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Coexistência microscópica de antiferromagnetismo e supercondutividade não-convencional

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Academic year: 2021

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Instituto de F´

ısica Gleb Wataghin

Dalson Eloy Almeida

Coexistˆ

encia microsc´

opica de

antiferromagnetismo e supercondutividade

ao-convencional

(2)

Coexistˆ

encia microsc´

opica de

antiferromagnetismo e supercondutividade

ao-convencional

Tese apresentada ao Programa de P´ os-gradua¸c˜ao em F´ısica da Universidade Esta-dual de Campinas como requisito para ob-ten¸c˜ao do t´ıtulo de Doutor em Ciˆencia.

Orientador: Eduardo Miranda

Este exemplar corresponde `a vers˜ao final da tese defendida pelo aluno Dalson Eloy Al-meida, e orientada pelo Prof. Dr. Eduardo Miranda.

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Física Gleb Wataghin Lucimeire de Oliveira Silva da Rocha - CRB 8/9174

Almeida, Dalson Eloy,

AL64c AlmCoexistência microscópica de antiferromagnetismo e supercondutividade não-convencional / Dalson Eloy Almeida. – Campinas, SP : [s.n.], 2017.

AlmOrientador: Eduardo Miranda.

AlmTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Física Gleb Wataghin.

Alm1. Supercondutores à base de ferro. 2. Antiferromagnetismo. 3. Supercondutividade não-convencional. 4. Ginzburg-Landau, Teoria de. 5. Transições de fase clássicas. I. Miranda, Eduardo,1963-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Física Gleb Wataghin. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Microscopic coexistence of antiferromagnetism and

unconventional superconductivity Palavras-chave em inglês: Iron-based superconductors Antiferromagnetism Unconventional superconductivity Ginzburg-Landau theory

Classical phase transitions

Área de concentração: Física Titulação: Doutor em Ciências Banca examinadora:

Eduardo Miranda [Orientador] Ricardo Luís Doretto

Iakov Veniaminovitch Kopelevitch Mucio Amado Continentino

Miguel Angelo Cavalheiro Gusmão

Data de defesa: 20-02-2017

Programa de Pós-Graduação: Física

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de Dalson Eloy Almeida - RA: 115266 apresentada e

aprovada ao Instituto de F´ısica “Gleb Wataghin”, da

Universidade Estadual de Campinas, em 20/02/2017.

Comiss˜

ao Julgadora:

- Prof. Dr. Eduardo Miranda – (Orientador) – DFMC/IFGW/UNICAMP - Prof. Dr. Iakov Veniaminovitch Kopelevitch – DFA/IFGW/UNICAMP

- Prof. Dr. Ricardo Luis Doretto – DFMC/IFGW/UNICAMP - Prof. Dr. Mucio Amado Continentino – CBPF

- Prof. Dr. Miguel Angelo Cavalheiro Gusm˜ao – Instituto de F´ısica/UFRGS

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comiss˜ao Examinadora, consta no processo de vida acadˆemica do aluno.

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Nesta tese estudamos a rela¸c˜ao entre antiferromagnetismo e supercondutividade em pnict´ıdeos `a base de ferro. Este estudo ser´a feito atrav´es da an´alise de uma energia livre de Ginzburg-Landau de parˆametros de ordem acoplados que ser´a derivada de um modelo microsc´opico. Em particu-lar, estamos interessados em saber se a transi¸c˜ao entre os estados ordenados ´e de primeira ordem ou se as duas ordens podem coexistir. Para o caso de supercondutividade convencional as duas fases puras nunca coexistem. Entretanto, quando a supercondutividade ´e n˜ao-convencional e a condi¸c˜ao de nesting perfeito n˜ao ´e satisfeita, pode haver um regime intermedi´ario de coexistˆ en-cia microsc´opica das duas ordens. Nesta nova fase termodinˆamica, as simetrias de rota¸c˜ao no espa¸co de spins, de revers˜ao temporal e U (1) s˜ao quebradas simultˆanea e localmente. Logo, os canais de supercondutividade singleto e tripleto se misturam quanticamente. Em outras pala-vras, uma componente tripleto secund´aria do estado supercondutor ´e gerada. Os diagramas de fases do sistema s˜ao apresentados e analisamos tamb´em como flutua¸c˜oes magn´eticas, acima da temperatura de N´eel pura, afetam a temperatura de transi¸c˜ao tripleto. Investigamos tamb´em o efeito da magnetiza¸c˜ao alternada no efeito Josephson, i.e., na supercorrente que flui atrav´es de uma jun¸c˜ao entre dois supercondutores na fase de coexistˆencia. Por fim, mas n˜ao menos importante, estudamos o efeito de proximidade em uma interface entre um supercondutor e um antiferromagneto. Veremos que os pares de Cooper podem penetrar a regi˜ao magn´etica e em consequˆencia, uma componente tripleto ´e induzida pr´oximo da interface.

Palavras-chave: Pnict´ıdeos de ferro, Supercondutividade n˜ao-convencional, Antiferromagne-tismo, Transi¸c˜oes de fase cl´assica, Ginzburg-Landau.

(6)

In this thesis, we study the interplay between antiferromagnetism and superconductivity in iron pnictides. This study will be done analyzing a free energy of coupled order parameters which will be derived from a microscopic model. In particular, we are interested if the phase transition between the ordered states is first order or if the two orders can coexist. For the case of conventional superconductivity, the two phases cannot coexist. However, when super-conductivity is unconventional and the perfect nesting condition is not satisfied, there can exist an intermediary state of microscopic coexistence of the two orders. In this new thermodynamic phase, spin rotation, time reversal and U (1) symmetries are simultaneously and locally bro-ken. Therefore, the singlet and triplet superconductivity channels are quantum mechanically mixed. In other words, a secondary triplet component is generated. The phase diagrams of the system are presented and we also analyze the effect of magnetic fluctuations above the pure N´eel temperature on the triplet temperature transition. We also investigate the effects of the staggered magnetization on the Josephson effect, i.e., on the supercurrent that flows through a junction of two superconductors in the coexistence phase. Last, but not least, we study the proximity effect at an interface between a superconductor and an antiferromagnet. We will see that the Cooper pairs can penetrate the magnetic region and consequently a triplet component is induced near the interface.

Key-words: Iron Pnictides, Unconventional supercondutivity, Antiferromagnetism, Classical phase transitions, Ginzburg-Landau.

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O trabalho apresentado nesta tese foi executado sob a supervis˜ao do meu orientador Eduardo Miranda, cujos est´ımulos, discuss˜oes, cr´ıticas e revis˜ao deste manuscrito s˜ao reconhecidos com profunda gratid˜ao. Obrigado por sempre dispor do seu tempo para me ajudar.

Agrade¸co tamb´em ao professor Rafael M. Fernandes, que me recebeu na University of Min-nesota (EUA). Suas boas ideias foram essenciais para os resultados e discuss˜oes obtidos nesta tese.

Tamb´em n˜ao posso deixar de agradecer `as agˆencias CNPq (Processo: 140834/2013-3) e CAPES (Processo: BEX 2342/15-4) pelos amparos financeiros.

(8)

Introdu¸c˜ao 9 1 Competi¸c˜ao entre antiferromagnetismo e supercondutividade 14 1.1 Modelo microsc´opico . . . 17 1.2 Diagramas de fases . . . 25 2 Coexistˆencia de antiferromagnetismo e supercondutividade: inclus˜ao de

uma componente tripleto 35

2.1 Expans˜ao de Ginzburg Landau e diagrama de fases . . . 38 2.2 Al´em da an´alise de campo m´edio: renormaliza¸c˜ao do diagrama de fases por

flutua¸c˜oes magn´eticas . . . 45 3 Heteroestruturas supercondutoras 50 3.1 Efeito Josephson . . . 53 3.2 Efeito de proximidade . . . 57

Conclus˜oes 64

Referˆencias Bibliogr´aficas 66

A Deriva¸c˜ao alternativa da teoria de campo m´edio: fun¸c˜oes de Green 72 A.1 Caso sem tripleto . . . 72 A.2 Caso com tripleto . . . 74

B Coeficientes de GL 76

B.1 Soma sobre as frequˆencias ωn . . . 77

B.2 Soma sobre os momentos . . . 79 B.3 Termos de rigidez . . . 81 C Minimiza¸c˜ao do funcional de Landau para a energia livre 84 D Solu¸c˜ao assint´otica para as interfaces 86

(9)

Introdu¸

ao

Um importante problema em f´ısica da mat´eria condensada ´e a origem microsc´opica da super-condutividade n˜ao-convencional. Um grande esfor¸co te´orico na tentativa de se entender este fenˆomeno tem sido feito recentemente. Em um supercondutor (SC) convencional, a intera¸c˜ao efetiva entre os el´etrons via vibra¸c˜oes da rede cristalina (fˆonons) ´e atrativa e tal intera¸c˜ao obriga os el´etrons a se ligarem em pares [1]. Acredita-se que o mecanismo baseado em fˆonons n˜ao seja capaz de explicar a supercondutividade n˜ao-convencional. Em geral, as teorias propostas para explicar a supercondutividade n˜ao-convencional s˜ao baseadas na presen¸ca de uma intera¸c˜ao pu-ramente repulsiva entre os el´etrons [2–4]. Exemplos de supercondutores n˜ao-convencionais s˜ao f´ermions pesados, cupratos, supercondutores orgˆanicos e pnict´ıdeos de ferro. A fase SC n˜ ao-convencional em diversos materiais ´e pr´oxima a uma instabilidade antiferromagn´etica (AFM). Al´em disso, para diversos compostos as duas fases se encontram e `as vezes at´e coexistem no diagrama de fases [5–9]. Por exemplo, medidas experimentais em Ba(Fe1=xCox)2As2 indicam

que as fases AFM e SC coexistem neste composto para certos valores de dopagem [10–12], conforme mostrado no diagramas de fases [13] apresentado no painel `a esquerda na Figura 0.1. No painel `a direita, desta mesma figura, mostramos tamb´em o diagrama de fases do f´ermion pesado CeRh1=xIrxIn5.

