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DISSERTAÇÃO_(O) Braço forte, (A) Mão amiga

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Academic year: 2021

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(1)(O) BRAÇO FORTE, (A) MÃO AMIGA: UM ESTUDO SOBRE DOMINAÇÃO MASCULINA E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA EM UMA ORGANIZAÇÃO MILITAR. ALEXANDRE REIS ROSA. 2007.

(2) ALEXANDRE REIS ROSA. (O) BRAÇO FORTE, (A) MÃO AMIGA: UM ESTUDO SOBRE DOMINAÇÃO MASCULINA E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA EM UMA ORGANIZAÇÃO MILITAR. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Administração, área de concentração em Organizações, Estratégias e Gestão, para a obtenção do título de “Mestre”.. Orientador Prof. Dr. Mozar José de Brito. LAVRAS MNAS GERAIS – BRASIL 2007.

(3) Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da UFLA Rosa, Alexandre Reis (O) Braço Forte, (A) Mão Amiga: um estudo sobre dominação masculina e violência simbólica em uma organização militar / Alexandre Reis Rosa. -- Lavras : UFLA, 2007. 355 p. : il. Orientador: Mozar José de Brito. Dissertação (Mestrado) – UFLA. Bibliografia. 1. Masculinidade. 2. Mulher Militar. 3. Organização Militar. 4. Simbolismo. 5. Pierre Bourdieu. I. Universidade Federal de Lavras. II. Título. CDD-335.0335.

(4) ALEXANDRE REIS ROSA. (O) BRAÇO FORTE, (A) MÃO AMIGA: UM ESTUDO SOBRE DOMINAÇÃO MASCULINA E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA EM UMA ORGANIZAÇÃO MILITAR. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Administração, área de concentração em Organizações, Estratégias e Gestão, para a obtenção do título de “Mestre”.. APROVADA em 16 de março de 2007. Prof. Dr. Raul Francisco Magalhães. UFJF. Profª. Drª. Mônica Carvalho Alves Cappelle. UFLA. Prof. Dr. Mozar José de Brito UFLA (Orientador). LAVRAS MINAS GERAIS – BRASIL.

(5) Para meu pai Ailto Antônio Rosa (In Memorian) Este trabalho é dedicado ao meu saudoso pai que, de forma abrupta, deixou de estar em nosso convívio... e não teve a chance de ver seu garoto se transformar num homem..

(6) AGRADECIMENTOS. Escrever esta dissertação foi um encontro comigo mesmo. Foi uma oportunidade de tocar nos limites de um mundo que somente eu podia ver, de resgatar algo deixado para trás nos descaminhos da vida, de reconciliar passado e presente com vistas a um futuro infinitamente mais interessante e de responder a algumas perguntas que só fazem sentido para mim e para as pessoas que me conhecem profundamente. Pois somente essas pessoas entenderão estas palavras iniciais. No entanto, é importante reconhecer que o conteúdo das páginas seguintes não é um resultado apenas meu. Afinal, para mim, um trabalho acadêmico é sempre um empreendimento coletivo. Independentemente das horas de leitura e de reflexão individual, há sempre um número considerável de pessoas e organizações à nossa volta que, direta ou indiretamente, contribuem para a realização da pesquisa. Nesse sentido, gostaria de agradecer inicialmente à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de estudos. Sem esse auxílio financeiro, definitivamente esta dissertação não teria sido realizada. Agradeço também à Universidade Federal de Lavras, em particular ao Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) que, desde o primeiro contato, acolheu-me e proporcionou-me as condições de desenvolver meus estudos com liberdade de idéias e tranqüilidade de produção. Para os integrantes do PPGA, deixo meu agradecimento à secretária Elizabeth que sempre – sempre mesmo – nos atendeu com alegria e presteza inconfundíveis. Agradeço também a todos os docentes que tive a oportunidade de interagir, seja nas aulas, seja nas conversas informais; sem dúvida, todos foram fundamentais nesse trajeto. Porém, alguns foram marcantes e merecem um agradecimento à parte. Entre eles, quero agradecer ao Prof. Dr. Juvêncio.

