos testemunhos, fofocas, desvirtuar mensagens, desejo de ser comumente o centro das atenções e buscar o foco para si mesmos, enfim, o cenário perfeito para um campo infindável de batalhas, preceitos e conceitos ideológicos ou não.

As redes sociais tornaram-se em pouco tempo um campo hostil e agressivo, a maioria dos seus usuários estão ali potencializando o mal que já existia em suas essências, encontrando no uso da ferramenta chamada ‘rede social’ um meio explosivo de sair e agir na contramão do que é considerado ético cristão.

Nesta pesquisa utilizou-se de duas teses, muito bem elaboradas e embasadas tanto conceitual quanto teoricamente, enquanto uma postula a urgência e a real necessidade de se criar uma Teologia disciplinar acadêmica a fim de entender e compreender a comunicação religiosa nas mídias e através das redes sociais. Por outro lado, a outra tese, defende que para se ter uma comunicação eficiente e eficaz de cunho religioso é preciso apenas que a faça como testemunho de vida e de uma forma sincera e simples. Esta pesquisa reflete sobre duas vertentes, que mesmo separadas parecem caminharem lado a lado.

(11)

As pessoas só nos dão as oportunidades de mostrarmos e revelarmos o que possuímos em nossos corações. Por sua vez, as redes digitais sociais acabam potencializando este sentimento e permitindo um tipo de relacionamento mais fervoroso.

A proposta frente a este desafio é justamente permitir que a comunicação e relacionamento através das mídias digitais sociais, seja pela práxis eclesiástica ou pela comunicação das pessoas, aconteçam de modo tranquilo e que não permita quebras de rupturas, conflitos ou que se distorça o conteúdo do contexto ali publicado. Ambas as teses, problemáticas desta pesquisa, passeiam pelos saberes de seus postulandos, consumando no ensejo de um indicativo operante deste processo comunicacional. Enquanto uma defende a necessidade de uma nova disciplina que corrobora desde a comunicação em si e o estudo deste processo de modo sistemático, a outra defende de maneira incisiva que, para se manter um relacionamento onde existam mensagens religiosas, confessionais ou de fé, que estas sejam feitas por meio de testemunho de vida.

Através desta pesquisa, buscou-se extrair o melhor de ambas, não de maneira exaustiva, mas no sentido de retirar o que existe de mais eficaz de ambas as teses, oferecendo um caminho para que se derrubem estes paradigmas quando se fala em rede digital social e religião.

O surgimento das Redes Sociais é um fenômeno relativamente recente e que se expande muito rapidamente. Muitos profissionais, das mais diversas áreas, têm dedicado algum tempo para pensar o impacto das redes sociais nas vidas das pessoas.

A influência das redes sociais na vida das pessoas é um fato incontestável, não somente para as questões sociais como também as de cunho religioso espiritual. Observa-se que, em quase todas as coisas, pode-se observar o lado positivo e negativo, sobretudo o lado negativo tem se sobressaído. Antes o grande foco era o entretenimento, chats e bate papos, piadas, comédias, fotos, recados, encontros, jogos etc. Essas características se mantêm, mas outros recursos estão sendo agregados. Pode-se dizer que de alguma forma as redes sociais estão “amadurecendo”.

A sociedade atual tende a relativizar atos de maldade, geralmente atribuindo a algum fator externo que possivelmente justificaria a atitude. Entretanto, esquece-se que o ser humano é guiado por instintos. Instintos estes que o auxiliaram a ser a espécie dominante do planeta. Neste contexto surge a razão para frear as ações puramente instintivas do homem, o que de certa maneira o tornaria um ser primitivo na atual sociedade. Entretanto alguns indivíduos parecem ser guiados exclusivamente por seus instintos, o que geralmente acarreta em algum mal para a sociedade.

Desta forma, a sociedade, as mídias digitais sociais e a Práxis Eclesiástica devem agir juntas para a criação de um indivíduo digno, correto e bondoso, não somente em sua vivência, mas principalmente, sendo congruente em relação da sua vida e experiência de vida, a fim de atingir o alvo que é o de Evangelizar.