A transi¸c˜ao SC quebra a simetria de “gauge” U (1). J´a a transi¸c˜ao AFM quebra a simetria SO(3) de rota¸c˜ao no espa¸co de spins e a revers˜ao temporal. Assim, na regi˜ao em que supercon-dutividade e antiferromagnetismo coexistem microscopicamente, ambas simetrias U (1) e SO(3) s˜ao simultaneamente quebradas e, portanto, temos uma nova fase termodinˆamica no material. A possibilidade de coexistˆencia microsc´opica dos dois estados, AFM e SC, ´e na verdade um resultado um tanto inesperado, pois os dois estados ordenados competem entre si pelos mesmos estados eletrˆonicos. Logo, a coexistˆencia microsc´opica ´e muito mais interessante e ex´otica do que uma coexistˆencia macrosc´opica. No caso de coexistˆencia macrosc´opica partes da amostra se encontram no estado magneticamente ordenado e diferentes por¸c˜oes dela est˜ao no estado SC. Portanto, as simetrias U (1) e SO(3) n˜ao s˜ao quebradas localmente ao mesmo tempo. A quebra da simetria de rota¸c˜ao no espa¸co de spins implica que os pares de Cooper s˜ao uma combina¸c˜ao de estados de spin singleto e tripleto, ou seja, uma componente SC tripleto secund´aria ser´a gerada espontaneamente na fase de coexistˆencia. Por exemplo, no caso de apenas duas part´ıculas, se

(10)

Figura 0.1: Diagramas de fases do pnict´ıdeo de ferro BaFe2As2 (esquerda) e do SC de f´ermions

pesados CeRhIn5 (direita), evidenciando a regi˜ao em que o sistema apresenta tanto ordem AFM

como ordem SC (em verde). Adaptadas das Refs. [13] e [14], respectivamente.

com a quebra de simetria SO(3) o estado do sistema ´e | ↑↓i, podemos escrever tal estado como a seguinte combina¸c˜ao linear dos estados singleto e tripleto: | ↑↓i = √1

2 |↑↓i−|↓↑i √ 2 + |↑↓i+|↓↑i 2  . E mais, tal componente s´o ser´a gerada na fase de coexistˆencia microsc´opica. No estado SC puro apenas a componente singleto estar´a presente.

O estado de coexistˆencia de antiferromagnetismo e supercondutividade (AFM+SC) foi ve-rificado experimentalmente em diversos tipos de compostos [8, 9, 15–18], portanto, ´e de grande interesse entender as propriedades microsc´opicas e macrosc´opicas desse estado n˜ao usual da mat´eria. Diversos trabalhos te´oricos tˆem abordado esse problema provendo bastante informa-¸c˜ao sobre o estado AFM+SC [3, 13, 19–25]. Conforme mostrado na Ref. [19], o fato de que o parˆametro de ordem AFM (M ) e o parˆametro de ordem SC singleto (∆s) s˜ao simultaneamente

n˜ao nulos implica que uma componente do tipo tripleto do estado SC ´e gerada, ∆t ∝ ∆sM . ´E

claro que esta componente tripleto s´o pode existir no caso de coexistˆencia microsc´opica, con-sequentemente, a detec¸c˜ao desta componente provaria, de forma n˜ao amb´ıgua, a existˆencia da fase AFM+SC. Microscopicamente, a componente tripleto emparelha el´etrons com momento −k e k + Q, sendo Q o vetor de ordenamento magn´etico, i.e.,

∆t ∝ X k  ˆd · σiσy† ss0hck+Q,sc−k,s 0i. (1)

Aqui, ck,s ´e operador fermiˆonico associado com um el´etron com momento k e spin s, σj s˜ao as

matrizes de Pauli e ˆd ´e o chamado vetor-d que caracteriza as trˆes componentes dos pares de Cooper no estado tripleto [26].

Diferentes aspectos do impacto da componente tripleto na fase de coexistˆencia AFM+SC foram analisados nas Refs. [19, 27–30]. Na maioria dos casos, as an´alises foram focadas no

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estado ordenado, no qual, o vetor-d ´e fixado paralelo `a dire¸c˜ao da magnetiza¸c˜ao alternada ˆ

M . No nosso trabalho, investigaremos o acoplamento entre o vetor-d e M . Discutiremos um modelo de duas bandas vastamente usado no estudo da rela¸c˜ao entre supercondutividade e antiferromagnetismo em SC `a base de ferro. Conforme mostrado nas Refs. [23, 24], o diagrama de fases desse modelo pode apresentar um ponto tetra-cr´ıtico e, consequentemente, uma fase de coexistˆencia AFM+SC. Pr´oximo do ponto tetra-cr´ıtico, usaremos um modelo microsc´opico para derivar a energia livre de Ginzburg-Landau (GL) na fase desordenada e mostrar que o vetor-d se acopla linearmente com M . No estado ordenado estes dois vetores s˜ao paralelos, conforme assumido em trabalhos anteriores. Esse fato leva ao aparecimento de um modo coletivo correspondente `as oscila¸c˜oes do ˆangulo entre o parˆametro de ordem AFM e o vetor-d da componente tripleto do estado SC. Encontramos que, em geral, este modo coletivo possui uma energia finita, que ´e compar´avel, mas ´e maior do que a energia associada com o modo do tipo Leggett [31] associado com oscila¸c˜oes da fase relativa entre os parˆametros de ordem SCs singleto e tripleto.

Uma aplica¸c˜ao interessante de sistemas SCs ´e uma jun¸c˜ao de dois SCs. ´E sabido que uma corrente persistente fluir´a na jun¸c˜ao desses SCs se houver um gradiente de fase SC entre as duas partes do sistema. Essa supercorrente, que ´e transportada pelos pares de Cooper e existe na ausˆencia de um potencial externo, foi predita em 1962 por Josephson, e ´e hoje em dia conhecida como corrente Josephson [32].

Um problema proeminente ´e o que acontece numa heteroestrutura formada por um SC e um material n˜ao SC. Uma interface entre dois materiais pode dar origem a fenˆomenos origi-nais e singulares que n˜ao est˜ao presentes nos materiais constituintes quando isolados. Para a heteroestrutura citada acima, espera-se, pelo chamado efeito de proximidade, que pares de Cooper na fronteira da interface possam penetrar no material n˜ao SC, o que implica na indu¸c˜ao de supercondutividade nessa regi˜ao. Consequentemente, nas proximidades da interface haver´a uma atenua¸c˜ao da supercondutividade no lado SC dessa heteroestrutura. O mecanismo de transmiss˜ao de pares de Cooper atrav´es de uma interface entre um metal normal e um SC ´e chamado reflex˜ao de Andreev, e foi descoberto por Andreev em 1964 [33] e por de Gennes e Saint-Jaimes em 1963/64 [34, 35] (veja a Ref. [36] para uma revis˜ao).

Interfaces entre materiais magn´eticos e SCs tamb´em tˆem sido amplamente estudadas recen-temente [37–44]. Al´em disso, h´a diversos trabalhos experimentais explorando estas heteroestru-turas, veja, por exemplo, as Refs. [45–48]. A Figura 0.2 apresenta um resumo esquem´atico dos principais resultados conhecidos para essas estruturas. Em particular, na interface metal/SC, temos o efeito de proximidade discutido no par´agrafo anterior, onde apenas a componente singleto ´e afetada, sendo suprimida `a medida que penetra na regi˜ao n˜ao SC. Por outro lado, na interface ferromagneto/SC (com polariza¸c˜ao de spin fraca), a penetra¸c˜ao de supercondu-tividade na regi˜ao magn´etica gera uma componente tripleto secund´aria. Em geral, ambas as

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Figura 0.2: Comportamento t´ıpico de uma interface entre um SC (esquerda) e um ferromagneto (direita). Em verde/vermelho temos a componente singleto e tripleto do estado SC. Figura adaptada da Ref. [44].

componentes tripleto e singleto do estado SC adquirem fortes oscila¸c˜oes que permitem as suas sobrevivˆencias at´e mesmo longe da interface. Isso ocorre apesar da componente tripleto n˜ao estar presente na fase SC, pois n˜ao h´a magnetismo nessa regi˜ao, e, portanto, o tripleto n˜ao ´e gerado. No caso de uma estrutura com um ferromagneto com polariza¸c˜ao de spin forte, al´em da penetra¸c˜ao de supercondutividade no ferromagneto, h´a tamb´em penetra¸c˜ao de ferromag-netismo na regi˜ao SC. Ou seja, ambas simetrias SO(3) e U (1) s˜ao simultˆanea e localmente quebradas tamb´em na regi˜ao SC e, portanto, a componente tripleto naturalmente surge neste lado da interface. Por fim, se o ferromagneto tem uma polariza¸c˜ao de spin muito forte a SC n˜ao consegue penetrar o lado magn´etico, entretanto, h´a uma grande penetra¸c˜ao de magnetismo na amostra SC, o que gera supercondutividade tripleto e atenua a supercondutividade singleto no lado SC.

Um outro poss´ıvel arranjo de interface ´e a jun¸c˜ao de um supercondutor e um antiferromag-neto. Em 1999, Kuboki [49] estudou o efeito de proximidade entre um supercondutor do tipo onda-d e um antiferromagneto atrav´es do formalismo de Bogoliubov-de Gennes [50]. O resul-tado que ele encontrou foi que a magnetiza¸c˜ao alternada penetra o lado SC induzindo assim supercondutividade do tipo onda-p pr´oximo `a interface. Trˆes anos depois, em 2002, Andersen e Hedeg˚ard [51] analisaram o aparecimento de estados ligados de Andreev nesta mesma interface. At´e onde sabemos, esta interface n˜ao foi posteriormente explorada. Por fim, um outro arranjo interessante, nunca estudado, ´e uma interface entre um SC no qual a componente tripleto j´a esteja presente, i.e., um SC no estado de coexistˆencia com antiferromagnetismo, e um material AFM.

Esta tese est´a organizada da seguinte maneira: No pr´oximo cap´ıtulo estudaremos um modelo de duas bandas que cont´em os ingredientes b´asicos para o aparecimento de supercondutividade e antiferromagnetismo. Este modelo j´a foi discutido por diversos autores [23, 24] e tem sido

(13)

utilizado para descrever os pnict´ıdeos de ferro. No cap´ıtulo seguinte (Cap. 2) discutiremos a componente tripleto secund´aria que ´e induzida na fase de coexistˆencia microsc´opica e tamb´em iremos al´em da aproxima¸c˜ao de campo m´edio e investigaremos o impacto de flutua¸c˜oes magn´ e-ticas no diagrama de fases. Por fim, o Cap´ıtulo 3 ser´a dedicado ao estudo de jun¸c˜oes. Primeiro estudaremos a corrente SC que pode aparecer entre dois eletrodos SC colocados em contato, o chamado efeito Josephson. A ´ultima parte do cap´ıtulo ser´a devotada ao efeito de proximidade que surge em uma interface entre um SC e um material n˜ao SC. Quatro apˆendices contendo detalhes t´ecnicos das deriva¸c˜oes discutidas no texto principal s˜ao apresentados.

