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RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES DE INTERNET PELO CONTEÚDO GERADO POR TERCEIRO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE DIREITO

LUCAS VICENTE ROMERO RODRIGUES FRIAS DOS SANTOS

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES DE INTERNET

PELO CONTEÚDO GERADO POR TERCEIRO

SÃO PAULO

(2)

LUCAS VICENTE ROMERO RODRIGUES FRIAS DOS SANTOS

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES DE INTERNET

PELO CONTEÚDO GERADO POR TERCEIRO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Direito Civil, sob a orientação do Prof. Dr. Giovanni Ettore Nanni.

São Paulo

SP

(3)

FOLHA DE APROVAÇÃO

Banca examinadora

_______________________

_______________________

(4)

Não por obrigação, mas por desejar, agradeço a meus familiares que muito me auxiliaram nessa jornada.

Cito, com especial carinho, meus pais. Exemplos a serem seguidos, fica a esperança de poder retribuir todo o bem que me foi feito.

(5)

Neste estudo iremos enfrentar a problemática da responsabilidade do provedor de internet pelo conteúdo gerado por terceiro. Com a edição da Lei 12.965, de 23 de abril de 2014, conhecida como Marco Civil da Internet, definições doutrinárias foram alteradas e novos conceitos foram inseridos no sistema jurídico. E assim o foi com a responsabilidade civil dos provedores de internet. Nessa toada e sobre o terreno ainda arenoso de um assunto tão moço, buscaremos formar sistema lógico da responsabilidade dos provedores de internet, tendo como objetivo precípuo a aplicação justa e sistemática do Direito, que resulte na eficaz proteção do usuário, sem onerar indevidamente os provedores.

(6)

ABSTRACT

In this paper we face the issue of Internet service provider liability for content generated by third parties. With the enactment of Law 12,965 of April 23, 2014, known as Civil Marco of the Internet, doctrinal definitions were modified and new concepts were integrated into the legal system. And so it was with the liability of internet service providers. This tune and upon the a sandy soil of so young a subject, we will seek to form a logical system of the liability of internet service providers, having as main objective the fair and systematic application of the law, resulting in the effective protection of the user, without improperly burdening the providers.

(7)

Sumário

RESUMO ... 4

ABSTRACT ... 5

INTRODUÇÃO... 9

CAPÍTULO I – INTERNET ... 13

1. Internet e sua história ... 13

1.1 A “World Wide Web” ... 18

1.2. Internet e sua importância ... 22

1.3. Definição de internet adotada ... 26

CAPÍTULO II – OS PROVEDORES ... 28

1. Provedores de conexão ... 29

1.1. Provedores de Backbones e de Acesso (nomenclaturas anteriores à Lei n. 12.965/14) ... 31

1.2. Provisão de conexão (Lei n. 12.965/14) ... 34

2. Provedores de aplicações ... 37

CAPÍTULO III – PONDERAÇÕES PRÉVIAS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL NA INTERNET ... 43

1. Responsabilidade civil subjetiva – História, Direito estrangeiro e Direito Pátrio ... 43

1.1. Responsabilidade antes de Roma ... 44

1.1.1. Sociedades Primitivas – Vingança Privada ... 44

(8)

1.2.1. Cuidados especiais no estudo do Direto romano ... 48

1.2.2. Antigo Direito Romano e Lei da XII Tábuas – Séc. VIII a.C. a Séc. III a.C. ... 50

1.2.3. Lex Aquilia ao Corpus Iuris Civilis ... 52

1.3. Responsabilidade civil extracontratual na França ... 55

1.4. Responsabilidade civil extracontratual em outros Países ... 59

1.4.1. Alemanha... 59

1.4.2. Suíça ... 60

1.4.3. Itália ... 60

1.4.4. Estados Unidos e Inglaterra ... 61

1.4.5. Portugal ... 62

1.4.6. Japão ... 63

1.4.7. Espanha ... 64

1.4.8. China ... 64

1.4.9. Ponderação sobre a responsabilidade civil extracontratual no Direito estrangeiro ... 64

1.5. Conceito de Responsabilidade Civil no Brasil ... 66

2. Natureza jurídica do provedor e dos usuários ... 71

3. Conteúdo ... 76

4. Terceiros ... 77

(9)

CONEXÃO PELO CONTEÚDO GERADO POR TERCEIRO ... 102

1. Responsabilidade por fato próprio ... 102

2. Responsabilidade Civil pelo conteúdo gerado por terceiro na provisão de conexão à internet ... 103

CAPÍTULO V – RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROVEDOR DE APLICAÇÕES PELO CONTEÚDO GERADO POR TERCEIRO ... 105

1. Antes do Marco Civil da Internet ... 105

1.1. Corrente da responsabilidade objetiva ... 107

1.2. Corrente da responsabilidade subjetiva ... 110

2. Considerações sobre o cenário antes da Lei n. 12.965/14 ... 117

3. Responsabilidade Civil do provedor de aplicações depois da Lei n. 12.965/14 – primeira interpretação ... 119

3.1. Argumentos favoráveis ao tratamento dispensado pela Lei n. 12.965/14 ... 128

3.2. Argumentos desfavoráveis ao tratamento dispensado pela Lei n. 12.965/14 ... 133

4. Considerações sobre a aplicação da Lei n. 12.965/14 e uma interpretação jurídica ... 137

4.1. Sistema Jurídico ... 137

4.2. Interpretação Jurídica e o sistema de responsabilidade civil dos provedores de aplicações pelo conteúdo gerado por terceiro ... 140

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 151

(10)

ANEXO A – LEI N. 12.965, DE 23 ABRIL DE 2014. ... 165

(11)

INTRODUÇÃO

Referindo-se à tecnologia, o inventor e escritor britânico Sir

Arthur Charles Clarke afirmou “O único caminho para desvendar os limites

do possível é aventurar-se um pouco além dele, adentrando o impossível”.

Os avanços tecnológicos são assim, cruzam barreiras até o momento consideradas intransponíveis.

No caso da internet, a revolução no modo de vida das pessoas foi grande e as fronteiras que essa tecnologia derrubou não foram somente as da ciência, mas da sociedade, por vezes, de forma conflituosa.

A privacidade raramente é considerada e propriedades intelectuais (considerados bens móveis) são ilegitimamente utilizadas sem qualquer remorso pelos usuários e provedores. Vidas inteiras são maculadas em questão de minutos, com manchas à honra e à imagem da pessoa.

Entretanto, não se podem olvidar os benefícios trazidos por essa inovação tecnológica, que vai muito além do mero divertimento do usuário. Por ser de alcance global e possibilitar o compartilhamento instantâneo de informações e conteúdos dos mais variados, o uso da internet facilita sobremaneira a execução de trabalhos, pesquisa, bem como fomenta o desenvolvimento de diversas relações humanas, econômicas ou não.

(12)

patrimoniais, sem execrar a internet, mas adequando os seus usos para que respeitem e dignifiquem a pessoa humana.

E um dos pontos nevrálgicos dos conflitos que ocorrem é o da lesão causada por conteúdo veiculado pelos provedores de internet, contudo gerado por terceiros.

