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PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O (5ª Turma) GMBM/NF/lmp

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

A C Ó R D Ã O (5ª Turma) GMBM/NF/lmp

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS DE SEGURANÇA. CABIMENTO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA.

Em razão de provável caracterização de ofensa ao art. 927 do Código Civil,

dá-se provimento ao agravo de

instrumento para determinar o

prosseguimento do recurso de revista.

Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS DE SEGURANÇA. CABIMENTO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. Cinge-se a controvérsia

acerca da possibilidade de condenação

da reclamada ao pagamento de

indenização por danos morais coletivos em razão do descumprimento das normas de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores. A despeito da parcela de culpa do obreiro vitimado no acidente descrito nestes autos, e, mesmo tendo a reclamada adequado suas atividades às normas trabalhistas após a ocorrência do incidente, certo é que há registro constante no acórdão regional acerca da prática ilícita de descumprimento de normas de segurança do trabalho. Nestes casos, este Tribunal Superior tem entendido ser cabível a condenação patronal ao pagamento de indenização

por danos morais coletivos.

Precedentes. Desse modo, evidenciado o descumprimento de normas atinentes à segurança do trabalho, reputa-se caracterizada a conduta transgressora por parte da empresa, transcendendo a esfera individual de interesses dos

trabalhadores, atingindo toda a

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP coletividade dos integrantes dos quadros da empresa, gerando o dever de indenizar, nos termos das disposições dos arts. 186 e 927 do Código Civil.

Recurso de revista conhecido e provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-1118-63.2016.5.09.0684, em que é Recorrente

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO e Recorrida ARGAFACIL DO BRASIL ARGAMASSAS LTDA - ME.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que negou seguimento a recurso de revista.

Na minuta de agravo de instrumento, a parte sustenta, em síntese, a viabilidade do seu recurso de revista.

Sem contraminuta ou contrarrazões. É o relatório.

V O T O

AGRAVO DE INSTRUMENTO I - CONHECIMENTO

Preenchidos os pressupostos recursais, conheço do agravo de instrumento.

II - MÉRITO

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS DE SEGURANÇA. CABIMENTO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA.

Nas razões de revista, as quais foram reiteradas no agravo de instrumento, a parte recorrente indica ofensa aos arts. 1º, III, IV, 6º, 7º, XXII, 170 e 225 da Constituição Federal, 154 a 201 da CLT, 1º, IV, 3º, da Lei nº 7.347/85 e 247, 186, 927 e 944 do Código Civil.

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP Colaciona arestos a fim de evidenciar a comprovação de divergência jurisprudencial.

Sustenta, em síntese, ter ficado comprovada a conduta ilícita da reclamada a ensejar a sua condenação por danos morais coletivos, isso em razão do descumprimento das normas de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores.

Examina-se a transcendência da matéria.

Embora se reconheça que a matéria “indenização por dano moral coletivo” não é nova no âmbito desta Corte, traz ao exame um viés ainda não pacificado, pelo que verifico a existência de

transcendência jurídica apta ao exame do recurso.

Destaco, de início, que a parte cuidou de indicar, no recurso de revista, o trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestionamento da controvérsia objeto da insurgência, atendendo ao disposto no art. 896, § 1º-A, I, da CLT.

O e. TRT consignou, quanto ao tema: “Recurso do Ministério Público do Trabalho

Dano moral coletivo

Transcrevo a decisão a respeito do pedido de condenação da ré ao pagamento de indenização por dano moral coletivo:

„Relata o autor que, "em 05.11.2015, Ofício nº

033/2015 (Doc. 01), encaminhado pelo SIMENCAL - Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cimento, Cal e Gesso de Rio Branco do Sul, noticiando o óbito do empregado da empresa Argafácil do Brasil, Henrique Estanislau Choinski, de 62 anos, em decorrência de acidente de trabalho ocorrido em 30.10.2015". Continua,

observando ter sido instaurado Inquérito Civil, "para

apuração do ocorrido, bem como das condições de higiene, saúde e segurança do trabalho nas instalações da Ré, foi requisitada sua manifestação acerca das circunstâncias do acidente fatal, bem como a juntada do Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho do empregado vitimado e relatório da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes".

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP Observa que, em momento oportuno, "requisitou-se

da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Paraná (SRTE-PR) o encaminhamento da Análise de Acidente Fatal e do Sindicato denunciante a averiguação dos fatos e identificação de testemunhas".

Prossegue, mencionando que o referido sindicato,

"após visita ao local, juntou ao inquérito civil material fotográfico e informou, de acordo com o relato de testemunhas que presenciaram o ocorrido, que o trabalhador Henrique Estanislau Choinski sofreu queda de aproximadamente 10 (dez) metros de altura quando realizava a atividade de lubrificação do equipamento 'exaustor do secador de areia', nas instalações da empresa Ré. Ao se deslocar de um lado ao outro da plataforma, momento em que teve de destravar o cinto de segurança, pisou em um espaço aberto e caiu de tal altura". Continua,

asseverando que a parte passiva "se manifestou nos autos

administrativos e apresentou documentos, entre os quais, Ficha de Investigação de Acidentes e Incidentes, ata de reunião extraordinária da CIPA, Ordem de Serviço, comprovante de controle e entrega de Equipamento de Proteção Individual (EPI), listas de presença em palestras sobre segurança do trabalho e certificado de treinamento para trabalho em altura, todos relativos ao trabalhador Henrique Estanislau Choinski. Segundo o relatório de análise de acidente de trabalho elaborado pela própria empresa, a queda de altura teve como causas a utilização incorreta de equipamento de proteção, assim como o fato de serem perigosas as condições ambientais do labor. Recomendou-se, para minimização dos riscos, a substituição da escada de acesso e a adequação da plataforma para manutenção do exaustor do secador".

Observa que a SRTE-PR elaborou relatório acerca do acidente do trabalho, com descrição do ocorrido. Auditores Fiscais do Trabalho, verificando as condições laborais na

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP empresa e as circunstâncias do acidente fatal, apontaram:

‘3.3. Os serviços de manutenção do secador eram realizados de forma não rotineira. Observamos que o acesso à plataforma, através de uma escada tipo marinheiro, e a movimentação dos trabalhadores em toda a sua superfície, sujeitos ao risco de queda inclusive na abertura exposta do piso, constituíam fatores de risco, o que exigia do empregador a realização da prévia Análise de Risco da tarefa, e emissão da respectiva Permissão de Trabalho, com o estabelecimento de medidas de controle específicas relativas ao sistema de ancoragem, com o objetivo de assegurar a adequada conexão do cinto de segurança do trabalhador durante todo o período de exposição ao risco de queda, conforme exigências do itens 35.5.3.1 e 35.5.3.2 da NR 35. 3.4. O empregador apresentou o PCMSO e Atestado de Saúde Ocupacional - ASO - Admissional da vítima considerando-o apto para a função, sem a consignação, porém, da aptidão para trabalho em altura, conforme dispõe o item 35.4.1.2.1 da NR-35. 6. Foi apresentado pelo empregador o Procedimento Operacional Padrão para Trabalho em Altura, mencionando orientações gerais sobre medidas de segurança para trabalho em altura. Consideramos que o referido documento não se aplicava para a atividade não rotineira, executada pelo acidentado e seu colega de trabalho por ocasião da ocorrência fatal".

