TEORIA GERAL DOS RECURSOS
- Relação com a coisa julgada:
O Recurso obsta a constituição da eficácia da coisa julgada, impede a formação da coisa julgada.
Nem todo meio para impugnação das resoluções judiciais constitui recurso. 1 - O Recurso é voluntário:
O recurso possui a característica da voluntariedade.
Reexame necessário – Recurso ex offico (art. 475 CPC) a sentença se submete a uma condição suspensiva. É ato sujeito a condição para emanar efeitos. A sentença é válida e existente, entretanto não é eficaz. Não se trataria de recurso, mas de condição de eficácia da sentença.2
Questão referente ao reexame necessário – embora não tenha natureza recursal aplica-se a Súmula 45 do STJ.
Súmula 45 do STJ: “No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública”
- O Recurso visa a reforma ou invalidação:
O Recurso visa a reforma da decisão judicial quando está presente o chamado error in judicando, ou seja, decisão injusta no que tange a sua essência. Por exemplo: equivocada interpretação de um depoimento, documento que não foi observado e valorado, entendeu-se aplicável norma jurídica impertinente à espécie, considerou-se vigente a lei que já não vigorava.
O Recurso visa a invalidação da decisão judicial quando está presente o chamado error in procedendo, em regra, vício processual, vícios relativos à própria sentença, leva a cassação da decisão, a fim de que outra seja proferida pelo mesmo órgão do qual emanou – supressão de um grau de jurisdição.
Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
§ 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.
§ 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
§ 3o Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 2001)
1 Araken de Assis.
2 Nelson Nery Junior.
- O Recurso visa o esclarecimento ou integração da decisão:
Esclarecimento ou integração da decisão efetivado pelos embargos de declaração – obscuridade, contradição ou omissão. Integra, esclarece a decisão. Via de regra, embargos de declaração dos atos processuais com cunho decisório, quais sejam, decisão interlocutória e sentença.
Art. 504 do CPC: “Dos despachos não cabe recurso”.
Princípios Fundamentais do Recurso
Princípio do Duplo Grau de Jurisdição
Princípio informativo do processo. É exercido no mesmo processo. De regra, funda-se no julgamento pela hierarquia superior e não propriamente na qualidade do julgado. É previsão, não configurando direito fundamental à ampla defesa.
Todo ato do juiz que possa prejudicar um direito ou um interesse da parte deve ser recorrível, como meio de evitar ou emendar os erros e falhas que são inerentes aos julgamentos humanos.
O princípio da recorribilidade pressupõe a dualidade de instâncias. Possibilidade de provocar o reexame da matéria impugnada.
Não tendo previsão explícita na Constituição Federal, sua aplicação não é ilimitada, ou seja, pode o legislador infraconstitucional limitar a aplicação do princípio do duplo grau.
Princípio da Taxatividade
Somente os Recursos previstos em lei são admitidos.
De regra, temos como Recursos em um rol taxativo e não exemplificativo, aqueles definidos no art. 496 do CPC, a saber:
Art. 496. São cabíveis os seguintes recursos:
I - apelação;
II - agravo;
III - embargos infringentes;
IV - embargos de declaração;
V - recurso ordinário;
Vl - recurso especial;
Vll - recurso extraordinário;
VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.
Nesta linha, ‘pedido de reconsideração’ não é recurso, por não ter base legal, ofendendo o princípio da taxatividade, não tendo força para suspender ou interromper o prazo recursal.
Assim, são recursos “os meios impugnativos assim denominados e regulados na lei processual”, em numerus clausus, ou seja, em rol exaustivo.3
3 Nelson Nery Junior.
Princípio da Unicidade Recursal ou Unirrecorribilidade
É cabível apenas um tipo de recurso de cada decisão judicial. Evidentemente ocorrendo sucumbência recíproca, cada parte pode intentar o seu recurso específico.
Princípio da Fungibilidade
O atual CPC não tem norma expressa consagrando o princípio da fungibilidade.
É o princípio pelo qual se permite a troca de um recurso por outro: o tribunal pode conhecer do recurso erroneamente interposto.
Por dúvida objetiva deve entender-se a divergência existente na doutrina e/ou jurisprudência sobre o recurso correto cabível contra determinado pronunciamento judicial.
A adoção do princípio da fungibilidade exige sejam presentes: a) dúvida objetiva sobre qual o recurso a ser interposto; b) inexistência de erro grosseiro, que se dá quando se interpõe recurso errado quando o correto encontre-se expressamente indicado na lei e sobre o qual não se opõe dúvida; c) que o recurso erroneamente interposto tenha sido agitado no prazo do que se pretende transforma-lo (RSTJ 58/209)
Princípio da Proibição da Reformatio in Pejus – Não reforma para pior
Consiste na proibição dada pelo ordenamento recursal, no que tange à reforma da decisão atacada em prejuízo do recorrente e em benefício do recorrido.
Sendo a decisão favorável em parte a um dos litigantes e em outra parte a outro litigante, poderão ambos interpor recursos; nesse caso, não se há que falar em reformatio in pejus, porque o tribunal poderá dar provimento ao recurso do autor ou do réu ou negar provimento a ambos, nos limites do recursos interpostos.
Uma exceção a ser analisada é o próprio ‘efeito translativo do recurso’, onde o Tribunal recebendo o processo passa a ter jurisdição sobre ele. Nesta forma, pode considerar as matérias constantes do art.