(14)

Cap´ıtulo 1

Competi¸

ao entre antiferromagnetismo

e supercondutividade

Independentemente de detalhes microsc´opicos, a competi¸c˜ao entre supercondutividade e anti-ferromagnetismo pr´oxima das temperaturas de transi¸c˜ao pode ser descrita em termos de uma teoria de GL de parˆametros acoplados. A parte homogˆenea da densidade de energia livre ´e dada por f = as 2|∆s| 2+us 4|∆s| 4+ am 2 M 2+um 4 M 4+ γms 2 M 2|∆ s|2 (1.1)

sendo ∆s e M os parˆametros de ordem SC e AFM, respectivamente. M = (Mx, My, Mz)T

´e um vetor com trˆes componentes e ∆s ´e um parˆametro de ordem complexo, ou seja, ∆s

´e caracterizado por uma amplitude e uma fase. Aqui, ignoramos uma constante f0, que ´e a

densidade de energia livre do estado normal, que n˜ao influencia o que discutiremos a seguir. Para que os estados ordenados compitam entre si o termo dominante que acopla os dois parˆametros de ordem, γms, deve ser positivo. Al´em disso, por hip´otese, us e um s˜ao ambos positivos,

ou seja, as transi¸c˜oes s˜ao de segunda ordem quando n˜ao h´a competi¸c˜ao entre os parˆametros de ordem, i.e., quando γms = 0. Se os termos qu´articos us e um forem negativos, deve-se

expandir a energia livre at´e, no m´ınimo, a sexta ordem, neste caso, se o termo sˆextico for positivo, tem-se uma transi¸c˜ao de fase de primeira ordem. O coeficiente do termo quadr´atico SC (AFM) muda de sinal na temperatura cr´ıtica SC Tc,0 (de N´eel TN,0) despida. Estas s˜ao as

temperaturas de transi¸c˜ao quando γms = 0. As simetrias quebradas em Tc,0 e TN,0 s˜ao U (1) e

SO(3), respectivamente. Nos limites |T − Tc,0|  Tc,0 e |T − TN,0|  TN,0 podemos escrever

as = as,0(T − Tc,0) e am= am,0(T − TN,0).

Ademais, consideraremos que as temperaturas de transi¸c˜ao despidas Tc,0 e TN,0 s˜ao fun¸c˜oes

de algum parˆametro x, i.e., Tc,0 → Tc,0(x) e TN,0 → TN,0(x). Esse parˆametro f´ısico x pode

ser, por exemplo, press˜ao, densidade de el´etrons, campo magn´etico, etc. Se para algum x as curvas das temperaturas de transi¸c˜ao despidas se encontram, digamos em x = x∗, ou seja Tc,0(x∗) = TN,0(x∗) = T∗, tem-se um ponto multi-cr´ıtico (x∗, T∗) no diagrama de fases. A

(15)

vizinhan¸ca deste ponto ´e a regi˜ao em que a expans˜ao de GL pode ser feita.

As equa¸c˜oes de campo m´edio s˜ao dadas pela minimiza¸c˜ao de f em rela¸c˜ao aos dois parˆ ame-tros de ordem. As derivadas primeiras de f em rela¸c˜ao a |∆s| e M s˜ao dadas por:

∂f ∂|∆s| = |∆s|(as+ us|∆s|2+ γmsM2) (1.2) e ∂f ∂M = M (am+ umM 2 + γ ms|∆s|2), (1.3)

respectivamente. Logo, ∂f /∂|∆s| = ∂f /∂M = 0 tem, al´em da solu¸c˜ao |∆s| = M = 0 que

corresponde ao estado normal, trˆes diferentes solu¸c˜oes n˜ao triviais: (i) Estado SC singleto puro com M(s)= 0 e

|∆s (s)|2 = − as us = as,0 us (Tc,0− T ) (1.4)

cuja densidade de energia de condensa¸c˜ao ´e fs = −

a2 s

4us

; (1.5)

(ii) Estado AFM puro com ∆s (m)= 0,

M(m)2 = −am um

= am,0 um

(TN,0− T ) (1.6)

e densidade de energia livre

fm= −

a2m 4um

; (1.7)

(iii) Estado de coexistˆencia de antiferromagnetismo e supercondutividade (AFM+SC) com |∆s (c)|2 = asum− amγms Dms = (as,0um− am,0γms)T − as,0umTc,0+ am,0γmsTN,0 Dms , (1.8) M(c)2 = amus− asγms Dms = (am,0us− as,0γms)T − am,0usTN,0+ as,0γmsTc,0 Dms (1.9) e densidade de energia livre de condensa¸c˜ao

fcoex = fs+ (amus− asγms)2 4usDms = fm+ (asum− amγms)2 4umDms , (1.10)

(16)

sendo Dms= γms2 − usum.

A solu¸c˜ao (iii) s´o tem um significado f´ısico quando (asum−amγms)/Dmse (amus−asγms)/Dms

s˜ao ambos positivos (que implicam que |∆s (c)|2 > 0 e |∆s (c)|2 > 0), e, al´em disso, a energia livre

do estado de coexistˆencia ´e a menor poss´ıvel apenas se Dms = γms2 − usum< 0.

Essa an´alise nos leva a concluir que o diagrama de fases, pr´oximo do ponto multi-cr´ıtico (x∗, T∗), ter´a dois comportamentos distintos: (i) se Dms< 0 pode existir um regime no diagrama

de fases onde as ordens AFM e SC ocorram simultaneamente na amostra. E mais, o ponto (x∗, T∗) ser´a um ponto tetra-cr´ıtico onde duas linhas de transi¸c˜oes de fases de segunda ordem se interceptam e, portanto, tem-se um regime de coexistˆencia. Por outro lado, (ii) quando Dms> 0,

a competi¸c˜ao entre os dois estados ordenados puros ´e t˜ao grande que n˜ao h´a coexistˆencia de antiferromagnetismo e supercondutividade. Neste caso, os dois estados ordenados puros ser˜ao separados por uma transi¸c˜ao de primeira ordem que terminar´a no ponto bi-cr´ıtico (x∗, T∗). Note que o comportamento do diagrama de fases pr´oximo do ponto multi-cr´ıtico ´e completamente governado pelos coeficientes qu´articos.

Nosso maior interesse aqui ´e no caso em que Dms < 0, pois neste caso tem-se uma nova

fase termodinˆamica na qual os dois parˆametros de ordem podem ser finitos simultaneamente. Esta coexistˆencia ´e microsc´opica e n˜ao macrosc´opica, uma vez que as simetrias U (1) e SO(3) s˜ao quebradas simultaneamente em todas as c´elulas unit´arias da amostra. No caso de uma coexistˆencia macrosc´opica, tem-se que certas regi˜oes da amostra se encontram no estado SC e diferentes regi˜oes est˜ao no estado AFM. Ou seja, as simetrias U (1) e SO(3) s˜ao quebradas em partes distintas da amostra e n˜ao localmente.

Qual o valor da temperatura cr´ıtica SC dentro da fase magn´etica? Ou seja, para T < TN,0

(am < 0) como Tc,0 ´e renormalizada? Substituindo M2 = −(am+ γms|∆s|2)/um (solu¸c˜ao de

∂f /∂M = 0 com M 6= 0) na densidade de energia livre obtemos que f (∆s) ≈ fm+ 1 2  as− amγms um  |∆s|2+ 1 4  us− γms2 um  |∆s|4 ≡ fm+ as,0(T − Tc) 2 |∆s| 2 + O(|∆s|4), (1.11) logo Tc = Tc,0 + aamγms

s,0um, que ´e a temperatura cr´ıtica SC dentro do estado magneticamente

ordenado, mostrando que a temperatura cr´ıtica SC ´e reduzida dentro da fase AFM, pois Tc <

Tc,0 para am< 0.

Analogamente, se substituirmos |∆s|2 = −(as + γmsM2)/us na Eq. (1.1) obtemos uma

energia livre que depende apenas da magnetiza¸c˜ao alternada f (M ) ≈ fs+ 1 2  am− asγms us  M2+1 4  um− γ2 ms us  M4 ≡ fs+ am,0(T − TN) 2 M 2+ O(M4), (1.12)

(17)

A transi¸c˜ao para o estado misto ´e de segunda ordem quando os coeficientes dos termos qu´articos nas expans˜oes para f (∆s) e f (M ) forem positivos, e isto acontece quando Dms =

γms2 − usum < 0. Por outro lado, se γms2 > usum n˜ao h´a regi˜ao de coexistˆencia, pois, a energia

de coexistˆencia ´e sempre maior que a energia dos estados ordenados puros [ver Eq. (1.10)] que ficam separados por uma transi¸c˜ao de fase de primeira ordem.

Usando as defini¸c˜oes de TN,0 e Tc,0, podemos escrever que a temperatura SC dentro do estado

AFM ´e dada por

Tc = Tc,0− am,0γms(TN,0− Tc,0) as,0um− am,0γms , (1.13) bem como TN= TN,0+ as,0γms(TN,0− Tc,0) am,0us− as,0γms (1.14) ´e a temperatura de N´eel no estado SC.

A fim de ilustrar essas discuss˜oes introduziremos um modelo microsc´opico. Uma vez que com um modelo microsc´opio podemos calcular os coeficientes de GL presentes na expans˜ao (1.1).

1.1

Modelo microsc´

opico

Para obter os coeficientes da expans˜ao de GL devemos especificar um modelo. O modelo que estudaremos ´e uma poss´ıvel descri¸c˜ao dos pnict´ıdeos de ferro, que possuem uma regi˜ao de coexistˆencia de antiferromagnetismo e supercondutividade nos seus diagramas de fase [10– 12]. Espectros eletrˆonicos destes compostos indicam que, na regi˜ao SC, as superf´ıcies de Fermi s˜ao formadas por um pocket de buracos centrado em (0, 0) e outro de el´etrons centrado em Q = (π, π) na zona de Brillouin dobrada [52, 53], onde Q ´e o vetor de ordenamento magn´etico. Por exemplo, o diagrama de fases do composto Ba(Fe1=xCox)2As2 foi apresentado no painel

`

a esquerda na Figura 0.1. Este diagrama de fases claramente demonstra que a ordem AFM coexiste e compete com supercondutividade acima de x = 0.04 e se estende at´e x ∼ 0.06. Acima desta dopagem de cobalto n˜ao h´a antiferromagnetismo, mas ainda h´a supercondutividade, que ser´a totalmente suprimida em x = 0.114. Na Figura 1.1, reproduzida da Ref. [54], mostramos os contornos dos pockets na superf´ıcie de Fermi, estes dados foram obtidos atrav´es de medidas de espectroscopia de fotoemiss˜ao resolvida em ˆangulo ARPES (acrˆonimo em inglˆes) e indicam que o pocket centrado em (0, 0) ´e circular, enquanto que o pocket centrado em (π, π) ´e el´ıptico. Assim, para descrevermos o antiferromagnetismo e a supercondutividade nos pnict´ıdeos de ferro assumiremos um modelo bidimensional com duas bandas, sendo uma banda de el´etrons e uma banda de buracos. O modelo que cont´em os ingredientes b´asicos para fazer tal descri¸c˜ao foi analisado por diversos autores [23, 24] e contem trˆes termos H = H0 + HAFM + HSC. A

(18)

Figura 1.1: Contornos dos pockets na superf´ıcie de Fermi obtidos por medidas de ARPES: Γ-Pocket ´e localizado em (0, 0) e X-Pocket ´e localizado em Q = (π, π), na nossa nota¸c˜ao. Note que a dopagem com Cobalto diminui (aumenta) o pocket em Γ (X). Figura reproduzida da Ref. [54].

parte n˜ao interagente de H ´e dada por H0 = X k,s ξc,kc † k,sck,s+ X k,s ξf,k+Qf † k+Q,sfk+Q,s, (1.15)

sendo c†k,s e fk+Q,s† os operadores que criam el´etrons com momento k e k + Q, respectivamente, e proje¸c˜ao de spin s = ±.

