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O GÊNERO DISCURSIVO APÓLOGO NA SALA DE AULA: UMA PROPOSTA DE ESTUDO E DE TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA

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O GÊNERO DISCURSIVO APÓLOGO NA SALA DE AULA: UMA PROPOSTA DE ESTUDO E DE TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA

Adriana Gisele Estevão (GP Leitura e Ensino/ G-CLCA-UENP/CJ) Patrícia Cristina de Oliveira Duarte (Orientadora-CLCA-UENP/CJ)

Resumo: Este trabalho, vinculado ao Grupo de Pesquisa Leitura e Ensino (UENP/CNPq), tem por objetivo apresentar uma proposta de ensino de língua portuguesa baseada nas reflexões teóricas sobre gêneros discursivos e análise linguística contextualizada. Para tanto, elegemos veicular, nesse trabalho, o gênero discursivo apólogo, que ainda é pouco abordado em sala de aula, o que faz com que os alunos, por desconhecimento, carreguem um pré-conceito acerca do gênero. Além disso, o gênero em pauta foi/é bastante confundido com outros gêneros, principalmente, a fábula. Nesse viés, faz-se necessário levantar as regularidades do gênero, juntamente com o contexto de produção. Focando o trabalho em análise linguística, realizamos, de maneira contextualizada, uma análise das marcas linguístico-enunciativas do referido gênero e elaboramos atividades sequenciadas, em consonância com o Plano de Trabalho Docente (Gasparin, 2009). A proposta de transposição didática objetiva contribuir para novas abordagens sobre o trabalho com a linguagem.

Palavras-chave: Gênero discursivo apólogo. Plano de trabalho docente. Análise linguística.

Considerações iniciais

Ao considerarmos a linguagem como forma de interação entre os seres e o mundo que os cerca, estamos considerando a assertiva bakhtiniana de que “todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem” (BAKHTIN, 2003, p. 261). Desse modo, faz-se necessário o desenvolvimento de práticas pedagógicas que atendam às reais necessidades do aluno ao comunicar-se de forma oral ou escrita.

Consoante tais pressupostos, vêm se desenvolvendo, no Brasil, desde os anos 1990, algumas transformações no ensino de língua portuguesa, no sentido de se estabelecer um processo de aprendizagem capaz de ampliar a capacidade sociocomunicativa dos alunos. Nesse viés, os PCNs (1998) apontam os gêneros discursivos como objetos de ensino de língua portuguesa, uma vez que possibilitam o desenvolvimento das práticas de leitura, análise linguística e produção textual.

Partindo dessas orientações, desenvolvemos, neste trabalho, uma proposta de análise linguística contextualizada e, para isso, elegemos o gênero discursivo apólogo, ainda pouco abordado em sala de aula, o que aponta para a necessidade de se levantar as regularidades do gênero.

Nossa proposta metodológica fundamenta-se na teoria dos gêneros (Bakhtin, 2003) e no Plano de Trabalho Docente – doravante PTD – (Gasparin, 2009), direcionando-se para a 5ª

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série (6º ano) do ensino fundamental. Entretanto, ressaltamos que, conforme a realidade do aluno e a complexidade da tarefa, o professor deve fazer as adaptações necessárias para que as atividades atendam aos objetivos propostos.

Gêneros discursivos e transposição didática

Segundo Bakhtin (2003), a língua se manifesta por meio de enunciados, orais ou escritos e, por isso, ele considera que o enunciado é a unidade da comunicação discursiva. O autor salienta que “cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, ao quais denominamos gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2003, p. 262).

Ao abordar a constituição dos gêneros, Bakhtin (2003) postula três aspectos caracterizadores: o conteúdo temático, ou seja, tudo que pode ser discutido em um gênero; o estilo, que diz respeito às marcas linguístico-enunciativas do gênero e a construção composicional que se remete ao arranjo, às formas de organização textual. Esses três elementos, associados às condições de produção (quem fala, para quem fala, com que finalidade, em que época, local e suporte), formam o todo do enunciado.

