• Nenhum resultado encontrado

DA OPERAÇÃO DE MANUTENÇÃO DE PAZ À COOPERAÇÃO TÉCNICA: AS INICIATIVAS BRASILEIRAS PARA A PAZ EM MOÇAMBIQUE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "DA OPERAÇÃO DE MANUTENÇÃO DE PAZ À COOPERAÇÃO TÉCNICA: AS INICIATIVAS BRASILEIRAS PARA A PAZ EM MOÇAMBIQUE"

Copied!
29
0
0

Texto

(1)

1 6º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI)

Perspectivas sobre o poder em um mundo em redefinição Belo Horizonte, 25 a 28 de julho de 2017

Área temática: Análise de Política Externa

DA OPERAÇÃO DE MANUTENÇÃO DE PAZ À COOPERAÇÃO TÉCNICA: AS INICIATIVAS BRASILEIRAS PARA A PAZ EM MOÇAMBIQUE (1992-2010)

Thaíse Kemer (PPGCP/UFPR)

Alexsandro Eugenio Pereira (PPGCP/UFPR)

(2)

2

RESUMO: Com o fim da Guerra Fria, observou-se a crescente presença do Brasil no contexto das iniciativas para a paz promovidas pela Organização das Nações Unidas na África. Essa participação brasileira associa-se tanto à preocupação da política externa brasileira com a promoção da paz, conforme a Constituição de 1988, quanto à promoção do desenvolvimento. Nesse contexto, debate- se a seguinte questão: em que medida as iniciativas do Brasil no contexto do processo de paz de Moçambique foram associadas à promoção do desenvolvimento, entre 1990 e 2010? Esse período compreende tanto a análise da missão de manutenção da paz das Nações Unidas para Moçambique, iniciada em 1992, quanto dos projetos de cooperação técnica entre Brasil e Moçambique que foram estabelecidos após essa missão. Com base em pesquisas realizadas em fontes primárias e secundárias e, em particular, no acesso ao Sistema de Atos Internacionais do MRE, o argumento do artigo é o de que, no caso do processo de paz de Moçambique, o Brasil não adotou uma agenda de longo prazo para a paz que estivesse associada ao desenvolvimento. Para evidenciar esse argumento, o artigo foi dividido em três partes. Na primeira parte, apresenta-se uma contextualização histórica sobre o Acordo Geral de Paz de 1992 e a implementação da ONUMOZ, que ocorreu entre 1993 e 1994. Na segunda seção, evidencia-se a participação do Brasil no contexto da ONUMOZ, de forma a elucidar tanto as motivações do Brasil em participar dessa missão quanto a forma dessa participação. Por fim, na terceira seção, analisam-se os acordos de cooperação técnica entre o Brasil e Moçambique, entre 1990 e 2010. Assim, o artigo visa a contribuir para o debate sobre o papel do Brasil relativamente à promoção de uma paz associada ao desenvolvimento no mundo contemporâneo.

PALAVRAS-CHAVE: Paz; Desenvolvimento; Análise de Política Externa.

(3)

3 INTRODUÇÃO

O presente artigo analisa as iniciativas do Brasil para a promoção da paz em Moçambique, no período compreendido entre a implementação da Operação das Nações Unidas em Moçambique (ONUMOZ), em 1992, a qual contou com a participação do Brasil, e 2010, último ano do segundo mandato de Luis Inácio Lula da Silva (2003 – 2010) como presidente do Brasil. Esse período permite analisar a participação do Brasil tanto no contexto da ONUMOZ quanto nos projetos de cooperação para o desenvolvimento que o Brasil desenvolveu com Moçambique posteriormente ao término dessa missão.

O artigo debate a seguinte questão: em que medida as políticas brasileiras para a promoção da paz em Moçambique estiveram relacionadas à promoção do desenvolvimento, no período entre 1990 e 2010? Essa pesquisa problematiza a atuação do Brasil para a promoção da paz em Moçambique, com base na premissa de que o processo de paz moçambicano não terminou com a ONUMOZ. Essa premissa baseia-se no conceito de construção da paz, que interrelaciona a paz ao desenvolvimento, e está presente, na atualidade, no rationale tanto das Nações Unidas quanto no do Brasil. À luz desse conceito, e com base na situação atual de desenvolvimento de Moçambique, sustenta-se que o término da missão de peacekeeping das Nações Unidas constituiu uma das etapas do processo de pacificação moçambicano, mas não sua etapa final, na medida em que o quadro de subdesenvolvimento persistiu na sociedade moçambicana ao longo do período em tela.

Nesse contexto, a Análise de Política Externa (APE) torna-se um instrumento relevante para o problema proposto, uma vez que, de acordo com Milani e Pinheiro (2013), a compreensão das mudanças na política interna permite um entendimento mais amplo sobre a política externa do Brasil. De acordo com esses autores, a formulação e a implementação da política externa está inserida na dinâmica das escolhas de governo (MILANI E PINHEIRO, 2013). A política externa implementada pelos diferentes governos brasileiros torna-se relevante para a análise, com foco particular nos governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) (1995 - 2003) e Luís Inácio Lula da Silva (2003 - 2010), cujos mandatos ocuparam a maior parte do recorte temporal selecionado. O artigo analisa a maneira pela qual o perfil de atuação política desses governos trouxe diferentes implicações para a implementação da política externa brasileira. Dessa forma, a análise da política interna nacional oferece elementos que permitem problematizar a formulação da política externa brasileira a partir da perspectiva da implementação da construção da paz.

O argumento avançado no artigo é o de que, no caso do processo de paz moçambicano, o Brasil não adotou uma agenda de longo prazo que associasse a promoção da paz à promoção do desenvolvimento. Esse argumento é válido na medida em que não

(4)

4 houve continuidade entre a participação do Brasil na ONUMOZ e os acordos bilaterais de cooperação técnica entre Brasil e Moçambique, haja vista que apenas cinco acordos de cooperação bilateral foram implementados no governo de Fernando Henrique Cardoso, número que foi ampliado apenas no governo de Lula. Esse fato evidencia que a promoção do desenvolvimento esteve mais associada a decisões específicas de cada governo do que à promoção da paz, a qual demandaria a intensificação desses acordos após o término da ONUMOZ, como forma de oferecer aos moçambicanos condições estruturais para a paz.

Assim, não obstante o Brasil tenha apoiado, em termos retóricos, uma agenda de

“construção da paz”, na prática: (1) as iniciativas brasileiras para a promoção da paz em Moçambique enfatizaram sua atuação na ONUMOZ e (2) houve uma relativa dissociação entre a promoção da paz e a promoção do desenvolvimento, pois, imediatamente após o término da ONUMOZ, houve um número relativamente baixo de acordos bilaterais entre Brasil e Moçambique, situação que somente foi modificada no contexto dos mandatos do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Consequentemente, no caso de Moçambique, as iniciativas brasileiras para a paz foram direcionadas no sentido de uma abordagem para a operação de manutenção de paz (BLANCO, 2016), o que enfraquece a ideia de que o Brasil promoveu, nesse caso, uma agenda para a paz centrada no desenvolvimento.

Para implementar essa análise, o artigo está dividido em três partes, além da introdução e da conclusão. Na primeira parte, apresenta-se uma contextualização histórica sobre o Acordo Geral de Paz de 1992 e a implementação da ONUMOZ, que ocorreu entre 1993 e 1994. Na segunda seção, evidencia-se a participação do Brasil no contexto da ONUMOZ, de forma a elucidar tanto as motivações do Brasil em participar dessa missão quanto a forma dessa participação. Por fim, na terceira seção, analisam-se os acordos de cooperação técnica entre Brasil e Moçambique, entre 1990 e 2010. Assim, com base no estudo de caso do contexto moçambicano, o artigo contribui para o aprofundamento do debate sobre o papel do Brasil, enquanto parte do Sul Global, na promoção da paz internacional.

1. MOÇAMBIQUE: DO CONFLITO À OPERAÇÃO DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS DE 1992

A presente seção contextualiza historicamente o conflito moçambicano e o processo de paz posterior a esse conflito. As causas desse conflito, que envolveu disputas entre os dois principais partidos políticos do país, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), ultrapassam fatores políticos e residem

(5)

5 na intersecção de disputas por poder internas, regionais e internacionais. Como destacou Malaquias (1998, p. 1), o acordo de paz de Moçambique foi elaborado com o objetivo de por um fim a conflitos sangrentos e prolongados, que foram legados pela Guerra Fria e pelo apartheid.