Daí este trabalho, que visa precipuamente lançar algumas reflexões para que esses conflitos sejam resolvidos da forma mais justa possível, preservando os valores que são caros à sociedade, porquanto

“o direito, sem ânimo de justiça, é uma lei morta, morta ainda antes de nascer”1.

Todavia, não pode o jurista, à guisa de tornar a aplicação das normas mais justas, abandoná-las. “É lamentável o exagero em que incide: com pretender o uso menos imperfeito das regras jurídicas, chega ao perigoso despropósito de admitir que as desprezem”2.

Nesse diapasão, convém anotar que, sobre o tema, foi aprovada recentemente Lei ordinária (Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014),

conhecida como Marco Civil da Internet, que “Estabelece princípios,

garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil”.

Essa Lei trata especificamente da responsabilização do provedor pelo conteúdo gerado por terceiro e alterou consideravelmente o modo pelo qual a matéria vinha sendo tratada e compreendida no Brasil. Contudo, a legislação entrou em vigor em 23 de junho de 2014, portanto,

1 PERLINGIERI, Pietro. O Direito Civil na Legalidade Constitucional. 1. ed. Tradução de

Maria Cristina de Cicco. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 234.

2 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do Direito. 19. ed. Rio de Janeiro:

(13)

há pouquíssimo tempo, não havendo problemas concretos ou debates críticos maduros na doutrina ou no Judiciário.

Desta feita, nesta oportunidade, busca-se com o maior afinco problematizar, bem como antever soluções e obstáculos, sempre com a cautela necessária na análise de novel legislação, principalmente quando trata de fenômeno tão moço na nossa sociedade, que é a internet.

Diante desse cenário, realizar-se-á o estudo iniciando pela análise e definições da internet e dos provedores, definindo-os e explicando as suas características. Em seguida, tratar-se-á de generalidades e delimitações do objeto estudado, a responsabilização do provedor de internet pelo conteúdo gerado por terceiro.

Nesse passo, convém anotar, desde logo, que a situação dos danos provenientes de conteúdos veiculados na internet não é o único problema que surgiu com o uso em massa desse meio de comunicação e interação social.

De fato, ao lado dos conteúdos danosos há diversas questões tormentosas que decorrem da temática da insegurança no uso da internet, como fraudes, violação de banco de dados, da privacidade e intimidade3,

obtenção ilícita de informações sigilosas, como senhas bancárias, etc. Assim, como será detalhado no decorrer deste estudo, a par de ter número enorme de casos, a responsabilidade civil pelo conteúdo divulgado na internet é tema específico e, embora se relacione com outros assuntos, com eles não se confunde.

3 Muito interessante é o debate sobre a privacidade na sociedade de vigilância. Sobre o

(14)
(15)

CAPÍTULO I

INTERNET

1. Internet e sua história

Hoje, comumente a internet é entendida como um conjunto de redes de computadores interligadas em escala global. Essa ligação entre as redes proporciona troca de informações, na forma de dados, o que é a finalidade precípua da internet4.

Etimologicamente, internet vem da língua inglesa e é a redução

de “inter network”, ou seja, entre redes ou redes ligadas.

Recentemente, foi aprovada no Brasil uma Lei reguladora da internet e das relações travadas pela internet5, a Lei n. 12.965, de 23 abril

de 20146, de âmbito nacional, conhecida como Marco Civil da Internet. Em

seu artigo 5º, essa Lei define alguns termos:

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, considera-se:

I - internet: o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e

4 SOUZA NETTO, Antônio Evangelista de. Responsabilidade civil na internet. 2008. São

Paulo: dissertação de mestrado realizado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 64-65.

5 Antes da referida Lei, a conceituação da internet era feita pela Norma 004/95 da Agência

Nacional de Telecomunicações, a ANATEL. A definição de internet era a seguinte: “Internet:

nome genérico que designa o conjunto de redes, os meios de transmissão e comutação, roteadores, equipamentos e protocolos necessários à comunicação entre computadores,

bem como o software” e os dados contidos nestes computadores. Disponível em: http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=102 83&assuntoPublicacao=Norma%20MC%20n%BA%20004/1995&caminhoRel=null&filtro=1&d ocumentoPath=biblioteca/Normas/Normas_MC/norma_004_95.htm . Acesso em: 28 abr. 2014.

(16)

irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes;

II - terminal: o computador ou qualquer dispositivo que se conecte à internet;

III - endereço de protocolo de internet (endereço IP): o código atribuído a um terminal de uma rede para permitir sua identificação, definido segundo parâmetros internacionais;

IV - administrador de sistema autônomo: a pessoa fís ica ou jurídica que administra blocos de endereço IP específicos e o respectivo sistema autônomo de roteamento, devidamente cadastrada no ente nacional responsável pelo registro e distribuição de endereços IP geograficamente referentes ao País; V - conexão à internet: a habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP;

VI - registro de conexão: o conjunto de informações referentes à data e hora de início e término de uma conexão à internet, sua duração e o endereço IP utilizado pelo terminal para o envio e recebimento de pacotes de dados;

VII - aplicações de internet: o conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet; e

VIII - registros de acesso a aplicações de internet: o conjunto de informações referentes à data e hora de uso de uma determinada aplicação de internet a partir de um determinado endereço IP . (destaquei)7

Note-se que a definição legal coaduna-se com a até agora aqui apresentada, somente usando termos mais técnicos8 e amplos, como

terminais, definindo terminal em seu inciso II como “o computador ou qualquer dispositivo que se conecte à internet”, o que é interessante, pois, de fato, há diversos dispositivos que possibilitam o uso da internet, como celulares, videogames, televisões, etc.

7 Anexo A.

8 Técnicos no que toca ao meio da informática, pois gritante o uso do termo pessoa física,

(17)

Entretanto, quando se fala internet, como, por exemplo, em “o vídeo está na internet” ou “há muitos livros na internet”, não se está

referindo a um conjunto de redes, mas espaço virtual, ou seja, conjunto de dados e serviços disponíveis a qualquer pessoa que possua um dispositivo com conexão à internet, um terminal, nos termos da referida Lei.

Nessa linha, definiu Antônio Evangelista de Souza Netto:

Portanto, pode-se considerar, de uma forma sintética, que a internet é um espaço virtual, um meio, que possibilita a realização de comunicação e interação entre os usuários de todas as partes do mundo, inclusive em tempo real.9

Com efeito, quando se pensa em internet não vem à mente um aparato físico de cabos, terminais e servidores, mas sim o ambiente virtual com imenso conteúdo disponível nas mais diversas formas.

Em suma, o termo internet normalmente não é usado para referir-se ao que ela é fisicamente, mas a todas as funcionalidades que ela

proporciona, em especial a “World Wide Web”.

Para entender fielmente os conceitos, deve-se realizar breve escorço histórico, destacando alguns pontos que proporcionem a compreensão do que seria a internet.

Retrocedendo aos seus primórdios, podemos observar que uma internet rudimentar foi criada como ferramenta militar durante a Guerra Fria (por volta de 1965), pelo governo dos Estados Unidos da América10.