O teórico ainda estabelece uma diferenciação entre os gêneros, denominando gêneros primários os que se constituem nas interações diárias, espontâneas, como a réplica do diálogo cotidiano ou o bilhete. No entanto, os gêneros que se desenvolvem em situações mais complexas, os quais são mais desenvolvidos e organizados, como o romance e as pesquisas científicas, Bakhtin denominou gêneros secundários.

Além disso, é preciso ater-se ao fato de que nenhum gênero está sozinho: todo gênero pertence a um conjunto ideológico, denominado esfera comunicativa. Estas são divididas em esferas do cotidiano, que abarcam as esferas familiares, comunitárias, e as esferas dos sistemas ideológicos constituídos, abrangendo a ciência, a religião, a política, a arte, etc.

Sob tal enfoque, elegemos, para aqui veicular, o gênero discursivo apólogo.

Pertencente à esfera literária, que comporta os gêneros relacionados ao domínio social de cultura literária ficcional, o apólogo caracteriza-se por ser uma “narrativa alegórica e moral, cujos personagens são seres inanimados” (LAROUSSE, 2001, p. 58).

O referido gênero, comumente, é confundido com outros gêneros, já que “define-se como narrativa curta, não raro identificada com a fábula e a parábola, graças à moral explícita ou implícita, e à estrutura dramática que se fundamenta” (MOISÉS, 1999, p. 34). Entretanto, uma diferenciação entre parábola, apólogo e fábula pode ser feita a partir de um dos

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elementos da narrativa: o personagem, que, no gênero em pauta, “é protagonizado por seres inanimados (plantas, pedras, rios, agulha, relógios, moedas, estátuas, etc.), ao passo que a fábula conteria de preferência animais, e a parábola, seres humanos” (MOISÉS, 1999, p.34).

Ante o exposto, faz-se necessário levantar as regularidades do gênero em tela, de acordo com as dimensões propostas por Bakhtin (2003), juntamente com o contexto de produção. Tal levantamento permitiu delinear as fronteiras do gênero, bem como suas instabilidades. A partir disso, tornou-se possível a elaboração de um encaminhamento didático, seguindo o Plano de Trabalho Docente (Gasparin, 2009).

O autor propõe uma metodologia de ensino-aprendizagem fundamentada na Pedagogia Histórico-Crítica, a qual, em uma perspectiva teórico-prática, visa à abordagem dos conteúdos de acordo com a sua finalidade social. A estrutura de base do PTD segue os passos discriminados no quadro a seguir (GASPARIN, 2003, p. 163 – adaptação de LUPPI, 2012, com acréscimos de PERFEITO.):

PRÁTICA Nível de

desenvolvimentoatual

TEORIA

Zona de desenvolvimento proximal

PRÁTICA Novo nível de Desenvolvimento

Atual Prática Social Inicial

do Conteúdo

Problematização Instrumentalização Catarse Prática Social Final do Conteúdo 1) Apresentação do

gênero discursivo.

2) Vivência social do gênero discursivo:

a) O que o aluno já sabe: visão da totalidade empírica.

Motivação.

b) Desafio: o que gostaria de saber a mais?

1)Identificação e discussão sobre os principais problemas postos pela prática social e pelo gênero discursivo.

2)

Características do gênero discursivo, relacionadas às suas condições de produção, a serem

trabalhadas, com ênfase nas marcas

linguístico- enunciativas.

1) Ações docentes e discentes para construção do conhecimento, a assimilação de um gênero discursivo.

Relação aluno x gênero discursivo pela mediação docente.

2) Recursos humanos e materiais.

1) Elaboração teórica da síntese, da nova postura mental.

Construção da nova totalidade concreta.

2)Expressão da síntese.

Avaliação:

deve atender às dimensões trabalhadas e aos objetivos.

1) Intenções do aluno. Análise, leitura e/ou produção do gênero discursivo estudado;

compreensão, veiculação de marcas linguístico-

enunciativas e de elementos de produção de efeitos de sentido do texto e de aspectos formais e de coerência, relacionados à situação de uso 2) Ações do

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3) Relação dos temas dos enunciados concretos abordados em suas (ou com outras)

dimensões (ou esferas):

artístico- literária, midiática, acadêmica, religiosa, publicitária, jurídica ,

política, escolar etc.

aluno. Nova prática social no tocante ao

gênero discursivo abordado, em função da transformação social.