As raízes históricas desse conflito relacionam-se com o colonialismo português em Moçambique, que remonta ao ano de 1498 (VISENTINI, 2012, p. 89). Em 1951, no contexto dos movimentos de descolonização, o governo português de Antônio Salazar renomeou as colônias portuguesas na África de “Províncias Ultramarinas”, como forma de garantir o controle português sobre seus territórios, entre os quais Moçambique, e de lidar com as críticas internacionais ao colonialismo (FUNADA-CLASSEN, 2012, p. 181). Ainda assim, os movimentos de descolonização no continente africano possibilitaram que, em 1962, houvesse a formação do primeiro partido de oposição moçambicana a Portugal, a Frente de Libertação Nacional de Moçambique (FRELIMO) (RUPIYA, 1998, p. 10). Dois anos depois, a FRELIMO lançou uma luta armada contra Portugal e recebeu suporte de forças radicais de países do Leste Europeu, da China e de países africanos árabes (RUPIYA, 1998, p. 11).

Depois de 1970, Portugal lutou contra a FRELIMO; contudo, o contexto da Revolução dos Cravos1, que ocorreu em Portugal, em 1974, e as discordâncias domésticas nesse país sobre a presença portuguesa em Moçambique, Guiné-Bissau e Angola, modificou o contexto moçambicano (RUPIYA, 1998, p. 11). Como uma consequência da Revolução dos Cravos em Portugal, houve a retirada de 60.000 soldados portugueses de Moçambique. Ainda no mesmo ano, o Acordo de Lusaka foi assinado, o qual pôs um fim ao colonialismo português em Moçambique (RUPIYA, 1998, p. 11).

Em 1975, Samora Machel, líder da FRELIMO, tornou-se o primeiro presidente moçambicano e a FRELIMO tornou-se o centro do sistema unipartidário em Moçambique (RUPIYA, 1998, p. 12). Em 1977, a FRELIMO foi oficialmente transformada em um movimento Marxista-Leninista, o que deu condições para uma aproximação entre esse partido e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (RUPIYA, 1998, p. 12). Rupiya (1998, p. 12-13) argumenta que, a despeito da agenda nacionalista da FRELIMO, o governo conferiu tratamento desigual a determinados grupos sociais, como foi o caso dos camponeses moçambicanos, os quais foram relegados a um segundo plano no contexto das políticas nacionais de Moçambique, em razão do foco do governo desse país nas fazendas estatais. Além disso, Rupiya (1998, p. 12-13) afirmou que houve a marginalização das autoridades tradicionais, o que levou a um aumento das hostilidades entre a população e o governo e contribuiu para a escalada do conflito civil.

1 A Revolução dos Cravos foi um movimento iniciado em Portugal no dia 25 de abril de 1974 no qual o

Movimento das Forças Armadas pôs fim a 48 anos de ditadura naquele país (VARELLA, 2012, p.

403).

(6)

6 A principal oposição à FRELIMO foi a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), formada, em 1977, pela Agência de Inteligência Nacional do Zimbábue (CIO) (RUPIYA, 1998, p. 13; REFWORLD, 2001). A CIO, a Agência de Inteligência Nacional do Zimbábue, promoveu a formação da RENAMO como um contraponto ao Presidente de Moçambique, Samora Machel, que apoiava o Exército de Libertação Nacional do Zimbábue (ZANLA), grupo de oposição desse país (BRITANNICA, 2017). Os objetivos da RENAMO, naquele contexto, eram desestabilizar o governo da FRELIMO e oferecer inteligência ao Exército de Libertação Nacional do Zimbábue, que estava operando nas fronteiras de Moçambique (RUPIYA, 1998, p. 13).

Em 1980, com a independência do Zimbábue, o controle da RENAMO foi transferido para a África do Sul, cujo objetivo era fazer oposição ao movimento armado sul-africano que estava lutando contra o apartheid (RUPIYA, 1998, p. 13). Além disso, a África do Sul também bloqueou o acesso ao mar que o Zimbábue tinha por meio de Moçambique, o que aumentaria a dominação da África do Sul no contexto regional (RUPIYA, 1998, p. 13). O apoio sul-africano permitiu o fortalecimento das forças da RENAMO, as quais foram ampliadas de 500 para 8.000 combatentes (RUPIYA, 1998, p. 13).

Em 1984, o Pacto de Não-Agressão de Nkomati, que visava ao fim das hostilidades entre Moçambique e a África do Sul, foi assinado por esses países (RUPIYA, 1998, p. 13).

No contexto desse pacto, esses Estados comprometeram-se a não oferecer apoio material aos movimentos de oposição presentes em cada um deles (CRAVINHO, 2004, p. 742).

Assim, o Congresso Nacional da África do Sul (ANC) foi proibido de conduzir operações militares na África do Sul a partir de Moçambique, e o país sul-africano, por sua vez, não poderia mais apoiar a RENAMO (CRAVINHO, 2004, p. 742). O governo sul-africano, contudo, ignorou o acordo e, em 1984, forças da RENAMO estavam presentes em todas as províncias de Moçambique (CRAVINHO, 2004, p. 742).

Com a escalada do conflito, Moçambique advertiu ao governo da África do Sul que o Acordo de Nkomati estava em risco (CRAVINHO, 2004, p. 742). Assim, esse governo conduziu diálogos em separado com a RENAMO e a FRELIMO, os quais levaram à Declaração de Pretória, em outubro de 1984 e, ainda, a um acordo de cessar-fogo em Moçambique (CRAVINHO, 2004, p. 742). Contudo, o Pacto de Não-Agressão de Nkomati e a Declaração de Pretória não foram suficientes para promover o término do conflito entre a FRELIMO e a RENAMO. Uma das razões para isso foi que a RENAMO acusou a FRELIMO de não reconhecer sua legitimidade (CRAVINHO, 2004, p. 742).

Após o Acordo de 1984, a RENAMO passou a adotar uma estratégia política baseada na utilização de recursos da população local e no ataque a infraestruturas nacionais, como construções públicas (RUPIYA, 1998, p. 13). Nesse sentido, uma das

(7)

7 principais ações da RENAMO era a destruição de estradas públicas, centros de saúde e escolas, como formas de atacar o governo da FRELIMO (RUPIYA, 1998, p. 13).

Em 1987, Joaquim Chissano, que assumiu a presidência de Moçambique no contexto do falecimento de Samora Machel, em 1986, iniciou um conjunto de reformas na FRELIMO, o que levou esse partido a deixar de ser marxista, no ano de 1989 (RUPIYA, 1998, p. 14). Naquele momento, enquanto a RENAMO enfrentava o desafio de fazer a transição de um grupo militar para um partido político, a FRELIMO também precisava de garantias de segurança da parte da RENAMO, de forma que as hostilidades pudessem ter um fim (RUPIYA, 1998, p. 14).

Esse contexto formou a base para os diálogos de paz em Moçambique, os quais foram iniciados em 1990 e contaram com a mediação da Comunidade Católica de Santo Egídio2. Após dois anos de negociações, foi estabelecido, em 1992, o Acordo Geral de Paz entre a RENAMO e o governo da FRELIMO, composto por sete protocolos (RUPIYA, 1992, p. 14). O Protocolo I, intitulado “Princípios Básicos”, estabeleceu o compromisso de o governo não tomar quaisquer medidas contrárias ao Acordo Geral de Paz, ao passo que a RENAMO não deveria entrar em conflitos armados. O Protocolo II, “Critérios para a formação e reconhecimento de partidos políticos”, estabeleceu diretrizes para a organização de partidos políticos, estabelecendo, por exemplo, que esses deveriam ser associações de cidadãos voluntárias, independentes e livres, cujo propósito principal seria o de dar expressão democrática à vontade popular e promover a participação democrática (GPA, 1992, p. 42). O Protocolo III, “Princípios do Ato Eleitoral”, estabeleceu princípios que deveriam orientar as eleições moçambicanas, como a liberdade de imprensa, de expressão e o estabelecimento de procedimentos eleitorais baseado em um sistema de regras democráticas, imparciais e pluralistas. O Protocolo IV, “Assuntos Militares”, tratou de temas como a formação da Força de Defesa Moçambicana, uma força apartidária cuja formação teria início após o cessar-fogo. O Protocolo V, “Garantias”, estabeleceu a criação de uma Comissão para supervisionar o cessar-fogo e monitorar o Acordo Geral de Paz. Finalmente, o Protocolo VI, “Cessar-fogo”, estabeleceu as condições para o cessar-fogo e o Protocolo VII, “Conferência de Doadores”, afirmou a necessidade de uma conferência internacional para viabilizar o financiamento do processo eleitoral, de programas emergenciais e da reintegração de deslocados internos, refugiados e soldados desmobilizados (GPA, 1992, p.

