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Televisão: uma babá eletrônica que influencia o comportamento infantil?

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Academic year: 2022

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Televisão: uma babá eletrônica que influencia o comportamento infantil?

Marcia Luciana Braun

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- Berenice Gonçalves Hackmann

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RESUMO

Este texto aborda a presença marcante da televisão no contexto familiar, pro- piciando a reflexão sobre o espaço que ela vem ocupando, seja como entretenimento, seja como meio de informação ou, ainda, como forma de construção de conhecimentos.

A pesquisa, de cunho qualita"vo, busca a compreensão e a interpretação sobre como a televisão, enquanto cuidadora de crianças de três a quatro anos, pode influenciar o com- portamento infan"l. Os dados foram colhidos por meio de entrevistas semiestruturadas e envolveram seis mães de crianças da citada faixa etária. A pesquisa apontou que a televisão, de forma grada"va, vem ocupando lugar dentro da família e que, no dia a dia, a residência de cada mãe entrevistada “ganha” uma babá eletrônica enquanto ela realiza as lidas domés"cas. Verificou-se que todas as colaboradoras acreditam que a TV pode influenciar o comportamento dos filhos, que, por exemplo, passam a solicitar a compra de produtos supérfluos anunciados e a imitar personagens diversos. Por fim, ressalta-se a importância de a família colocar limites frente à programação assis"da pelos filhos, promovendo diálogos que fortaleçam os laços afe"vos, e de, junto com os professores, conhecer a programação a que a criança assiste, para que possa contribuir com ações que levem a aprendizagens decorrentes do uso saudável da televisão.

Palavras-chave: Televisão. Babá eletrônica. Família. Educação infan"l.

1 INTRODUÇÃO

A presença marcante da televisão no contexto familiar torna importante pensar no espaço que ela vem ocupando, seja como entretenimento, seja como meio de infor- mação ou, ainda, como forma de construir conhecimentos. Desse modo, pretendeu-se descobrir se a TV pode influenciar o comportamento de crianças de 3 a 4 anos.

O mo"vo que levou a autora a inves"gar esse assunto foi a observação feita numa escola de educação infan"l que atende crianças que se situam na referida faixa, onde as mães, ao retornarem para buscá-las, traziam consigo vários DVDs que, possivelmen- te, seriam u"lizados como babá eletrônica para que conseguissem realizar os trabalhos

1

Graduada em Pedagogia - Habilitação em Anos Iniciais do Ensino Fundamental - Faculdades Integradas de Taquara - Faccat.

marcialc@brturbo.com.br.

2

Professora das Faculdades Integradas de Taquara - Faccat e orientadora do trabalho. Doutora em Educação pela Pon"$cia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Pucrs. bere@faccat.br.

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domés"cos. Levando em consideração a forma como a TV está sendo u"lizada pela so- ciedade, ques"ona-se se ela pode influenciar o comportamento das crianças nos mo- mentos em que as mães estão envolvidas com outras tarefas domés"cas, bem como que consequencias ela pode produzir no desenvolvimento infan"l. Também se ques"ona se as mães devem ou não escolher a programação a que as crianças assistem e como deve acontecer esse "po de seleção.

Par"u-se, então, do problema “A televisão, como cuidadora de crianças de 3 a 4 anos, influencia o comportamento infan"l?”, que desencadeou o obje"vo geral deste estudo: compreender se a televisão, como cuidadora de crianças de 3 a 4 anos, pode influenciar o comportamento infan"l. Quanto aos obje"vos específicos, estabeleceu-se:

verificar se crianças de 3 a 4 anos assistem, em casa, a programas televisivos e/ou a DVDs e em que proporção ocorre essa ação; inves"gar se há controle, pela mãe da crian- ça de 3 a 4 anos, da programação de TV; verificar a programação de TV aberta que as mães disponibilizam a seus(suas) filhos(as) de 3 a 4 anos; verificar se a mãe acredita que a TV pode influenciar o comportamento de seu(sua) filho(a); constatar se a mãe observa alguma mudança de comportamento no seu(sua) filho(a) que possa ter sido influência da TV; relatar a programação que as mães julgam ideal para a faixa etária de crianças de 3 a 4 anos e refle"r sobre a possível mudança de comportamento de crianças de 3 a 4 anos sob a influência de programas televisivos.

Para uma melhor compreensão do assunto, após as Reflexões iniciais, apresen- tam-se, nos Embasamentos teóricos, o perfil da criança na idade de 3 a 4 anos, o surgi- mento da televisão no Brasil e no mundo e, a seguir, a televisão e a criança. Na terceira seção, descrevem-se os Procedimentos metodológicos u"lizados na realização da pes- quisa e, em Apresentação, análise e discussão dos dados, abordam-se aspectos diversos coletados junto às mães entrevistadas, entrelaçando as vozes da pesquisadora, as dos teóricos e as das colaboradoras. Nas Reflexões finais, busca-se contemplar os obje"- vos propostos e responder à questão-problema e, retomando os assuntos abordados, encaminha-se à finalização.

2 EMBASAMENTOS TEÓRICOS

Nesse segmento, serão abordados aspectos significa"vos sobre a criança em ida- de de 3 a 4 anos, sobre como a TV chegou aos lares e, ainda, dados sobre a televisão e a criança.

2.1 A criança de 3 a 4 anos

A criança de 3 a 4 anos está em constante desenvolvimento e em busca de novas

experiências, aprendizagens e conhecimentos e, nesse período, ela começa a se libertar

da sua completa dependência dos adultos. Papalia e Olds (2000) registram que é uma

etapa marcada pelos movimentos de aventura, pelas descobertas e por uma grande

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necessidade de expansão da criança. Nessa idade, ela é uma explosão permanente de alegrias e jamais, em toda sua vida, estará tão interessada na inves"gação e na desco- berta das coisas como nessa faixa etária. É o momento em que começa a desenvolver os aspectos básicos de responsabilidades e independência, preparando-se para os anos iniciais da escola e, conforme Pillar (2001), é influenciada pelo meio sociocultural. Dessa forma, pode-se dizer que ninguém aprende sozinho, necessitando do convívio com o outro, como ressalta Vigotski (1988), que afirma que a aprendizagem acontece inicial- mente no cole"vo, onde as interações sociais desencadeiam a aprendizagem.