QUADRO 1: Estrutura do Plano de Trabalho Docente.

A proposta metodológica versada por Gasparin (2009) sugere que os conteúdos sejam trabalhados de maneira contextualizada, superando o ensino fragmentado e contribuindo para um saber que se inicie na prática, passe pela teoria e retorne novamente à prática, ultrapassando, portanto, os limites escolares e alcançando dimensões políticas e sociais.

As condições de produção no gênero apólogo

De origem remota e obscura, o gênero apólogo é muito usado, ainda hoje, nas mais diferentes culturas.

Acredita-se que o gênero tenha origem oriental, todavia, não há como precisar sua origem. Sabe-se que o gênero é muito antigo, sendo utilizado, originalmente, por meio da oralidade, com a finalidade de transmitir, alegoricamente, lições de moral e ética. Nesse sentido, podemos considerar que o apólogo tenha surgido de modo natural, impulsionado pela necessidade comunicativa dos homens em transmitir ensinamentos sem fazer referência direta aos seres humanos dos quais se desejava criticar ou aconselhar.

Segundo a Wikipédia, a produção do gênero foi bastante profícua na Espanha, no século XVII. Os

apólogos dos Sonhos , de Quevedo, e o Colóquio dos Cachorros, de Cervantes, são representativos desse

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período.

Na Bíblia Sagrada também há um registro do gênero em foco, trata-se do texto Apólogo de Jotão, localizado no livro de Juízes 9:7-21.

Autores brasileiros também produziram apólogos. Entre eles, podemos citar João Vicente Pimentel Maldonado, Apólogos (1820); Machado de Assis, Um Apólogo (conhecido por A Agulha e a Linha), pertencente ao volume Várias Histórias (1896) e Coelho Neto, Apólogos (1904).

Em sua origem, era muito difícil delimitar o produtor do gênero, por isso, ainda hoje, há apólogos de autoria desconhecida. No entanto, como visto anteriormente, há vários apólogos com autoria definida. Em termos gerais, postulamos que o sujeito-enunciador desse gênero assume o objetivo de criar uma história ficcional para retratar comportamentos humanos que precisam ser destacados e revistos.

Não obstante, durante muito tempo, tenha sido utilizado de forma oral, hoje, o gênero pode ser veiculado em livros ou sites, especialmente, livros didáticos e sites relacionados ao público infanto-juvenil.

As dimensões bakhtinianas no apólogo: o conteúdo temático, a construção composicional e as marcas linguístico-enunciativas

No que diz respeito à construção composicional, o gênero caracteriza-se por ser uma narrativa curta que se constitui por meio da alegoria, ilustrando um ensinamento por intermédio de seres inanimados, como objetos e utensílios domésticos e de trabalho. Possui, portanto, um caráter moralizante que o aproxima da fábula e da parábola. Nesse sentido, seu conteúdo temático é bastante variado, pois há diferentes comportamentos humanos.

Ao abordar valores de ordem universal, os espaços que compõem essas narrativas são lugares comuns a qualquer parte do mundo (carpintaria, sertão, cozinha, varanda, oficina), assim como o tempo que, embora no pretérito, representa uma situação que “aconteceu sem época definida” e que pode ainda voltar a acontecer. Os textos pertencentes ao gênero em apreço, geralmente, são escritos em prosa, mas, podem, também, aparecer em versos.

Em relação às marcas linguístico-enunciativas, caracterizadoras do estilo, destacam- se, geralmente, no apólogo, o predomínio da linguagem formal e a presença de adjetivação constante, posto que aborda vícios e virtudes humanas. Por apresentar uma história narrada do plano ficcional, o tempo verbal utilizado é o pretérito perfeito do indicativo e, há também, em muitos casos, o uso do discurso direto. Todavia, em alguns textos pertencentes ao mencionado gênero, o narrador vale-se do discurso indireto para reproduzir as falas dos personagens.