(7) Braga de Lima, por me ensinar não apenas o conteúdo de uma disciplina, mas, sobretudo, o que é ser acadêmico, seja na postura como professor, seja na postura como pesquisador; ao Prof. Dr. José Roberto Pereira, pela perspectiva sociológica e por instigar a dúvida como postura intelectual; à Profª. Drª. Mônica Cappelle, pelas observações acerca da categoria gênero e o cuidado em lidar com este tema de pesquisa; ao Prof. Dr. Edgar Alencar, pela experiência transmitida e por nos dizer, sem rodeios, como as coisas realmente são; e um agradecimento especial ao meu professor e orientador Prof. Dr. Mozar José de Brito, pela paciência, atenção, dedicação e, principalmente, por acreditar em mim. Muitas foram as mudanças de projeto e de objeto de estudo, muitas foram as voltas e os atropelos, muitas foram as idéias e as contradições, muitos forma os enfoques e os objetivos, mas, no final de tudo, havia sempre a crença de que eu não iria decepcioná-lo e espero não tê-lo feito. Para os discentes do PPGA, deixo meu sincero agradecimento pela amizade e pela companhia neste desafio. Aos meus colegas de turma, deixo aqui registrado minha saudade dos dias que compartilhamos, das aulas e seminários a que assistimos e das poucas – poucas mesmo – festas que fizemos. Em especial, agradeço as amigas Cléria Lourenço, Denise Bernardo, Vânia Rezende, Patrícia Ferreira, Sandra Mendonça e Maria Cecília e, aos amigos, Flávio Monteiro, Virgilio Oliveira, Leonardo Lemos, André Luis, Marcelo Knop e Geraldo Magela, pela convivência e pelas conversas edificantes. Nesse maravilhoso grupo de amigos, destaco um que definitivamente tornou-se um novo irmão para mim: César Tureta. Nos últimos dois anos compartilhamos não só uma sala de aula e uma “casa de família”, mas também as dificuldades de não ter dinheiro, de não ter tempo, de não ter lazer, e também as vitórias de conseguir boas notas, de publicar alguns artigos e de sermos aprovados no doutorado. Coisas pequenas que ganharam um grande significado por terem sido conquistadas em meio à.

(8) amizade e ao trabalho em equipe. Por essas e outras, deixo registrado aqui minha estima pelo amigo César que, sem dúvida, será para sempre um grande amigo. Fora do PPGA, quero agradecer a todos a(o)s entrevistada(o)s, homens e mulheres militares, que cederam parte do seu precioso tempo neste projeto. Ao meu amigo de longa data Francisco Junior, mestrando na UFRJ, que me ajudou a levantar dados nos arquivos do Exército no Rio de Janeiro. Aos amigos Jairo e Rômulo, que me ajudaram nos contatos junto à organização militar pesquisada. Aos amigos e professores da UFJF, Elcemir Paço-Cunha, pelos insights filosóficos que me ajudaram a organizar o pensamento e Ricardo Mendonça, flamenguista e eloqüente colaborador das discussões que antecediam as aulas. Às queridas amigas Rosane, Renata e a pequena Julia, pelo carinho, pelo apoio “logístico” e pelos alegres momentos em sua casa: três pessoas adoráveis que eu tive a oportunidade de ser vizinho em Lavras. Agradeço também a querida e inesquecível Vanessa de Souza, que foi o ponto de partida em muitas coisas na minha vida. Fonte de inspiração de vários sonhos, entre eles o de ser mestre. Finalmente deixo meu obrigado a todos os meus amigos e amigas do Rio de Janeiro, de Curitiba e de Lavras. Lugares pelos quais passei os momentos mais fantásticos da minha vida e que só assim o foram porque foram animados por essas queridas amizades que eu jamais esquecerei. Nesses lugares e em todos os momentos neles vividos, de alegria ou de tristeza, de derrota ou de vitória, quatro pessoas sempre estiveram comigo: meu pai Ailto, minha mãe Lina, minha irmã Elisabete e meu irmão Jeferson que, incondicionalmente, sempre foram o alicerce mais forte de todas as minhas aspirações, sejam elas profissionais ou pessoais. A eles, todo meu amor e todo meu carinho..