60). O processo de paz moçambicano recebeu amplo suporte internacional de países como os Estados Unidos, a França, Portugal e o Reino Unido (RUPIYA, 1998, p. 15).

2 De acordo com Richard Jackson (2005, p. 19), a Comunidade Católica de Santo Egídio é uma organização católica de caridade com sede em Roma e presença em Moçambique.

(8)

8 Após o estabelecimento do Acordo Geral de Paz de 1992, o Conselho de Segurança aprovou, em 13 de outubro do mesmo ano, a Resolução 782, pela qual deu as boas-vindas à assinatura do Acordo Geral e aprovou o despacho de um Representante Especial Interino do Secretário-Geral e de uma equipe de observadores militares a Moçambique (NAÇÕES UNIDAS, 1992). Contudo, devido às persistentes violações ao cessar-fogo em várias áreas do país, o Conselho de Segurança estabeleceu a Operação de Paz das Nações Unidas em Moçambique, por meio de sua Resolução 797, de 16 de dezembro de 1992, a qual deveria durar até 31 de outubro de 1993 (NAÇÕES UNIDAS, 1992b). O mandato da ONUMOZ incluiu aspectos políticos, eleitorais, militares e humanitários.

No âmbito político, o Representante Especial ficaria responsável por liderar a Comissão de Monitoramento e de Supervisão, a qual havia sido criada no contexto da implementação do Acordo, com o objetivo de monitorar o processo de paz (ONUMOZ, 1996). Com relação ao processo eleitoral, o Acordo Geral de Paz estabeleceu que eleições legislativas e presidenciais deveriam ocorrer um ano após a assinatura do Acordo. Nesse contexto, a Divisão Eleitoral da ONUMOZ deveria monitorar o processo eleitoral que seria organizado pela Comissão Nacional de eleições e, também, manter contato com o governo de Moçambique (ONUMOZ, 1996).

No âmbito militar, a ONUMOZ teve o papel de monitorar e verificar: (1) o cessar-fogo;

(2) a separação e a concentração das forças das partes envolvidas no conflito; (3) a desmobilização dos combatentes e a coleta, armazenamento e destruição de armas; (4) a retirada das forças estrangeiras; e (5) o desmantelamento de grupos militares armados privados e irregulares. Além disso, a ONUMOZ deveria prover a segurança para as Nações Unidas e outras iniciativas internacionais que tivessem o intuito de apoiar o processo de paz (ONUMOZ, 1996). Por fim, no âmbito humanitário, o componente da ONUMOZ para operações humanitárias (UNOHAC), estabelecido em Maputo, deveria servir tanto como um instrumento de reconciliação quanto como uma forma de apoiar o retorno de refugiados e de deslocados internos para seus lares (ONUMOZ, 1996).

A despeito do estabelecimento da ONUMOZ, em 14 de Abril de 1993, o Conselho de Segurança adotou a Resolução 818 (1993), que condenou os atrasos que impediam o avanço do processo de paz moçambicano e ampliou o mandato da ONUMOZ por seis meses (NAÇÕES UNIDAS, 1993). De fato, os atrasos na implementação das unidades militares da ONUMOZ trouxeram lentidão ao processo, pois a RENAMO solicitou que, no mínimo, 65 por cento das tropas da ONUMOZ deveriam estar a postos antes que tivesse início o processo de implementação do Acordo Geral de Paz (ONUMOZ, 1996). Assim, a ONUMOZ foi implementada em maio de 1993 (ONUMOZ, 1996), ao passo que as eleições moçambicanas foram atrasadas em um ano (RUPIYA, 1998, p. 16). Nessas eleições, 85%

(9)

9 dos 5,2 milhões de votantes registrados compareceram às urnas e reelegeram Joaquim Chissano como o Presidente de Moçambique, ao passo que a FRELIMO obteve a maioria dos assentos do Parlamento (129 dos 250 assentos disponíveis) (RUPIYA, 1998, p. 16-17).

Nesse contexto, as eleições ocorreram em outubro de 1994 e foram declaradas “livres e justas” pelas Nações Unidas (RUPIYA, 1998, p. 16).

Embora esses resultados aparentemente corroborem a ideia de “sucesso” da iniciativa das Nações Unidas para a paz em Moçambique (MALAQUIAS, 1998, p. 1), é relevante recordar, nesse contexto, os argumentos de Rob Jenkins (2013) sobre processos de construção da paz. De acordo com esse autor, uma das questões que podem ser levantadas sobre as iniciativas das Nações Unidas para a paz se refere à duração desses processos (JENKINS, 2013, p. 24-28; KEMER et al., 2016, p. 144). Dado que não existe uma duração definida para a conclusão de um processo de paz, é possível afirmar que o término da ONUMOZ não trouxe, necessariamente, a paz para a sociedade moçambicana.

Reppell e outros pesquisadores (2016, p. 9) afirmam, nesse sentido, que, mais de vinte após o estabelecimento do Acordo Geral de Paz, mais de 14 milhões de pessoas em Moçambique vivem com menos de US$ 1,25 por dia. Além disso, o país ainda necessita de programas de apoio à reintegração de ex-combatentes na economia nacional (REPPELL et al., 2016, p. 9). Adicionalmente, após 2013, a violência entre os partidos RENAMO e FRELIMO tornou-se evidente no contexto político moçambicano. Segundo Bowker e outros pesquisadores (2016) e Jentzsch (2016), abusos de direitos humanos são cometidos por ambas as partes em conflito e, de acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras (2016), mais de 5.800 refugiados moçambicanos ainda não têm acesso a condições humanitárias mínimas, na medida em que estão em abrigos superlotados, sem acesso a água potável e a saneamento básico (MSF, 2016).

Nesse contexto, é importante considerar a ênfase das Nações Unidas na interrelação entre paz e desenvolvimento, evidenciada por meio do conceito de construção da paz. Esse conceito, criado por Johan Galtung na segunda metade do século XX, compreende a paz não apenas como a ausência de conflitos violentos, mas, também, como a presença de estruturas sociais que preparem o caminho para a paz, como o acesso à saúde e à educação (GALTUNG, 1976, pp.297-298; KEMER et al., 2016, p. 139). Esse conceito passou a fazer parte do rationale das Nações Unidas em 1992, no contexto da publicação do relatório “Uma Agenda para a Paz”, do Secretário-Geral Boutros Boutros-Ghali (A/47/277, 1992). Assim, partindo da perspectiva do conceito de construção da paz, é possível afirmar que o processo de paz em Moçambique está, ainda, em curso (TSCHIRGI, 2003, p. 1-2;

PBSO, 2010; KEMER et al., 2016).

(10)

10 Esses dados evidenciam a necessidade de ampliar a discussão sobre o “sucesso” do processo de paz moçambicano (REPPELL et al., 2016, p. 9; JENTZSCH, 2016). Para ampliar esse debate, a próxima seção apresenta a perspectiva brasileira sobre o processo de paz moçambicano, analisando o papel do Brasil no contexto da ONUMOZ, ao passo que a terceira seção dialoga com o conceito de construção da paz, ao analisar os acordos de cooperação técnica que se seguiram à retirada da missão de peacekeeping de Moçambique.