Segundo Bee (2003), a influência dos pais sobre os filhos é profunda, justamente porque ela se dá através da aprendizagem por imitação mais do que por ensino direto.

Nessa fase, ela quer fazer tudo sozinha sem aceitar ajuda de ninguém. Piaget (1978) registra que, nessa idade, a criança encontra-se no período pré-operacional, quando o desenvolvimento ocorre a par"r da representação sensório-motora para as soluções de problemas e segue para o pensamento pré-lógico. Ela passa, então, a aprender que, na sociedade, existem coisas que ela pode ou não fazer. Bee (2003) acrescenta que, a par"r dos 3 anos de idade, as crianças começam a ver diferenças entre pessoas do sexo mas- culino e feminino, tanto nos aspectos $sicos quanto nos aspectos psicológicos. É nessa fase que a maioria das crianças costuma abandonar as fraldas e, também, é a idade da autonomia versus vergonha e dúvida. Nesse contexto, a criança encontra-se na fase fáli- ca, na qual os genitais são o foco de interesse, sendo natural a es"mulação e a excitação.

Aparece o chamado complexo de Édipo (quando a criança deseja o progenitor do sexo oposto e, simultaneamente, quer livrar-se do progenitor do mesmo sexo), o que envolve preocupação, ansiedade e sen"mento de castração nos meninos e, nas meninas, inveja do pênis, dentre outros aspectos.

As crianças aprendem muito pela observação, o que pode refle"r no processo de aprendizagem. Soler (2003) ressalta que a criança u"liza o corpo como o primeiro instrumento de pensamento, o que é importante para o seu diálogo com o mundo. Por isso, a criança fala através do corpo, ou seja, a cada movimento, pode-se perceber, por exemplo, se está cansada, alegre, triste ou desmo"vada. Papalia e Olds (2000) afirmam que, além do conjunto de a"vidades de descoberta, ocorre o desenvolvimento $sico e cogni"vo, ressaltando que o crescimento $sico é mais lento do que na primeira infância, mas o progresso da coordenação e desenvolvimento muscular aparece mais acelerado.

A criança, nesse período, é mais magra e apresenta músculos maiores e compridos, me- lhorando as habilidades motoras, o que é verificado através dos atos de correr, pular, saltar, andar de bicicleta, desenhar, dentre outros. O crescimento muscular, assim como o esqueletal, progride, deixando-a mais forte, e há o aumento das capacidades dos sis- temas respiratório e circulatório, o que permite maior resistência $sica. Sua alimentação é bem menor em relação a um bebê, pois apresenta menor necessidade de calorias e, além disso, come sem ajuda de terceiros, já apresentando toda a primeira den"ção.

Piaget (1978) afirma que, nessa fase, a criança tem uma verdadeira explosão lin-

guís"ca, e observa-se que ela descobre, inventa, aprende e confere habilidades e gosta

de par"cipar de brincadeiras, que, além de es"mularem a curiosidade e a autoconfiança,

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proporcionam o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção. Nessa idade, o vocabulário da criança aumenta para mais de 900 palavras, e ela consegue formar frases de três a quatro vocábulos com facilidade, fazendo, frequen- temente, perguntas. Assim, para que se desenvolva harmoniosamente, a escola, assim como os pais, precisam ter conhecimento desse universo e levar em conta cada etapa do desenvolvimento infan"l.

Depois de fazer uma breve reflexão sobre criança em idade de 3 a 4 anos, cabe mencionar como a TV chegou aos lares, para que se possa, posteriormente, prosseguir com as reflexões sobre o tema proposto.

2.2 A história da TV no mundo e no Brasil

Após uma breve caracterização da criança que se encontra entre 3 e 4 anos de idade, escreve-se um pouco sobre a televisão, veículo de comunicação que a"nge um número expressivo da população mundial. Primeiramente, serão abordados aspectos históricos e, em seguida, a finalidade ou u"lidade da televisão.

Segundo Valim (1998), a televisão, após o ano de 1926, atravessou o mundo, estabelecendo-se, inicialmente, na França, na Alemanha e na União Sovié"ca, e, a par"r daí, ganhou cada vez mais espaço. Ressalta Napolitano (2003) que a TV se consolidou, na virada dos anos 40 para os anos 50, nos Estados Unidos e, historicamente, impressio- nou sociólogos, educadores e crí"cos.

Recorda Soifer (1991) que o Brasil começou a ter acesso aos primeiros modelos de televisão em 18 de setembro de 1950, graças ao empresário Assis Chateaubriand Ban- deira de Melo, que inaugurou a TV Tupi, em São Paulo. Naquela época, eram poucos os que podiam adquirir essa “caixa” tão valiosa, e somente pessoas de alto poder aquisi"vo

"nham oportunidade de reunir a família diante do aparelho, que causava um grande espanto nas pessoas, pois ficavam impressionadas com a rapidez com que conseguiam saber dos acontecimentos do mundo. Coloda e Vian (1972), por sua vez, ressaltam que não se poderia deixar de citar a TV colorida, que surgiu em 1940 (no Brasil, a sua vei- culação só ocorreu em 31 de março de 1972) e que, com o decorrer dos anos, foi sendo aperfeiçoada.

Machado (2000) considera que a TV é um termo amplo, que abriga múl"plas possibilidades de produção, disponibilização e consumo de imagens e sons, englobando desde o que ocorre, segundo o autor (2000, p. 19-20), nas

grandes redes comerciais, estatais e intermediárias, sejam elas na-

cionais ou internacionais abertas ou pagas; até o que acontece nas

pequenas emissoras locais de baixo alcance ou que é produzido

por produtores independentes e por grupos de intervenções em

canais de acesso público.

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A TV de hoje é um meio de comunicação que mistura o real com o imaginário, e tornou-se um atra"vo encantador onde “tudo pode acontecer”. Bastos (1988, p. 13) considera que a televisão não é apenas um objeto, mas “[...] representa para a maioria das pessoas uma a"vidade para preencher as horas de lazer; é um modo de se distrair comodamente, sem sair de casa [...]”.