9 Idem, ibidem, p. 65.

10 LABRUNIE, Jacques. Conflitos entre nomes de domínio e outros sinais distintivos. In

Direito & Internet: aspectos jurídicos relevantes. Coordenado por Newton de Lucca e

(18)

Seu nome era ARPAnet (Advanced Research Projects Agency Network) e servia basicamente para ligar as bases militares do exército estadunidense entre si e com os departamentos de pesquisas militares.

A finalidade precípua dessa ferramenta era a segurança na troca de informação, notadamente para minimizar o risco de informações confidenciais serem captadas por forças inimigas.

No começo dos anos 70, instituições de ensino ligadas ao departamento de defesa dos EUA tiveram permissão para se conectar à ARPAnet11 e, paralelamente, diversas outras instituições de ensino pelo

mundo começaram a desenvolver as suas próprias redes de computadores12.

Em 1981, foi criada a relevante BITNET (acrônimo de "Because It's Time to NETwork"), uma rede de computadores que ligava a Universidade da Cidade de Nova Iorque com a Universidade Yale13.

Em 1982, foi criado um protocolo padrão para o uso da internet,

TCP/IP (“Transmission Control Protocol”, ou seja, Protocolo de Controle de

Transmissão; e o “Internet Protocol”, Protocolo de Internet em português).

Esse protocolo padrão possibilitou a interconexão de diversas redes e é o protocolo utilizado ainda hoje14.

11 Disponível em: <https://sites.google.com/site/sitesrecord/o-que-e-arpanet>. Consultado

em: 20 jun. 2014.

12 CARVALHO, Marcelo Sávio R. M. de. A Trajetória da Internet no Brasil. COPPE/UFRJ,

2003. p. 3-4.

13 Idem, ibidem.

14 Disponível em: <https://sites.google.com/site/sitesrecord/o-que-e-arpanet>. Acesso em: 20

(19)

A partir daí o uso da internet espalhou-se pelo mundo, destacando que, no Brasil, em setembro de 1988, o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) conectou-se a BITNET, bem como, em novembro do mesmo ano, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) também passou a acessar a BITNET por meio de uma conexão ao Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab) em Chicago15.

Porém, dizer que a internet como hoje a conhecemos é uma evolução da ARPANet é exagero, pois há outra criação tecnológica que formou, conjugado com esse conjunto de redes, o que hoje chamamos de internet. Essa invenção tecnológica é a “World Wide Web”.

Em 1989, a “World Wide Web” (“WWW”) foi criada no CERN

("Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire"16) como uma forma de

gerenciamento de informações e documentos.

Sobre a criação da “World Wide Web”, interessante anotar as palavras do próprio CERN, disponível em seu site oficial:

Tim Berners-Lee, um cientista britânico no CERN, inventou a World Wide Web (WWW) em 1989. A web foi originalmente concebida e desenvolvida para atender a demanda para a partilha de informação automática entre cientistas em universidades e institutos de todo o mundo.

O primeiro site do CERN - e no mundo - foi dedicado ao próprio projeto World Wide Web e foi hospedado no computador NeXT de Berners-Lee. O site descreve as características básicas da web; como acessar documentos de outras pessoas e como configurar seu próprio servidor. A máquina NeXT - o servidor web originais - ainda está no CERN. Como parte do projeto para restaurar o primeiro site, em 2013 CERN reintegrou o primeiro site do mundo ao seu endereço original.

15 SOUZA NETTO, Antônio Evangelista de. Responsabilidade civil na internet, cit., p.

55-56.

(20)

Em 30 de abril de 1993 CERN colocou o software World Wide Web no domínio público. CERN fez a próxima versão disponível com uma licença aberta, como uma forma mais segura de maximizar a sua divulgação. Através dessas ações, tornando o

software necessário para executar um servidor disponível gratuitamente na web, juntamente com um navegador básico e uma biblioteca de código, a web foi autorizada a florescer. (destaque nosso)17

Como destacado no trecho acima transcrito, a “World Wide Web”

desenvolveu-se e, em 30 de abril de 1993, ela foi posta em domínio público e disponibilizada para qualquer pessoa com acesso à internet.

Para compreender como a “World Wide Web” funciona, é

necessário explicitar alguns de seus conceitos, explicando suas características.

1.1 A “World Wide Web”

17 Anote-se, ainda, que esse primeiro site continua existindo e é mantido pela CERN no

endereço <http://info.cern.ch/hypertext/WWW/TheProject.html>.

Tradução livre retirada do site do CERN: <http://home.web.cern.ch/topics/birth-web>. Acessado em 20 abr. 2014.

No original “Tim Berners-Lee, a British scientist at CERN, invented the World Wide Web (WWW) in 1989. The web was originally conceived and developed to meet the demand for automatic information-sharing between scientists in universities and institutes around the world.

The first website at CERN - and in the world - was dedicated to the World Wide Web project itself and was hosted on Berners-Lee's NeXT computer. The website described the basic features of the web; how to access other people's documents and how to set up your own server. The NeXT machine - the original web server - is still at CERN. As part of the project to restore the first website, in 2013 CERN reinstated the world's first website to its original address.

On 30 April 1993 CERN put the World Wide Web software in the public domain. CERN made the next release available with an open license, as a more sure way to maximise its dissemination. Through these actions, making the software required to run a web server freely available, along with a basic browser and a library of code, the web was allowed to

(21)

O primeiro conceito a explicitar é o de “página web” (“webpage”),

que é basicamente um documento (arquivo) formado pela combinação de textos, vídeos ou sons (chamados de hipermídia). Esse documento fica fisicamente alocado no “servidor web”, normalmente um computador com grande capacidade de armazenamento.

Pois bem, o conjunto de “páginas web” forma o site (“website” ou

sítio eletrônico), que possui página principal, normalmente chamada

“homepage”, e outras tantas diversas páginas, dependendo da proposta do

site. Nessa toada, podemos considerar o site como uma pasta de arquivos

no “servidor web”, com diversos documentos para o acesso remoto por

meio da “World Wide Web”.

Fechando o ciclo, o conjunto de sites forma a “World Wide Web” (simplesmente “www”). Em linhas gerais, para acessar os sites na “World Wide Web” é necessário uma conexão de internet, por cabo, rádio ou satélite, e o uso de um programa chamado “browser” ou navegador em

português18. Alguns dos navegadores mais famosos são: Internet Explorer,

Mozilla Firefox, Google Chrome e Safari.

Nesse passo, é interessante notar que o ato de utilizar a “World Wide Web” seguindo os “hyperlinks”19 ficou conhecido como “navegar na

internet”, o que reforça ainda mais a ideia de que a “World Wide Web” é parte importante daquilo que é chamado internet.

No mais, outro conceito de fundamental importância é o “URL”

(“Uniform Resource Locator”), em português “localizador-padrão de

18 Dicionário Michaelis. Acesso em: 26 de jun. 2014. Disponível em:

<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=browser>.

19Hyperlinks, links ou hiperligações são atalhos dentro de um documento (no caso, páginas

(22)

recursos”. Ele serve para designar um recurso na “World Wide Web” e tem

a seguinte estrutura protocolo://máquina/caminho/recurso.

Protocolo identifica aquilo que quem usa o URL quer fazer, sendo

o mais comum o “Hypertext Transfer Protocol” (HTTP), em português

Protocolo de Transferência de Hipertexto20.