2. O “JEITINHO BRASILEIRO” NA OPERAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS EM MOÇAMBIQUE (1993 A 1994): INTERESSES E PRÁTICAS

A presente seção analisa o processo de paz moçambicano a partir da perspectiva do Brasil, cujos objetivos, naquele contexto, foram tanto contribuir para o processo de paz moçambicano quanto avançar seus interesses nacionais no plano internacional. A questão problematizada é: no contexto moçambicano, em que medida é possível argumentar que houve uma política brasileira para a paz com ênfase no desenvolvimento? Para elaborar essa análise, a seção centra-se na participação do Brasil na ONUMOZ, que ocorreu entre janeiro de 1993 e dezembro de 1994 (EBMIL, 2017b), ao passo que a terceira seção analisa os projetos de cooperação bilateral entre Brasil e Moçambique que se seguiram ao término dessa missão. Embora esses tópicos – a missão de peacekeeping e projetos de cooperação técnica – sejam aparentemente distintos, analisa-se a existência de possíveis interrelações entre as diferentes iniciativas brasileiras nesse país, as quais evidenciem a existência de uma política brasileira para a paz em Moçambique centrada na promoção do desenvolvimento. Antes de proceder a essa análise,é importante destacar que a expressão utilizada no título, o “jeitinho brasileiro”, foi utilizada por Roberto DaMatta, no livro “O que faz o brasil, Brasil?”, e esteve associada, de forma geral, à nossa capacidade de driblar condicionantes legais e institucionais para obter vantagens próprias (DAMATTA, 1986). O sentido adotado na presente seção, no entanto, não assume essa conotação, mas, sim, alude à ideia de que o Brasil teria uma forma particular de promover a paz em outros países, a qual não apenas estaria mais preocupada com o desenvolvimento das sociedades locais, mas, também, teria maior empatia com essas sociedades, por ter problemas sociais e origens culturais afins (AGUILAR, 2012). Esses argumentos são explorados em maior profundidade ao longo da seção.

Para debater a eventual existência de um jeitinho brasileiro de promoção da paz no contexto moçambicano, é relevante analisar a presença do Brasil na ONUMOZ. Nesse sentido, destaca-se que o envio de tropas para missões de peacekeeping no continente africano se enquadra dentro de um “interesse tradicional” do Brasil em apoiar a África, o que

(11)

11 foi expresso, por exemplo: (1) na Mensagem No 823 do Poder Executivo ao Congresso Nacional, em 5 de novembro de 1993, a qual solicitou ao Congresso a autorização para o envio de tropas brasileiras para a ONUMOZ (CONGRESSO NACIONAL, 1993, p. 25735); e (2) na Mensagem No 1090, de 1994, por meio da qual o Poder Executivo brasileiro solicitou autorização para o envio de tropas brasileiras à Angola, no contexto da operação de peacekeeping UNAVEM III (CONGRESSO NACIONAL, 1995, p. 2363).

Nesse contexto, Fontoura (2005, p. 214) apresenta a atuação do Brasil de uma maneira mais ampla no contexto das operações de manutenção da paz das Nações Unidas.

Segundo esse autor, desde 1957, o Brasil participou de 23 operações de manutenção da paz e duas missões civis das Nações Unidas (FONTOURA, 2005, p. 214). O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informa ainda que, em 2017, o Brasil contribui com nove missões de paz3 e possui um contingente de mais de 1.700 pessoas trabalhando nesses contextos (MRE, 2017). Fountoura (2005, p. 214) argumenta que, diferentemente da década de 1960, quando a contribuição brasileira para as missões de paz esteve diretamente relacionada à contribuição com pessoal militar, na década de 1990, a contribuição brasileira foi incrementada com a participação de civis e policiais, assim como com o suprimento de onze oficiais membros das Forças Armadas para servir no Departamento das Operações de Manutenção de Paz das Nações Unidas (FONTOURA, 2005, p. 214). No contexto da ONUMOZ, Fontoura (2005, p. 216) destaca que o Brasil contribuiu com uma força de 300 membros, incluindo 218 militares, 66 policiais e 16 servidores civis. Essa participação, que ocorreu entre janeiro de 1993 e dezembro de 1994, teve um brasileiro no comando do componente militar da missão, o General Lélio Gonçalves Rodrigues da Silva (EBMIL, 2017). Além disso, o Brasil também contribuiu para o processo eleitoral moçambicano, por meio da atuação de Walter Porto, Assessor do Presidente do Congresso Nacional Brasileiro, que foi juiz das eleições moçambicanas de 1994 (FONTOURA, 2005, p. 216).

No plano da política doméstica do Brasil, Fontoura menciona a formação do Grupo de Trabalho Interministerial como relevante para compreender as motivações do Brasil para atuar no processo de paz moçambicano (FONTOURA, 2016, p. 221). Esse grupo, composto por representantes de diferentes áreas do governo – Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Justiça, Forças Armadas e Congresso Nacional – foi formado por que o governo brasileiro não tinha, naquele momento, uma estrutura governamental dedicada a acompanhar a participação do Brasil em missões de paz (FONTOURA, 2016, p. 221). Esse grupo tinha as seguintes motivações: (1) aumentar a influência brasileira nos órgãos das

3 As iniciativas de paz atuais das Nações Unidas que contam com a participação do Brasil são:

MINURSO (Sahara Ocidental), MINUSTAH (Haiti), UNFICYP (Chipre), UNIFIL (Líbano), MONUSCO (República Democrática do Congo), UNISFA (Abyei), UNMIL (Libéria), UNMISS (Sudão do Sul) and UNOCI (Costa do Marfim) (MRE, 2017).

(12)

12 Nações Unidas relacionados às missões de manutenção da paz; (2) atualizar a legislação brasileira relacionada ao envio de tropas brasileiras para missões internacionais; (3) aproveitar as oportunidades de cooperação bilateral que sejam identificadas no contexto da implementação dos processos de paz. Assim, a participação do Brasil em iniciativas de paz busca tanto melhorar o status internacional do Brasil quanto identificar novas oportunidades para a cooperação bilateral.

Com relação à participação do Brasil no contexto da ONUMOZ, após a aprovação dessa missão pelo Conselho de Segurança, o Brasil reagiu positivamente à solicitação do Secretário-Geral Boutros Boutros-Ghali relativamente ao envio de tropas brasileiras a Moçambique (UZIEL, 2015, p. 111-112). Para justificar essa participação, as seguintes razões foram apresentadas pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional, por meio da Mensagem No 823, de 5 de novembro de 1993: (1) responder positivamente a uma demanda do Secretário-Geral das Nações Unidas; (2) obedecer à Constituição Nacional, que afirma, em seu artigo quarto, o comprometimento do Brasil com a promoção da paz e, também, cumprir com suas obrigações como membro das Nações Unidas; (3) contribuir para a pacificação do Sul da África; (4) fortalecer o relacionamento com Moçambique e com países africanos lusófonos; (5) evitar a redução do prestígio internacional do Brasil, na medida em que "a ausência do Brasil nesse esforço de pacificação causaria surpresa e teria repercussões negativas quanto à nossa capacidade de atuação internacional (…)”

(CONGRESSO NACIONAL, 1993, p. 25735). Ainda nessa mensagem, enfatizou-se que os riscos de retomada das hostilidades e de um prolongamento indefinido da presença das Nações Unidas em Moçambique seriam "bem menores" do que outras missões dessa organização, uma vez que Moçambique já tinha 10 meses de paz entre os partidos RENAMO e FRELIMO e suas eleições gerais já haviam sido marcadas (CONGRESSO NACIONAL, 1993, p. 25735). Esses argumentos indicam a ponderação, por parte do Brasil, dos custos e benefícios da sua participação no contexto moçambicano. Nesse contexto, o Congresso Nacional Brasileiro aprovou a participação do Brasil, por meio do Decreto Nacional Legislativo 15/1994, o que, segundo Uziel (2015, p. 112), foi condizente com os seguintes interesses do Brasil: (1) manter a tradição brasileira de oferecer tropas a missões internacionais; (2) expressar a solidariedade nacional com um país que partilha de traços culturais e históricos com o Brasil; (3) promover a imagem do Brasil no plano internacional;

(4) aprimorar a experiência das Forças Armadas nacionais. Essas passagens evidenciam alguns dos argumentos do Brasil sobre a participação na ONUMOZ, os quais estão relacionados tanto à promoção internacional da paz quanto ao intuito de aumentar o prestígio internacional do país e as capacidades de suas Forças Armadas.

(13)

13 No que se refere à participação das Forças Armadas brasileiras no terreno moçambicano, Sérgio Aguilar (2012, p. 217) argumenta que existe uma “cultura brasileira das operações de paz”, a qual é concebida pelo autor como a contribuição que as características culturais do Brasil, como as habilidades de negociação e o comportamento amigável dos brasileiros, podem oferecer no contexto de missões internacionais. Em particular, o autor fornece alguns exemplos sobre como esse “jeitinho brasileiro” evidenciou- se na ONUMOZ: (1) em uma negociação com ex-guerrilheiros que haviam bloqueado estradas moçambicanas, as tropas brasileiras conseguiram, de forma amigável, negociar a liberação das estradas (AGUILAR, 2012, p. 219); (2) a pobreza encontrada em Moçambique era uma característica conhecida pelas tropas brasileiras, o que contribuiu para a aproximação entre as tropas brasileiras e a população local (AGUILAR, 2012, p. 221); (3) algumas práticas culturais brasileiras, como o futebol e a capoeira, contribuíram para a construção de um ambiente de “convivência fraterna” no contexto dessa missão (AGUILAR, 2012, p. 223); (4) o fato de o Português ser um idioma comum contribuiu para a formação de um relacionamento positivo entre a equipe brasileira na ONUMOZ e a sociedade moçambicana (AGUILAR, 2012, p. 224).