Diante disso, lavrados Autos de Infração: "nº 20.853.666-3 - Ementa: Deixar de estabelecer o sistema de ancoragem por meio de Análise de Risco e nº 20.853.580-2 - Ementa: Deixar de consignar a aptidão para trabalho em altura no atestado ocupacional do trabalhador". Destaca que, realizada audiência com a empresa, "lhe foi oportunizada a

adequação extrajudicial por meio de assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Embora tenha reconhecido que as obrigações propostas fossem de fácil execução, a ré se recusou a assinar o instrumento sob o

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argumento de que o acidente de trabalho representou 'situação pontual' e, também, em razão do valor da multa estipulada na hipótese de descumprimento das obrigações, conforme ata de audiência". Assim, diante do comportamento da parte passiva, "negando-se a adequar

extrajudicialmente sua conduta, necessária a busca da tutela judicial por meio da presente Ação Civil Pública".

Menciona, na sequência, os fundamentos jurídicos do pedido, acentuando da obrigação do empregador de cumprir e fazer cumprir as normas de segurança do trabalho. Acerca do descumprimento patronal, no caso, destaca o seguinte:

"Além dos aspectos gerais abordados pela NR-35 - requisitos mínimos e as medidas de proteção para o trabalho em altura -, prevê o item 35.5.3.1 que o sistema de ancoragem deve ser estabelecido pela Análise de Risco da atividade. No momento da queda, Henrique Estanislau Choinski precisou desconectar o cinto de segurança para ir de um ponto a outro da plataforma para realizar a manutenção do exaustor do secador de areia, pois não havia sistema de ancoragem que permitisse ao trabalhador permanecer conectado durante todo o período de exposição ao risco de queda. O cinto foi conectado a um ponto de ancoragem selecionado pelo próprio trabalhador na plataforma, sem possibilidade de maiores deslocamentos exigidos para a execução do serviço. Ou seja, o acidente de trabalho não decorreu do mau uso ou ausência de uso do EPI por culpa do empregado, como afirma a empresa, mas de ausência de previsão e de implantação de EPC - impossibilidade de realização do serviço exigido pela ré com o sistema de ancoragem por ela propiciado! Esta irregularidade encontra óbice no art. 157, I da CLT c/c itens 35.5.3.1 e 35.5.3.2 da NR-35". A propósito, observa, ainda: "As atividades de trabalho em altura não rotineiras, a exemplo daquela desenvolvida por Henrique Estanislau Choinski, devem ter as medidas de controle evidenciadas na

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Análise de Risco e na Permissão de Trabalho, consoante se extrai do item 35.4.7.1. 35.4.7.1 Para as atividades não rotineiras as medidas de controle devem ser evidenciadas na Análise de Risco e na Permissão de Trabalho”. Por fim,

observa-se que na própria ata de reunião extraordinária da CIPA, o Consultor Técnico da empresa, Sr. José Ivo, reconheceu a necessidade de elaboração de Análise de Risco: 'O Consultor Técnico Sr. José Ivo ressaltou a

importância da análise de risco de todas as atividades em Altura superior a dois metros que possua risco de acidente e aplicação do procedimento de Trabalho em Altura'.

Ademais, em face da empresa Ré foi lavrado auto infracional em razão do Atestado de Saúde Ocupacional - ASO do trabalhador vitimado não conter a consignação de aptidão para trabalho em altura, em desconformidade com o art. 157, I da CLT c/c item 35.4.1.2.1 da NR-35. 35.4.1.2.1 A aptidão para trabalho em altura deve ser consignada no atestado de saúde ocupacional do trabalhador. Portanto, não basta a aptidão 'genérica' para o trabalho no caso de atividades em altura, por razões óbvias. Diante das irregularidades verificadas no estabelecimento da ré e que resultaram em acidente fatal necessária a tutela judicial para compelir a empresa a adotar as medidas preventivas de forma permanente. Sustenta o autor que haveria dano moral coletivo no caso, razão de pedir a condenação da ré a pagar indenização, no valor de R$ 30.000,00.

Em vista do exposto, requer que a parte passiva, ainda, seja compelida às obrigações de fazer enumeradas no item IV da inicial (letras "a" até "h"), sob pena de multa diária (de R$ 1.000,00 por obrigação descumprida, "valor reversível ao FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador - ou a outro fundo ou entidade sem fins lucrativos a ser indicada oportunamente pelo Ministério Público do Trabalho") - fls. 03/22 - os destaques são do autor.

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP A ré, em sua defesa, fez constar o seguinte:

"Consoante se observa, as supostas infrações cometidas pela ré se afiguram de pretensas violações de origem meramente formal que, conforme já demonstrado, em nada contribuíram para a ocorrência do fatídico acidente que infelizmente vitimou seu funcionário, o qual, como será demonstrado ao longo da instrução processual, somente ocorreu em virtude de ato inseguro praticado pela própria vítima, em absoluto desacordo com as orientações e com o treinamento por este recebido da ré. Ademais, ao contrário de todo o contexto colocado pelo autor, a ré é empresa familiar, extremamente preocupada com a saúde e bem estar dos seus colaboradores, tanto que promove todos os investimentos necessários em melhoria ao ambiente de trabalho, não medindo esforços para o cumprimento da legislação de regência, especialmente aquelas relacionadas à segurança e medicina do trabalho. O vasto aparato documental demonstra a procedência das alegações ora colocadas pela ré. Deste modo, resta evidenciado que, além de inexistir razão para a intervenção do Parquet no caso em debate, o que já foi devidamente enfrentado em sede de preliminar, certo de que é parte ilegítima para promover a presente demanda, uma vez que ausente ofensa à interesse difuso ou coletivo. Nada obstante, mesmo que se entenda pela legitimidader 'ad causam' do Ministétio Público do Trabalho, o que não se espera, restará absolutamente claro que jamais houve qualquer ato e/ou fato praticado pela ré que tenha atingido e gerado danos a coletividade de seus empregados e na sociedade, de forma que não há que se falar, portanto, em reparação em dimensão difusa e coletiva". Observa, ainda, "que as pretensas irregularidades observadas pelos Auditores na documentação da ré não foram, nem de longe, determinantes para a ocorrência do fatídico acidente, uma vez que a ausência de Análise Preliminar de Risco e a falta de consignação, no Atestado

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de Saúde Ocupacional do trabalhador vitimado, da aptidão deste para o trabalho em altura, não afastam, de qualquer forma que a questão é vista, a verdadeira causa da ocorrência da fatalidade, a qual, como dito, decorre de ato inseguro praticado pela própria vítima". Acrescenta que,

em resposta ao pedido de tutela de urgência, "rebateu os

argumentos formulados i. Representante do Parquet e por meio da documentação granjeada demonstrou à satisfação que adotou as medidas necessárias para resguardar a saúde e segurança de seus empregados, em especial quanto à elaboração de análise de risco referente à atividade de lubrificação do exaustor do secador, ainda, que os atestados de saúde ocupacional dos trabalhadores passaram a conter observação relativa à aptidão para trabalho em altura".