Máquina identifica o “servidor web”, ou seja, o terminal onde os

documentos estão fisicamente alocados. Essa identificação é feita por meio de um nome de domínio único, que será objeto de análise mais abaixo.

Caminho designa o local dentro do “servidor web” em que o

recurso buscado está situado, ou seja, a pasta dentro do servidor que armazena o recurso.

Por fim, o recurso é o documento final que quem usa o URL deseja acessar.

Como exemplo, pode-se destacar a página web da pós-graduação em sentido estrito, em Direito, pela PUC-SP: <http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/direito>.

“HTTP” é o protocolo, “www.pucsp.br” é o nome de domínio que identifica a máquina, “pos-graduacao/mestrado-e-doutorado” é o caminho, e “direito” é o recurso. Através de um “browser”, com esse URL, podemos

acessar a página específica desejada (o documento desejado).

20 O termo hipertexto foi criado pelo americano Theodor Holm Nelson, que também criou o

(23)

Nome de domínio é o sinal distintivo que funciona basicamente como identidade na Internet. Por servir como identificador, não existem dois nomes de domínio iguais, e o primeiro a requerer o registro será o titular dele, ressalvando que o nome de domínio pode ser impugnado se ferir propriedade intelectual de terceiro.

O nome de domínio é composto de uma série de sequência de

caracteres (“labels” ou rótulos) separados por pontos21. Primeiro, o domínio

de 3º nível: www, comum a todos, que identifica a “World Wide Web”. Depois, o domínio de 2º nível: o verdadeiro rótulo do site. Normalmente trata-se de um nome pelo qual a empresa ou a pessoa, ou mesmo algum produto, já são conhecidos. Em seguida, o domínio de 1º nível: destinação da entidade (ind; gov; org, jus, adv, com…). Por fim, o “Top level” que identifica o país (br; pt, por exemplo)22.

Atualmente, o domínio “br” é administrado pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que exerce as atividades

de registro de nomes de domínio, distribuição de endereços IPs (“internet protocol”) e sua manutenção na Internet.

Nessa linha, convém destacar um trecho de uma descrição histórica divulgada no site da NIC.br, em 2009, celebrando-se os 20 anos do “.br”:

O código de país “.br” acaba de completar 20 anos de sua

ativação e o Comitê Gestor da Internet no Brasil, responsável por coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços Internet no país, comemora essa data. Foi em 18 de abril, no ano de 1989, que Jon Postel, o IANA da Internet (Internet Assigned Numbers Authority), delegou à iniciativa acadêmica brasileira em redes a gestão do domínio de topo para o Brasil (ccTLD). Entrava em operação o “.br”.

21 LABRUNIE, Jacques. Direito & Internet: aspectos jurídicos relevantes, cit., p. 241. 22 Para análise mais detida: LEMOS, Ronaldo; WAISBERG, Ivo (Coords.). Conflitos sobre

(24)

Na época as redes predominantes no cenário acadêmico

brasileiro eram a BITNET (Because It’s Time NETwork), a HEPnet

(High Energy Physics Network) e a UUCP (Unix-to-Unix Copy Program). Assim, antes mesmo da conexão brasileira à Internet, que se daria em 1991, o domínio foi utilizado para identificar as máquinas que participavam das redes já utilizadas pelos acadêmicos. O futuro espaço de nomes da Internet no Brasil começara a se estruturar.

O registro de domínios sob o “.br” era feito, então, de forma manual pelo Registro Brasileiro, operado na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Essencialmente, apenas pesquisadores e as instituições às quais eles pertenciam tinham interesse e condições em se integrar à nova rede e,

portanto, em registrar um domínio sob o “.br”.

Em janeiro de 1991, valendo-se da conexão Fapesp-Fermilab, o Brasil aderiu à ESnet (Energy Sciences Network) e, assim, à própria Internet. Os primeiros pacotes TCP/IP brigaram por algum espaço na já congestionada linha internacional de 9600 bps. Aos poucos, a Internet cresceu, ganhou novos espaços e se abriu ao público. E foi durante a ECO-92 que outros segmentos da sociedade civil, representados pelos participantes desta conferência internacional, tiveram contato e acesso à Internet. A partir deste momento, nomes de máquinas no padrão Internet

(TCP/IP) foram rapidamente povoando o “.br”.

Em 1995, o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) foi criado para, entre outros objetivos, coordenar a atribuição de endereços Internet (IPs) e o registro de nomes de domínios “.br”.

O DNS (Domain Name System) brasileiro que, em 1996, começava o ano com 851 domínios registrados, experimentava um crescimento vertiginoso com a chegada em massa de empresas, provedores e mídia. O sistema de registro foi automatizado, com um desenvolvimento interno e em software

aberto que permitiu chegar, com eficiência e segurança, a mais de 1,6 milhão de registros atualmente.23

Com tudo isso, pode-se compreender as principais características das “World Wide Web”.

1.2. Internet e sua importância

23 Disponível em: <http://nic.br/imprensa/releases/2009/rl-2009-08.htm>. Acessado em: 25

(25)

Feito o escorço histórico e explicados alguns conceitos, pode-se perceber o quanto a internet evoluiu, passando a interligar inúmeras pessoas.

Nessa esteira, note-se que a internet hoje está presente em diversas atividades humanas, com incrível presença nas operações cotidianas das pessoas.

Com efeito, usa-se a internet para quase tudo em nossas vidas: para trabalhar, estudar, conversar, como lazer dos mais variados tipos, para comprar quaisquer produtos (desde pequenos, como comida e remédio, até enormes, como carcaças de aviões e navios), para pagar impostos e contas, etc.

E por que a internet é tão utilizada? Porque ela amplia os horizontes de quem a usa, derruba fronteiras, permitindo uma interação em escala global, intensifica as relações interpessoais e aumenta a velocidade das atividades realizadas por meio dela.

Digno de nota é a conceituação de internet exarada pelo governo brasileiro através da nota conjunta do Ministério das Comunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia, de junho de 199524:

2. A Internet

2.1 A Internet é um conjunto de redes interligadas, de abrangência mundial. Através da Internet estão disponíveis serviços como correio eletrônico, transferência de arquivos, acesso remoto a computadores, acesso a bases de dados e

24 Anexo B. A citada nota tinha por objetivo noticiar à população em geral a novidade da

introdução da internet no Brasil e dispor algumas diretrizes básicas. Ela tinha por subtítulo o

seguinte texto “O Ministério das Comunicações (MC) e o Ministério da Ciência e Tecnologia

(MCT), tendo em vista a necessidade de informar à Sociedade a respeito da introdução da

(26)

diversos tipos de serviços de informação, cobrindo praticamente todas as áreas de interesse da Sociedade.

Com os conhecimentos galgados no estudo histórico realizado neste capítulo, torna-se fácil examinar criticamente essa definição e retirar conclusões valiosas.

Primeiro, fica evidente que, na época em que exarada tal nota,

havia uma distinção mais clara da chamada internet (“conjunto de redes interligadas, de abrangência mundial”) e dos serviços prestados através desse conjunto de redes.