Atualmente, pode-se dizer que poucos brasileiros não conhecem ou nunca ouvi- ram falar desse veículo. Algumas pessoas consideram a televisão como algo que apenas entretém, diverte, ocupando-as em momentos diversos. Outras afirmam que ela pode contribuir para a formação e para construção de conhecimentos, além de unir povos, difundir cultura, transmi"r informações. Sobre a TV, Fischer (2001, p. 40-41) afirma que

“é entretenimento e ponto final. Ninguém liga a televisão para se chatear e muito me- nos para aprender alguma coisa”. A autora explica que, quando a TV está ligada, recebe todas as atenções, sendo capaz de informar, de definir padrões, de ligar povos distantes e de transformar cada dia numa nova história com novelas, desenhos, seriados, no"ciá- rios e tantos outros atra"vos. Sem dúvida, a televisão é capaz de sustentar o imaginário de diversas faixas etárias, de alcançar todas as classes sociais. Rosenberg (2008, p. 17) acrescenta que “na falta de uma a"vidade programada para fazer, ver televisão é provavel- mente a alterna"va mais à mão. Não exige treinamento, planejamento, esforço ou equi- pamentos especiais”. Penteado (2000), por sua vez, considera que a TV nada mais é do que uma indústria que se vem aperfeiçoando para atrair seus consumidores, pois, atra- vés dela, as indústrias colocam nas mãos de possíveis clientes os produtos oferecidos.

Após essa breve abordagem da televisão, de seu histórico e de sua u"lidade, con- siderou-se importante a apresentação de alguns dados sobre a televisão e a criança.

2.3 A televisão e a criança

Há pra"camente seis décadas, a TV está fazendo parte da vida familiar, social e econômica de milhares de brasileiros e, nesta época de consumo desenfreado e de violência, o aparelho pode colaborar para o surgimento de pequenos consumidores e de comportamentos agressivos. Por isso, controlar o conteúdo assis"do é tão importante quanto se preocupar com aquilo que as crianças comem ou estudam. Soifer (1991) alerta que os pais devem evitar, por exemplo, a exposição das crianças a programas que veicu- lam a banalização do sexo e da violência, encaminhando a programas que permitam que essa mídia seja uma ferramenta de valor para a formação dos pequenos.

Rosenberg (2008) apresenta outro problema atual, que se refere à postura de

alienação na qual muitos telespectadores, crianças e adultos colocam-se, mas ressalta

que a TV pode contribuir, de maneira posi"va, para a formação da criança. Até progra-

mas que se acham ruins podem servir como elemento educa"vo. A autora alerta que

crianças com menos de 6 anos devem evitar olhar os telejornais, que, muitas vezes,

trazem no%cias di$ceis de serem compreendidas. Sem dúvida, o fascínio que a TV exerce

sobre as crianças é muito significa"vo. Para a autora, esse relacionamento acontece bem

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antes de a criança completar seis anos e sabe-se de lares em que os pais “depositam” as crianças frente ao aparelho para poderem realizar seus trabalhos, usando-o como uma babá eletrônica. Olivandro Maia (2008, p. 49) complementa essa ideia: “Muitas crianças subs"tuem a relação familiar e compensam sua solidão pela companhia de uma tela colorida, ágil, múl"pla, sempre presente e disponível, pronta a transmi"r sua verdade e ensinar o caminho a ser seguido”.

Fischer acrescenta (2001) que, na televisão, as crianças podem perceber as expres- sões de amor, ódio, tristeza, alegria, inveja, raiva, dentre outros sen"mentos. Para que todo esse processo seja bem compreendido, os pais devem intervir nas linguagens e selecionar a programação. Cabe ressaltar que a escola também faz parte desse processo, pois “educar para a mídia”, ou seja, levar para os pequenos telespectadores informações sobre esse veículo de comunicação tão poderoso, pode também cons"tuir outra ação para os espaços escolares. Bastos (1988, p. 108) esclarece: “Torna-se preciso desenvol- ver todo o processo de análise sobre as programações televisivas, orientando as crianças a terem uma visão crí"ca das emissões e respec"vas publicidades”. Por isso, é impor- tante que os pais e professores interajam com as crianças, dando oportunidades para discu"rem sobre aquilo a que estão assis"ndo. Para Bee (2003), isso é importante, pois o comportamento da criança vai mudando de acordo com o que ela vai aprendendo, podendo apresentar novas formas de agir e pensar.

Devido à liberdade de programas que cada emissora veicula, deve-se estar atento aos temas apresentados, pois, para Fischer (2001, p. 16), eles “[...] par"cipam da pro- dução de sua iden"dade individual e cultural e operam sobre a cons"tuição de sua ob- je"vidade”. Assim, pode-se ques"onar sobre a qualidade dos programas televisivos no que se refere à formação da iden"dade da criança. Além disso, deve-se considerar que a televisão está cada vez mais se transformando numa ins"tuição que socializa, educa, propagando valores e modelos de comportamentos nem sempre adequados, conforme Bastos (1988). Completando essa opinião, Rosenberg (2008) informa que, numa pesqui- sa realizada, pode-se constatar que o público infanto-juvenil passa pelo menos 4 horas na frente do aparelho, pois ele é um meio de entretenimento e de lazer que necessita de pouco dispêndio financeiro.

Sabe-se que a maioria das famílias fica fora do lar pra"camente o dia todo, e a qualidade do tempo em que a família pode reunir-se, muitas vezes, é bastante restrita e dividida com a TV. O que ocorre em muitos lares é que seus integrantes não ficam con- versando sobre os acontecimentos do dia e, concentrados, dão atenção, por exemplo, ao capítulo da novela. Segundo Soifer (1991), com o tempo, isso vai acarretando, no âmbito familiar, um sensível decréscimo de atenção que cada membro dispensa aos demais, o que pode levar a resultados desastrosos. Há, porém, um outro lado a analisar: muitas crianças têm uma opinião posi"va sobre a televisão, pois é através dela que podem “via- jar”, conhecendo o mundo sem se preocuparem com o custo dessa viagem fascinante que encanta milhares de telespectadores.