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Plano de trabalho docente para o gênero apólogo

Nossa proposta de trabalho desenvolvida a seguir procura vincular os conteúdos ensinados/aprendidos em sala de aula com a realidade social dos alunos. Por essa vertente, procuramos elaborar um trabalho que envolva leitura, escrita e trabalho com a gramática de maneira contextualizada.

As atividades que seguem, vale ressaltar, são sugestões desenvolvidas para serem trabalhadas por um período de seis a oito aulas e podem ser modificadas a qualquer momento visando sempre atender às reais necessidades dos alunos.

I-Prática social dos conteúdos 1) Anúncio dos conteúdos:

Preparando a abordagem do assunto. (Atividades para serem desenvolvidas oralmente)

Ler e ouvir histórias é muito bom. Com certeza, vocês já leram e ouviram muitas histórias em que os personagens não são seres humanos, pessoas, mas seres inanimados, como objetos e utensílios de trabalho. Vocês se lembram de histórias assim? Quem é capaz de contar para a turma uma dessas histórias que ouviu ou leu?

Alguém observou que engraçados são esses personagens? (Listar os personagens mencionados)

Vocês notaram que nessas histórias lembradas pela turma, os personagens inanimados, ou seja, sem vida, têm características de seres humanos, eles pensam, falam, andam?

(Certamente, os alunos se lembrarão com mais facilidade das fábulas, citando os personagens animais. É importante que o professor coloque no quadro os personagens apontados para que, posteriormente, quando os alunos já tiverem um conhecimento maior acerca das particularidades do gênero apólogo, eles possam diferenciar da fábula. Entretanto, é muito importante não tocar no gênero fábula nesse momento para que não haja uma confusão na cabeça dos alunos).

Pessoal, das histórias narradas pelos colegas, vamos, por enquanto, ater-nos somente àquelas que possuem os personagens representados por objetos de nosso uso diário e utensílios de trabalho. Vocês sabem como são chamadas essas histórias?

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Após essa motivação inicial que serviu para contextualizar o gênero, expor o conteúdo:

- O gênero discursivo apólogo;

- O arranjo textual dos apólogos;

- As marcas linguístico-enunciativas, que contribuem para a construção de efeitos de sentido do texto.

- Gênero discursivo apólogo Assembleia na carpintaria.

2) Vivência cotidiana dos conteúdos (A partir daqui as atividades deverão ser feitas de maneira escrita e individualmente, para que o professor possa saber o que o aluno sabe com relação ao conteúdo, ou seja, o gênero apólogo).

a) Agora que você já leu o apólogo Assembleia na carpintaria, você sabe o que significa a palavra apólogo?

b) Alguém já havia lhe apresentado um apólogo, ou seja, você sabia que esse tipo de história levava esse nome?

c) Nós vimos que nos apólogos os personagens são seres inanimados, geralmente, objetos. Todavia, existem algumas histórias que apresentam animais como personagens; tais histórias são chamadas de fábulas. Assinale as sentenças que apresentem personagens característicos de apólogos:

( ) Certo dia, a tampa e a panela enquanto tratavam dos seus afazeres, conversavam...

( ) A cigarra e a formiga...

( ) Como se achava mais rápida que a tartaruga, a dona lebre resolveu....

( ) A linha e a agulha...

d) Além de engraçados, você deve ter percebido que os apólogos objetivam nos passar um ensinamento. Por meio dos personagens inanimados, eles abordam vícios e virtudes humanas, tendo sempre uma moral. Você sabe em que consiste essa moral que os apólogos em geral apresentam?

e) Por que você acha que as pessoas escrevem textos desse tipo?

II-Problematização Dimensão conceitual

-Que tal pesquisar, junto com seus colegas, o vocábulo “apólogo” no dicionário?

-Vamos fazer também uma pesquisa na internet a respeito do gênero apólogo.