Diz ter ficado "incontroverso na documentação que o

'cinto de segurança paraquedista com duplo talabarte' consta dentre os EPIs a serem utilizados na atividade de manutenção no exaustor do secador". Remete à decisão pela

qual julgado o pedido de tutela de urgência, sustentando que daí "já é possível inferir pela improcedência da presente

demanda, tendo em vista que a empresa ré está devidamente alinhada com as obrigações de fazer pretendidas pelo MPT".

Continua: "Em verdade, conforme se infere de um

atento compulsar dos documentos acostados ao feito, constata-se que a ré é empresa responsável e cumpridora das determinações legais relativas aos trabalhos por ela desempenhados, inclusive aquelas atinentes a execução de trabalhos em altura, sendo certo que o trágico acidente ocorrido com o Sr. Henrique Estanislau foi um fato isolado que não reflete a responsabilidade e comprometimento da empresa ré em seguir e fazer cumprir com todas as normas relativas à saúde e segurança no trabalho. Neste sentido, importante salientar que a vítima do fatídico acidente noticiado ao Parquet era funcionário com larga

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experiência, devidamente capacitado para trabalhar em altura, assim como os demais empregados da ré, treinado e habilitado a execução dos serviços em questão, os quais, ao contrário do que restou apontado pelos Auditores do Trabalho, eram realizados de forma rotineira pelo acidentado.

Ainda, cumpre asseverar que da apuração das causas do mencionado acidente, observa-se que a razão da sua ocorrência se deu pela má-utilização, por parte do acidentado, do cinto de segurança que lhe foi devidamente fornecido pela ré. O fornecimento de referido equipamento de segurança é inclusive demonstrado pela documentação granjeada ao feito. A ré fala em má-utilização, uma vez que, apesar do apetrecho possuir dois talabartes, justamente para que o trabalhador permanecesse o tempo todo de duração dos serviços ancorado a estrutura física do local onde se encontrava, este desprezou um dos talabartes e decidiu se deslocar utilizando-se apenas um deles, onde o descumprimento das normas de segurança devidamente expostas e apresentadas pela ré foi o que, sem sombra de dúvidas, gerou o fatídico acidente. A existência de todos os equipamentos de segurança, a capacitação e treinamento do funcionário acidentado restam comprovados pelas fotografias e documentos ao feito anexados, donde se constata, a prima facie, que a ausência de consignação da aptidão para o trabalho em altura no ASO do acidente e a ausência de Análise Preliminar de Risco - frisa-se: para atividade que a ré não considerava como não rotineira - não contribuíram de qualquer forma para a ocorrência do acidente. Não obstante, da verificação dos documentos anexos, constata-se ter a ré promovido, por extremo valor e respeito que guarda com a integridade física e a vida de seus empregados, diversos ajustes/adequações na formalização de seus documentos, fazendo consignar nos ASOs dos seus trabalhadores habilitados para o trabalho

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em altura tal aptidão, bem como, elaborando Análise Preliminar de Riscos (APR) para aquelas atividades que seus técnicos caracterizassem como atividades não rotineiras. Em verdade, à época de fatídico a ré já haveria demonstrado cumprir irrestritamente todas as normas atinentes à saúde e segurança de seus trabalhadores, o que foi asseverado ainda mais, sendo desnecessária a imposição das obrigações descritas na peça vestibular e, muito menos, a imposição de indenização por danos imateriais coletivos decorrentes do descumprimento das respectivas medidas. Além do mais, constata-se que a grande maioria das obrigações indicadas pelo autor como de determinação antecipada imprescindível sempre foram observadas pela ré, tanto que os Auditores do Trabalho não lavraram contra a ré qualquer auto de infração quanto às referidas obrigações. Neste contexto, nota-se que os únicos pontos de divergência encontrados, portanto, referir-se-iam a consignação nos respectivos ASOs da aptidão do trabalho em altura - para os funcionários que laboravam nesta condição - e a realização de Análise de Preliminar de Risco (APR) para as atividades não rotineiras, pontos estes plena e prontamente atendidos pela ré, conforme se constata dos documentos apresentados juntamente com a manifestação sobre o pedido de tutela de urgência, e os demais ora angariados. Destarte, por todo o acima exposto, resta demonstrado inexistir no caso a presença dos requisitos autorizadores para o deferimento dos pedidos elencados na peça exordial, uma vez que demonstrado que a ré está em absoluta consonância com o disposto na NR-35, tendo adotado e aplicado o corrigido, por conta própria, todos os pontos de insurgência levantados pelos Fiscais do Trabalho e constantes da peça inicial, inexistindo, portanto, qualquer descumprimento a referida norma regulamentadora, assim como, inexistindo a alegada ofensa ao meio ambiente de trabalho, normativas internacionais, Constituição Federal

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ou leis infraconstitucionais. Resta claro, portanto, que a ré, em momento algum, se recusou em se 'comprometer elaborar a Análise Preliminar de Risco e verificar a aptidão do empregado para trabalho em altura' - como irresponsavelmente afirma o Parquet na exordial, já sendo repelido em decisão anteriormente proferida.

Muito pelo contrário, a ré, de pronto e de vontade própria adotou todas as medidas necessárias a afastar qualquer futura alegação de descumprimento dos requisitos formais previstos na NR-35, ressaltando-se, no entanto, que o trabalhador vitimado estava sim apto para o trabalho em altura, faltando apenas consignar tal condição em seu ASO, condição esta que, com a devida venia, não influenciou em sua ocorrência. Inexiste, portanto, qualquer risco iminente à segurança no trabalho a que estão submetidos os empregados atuais e futuros da ré, ainda mais que justifique a pesada imposição - mediante a cominação de indenização de caráter coletivo - pretendida pelo autor, uma vez que demonstrado o atendimento pela ré das determinações que se tenta impor, carecendo o autor, inclusive, de interesse de agir neste ponto. Por fim, cumpre salientar que a distorção implementada pelo Parquet quanto ao posicionamento manifestado pela ré quando da rejeição da proposta de formalização de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) não poderá ser admitido! A ré, em momento algum, tratou o 'acidente com vítima fatal' como 'mera situação pontual', mas sim que a sua ocorrência se deu em virtude do descumprimento de normas de segurança por parte da própria vítima, e não por atitudes e/ou posturas da empresa de forma recorrente que tivessem contribuído para a ocorrência do infortúnio. Tal foi o sentido da pontualidade sustentada pela ré, jamais menosprezando ou diminuindo a gravidade do acidente vivenciando1. Afastado, da mesma forma, a probabilidade do direito invocado, uma vez que caracterizado que o acidente observado não teve como

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causa o pretenso descumprimento pela ré das obrigações da citada Norma Regulamentadora (as quais, como indicado, tratavam-se de obrigações meramente formais), mas sim de ato inseguro e impensado praticado pela própria vítima, em desconformidade com o treinamento recebido e com as orientações repassadas pela própria ré".