Isso ocorreu porque, naquela época, o ambiente virtual que hoje é chamado de internet era muito incipiente. Frise-se que o principal ambiente virtual é a “World Wide Web”, que somente foi disponibilizado ao

domínio público em 30 de abril de 1993, cerca de dois anos antes de expedida a referida nota.

Outra conclusão importante é a de que, já em 1995, ou seja, poucos anos depois dessa novidade chegar ao Brasil, a internet já era considerada de especial importância e os serviços que poderiam ser prestados através dela cobriam “praticamente todas as áreas de interesse da Sociedade”.

(27)

No mais, somente para reforçar a importância da internet, a Lei n. 12.965/1425: Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o

uso da Internet no Brasil” e estipula em seu artigo 7º que “O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania”.

Evidentemente, isso deixa claro que, para além de todos os usos possíveis da internet, a inserção das pessoas nesse meio virtual é vista como de importância fundamental.

Refletindo sobre a importância da internet, anote-se uma citação feita pelo escritor Ernest Hemingway no trecho inaugural de seu livro Por Quem os Sinos Dobram. A frase é de Jonh Donne, poeta e clérigo anglicano:

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

Na maioria das localidades, longe vai o tempo em que Igreja era a referência de uma comunidade em todos os assuntos, quando o sino de uma capela anunciava a uma população inteira um novo fato26.

Hoje, os sinos badalam impetuosamente no mundo virtual, chamando seus seguidores, para saber das novidades da comunidade, que também pode ser virtual.

25 Anexo A.

26 Evidentemente que o sentido da frase transcende o de um sino a tocar, mas explicita a

(28)

Estranho? Filosoficamente, é provável27. Mas é a realidade e é

com isso que se tem de trabalhar para fazer desse mundo virtual um ambiente mais justo e seguro.

1.3. Definição de internet adotada

De tudo o que foi exposto até agora se pode conceituar precisamente a internet.

Nessa toada, o termo internet é usado em duas acepções: como conjunto de redes de computadores, em escala global, e como ambie nte virtual com imenso conteúdo e funcionalidades.

Para facilitar, pode-se fazer uma analogia cum grano salis com

os termos “hardware”28 e “software”, entendidos como suporte físico e

suporte lógico.

Nessa ordem de raciocínio, a internet “hardware” seria o conjunto

de redes de computadores, ao passo que a internet “software” seria o

ambiente virtual.

Evitando o estrangeirismo, a conclusão é a de que o termo internet possui natureza dúplice. Sua natureza física ou real29 é a de

conjunto de redes, ao passo que, sua natureza virtual é a de um ambiente formado pelo conjunto de todas as funcionalidades e conteúdos providos pelos que integram a internet física.

27 Podemos, entretanto, lembrar da frase atribuída a Terêncio (cerda de 160 a.C.) "Homo sum; humani nil a me alienum puto". Tradução livre: “Sou humano, nada do que é humano me é estranho”.

(29)

Dessa forma, quando alguém diz “comprei essa geladeira na internet”, ela está se referindo ao ambiente virtual, na mesma medida daquele que afirma que leu um artigo, trabalho acadêmico ou notícia na internet.

Por outro lado, quando alguém diz que consegue acessar o seu computador residencial, através de seu notebook, pela internet, ele está fazendo referência à internet em sua natureza física, como um conjunto de redes de computadores.

(30)

CAPÍTULO II

OS PROVEDORES

Com o advento da Lei n. 12.965/201430, podem-se reconhecer

dois grupos de provedores: os de conexão à internet e os de aplicações de internet.

Isso é o que se pode concluir com a análise da referida legislação, que, embora não conceitue, utiliza os termos em diversos artigos, como se passa ora a apreciar.

Em seu artigo 7º, a citada Lei dispõe: “O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos:” e, no inciso XI, “publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de conexão à internet e de aplicações de internet” (destaquei).

O artigo 11, caput, tem a seguinte redação:

Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de aplicações de internet em que pelo menos um desses atos ocorra em território nacional, deverão ser obrigatoriamente respeitados a legislação brasileira e os direitos à privacidade, à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros . (destaquei)

E o § 3º do referido artigo:

(31)

§ 3o Os provedores de conexão e de aplicações de internet deverão prestar, na forma da regulamentação, informações que permitam a verificação quanto ao cumprimento da legislação brasileira referente à coleta, à guarda, ao armazenamento ou ao tratamento de dados, bem como quanto ao respeito à privacidade e ao sigilo de comunicações. (destaquei)

No mais, o Capítulo II da Lei n. 12.965/14 regulamenta a atuação dos provedores e tem o seguinte nome: “DA PROVISÃO DE CONEXÃO E DE APLICAÇÕES DE INTERNET”.

Há ainda outros artigos que fazem referência ora ao provedor de conexão, ora ao de aplicações, ou aos dois. Todavia, os trechos acima transcritos já são suficientes para firmar a conclusão exarada no começo desse tópico, de que, com o advento da Lei n. 12.965/2014, podem-se definir dois grupos de provedores: os de conexão à internet e os de aplicações de internet.

Nos próximos tópicos apreciar-se-á como eram definidos os diferentes tipos de provedores de internet e ficará claro que dois grandes méritos das definições legais são o de separar a atuação de acordo com as diferentes naturezas da internet (física e virtual) e o de adotar definições amplas, especialmente no caso dos provedores de aplicações, que permitem a conformação na definição legal das diversas atividades que são praticadas com o uso da internet, possibilitando o estabelecimento de regras comuns.

1. Provedores de conexão

(32)

Nesse passo, usando a diferenciação da natureza da internet feita no capítulo anterior, os provedores de conexão atuam na internet física31.

Antes da Lei n. 12.965/14, quem atuava na internet física eram os chamados provedores backbone e os de acesso, conforme se pode visualizar com a leitura da nota conjunta do Ministério das Comunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia, de junho de 1995:

2.2 A Internet é organizada na forma de espinhas dorsais

backbones, que são estruturas de rede capazes de manipular grandes volumes de informações, constituídas basicamente por roteadores de tráfego interligados por circuitos de alta velocidade.

2.3 Interligadas às espinhas dorsais de âmbito nacional, haverá espinhas dorsais de abrangência regional, estadual ou metropolitana, que possibilitarão a interiorização da Internet no País.

2.4 Conectados às espinhas dorsais, estarão os provedores de acesso ou de informações, que são os efetivos prestadores de serviços aos usuários finais da Internet, que os acessam tipicamente através do serviço telefônico.

2.5 Poderão existir no País várias espinhas dorsais Internet independentes, de âmbito nacional ou não, sob a responsabilidade de diversas entidades, inclusive sob controle da iniciativa privada.

2.6 É facultada aos provedores de acesso ou de informações a escolha da espinha dorsal à qual se conectarão, assim como será de livre escolha do usuário final o provedor de acesso ou de informações através do qual ele terá acesso à Internet . (destaque nosso)32

Para além do provedor de acesso, a nota cita o provedor de informações, que poderia conectar-se diretamente ao backbone. Hoje, o que era chamado de provedor de informações enquadra-se dentro da

31 Entendida do modo como foi conceituada: conjunto de redes de computadores, em escala

global.

(33)

categoria provedores de aplicações33, vez que atuam na internet virtual e

não fornecem conexão a terceiros.