A despeito de Aguilar ter trazido exemplos concretos da atuação das tropas brasileiras, com base em entrevistas com militares que estiveram no terreno, é necessário questionar em que medida essa atuação do Brasil em Moçambique promoveu a integração entre as diferentes forças presentes em campo para a promoção, nesse país, de uma forma de paz voltada à promoção do desenvolvimento. Embora esse “jeitinho brasileiro” tenha sido reafirmado em outras ocasiões, como no contexto do Workshop realizado entre a Universidade de São Paulo e o Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), em maio de 2017 (USP, 2017), ressaltou-se, nesse evento, que não houve uma doutrina de integração que coadunasse a atuação dos componentes militar, civil e policial no terreno.

Assim, conquanto as iniciativas das tropas brasileiras tenham apresentado proximidade cultural àquelas da sociedade moçambicana, essas iniciativas não evidenciam, necessariamente, um foco de promoção da paz por meio do desenvolvimento, o qual pressuporia a atuação sinérgica entre os diferentes atores brasileiros com atuação em Moçambique.

Dessa forma, se, por um lado, o Brasil manifestou interesses para a atuação em Moçambique em diversas dimensões, na prática, a atuação do Brasil esteve associada, preponderantemente, à dimensão militar, sem a previsão de sinergias com as dimensões policial e civil. Visto dessa perspectiva, é possível afirmar que, embora os militares no terreno tenham apresentado formas culturais de interação que foram caracterizadas como um “jeitinho brasileiro”, essas características não constituíram indícios de que houve uma

(14)

14 política do Estado brasileiro comprometida com a promoção da paz por meio do desenvolvimento no contexto da implementação da ONUMOZ. Como forma de ampliar as discussões para o período posterior à ONUMOZ, a terceira seção avalia a implementação de projetos de cooperação técnica para o desenvolvimento entre o Brasil e Moçambique.

3. A COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE BRASIL E MOÇAMBIQUE (1990-2010): LIMITES AO ELO ENTRE PAZ E DESENVOLVIMENTO

Embora as observações da seção precedente apontem para uma contribuição positiva das tropas brasileiras no contexto da ONUMOZ, a atuação do Brasil no processo de paz de Moçambique deve passar, também, pela análise dos acordos de cooperação bilateral entre os dois países. De acordo com Mendonça e Faria (2015, p. 8), as iniciativas brasileiras no contexto da cooperação técnica para o desenvolvimento podem ser associadas às seguintes motivações: (1) a necessidade de promoção do desenvolvimento sustentável, em particular no contexto da solidariedade existente entre países em desenvolvimento; (2) uma forma de fortalecer os laços entre países latino-americanos e africanos; (3) a proximidade histórica e cultural com alguns dos países com os quais o Brasil mantém projetos de cooperação técnica.

Nesse contexto, Mendonça e Faria (2015, p. 8) argumentam que, desde a criação da Agência Brasileira de Cooperação, em 1987, houve uma mudança no perfil da Cooperação Técnica para o Desenvolvimento do Brasil, na medida em que a diplomacia brasileira questionou o discurso de assimetria entre países receptores e doadores, propondo, ao invés disso, parcerias na forma da Cooperação Sul-Sul. Contudo, esses autores também afirmaram que a Cooperação Técnica para o Desenvolvimento do Brasil baseia-se nas práticas e nas expectativas que foram consolidadas em organizações multilaterais e fóruns com uma longa experiência na cooperação para o desenvolvimento (MENDONÇA E FARIA, 2015, p. 7). Essa afirmação traz questionamentos sobre a ideia de que o Brasil, um país em desenvolvimento, tem maior proximidade com as sociedades locais e realidades de seus parceiros em desenvolvimento (NGANJE, 2013).

De fato, no caso da cooperação técnica entre Brasil e Moçambique, o fato de o Brasil ser um país em desenvolvimento não constituiu motivação suficiente para produzir uma política de paz marcada pela continuidade entre a participação brasileira na ONUMOZ e os sucessivos projetos de cooperação entre o Brasil e Moçambique, nos quais o desenvolvimento pudesse ser identificado como um link de coesão. Essa afirmação pode ser evidenciada por meio da análise dos governos brasileiros de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) relativamente ao continente

(15)

15 africano, cujos mandatos estão compreendidos no período que se seguiu à retirada da ONUMOZ.

Com relação à política externa brasileira para a África durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, Mendonça e Faria (2015, p. 8) argumentam que houve uma

“exclusão” da África das prioridades da Política Externa Brasileira (PEB) daquele período.

De acordo com esses autores, embaixadas brasileiras foram fechadas em diversos países, como na Etiópia, Tanzânia, Camarões, República Democrática do Congo, Togo e Zâmbia.

Em particular, Mendonça e Faria (2015, p. 8) argumentam que a PEB durante a era de Fernando Henrique foi orientada, principalmente, pelo pragmatismo no âmbito comercial, com foco em países como Angola e Nigéria. De acordo com esses autores, Fernando Henrique afirmou que: “…a promoção de relações com países africanos teria sido um equívoco, tendo servido apenas para os militares brasileiros afirmarem sua pretensa hegemonia no Atlântico Sul, sem que o Brasil nada ganhasse em termos econômicos”

(MENDONÇA E FARIA, 2015, p. 8). Mendonça e Faria (2015, p. 8) sustentam, ainda, que a PEB passou por modificações durante os anos do governo Lula (2003-2010), no sentido de promover o fortalecimento das relações entre o Brasil e os países africanos. De fato, entre 2006 e 2010, o orçamento anual da Agência Brasileira de Cooperação cresceu de 18,7 milhões de reais para 52,26 milhões de reais (MRE, 2010b, p. 9) e, em 2009, metade desse montante destinou-se a países africanos (MRE, 2010b, p. 10, CALL E ABDENUR, 2017, p.

11).

Nesse contexto, a PEB foi concebida não apenas como uma forma de o Brasil ampliar seu poder de barganha no Sistema Internacional, mas também de estreitar os laços com as economias em ascensão do continente africano (MENDONÇA E FARIA, 2015, p.

10). O reforço das relações bilaterais foi particularmente evidente no cenário moçambicano, como foi afirmado pelo ex-presidente Lula:

Moçambique é, hoje, um importante imã para investimentos. De forma sucinta, a produção energética e mineral moçambicana será um fator determinante para o impacto da África Austral no mundo. Algumas de nossas maiores companhias já atuam nesse país. Nós estamos todos cientes dos pontos de contato históricos entre Moçambique e o Brasil, e nossas similaridades auxiliam-nos no compartilhamento de experiências e facilitam contatos. Nós temos um legado real de amizade e sentimento de camaradagem que facilitam nossas relações4. Discurso do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encerramento da Reunião de Negócios, Maputo, 16 de Outubro de 2008 (MRE, 2010, p. 137).

4 Tradução dos autores. Original em inglês: “Mozambique is today an important magnet for investment. Very briefly, Mozambique’s mineral and energy production will be the determining factor in Southern Africa’s impact on the world. Some of our major companies are already working on this country…We are all aware of the historical points of contact between Mozambique and Brazil and our similarities help us to share experiences and facilitate contacts. We have a real legacy of friendship and fellow-feeling that makes our relations easier” (MRE, 2010, p. 137).

(16)

16 De fato, no discurso de 2008, Lula enfatizou não apenas os laços históricos e culturais com a África, mas também a importância do comércio e dos investimentos para as relações bilaterais. Além disso, de acordo com Mendonça e Faria (2015, p. 12-13), os anos Lula representaram uma mudança na Política Externa Brasileira. Nesse sentido, o Brasil não apenas reconheceu o peso da questão da escravidão para as relações bilaterais, mas também buscou relações horizontais com países africanos (MENDONÇA E FARIA, 2015, p.

12-13).