Nega a parte passiva, ainda, haver dano moral coletivo: "A forma de agir da ré, ao contrário do que

pretende fazer crer o Parquet, não causou nem causa qualquer tipo de danos a direitos coletivos ou difusos, tampouco lesão à coletividade e à sociedade. Na realidade, não se observa nos autos qualquer tipo de menção específica, com apontamento preciso ou prova de que a conduta da ré tenha causado na coletividade ou na sociedade algum tipo de indignação, vergonha, desagrado ou dor moral.Neste diapasão, não há que se falar em aplicação da responsabilidade objetiva, na exata medida em que a atividade realizada pela reclamada não é presumidamente de risco à saúde de seus empregados, restando, inclusive, devidamente comprovado nos autos que a ré sempre tomou todas as cautelas inerentes à segurança e medicina do trabalho dos seus prepostos, o que foi reforçado após o trágico episódio ocorrido com um de seus empregados. Assim, aplicável à lide em tela a norma constante do artigo 7º, XXVIII, da Constituição Federal, que prevê a responsabilização do empregador apenas em casos de dolo ou culpa, jamais cogitando fazê-lo independentemente delas, consoante já posto acima. Portanto, não merece prosperar o pedido, pois para que se entenda cabível a obrigação de indenizar decorrente da responsabilidade subjetiva, necessária se faz a presença dos pressupostos autorizadores da responsabilidade civil, quais sejam: (I) ofensa a uma norma preexistente ou erro de conduta, (II) dano; e (III) nexo causal entre um e outro. Sem que se comprove a presença desses três requisitos

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simultaneamente, a pretensão indenizatória tornasse completamente inviável. Ainda, cumpre aduzir que o artigo 3º da lei 7347/1985, leciona que a Ação Civil Pública poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Neste contexto, tem-se que a comprovação por parte da ré de adequação/cumprimento de todas as normas atinentes à saúde e segurança no trabalho, já denota sua adequação ao que a sociedade lhe exige, não sendo necessário para tanto, apenhamento de caráter financeiro, com o fito único e exclusivo de angariar pecúnia, tendo em vista que a tutela maior vindicada, que é a integridade física dos trabalhadores, já se apresenta resguardada".

Menciona julgado do nosso E. Regional, acrescenta fundamentos e requer que o pedido seja indeferido (fls. 150/167 - os destaques são do original).

A pretensão merece acolhida, em termos.

Com efeito, as infrações noticiadas na inicial

ocorriam até a época do acidente fatal lá noticiado (conforme a documentação trazida pelo demandante - fls. 23/64 -, em especial a decorrente de fiscalização levada a efeito pelo Ministério do Trabalho - fls. 48/63).

Depois, conforme parte dessa documentação - vide,

em especial, as ilustrações de fls. 54/57 -, mais os

documentos vindos com a defesa, a parte passiva passou a se adequar à legislação, tornando o ambiente seguro, notadamente para a atividade em altura, que foi realizada pela vítima fatal (Henrique Estanislau Choinski). Note-se que, conforme os documentos trazidos pelo próprio autor, a abertura, pela qual se deu a queda do falecido Henrique, foi fechada, assim como a escada de acesso de antes ("tipo marinheiro") não mais foi utilizada, sendo instalada uma nova (fls. 55/56). As fotografias vindas com a defesa dão uma ideia melhor do que estamos a mencionar, em especial as de fls. 323/327).

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP É certo, ainda, que passou a ré a fazer análise

preliminar de risco, para o trabalho em altura (conforme os docs. de fls. 169/185), o que, pelo que consta dos autos, não fazia antes do acidente.

A única testemunha ouvida confirma o que ora se expõe. Com efeito, declarou ela (Alécio - ata de id aa50d0d):

"Trabalhou para a reclamada de dezembro de 2011 a novembro de 2016, tendo sido engenheiro de qualidade e gerente de produção. REPERGUNTAS PELA RECLAMADA: perguntado se dentre as atividades do depoente estaria a parte de segurança do trabalho , disse que depois do primeiro acidente teve que assumir esse tipo de coisa , até porque dentro da sua área isso lhe cabia um pouco. Tendo em vista que o depoente tinha pouco conhecimento na época , indicou e foi contratada uma assessoria para auxiliar na parte de segurança do trabalho. Perguntado se a empresa fazia análise preliminar de risco , para atividades não rotineiras , antes do acidente envolvendo o senhor Henrique , disso o depoente que foi justamente nessa parte que precisou contratar assessoria. Confirma que participaram da análise preliminar de risco as pessoas relacionadas no documento de ID 6cef016 (p. 7), inclusive o senhor Henrique Estanislau Choinski. O Henrique tinha curso para trabalhar em altura , tendo participado junto com o depoente, inclusive. O Henrique trabalhava na parte de manutenção e a produção dizia respeito à atividade dele , tendo que ser feita toda semana. Acredita o depoente que atividade era rotineira , já que tinha que ser feita toda semana. Perguntado se acompanhou a fiscalização do Ministério do Trabalho depois do acidente , disse o depoente que acompanhou todas as visitas e que sempre foi da maior boa vontade atender esse pessoal e cumprir o que era recomendado. Perguntado se o número de acidentes era elevado na época do depoente, disse que existiram apenas dois eventos isolados e que nunca tinha

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havido CAT em 20 anos de empresa. Perguntado se a empresa teria obrigatoriedade de ter técnico, ou engenheiro de segurança do trabalho, disse que contavam com a assessoria do SESI e que não seria necessária a presença de um técnico desse o tempo todo , mas mesmo assim foi contratada uma assessoria externa e um técnico de segurança , o qual , pelo que sabe, continua trabalhando na empresa. Perguntado se para atividades não rotineiras a empresa adotou a documentação prevista na NR 35 , esclareceu o depoente..

REPERGUNTAS PELO AUTOR que isso foi implantado depois do primeiro acidente: perguntado sobre qual análise de risco específica teria o Henrique participado , explicou o depoente que estava sendo feita a montagem de um silo para armazenagem de areia e em função dessa obra , houve as análises , tendo o Henrique auxiliado na execução do trabalho.

Perguntado se o Henrique teria participado da construção do silo , respondeu afirmativamente o depoente. Perguntado se o Henrique teria participado de análise preliminar relativa a limpeza do exaustor do secador , disse o depoente que não houve a análise preliminar nessa parte. Fazia parte da assessoria contratada o consultor José Ivo.

O depoente participou de reunião da CIPA com esse consultor depois do acidente, a extraordinária. Perguntado se na ordem de serviço do Henrique não teria constado que trabalho em altura se daria eventualmente, disse o depoente que pode ser uma discrepância de quem gerou o documento. Explica que quem presta esse tipo de assessoria é o Sesi, que observa a atividade e gera a documentação. Perguntado sobre o buraco que teria causado o acidente e sobre a escada , explicou o depoente que todo o equipamento foi interditado até que fossem tomadas as medidas de segurança , tendo sido tomadas as providências em relação à escada e também ao sistema de

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acesso ao equipamento. A assessoria referida foi contratada após o primeiro acidente , porque até então , tendo a empresa 20 anos de atividade não tinha havido nenhuma ocorrência semelhante.".