A ferramenta tecnológica chamada Rede Social, existe, faz parte das pessoas e foi criada para a prática de uma vida mais rápida, mais veloz e que contivesse em seu cerne os pontos positivos que uma sociedade almeja, sobretudo não foi levado em consideração os instintos humanos, que pela natureza pecaminosa deixam sobressair o lado negativo para a criação e o viver deste cenário tecnológico, em todas as pontas.

Diante as duas teses, percebe-se que existe sobretudo um ponto em comum que é a preocupação em relação a mensagem religiosa e o receptor (leitor) a fim de que esta mensagem atinja seu objetivo que é o de evangelizar, levar esperança e trazer a boa nova. Percebe-se que o desafio cristão não é o de estar ou não inserido num mundo pós-moderno e virtual, mas sim é o de relacionar-se de maneira congruente com a experiência e o credo vivenciando, é levar o amor ao próximo e evitar que o lado da natureza humana se sobressaia na comunicação, pois este se sobressai na maioria das vezes através de palavras duras e que causam rupturas e conflitos.

(12)

Conclusões

Pela observação dos aspectos analisados de ambas teorias e pela comunicação e relacionamentos que são praticados nas mídias digitais sociais, tanto Dr. Spadaro quanto o Dr. Sbardelotto possuem aspectos e pontos relevantes, cada qual devem servir como ponto de partida para uma práxis eclesiástica eficaz e um relacionamento cristão eficiente. A pesquisa entende que se faz necessário um conhecimento sobre os meios de comunicação e também a utilização das ferramentas digitais: como ser utilizada, seus meios e para que servem cada uma delas – Facebook, WhatsApp, Youtube, Instagram, etc. Este conhecimento teórico facilitará a utilização da ferramenta que melhor lhe convier para cada caso específico a ser buscado como objetivo pelo emissor, em outras palavras, o emissor, por exemplo o líder religioso, deseja anunciar um evento de comunhão ou um culto especial, para isto ele utilizará o Facebook e o Instagram como meios de propagação, pois são os meios digitais que mais resultados proporcionam. A Ciberteologia não se trata de uma ‘nova Teologia’, mas um estudo sistêmico que possa proporcionar saber sobre como usar os meios digitais para levar a práxis eclesiástica e promover a evangelização.

Sobretudo, entende que esta comunicação e este relacionamento cristão não sejam permeados por meios “mecânicos ou sistêmicos pré-concebidos”, para isto a teoria do Dr. Sbardelotto é mais eficaz e com muito maior eficiência, pois trata cada assunto, cada mensagem em forma de testemunho de vida, ofertando ao leitor a possibilidade de um impacto e de uma aproximação bem maior quando comparada com mensagens em forma de marketing ou preparadas apenas com vistas humanas.

Quanto às mídias digitais sociais, estas não foram criadas ou concebidas para a propagação da maldade ou com objetivo prioritário de conflitos. Este mal e a maldade pertencem exclusivamente à natureza humana e estão enraizadas nas profundidades de seu coração. O que acontece é que as mídias digitais sociais possibilitam, com muita velocidade e facilidade, a criarem “bolhas” de relacionamentos onde estas ferramentas potencializam cada ação, sobretudo é o próprio homem que “atomiza” de maneira exponencial a maldade intrínseca sem seu coração, causando assim rupturas, conflitos e um relacionamento sem nenhum tipo de profundidade cristã. Na Bíblia Sagrada, no livro de Mateus capítulo 15 versículo 19 temos: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmia.”

Em síntese, é necessária então uma comunicação eficiente, eficaz e impactante promovedora da paz, do amor e da sabedoria, uma comunicação triuna. O relacionamento através das mídias digitais sociais precisa não ser mais considerado um desafio cristão, desde que se o faça através de um conceito triuno, onde Deus é a própria sabedoria, e esta sabedoria pode ser absorvida através da tese do Dr. Spadaro (A Ciberteologia), também deve ser mantida através da cosmovisão do genuíno cristianismo (na perspectiva de Jesus), seguindo os ensinamentos bíblicos de como Jesus agiu diante aos obstáculos e dificuldades daquela época e por final deve seguir através de um Testemunho de vida (ao qual o Espírito Santo age poderosamente), conforme demonstrado e postulado sabiamente pelo Dr. Sbardelotto, fechando assim uma comunicação eficiente, eficaz e impactante.