É importante informar que, segundo Mundo Animado (2008), a TV adota um siste-

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ma de informação para classificar seus programas, em cumprimento à Portaria nº 1.220 do Ministério da Jus"ça, que atende aos termos no caput do art. 74 da Lei nº 8.069, de 11 de julho de 1990, do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990). Esse disposi"vo legal tem como finalidade informar aos pais a idade mínima recomendada a cada programa. Fica claro, ainda, que as emissoras são obrigadas a seguir uma grade ho- rária para veicular alguns conteúdos e, de acordo com as regras, a programação entre as 7h e 19h é livre, ou seja, é permi"da para todas as idades. A par"r das 20h, fica restrita para jovens acima de 12 anos e, das 21h às 22h, a idade limite é 14 anos. Já a par"r das 22h, os programas só são permi"dos para maiores de 16 anos e, após as 23h, somente para maiores de 18 anos.

Desde que a Portaria entrou em vigor, os canais precisam colocar, em suas atra- ções, os símbolos indica"vos no canto da tela, mostrando restrições de conteúdo con- forme a faixa etária. Como as TVs por assinaturas são isentas do cumprimento dessa nor- ma"zação, informam apenas qual é a classificação da atração exibida, ficando a critério do telespectador o horário e o programa a que deseja assis"r. É importante enfa"zar que programas jornalís"cos, espor"vos e a publicidade em geral também não estão sujeitos à classificação e, apesar de haver aspecto legal, observa-se que tais regras são, muitas vezes, ignoradas, cabendo ao adulto proteger a criança de influências que lhe poderão trazer male$cios.

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho desenvolveu-se com a ó"ca de uma pesquisa qualita"va, que buscou esclarecimento sobre o assunto abordado através de uma abordagem com- preensiva/explica"va, visando a responder à indagação inicial e a a"ngir os obje"vos propostos.

Efe"vou-se por meio de entrevistas, semiestruturadas, com seis mães de crianças na idade de 3 a 4 anos que frequentam uma escola de Educação Infan"l privada do Vale do Paranhana. As entrevistas foram realizadas e registradas por meio de gravações que, após transcrição, foram validadas. As mães preencheram um Termo de Consen"mento Livre e Esclarecido, que apresentava aspectos sobre a pesquisa e que solicitava a aquies- cência de suas par"cipações.

As perguntas, baseadas nas questões norteadoras, foram as mesmas para todas elas, e combinou-se o lugar que julgavam ser o melhor para serem realizadas, que pode- ria ser no próprio local de trabalho, num momento de intervalo ou nas suas residências, em horários por elas estabelecidos. Antes de iniciarem as entrevistas, pediu-se que ci- tassem um personagem televisivo em que sua criança costumava falar com frequência, que se tornou o nome fic%cio usado como iden"ficação de cada entrevistada: Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Chiquinha, Cinderela, Fiona e Xuxa.

Foram as seguintes perguntas que nortearam a inves"gação: Em casa, seu(sua)

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filho(a) assiste à televisão e/ou a DVDs? Em que proporção? A senhora seleciona a programação de TV a que seu(sua) filho(a) assiste? Como? A que programas ou filmes seu(sua) filho(a) tem assis"do na TV aberta? A senhora acredita que a TV pode influen- ciar o comportamento de seu(sua) filho(a)? A senhora observa alguma mudança de comportamento no seu(sua) filho(a) que possa ter sido influenciada pela TV? Qual é a programação que a senhora julga ideal para a faixa etária de seu(sua) filho(a)?

Na análise textual, com base em Moraes (2005), foram iden"ficadas ideias ex- pressivas nos depoimentos, destacadas por meio de marcações específicas. Essas ideias, as unidades de significado, foram agrupadas em categorias que originaram os itens apre- sentados a seguir.

4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Neste capítulo, serão abordados os seguintes assuntos resultantes da análise: A televisão e sua influência sobre a criança, A família e o estabelecimento de limites e A televisão e o imaginário infan"l, que serão apresentados a seguir.

4.1 A televisão e sua influência sobre a criança

Os conceitos de família, bem como os valores e costumes, passaram por mudan- ças e, também, ao longo dos anos, verificou-se uma transformação na educação dos filhos resultante do acelerado ritmo de vida dos pais e da influência da mídia, que apon- ta para a modernização, consumismo e banalização de conceitos de moralidade. Sabe- se que, junto com os bene$cios da informação, entretenimento e cultura, a televisão trouxe também consequências para o modo de viver da humanidade, pois, nas novelas, desenhos, seriados e outros programas, por exemplo, as crianças assistem a um mundo à parte e sonham, num dia, poder fazer parte dele.

Porém, é importante considerar o que Rosenberg (2008) afirma: a TV quase sem- pre tem dois lados. Isso quer dizer que os programas podem ser nocivos às crianças, como também podem influenciar de forma posi"va. Para a entrevistada Branca de Neve, por exemplo, a TV não prejudica o comportamento de seu filho e traz a ele prazer ao imitar um personagem que considera como um herói em sua imaginação: “Já presenciei, várias vezes, meu filho imitando gestos de um personagem de um desenho assis"do e percebi que este não o prejudicava em nada, simplesmente imitava porque presenciava e gostava”.

Nos tempos de hoje, a televisão pode propiciar a criação de hábitos, ro"nas, in-

fluenciar comportamentos e, também, mostrar um lado diferente da dura realidade do

co"diano da maioria da população. Fischer (2001, p. 18) complementa: “No entanto, nos

úl"mos anos, pode-se dizer que a TV brasileira tem-se apresentado como uma instância

da cultura que deseja oferecer mais do que informação, lazer e entretenimento”. Assim

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sendo, as imagens proporcionadas conduzem à es"mulação da fantasia, permi"ndo que as crianças desloquem-se em pensamento para os mais diversos lugares sem ter que sair da frente do aparelho.