(Seria interessante que o professor conseguisse levar os alunos até ao laboratório de informática para que possam efetuar essa pesquisa. Caso não seja possível, o professor pode pedir como tarefa de casa).

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-Feita a pesquisa, vamos agora discutir em um painel aberto as conclusões que chegamos com relação ao vocábulo apólogo.

(É importante que todos os alunos apresentem suas pesquisas e, com a mediação do professor, cheguem à conclusão da definição do referido gênero).

Dimensão social

-Por meio de situações e personagens um tanto engraçados, os apólogos transmitem lições de vida muito importantes. Por que você acha que os apólogos foram criados? Qual a importância deles na sociedade? Será que fica mais fácil para as pessoas entenderem certos valores humanos dessa forma?

Dimensão política

- Vimos que uma das características dos apólogos é apresentar uma moral. Essa moral, geralmente, é baseada em algum provérbio, ditado popular ou frase-feita. Você considera que a maioria dos apólogos pode ser compreendida facilmente por uma pessoa leiga?

III- Instrumentalização

(Essa etapa da proposta envolve atividades de leitura e análise linguística. Para isso, desenvolvemos algumas questões interpretativas do apólogo Assembleia na carpintaria).

1) Atividades que abordam o conteúdo temático

(Nesse momento, é importante que o professor motive a turma a fazer uma leitura dramatizada, simulando uma Assembleia na carpintaria e pedindo para que os alunos interpretem os personagens. Essa atividade, além de se mostrar uma importante ferramenta para uma melhor compreensão do texto, contribui para tornar a aula mais interessante pra o aluno. Para isso, é importante que os alunos saibam o que é uma assembleia).

a) Certamente, vocês já devem ter estudado em outras disciplinas o que é uma assembleia. O que vocês entendem por assembleia?

b) Segundo o dicionário Aurélio, assembleia consiste em uma reunião de pessoas para um determinado fim. Desse modo, podemos concluir que uma assembleia é uma reunião de várias pessoas que têm um problema em comum e que desejam resolvê- lo. Qual era o problema que os participantes da Assembleia na carpintaria procuravam solucionar?

c) Quais os participantes da assembleia na carpintaria?

d) Quem era o presidente da assembleia e por que teve que renunciar?

e) Qual a causa da expulsão do parafuso?

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f) Por ser muito áspera no tratamento com os demais, a Lixa foi expulsa, mas ela também expulsou alguém. Que condição ela impôs para sair?

g) Quando o martelo, a lixa, o metro e o parafuso estavam no auge da discussão, alguém chegou e deu um jeito na confusão. Quem foi essa pessoa e o que ela fez?

h) Ao deixar a carpintaria, o carpinteiro deu lugar a uma nova discussão. Quem tomou a palavra nesse momento?

i) Qual lição o serrote conseguiu transmitir a seus amigos?

(Após responder essas questões interpretativas, veremos se houve a absorção do conteúdo).

j) Qual o tema (assunto) abordado nesse apólogo? Discuta com seus colegas acerca da moral passada pelo texto.

k) Você acha que todos os apólogos tratam de um mesmo assunto? Quais assuntos podem ser abordados em um apólogo?

2) Atividades sobre a construção composicional (arranjo, organização textual) do gênero.

a) Já é de seu conhecimento que a história Assembleia na carpintaria é um apólogo.

Você percebeu que é um texto escrito em prosa, ou seja, escrito em linhas corridas.

Você deve ter percebido também que, como toda história, ela apresenta um narrador, que é a pessoa que conta a história. Esse narrador pode ser alguém que conta a história sem participar dela, apenas observando os fatos e narrando, sendo chamado de narrador-observador, ou também pode ser aquele que conta e participa da história, o narrador-personagem. Qual o tipo de narrador desse apólogo?

b) Quando vamos contar uma história, podemos narrar fielmente as falas dos personagens ou podemos, como narradores, reproduzir essas falas. Ao reproduzir as falas dos personagens, dando voz aos próprios personagens, o narrador faz uso do discurso direto e, para isso, se utiliza de diálogos, verbos elocucionais, aspas. Em contrapartida, quando o próprio narrador reproduz o que os personagens disseram, temos o discurso indireto livre e, nesse caso, não há a necessidade de alguns sinais de pontuação como os dois pontos e o travessão. Identifique, nos trechos abaixo, retirados de Assembleia na carpintaria, a presença desses dois tipos de discurso:

O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse expulso o parafuso, dizendo que ele dava muitas voltas para conseguir algo.