ξc,k = εc,0 −

k2 2m − µ

´e a dispers˜ao circular de buracos de massa m, no centro da zona de Brillouin. Note que o potencial qu´ımico µ j´a est´a inclu´ıdo na dispers˜ao e εc,0 ´e uma energia de referˆencia. A banda

dos el´etrons ´e el´ıptica, possui massas mx e my e est´a deslocada pelo vetor de ordenamento Q:

ξf,k±Q = −εf,0+ k2 x 2mx + k 2 y 2my − µ sendo εf,0 uma outra energia de referˆencia.

Introduzindo tan θ = ky/kx pode-se escrever ξf,k+Q = −ξc,k + 2δk sendo δk = δ0(k) +

δ2(k) cos 2θ com δ0(k) = εc,0−εf,0 2 − µ + k2 8  1 mx + 1 my − 2 m  e δ2(k) = k 2 8  1 mx − 1 my  . Uma representa¸c˜ao esquem´atica das dispers˜oes de buracos e el´etrons ´e mostrada na Figura 1.2, na qual apresentam-se tamb´em as respectivas superf´ıcies de Fermi. Seguindo trabalhos anteriores [23, 24], faremos a seguinte simplifica¸c˜ao δ0(k) ≈ δ0(kF) ≡ δ0 e δ2(k) ≈ δ2(kF) ≡ δ2, sendo kF o

vetor de Fermi definido como ξc,kF = 0. Ou seja, δk= δ0(k)+δ2(k) cos(2θ) → δθ = δ0+δ2cos(2θ).

(19)

Q k

ξα,k

Q= (π, π)

Figura 1.2: (Esquerda): Representa¸c˜ao esquem´atica da estrutura de duas bandas usada aqui: uma banda circular de buracos no centro da zona de Brillouin (banda ξc,k em azul) e uma

banda el´ıptica de el´etrons deslocada de Q a partir da banda de buracos (banda ξf,kem laranja).

(Direita): Superf´ıcie de Fermi dos buracos e dos el´etrons no centro da zona de Brillouin (azul) e centrada em Q (laranja), respectivamente.

J´a o parˆametro δ2 ´e uma medida da elipticidade da superf´ıcie de Fermi dos el´etrons. De modo

que δθ ´e uma medida do desvio da condi¸c˜ao de nesting perfeito e reflete o efeito de dopagem.

Apesar de que todos os cinco orbitais d do ferro contribu´ırem para os estados na super-f´ıcie de Fermi dos pnict´ıdeos de ferro, a f´ısica da competi¸c˜ao entre antiferromagnetismo e supercondutividade ´e bem capturada por esse modelo efetivo de duas bandas [55]. Outros fenˆomenos observados nos pnict´ıdeos de ferro, como por exemplo a transi¸c˜ao de fase tetragonal-ortorrˆombica vista no diagrama de fases apresentado no painel `a esquerda na Figura 0.1, s´o podem ser entendidos com a inclus˜ao de outras bandas [56, 57].

O segundo termo da Hamiltoniana H descreve uma intera¸c˜ao Coulombiana do tipo HAFM = − Vm 2υ X k,k0 c†k,sσssz0fk+Q,s0f† k0+Q,σσ z σσ0ck00 (1.16)

sendo υ o volume do sistema, Vm o acoplamento dessa intera¸c˜ao e σzss0 ´e o elemento (ss0) da

matriz de Pauli σz. Aqui e no restante desta tese, ´ındices repetidos de spin est˜ao sempre

implicitamente somados. Note que, por simplicidade, estamos assumindo que Vm independe

dos momentos e que a magnetiza¸c˜ao apontar´a na dire¸c˜ao z.

Os el´etrons tamb´em est˜ao sujeitos a uma intera¸c˜ao de pareamento SC, a saber Hs SC = − Vs υ X k,k0 (c†k,↑c†−k,↓f−k0−Q,↓fk0+Q,↑+ f† k+Q,↑f † −k−Q,↓c−k0,↓ck0,↑). (1.17)

sendo Vs o acoplamento SC singleto.

Com o objetivo de analisar o problema dentro de uma aproxima¸c˜ao de campo m´edio (A1A2 ≈

(20)

de gap para cada banda ∆s,c = − Vs υ X k hfk+Q,↑f−k−Q,↓i e ∆s,f = − Vs υ X k hck,↑c−k,↓i, (1.18)

bem como a magnetiza¸c˜ao alternada M = Vm υ X k h hc†k,↑fk+Q,↑i − hc†k,↓fk+Q,↓i i . (1.19)

Note que o gap SC de uma banda ´e devido `a intera¸c˜ao dos el´etrons na outra banda. As defini¸c˜oes acima nos levam `a seguinte Hamiltoniana de campo m´edio

H → HCM = X k ψ†kHˆkψk+ Econd, sendo Econd = 2υ  M2 Vm − Re(∆s,c∆∗s,f) Vs 

a ‘energia de condensa¸c˜ao’,

ˆ Hk=       ξc,k −∆s,c −M 0 −∆∗ s,c −ξc,k 0 −M∗ −M∗ 0 ξ f,k+Q −∆s,f 0 −M −∆∗ s,f −ξf,k+Q       (1.20) a Hamiltoniana reduzida e ψk† =c†k,↑, c−k,↓, fk+Q,↑† , f−k−Q,↓  ´e o spinor de Balian-Werthamer. Um termo constante igual a 1υP

k(ξc,k+ ξf,k+Q), que s´o

contribui para a energia do estado normal, foi omitido.

1.1.1

Equa¸

oes auto-consistentes e expans˜

ao de Ginzburg-Landau

Primeiramente, assumimos que os parˆametros de ordem ∆s,c, ∆s,f e M s˜ao todos reais e os

ge-neralizamos como sendo fun¸c˜oes n˜ao homogˆeneas do espa¸co e do tempo (imagin´ario) - ou equi-valentemente do momento e frequˆencia: ∆s,c(k,ωn), ∆s,f (k,ωn) e M(k,ωn), sendo ωn= (2n + 1)πT

as frequˆencias de Matsubara fermiˆonicas (n = 0, ±1, ±2, · · · ). Denotando k = (k, ωn),

R k = TP n 1 υ P

k e sendo ˆτi (i = 1, 2, 3) as matrizes de Pauli, pode-se generalizar a Hamiltoniana

reduzida para HCM= υ Z k Z q ψk†Hˆk,qψq+ Econd com ˆ Hk,q = ξc,kδk,qτˆ3− ∆s,c(k−q)ˆτ1 −M(k−q) −M(k−q) ξf,k+Qδk,qτˆ3− ∆s,f (k−q)τˆ1 ! .

(21)

A fun¸c˜ao de parti¸c˜ao do sistema pode ser escrita como uma integral funcional sobre vari´aveis Grassmannianas Z ∝ Z D[ψq, ψq∗]e −S[ψq,ψ∗q], (1.21)

cuja a¸c˜ao ´e dada por S[ψq, ψq∗] = Z 1/T 0 dτ " HCM+ X i,q ψ∗i,q(τ ) ∂ ∂τψi,q(τ ) # = Z k Z q ψk∗Hˆk,qψq+ 2 Z x  M2 Vm − ∆s,c∆s,f Vs  − Z k ψ∗kiωnψk sendoRx =R ddxR1/T

0 dτ . Logo, ´e ´util definir o seguinte resolvente

− ˆGk,q−1 = ˆHk,q− iωnδk,q, (1.22)

de modo que a a¸c˜ao ´e dada por S[ψq, ψ∗q] = − Z k Z q ψk∗Gˆk,q−1ψq+ 2 Z x  M2 Vm −∆s,c∆s,f Vs  . (1.23) Note que a a¸c˜ao ´e quadr´atica nos f´ermions de Balian-Werthamer, logo as integra¸c˜oes sobre estes graus de liberdade s˜ao triviais, resultando em

Z ∝ det −G−1 exp  −2 Z x  M2 Vm −∆s,c∆s,f Vs  ≡ e−F [M,∆s,c,∆s,f]/T, (1.24)

sendo F a energia livre e f = F υ = 2M2 Vm − 2∆s,c∆s,f Vs − Z k loghdet− ˆGk−1i (1.25) a densidade de energia livre. O determinante acima inclui apenas os ´ındices de Balian-Werthamer (spin e banda) e ´e dado por

D = det− ˆGk−1= (ω2n+ E+,k2 )(ωn2 + E−,k2 ), (1.26) sendo E±,k2 = 1 2  Γk± q Γ2 k+ Ωk+ Υk 

os quadrados dos autovalores da Hamiltoniana reduzida [Eq. (1.20)] com Γk= ξc,k2 + ∆ 2 s,c+ ξ 2 f,k+Q+ ∆ 2 s,f + 2M 2, Ωk = −4(ξ1,k2 + ∆ 2 s,c)(ξ 2 f,k+Q+ ∆ 2 s,f)

(22)

e

Υk = 8M2(ξc,kξf,k+Q+ ∆s,c∆s,f − M2/2).

Avaliando a soma de Matsubara da Eq. (1.25) temos f (M, ∆s,c, ∆s,f) = − 2T υ X k,a=± log  2 coth Ea,k 2T  +2M 2 Vm −2∆s,c∆s,f Vs . (1.27)

Os pontos estacion´arios ∂f (M, ∆s,c, ∆s,f) = 0 levam `as equa¸c˜oes auto-consistentes para os

parˆametros de ordem: M = Vm υ X k,a=± M [E2 a,k+ ξc,kξf,k+Q+ ∆s,c∆s,f − M2]

2Ea,k(Ea,k2 − E−a,k2 )

tanh Ea,k 2T  (1.28) e ∆s,α= − Vs υ X k,a=± (E2 a,k− ξα,k2 − ∆2α)∆s, ¯α+ M2∆s,α

2Ea,k(Ea,k2 − E−a,k2 )

tanh Ea,k 2T



, (1.29) com α = c, f . Na equa¸c˜ao acima usamos que ¯c = f e ¯f = c, e ainda, quando α = f fica subentendido que ξα,k → ξf,k+Q.

Qual ´e a temperatura cr´ıtica tal que um gap SC n˜ao nulo aparece? Para determinar essa temperatura usamos as equa¸c˜oes de gap acima [Eq. (1.29)] e fazemos ∆s,α→ 0. Para simplificar

nossa discuss˜ao consideraremos o caso com M = 0: ∆s,α = − Vs υ X k,a=± ∆s, ¯α(Ea,k2 − ξα,k2 )

2Ea,k(Ea,k2 − E−a,k2 )

tanh Ea,k 2Tc,0

 .