Note-se que, como aí está, a ré não cumpria a

legislação, no que tange ao trabalho seguro em altura, notadamente sobre análise preliminar de risco, acerca do acesso a esse tipo de ambiente e o risco de queda ("buraco" mencionado), mas passou a fazê-lo após o acidente fatal já citado e a fiscalização ocorrida, seja pelo sindicato de classe, seja pelo Ministério do Trabalho.

Isso posto, acolhe-se o pedido, no que tange às obrigações de fazer mencionadas nas letras "a" até "h" da inicial (fls. 20/21 - inclusive subitens da letra "h"), sob pena de multa, de R$ 1.000,00 (um mil reais) por obrigação descumprida, reversível a entidade sem fins lucrativos que venha a ser indicada oportunamente pelo autor (na falta, a alguma que tenha sido cadastrada junto ao E. TRT).

Para o cumprimento, deverá o autor empreender a devida fiscalização (o que poderá ser uma vez por ano, ou mais, a seu critério), devendo, ainda, apresentar relatório/laudo a respeito.

2. Dano moral coletivo - indenização Neste ponto, não prospera a pretensão.

Com efeito, o dano moral em referência, conforme a exposição constante da própria inicial, pressupõe um abalo/prejuízo geral, a toda a coletividade, o que não se percebe no caso presente.

De fato, a ação civil pública se original de um único acidente, não constando dos autos que fosse a parte passiva "useira e vezeira" (digamos assim) quanto ao descumprimento da legislação que trata da segurança do trabalho. Pelo contrário, tão logo ocorreu o acidente,

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procurou se adequar à legislação, na forma da prova produzida (documental e oral).

O acidente (em que pese a gravidade) não provocou abalo moral na sociedade, mas (principalmente) em círculo mais reduzido, qual seja, o âmbito familiar do falecido trabalhador.

O dano moral, pois, a nosso ver, é específico (e não coletivo).

Isso posto, rejeita-se o pedido.‟

O Ministério Público do Trabalho alega, em recurso, que a ofensa sofrida pela sociedade aos seus valores é prescindível para a condenação requerida, eis que o dano decorre da própria violação das normas jurídicas, as quais, no caso em tela, são protetoras de uma coletividade e, por isso, merecem reparo coletivamente, conforme leciona Xisto Tiago de Medeiros Neto em sua obra Dano Moral Coletivo. Transcreve trecho dessa obra doutrinária, bem como ementas de julgados e aduz que a demonstração do prejuízo de ordem extrapatrimonial à coletividade dispensa prova direta, bastando que fique caracterizado o ato ilícito (in re ipsa).

Assevera que "o sistema jurídico se contenta com a simples ocorrência

da conduta danosa, diante da consciência que insurge de que certos fatos atingem e lesionam a moral coletiva. certo que qualquer cidadão ao tomar conhecimento de que uma pessoa morre, no exercício do seu trabalho, em virtude da conduta irresponsável do empregador, se sente ofendido".

Observa ser incontroverso nos autos que a lesão aos direitos coletivos e difusos foi concreta, pois a instrução processual comprovou a violação de diversas normas de segurança em prejuízo a uma coletividade de trabalhadores. Reitera que sua pretensão objetiva a reparação do dano jurídico social emergente da conduta ilícita da empresa ré, pois infringiu dispositivos constitucionais e trabalhistas concernentes ao meio ambiente do trabalho seguro, violando a existência digna e a valorização social do trabalho (arts. 1º, III e IV, 6º, 7º, XXII, 170 e 225 da Constituição Federal, e arts. 154 a 201 da CLT). O recorrente considera que "somente a condenação

da ré para cumprir, a partir desta ação, as obrigações trabalhistas aqui aventadas não será suficiente para recompor a situação ao status quo ante, pois é manifesto o prejuízo social já causado pela empresa em razão do

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desrespeito à ordem jurídica vigente. Ademais, a condenação da empresa por dano coletivo, além de desestimulá-la a (continuar a) descumprir os preceitos de proteção trabalhista, tem também a finalidade de servir de exemplo - dada a natureza pública da ação, no sentido de mostrar que o descumprimento da ordem jurídica será punido de formar exemplar, deixando de ser compensador, do ponto de vista financeiro, a inobservância dos preceitos legais. A condenação tem o caráter pedagógico de demonstrar que o Poder Judiciário está atento ao descumprimento da ordem jurídica, impondo uma sanção capaz de inibir novas condutas ilegais".

Requer, assim, a reforma para que seja a empresa condenada a pagar a importância de valor não inferior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), a título de indenização por danos imateriais coletivos, cujo valor deverá ser revertido ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ou a outro fundo ou entidade sem fins lucrativos a ser indicada oportunamente pelo Ministério Público do Trabalho, devidamente atualizado pela tabela de correção dos débitos trabalhistas editada pelo TRT da 9ª Região até a data do efetivo pagamento.

Analiso.

Segundo o doutrinador e Procurador Regional do Trabalho, Xisto Tiago de Medeiros Neto, o dano moral coletivo "corresponde à lesão injusta

e intolerável a interesses ou direitos titularizados pela coletividade (considerada em seu todo em qualquer de suas expressões - grupos, classes ou categorias de pessoas), os quais possuem natureza extrapatrimonial, refletindo valores e bens fundamentais para a sociedade" (MEDEIROS

NETO, Xisto Tiago de Dano moral coletivo. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 137).

Raimundo Simão de Melo, que também é Procurador Regional do Trabalho, define o dano moral coletivo e cita o doutrinador Marco Antônio Marcondes Pereira: (...) Assim, se o dano moral 'lato sensu' é a violação de direitos da personalidade, 'dano moral coletivo é a violação transindividual

dos direitos da personalidade'.

De forma mais ampla, afirma Marco Antônio Marcondes Pereira, que 'Dano moral coletivo é o resultado de toda ação ou omissão lesiva significante, praticada por qualquer pessoa contra o patrimônio da coletividade, considerada esta as gerações presentes e futuras, que suportam um sentimento de repulsa por um fato danoso irreversível, de difícil

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP reparação, ou de conseqüências históricas. Conclui-se, portanto, que dano moral coletivo é a lesão significante, com reflexos e prejuízo na esfera de valores coletivos socialmente concebidos e protegidos juridicamente. (MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, p. 329)

Dessas considerações doutrinárias, extrai-se que o dano moral coletivo difere em muito do dano moral individual por atingir valores sociais pela lesão sofrida por uma coletividade, considerada em seu caráter transindividual. Não se trata, portanto, de lesão a valores íntimos, pessoais de cada indivíduo (honra, fama, dignidade...). Dito de outra forma, o dano moral coletivo é visto por todos (é externo), na medida em que toda a sociedade sofre as consequências da lesão perpetrada.