Diante do ataque, o parafuso concordou, mas por sua vez pediu a

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expulsão da lixa. Dizia que ela era muito áspera no tratamento com os demais, entrando sempre em atritos.

Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembleia reativou a discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse:

“Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha com nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Assim, não pensemos em nossos pontos fracos, e concentremo-nos em nossos pontos fortes”.

c) No apólogo que estamos trabalhando podemos encontrar datas e lugares exatos?

Por quê?

d) Sabemos que, ao tratar de valores universais, o apólogo apresenta uma moral. Você teve dificuldades para encontrar essa moral? Reproduza-a, com suas palavras.

3) Atividades que contemplam as marcas linguístico- enunciativas (dimensão verbal) a) Adjetivo é a palavra usada para caracterizar o substantivo, atribuindo-lhe um

estado, um modo de ser ou um atributo. Por exemplo: na frase “A carpintaria é espaçosa e organizada”, temos as palavras espaçosa e organizada caracterizando, dando qualidades para a carpintaria e, desempenhando, desse modo, a função de adjetivos. Além de caracterizar, os adjetivos também atribuem um efeito de sentido especial à frase. Identifique o(s) adjetivo(s) presente(s) nas sentenças retiradas do apólogo Assembleia na carpintaria e explique o efeito de sentido produzido por ele(s):

- “Finalmente, a rústica madeira se transformou num fino móvel”.

-“Contam que na carpintaria, houve uma vez uma estranha assembleia”.

-“A assembleia entendeu que o martelo era forte”.

-“Quando se busca com sinceridade os pontos fortes dos outros, florescem, as melhores conquistas humanas”.

b) Agora, utilize adjetivos para caracterizar como você é. Comece assim: Sou um menino (a)...

c) Provavelmente, você já estudou os verbos. No entanto, gostaria de relembrar essa lição? Então, preste atenção: Verbos são palavras que podemos conjugar, isto é, mudar de pessoa (exemplo: verbo juntar – eu juntei, O carpinteiro juntou, nós juntamos, eles juntaram etc.). Os verbos também servem para indicar tempo

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(exemplo: presente > eu junto, – futuro > eu juntarei; passado > eu juntei / eu juntava/ eu juntara).

Observe o seguinte trecho:

“Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembleia reativou a discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse:...”

Você consegue identificar os verbos presentes nesse pequeno trecho? Anote-os em seu caderno.

d) Dentre os verbos anotados, qual tempo verbal mais aparece (os verbos estão no presente, passado ou futuro)?

e) Agora, explique por que esse tempo verbal aparece bastante nesse trecho.

f) As aspas são marcas linguísticas utilizadas, geralmente, para destacar algum termo da oração ou para indicar que se trata de palavra estrangeira ou gíria. No entanto, também podem apresentar outras funções. Observe o fragmento abaixo e explique qual a função das aspas.

“Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha com nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Assim, não pensemos em nossos pontos fracos, e concentremo-nos em nossos pontos fortes.”

IV-Catarse

Agora é a sua vez! Colocando em prática os seus conhecimentos aprimorados nessas últimas aulas, que tal produzir um apólogo? Sim, com certeza, você é capaz!

Você já sabe as características e particularidades do gênero, portanto, já pode começar a escrever. Se quiser, você pode aproveitar a ideia da assembleia e organizar um apólogo para resolver algum problema. Você também pode escrever sobre outra situação que queira! Dê asas a sua imaginação! Não se esqueça de que um apólogo trará sempre uma situação moralizante e, para não deixar nada de fora complete as seguintes frases:

-Em um apólogo os personagens são

sempre...

-O espaço e o

tempo...

- O tempo verbal predominante é o ...