Logo, estamos determinando a temperatura SC despida Tc,0.

Simplificando E2

±,k, bem como ξα,k2 , na equa¸c˜ao acima temos o seguinte sistema de equa¸c˜oes

acopladas ∆s,c = − Vs υ X k tanhξf,k+Q 2Tc,0  2ξf,k+Q ∆s,f e ∆s,f = − Vs υ X k tanh ξ c,k 2Tc,0  2ξc,k ∆s,c.

Introduzimos a energia de Fermi ξF = εc,0− µ, de modo que as dispers˜oes ficam dadas por

ξc,k = ξk = ξF − k

2

2m e ξf,k+Q = −ξk + 2δθ. Podemos agora integrar sobre os momentos da

seguinte forma υ1P k → m R2π 0 dθ 2π RξF −∞ dξ

2π, ademais, assumiremos que ξF → ∞, ou melhor, que

ξF/T  1. Note que m ´e proporcional `a densidade de estados bidimensional.

(23)

1 υ X k tanhξc,k 2Tc,0  2ξc,k = 1 υ X k tanhξf,k+Q 2Tc,0  2ξf,k+Q = m 2π log(2e γξ F/πTc,0),

sendo γ ≈ 0.577 a constante de Euler-Mascheroni, temos que ˆ τ1 ∆s,c ∆s,f ! = −2π mVslog(2eγξF/πTc,0) ∆s,c ∆s,f ! .

Os autovalores e autovetores de ˆτ1 s˜ao ±1 e √12(1, ±1)T, respectivamente. Como devemos

ter 2π = ∓mVslog(2eγξF/πTc,0) > 0, conclui-se que, para Vs > 0 (Vs < 0) devemos escolher o

sinal inferior (superior), tal que

Tc,0= 2ξFeγ−2π/m|Vs|/π (1.30)

e portanto ∆s,c = −∆s,f (∆s,c = ∆s,f).

Para Vs< 0 tem-se a supercondutividade convencional, na qual a intera¸c˜ao efetiva atrativa

entre os el´etrons ´e devida aos fˆonons. Este estado ´e tamb´em conhecido como s++, uma vez

que ∆s,c e ∆s,f tˆem o mesmo sinal. Por outro lado, quando ∆s,c e ∆s,f tˆem sinais opostos, a

supercondutividade ´e n˜ao-convencional pois os pares de Cooper s˜ao formados devido `a intera¸c˜ao eletrˆonica repulsiva Vs > 0. Este estado ´e chamado de estado s+−. O entendimento de qual

´e o mecanismo de emparelhamento dos el´etrons neste segundo caso ´e ainda uma quest˜ao em aberto.

Note que a temperatura cr´ıtica SC despida (na ausˆencia de competi¸c˜ao com magnetismo) independe dos parˆametros δ0 e δ2. Em contrapartida, a temperatura cr´ıtica AFM despida, que

ser´a discutida a seguir, depende de tais parˆametros.

No regime M, ∆s,c, ∆s,f  1, expandimos a densidade de energia livre (1.27) para escrever

a expans˜ao de GL para a densidade de energia livre. Introduzindo ∆f = f − f (0, 0, 0) temos que ∆f ≈ am 2 M 2 + um 4 M 4 +X α,β as,αβ 2 ∆s,α∆s,β+ X α us,α 4 ∆ 4 s,α+ X α γααM2∆2s,α+ γcf 2 M 2 ∆s,c∆s,f. (1.31) As express˜oes microsc´opicas dos coeficientes acima, em termos das dispers˜oes e dos acoplamen-tos Vs e Vm, s˜ao apresentados na Se¸c˜ao B.1 do Apˆendice B [ver Eq. (B.15) - (B.18), (B.21) e

(B.22)].

Restringir-nos-emos aos casos em que ∆s,c = ±∆s,f ≡ ±∆s. Nestes casos, a energia livre ´e

a mesma dada pela Eq. (1.25) com γms→ γms+± = γcc+ γf f ± γcf e as = as,cc+ as,f f + 2|as,cf| e

us= us,c+ us,f.

A temperatura de N´eel pura ´e a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao am(TN,0) = 0. Avaliando numericamente

(24)

0 1 2 3 3.5 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 δ0(2)/Tc,0 T / Tc, 0 T N ,0 0/T c,0= 2,δ 2) T N ,0 0, δ 2/T c,0= 3) as= 0 ¯ TN,0/Tc,0= 2

u

m

>

0

˜

u

m

<

0

˜ δ0

u

m

<

0

˜ δ2 0 0.5 1 1.5 2 0 0.5 1 1.5 2

D

+ ms

> 0

D

+− ms

> 0

D

+ ms

< 0

Figura 1.3: (Esquerda) Comportamento da temperatura de N´eel para o estado magn´etico puro TN,0, ou seja, a solu¸c˜ao da Eq. am(TN,0) = 0. Na curva em laranja (amarelo) δ2 (δ0) ´e fixado e

plotamos TN,0 vs. δ0 (δ2). Os resultados mostrados s˜ao para ¯TN,0/Tc,0 = 2. No mesmo gr´afico

tamb´em mostramos a temperatura cr´ıtica supercondutora despida Tc,0, em verde, que n˜ao

de-pende de δθ [veja, por exemplo, a Eq. (1.30)]. Note que, em geral TN,0 (pelo menos pr´oximo de

Tc,0) ´e uma fun¸c˜ao monotˆonica decrescente dos parˆametros δ0(2). (Direita): Sinais de ume do

de-nominador D+−

ms no plano (˜δ0 = δ0/2πT, ˜δ2 = δ2/2πT ). um´e positivo (negativo) acima (abaixo)

da curva laranja e D+−

ms ´e positivo (negativo) nas regi˜oes em cinza (branco). A expans˜ao de GL,

at´e ordem qu´artica em M , s´o tem sentido na regi˜ao com um> 0. Logo, o caso de

supercondu-tividade n˜ao-convencional, i.e., Vs > 0 e ∆s,c = −∆s,f ≡ −∆s, possibilita que o denominador

das Eqs. (1.8) - (1.10) seja negativo, em raz˜ao disso, h´a uma possibilidade do aparecimento de uma fase de coexistˆencia microsc´opica de antiferromagnetismo e supercondutividade.

encontrar TN,0. No painel `a direita na Figura 1.3 mostramos o comportamento de TN,0, em

fun¸c˜ao de δ0 (δ2) para um valor fixo de δ2 (δ0). Nesta figura escolheremos Vs ≈ 266 meV e

Vm ≈ 311 meV, tais que Tc,0 = 1 meV (∼ 12 K) e ¯TN,0/Tc,0 = 2. A escolha de Vs estabelece

a escala de energia que usaremos, por outro lado, ´e importante tomarmos ¯TN,0 > Tc,0 a fim de

que a transi¸c˜ao AFM ocorra a uma temperatura maior do que a transi¸c˜ao SC.

No painel `a direita na Figura 1.3, mostramos o sinal de um no plano (˜δ0 = δ0/2πT, ˜δ2 =

δ2/2πT ). Foi encontrado numericamente que γms ´e positivo, o que indica que as fases

or-denadas puras competem entre si. As m´edias sobre a dire¸c˜ao angular θ dos coeficientes de GL apresentados no Apˆendice B podem ser calculadas analiticamente em uma expans˜ao pr´oxima do nesting perfeito (|δθ|  1). Vamos analisar, nesse limite, os denominadores

Dms→ D+±ms = (γ+±ms)2− umus das Eqs. (1.8) - (1.10). Os resultados s˜ao

D++ms ≈ m T2  14.35 − 164.4˜δ02− 82.22˜δ22+ 439.9˜δ24+ 1391˜δ04+ 2865˜δ20δ˜22 (1.32) e Dms+−≈ m T2  99.09˜δ04− 173.9˜δ02δ˜22+ 7.713˜δ24. (1.33) Conforme discutido no in´ıcio deste cap´ıtulo se Dms> 0 h´a uma transi¸c˜ao de fase de primeira

(25)

ordem entre o estado AFM puro e o estado SC puro. Por outro lado, quando Dms < 0 o estado

de coexistˆencia AFM+SC tem menor energia que os estados ordenados puros.

Da Eq. (1.32) vemos que, para ˜δ0 e ˜δ2 pequenos, Dms++´e positivo. De fato, calculamos Dms++

numericamente, sem expandir em ˜δθ e sempre encontramos que D++ms > 0. Logo, no caso de

supercondutividade s++, i.e., supercondutividade convencional, n˜ao h´a uma fase de coexistˆencia microsc´opica de magnetismo e supercondutividade. Neste caso, a competi¸c˜ao entre os estados ordenados puros, γ++

ms , ´e t˜ao forte que estas duas fases s˜ao separadas por uma transi¸c˜ao de

primeira ordem.

Analisando a Eq. (1.33) nos dois limites ˜δ0 = 0 ou ˜δ2 = 0 vemos que Dms+− > 0 e a

transi¸c˜ao entre os estados ordenados puros ser´a tamb´em de primeira ordem. Entretanto, com ˜

δ0 6= 0 e ˜δ2 6= 0 ´e poss´ıvel termos D+−ms negativo. Avaliamos D+−ms numericamente, para ˜δθ

finito, e mostramos o sinal dessa quantidade no plano (˜δ0, ˜δ2) no painel `a direita na Figura

1.3. Note que h´a uma vasta regi˜ao com D+−ms < 0 e, portanto, o estado de coexistˆencia pode aparecer. Nesse mesmo painel tamb´em ´e mostrado o sinal de um. Lembre-se que a expans˜ao

de GL (para que transi¸c˜oes puras sejam de segunda ordem) ´e v´alida apenas quando um > 0.

A banda el´ıptica ´e um ingrediente fundamental, pois, tomando duas bandas circulares, ˜δ2 = 0,

e alterando apenas ˜δ0 n˜ao ´e ´e poss´ıvel haver a fase de coexistˆencia. Enfatizamos ainda que

alterando apenas a elipticidade da dispers˜ao dos el´etrons, i.e., mudando ˜δ2 com ˜δ0 = 0, tamb´em

destr´oi a fase de coexistˆencia, que portanto, s´o ´e poss´ıvel com ambos ˜δ0 e ˜δ2 finitos.

Se n˜ao houvesse uma competi¸c˜ao (γms ≡ 0) entre os estados ordenados magn´etico e SC

as temperaturas cr´ıticas despidas Tc,0 e TN,0 seriam suficientes para obter o diagrama de fases

do modelo (gr´afico `a esquerda da Figura 1.3). Ou seja, ter´ıamos antiferromagnetismo em toda a regi˜ao abaixo da linha laranja, ou da amarela, e supercondutividade abaixo da linha horizontal verde, de modo que haveria uma grande regi˜ao com coexistˆencia destas duas ordens. Na pr´oxima se¸c˜ao, analisaremos a renormaliza¸c˜ao das temperaturas cr´ıticas [Tc e TN, ver Eqs.