No caso de Moçambique, a mudança da PEB para esse país entre os governos de FHC e de Lula da Silva pode ser observada por meio da análise do número e do escopo dos projetos de cooperação técnica bilateral, de 1995 a 2010. No que concerne ao número de projetos, o artigo traz um Anexo que foi organizado por meio do banco de dados do Sistema de Atos Internacionais do Ministério das Relações Exteriores (MRE, 2017b). Esse Anexo evidencia que cinco acordos de cooperação técnica foram assinados entre Brasil e Moçambique durante os anos FHC, ao passo que, durante os anos Lula, 49 acordos bilaterais desse tipo foram firmados5. Com relação ao escopo dos projetos, a Tabela 1 demonstra que houve um número relativamente reduzido de projetos de cooperação no período posterior ao término da ONUMOZ, na comparação com o governo de Lula da Silva:

5 Durante o governo Lula, destacaram-se os projetos: (1) de instalação de uma fábrica de medicamentos antirretrovirais em Moçambique; e; (2) da cooperação trilateral entre Brasil, Japão e Moçambique, no contexto do ProSavana. Segundo Almeida (2016, p. 58), a fábrica de medicamentos antirretrovirais, cuja propriedade é do governo moçambicano, evidenciou um diferencial da cooperação brasileira, na medida em que possibilitou maior autonomia ao país africano para a produção de medicamentos de combate ao HIV/AIDS. A cooperação trilateral no contexto do ProSavana, por sua vez, representou a aplicação da experiência nipo-brasileira com o Cerrado na Savana africana. Contudo, esse projeto vem sendo objeto de críticas, pois o modelo implementado no Brasil, ao ser exportado para Moçambique, poderia gerar uma série de problemas, como o surgimento de sem-terras, o aumento da pobreza e a produção de desequilíbrios ecológicos (ALMEIDA, 2016, p. 63).

(17)

17

Tabela 1: Acordos de Cooperação entre Brasil e Moçambique de 1995 a 2010 Áreas de Cooperação FHC Lula da Silva

Agricultura 2

Agropecuária 2

Alimentação 1

Biocombustíveis 1

Capacitação profissional 3

Científica e Tecnológica 1

Combate a Entorpecentes e a

Transações Fraudulentas 1

Comunicação Social 1

Cooperação Acadêmica 1

Cultural 6

Desenvolvimento Urbano 3

Educação e Alimentação 2

Educacional 3 1

Esportes 3

Florestas 1

Fortalecimento Institucional 3

Mineração 1 1

Obras Públicas 1

Saúde 11

Segurança Pública 1 2

Terras e Mapeamento 1

Turismo 1

Fonte: Organizado pelos autores com base em MRE (2017b)

Vale destacar, ainda, que Mendonça e Faria (2015, p. 17) organizaram uma tabela semelhante com dados de todos os acordos de cooperação entre o Brasil e países africanos, de forma a evidenciar uma perspectiva comparativa entre os governos de FHC e de Lula. Nesse trabalho, os autores demonstram que houve um incremento, na passagem dos governos de FHC a Lula, do número e do escopo dos projetos de cooperação entre o Brasil e países africanos, de forma geral. Essa análise fortalece o argumento de que os projetos de cooperação para o desenvolvimento para Moçambique foram antes o resultado da formulação mais ampla da política externa brasileira para a África específica do governo Lula do que a resultante de uma lógica de longo prazo da PEB, na qual a promoção da paz esteja baseada na ênfase ao desenvolvimento.

Assim, embora o relacionamento entre Brasil e Moçambique tenha sido resultado de um quadro mais amplo da Política Externa Brasileira para a África, é possível argumentar que houve uma descontinuidade da Política Externa Brasileira para a paz em Moçambique.

Isso é verdade na medida em que o governo de Fernando Henrique Cardoso reduziu a cooperação bilateral com Moçambique, em um momento em que as preocupações com o desenvolvimento moçambicano deveriam receber mais atenção do Brasil, haja vista que a ONUMOZ havia sido encerrada nesse período e que o Brasil defende o desenvolvimento como um meio indispensável para atingir a paz (MRE, 2017). Partindo dessa perspectiva, o

(18)

18 período de término de uma missão de peacekeeping ensejaria a ampliação dos esforços para a promoção do desenvolvimento e o aumento dos projetos de cooperação técnica seria uma evidência desses esforços. A análise da Tabela 1, entretanto, demonstra que áreas cruciais para a promoção do desenvolvimento não foram objeto de acordos de cooperação bilateral durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, como é o caso das áreas da saúde, da agricultura, da alimentação e da ciência e tecnologia. Ressalte-se ainda que a cooperação durante o governo de FHC contemplou projetos nas áreas de mineração, em 1997, e de segurança pública e educação, cujos acordos ocorreram somente em 2001.

Dessa forma, verifica-se que o período posterior ao término da ONUMOZ não implicou a implementação sistemática de projetos que buscassem trazer a paz por meio do desenvolvimento.

Essa análise apresenta um contraponto ao raciocínio de autores como Oliver Richmond e Ioannis Tellidis (2013, p. 2-4). Esses autores argumentaram que a atual crise da paz liberal abriu espaço para que atores como o Brasil possam desenvolver suas próprias agendas para a construção da paz. Considerando as relações de proximidade entre os países do Sul Global, essas agendas deveriam enfatizar as sociedades locais e aspectos de sua vida diária (RICHMOND & TELLIDIS, 2013, p. 2-4). Essa abordagem seria consistente com uma perspectiva crítica da construção da paz, a qual compreende que a promoção da paz é necessariamente relacionada ao diálogo com as sociedades locais com o propósito de compreender os conflitos (MAC GINTY, 2011). Contudo, a análise da participação brasileira na ONUMOZ e a relativa redução dos projetos de cooperação técnica que se seguiram a essa missão apontam para uma direção diferente, a qual relaciona a paz com missões de peacekeeping, mas posiciona a paz separadamente da cooperação técnica. Essa observação corrobora a visão de Ramon Blanco (2016), segundo a qual a inserção brasileira no debate internacional sobre a construção da paz é míope, na medida em que uma inserção mais qualificada demandaria não apenas a contribuição com tropas, mas, também,

“…aglutinar, de modo integrado e coordenado, diferentes tipos de atores e instituições em sua atuação na construção da paz internacional” (BLANCO, 2016, p. 23).

Essa inserção mais qualificada demandaria, inclusive, um maior diálogo entre o Brasil e as entidades não-governamentais e outras forças da sociedade moçambicana, na medida em que esse diálogo materializaria, na prática, uma promoção da paz centrada nas necessidades locais. De fato, embora a Agência Brasileira de Cooperação enfatize a solidariedade como uma das características basilares da cooperação para o desenvolvimento do Brasil (MRE, 2010b, p. 3), autores como Abdenur e Marcondes (2016, p. 3) e Call e Abdenur (2017, p. 6) apresentam uma perspectiva crítica a essa solidariedade, a qual estaria mais atrelada aos processos decisórios governamentais dos parceiros

(19)

19 brasileiros do que ao diálogo com entidades não-governamentais e com as forças de oposição desses países.

Dessa forma, não obstante o Brasil apresente uma retórica diplomática que enfatiza a “(…) interdependência entre a segurança e o desenvolvimento como elemento indispensável à paz sustentável” (MRE, 2017), no caso de Moçambique, verificou-se que essa interdependência não se refletiu na produção de uma política externa brasileira para a paz que enfatizasse a interligação entre dois dos mais presentes instrumentos da política externa brasileira – a participação brasileira em missões de peacekeeping e os projetos de cooperação técnica para o desenvolvimento. O caso moçambicano, portanto, enseja o debate sobre a relevância de o Brasil promover uma inserção internacional que seja o reflexo de uma maior sinergia entre os diferentes instrumentos que compõem o portfolio da Política Externa Brasileira, como é o caso das missões de peacekeeping e dos projetos de cooperação para o desenvolvimento. Assim, essa aproximação pode contribuir para que a atuação internacional do Brasil para a promoção da paz reforce o desenvolvimento como seu fio condutor.