(9) Não há dúvida de que a revolução simbólica supõe sempre uma revolução política, mas a revolução política não basta por si mesma para produzir a revolução simbólica que é necessária para dar-lhe uma linguagem adequada, condição de uma plena realização Pierre Bourdieu.

(10) SUMÁRIO Página LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS................................................... i LISTA DE FIGURAS................................................................................... iii LISTA DE QUADROS.................................................................................. iv. RESUMO........................................................................................................ v. ABSTRACT................................................................................................... vi 1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 1.1 Questões.................................................................................................... 1.2 Objetivos................................................................................................... 1.3 Justificativas............................................................................................. 1.4 Estrutura da dissertação............................................................................ 2 SIMBOLISMOS, PODER SIMBÓLICO E ANÁLISE ORGANIZACIONAL.................................................................................... 2.1 Pierre Bourdieu e os estudos organizacionais: uma breve revisão........... 2.2 Espaço organizacional e poder simbólico................................................. 2.2.1 Habitus.................................................................................................... 2.2.2 Campo.................................................................................................... 2.2.3 Tipos de capital...................................................................................... 2.2.4 A Reprodução........................................................................................ 2.3 Entre a doxa e a violência simbólica: o lugar do poder simbólico........... 2.4 A dominação simbólica e seus desdobramentos nas relações entre gêneros............................................................................................................ 2.5 Os limites da dominação simbólica......................................................... 2.6 Reflexividade e construção do objeto na pesquisa organizacional.......... 2.6.1 O Estudo de Caso como estratégia de pesquisa..................................... 2.6.2 As etapas do trabalho: como essa pesquisa foi feita.............................. 3 O CAMPO MILITAR............................................................................... 3.1 Burocracia e simbolismo: as duas faces do espaço organizacional.......... 3.2 Sobre a organização militar...................................................................... 3.2.1 De Guararapes aos nossos dias: fragmentos de história organizacional................................................................................................. 3.2.2 A estrutura racional da organização militar............................................. 01 08 08 09 11. 15 21 26 27 31 33 36 39 47 62 68 71 78 83 89 96 96 104.

(11) 3.2.3 A estrutura simbólica da organização militar......................................... 3.3 O Exército como campo social................................................................. 3.3.1 As homologias com o campo religioso, burocrático e escolar............... 3.3.1.1 Sobre o caráter híbrido dos Colégios Militares.................................. 3.3.2 Regras, posições e relações de força...................................................... 3.3.3 Tipos de capital e a sua acumulação....................................................... 111 117 118 127 133 141. 4 O HABITUS MILITAR.............................................................................. 4.1 Modelando os corpos: a socialização organizacional.............................. 4.1.1 Os tipos de socialização na organização militar brasileira..................... 4.2 Sobre o espírito militar............................................................................. 4.2.1 Poder/distinção: a estrutura de classes na organização militar........... 4.2.2 Hierarquia/disciplina: incorporando as diferenças verticais............... 4.2.3 Honra/tradição: incorporando as diferenças horizontais.................... 4.3 As disposições duráveis da socialização militar....................................... 4.3.1 A ethos militar....................................................................................... 4.3.2 O héxis militar........................................................................................ 147 151 157 165 166 171 177 186 187 199. 5 DOMINAÇÃO MASCULINA E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NA ORGANIZAÇÃO MILITAR....................................................................... 5.1 Gêneros, Sociedade e organizações: da esfera privada à esfera pública.. 5.2 Sobre a mulher militar.............................................................................. 5.2.1 Agregadas: as mulheres que acompanhavam os exércitos..................... 5.2.2 Convocadas: as urgências da guerra....................................................... 5.2.3 Incorporadas: as “necessidades” da paz................................................. 5.3. Doxa militar e Violência Simbólica: reproduzindo masculinidades....... 5.3.1 Desigualdades morais............................................................................. 5.3.2 Desigualdades corporais......................................................................... 5.3.3 Estratégias e resistências femininas........................................................ 5.4. Subvertendo a ordem simbólica: o caso sui generis do Colégio Militar analisado.......................................................................................................... 5.4.1 A situação intercampos (híbrida) do Colégio Militar............................ 5.4.2 Habitus clivado e a reconfiguração do poder simbólico......................... 210 212 222 222 225 232 238 247 258 269 276 277 283. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 291 6.1 Sugestões para pesquisas futuras.............................................................. 310 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 313 ANEXOS........................................................................................................ 329.