Pois bem, restaram, então, os chamados backbone e os provedores de acesso.

1.1. Provedores de Backbones e de Acesso (nomenclaturas anteriores à Lei n. 12.965/14)

Como a própria nota conjunta já dispõe, backbones são as espinhas dorsais do conjunto de redes que se chama internet (usando o termo em sua natureza física). Pelo backbone, flui uma quantidade enorme de informações, na forma de dados, em altíssima velocidade. Note-se, ainda, que a palavra inglesa backbone significa literalmente espinha dorsal e daí advém o uso desse termo para discriminar os cabos principais e mais grossos de uma rede de computadores, quando a transmissão de dados era feita precipuamente via fios e cabos.

Em analogia com a rede de distribuição de água, pode-se comparar os backbones com as tubulações principais, delas saindo tubos mais finos, que se ramificam, até chegar ao consumidor final.

Normalmente, as pessoas (jurídicas ou naturais) não utilizam diretamente os backbones, em função dos grandes custos e pela ausência de necessidade de operar um fluxo extremamente grande de informações.

Nesse passo, são intermediários que se ligam aos backbones, utilizando as infraestruturas dessas espinhas dorsais. Daí surgiu o termo

(34)

“provedor de backbone”, ou seja, as empresas que mantêm backbones e cedem o uso dessa estrutura.

Leonardi Marcel define os provedores de backbones nos seguintes termos:

O provedor de backbone oferece conectividade, vendendo acesso à sua infraestrutura a outras empresas que, por sua vez, fazem a revenda de acesso ou hospedagem para usuários finais, ou que simplesmente utilizam a rede para fins institucionais inte rnos. O usuário final, que utiliza a Internet através de um provedor de acesso ou hospedagem, dificilmente terá algum contato com o provedor de backbone.34

Os backbones dividem a conectividade usando equipamentos chamados roteadores, para poderem ceder parte de sua estrutura, ou seja, parte da estrutura que permite o fluxo de informação desejado pelo cessionário.

Tudo isso ocorre do ponto de vista físico. Trata-se da parte estrutural da rede mundial de computadores. Nessa linha, anotem-se as palavras do Dr. Edgard Jamhour, professor da PUC-PR, que desenvolve sua linha de pesquisa em redes de computadores e de telecomunicações:

Do ponto de vista físico, a infraestrutura de redes IP pode ser dividida em 3 níveis: usuário, acesso e núcleo (também chamado de Core ou backbone).

A infraestrutura nível núcleo (backbone) corresponde geralmente a equipamentos e enlaces de alta capacidade pertencentes a operadoras de telecomunicação. Exemplos de tecnologias de comunicação nesse nível são o ATM, SDH, Gigabit-Ethernet. Nesse nível, os dados transportados pelos enlaces são agregados, isto é, eles correspondem a dados de uma grande quantidade de usuários.

Os equipamentos utilizados no backbone são geralmente muito caros para serem utilizados ao nível de usuário. Dessa f orma, é necessário criar um nível intermediário, com equipamentos mais

34 LEONARDI, Marcel. Responsabilidade Civil dos Provedores de Serviços de Internet.

(35)

baratos e velocidades inferiores, a fim de permitir que usuários se conectem ao backbone. Esse nível intermediário é denominado nível de acesso. Um exemplo de tecnologia de nível acesso é o ADSL, conforme mostrado na figura. O ADSL permite que a conexão de rede utilizada pelos usuários seja uma simples linha telefônica. A linha telefônica tem uma capacid ade muito inferior àquela utilizada no backbone, de forma que múltiplas linhas telefônicas precisam ser multiplexadas para atingir uma velocidade compatível com o backbone (sic).35

Desta feita, pode-se inferir que os chamados provedores de acesso atuavam nesse nível intermediário, utilizando de tecnologia mais barata para levar a conectividade até o usuário final.

Nessa ordem de ideias, anote-se:

Assim sendo, é por intermédio do provedor de acesso que o usuário comum de Internet utiliza a rede, pois os custos de estabelecimento e manutenção de uma conexão direta à Internet são muito elevados.

O provedor de acesso é a pessoa jurídica fornecedora de serviços que possibilitem o acesso de seus consumidores à Internet. Normalmente, essas empresas dispõem de uma conexão a um backbone ou operam sua própria infraestrutura para conexão direta.36

Em suma, os provedores de backbone seriam os que mantêm uma grande infraestrutura para transmissão de dados, ao passo que

“provedores de acesso” era a denominação daquele que fornecia o acesso

à internet ao consumidor, utilizando para tanto alguma parte da est rutura do backbone, para além de estrutura própria ou de terceiros para alcançar o consumidor (ex.: fiação de telefonia ou de televisão a cabo).

35 JAMHOUR, Edgard. Sistemas Autônomos e Roteamento na Internet. Disponível em:

<http://www.ppgia.pucpr.br/~jamhour/Pessoal/Atual/SARoteamento.pdf >. Acesso em: 20 maio 2014, p. 2.

36 LEONARDI, Marcel. Responsabilidade Civil dos Provedores de Serviços de Internet,

(36)

1.2. Provisão de conexão (Lei n. 12.965/14)

A ideia que se fazia dos provedores de backbone e de acesso decorria de uma análise da estrutura da rede mundial de computadores.

Entretanto, não basta possuir uma conexão física com uma rede de computadores (um cabo) para que alguém possa atuar dentro dessa rede. Com efeito, para que esse conjunto de redes funcione concomitantemente é necessário ter regras comuns de funcionamento. Em suma, é necessário que exista um sistema:

(…) As redes backbones que formam a Internet podem ser de várias origens: redes de empresas de telecomunicação (com fins comerciais), redes do governo e redes de pesquisa. Independente de sua origem, todas essas redes precisam seguir um padrão comum de funcionamento, a fim de que sejam interoperáveis. Esse padrão de funcionamento é baseado no conceito de sistemas autônomos e protocolos de roteamento padronizados.

(…)

Um sistema autônomo compreende a rede e todo o conjunto de computadores que ela conecta. Se tomarmos como analogia a discussão feita sobre a estruturação física das redes IP, um sistema autônomo compreenderia todos os níveis da rede: usuário, acesso ou backbone.

Do ponto de vista lógico da Internet, a divisão entre usuário, acesso ou backbone desaparece. Qualquer computador conectado a Internet precisa pertencer a um sistema autônomo. Por exemplo, um usuário acessando a Internet em sua re sidência, através de uma linha ADSL, é visto como sendo parte do sistema autônomo do backbone ao qual está conectado.37

Nesse passo, levando em consideração a ideia de sistemas autônomos, a Lei n. 12.965/14 dispõe sobre a atividade do administrador de sistemas autônomos, em seu artigo 5º, inciso IV:

IV - administrador de sistema autônomo: a pessoa física ou jurídica que administra blocos de endereço IP específicos e o

(37)

respectivo sistema autônomo de roteamento, devidamente cadastrada no ente nacional responsável pelo registro e distribuição de endereços IP geograficamente referentes ao País;

O administrador de sistemas autônomos é quem gere um pacote de IPs, provendo, ou não, a conexão ao usuário final.