- Agora é com você, pode iniciar o seu apólogo!

V – Prática Social Final

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De acordo com a proposta metodológica de Gasparin (2009), a prática social final do conteúdo, nesse caso, o aprendizado do gênero apólogo, não poderá ser aferido, em sua totalidade, por meio de atividades escolares. Isso quer dizer que é na utilização da linguagem, em suas infinitas possibilidades, que o aluno demonstrará que realmente aprendeu as características do gênero em foco, evidenciando, também, que sabe utilizar, de maneira adequada, esse tipo de gênero.

Considerações finais

Ao entendermos que as práticas sociais da linguagem materializam-se por meio dos gêneros, acreditamos que se faz necessário um trabalho que, a partir das atividades integradas de leitura, produção e análise linguística, possa aproximar o aluno das diferentes situações de uso da linguagem.

Além disso, quando elegemos veicular, neste trabalho, um gênero da esfera literária procuramos proporcionar ao aluno do ensino fundamental uma maior aproximação com textos pertencentes a essa esfera, principalmente pelo fato de o professor, em muitos casos, utilizá- los como pretextos para um ensino gramatical descontextualizado.

Nesse contexto, consideramos que nossa proposta de análise linguística contextualizada pode trazer contribuições ao ensino-aprendizagem de língua portuguesa, já que aponta para novas possibilidades de abordagens teórico-práticas em sala de aula.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Brasília. Secretaria de Educação Fundamental, 1998.

GASPARIN, J. L. Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. Campinas: Autores Associados, 2009.

LAROUSSE, Ática. Dicionário de Língua portuguesa. Paris: Larousse/ São Paulo: Ática, 2001, 1047 p.

LUPPI, Sandra Elaine. Uma experiência de formação continuada: o ensino do gênero discursivo resumo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem.

Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas. Universidade Estadual de Londrina, 2012.

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MOISÉS, Massaud. Dicionário de teoria literária. São Paulo: Cultrix, 1999.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação - SEED. Diretrizes curriculares de Língua Portuguesa para a educação básica. Curitiba, 2008.

Anexos

Assembleia na carpintaria (Autor desconhecido)

Contam que na carpintaria houve uma vez uma estranha assembleia. Foi uma reunião das ferramentas para acertar suas diferenças. O martelo exerceu a presidência, mas os participantes lhe notificaram que teria que renunciar. A causa? Fazia demasiado barulho e, além do mais, passava todo o tempo golpeando. O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse expulso o parafuso, dizendo que ele dava muitas voltas para conseguir algo.

Diante do ataque, o parafuso concordou, mas por sua vez, pediu a expulsão da lixa.

Dizia que ela era muito áspera no tratamento com os demais. A lixa acatou, com a condição de que se expulsasse a trena, que sempre media os outros segundo a sua medida, como se fora a única perfeita.

Nesse momento entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou o seu trabalho.

Utilizou o martelo, a lixa, a trena e o parafuso. Finalmente, a rústica madeira se converteu num fino móvel. Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembleia reativou a discussão.

Foi então que o serrote tomou a palavra e disse:

-Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha com nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Assim, não pensemos em nossos pontos fracos, e concentremo-nos em nossos pontos fortes.

A assembleia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limar e afinar asperezas e a trena era precisa e exata. Sentiram-se então como uma equipe capaz de produzir móveis de qualidade. Sentiram alegria pela oportunidade de trabalhar juntos.

Ocorre o mesmo com os seres humanos. Quando uma pessoa busca defeitos em outra, a situação torna-se tensa e negativa. Ao contrário, quando se busca com sinceridade os pontos fortes dos outros, florescem as melhores conquistas humanas.

É fácil encontrar defeitos. Qualquer um pode fazê-lo. Mas encontrar qualidades, isto é para os sábios...

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Para citar este artigo:

ESTEVÃO, Adriana Gisele. O gênero discursivo apólogo em sala de aula: uma proposta de estudo e de transposição didática. In: XII CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2012. Anais. ..UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências Humanas e da Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2012.

ISSN – 18083579. p. 371 – 384.

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