(1.13) e (1.14)] devido `a competi¸c˜ao (γms 6= 0). Isto ser´a feito atrav´es da an´alise das solu¸c˜oes

das equa¸c˜oes de campo m´edio (1.3) usando os coeficientes de GL derivados no Apˆendice B. Isso possibilitar´a montar os diagramas de fases para o modelo. Como veremos, a regi˜ao de coexistˆencia das duas ordens ´e bem menor que a intersec¸c˜ao das regi˜oes T < Tc,0 e T < TN,0.

De fato, como j´a dito v´arias vezes, quando a competi¸c˜ao ´e forte Dms > 0 e a coexistˆencia n˜ao

existe.

1.2

Diagramas de fases

Nosso objetivo nesta se¸c˜ao ´e calcular os parˆametros de ordem [Eqs. (1.4), (1.6), (1.8) e (1.9)] e ent˜ao montar os diagramas de fases para o modelo. Para tal, devemos escolher um conjunto de parˆametros. Usaremos unidades em que kF = 1 e fixaremos ξF = 100 meV. Logo m =

(26)

0 1 2 3 4 5 0 0.5 1 1.5 2 2.5 δ0/Tc,0 T / Tc, 0 AFM δ2/Tc,0= 3.5 ¯ TN,0/Tc,0= 3 Normal s++ SC singleto 0 0.5 1 1.5 2 2.5 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 δ0/Tc,0 T / Tc, 0 δ2/Tc,0= 1 ¯ TN,0/Tc,0= 1.5 AFM SC singleto Normal s+−

Figura 1.4: Esquerda (Direita): Diagrama de fases para o caso de supercondutividade convenci-onal s++(n˜ao-convencional s+−). As fases AFM e SC s˜ao separadas por uma linha de transi¸c˜ao de fase de primeira ordem (na qual Fm = Fs) que termina num ponto bi-cr´ıtico. As linhas

con-t´ınuas laranja e verde, dadas por am = 0 e as = 0, s˜ao as temperaturas de N´eel e cr´ıtica SC

despidas, respectivamente. Neste diagrama de fase, e nos pr´oximos, linhas cont´ınuas/tracejadas representam transi¸c˜oes de segunda/primeira ordem.

0.005 meV−1. Al´em disso, escolheremos novamente Vs ≈ 266 meV, tal que Tc,0 = 1 meV

(∼ 12 K). Daqui em diante, a menos que especifiquemos o contr´ario, iremos sempre utilizar essa escolha de parˆametros. Por outro lado, os valores de Vm s˜ao dados pelas escolhas dos

valores fixados de ¯TN,0, que s˜ao apresentados nas figuras.

Conforme enfatizado na se¸c˜ao anterior, a supercondutividade convencional no modelo de duas bandas, tamb´em chamada de supercondutividade s++, n˜ao permite a coexistˆencia

micros-c´opica de antiferromagnetismo e supercondutividade. Neste caso, o estado de menor energia livre do sistema ´e o estado normal ou um dos dois estados ordenados puros (Dms++> 0 sempre). No painel `a esquerda na Figura 1.4 tˆem-se o diagrama de fases t´ıpico para o modelo nesse regime (∆s,c = ∆s,f ≡ ∆s). Como pode-se ver na figura, ao diminuir a temperatura o sistema ordenar´a

na fase AFM ou SC (est´a transi¸c˜ao ´e de segunda ordem, us> 0 e estamos interessados na regi˜ao

com um > 0). Reduzindo ainda mais a temperatura o sistema pode continuar na mesma fase

ordenada ou sofrer uma transi¸c˜ao de primeira ordem para a outra fase ordenada. Por outro lado, se o sistema se encontra no estado AFM e δ0´e aumentado o sistema pode ir continuamente

para o estado normal ou sofrer uma transi¸c˜ao de fase descont´ınua para o estado SC. O diagrama mostrado ´e no plano (T /Tc,0,δ0/Tc,0) para um valor fixo de elipticidade da banda de el´etrons

(δ2) por´em o diagrama no plano (T /Tc,0,δ2/Tc,0) com δ0 fixo ´e qualitativamente o idˆentico. As

linhas cont´ınuas laranja e verde correspondem, respectivamente, a am = 0 e as = 0. Estas

linhas se interceptam no ponto bi-cr´ıtico T∗ = Tc,0 e δ∗0 ≈ 3.595 Tc,0, que ´e exatamente onde

acaba a linha tracejada. Esta linha de transi¸c˜ao de fase de primeira de ordem entre os estados ordenados puros ocorre exatamente quando as energias de condensa¸c˜ao dos estados puros s˜ao

(27)

0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 1.1 1.2 0 0.5 1 1.5 2 2.5 |∆ s |, M T /Tc,0 δ2/Tc,0 = 1 δ0/Tc,0 = 1.4 |∆s| M 0 0.5 1 1.5 2 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 |∆ s |, M δ0/Tc,0 M |∆s| δ2/Tc,0 = 1 T /Tc,0 = 0.75

Figura 1.5: Esquerda (Direita): Parˆametros de ordem versus T /Tc,0(δ2/Tc,0) para o valor de δ0

usado no diagrama de fases da esquerda da Figura 1.4. Nestes gr´aficos estamos considerando o regime de supercondutividade s+−. Vemos claramente nestes gr´aficos, que a transi¸c˜ao de

fase do estado normal para o estado ordenado SC puro ´e cont´ınua, que n˜ao h´a uma fase de coexistˆencia microsc´opica dos estados AFM e SC, e que as duas fases ordenadas puras est˜ao separadas por uma transi¸c˜ao descont´ınua.

iguais, ou seja, quando a2

sum= a2mus [veja Eqs. (1.5) e (1.7)]. Vale a pena salientar aqui que os

coeficientes qu´articos (us,um e γms) s˜ao sempre calculados no ponto multi-cr´ıtico.

No caso de supercondutividade s+−, ou seja supercondutividade n˜ao-convencional, tˆem-se

um comportamento bastante parecido quando δ0 ou δ2 s˜ao suficientemente pequenos, uma vez

que neste regime D+−

ms > 0, ver Figura 1.3 e tamb´em a Eq. (1.33). Como exemplo, mostramos o

diagrama de fases no plano (T /Tc,0,δ0/Tc,0) com δ2 fixo no painel `a direita na Figura 1.4. Assim

como no caso de supercondutividade convencional, os dois estados ordenados s˜ao separados por uma transi¸c˜ao de fase de primeira ordem, para esta escolha de δ2. O ponto bi-cr´ıtico ´e, para

esta escolha de δ2, dado por δ∗0 ≈ 1.464 Tc,0. Note que T∗ = Tc,0 sempre, uma vez que as n˜ao

depende dos parˆametros δ0e δ2. Na Figura 1.5 apresentamos os comportamentos dos parˆametros

de ordem em fun¸c˜ao da temperatura e de δ0. No painel `a esquerda, vemos que diminuindo a

temperatura, em T ≈ 1.05 Tc,0 o sistema sofre uma quebra espontˆanea de simetria cont´ınua

SO(3), mas o parˆametro de ordem SC cont´ınua nulo. Em T ≈ 0.87 Tc,0 o sistema apresenta

supercondutividade e M se anula descontinuamente. Por outro lado, conforme mostrado no painel `a direita, quando fixamos T , para δ0 pequeno o sistema se encontra na fase AFM.

Aumentando δ0, em δ0 ≈ 1.33 Tc,0, a magnetiza¸c˜ao alternada salta de um valor finito para

zero e ∆s, que at´e ent˜ao era nulo, assume um valor finito. Vale salientar que, para um valor

(suficientemente pequeno) fixo de δ0, observou-se que o diagrama de fases em fun¸c˜ao de δ2 ´e

qualitativamente igual.

Entretanto, para valores maiores de δ0 e δ2, o denominador das equa¸c˜oes (1.8) - (1.10) pode

vir a ficar negativo (D+−

(28)

0 1 2 3 4 5 0.5 1 1.5 2 2.5 δ0/Tc,0 T / Tc, 0 AFM+ SC SC singleto Normal AFM δ2/Tc,0= 3.5 ¯ TN,0/Tc,0= 3 s+− 1.5 2 2.5 3 3.5 0.9 1 1.1 1.2 δ2/Tc,0 T / Tc, 0 AFM +SC Normal AFM δ0/Tc,0= 2 ¯ TN,0/Tc,0= 2 SC singleto s+−

Figura 1.6: Diagrama de fases para o caso s+−. No painel `a esquerda (direita) mostramos o

diagrama de fase em fun¸c˜ao de δ0 (δ2) com δ2 (δ0) fixo. Na regi˜ao AFM e SC temos que asum >

amγms e amus > asγms, respectivamente. E na regi˜ao AFM+SC temos que asum < amγms,

amus < asγmse ainda D+−ms < 0. Esta ´ultima regi˜ao do diagrama de fase ´e a fase termodinˆamica

est´avel do sistema, na qual magnetismo e supercondutividade coexistem microscopicamente. O ponto tetra-cr´ıtico no diagrama de fases `a esquerda ´e dado por T∗ = Tc,0 e δ0∗ ≈ 3.595 Tc,0, que

´e o mesmo valor do ponto bi-cr´ıtico do diagrama de fases no painel da esquerda da Fig. 1.4 para o caso supercondutividade n˜ao-convencional. Isso se deve ao fato de que a localiza¸c˜ao do ponto multi-cr´ıtico depende apenas dos coeficientes quadr´aticos as e am, entretanto a natureza do

mesmo, depende dos coeficientes qu´articos e, portanto, o mesmo pode ter diferentes naturezas dependendo se a supercondutividade ´e convencional ou n˜ao-convencional. No painel `a direita o ponto tetra-cr´ıtico ´e dado por T∗ = Tc,0 e δ∗2 ≈ 2.606 Tc,0

tem-se asum < amγms e amus < asγms, veja Eqs. (1.8) e (1.9). E esta ´e uma solu¸c˜ao f´ısica

das equa¸c˜oes de campo m´edio correspondente a uma fase termodinˆamica onde magnetismo e supercondutividade coexistem microscopicamente. Mostra-se os diagramas de fase em fun¸c˜ao de δ0 e δ2 na Figura 1.6. Novamente, as linhas cont´ınuas laranja e verde correspondem `as

temperaturas de N´eel TN e cr´ıtica supercondutora Tc, respectivamente, de modo que na regi˜ao

entre estas duas curvas (denominada de regi˜ao AFM+SC) os dois parˆametros de ordem s˜ao simultaneamente n˜ao nulos. Isto ´e, as linhas delimitando o estado misto s˜ao linhas de transi¸c˜ao de fase verdadeiras e n˜ao spinodais de uma transi¸c˜ao de fase de primeira ordem putativa. Estas linhas representam transi¸c˜oes de fase cont´ınuas, a saber, na linha verde/laranja o parˆametro de ordem supercondutor/magn´etico vai a zero continuamente diminuindo/aumentando δ0 ou δ2.