Referências

BERGER, P. L. O Dossel Sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulus, 1985.

CASTELLS, Manuel. Internet e Sociedade. IN: MORAES, D. Por uma outra comunicação: mídia, mundialização, cultura e poder. Rio de Janeiro: Record, 2005. 268 p.

(13)

CONTRERA, M. Incomunicação e amor. In: BAITELLO JUNIOR, N., CONTRERA, M., MENEZES, J. Os meios da incomunicação. São Paulo: Annablume; CISC, 2005.

FAUSTO NETO, Antonio. Fragmentos de uma «analítica» da midiatização. Revista Matrizes, n. 2, abril, 2008.

FERREIRA, Rita Campos (Ed.) Psicologia Social e Comunitária - fundamentos, intervenções e transformações. 1ª edição, São Paulo: Saraiva, 2014. 120 p.

HERNES, Gudmund. Det mediavridde samfunn [The media-twisted society]. In: HERNES, Gudmund.(ed.).Forhandlingsekonomi og blandningsadministrasjon Bergen: Universitetsforlaget. 1978.

KARNAL, Leandro, [online], O Brado Retumbante nas redes sociais, Revista da Pós, disponível em https://www.up.edu.br/blogs/pos-graduacao/o-brado-retumbante-nas-redes-sociais/, acessado em 3-10-2018

LEVY, Pierre (Ed.). O que é o Virtual? 1ª edição, São Paulo: Editora 34, 1996. 160 p.

MARTINO, Luis Mauro Sá. Mediação da religião em suas articulações teóricas e práticas: um levantamento de hipóteses e problemáticas. In: MATTOS, M.A.;JANOTTI JUNIOR, J.; JACKS, N(org.). Mediação e midiatização. Salvador: EDUFBA, 2012. p.219-244.

SBARDELOTTO, Moisés (Ed.) E o verbo se fez bit - uma análise religiosa na internet. Caderno Unisinos, 2011. 58 p.

SBARDELOTTO, Moisés (Ed.) E o verbo se fez rede: religiosidades em reconstrução no ambiente digital,. São Paulo: Paulinas, 2017. 400 p.

SPADARO, Antonio (Ed.) Ciberteologia - pensar o cristianismo nos tempos de rede. 1ª edição, São Paulo: Paulinas, 2014. 184 p.

Referências

Documentos relacionados

Sem desconsiderar as dificuldades próprias do nosso alunado – muitas vezes geradas sim por um sistema de ensino ainda deficitário – e a necessidade de trabalho com aspectos textuais

Pensar a questão ética que perpassa o tratamento da obesidade, colocando em pauta os modos como isso circula no senso comum e na ciência, favorece abordar a obesidade não

Ciência é Cultura 2009, Teatro Gonzaguinha, Centro de Artes Calouste Gulbenkian; Apresentação na Conferência Municipal de Saúde (Teatro Mario Lago, no Colégio Pedro II em

A insinuação dirigida por Satanás a Eva: “foi assim que Deus disse?”, com a intenção real de dizer: “não é possível que ele tenha dito isto ou para ser entendido

A implementação da pesquisa como prática de formação é difícil, mais pela concepção restrita dada à pesquisa pelas “comunidades científicas” do que pela

Os motins na América Portuguesa tanto quanto na Espanhola derivam do colapso das formas acomodativas - como será melhor explicado à frente -, ou melhor dizendo, do rompimento

Deus não vai perguntar quantas pessoas você atraiu para a igreja.... mas vai perguntar como você influenciou o Mundo à

Acaso não seja possível o pagamento de todos os credores titulares de créditos entre R$ 5.000,01 (cinco mil e um centavo) até R$ 7.500,00, em razão de o valor adquirido com