(12) LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AFA. Academia da Força Aérea. Al. Aluno. AMAN. Academia Militar das Agulhas Negras. AP. Ação pedagógica. Asp. Aspirante-a-Oficial. AuP. Autoridade pedagógica. Bda. Brigada. Bia. Bateria. BIB. Batalhão de Infantaria Blindado. Bld. Blindado. CA. Corpo de Alunos. Cav. Cavalaria. Cb. Cabo. CCOMSEx. Centro de Comunicação Social do Exército. CCSv. Companhia de Comando e Serviços. Cel. Coronel. CFO. Curso de Formação de Oficiais. CM. Colégio Militar. Com. Comunicações. DEPA. Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial. Div. Divisão. EB. Exército Brasileiro. ECEME. Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. EME. Estado-Maior do Exército. Eng. Engenharia. ESAEx. Escola de Administração do Exército. i.

(13) EsAO. Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. EsIE. Escola de Instrução Especializada. EsSA. Escola de Sargentos dos Armas. EsSEx. Escola de Saúde do Exército. FFAA. Forças Armadas. Gen. General. GN. Guarda Nacional. IME. Instituto Militar de Engenharia. Inf. Infantaria. Mtz. Motorizado. NPOR. Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva. OM. Organização Militar. Pel. Pelotão. QAO. Quadro Auxiliar de Oficiais. QCO. Quadro Complementar de Oficiais. QEM. Quadro de Engenheiros Militares. RAE. Regulamento de Administração do Exército. RCont. Regulamento de Continências, Sinais e Honras Militares. RDE. Regulamento Disciplinar do Exército. RISG. Regulamento Interno de Serviços Gerais. SAREx. Serviço de Assistência Religiosa do Exército. Sau. Serviço de Saúde. SE. Sistema de ensino. Sgt. Sargento. SM. Serviço Militar. Ten. Tenente. TP. Trabalho pedagógico. Vet. Veterinária. ii.

(14) LISTA DE FIGURAS Página FIGURA 2.1 Relação entre os níveis de análise da vida organizacional........ 37 FIGURA 2.2 Processo de arbítrio cultural e violência simbólica................... 46 FUGURA 2.3 Esquema de análise baseado na Praxeologia e no Estudo de Caso................................................................................................................. 75 FIGURA 3.1 Níveis de subordinação da Força Terrestre (Atividade-fim)..... 104 FIGURA 3.2 Organograma dos Colégios Militares (Atividade-meio)............ 106 FIGURA 3.3 As sobreposições com o campo militar..................................... 131 FIGURA 3.4 Grade classificatória de (o)posições no campo militar.............. 140 FIGURA 3.5 Esboço dos tipos de capital em circulação no campo militar.... 145 FIGURA 4.1 Escala de valor das especialidades segundo a tradição............. 185 FIGURA 5.1 Representações simbólicas das desigualdades entre os gêneros no campo militar................................................................................ 268. iii.

(15) LISTA DE QUADROS Página QUADRO 2.1 Posições e disposições dos sujeitos da pesquisa..................... 79 QUADRO 4.1 Tipos de formação militar no EB............................................ 157 QUADRO 5.1 Concepção de Gênero nas abordagens feministas................... 216. iv.