CONCLUSÃO

O presente artigo debateu o papel do Brasil para a promoção da paz em Moçambique, com o foco na agenda brasileira de desenvolvimento naquele país. Após uma breve introdução sobre o contexto histórico que levou ao Acordo Geral de Paz e estabeleceu a ONUMOZ, o artigo analisou o processo de paz moçambicano a partir da perspectiva brasileira. Embora o Brasil enfatize a importância do desenvolvimento para a promoção da paz - o que justificaria o link entre as operações de paz e os acordos de cooperação técnica – verificou-se que, entre 1995 e 2003, período posterior ao término da ONUMOZ, houve apenas cinco projetos de cooperação técnica entre Brasil e Moçambique, um número muito inferior à quantidade de projetos de cooperação para o desenvolvimento implementados durante o governo Lula (49 projetos). Além disso, a análise da concentração temática de projetos evidenciou que apenas as áreas de mineração, educação e segurança pública foram contempladas por projetos de cooperação no governo de Fernando Henrique Cardoso, sendo que os projetos de educação e de segurança pública tiveram início somente em 2001 – seis anos após o término do mandato da ONUMOZ. Esse fato evidencia que, no caso de Moçambique, não é possível afirmar que houve uma política para a paz centrada na promoção do desenvolvimento, pois a promoção da paz em Moçambique foi operacionalizada, essencialmente, no contexto da missão de peacekeeping, e apenas posteriormente, ampliou-se o número de projetos de cooperação para o desenvolvimento entre os dois países. Essa análise lança novas perspectivas sobre a hipótese de autores

(20)

20 como Oliver Richmond e Ioannis Tellidis (2013, p. 2-4), segundo os quais países como o Brasil, por pertencerem ao Sul Global, deveriam enfatizar práticas mais centradas no desenvolvimento e nas sociedades locais. Embora essa hipótese seja afirmada na retórica da Política Externa Brasileira, o caso de Moçambique evidencia que o Brasil adotou uma abordagem de paz mais relacionada às operações de paz do que aos projetos de cooperação técnica. Assim, os resultados da pesquisa contrariam a suposição de que o Brasil, como um país em desenvolvimento, enfatizou, na prática de suas relações com Moçambique, o link entre paz e desenvolvimento.

(21)

21 REFERÊNCIAS

ABDENUR, Adriana E., MARCONDES, Danilo (2016) Democratization by Association?

Brazil's Social Policy Cooperation in Africa. Cambridge Review of International Affairs: 1-19

A/47/277 (1992) An Agenda for Peace. 17 de Junho de 1992. Disponível em: http://daccess- dds-y.un.org/doc/UNDOC/GEN/N92/259/61/PDF/N9225961.pdf?OpenElement.

Acesso em: 23 de maio de 2017.

AGUILAR, S. (2012) Uma cultura brasileira de missões de paz. In: BRIGAGÃO, Clóvis;

FERNANDES, Fernanda (2012) (org.) Diplomacia brasileira para a paz Brasília:

FUNAG.

ALMEIDA, Elga Lessa de (2016) Entre o discurso solidário e a ação pragmática da cooperação brasileira em Moçambique: os casos dos projetos de implantação da fábrica de medicamentos antirretrovirais e o ProSavana. Cad. CRH, Salvador, v. 29, n. 76, p. 53-68, Abril. BLANCO, R. (2016) A miopia brasileira na construção da paz internacional. Le Monde Diplomatique Brasil. Edição de Fevereiro.

BOWKER, T., KAMM, S., SAMBO, A. (2016) Mozambique’s Invisible Civil War. Disponível em: http://foreignpolicy.com/2016/05/06/mozambiques-invisible-civil-war-renamo- frelimo-dhlakama-nyusi/. Acesso em: 23 de maio de 2017.

BRACEY, D. (2011) O Brasil e as Operações de Manutenção da Paz da ONU: Os Casos do Timor Leste e Haiti. Contexto Internacional, vol. 33, n. 2, July/Dezembro.

BRITANNICA (2017) Zimbábue. Disponível em:

http://escola.britannica.com.br/article/482920/Zimbabue. Acesso em: 23 de maio de 2017.

CALL, Charles T. e ABDENUR, Adriana E. (2017) A “Brazilian way”? Brazil’s approach to peacebuilding. Disponível em: https://www.brookings.edu/wp- content/uploads/2017/03/lai_20170228_brazilian_way_peacebuilding1.pdf. Acesso em 4 de Junho de 2017.

CONGRESSO NACIONAL (1993) Mensagem No 823 do Poder Executivo ao Congresso Nacional, em 5 de novembro de 1993. In: Diário do Congresso Nacional. Ano XLVIII - N 196 Terça-Feira, 30 de Novembro de 1993. Disponível em:

http://imagem.camara.gov.br/montaPdf.asp?narquivo=DCD30NOV1993.pdf&npagina

=11. Acesso em 4 de junho de 2017.

CONGRESSO NACIONAL (1994) Decreto Legislativo 15/1994. Disponível em:

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1994/decretolegislativo-15-8-marco-1994- 358263-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 23 de maio de 2017.

(22)

22 CONGRESSO NACIONAL (1995) Mensagem No 1090, de 1994. Disponível em: Diário do

Congresso Nacional. Ano L – No. 30 Sexta Feira, 24 de Fevereiro de 1995.

CRAVINHO, J. (2004) Mozambique recent history. In: African South of the Sahara. pp. 741- 746. United States: Routhledge.

DAMATTA, Roberto (1986) O que faz o brasil, Brasil? / Roberto DaMatta. - Rio de Janeiro:

Rocco.

DE CONING, C. e PRAKASH, C. (2016) Peace Capacities Network Synthesis Report Rising Powers and Peace Operations. Norwegian Institute of International Affairs.

EBMIL (2017) Atuação do Brasil em Missões de Paz. Disponível em:

http://www.eb.mil.br/en/missoes-de-paz/-

/asset_publisher/xbkIlDCFFYVl/content/apresentacao. Acesso em: 23 de maio de 2017.

EBMIL (2017b) United Nations Operation in Mozambique (ONUMOZ). Disponível em:

www.eb.mil.br/onumoz. Acesso em: 23 de Maio de 2017.

FONTOURA, P. R. C. T. da (2005) O Brasil e as Operações de Manutenção da Paz das Nações Unidas. Brasília: FUNAG.

FONTOURA, P. R. C. T. da (1999) O Brasil e as Operações de manutenção da Paz das Nações Unidas. Brasília: FUNAG

FUNADA-CLASSEN, Sayaka (2012) The Origins of War in Mozambique. A History of Unity and Division. Tóquio: Ochanomizu Shobo Co Ltd.

GALTUNG, Johan (1976) Three Approaches to Peace: Peacekeeping, peacemaking and peacebuilding. In: Peace, War and Defence: Essays in peace research. Vol. 2, pp.

282-304.

GPA (1992) Mozambique General Peace Agreement. In The Mozambican Peace Process in Perspective. Issue 3. London: Conciliation Resources.

JACKSON, R. Internal War, International Mediation, and Non-Official Diplomacy: Lessons from Mozambique. Journal of Conflict Studies, [S.l.], v. 25, n. 1, jan. 2005.

JENTZSCH, C. (2016) Here are 4 reasons why Mozambique isn’t a post-war success story.

Disponível em: https://www.washingtonpost.com/news/monkey- cage/wp/2016/02/02/here-are-four-reasons-why-we-should-question-mozambiques- post-conflict-success-story-narrative/. Acesso em: 23 de maio de 2017.

JENKINS, R. (2013) Peacebuilding. From Concept to Commission. New York: Routledge.

KEMER, T.; PEREIRA, A. E. ; BLANCO, R. (2016) A construção da paz em um mundo em transformação:o debate e a crítica sobre o conceito de peacebuilding. Rev. Sociol.

Polit., Curitiba, v. 24, n. 60, p. 137-150, Dez. 2016.

(23)

23 KENKEL, K. M. (2013) O peacebuilding do Brasil na África e no Haiti: uma alternativa à paz liberal, ou só maquiagem? 4º. Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais, Belo Horizonte.

MAC GINTY, R. (2011) International Peacebuilding and Local Resistance: Hybrid Forms of Peace. New York: Palgrave.

MALAQUIAS, A. V. (1998) UN Peace Operations In Lusophone Africa: Contrasting Strategies And Outcomes. Journal of Conflict Studies, [S.l.], sep. 1998.

MENDONCA JUNIOR, Wilson; FARIA, Carlos Aurélio Pimenta de (2015) A cooperação técnica do Brasil com a África: comparando os governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula da Silva (2003-2010). Rev. bras. polít. int., Brasília , v. 58, n. 1, p. 5-22, Junho.

MILANI, Carlos R. S. e PINHEIRO, Leticia (2013) Política externa brasileira: os desafios de sua caracterização como política pública. Contexto Internacional. Rio de Janeiro, vol.