A linha verde horizontal ´e, obviamente dada por as = 0, i.e., T = Tc,0, e a linha laranja

para T > Tc,0´e dada por am= 0. Para T < Tc,0, estas linhas que delimitam o estado misto s˜ao

dadas por fm = fcoex e fs = fcoex, respectivamente. Ou seja, `a esquerda (direita) da linha verde

(laranja) tem-se que fm < fcoex (fs < fcoex). Das express˜oes para as energias de condensa¸c˜ao

[Eq. (1.5), (1.7) e (1.10)] vemos que a linha verde (laranja) ´e dada por as = amγms/um (am =

(29)

quadr´aticos, renormalizados, das expans˜oes para as energias livres como fun¸c˜ao apenas de ∆s

e M se anulam levam exatamente `as express˜oes mostradas acima.

A inclus˜ao de termos que v˜ao al´em da an´alise de campo m´edio, i.e., flutua¸c˜oes cr´ıticas, altera-ram as inclina¸c˜oes das linhas de transi¸c˜oes de fases pr´oximas do ponto multi-cr´ıtico (T∗, δ0(2)∗ ), entretanto, o comportamento gen´erico dos diagramas de fase n˜ao ´e afetado por flutua¸c˜oes [58, 59].

Mostramos os parˆametros de ordem como fun¸c˜ao de T e δ2 na Figura 1.7. No painel `a

esquerda temos ∆s e M em fun¸c˜ao de T /Tc,0; diminuindo a temperatura, em TN,0 ≈ 1.25 Tc,0,

o sistema sofre uma transi¸c˜ao de fase magn´etica de segunda ordem e o parˆametro de ordem SC continua nulo. Entretanto, diminuindo ainda mais T , em Tc ≈ 0.89 Tc,0 o sistema sofrer´a uma

transi¸c˜ao SC que acarretar´a numa diminui¸c˜ao do parˆametro de ordem magn´etico. Finalmente, para TN / 0.57 Tc,0 a magnetiza¸c˜ao alternada ´e nula. No gr´afico inserido, a t´ıtulo ilustrativo,

mostramos tamb´em os comportamentos das energias de condensa¸c˜ao como fun¸c˜oes da tempe-ratura T . De fato, na regi˜ao de coexistˆencia, vˆe-se que o estado misto (AFM+SC) possui uma menor energia livre que os estados ordenados puros. Em contrapartida, no painel `a direita te-mos ∆s e M em fun¸c˜ao de δ0 para um valor fixo de T . Para valores pequenos de δ0 o sistema se

encontra no estado AFM. Entretanto, o aumento de δ0 causa o aparecimento da fase de

equil´ı-brio mista, na qual ∆s e M s˜ao n˜ao nulos (note que ∆s aparece continuamente a partir de zero)

e, por fim, com um progressivo aumento de δ0 o antiferromagnetismo ser´a continuamente

supri-mido e o sistema estar´a no estado SC puro. Novamente, no gr´afico inserido temos as evolu¸c˜oes das energias de condensa¸c˜ao evidenciando que na regi˜ao de coexistˆencia (3.11 / δ0/Tc,0/ 3.50)

o estado misto (AFM+SC) ´e o estado termodinˆamico est´avel do sistema.

Todos os diagramas de fases mostrados aqui concordam os resultados obtidos por Voront-sov et al. [24] pr´oximo dos pontos multi-cr´ıticos. Em particular, esses autores resolveram as equa¸c˜oes auto-consistentes (1.28) e (1.28) para obter os diagramas de fases do modelo, e encon-traram que no regime s++ o h´a coexistˆencia de antiferromagnetismo e supercondutividade em

temperaturas muito baixas e em um pequena regi˜ao dos parˆametros δ0 e δ2. Ou seja, pr´oximo

do ponto multi-cr´ıticos, regi˜ao de validade do funcional de GL, n˜ao h´a o estado AFM+SC. ´

E importante mantermos em mente que intentamos aqui captar o diagrama de fases de SCs `

a base de ferro, por exemplo, o diagrama de fases experimental do arsenieto de ferro BaFe2As2

que ´e mostrado no painel `a esquerda da Figura 0.1. Neste diagrama de fases h´a uma transi¸c˜ao tetragonal-ortorrˆombica que n˜ao pode ser antevista apenas com o modelo de duas bandas que estamos estudando. A fim de entender esta transi¸c˜ao, uma extens˜ao do modelo deve ser feita atrav´es da inclus˜ao de outras bandas [56, 57]. Todavia, o modelo de duas bandas, no regime n˜ao-convencional s+−, ´e capaz de prever o aparecimento da fase de coexistˆencia AFM+SC.

Em geral, quando n˜ao h´a competi¸c˜ao entre os estados ordenados, tem-se que dM2/dT < 0 e

(30)

0.5 1 1.5 2 2.5 0 1 2 3 4 5 T /Tc,0 |∆ s |, M 0.6 0.7 0.8 0.9 −3 −2.5 −2 −1.5 −1 −0.5 0x 10 −3 T /Tc,0 f M |∆s| fm fcoex fs δ2/Tc,0 = 3.5 δ0/Tc,0 = 3.4 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 0 1 2 3 4 5 δ0/Tc,0 |∆ s |, M 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 −1.5 −1 −0.5 x 10−3 δ0/Tc,0 f M |∆s| δ2/Tc,0 = 3.5 T /Tc,0 = 0.75 fm fs fcoex

Figura 1.7: Esquerda (Direita): Comportamento de ∆s e M em fun¸c˜ao de T /Tc,0(δ0/Tc,0) para

δ2/Tc,0 = 3.5, que foi o valor de δ2 usado no diagrama de fases do painel da direita na Figura

1.6. A transi¸c˜ao de fase do estado normal (no qual ∆s e M s˜ao ambos nulos) para o estado

magneticamente ordenado puro ´e novamente de segunda ordem. Isso ´e devido `a escolha de um > 0. N˜ao obstante, neste caso h´a uma regi˜ao na qual ambos ∆s e M s˜ao n˜ao nulos. Note

que, diminuindo T , ∆s tamb´em surge a partir de zero. E ainda, para uma temperatura fixa, ao

variarmos δ0, a transi¸c˜ao entre o estado puro (seja ele AFM ou SC) e o estado misto se d´a de

modo cont´ınuo. Nos gr´aficos inseridos temos as densidades de energia livre de condensa¸c˜ao de cada estado. Estes mostram claramente que a solu¸c˜ao de menor energia na regi˜ao AFM+SC ´e a solu¸c˜ao de coexistˆencia microsc´opica.

acordo com as Eqs. (1.4) e (1.6). Entretanto, a competi¸c˜ao entre as fases pode mudar este cen´ario. O modelo de duas bandas prevˆe que abaixo da temperatura cr´ıtica SC a magnetiza¸c˜ao alternada diminui `a medida que a temperatura diminui, ou seja dM2/dT > 0, conforme painel `a

esquerda da Figura 1.7. E isto est´a em pleno acordo com medidas experimentais em compostos SCs `a base de Fe e As [5–7, 55]. Mostramos o comportamento da magnetiza¸c˜ao em fun¸c˜ao da temperatura para o composto BaFe2As2 na Figura 1.8 que foi reproduzida da Ref. [55]. Estes

dados foram obtidos por experimentos de difra¸c˜ao de nˆeutrons e concordam qualitativamente com os resultados obtidos aqui para o regime de supercondutividade n˜ao-convencional. Em geral, dM2/dT > 0 quando am,0us < as,0γms, ver Eq. (1.9). Um fato interessante ´e que esse

comportamento de M , abaixo de Tc, implica na reentrˆancia do estado SC na fase AFM que

´e mostrada nos diagramas de fases da Figura 1.6. Para demonstrar isso usamos a Eq. (1.14) para calcular a taxa de varia¸c˜ao da temperatura de N´eel em rela¸c˜ao a um parˆametro f´ısico x (x = δ0(2) para o modelo de duas bandas):

dTN dx = as,0γms am,0us− as,0γms dTN,0 dx > 0

se dTN,0/dx < 0 pois o denominador do primeiro fator ´e negativo (condi¸c˜ao para dM2/dT > 0).

Em geral, a temperatura de N´eel despida TN,0(x) ´e uma fun¸c˜ao decrescente de x. Para o

(31)

Figura 1.8: Quadrado da magnetiza¸c˜ao alternada, medido via difra¸c˜ao de nˆeutrons em fun¸c˜ao da temperatura para diversos valores de concentra¸c˜ao x de Co. O painel `a direita mostra dados em uma escala expandida. Figura reproduzida da Ref. [55].

na Figura 1.3 (veja tamb´em a Figura 1.6).

Al´em disso, o comportamento de reentrˆancia observado nos diagramas de fases mostram que dTc/dx > 0. Da Eq. (1.13) obtemos que

dTc dx = − am,0γms as,0um− am,0γms dTN,0 dx . (1.34)

Usando que Dms = γms2 − usum < 0, vemos que as,0um > am,0γms e, portanto, dTc/dx > 0.

Por fim, pela Eq. (1.8), temos que se a condi¸c˜ao as,0um > am,0γms ´e verdadeira, devemos ter

d|∆s|2/dT < 0 e isso ´e auto-consistentemente satisfeito, uma vez que o sistema est´a entrando

na fase SC ordenada. Veja tamb´em a Figura 1.7: na regi˜ao AFM+SC tem-se dM/dT > 0 e d|∆s|/dT < 0. Conforme mostraremos a seguir este estado ´e um m´ınimo est´avel de f (M , ∆s)

[Eq. (1.1)] e portanto ´e um m´ınimo global, pois j´a foi demonstrado que fm> fcoex e fs > fcoex

nesta regi˜ao.

Uma vez que a magnetiza¸c˜ao alternada ´e um vetor com trˆes componentes e ∆s ´e um

parˆametro de ordem complexo, denotaremos estas quantidades como M = (Mx, My, Mz) e

∆s = |∆s|eiαs, respectivamente. No equil´ıbrio, pode-se escolher, sem perda de generalidade,

Mx = My = αs = 0. Para caracterizar a natureza dos pontos estacion´arios de f , definiremos o

conjunto de parˆametros de ordem φT = [Mx, My, Mz, |∆s|, αs] e a matriz Hessiana Hi,j = ∂

2F

∂φi∂φj,

tal que, pr´oxima de seus pontos estacion´arios, podemos escrever a energia livre como f [φi] = f [φi0] +1 2δφ T (H){φi 0}δφ, sendo φT

0 = [M0, ∆s 0] o conjunto de parˆametros de ordens que extremiza f . Como ´e bem

(32)

As matrizes Hessianas para os estados ordenados SC [Eq. 1.4] e AFM [Eq. 1.6] puros s˜ao dadas por (H)M(s),∆s (s) =         am− asγms/us 0 0 0 am− asγms/us 0 0 0 am− asγms/us 0 0 0 −2as 0 0 0 0         e (H)M(m),∆s (m) =         0 0 0 0 0 0 0 −2am 0 0 as− amγms/um 0 0 0 0         ,

respectivamente. Uma vez que as < 0 (am < 0) na regi˜ao SC (AFM), e ainda, encontramos

numericamente que amus > asγms (asum > amγms) nesta mesma regi˜ao, conclui-se que H ´e

positivo-definida nas regi˜oes do estado ordenado puro SC (AFM).