(16) RESUMO ROSA, Alexandre Reis. (O) Braço Forte, (A) Mão Amiga: um estudo sobre dominação masculina e violência simbólica em uma organização militar. 2007. 355 p. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.1. Com a entrada da mulher em todos os segmentos do mundo do trabalho, a partir das conquistas advindas do movimento feminista, foi inevitável que elas ocupassem cargos que originalmente eram exclusivos do universo masculino, entre eles o de soldado. Entretanto, a inserção do feminino nesse universo trouxe consigo uma série de questões ainda ocultas na relação homem-mulher na organização militar, gerando uma forte resistência de chefes, pares e subordinados quanto à presença delas num mundo que, segundo eles, não as pertence. Nesse sentido, com a presente dissertação objetivou-se desenvolver um estudo sobre a dimensão simbólica das relações entre gêneros na organização militar, focalizando o fenômeno da dominação masculina e da violência simbólica nesse espaço, particularmente no Exército Brasileiro, que somente admitiu as primeiras mulheres em 1992 para ocuparem cargos administrativos – o que prevalece até o momento. Por meio do método de estudo de caso em um Colégio Militar utilizando técnicas de observação não-participante e entrevistas, em conjunto com a praxeologia de Pierre Bourdieu, objetivou-se nesta pesquisa compreender a dialética entre estruturas sociais (campo militar) e estruturas mentais (habitus militar) que operam na (re)produção de posições naturalizadas (doxa) e na sua interiorização (violência simbólica) pelos membros da organização militar, em particular as mulheres, que são oprimidas pela herança patriarcal, que é reforçada pelas próprias características da organização militar, tais como: poder/distinção, hierarquia/disciplina e honra/tradição. Nesse sentido, pelos dados coletados na pesquisa de campo, verificou-se que, sob a ótica dos entrevistados, o Exército resiste à presença feminina nas atividades militares, particularmente em combate e sua resistência se manifesta através do poder simbólico. Esse poder invisível, quase mágico, capaz de obter o equivalente do que é obtido pela força, perpetuando as barreiras simbólicas que impedem a aceitação das mulheres como membros efetivos do universo militar.. 1. Orientador: Prof. Dr. Mozar José de Brito – UFLA. v.

(17) ABSTRACT ROSA, Alexandre Reis. Strong Arm, Friend Hand: a study on masculine domination and symbolic violence in the military organization. 2007. 355 p. Dissertation (Master Degree in Management) – Federal University of Lavras, Lavras, MG2. With the entrance of women in every segment of work, since the conquests of the feminist movement, it was inevitable that they occupied positions that originally belonged to the masculine universe, among them that of the soldier. However, the insertion of the feminine segment in this universe brought with it a series of issues still occult in gender relations within the military organization, generating a strong resistance from leaders, partners and subordinates concerning the presence of women in a place that, according to men, does not belong to them. In this sense, the present dissertation had the objective to develop a study about symbolic dimension within gender relations in the military organization focusing the enrolled masculine domination and symbolic violence in this place, particularly in the Brazilian Army that admitted the first military women in 1992 to occupy only administrative positions – which prevails up to the present. Through the case study method in the Military School with non-participant observation, and interviews, together with the praxeology of Pierre Bourdieu, the present research sought comprehending the dialectics between social structures (military field) and mental structures (military habitus) that operate in the (re)production of naturalized positions (doxa) and of its internalization (symbolic violence) by the members of the military organization, in particular the military women who are oppressed by a patriarchal inheritance that is strengthened by the characteristics of the military organization, such as: power/distinction, hierarchy/discipline, and honor/tradition. In this direction, the data collected in the field research disclose that, in the optics of the interviewed ones, the Army resists the feminine presence in military activities, particularly in combat, and this resistance is manifested through symbolic power. This invisible power, almost magical, allows getting the equivalent of what is obtained by force, perpetuating the symbolic barriers that hinder the acceptance of women as effective members of the military universe.. 2. Adviser: Mozar José de Brito – UFLA. vi.

(18) 1 INTRODUÇÃO. Ao acessar a página eletrônica do Exército Brasileiro na internet, o internauta tem a oportunidade de conhecer uma síntese das suas atividades por meio de dois links que representam o principal slogan da instituição: “Braço Forte, Mão Amiga”. Esse mesmo slogan pode ser encontrado também nos folders e cartazes que fazem parte de uma propaganda institucional, que busca divulgar a missão dessa organização secular oficialmente fundada em 1648 a partir da Batalha de Guararapes, que resultou na expulsão dos holandeses do território brasileiro. A primeira parte do slogan apresenta a dimensão política do “Braço Forte” nas operações de guerra em contexto doméstico ou internacional, ao passo que a dimensão social, da “Mão Amiga”, auxilia nas ações solidárias do governo em catástrofes, enchentes e mais recentemente no programa Fome Zero. Desse modo, essas partes anatômicas são representações biológicas das atividades sociais com as quais a instituição se ocupa. Assim, metaforicamente, a força do braço sustenta seu poder bélico, e a habilidade da mão, sua solidariedade. Sendo “o” braço um substantivo masculino e “a” mão um substantivo feminino, temos uma (co)incidência, que é nosso ponto de partida, a preciosa centelha deste trabalho: a noção de ações bélicas como algo masculino e de ações solidárias como algo feminino. Na prática, essa metáfora regula a divisão social do trabalho militar na medida em que o “Braço forte” é conduzido exclusivamente por homens e a “Mão amiga” também por mulheres. No senso comum, esses dois termos aparecem num sentido muito próximo ao que pontuamos quando, por exemplo, numa situação de confronto, o sujeito diz: “vamos resolver no braço”. Ou seja, por meio de um duelo que envolva necessariamente a luta corporal como recurso para solução do conflito. Por outro lado, quando estamos em alguma situação de dificuldade, esperamos. 1.