Segundo Rosenberg (2008), tanto para a criança quanto para o adulto, a TV pos- sibilita par"cipar de um mundo de sonhos e, por determinado tempo, ela traz conforto, segurança e diver"mento. A programação infan"l retrata o mundo da fantasia, e a crian- ça contagia-se com as ideias e pensamentos apresentados sobre determinado produto oferecido, seja durante a programação ou nos comerciais, que têm como obje"vo princi- pal influenciar o consumo de produtos. A criança não sabe que está sendo ví"ma dessa influência e, na maioria das vezes, consegue convencer seus pais, que não perceberam a influência desse veículo de comunicação sobre o consumo da família. Como registra Ro- senberg (2008, p. 120), “crianças menores de cinco anos não são capazes de dis"nguir o que é comercial do que é programa de televisão”. Através dessa afirmação, fica claro que a criança torna-se um alvo fácil, não entendendo que tudo faz parte do programa a que está assis"ndo. No entanto, não é somente a criança que é atraída por produtos ofere- cidos através da TV, pois a maioria da população já adquiriu algo já visto nessa “vitrine”.

Entre as armas criadas para vender o produto anunciado e seduzir os telespectadores, destacam-se a nudez e a inocência infan"l. Aqui cabe salientar a importância que os pais têm frente à televisão, controlando a programação assis"da e interferindo quando ne- cessário. Caso esse controle não aconteça, as crianças terão acesso a uma programação rica em conteúdos inúteis que só prejudicarão a formação de seus valores.

Para os produtores de programas infan"s, as crianças representam lucro, pois são as principais ví"mas da manipulação de venda de produtos oferecidos na vitrine televisiva. Valem-se de tudo para conquistar a simpa"a, a “amizade” das crianças e, con- sequentemente, o bolso dos pais. De fato, a televisão dita padrões de comportamento, lança moda, implanta gírias, cria hábitos de consumo, molda a opinião pública, estabe- lece padrões morais e esté"cos, influencia gosto musical, impõe valores, inculca cren- ças, alimenta mitos, alcançando, por vezes, um patamar audacioso. Tenta regrar o que cada pessoa deve fazer e como agir, ações que acabam incen"vando o consumismo das pessoas, que, desejando mostrar que fazem parte do círculo social dos atores e atrizes, usam desde o mais simples esmalte ou batom até objetos mais dispendiosos.

Para Fischer (2001), a TV apresenta, em algumas programações, cenas que mar-

cam a mente das crianças. A violência é uma delas, considerando-se agressões verbais

e até mesmo $sicas, o que demonstra o desrespeito ao telespectador. Por vezes, pre-

sencia-se, através da TV, o mal sendo recompensado ou fatos que levam a pensar que é

certo trapacear, roubar, o que pode fazer com que a criança passe a ter a mesma postura

no seu dia a dia, levando esses valores distorcidos para a vida adulta. Quando assistem

a cenas de violência, por exemplo, é provável que incluam à sua maneira de perceber

que “é o mais forte quem tem razão”. Bee (2003) registra a existência de pesquisas que

demonstravam que, quando a criança observa a agressão, em seguida também tem a"-

tudes agressivas. Um exemplo da afirmação da autora pode ser comprovado através do

relato da entrevistada Fiona: “Desenhos que mostram lutas, vinganças, as crianças se

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manifestam com gestos entre elas, se batendo. Observo, às vezes, meu filho com essas brincadeiras”.

Segundo as entrevistadas, Pica-Pau, Shrek e Carros fazem parte de uma progra- mação ideal. No entanto, ao fazer uma leitura mais detalhada, percebe-se que certas a"tudes das crianças estão vinculadas com a violência que os desenhos apresentam, pois mostram muitas cenas de lutas, disputas, trapaças. No entanto, há formas de trabalhar com as imagens veiculadas. Xuxa relata que procura explicar o que está sendo visto num determinado programa escolhido e prefere, muitas vezes, desligar a TV e dedicar-se a uma “brincadeira com minha filha, mas mesmo assim percebo grande influência da TV em seus relatos do dia a dia, pois ela, às vezes, não olha a programação televisiva como as novelas, mas está sempre por dentro de tudo, pois recebe informações de suas amigui- nhas”.

Outros pais selecionam a programação, como explica Cinderela: “Sim, eu selecio- no a programação antes de deixar meu filho assis"r. Quando isso não é possível, estou sempre por perto controlando o que ele está assis"ndo”. Outro aspecto a considerar é em relação às horas que a criança fica em frente da “telinha”, pois deixa de lado o criar, o brincar, o ler e o aprender, por ficar está"ca frente ao aparelho. Papalia e Olds (2000) alertam que esse sedentarismo propicia obesidade e dá à TV um papel mais significa"vo na sua educação e no relacionamento familiar, em detrimento a um desenvolvimento mais pleno.

Com a vasta programação ofertada, a família precisa reaprender a ver TV, o que significa que os pais devem acompanhar aquilo que seus filhos estão assis"ndo, re"ran- do o melhor proveito possível daquilo que a “caixinha mágica” pode oferecer, procuran- do um efeito posi"vo no desenvolvimento da criança. A entrevistada Chiquinha acredita que a programação televisiva pode influenciar, de forma posi"va, o comportamento de seu filho, dependendo, é claro, do programa selecionado. Considera posi"vos “O Caste- lo Ra-"m-bum, Cocoricó, X-tudo, Glub-Glub” e explica: “No meu tempo, passavam uns programas bem legais, e qual a surpresa quando um dia liguei a TV e vi o programa Co- coricó no ar! Esse eu adorava, pois transmi"a uma coisa maravilhosa que até hoje não consegui esquecer”.

Assim, acredita-se que a família é a base, pois precisa ter princípios para educar seus filhos e, certamente, um deles consiste em estar atenta aos programas veiculados, compar"lhando momentos que possam trazer efeitos posi"vos na formação de suas crianças.

4.2 A família e o estabelecimento de limites

Com o decorrer do tempo, o dia a dia está tornando-se cada vez mais di$cil para os pais, começando pela falta de autoridade e limites que se observa na sociedade.