35, no 1, janeiro/junho, p. 11-41

MSF (2016) Malawi: Humanitarian standards not reachable for more than 5,800 Mozambican refugees in Kapise camp. Disponível em: http://www.msf.org/article/malawi- humanitarian-standards-not-reachable-more-5800-mozambican-refugees-kapise- camp. Acesso em: 23 de maio de 2017.

MRE (2010) Brazilian Foreign Policy Handbook: Positions Adopted by Brazil in 2008-2009.

Brasília: FUNAG.

MRE (2010b) “Agência Brasileira de Cooperação,” Apresentação do Ministro Marco Farani, Diretor da ABC, no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), no Rio de

Janeiro Disponível em:

http://www.cebri.org/evento/seminario:_brasil_e_china_na_africa;jsessionid=78CC7D FA56C8B8B3F6E6DAAB05261F61. Acesso em 5 de Junho de 2017.

MRE (2017) Brazil and the UN Peacekeeping Missions. Disponível em:

http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/paz-e-seguranca-

internacionais/4783-o-brasil-e-as-operacoes-de-paz. Acesso em: 23 de maio de 2017.

MRE (2017b) Sistema de Atos Internacionais. Disponível em: http://dai- mre.serpro.gov.br/pesquisa_ato_bil. Acesso em: 23 de maio de 2017.

NAÇÕES UNIDAS (1992) Resolução 782 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Disponível em:

http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/782(1992). Acesso em:23 de Maio de 2017.

(24)

24 NAÇÕES UNIDAS (1992b) Resolução 797 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Disponível em:

http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/797(1992). Acesso em:23 de Maio de 2017.

NAÇÕES UNIDAS (1993) Resolução 882 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Disponível em:

http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/882(1993). Acesso em: 23 de Maio de 2017.

NEVES, G. M. S. (2009) Comissão das Nações Unidas para Consolidação da Paz:

perspectiva brasileira. Brasília: FUNAG.

NGANJE, F. (2013) Peacebuilding from below: the role of decentralized south-south cooperation in Africa. The Southern Voices Network: Research Paper No. 1. Wilson Center

ONUMOZ (1996) ONUMOZ. Disponível em:

http://www.un.org/Depts/DPKO/Missions/onumoz_b.htm. Acesso em: 23 de maio de 2017.

PBSO (2010) Peacebuilding: An Orientation. Disponível em:

http://www.un.org/en/peacebuilding/pbso/pdf/peacebuilding_orientation.pdf. Acesso em: 23 de maio de 2017.

REFWORLD (2001) Zimbabwe: The Central Intelligence Organization (CIO), including its structure and branches and whether its members commit human rights abuses.

Disponível em: http://www.refworld.org/docid/3df4bece4.html. Acesso em: 23 de maio de 2017.

REPPELL, L.; ROZEN, J., DE CARVALHO, G. (2016) Planning for peace Lessons from Mozambique’s peacebuilding process. Institute for Security Studies. Disponível em:

https://www.issafrica.org/uploads/Paper291.pdf. Acesso em: 23 de maio de 2017.

RICHMOND, O. P. e TELLIDIS, I. (2013) The BRICS and international peacebuilding and statebuilding. Norwegian Peacebuilding Resources Centre (NOREF).

RUPIYA, M. (1998) Historical Context: War and Peace in Mozambique. In: The Mozambican Peace Process in Perspective. Issue 3. London: Conciliation Resources.

USP (2017) Workshop Brasil e Operações de Paz da ONU. Disponível em:

http://www.eventos.usp.br/?events=workshop-aborda-brasil-e-operacoes-de-paz-da- onu. Acesso em: 5 de Junho de 2017.

UZIEL, E. (2015) O Conselho de Segurança, as Missões de Paz e o Brasil no Mecanismo de Segurança Coletiva das Nações Unidas. Brasília: FUNAG.

(25)

25 VARELLA, Raquel (2012) “Um, dois, três MFA...”: o Movimento das Forças Armadas na Revolução dos Cravos – do prestígio à crise. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 32, nº 63, p. 403-425.

VISENTINI, Paulo Fagundes (2012) As revoluções africanas: Angola, Moçambique e Etiópia. Direção da Coleção: Emília Viotti da Costa. São Paulo: UNESP.

(26)

26 Anexo: Acordos de Cooperação entre Brasil e Moçambique entre 1980 e 2010

Conclusão

do Acordo Área da Cooperação Título do Documento 10/04/1980 Capacitação profissional

Acordo para Implementação do Projeto "Implantação de um Centro de Formação Profissional para Escritórios e Administração", em Moçambique.

15/09/1981 Acordo Geral de Cooperação Acordo Geral de Cooperação

15/05/1987 Comunicações Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação de 15/09/81, no Campo das Comunicações.

27/05/1989 Agricultura Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação de 15 de novembro de 1981, na Área de Agricultura Irrigada.

01/06/1989 Cultural Acordo de Cooperação Cultural

18/07/1997 Mineração Ajuste Complementar ao Acordo-Geral de Cooperação no Campo da Mineração.

20/06/2001 Educacional

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação na área de Educação para a Implementação do Programa Alfabetização Solidária em Moçambique.

20/06/2001 Educacional Memorando de Entendimento, na área de Cooperação Educacional.

20/06/2001 Educacional Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica na Área da Educação

20/06/2001 Segurança Pública

Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica, Educacional, Científica e Tecnológica na Área da Segurança Pública.

02/05/2003 Saúde

Memorandum de Entendimento no Âmbito do Programa de Cooperação Internacional do Ministério da Saúde do Brasil.

(HIV e AIDS)

05/11/2003 Científica e Tecnológica Programa de Trabalho em matéria de Cooperação Científica e Tecnológica

05/11/2003 Cultural

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação na Área de Educação para Implementação do Projeto "Bolsa- Escola"

05/11/2003 Cultural

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Apoiar o Desenvolvimento do Programa Piloto Nacional de Alfabetização de Moçambique

05/11/2003 Esportes Ajuste Complementar ao Acordo Cultural para a Cooperação no Campo dos Esportes

05/11/2003 Educacional

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto "Uso de Tecnologias da Informação e da Comunicação na Educação Presencial e à Distância em Moçambique.”

05/11/2003 Terras e Mapeamento Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica na Área de Terras e Mapeamento.

05/11/2003 Agropecuária

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do "Projeto de Apoio ao Desenvolvimento e Fortalecimento do Setor de Pesquisa Agropecuária da República de Moçambique"

05/11/2003 Fortalecimento Institucional Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica na Área de Administração Pública

05/11/2003 Mineração Memorando de Entendimento nas Áreas de Geologia, Mineração e Transformação Mineral

05/11/2003 Saúde

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto PCI-NTWANANO no Âmbito do Programa de Cooperção Internacional do Ministério da Saúde do Brasil

31/08/2004 Segurança Pública Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica na Área de Formação de Pessoal Especializado em Prisões.

31/08/2004

Combate a Entorpecentes e a Transações Financeiras Fraudulentas

Acordo de Cooperação entre o Brasil e Moçambique sobre o Combate à Produção, ao Consumo e ao Tráfico Ilícitos de Entorpecentes, Substâncias Psicotrópicas e sobre o Combate às Atividades de Lavagem de Ativos e outras Transações Financeiras Fraudulentas

Referências

Documentos relacionados

Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo geral analisar as metodologias utilizadas pelos professores da EEEFM Professor José Gonçalves de Queiroz em relação às tecnologias

E para opinar sobre a relação entre linguagem e cognição, Silva (2004) nos traz uma importante contribuição sobre o fenômeno, assegurando que a linguagem é parte constitutiva

Considerando a presença e o estado de alguns componentes (bico, ponta, manômetro, pingente, entre outros), todos os pulverizadores apresentavam alguma

A magnitude do Reservatório, seu sistema de dependência entre reservatórios, a quantidade de municípios e da população direta e indiretamente influenciada, a

Faculdade de Economia da UFBA.. O trabalho identifica as estratégias adotadas pelo governo, através do PRODETUR, na tentativa de promover o desenvolvimento integrado

Observamos que a redução da expressão das proteínas não afetou a invasão do parasita no tempo de 2 horas, mas que a baixa expressão da proteína WASP se mostrou capaz de permitir

(...) logo depois ainda na graduação, entrei no clube, trabalhávamos com este caráter interdisciplinar, foi aí que eu coloquei em prática o que muito ouvia em sala (Rita - EV). Esse

Entrelaçado a isso, poderia contribuir a sugestão de preparação de atividades para alunos dos CLLE de nível 1, no lugar de ser aluna na turma deles (relato de 7 de março);