301 do CPC, pois estas são de ordem pública, matérias que o juiz deve conhecer de ofício, não se operando a preclusão.4
Admissibilidade e Mérito dos Recursos
Uma vez interposto o recurso, dois tipos de exames são realizados: a admissibilidade e o mérito. Apenas após estarem preenchidos os requisitos de admissibilidade, entra-se no juízo de mérito.
4 Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar:
I - inexistência ou nulidade da citação;
II - incompetência absoluta;
III - inépcia da petição inicial;
IV - perempção;
V - litispendência;
Vl - coisa julgada;
VII - conexão;
Vlll - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
IX - convenção de arbitragem;
X - carência de ação;
Xl - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar
§ 4o Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício da matéria enumerada neste artigo.
O juízo de admissibilidade tem relação com o ‘conhecimento’ ou ‘não-conhecimento’ do recurso.
Após o conhecimento, reconhecendo a admissibilidade do recurso, entrará no ‘provimento’ (total ou parcial) e o ‘improvimento’ do recurso.
Efeito dos Recursos
José Carlos Barbosa Moreira assim define: “Todos os recursos admissíveis produzem um efeito constante e comum, que é o de obstar, uma vez interpostos, ao trânsito em julgado da decisão impugnada”. Efeito suspensivo diz respeito à eficácia da decisão e não à formação da coisa julgada.
EFEITO DEVOLUTIVO
De regra, todos os recursos tem efeito devolutivo.
Segundo boa parte da doutrina, não se mostra adequado falar em efeito devolutivo nos embargos de declaração, porque quem tem competência para julgar o recurso é o próprio órgão a quo.
Sendo o recurso recebido no efeito meramente devolutivo, verifica-se a possibilidade de execução provisória, mediante extração de carta de sentença, desde que observados os preceitos contidos no art.
475-O do CPC.
Art. 505 CPC: A sentença pode ser impugnada no todo ou em parte.
Assim, o recurso devolve ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada, ou seja, aqueles pontos que não foram impugnados no recurso tornam-se preclusos e não serão reavaliados pelo Tribunal, pois juridicamente a parte concordou com estes.
Exceção a esta regra, observamos no chamado EFEITO TRANSLATIVO do recurso, onde o juízo ad quem, quando recebe o recurso, deve conhecer das matérias de ordem pública, afetas ao exercício jurisdicional.
Assim, mesmo que as partes não tenham alegado as matérias contempladas, os julgadores conhecem de ofício pelo EFEITO TRANSLATIVO DOS RECURSOS, art. 301 do CPC.
Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.
EFEITO SUSPENSIVO
O efeito suspensivo diz respeito à suspensão da eficácia da decisão e não da formação da coisa julgada. A apelação possui efeito suspensivo natural, sendo da própria essência da apelação o recebimento no duplo efeito, devolutivo e suspensivo.
Art. 497. O recurso extraordinário e o recurso especial não impedem a execução da sentença; a interposição do agravo de instrumento não obsta o andamento do processo, ressalvado o disposto no art.
558 desta Lei.
Legitimidade para Recorrer
Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público.
§ 1o Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial.
§ 2o O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei.
Recurso Adesivo
Art. 500. Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes:
I - será interposto perante a autoridade competente para admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe para responder;
II - será admissível na apelação, nos embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial;
III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto.
Parágrafo único. Ao recurso adesivo se aplicam as mesmas regras do recurso independente, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior.
Desistência/Renúncia
Art. 501. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso.
Art. 502. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte.
Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não poderá recorrer.
Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um ato incompatível com a vontade de recorrer.
Prazo
Art. 506. O prazo para a interposição do recurso, aplicável em todos os casos o disposto no art. 184 e seus parágrafos, contar-se-á da data:
I - da leitura da sentença em audiência;
II - da intimação às partes, quando a sentença não for proferida em audiência;
III - da publicação do dispositivo do acórdão no órgão oficial. (Redação dada pela Lei nº 11.276, de 2006)
Parágrafo único. No prazo para a interposição do recurso, a petição será protocolada em cartório ou segundo a norma de organização judiciária, ressalvado o disposto no § 2o do art. 525 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.276, de 2006)
Art. 507. Se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado, ou ocorrer motivo de força maior, que suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem começará a correr novamente depois da intimação.
Art. 508. Na apelação, nos embargos infringentes, no recurso ordinário, no recurso especial, no recurso extraordinário e nos embargos de divergência, o prazo para interpor e para responder é de 15 (quinze) dias.
Preparo
Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.
§ 1o São dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.
§ 2o A insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o recorrente, intimado, não vier a supri-lo no prazo de cinco dias.
Casos Específicos
Prazo para o Resp e Rext – Embargos Infringentes
Art. 498. Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento por maioria de votos e julgamento unânime, e forem interpostos embargos infringentes, o prazo para recurso extraordinário ou recurso especial, relativamente ao julgamento unânime, ficará sobrestado até a intimação da decisão nos embargos. (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 2001)
Parágrafo único. Quando não forem interpostos embargos infringentes, o prazo relativo à parte unânime da decisão terá como dia de início aquele em que transitar em julgado a decisão por maioria de votos.
Litisconsórcio
Art. 509. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses.
Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um devedor aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao credor Ihes forem comuns.
Art. 510. Transitado em julgado o acórdão, o escrivão, ou secretário, independentemente de despacho, providenciará a baixa dos autos ao juízo de origem, no prazo de 5 (cinco) dias.
QUESTÕES