E o que se entende por limite? Ferreira (2004) assim define: “1 - linha de demar-

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cação. 2 - divisa, fronteira. 3 - fim, termo”. De acordo com o conceito, há diversas formas de definir limite. Para essa pesquisa, limite é a divisa que simboliza uma fronteira entre algo que se considera aceito em alguma instância e algum valor não aceito no âmbito familiar e/ou social.

Zagury (1994) reflete sobre o assunto, registrando que, no passado, bastava que os filhos olhassem para os pais, a quem temiam, para que soubessem o que estavam que- rendo dizer. Atualmente isso pouco ocorre, mas, em contrapar"da, há um diálogo maior, e os filhos podem argumentar e discu"r sobre o que está sendo proposto pelos pais, que, no cenário atual, têm mais uma preocupação dentro do lar: a influência da TV.

Para Olivandro Maia (2008), os limites ajudam a desenvolver um relacionamento de respeito com as pessoas: “Os limites na vida de uma criança a conscien"zam de que cada pessoa tem o seu espaço, o seu direito e que todos devem ser respeitados. [...]

Os pais podem colaborar para boa formação do caráter de seus filhos, disciplinando e sabendo estabelecer limites”. Aqui cabe salientar o que os pais estabelecem para seus filhos, pois de nada adianta quererem que seus filhos obedeçam a algumas indicações, se eles próprios não conseguem seguir tais limites. Chapeuzinho Vermelho relata que, muitas vezes, tem dificuldade em impor limites para a sua filha, o que difere do “seu tempo, quando o pai olhava e já compreendia aquela mensagem”. E con"nua: “Hoje não sei como lidar com algumas situações que enfrento no dia a dia com ela: o jeito de falar, tornando-se dependente da TV, querendo tudo nas mãos, não comendo direito, ficando sem limites de horários e não dormindo na hora certa”.

Sabe-se que, para a educação de uma criança acontecer de forma plena, é preci- so que pais ou responsáveis mais próximos da criança acompanhem e estejam atentos a todas as fases do seu desenvolvimento, proporcionando-lhe situações que permitam uma aprendizagem ampla e significa"va e es"mulando aspectos cogni"vos, $sicos, so- ciais, morais e afe"vos. É importante, para o comportamento social da criança, as obser- vações que ela faz das pessoas e das situações que a cerca, aprendendo, dessa forma, as diferenças e adquirindo certo conhecimento do mundo em que está inserida. Diante disso, é importante a posição de “guia” da televisão, pois se sabe que as crianças pas- sam horas diárias em frente do aparelho e, com isso, dormem mais tarde, privam-se de brincar, de ler um livro e passear, modificando seus comportamentos e a forma de aproveitarem o tempo. Fiona declara: “Meu filho só vai dormir quando eu desligo a TV”.

Fica, dessa forma, evidente que a TV toma conta das crianças (e das famílias também) quando não são oferecidas a elas outras oportunidades. Soifer (1991) argumenta que o ser humano está compe"ndo com esse poderoso veículo de comunicação que contribui para a separação de pessoas dentro de seus próprios lares, uma vez que, isoladas em seus quartos, não exercitam o saudável relacionamento familiar. Isso ocorre diariamente em milhares de casas onde, às vezes, os pais tentam impor limites quanto aos programas ou, até mesmo, estabelecem horários que, muitas vezes, não são possíveis de serem man"dos.

Acredita Zagury (2003), com relação aos limites, que os pais precisam ser mais

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criteriosos, pois eles só funcionam quando os pais são firmes na aplicação dos acordos realizados, ou seja, quando as regras impostas não são quebradas ou desrespeitadas pelos filhos e, às vezes, por eles mesmos. A entrevistada Xuxa corrobora essa ideia, di- zendo que a família “deve colocar limites na programação assis"da pelos filhos atra- vés de diálogos, sugestões de a"vidades diferenciadas em horários não permi"dos às crianças e selecionando programas assis"dos, dando prioridade aos que remetem a algo constru"vo”. Entende-se que cada família tem uma visão sobre a televisão e possui gran- de peso na escolha dos programas, podendo intervir quando necessário, explicando e orientando sobre o assunto abordado durante a programação. Afirma a entrevistada Chapeuzinho Vermelho: “A família deve, com certeza, escolher a programação dos filhos de acordo com a idade e com a mensagem passada”.

Mas não basta só cri"car ou rotular a TV como responsável pelo “mau” compor- tamento das crianças, pois, se ela fosse tão influente na a"tude das crianças, bastaria exis"r uma TV perfeita para se viver numa sociedade dos sonhos. Deve-se ter consciên- cia e atuar em prol de uma construção mais igualitária, devolvendo à sociedade condi- ções de livre escolha. Para isso, é preciso considerar a importância exercida pela televi- são como criadora de cultura e não apenas observá-la superficialmente como uma mera transmissora, divulgadora e difusora.

Aqui cabe salientar a postura que os pais adotam com seus filhos diante da pro- gramação assis"da. Os fatores mais importantes são o diálogo que devem ter com seus filhos, obje"vando que eles se sintam amados e que percebam que há pessoas para impor, quando necessário, limites e, principalmente, oferecer afeto. Eles devem ser per- cebidos como figuras que servem como exemplos que poderão ser levados para a vida adulta. Essa autoridade deve ser construída em conjunto e é uma relação desenvolvida com respeito, com integridade, com firmeza, com paciência e com persistência das pa- lavras e sem agressões.

A TV, como já foi visto, exerce uma significa"va influência. Como é impossível os pais estarem presentes em todos os momentos do processo de desenvolvimento do filho, acredita-se que, se a criança for bem orientada, mesmo que não estejam por per- to, ela saberá exatamente o que pode ou não fazer, afastando-se de alguma influência nega"va. Assum expressa a entrevistada Fiona: “[...] acredito que tudo que for devida- mente esclarecido para a criança, não irá trazer problemas. Dando liberdade de ques"o- namentos diversos ao filho, podemos sanar suas dúvidas, sendo que ele saberá até onde poderá ir”.