(19) que alguém “nos estenda a mão” como auxilio, para que possamos nos levantar de uma suposta queda. Assim, ambas aparecem como representações do papel social que essas duas partes anatômicas cumprem na dinâmica das práticas cotidianas mais diversas, estabelecendo, com isso, uma conexão “natural” entre o real e o simbólico inscrito nas partes. Em termos teóricos, a referida conexão entre anatomia humana e anatomia social nos leva ao problema da divisão sexual do trabalho, na medida em que a metáfora opera simbolicamente um duplo movimento de “biologização do social e socialização do biológico”, em que diferenças naturais (biológicas) se tornam diferenças sociais e regulam quem faz o quê na ordem militar, isto é, delimita o que seja trabalho de “homem” e de “mulher”. No limite dessa biologização do social, surge a questão transcendental da vida e da morte, pois sendo a mulher um ser capaz de dar à luz, resta ao homem a missão de preservar essa luz, apagando outras se for necessário. Desse modo, temos uma dádiva biológica de geração e preservação da vida, confirmada nas funções de mãe, em contraponto com as funções de pai (guerreiro e protetor). Ou seja, missões sexualmente distintas. Com efeito, emerge a imagem “natural” de que a aptidão da mulher para “dar a vida” implicaria forçosamente a sua inaptidão para “dar a morte”. Sob esse argumento (e não apenas esse) defende-se o não-emprego das mulheres em combate, até porque, dada a referida função reprodutora, a mulher apresenta-se como protagonista na preservação da espécie e na continuação da vida humana, esgotando-se aí a sua “missão militar”. Essa transformação de um argumento biológico numa decisão social (de não empregar o feminino nas guerras) implica uma ação condicionada por um pensamento ortodoxo que perpassa o domínio organizacional e orienta as práticas, em particular as que sejam o resultado da relação entre gêneros, na organização militar. Nesse sentido, cabe a pergunta: mas de que gênero estamos falando? Masculino ou feminino? Essa é uma questão que, a nosso ver, deve ser. 2.

(20) esclarecida desde já, para que não haja confusões acerca do que nos propomos a apresentar nos capítulos seguintes. Nos estudos sobre relações de gênero, há uma insistência pontual de se suprimir a palavra “relação” e assumir “gênero” como algo por si mesmo. E pior: toma-se “gênero” como sinônimo de “mulher”, deixando de lado o outro lado da relação: o homem. Assim, o que deveria ser um estudo sobre relações de gênero, torna-se um estudo sobre mulheres. Por conseguinte, resolvemos não seguir esse caminho. Pois entendemos, assim como Prestes Motta (2000), que não há uma separação estanque entre ser homem ou ser mulher; há sim, masculinidades e feminilidades, que se manifestam e se sobrepõem nas relações (agora sim, em seu sentido de interação humana) entre homens e mulheres. Por isso, o subtítulo do trabalho se refere a um estudo sobre dominação masculina na medida em que se trata de uma investigação acerca do domínio dessa ordem sobre a outra: a feminina. Tal domínio, sobretudo simbólico, tem sua origem na representação social de uma diferença natural disposta pelo sexo, conectando, inconscientemente, o mundo natural com o mundo social, tornando as disposições deste como algo dado, naturalizado. Entre essas ordens, masculina e feminina, haveria ainda de se considerar também as categorias híbridas, que abrigam características polimorfas em sua representação: a homossexualidade e transexualidade. Porém, essa última, por ser explícita (visualmente identificável), de forma alguma poderia existir no campo militar, em virtude de normas e regulamentos impeditivos. Já a homossexualidade, por ser uma categoria implícita, é uma realidade no campo militar (como em qualquer campo social), mas um tabu entre os militares. Desse modo, deixamos em suspenso essas categorias e nos concentramos nas duas primeiras, pois ambas são algo em pauta na instituição militar e têm sido alvo de discussões em diversas áreas do conhecimento, tais como, na antropologia,. 3.