Com efeito, os valores do trabalho, assim como os sociais, ambientais, econômicos, atingem uma dimensão transindividual, justamente pelo seu poder de influenciar a vida em sociedade.

Portanto, deve-se voltar o pensamento para os direitos metaindividuais com visão coletiva, não sendo possível apreciar a matéria sob a ótica tradicional individualista.

Os elementos caracterizadores do dano moral coletivo, segundo o Procurador do Trabalho já citado, Xisto Tiago Medeiros Neto, são os supramencionados, os quais podem ser aproveitados para fazer correlação com o caso em tela e demonstrar que, ao contrário do que alega o autor,

não se vislumbra dano moral coletivo decorrente do fato narrado nos autos:

a) conduta antijurídica (ação ou omissão) do agente: a ré pode ser considerada parcialmente omissa quanto a determinadas medidas de proteção e segurança do trabalho que, inclusive, foram objeto de condenação referente ao cumprimento de obrigações de fazer;

b) o acidente ocorrido pode ter representado ofensa significativa e intolerável aos interesses extrapatrimoniais do empregado atingido, ou, mais propriamente, de sua família. Todavia, não é possível considerar que essa ofensa tenha sido reconhecida e inequivocamente compartilhada por uma determinada coletividade (comunidade, grupo,

categoria ou classe de pessoas titular de tais interesses protegidos pela ordem jurídica). Pondero, com todo o respeito, que os demais empregados da ré

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podem ter experimentado forte sentimento de pesar que, contudo, não se pode confundir com o dano moral coletivo indenizável.

c) percepção do dano causado, correspondente aos efeitos que emergem coletivamente, traduzidos pela sensação de desvalor, de indignação, de menosprezo, de repulsa, de inferioridade, de descrédito, de desesperança, de aflição, de humilhação, de angústia ou respeitante aqualquer outra consequência de apreciável conteúdo negativo: ao contrário

do que alega o recorrente, exceto por um profundo sentimento de pesar, o acidente como o que vitimou um empregado da ré não se mostra capaz de gerar prejuízos à coletividade. Há que se considerar, na esteira das

alegações de defesa, que a ré não apresenta histórico de reiteração de

conduta omissiva causadora de infortúnios como o noticiado nos autos.

Ainda que se saiba que a responsabilidade nos casos de dano moral coletivo é objetiva, ou seja, independe da comprovação de culpa, não

considero haver, na hipótese dos autos, uma autêntica lesão à coletividade, em termos capazes de ensejar a reparação de um dano a direitos transindividuais e de revelar que o elemento culposo se afigure recorrentemente na conduta da ré.

Embora seja certo, como adverte o doutrinador Raimundo Simão de Melo, que "a esfera do Direito do Trabalho é bastante propícia para eclosão

do dano moral, como vem ocorrendo com frequência e realmente reconhecem a doutrina e a jurisprudência, inclusive no ambiente laboral, em que são mais comuns as ofensas morais no sentido coletivo 'stricto sensu'" e

que "não são raros os casos de ocorrência de danos morais coletivos, por

exemplo, com relação ao meio ambiente do trabalho, ao trabalho análogo à condição de escravo, ao trabalho infantil, à discriminação de toda ordem (da mulher do negro do dirigente sindical, do trabalhador que ajuíza ação trabalhista, do deficiente físico, etc), por revista íntima, etc." (MELO,

Raimundo Simão de. ob cit, p. 334), na espécie dos autos, não é possível vislumbrar, na conduta da ré, grave ofensa sequer à coletividade composta por seus empregados, de forma que se considere ter sido posta em risco sua integridade física.

Pondero, na esteira do que fez o julgador de primeiro grau, que a ré

teve cautelas em termos razoáveis, propiciando, inclusive ao empregado vítima do acidente fatal, treinamento para o trabalho em altura. A

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circunstância de o Ministério Público do Trabalho considerar que não basta a aptidão 'genérica' para o trabalho no caso de atividades em altura não basta, a meu ver, para que se considere ter havido dano moral coletivo. As obrigações de fazer impostas à ré parecem suficientes

para fazer com que ajuste sua conduta, devendo ser ponderado, ainda, que o acidente por ter contado com certa parcela de contribuição do próprio trabalhador, que descuidou de medidas elementares de segurança.

Mantenho.” (destacou-se) Pois bem.

É certo que no Estado Democrático de Direito há imposição de direitos e deveres aos cidadãos, de forma a possibilitar a garantia de direitos fundamentais ao ser humano.

Comprovada a violação de obrigações que acarretem danos ao direito de outrem, aliados à ilicitude do ato e ao nexo de causalidade entre eles, surge o dever de reparação desse prejuízo.

A propósito, o instituto da indenização por dano moral obteve status de direito fundamental, ao ser disciplinado no artigo 5º, V e X, da Constituição:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da

indenização por dano material, moral ou à imagem; [...]

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem

das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”

O artigo 186 do CC, por sua vez, ao tratar da responsabilidade civil, determina que "toda pessoa que causar prejuízo

a outrem ficará obrigada a indenizar os danos de cunho material e moral sofridos pela vítima".

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP E segundo a disposição contida no artigo 187 do mesmo diploma legal "também comete ato ilícito o titular de um direito que,

ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes".

Impende ressaltar que a conduta ilícita pura ou equiparada (pelo abuso de direito) deve ser induvidosa e materializada com o dano, para ensejar a reparação pretendida.

Nessa perspectiva, seguindo os ensinamentos de Sergio Cavalieri,

"o ato ilícito nunca será aquilo que os penalistas chamam de crime de mera conduta; será sempre um delito material, com resultado de dano. Sem dano pode haver responsabilidade penal, mas não há responsabilidade civil. Indenização sem dano importaria enriquecimento ilícito; enriquecimento sem causa para quem a recebesse e pena para quem a pagasse, porquanto o objetivo da indenização, sabemos todos, é reparar o prejuízo sofrido pela vítima, reintegrá-la ao estado em que se encontrava antes da prática do ato ilícito. E, se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, a toda evidência, não haverá o que ressarcir" (in, CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2008, p. 71). Também não se pode olvidar que o princípio da boa-fé, presente nas relações contratuais, prestigia a confiança, de forma que a conduta das partes deve ser movida por retidão, ou seja, com observância aos deveres anexos de conduta e a sua inobservância necessita comprovação.

Assim, para que o dano moral individual seja configurado, é necessária a comprovação, via de regra, de que ato o ilícito do empregador atingiu a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem, a reputação da pessoa do obreiro, ensejando a dor moral, a angústia, a humilhação, o constrangimento.

Já para se caracterizar a existência de dano moral coletivo, deve haver lesão injusta e intolerável a interesses ou direitos titularizados pela coletividade considerada em seu todo ou em qualquer de suas expressões: grupo, classes ou categorias de pessoas, os quais

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP possuem natureza extrapatrimonial, refletindo valores e bens fundamentais para a sociedade.