Assim, entende-se que limite é uma questão familiar e que a falta de limites é

uma questão em que não se pode ser conivente nem complacente. Por isso, a estrutura

familiar deve estar consciente da importância de trabalhar, permanentemente, os em-

basamentos de um comportamento saudável para seus filhos.

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4.3 A televisão e o imaginário infan"l

Vários aspectos são importantes para o desenvolvimento de uma criança: o tem- po, o espaço, a comunicação, a imaginação, a fantasia, a curiosidade, a experimentação, dentre outros, sendo cada um de suma importância em seu desenvolvimento, tanto

$sico como social e mental. Quando uma criança brinca, ela desenvolve muito desses aspectos e, muitas vezes, nem percebe o quanto está criando e recriando. Assim, apren- de muito além de sua própria imaginação e, quando imagina algo, constrói um mundo, muitas vezes, fora de sua própria realidade. Isso é mágico e, através do imaginário, con- segue realizar algo que deseja ou até mesmo organiza seus anseios e mágoas. Mas é preciso lembrar que o desenvolvimento da imaginação de uma criança está fortemente vinculado com o meio em que se encontra e com as possibilidades a ela oferecidas como forma de conhecer, experimentar, explorar os elementos ao seu redor.

O desenvolvimento da imaginação na infância é fundamental para a vida futura, preparando a criança para enfrentar problemas, superar situações di$ceis e dolorosas no dia a dia, resolver conflitos e construir conhecimentos. Ao contrário do que muitos pensam, a criança tem muito mais imaginação do que um adulto e, ao longo de seu de- senvolvimento, vai confrontando o mundo da fantasia com o real. Basta observar como cria novas formas de brincar e inventa personagens dos mais variados "pos. Assim, ela vai-se organizando e realizando suas descobertas. Muitas vezes, a par"r de uma simples brincadeira, desenvolve uma aprendizagem rica em informações, sen"mentos e a"tu- des, expressando-os pelas a"vidades, pela linguagem e também pelo próprio movimen- to corporal. Então, pode-se dizer que o imaginário de uma criança é algo fantás"co e que é real, mesmo só exis"ndo na sua imaginação.

Cabe salientar que, nos dias de hoje, os desenhos infan"s oferecidos pela te- levisão são como os an"gos contadores de histórias, pois, como ocorre com a TV, as histórias infan"s levam a criança a viver um mundo fora, muitas vezes, de sua própria realidade, permi"ndo que ela viaje, em sua própria imaginação, através dos diversos programas televisivos. Ressalta-se também que, em muitos lares, é a TV a única compa- nhia da criança, podendo tornar-se uma babá eletrônica, que, muitas vezes, subs"tui a família e compensa sua ausência com uma tela colorida, ágil e sempre disponível para transmi"r conhecimentos, muitas vezes, prematuros para diversas faixas etárias.

Não se pode esquecer de que a criança necessita de algo concreto para uma aprendizagem mais significa"va e, muitas vezes, precisa de contatos diferentes, mais calorosos, envolventes, lúdicos e afe"vos, que não são encontrados frente à tela da TV, onde muitas crianças passam horas confinadas. Diz a entrevistada Branca de Neve: “Per- cebo que, quando meu filho brinca, cria personagens idên"cos aos vistos na tela da TV, como, por exemplo, o Homem Aranha. Até tenho que cuidar, pois ele sobe nas coisas e salta dizendo: - Eu sou o Homem Aranha”. Pode-se, pois, perceber que os conteúdos da TV estão presentes no imaginário e, consequentemente, nas brincadeiras.

Foi observado que as crianças, após terem assis"do ao filme do Shrek, na volta à

sala de aula para brincar com peças de encaixe, montavam personagens do filme e fan-

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tasiavam a história que o filme mostrou. Pôde, então, perceber que elas mergulhavam num mundo imaginário, com os personagens ainda visíveis nas suas memórias. Pos"c (1993, p. 22) explica que “as crianças enquanto brincam, encenam com objetos simbó- licos situações que se envolvem, e assim adotam papéis sociais, sendo pontos de refe- rências como pais, professores, enfermeiros e outros que representam como se fossem verdades”. Hackmann (2008, p. 148-149) argumenta que a pessoa constrói seu imaginá- rio “por ‘iden"ficação’ quando se reconhece no outro, por ‘apropriação’ quando deseja ter o outro em si e por ‘distorção’ quando reelabora o outro para si. No imaginário, há a presença de sen"dos, ‘emoções, sen"mentos, afetos’, imagens símbolos e valores” que se percebe na pessoa e na sociedade.

Não se pode esquecer que Vigotsky (1988) considera que o aparelho psíquico de uma criança está pronto para assimilar e imitar o mundo externo. César Augusto Maia (2009, p. 48) colabora com o esse tema dizendo que “a infância é um tempo de forma- ção, de experimentação do mundo para aprendê-lo e conhecê-lo”. Entende-se, então, o quanto é importante oferecer à criança novas formas lúdicas de aprender e conhecer, pois hoje, infelizmente, está tudo muito subme"do aos brinquedos mecânicos, e o ato de brincar evolui de forma muito rápida.

É importante ressaltar a união entre o que a criança vê e o imaginário. Sobre esse tema, diz Silva (2003, p. 70): “O que o imaginário quer dizer? O que um imaginário quer mostrar? Que cada olhar é uma imagem. Que cada imagem é um olhar. Imaginação do olhar. Olhar da imaginação [...]. Cada um imagina o que vê e vê o que imagina”. Isso Chi- quinha observa em seu filho: “às vezes o vejo dançando igual a alguns personagens imi- tando alguma coisa que presenciou na TV”. Possivelmente ele vivencia o personagem, ves"ndo a roupa da imaginação. Ressalta-se, pois, que a televisão está presente no ima- ginário infan"l, e a criança se apropria daquilo que vê. Consequentemente, imagina que pode “entrar” no personagem e sen"r o mesmo que ele, como acontece na telinha.