Por outro lado, para o estado misto [Eqs. (1.8) e (1.9)] a matriz Hessiana ´e

(H)M(c),∆s (c) = 2         0 0 0 0 0 0 0 umM 2 z (c) γmsMz (c)|∆s (c)| γmsMz (c)|∆s (c)| us|∆s (c)|2 0 0 0 0         ,

que possui trˆes autovalores nulos [isso reflete a simetria de rota¸c˜ao SO(3) e a simetria global U (1) que s˜ao espontaneamente quebradas nesta fase ordenada] e outros dois autovalores que s˜ao dados por

umMz (c)2 + us|∆s (c)|2 ±

q

(umMz (c)2 − us|∆s (c)|2)2− 4γms2 Mz (c)2 |∆s (c)|2.

´

E f´acil mostrar que, para que a express˜ao com sinal inferior seja sempre positiva, deve-se ter usum > γms2 , ou seja Dms < 0. Portanto, o estado misto ´e um m´ınimo est´avel das equa¸c˜oes de

campo m´edio e, al´em disso, como j´a foi demonstrado, Dms< 0 implica que a energia livre nesta

solu¸c˜ao ´e menor que a energia livre de ambos os estados puros. Logo, conclui-se que o estado de coexistˆencia microsc´opica ´e um m´ınimo global de f e portanto o estado termodinˆamico est´avel do sistema.

At´e agora analisamos apenas a supercondutividade do tipo singleto. Entretanto, no estado de coexistˆencia microsc´opica dos estados AFM e SC, ambas as simetrias SO(3) e U (1) s˜ao

(33)

quebradas simultaneamente e em cada c´elula unit´aria da rede. Logo, a componente tripleto do estado supercondutor existe naturalmente. Assim, quando uma dire¸c˜ao preferencial para a magnetiza¸c˜ao ´e especificada, ou seja, h´a quebra espontˆanea da simetria de rota¸c˜ao no espa¸co de spins, os pares de Cooper s˜ao uma combina¸c˜ao de spin singleto e tripleto, pois o spin eletrˆonico n˜ao ´e mais um bom n´umero quˆantico. Entretanto, se a coexistˆencia ´e macrosc´opica ou n˜ao homogˆenea, as simetrias SO(3) e U (1) n˜ao s˜ao quebradas localmente. Portanto, os el´etrons se emparelham num estado do tipo singleto nas regi˜oes da amostra onde a simetria U (1) foi quebrada e, nas partes da amostra onde apenas a simetria SO(3) foi quebrada, n˜ao h´a supercondutividade. Na se¸c˜ao final deste cap´ıtulo iremos demonstrar como as componentes tripleto hck,sf−k−Q,s0i podem ser auto-consistentemente geradas na fase AFM+SC.

1.2.1

Componente tripleto

A componente tripleto com proje¸c˜ao nula de spin no eixo z ´e dada por ∆(0)t = −1 υ X k hfk+Q,↑c−k,↓i + hfk+Q,↓c−k,↑i 2 ,

e os valores esperados anˆomalos acima podem ser obtidos da matriz das fun¸c˜oes de Green ˆ

Gk,iωn =

1 iωn− ˆHk

. (1.35)

Para isso, precisamos inverter o resolvente 1.22. Na Se¸c˜ao A.1 do Apˆendice A mostramos essa invers˜ao, que leva ao seguinte resultado para a componente tripleto acima:

∆(0)t = − Z k M (∆s,f− ∆s,c)(ξc,k+ ξf,k+Q) 2(ω2 n+ E+,k2 )(ωn2+ E−,k2 ) = M ∆s 1 υ X k,a ξc,k+ ξf,k+Q

Ea,k(Ea,k2 − E−a,k2 )

tanh Ea,k 2T



. (1.36)

Note que na ´ultima linha nos restringimos ao regime ∆s,c = −∆s,f ≡ −∆s. O caso de

su-percondutividade s++ tem ∆(0)t ≡ 0. De fato, n˜ao deve haver uma componente tripleto neste estado pois as simetrias SO(3) e U (1) n˜ao s˜ao simultaneamente quebradas [veja, por exemplo, o diagrama de fase no painel da esquerda na Figura 1.4]. Por outro lado, no caso de super-condutividade s+−, se a condi¸c˜ao de nesting perfeito (ξ

c,k 6= −ξf,k+Q) n˜ao for satisfeita, ∆ (0) t ´e

auto-consistentemente gerada se ambos M e ∆s s˜ao n˜ao nulos. Ou seja, h´a naturalmente uma

componente tripleto do estado SC na fase de coexistˆencia microsc´opica AFM+SC. Entretanto, na fase SC dos diagramas de fases da Figura 1.6 apenas a componente singleto est´a presente, uma vez que nestas regi˜oes tem-se que M ≡ 0.

No pr´oximo cap´ıtulo iremos analisar a influˆencia da componente tripleto acima, bem como das componentes hck,↑f−k−Q,↑i e hck,↓f−k−Q,↓i, no diagrama de fases. Adotaremos a nota¸c˜ao

(34)

do vetor-d, introduzida por Balian e Werthamer [26], para caracterizar as trˆes componentes dos pares de Cooper no estado tripleto. Tamb´em iremos generalizar a magnetiza¸c˜ao alternada como um vetor em uma dire¸c˜ao arbitr´aria [na Eq. (1.16) M foi fixado na dire¸c˜ao z] a fim de analisar a rela¸c˜ao entre M e o vetor-d.

(35)

Cap´ıtulo 2

Coexistˆ

encia de antiferromagnetismo e

supercondutividade: inclus˜

ao de uma

componente tripleto

Neste cap´ıtulo generalizaremos o modelo que foi estudado no cap´ıtulo anterior (Cap. 1) para incluir uma magnetiza¸c˜ao alternada em uma dire¸c˜ao arbitr´aria, bem como incluiremos expli-citamente no modelo um canal de supercondutividade tripleto. Consideraremos agora uma Hamiltoniana com quatro termos

H = H0+ HAFM+ HsSC+ H t

SC, (2.1)

com H0 e HsSC dados pela Eqs. (1.15) e (1.17), respectivamente. O segundo termo, respons´avel

pelo aparecimento de antiferromagnetismo, ser´a modificado para HAFM = − Vm 2υ X k,k0 c†k,sσss0fk+Q,s0· f† k0+Q,σσσσ0ck0,σ0, (2.2)

na qual σss0 ´e o elemento (ss0) do vetor das matrizes Pauli. Lembre-se que a nota¸c˜ao de Einstein

para ´ındices repetidos de spin est´a sendo usada. Por fim o ´ultimo termo de H ´e dado por

Ht SC = − Vt 2υ X k,k0   ˆd · σiσy ss0  ˆd · σiσy† σσ0  fk+Q,s† c†−k,s0c−k0fk0+Q,σ0  + h.c.  ,

sendo Vt o acoplamento SC do tripleto. Note que a intera¸c˜ao de emparelhamento SC tripleto

tˆem um momento finito Q e ´e caracterizada por um vetor unit´ario ˆd = ( ˆdx, ˆdy, ˆdz)T. O spinor

ˆ

d·σiσypara pares de Cooper no estado tripleto ´e discutido nas Refs. [26, 60, 61] e foi introduzido

por Balian e Werthamer em 1963 [26] (veja tamb´em as Refs. [19, 27]). Deve-se frisar que mesmo na ausˆencia de Ht

SC, a supercondutividade do tipo tripleto ´e gerada

(36)

rota¸c˜ao de spin e os canais tripleto e singleto passam a se misturar quanticamente no estado de simetria quebrada. De fato, o aparecimento de hc−k,sfk+Q,s0i 6= 0 na fase de coexistˆencia foi

demonstrado explicitamente na subse¸c˜ao 1.2.1. Todavia, optamos por incluir explicitamente o canal tripleto para uma abordagem mais simplificada, j´a que estamos interessados na fenome-nologia da coexistˆencia de magnetismo e supercondutividade singleto e tripleto.

Os parˆametros de ordem SCs singletos para cada banda continuam dados pela Eq. (1.18). Por outro lado, generalizamos a magnetiza¸c˜ao alternada [Eq. (1.19)] para

M = −Vm 2υ X k σss0hf† k+Q,sck,s0i, (2.3) sendo M = (Mx, My, Mz) T

. Por fim, introduzimos o parˆametro de ordem supercondutor tri-pleto [19, 26, 27, 60] ∆t = − Vt 2υ X k hfk+Q,s(ˆd · σiσy) † ss0c−k,s0i, (2.4)

que diferentemente dos parˆametros de ordem supercondutores singletos, que tˆem momentos nulos e s˜ao formados por um par de el´etrons ou um par de buracos, emparelha um el´etron e um buraco com momento total finito igual a Q.

Considerando a aproxima¸c˜ao usual de campo m´edio temos que HAFM ≈ X k h c†k,s(M · σ)ss0fk+Q,s0 + h.c. i +2υ|M | 2 Vm , Hs SC ≈ X k  ∆s,cc † k,↑c † −k,↓+ ∆s,ff † k+Q,↑f † −k−Q,↓+ h.c.  − 2υRe(∆ ∗ s,f∆s,c) Vs e Ht SC ≈ − X k h ˆd · σiσy ss0∆tf † k+Q,sc † −k,s0 + h.c. i +2υ|∆t| 2 Vt .

Introduzindo a matriz do gap SC tripleto ˆ∆t = ˆd · σ iσy∆t e o spinor de Balian-Werthamer

de oito componentes ψk† = (c†k,↑, c†k,↓, c−k,↑, c−k,↓, f † k+Q,↑, f

k+Q,↓, f−k−Q,↑, f−k−Q,↓), podemos

es-crever a Hamiltoniana de campo m´edio total na seguinte forma compacta H ≈ HCM= 1 2 X k ψ†kHˆkψk+ Econd, (2.5) sendo Econd = 2υ h M2 Vm − Re(∆s,1∆∗s,2) Vs + |∆t|2 Vt i e ˆ Hk =       ξc,k12 ∆s,c(iσy) M · σ ∆ˆt −∆∗ s,c(iσy) −ξc,k12 − ˆ∆ † t − (M · σ) ∗ (M · σ)† − ˆ∆t ξf,k+Q12 ∆s,f(iσy) ˆ ∆†t − (M · σ)T −∆∗ s,f(iσy) −ξf,k+Q12       . (2.6)

Referências

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