Enquanto o dano moral individual é eminentemente subjetivo, o dano moral coletivo é de natureza objetiva, caracterizado como damnum in re ipsa, ou seja, verificável de plano pela simples análise das circunstâncias que o ensejaram.

Desta maneira, o dano moral coletivo tem por fundamento também o parágrafo único do art. 927 do Código Civil, que assim dispõe:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito ( arts. 186 e 187 ), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Nesse sentido, não há necessidade de se perquirir sobre a culpabilidade patronal, sendo suficiente que se realize, no plano dos fatos, uma conduta empresarial ilícita envolvendo direitos coletivos, difusos e eventualmente individuais homogêneos, para que todo o coletivo seja ultrajado. A condenação terá um caráter pedagógico, punitivo, exemplar e inibitório, no sentido de se evitar reincidências. No caso dos autos, após o acidente fatal ocorrido na empresa ora agravada, o Ministério Público do Trabalho da 9ª Região propôs ação civil pública com finalidade de fazer cessar a suposta conduta lesiva empresarial, obrigando a reclamada a cumprir as normas de segurança do trabalho que alega terem sido violadas.

No entanto, o e. TRT manteve a sentença que entendeu ser indevida a condenação ao pagamento de indenização por danos morais coletivos ao fundamento de que as obrigações de fazer impostas à empresa foram suficientes ao ajuste de conduta, ponderando, ainda, acerca da parcela de culpa do próprio trabalhador vítima do acidente fatal, uma vez que descuidou de medidas elementares de segurança.

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP Desta maneira, cinge-se a controvérsia acerca da possibilidade de condenação da reclamada ao pagamento de indenização por danos morais coletivos em razão do descumprimento das normas de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores.

Pois bem.

A despeito da parcela de culpa do obreiro vitimado no acidente descrito nestes autos, e, mesmo tendo a reclamada adequado suas atividades às normas trabalhistas após a ocorrência do incidente, certo é que há registro constante no acórdão regional acerca da prática ilícita de descumprimento de normas de segurança do trabalho.

É o que se depreende do seguinte trecho da sentença colacionada no acórdão regional:

“Note-se que, como aí está, a ré não cumpria a legislação, no que tange ao trabalho seguro em altura, notadamente sobre análise preliminar de risco, acerca do acesso a esse tipo de ambiente e o risco de queda ("buraco" mencionado), mas passou a fazê-lo após o acidente fatal já citado e a fiscalização ocorrida, seja pelo sindicato de classe, seja pelo Ministério do Trabalho.”

O e. TRT também consigna a existência de conduta antijurídica da reclamada, registrando que “a ré pode ser considerada

parcialmente omissa quanto a determinadas medidas de proteção e segurança do trabalho que, inclusive, foram objeto de condenação referente ao cumprimento de obrigações de fazer”.

Desta maneira, resta evidenciado nos autos que a empresa descumpria determinadas normas de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores, e, nestes casos, este Tribunal Superior tem entendido ser cabível a condenação patronal ao pagamento de indenização por danos morais coletivos.

Nesse sentido, seguem precedentes com destaques acrescidos:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015 / 2014 E ANTERIOR À LEI

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 13.467 / 2017. 1. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS DE SEGURANÇA DO TRABALHO . MULTA DIÁRIA. 2. DANO MORAL COLETIVO. CONFIGURAÇÃO. Trata-se de ação pública ajuizada pelo Ministério

Público do Trabalho em face da Reclamada Furnas Centrais Elétricas SA em decorrência da inobservância de normas de segurança do trabalho sobre calibração dos vasos de pressão e válvulas de segurança do

complexo hidrelétrico na cidade de Itumbiara / MG . Há notícia de que uma primeira ação civil pública já havia sido ajuizada, em 2014, após um acidente fatal envolvendo um trabalhador , e na qual foi constatado o descumprimento dessas normas de segurança após inspeções realizadas por Auditores Fiscais do Trabalho. Nos presentes autos, foi deferida liminar, em 10/5/2016, para determinar o cumprimento das medidas de segurança, com aplicação de multa diária em caso de descumprimento. Na sentença, o Julgador de origem , entendendo descumprida a decisão liminar, condenou a Reclamada ao pagamento da multa diária, bem como julgou procedente o pedido de indenização por danos morais coletivos . O Tribunal Regional, após análise do contexto fático-probatório dos autos (Súmula 126 / TST), destacou os seguintes pontos para manter a sentença, em relação à multa diária : a adequação dos vasos de pressão às exigências das normas de segurança (NR-13) foi, pela primeira vez, fornecida em julho de 2015, quando emitida Termo de Interdição do Extinto Ministério do Trabalho e Emprego, tendo uma Reclamada iniciada o cumprimento das medidas, "de forma embrionária", sem efetividade, apenas em novembro de 2015, o que revela a demora na condução das providências para assegurar as condições de segurança mínimas do trabalho; não procede a alegação de que existe limitação de ordem burocrática para efetivar as medidas, uma vez que apenas em 14/4/2016 a Reclamada apresentada o primeiro pedido de autorização para reparo nas válvulas ao Órgão Nacional de Sistemas Elétricos - ONS, responsável para tanto; devido às Olimpíadas, foi de 05/07/2016 a 25/09/2016 . Assim, foi mantida a aplicação da multa por descumprimento de decisão judicial relativa ao período de 22/5/2016 a 22/11/2016, com exclusão do período de 5/7/2016 a 20/9/2016. No tocante ao dano moral

coletivo , o Tribunal Regional ressaltou a negligência da Reclamada em atender às exigências do Ministério do Trabalho e Emprego para garantir a segurança da comunidade laboral que lhe presta serviços,

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omissão essa que já havia custado a vida de um trabalhador. Nesse

contexto, a condenação da Reclamada ao pagamento da multa por descumprimento de decisão judicial e de indenização por danos morais coletivos não merece reparo. Frise-se que, para adotar entendimento diverso, seria necessário o revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, o que não se coaduna com a natureza extraordinária do recurso de revista (Súmula 126 / TST). (...)”. (AIRR - 10803-63.2016.5.03.0134, Órgão Judicante: 3ª Turma, Relator : Mauricio Godinho Delgado, Julgamento: 06/10/2020, Publicação: 19/06/2020)

“(...) DANO MORAL COLETIVO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO (RECURSO DA 1ª E 2ª RECLAMADAS) . 1. Cuida-se de demanda coletiva ajuizada

pelo MPT com pedido de indenização por danos morais coletivos em razão da inobservância de normas de saúde e segurança do trabalho . 2.