É preciso lembrar que se vive num momento em que a família precisa resgatar o papel de pai e mãe par"cipantes na vida dos filhos, e as brincadeiras e os relatos de histórias devem ocupar mais o espaço do que a mídia está ocupando no lar.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar, acredita-se que se refle"u sobre a televisão e sua influência no com- portamento infan"l. Percebeu-se que ela, de forma grada"va, vem ocupando lugar den- tro da família, podendo influenciar uma criança de 3 a 4 anos tanto posi"va como ne- ga"vamente. Além disso, verificou-se que, no dia a dia, um lar pode “ganhar” uma babá eletrônica enquanto a mãe realiza as lidas domés"cas.

Entende-se que a TV ocupa um espaço de formador de opiniões e tendências,

assim como o de construtor de conhecimentos, auxiliando no processo do desenvolvi-

mento cogni"vo da criança. Também pode influenciar no vocabulário infan"l, transmi-

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"ndo uma leitura de mundo, proporcionando à criança viajar, na sua imaginação, para lugares longínquos, fantasiar, usufruir da sua cria"vidade e, a par"r dessa, resolver seus próprios problemas, passando não apenas a assis"r à televisão, mas, simultaneamente, a aprender e a aprimorar seus conhecimentos. Sendo assim, ela não só afeta o público infan"l, mas também o adulto, que, muitas vezes, busca na TV, por exemplo, informa- ção e cultura, desenvolvendo o seu senso crí"co a par"r desse saber. É importante ter consciência de que, assim como outros entretenimentos, a TV pode contribuir para o desenvolvimento de uma criança, e, se essa assiste a programas violentos, não quer di- zer, necessariamente, que se tornará violenta, mesmo que venha a imitar, num período de sua vida, tais comportamentos.

É importante salientar que há carência de programas infan"s na TV aberta que es"mulem a cria"vidade, a responsabilidade e a reflexão. Observam-se desenhos que se repetem tanto que se tornam ro"neiros, reforçando a ideia de que incen"vam determi- nados modelos que podem influenciar as crianças, que passam a falar, a ges"cular e a pensar como os personagens dos programas a que assistem. Sendo assim, é importante que a família tenha consciência de que sua criança necessita de ajuda para perceber que os personagens são fic%cios, compreendendo que a televisão é um mundo de fantasia.

Na realidade, a criança faz parte do público mais assíduo dos programas de TV.

Quando liga o televisor, vai interiorizando "pos de comportamento e até mesmo valores que não são posi"vos, pois mostram a violência como algo comum ou banal. É, pois, importante que os pais interajam com crí"cas constru"vas, proporcionando aos filhos possibilidades de discu"rem sobre aquilo a que estão assis"ndo, pontuando o que há de nega"vo e de posi"vo e o que é permi"do e o que não é permi"do para as suas faixas etárias. Além disso, diante de tantas ofertas de programas televisivos, cabe aos pais ofe- recer outras alterna"vas, como jogos, leituras, brincadeiras e passeios que despertem e es"mulem o querer saber. Cabe-lhes empreender ações no sen"do de evitar programas não adequados e o uso indiscriminado da TV por seus filhos, impondo-lhes limites de horários, desligando o aparelho na hora das refeições, mantendo o televisor longe de seus quartos, viabilizando o controle sobre aquilo a que estão assis"ndo e evitando a exposição de cenas violentas.

A pesquisadora acredita que foi possível conseguir sinalizações de que a TV pode influenciar o comportamento infan"l, pois as mães relataram que observaram mudan- ças no comportamento de seus filhos, que solicitavam, por exemplo, a compra de pro- dutos supérfluos que eram anunciados. Constatou também que seria importante que as emissoras oferecessem mais oportunidades para a criança refle"r, informar-se, criar e conhecer modelos posi"vos e não apenas ficar exposta às diversas formas de violência e aos apelos de consumismo.

Sabe-se que muitas famílias ficam horas seguidas, de forma está"ca, frente à TV

e que, de alguma forma, nem percebem o quanto estão deixando de compar"lhar mo-

mentos com os seus, suprimindo a vivência de outras formas de crescimento como pes-

soas e como grupo. Lamentavelmente percebeu-se o pouco tempo que a família dedica

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aos momentos de diálogos com os seus membros. É importante lembrar que os pais passam fora de casa boa parte do dia devido às suas jornadas de trabalho e, quando se encontram, dividem uma pequena porção de tempo com afazeres domés"cos e a TV. As- sim, enquanto as mães cuidam da casa, a TV, transformada em babá eletrônica, “cuida”

das crianças, que se esquecem da existência de um mundo pleno de brincadeiras que desenvolvem corpo, mente e socialização.

A autora acredita também que a TV deva ser u"lizada como um meio didá"co nas escolas e, assim como os pais, os profissionais da educação devem conhecer a progra- mação a que a criança assiste para que possam viabilizar formas de contribuírem para as aprendizagens que podem ocorrer em decorrência do uso saudável da televisão.

Finalizando, alerta-se também que a TV está enfraquecendo a influência da es- cola, que, por vezes, preocupada com o cumprimento dos conteúdos programá"cos, perde para a mídia o importante papel de socialização. Alguns espaços escolares des- consideram que as crianças veem um lado posi"vo da televisão, pois é através dela que podem “viajar”, conhecendo o mundo sem se preocuparem com o custo dessa viagem fascinante que tanto encanta. Além disso, é preciso compreender que, através da mídia televisiva, exercitam a imaginação e expressam sen"mentos. Porém, cabe ao sistema educacional trabalhar de modo que ela aprenda, ao longo dos anos, a ser um telespec- tador mais crí"co sem, no entanto, abrir mão da fantasia.

Tendo em vista o processo educa"vo, buscou-se a produção de novos saberes e novas descobertas e espera-se que esta pesquisa abra espaço para que outros pesqui- sadores se interessem pelo tema aqui abordado, apontando outros caminhos para a u"lização desta ferramenta, a TV, tão presente no âmbito da sociedade e, em especial, na família. Percebe-se, também, a necessidade de aprofundamento no assunto, em es- tudos posteriores, explorando outros enfoques, de forma a auxiliar no uso adequado de uma tecnologia que realmente possa contribuir para a formação de crianças que repre- sentam a geração do futuro que tem os pés aqui, no presente.

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