E o que é o endereço IP? Positivando o entendimento técnico que se tinha do IP, a Lei n. 12.965/14 prevê, em seu artigo 5º, inciso III:

III - endereço de protocolo de internet (endereço IP): o código atribuído a um terminal de uma rede para permitir sua identificação, definido segundo parâmetros internacion ais.

De fato, endereço IP identifica o terminal conectado à internet através de um número único. Em âmbito global, o controle dos endereços IPs é feito pela IANA (Internet Assigned Number Authority), que distribui blocos de IPs para cada região do mundo. Para tanto, a IANA utiliza cinco autoridades com abrangência mais regionalizada.

Essas autoridades são: AfriNIC: responsável pela região da África; APNIC: responsável pela região Ásia e Pacífico; ARIN: responsável pela região da América do Norte; LACNIC: responsável pela região da América Latina e algumas ilhas do Caribe; RIPE NCC: responsável pela Europa, Oriente Médio e Ásia Central38.

A autoridade responsável pela distribuição do endereço IP da região que compreende o Brasil é o LACNIC (Latin America a nd Caribbean Internet Address Registry).

(38)

Volvendo à legislação brasileira, o inciso IV do artigo 5º da Lei n. 12.965/14 afirma que há um “ente nacional responsável pelo registro e distribuição de endereços IP geograficamente referentes ao País”.

De acordo com a Portaria Interministerial n. 147, de 31 de maio de 1995, esse ente nacional é o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br):

Art. 1° Criar o Comitê Gestor Internet do Brasil, que terá como atribuições:

V - coordenar a atribuição de endereços IP ( Internet Protocol) e o registro de nomes de domínios.39

Entretanto, a resolução 001/200540 delega ao Núcleo de

Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) as atividades de registro

de nomes de domínio, distribuição de endereços IPs (“internet protocol”) e

sua manutenção na Internet.

Assim, o “ente nacional responsável pelo registro e distribuição de endereços IP geograficamente referentes ao País” é atualmente o

Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR.

E, no final da cadeia, há o provedor de conexão.

39 Disponível em: <http://www.cgi.br/portarias/numero/147>. Acesso em: 5 jun. 2014.

40 Disponível em: <http://www.cgi.br/resolucoes/documento/2005/001>. Acesso em: 5 jun. 2014: “O Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br, no uso das atribuições que lhe confere o Decreto n. 4.829, de 3 de setembro de 2003, e considerando que, para alcançar o objetivo de disponibilizar informações e serviços pela internet, é necessário o registro de nomes de domínio e a atribuição de endereços IP, bem com o a manutenção de suas respectivas bases de dados na rede eletrônica, considerando o aprovado pelo CGI.br em reunião realizada no dia 21 de outubro de 2005,

resolve:

Art. 1º - Ficam atribuídas ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR - NIC.br, a execução do registro de Nomes de Domínio, a alocação de Endereços IP (Internet Protocol)

(39)

Em seu inciso V, artigo 5º, a Lei n. 12.965/14 dispõe: “V - conexão à internet: a habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP”.

Nessa esteira, já se afirmou que terminal é o computador ou qualquer dispositivo que se conecte à internet (artigo 5º, inciso II, da Lei n. 12.965/14). Logo, provedor de conexão é quem fornece conexão à internet ao usuário final (nos termos do artigo 5º, inciso V, da Lei n. 12.965/14), podendo ser também administrador de sistema autônomo e possuir ou não estrutura própria de backbone.

Nesse sentido, anote-se:

A grosso modo, provedores de conexão são as empresas que viabilizam o acesso dos internautas à internet, a exemplo de empresas renomadas como a OI, a VIVO, a CLARO, etc.41

Resumindo, para manter a estrutura da internet física, atuam diversos agentes, públicos e privados. Esses agentes nem sempre se relacionam diretamente com o usuário final, como é o caso de quem somente mantém uma estrutura para transmissão de dados e cede o seu uso. No final da cadeia, encontra-se o usuário, que possui um terminal conectado à internet. O agente que habilita o terminal desse usuário é chamado de provedor de conexão, que pode ou não atuar em outras áreas.

2. Provedores de aplicações

41 OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. Aspectos Principais da Lei n. 12.965, de 2014, o

(40)

Os provedores de aplicações são os que atuam na internet virtual, ou seja, dentro do ambiente que chamamos de internet, oferecendo os mais variados serviços e conteúdo.

O Consultor Jurídico do Senado, Carlos Eduardo Elias de Oliveira, analisando o ainda então Projeto de Lei conhecido como Marco Civil da Internet, que culminou na Lei n. 12.965/14, exarou parecer jurídico definindo os provedores de aplicações da seguinte forma: “Para efeito didático, pode-se considerar, grosso modo, como sinônimo de provedor de aplicações os sites da internet”42.

Note-se que foi utilizado o termo sites da internet notadamente

para se referir aos “websites” da “World Wide Web”. Isso porque, como já

dito, para o usuário comum, a “World Wide Web” engloba praticamente

toda a internet virtual.

Saliente-se que a internet abrange praticamente todas as áreas de interesse da sociedade, de forma que há um número virtualmente infinito de possibilidades para o seu uso, pois novas tecnologias e novos usos são descobertos cotidianamente.

Nesse passo, diante da impossibilidade de ter-se um número fechado de tipos de provedores que atuam na internet, classificados de acordo com o tipo de serviço prestado, parece ser muito salutar a denominação utilizada pela Lei n. 12.965/14, que conceitua como provedor de aplicações todo aquele que atua na internet, fornecendo aplicações, definindo-as como: “VII - aplicações de internet: o conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet” (inciso VII, artigo 5º, da Lei n. 12.965/14).

(41)

Antes da Lei n. 12.965/14, não havia denominação comum para quem prestava serviços aos usuários na internet. Nesse passo, surgiram diversas denominações, que refletiam os serviços mais comuns prestados na internet virtual.

Dessas denominações, pode-se destacar: provedor de informação, provedor de conteúdo, provedor de hospedagem, provedor de pesquisa e provedor de e-mail.

Como a Lei recém-publicada alterou essas denominações, pode ser que elas caiam em desuso. Entretanto, elas são de grande valia para o entendimento de textos anteriores à Lei n. 12.965/14, sejam doutrinários ou jurisprudenciais, bem como servem como exemplo dos serviços mais usuais disponíveis na internet.

Nesse diapasão, é interessante saber as suas definições, ficando o alerta de que cada denominação é caracterizada por um serviço específico, não um grupo de agentes específicos, pois as pessoas que atuam na internet quase sempre agem em diversas frentes. Assim, o

correto seria dizer, e.g. o serviço “x” é o de provedor de informação, não a pessoa “y” é provedor de informação. Feita a ressalva, vamos às

definições sintéticas, tais como eram defendidas antes da Lei n. 12.965/14.

Os provedores de hospedagem são os servidores (“servidores web” conforme conceituado no primeiro capítulo), que armazenam dados

de terceiros, conferindo-lhes acesso remoto. Leonardi conceitua a atuação desses provedores:

(42)

este que pode escolher entre permitir o acesso a quaisquer pessoas ou apenas a usuários determinados.43

Os serviços prestados por um servidor não param de crescer,

como nos casos das chamadas “nuvens”, que permitem o armazenamento

em servidores com o acesso remoto e rápido de dados pelos usuários.