Segundo consta do acórdão, em razão do acidente de trabalho que levou a óbito um dos empregados da 2ª reclamada, foi instaurado procedimento administrativo , tendo sido constatadas diversas irregularidades nas condutas das reclamadas, como exigência de trabalho em jornada exaustiva e muito acima renovada permitida em lei e falta de treinamento sobre o uso de Equipamentos de Proteção Individual. 2. Extrai-se o acórdão recorrido

que as reclamações descumpriram diversas normas regulamentares, em especial aquelas que dizem respeito à prevenção de sinistros, saúde e segurança dos trabalhadores, supra evidenciada a conduta antijurídica das reclamadas. 3. A prática de atos antijurídicos, em completo desvirtuamento do que preconiza a legislação, além de causarzos individuais aos trabalhadores, configura ofensa ao patrimônio moral coletivo, sendo, portanto, passível de absorção por meio da indenização bem,

nos termos do artigo 186 do Código Civil. Dessa forma, conclui-se que uma

conduta antijurídica da empresa reclamada acarretou a violação de direitos de toda uma coletividade, razão pela qual esta deve ser indenizada. Agravos de instrumento não providos. (...)” (AIRR -

68200-84.2010.5.17.0010, Órgão Judicante: 2ª Turma, Relatora : Maria Helena Mallmann, Julgamento: 26/11/2019, Publicação: 29/11/2019)

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP “(...) DANO MORAL COLETIVO. COMPATIBILIDADE COM

O ORDENAMENTO JURÍDICO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR.1 - O

art. 5º, V e X, da Constituição Federal, ao assegurar a indenização por dano moral às pessoas, não limita o direito à esfera individual, o que se confirma pelo fato de o dispositivo constar no Capítulo I do Título II, que diz respeito aos direitos indivíduos e coletivos. 2 - Entendimento doutrinário e

jurisprudencial, admite-se a condenação ao pagamento de indenização por dano moral coletivo. 3 - A ofensa a direitos transindividuais, que enseja a indenização por danos morais coletivos é a lesão à ordem jurídica, patrimônio jurídico de toda a coletividade. Não cabe perquirir sobre a lesão de cada um dos componentes da coletividade ou mesmo da verificação de um sentimento social de indignação, desapreço ou repulsa, mas da gravidade da violação infligida à ordem jurídica, mormente às normas que têm por obrigatoriamente a tutela dos direitos assegurados aos trabalhadores, em atenção aos princípios constitucionais

da dignidade da pessoa humana e do equilíbrio entre os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. 4 - Na espécie, a necessidade de punição das

empresas rés pela inobservância de diversas normas garantidoras da segurança e saúde dos trabalhadores, destacando-se aquelas limitadoras

da jornada de trabalho e promoção à manutenção de um meio ambiente

de trabalho hígido, transcende o interesse jurídico das pessoas diretamente envolvidas no litígio, para atingir, difusamente, toda a potencial universalidade dos trabalhadores que se encontra ao abrigo desta tutela jurídica. 5 - Confirmado pelo Tribunal Regional a ocorrência de diversas irregularidades constatadas e objetos de autuação por auditores fiscais do trabalho, diretamente relacionada ao desrespeito de normas restritivas da jornada de trabalho (limite na prestação

de horas extras e intervalo interjornada mínimo) e de condutas preventivas

de infortúnios trabalhistas, patente se apresenta o dano moral coletivo e passível de reprovação pelo Poder Judiciário. 6 - Agravo de instrumento a

que se nega provimento. (AIRR - 582-07.2014.5.23.0046, Órgão Judicante: 6ª Turma, Relatora : Katia Magalhães Arruda, Julgamento: 04/09/2019, Publicação: 06/09/2019)

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP Ademais, muito embora o caso dos autos não trate do descumprimento reiterado de normas, cabe ressaltar que o Órgão uniformizador desta Corte já se pronunciou em caso semelhante, veja-se: “RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI Nº 11.496 / 2007 . DANO MORAL COLETIVO.

REITERADO DESCUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO

TRABALHISTA. O desrespeito aos direitos trabalhistas não pode ser

considerado uma opção pelo empregador, tampouco merece ser tolerado pelo Poder Judiciário, sobretudo em um Estado Democrático de Direito, em que a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho representam fundamentos da República (art. 1º , III e IV). No caso, a caracterização do

dano moral coletivo dispensa a prova do efetivo prejuízo financeiro ou do dano psíquico decorrente, pois a lesão decorre do próprio ilícito, definido pelo reiterado descumprimento da legislação trabalhista

concernente aos limites da jornada e à concessão dos dos dois períodos em lei, indispensáveis à saúde, segurança e higidez física e mental dos trabalhadores. Desse modo, merece reforma a decisão embargada para condenar o réu ao pagamento deindenização por danos morais coletivos , não importe de R $ 100.000,00 (cem mil reais) , a ser revertida ao FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador. Recurso de embargos conhecido e parcialmente provido”. (E-RR - 449-41.2012.5.04.0861, Órgão Judicante: Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator : Claudio Mascarenhas Brandão, Julgamento: 02/07/2019, Publicação: 22/02/2019)

Desse modo, evidenciado o descumprimento de normas atinentes à segurança do trabalho, reputa-se caracterizada a conduta transgressora por parte da empresa, transcendendo a esfera individual de interesses dos trabalhadores, atingindo toda a coletividade dos integrantes dos quadros da empresa, gerando o dever de indenizar, nos termos das disposições dos arts. 186 e 927 do Código Civil.

Assim sendo, incorreu a decisão regional em possível ofensa ao art. 927 do Código Civil, razão pela qual dou provimento ao agravo de instrumento para, convertendo-o em Recurso de Revista, determinar a reautuação do processo e a publicação da certidão de

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Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP julgamento para ciência e intimação das partes e dos interessados de que o julgamento do Recurso de Revista se dará na Sessão ordinária subsequente ao término do prazo de cinco dias úteis contados da data da publicação da respectiva certidão de julgamento (RITST, arts. 256 e 257 c/c art. 122).

RECURSO DE REVISTA I - CONHECIMENTO

Satisfeitos os pressupostos genéricos de

admissibilidade, passo ao exame dos específicos do recurso de revista.

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS DE SEGURANÇA. CABIMENTO.

Tendo em vista os fundamentos expostos quando do provimento do agravo de instrumento, restou evidenciada a ofensa ao art. 927 do Código Civil.

Logo, conheço do recurso de revista.

II - MÉRITO

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS DE SEGURANÇA. CABIMENTO.

Conhecido o recurso, por ofensa ao art. 927 do Código

Civil, consequência lógica é o seu provimento para condenar a reclamada

ao pagamento da indenização por danos morais no importe de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Quinta Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, por unanimidade: a) conhecer do agravo de

(31)

Firmado por assinatura digital em 24/03/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP instrumento e, no mérito, dar-lhe provimento para, convertendo-o em Recurso de Revista, determinar a reautuação do processo e a publicação da certidão de julgamento para ciência e intimação das partes e dos interessados de que o julgamento do Recurso de Revista se dará na Sessão ordinária subsequente ao término do prazo de cinco dias úteis contados da data da publicação da respectiva certidão de julgamento (RITST, arts. 256 e 257 c/c art. 122); b) conhecer do recurso de revista por ofensa ao art. 927 do Código Civil, e, no mérito, dar-lhe provimento para condenar a reclamada ao pagamento da indenização por danos morais no importe de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Brasília, 24 de março de 2021.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

BRENO MEDEIROS Ministro Relator

Referências

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