Provedor de informação é aquele que produz a informação disponibilizada na internet, podendo disponibilizá-la diretamente ou através de outro provedor44.

Provedor de conteúdo é o que disponibiliza as informações criadas pelos provedores de informação. Segundo Marcel Leonardi:

O provedor de conteúdo é toda pessoa natural ou jurídica que disponibiliza na Internet as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação, utilizando para armazená -las servidores próprios ou os serviços de um provedor de hospedagem.

Dessa forma, o provedor de conteúdo pode ou não ser o próprio provedor de informação, conforme seja ou não o autor daquilo que disponibiliza.45

Como visto, um provedor de conteúdo pode ser provedor de informação também quando cria ou desenvolve a informação e, ainda, pode usar ou ter o próprio servidor, de forma que pode até ser um provedor de hospedagem.

No mais, os provedores de pesquisa são os que oferecem uma ferramenta de pesquisa de conteúdo na “World Wide Web”, identificando palavras-chaves e fornecendo os “hiperlinks” para visualização do

43 LEONARDI, Marcel. Responsabilidade Civil dos Provedores de Serviços de Internet.

São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2005. p. 25.

(43)

conteúdo buscado. Os maiores exemplos são o “Google.com” e “Yahoo.com”.

Por fim, o provedor de e-mail ou correio eletrônico é aquele que oferece o serviço de um gerenciador de mensagens virtuais. Nas palavras de Marcel Leonardi:

O provedor de correio eletrônico fornece, portanto, serviços que consistem em possibilitar o envio de mensagens do usuário a seus destinatários, armazenar as mensagens enviadas a seu endereço eletrônico até o limite de espaço disponibilizado no disco rígido de acesso remoto e permitir, somente ao contratante do serviço, o acesso ao sistema e às mensagens, mediante o uso de um nome de usuário e senha exclusivos.46

Em suma, isso é o que cumpria explicar sobre os provedores de aplicações, salientado que provedores de aplicações é a terminologia adotada pelo Direito brasileiro para identificar toda pessoa que atua economicamente ou não dentro do ambiente da internet, oferecendo os mais variados serviços e conteúdo.

Ao cabo, mostra-se ainda salutar asseverar que a conceituação dos serviços agora pode ser feita com mais acuidade, de forma que, ao referir-se a um site como o “facebook.com”, pode-se dizer que a empresa Facebook Serviços Online do Brasil Ltda. é um provedor de aplicações, que presta, nesse caso, o serviço de manutenção e gerenciamento de um

site de relacionamentos.

Assim, não é mais imprescindível o uso do rótulo provedor de conteúdo para identificar o site facebook (já rotulado como provedor de aplicações), pois, para além de gerar dúvidas sobre se a empresa homônima seria somente provedor de conteúdo, essa denominação não

(44)
(45)

CAPÍTULO III

PONDERAÇÕES PRÉVIAS SOBRE A

RESPONSABILIDADE CIVIL NA INTERNET

1. Responsabilidade civil subjetiva – História, Direito estrangeiro e Direito Pátrio

Esse tópico abordará a evolução da responsabilidade civil extracontratual, especialmente em seu matiz subjetivo, desde os povos primitivos até a sociedade contemporânea, o que irá proporcionar ferramentas indispensáveis para a análise da responsabilidade civil dos provedores de internet.

Essa visão do passado pode ser muito útil para o desenvolvimento do instituto e sua aplicação no contexto das relações travadas pela internet.

Com efeito, o Direito não é inventado em quatro paredes, mas apreendido da sociedade. Basta lembrar que os grandes momentos de evolução do Direito ocorreram quando os juristas voltaram seus olhos para o passado:

Lembre-se, apenas para efeito histórico que a redescoberta do direito romano foi empreendida por três escolas: a) na Idade Média, pelos glosadores do Corpus Iuris Civilis; b) na Idade Moderna, pelos Iluministas franceses; c) na Idade Contemporânea, pelos pandectistas alemães.

(46)

alemão de 1896, no original Bürgerliches Gesetzbuch ou simplesmente BGB.47

O objetivo é colher informações relevantes para compreender o instituto da responsabilidade civil, situando a responsabilidade subjetiva como regra geral e a responsabilidade objetiva como a exceção (um suplemento, não um substitutivo).

Anote-se que, atualmente, a responsabilidade objetiva tem um apelo muito grande, embora isso não seja necessariamente negativo, pois, se a sociedade evoluiu, o Direito Civil deve evoluir também.

Para alcançar-se algumas conclusões, como a já enunciada acima, analisar-se-á a responsabilidade civil extrajudicial em diversos períodos da história e em diversos sistemas jurídicos, tecendo considerações pertinentes.

1.1. Responsabilidade antes de Roma

1.1.1. Sociedades Primitivas Vingança Privada

Nas sociedades primitivas toda lesão causada à pessoa ou aos seus bens despertava na vítima o instinto de vingança, o desejo de punir aquele que gerou o prejuízo.

Em realidade, o desejo de vingança não é exclusivo das sociedades primitivas e está presente em todos os seres humanos, que

47 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil no Código Civil Francês e no Código Civil Brasileiro.

(47)

reprimem esse instinto em benefício da harmonia social, com base em princípios morais e jurídicos48.

Com efeito, nessa época remota, a inexistência de uma organização jurídica mais desenvolvida não impedia o indivíduo de se voltar contra quem o prejudicou, todavia, justamente por lhe faltar instrumentos jurídicos, a única solução era buscar sozinho ou coletivamente punir o ofensor.

Nessa linha:

A princípio, o dano escapa ao âmbito do direito. Domina então a

vingança privada ‘forma primitiva, selvagem talvez, mas humana,

da reação espontânea e natural contra o mal sofrido; solução comum a todos os povos nas suas origens, para a reparação do

mal sofrido’.49

E, ainda:

Penetramos, assim, no período da Justiça Privada das sociedades primitivas. Em síntese, nessa fase primitiva da civilização imperava o sistema de exercício arbitrário das próprias

razões (…). Assim a Justiça Privada, que em princípio resume a ideia de alguém perseguir, por si mesmo, a execução de seu suposto direito, é expressão que contém dois aspectos: vingança privada e justiça privada é, essencialmente, o fato da vítima de um delito vingar-se do fato danoso, mediante a prática de um fato análogo, podendo manifestar-se sob a forma individual ou sob a

48 Freud destaca os mecanismos de controle dos instintos, em especial a agressividade.

Segundo a sua análise, o homem tem uma agressividade inata, que é controlada pela sociedade, principalmente pelas regras de conduta, éticas ou legais. A sociedade controla a ação, ao passo que o próprio indivíduo cria mecanismos de controlar a vontade, o desejo de fazer o mal, a sua agressividade. Surge o conceito do Super Eu, ou Super Ego, como autoridade interna superior ao Eu ou Ego, que o controla por meio da culpa. A sociedade reprime a agressividade enquanto ação e o Super Eu enquanto vontade, desejo. Conferir: FREUD, Sigmund. O Mal-estar na Civilização. Trad. Paulo César de Souza. 1. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2011. especialmente p. 63-93.

49 DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995.

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