(21) educação, filosofia, psicanálise, sociologia e nos estudos organizacionais – que abrigam esta dissertação em sua origem. Falando em organização, vale ressaltar que o Exército Brasileiro também tem sido alvo de estudos em diversas áreas do conhecimento. Muitos deles no âmbito da ciência política, alguns na história, poucos na sociologia e antropologia e quase nenhum no campo dos estudos organizacionais. Pois, segundo Leirner (1997a, p.12), “[...] coube à Ciência Política a quase totalidade das interpretações a respeito do que são, como são e qual o papel dos militares no Brasil”, tendência essa, decorrente do enquadramento teórico que o Exército recebe, sendo entendido como ator “político” para efeito de estudo. Assim, [...] ninguém procurou entender os militares [do Exército] apenas pela própria organização social militar, pelas suas características internas, específicas e exclusivas, a partir da constituição de um mundo próprio”. Nessa linha, segundo Castro (1990, p.13), existem poucos trabalhos acadêmicos que tratam a instituição militar como objeto legítimo de análise em si mesmo, pois “[...] a maioria desses trabalhos trata do papel dos militares na política brasileira, principalmente nos momentos de intervenções armadas”. Desse modo, seguindo a proposição de Janowitz (1971) da organização militar como um tipo de sistema social, abre-se também uma janela para o estudo do Exército como organização. Possuidora de objetivos, estratégias, relações de poder, gênero e cultura, perfeitamente passíveis de serem investigados sob o ponto de vista da análise organizacional, pois é neste campo de estudos que conduzimos nosso trabalho. Do ponto de vista histórico, a criação e consolidação da organização militar brasileira foi um empreendimento masculino devido à presença hegemônica dos homens nessa construção. Pensando em termos de Exército nacional, isso data de alguns séculos e, em termos mundiais, de alguns milênios. Assim, podemos considerar que há uma relação muito estreita entre o. 4.

(22) militarismo e masculinidade, pois, como afirma Dumézil, citado por Bourdieu (2005, p.77): “a tradição de todas as gerações mortas pesa excessivamente sobre o cérebro dos vivos”, preservando valores que atravessam os tempos e tendem a se refletir nos exércitos atuais. No entanto, a forma como esses valores masculinos se refletem na atualidade devem ser relativizados. Entendemos que essa característica masculina do ethos militar não é universal e puramente trans-histórica. Se assumíssemos o contrário, estaríamos caindo num tipo de essencialismo que fatalmente nos enquadraria numa meta-teorização de gênero – criticada, sobretudo, pelas correntes feministas pós-estruturalistas/pós-modernas. Por outro lado, não rejeitamos a existência de fatores estruturais que transcendem o indivíduo e reproduzem-se historicamente por meio de instituições sociais que, no caso particular da dominação masculina, vão muito além do nicho familiar e tendem a se reproduzir no Estado, na escola, na política e na organização militar, perpassando as esferas pública e privada. Em face do exposto, assumimos como pressuposto o fato de que a dominação masculina manifesta-se diferentemente, conforme um dado contexto específico e tende a ser maior no espaço organizacional militar, em virtude da sua estrutura historicamente construída por homens e para os homens. Um espaço privilegiado onde a masculinidade alcança seu ápice de representação por meio de jogos viris, que tendem a reforçar esse ethos. Em termos práticos, tratase de um espaço cujo imaginário social atribui a qualidade de ser um lugar onde meninos, ao tornarem-se soldados, tornam-se homens. Considerando o contexto apresentado, as mulheres, ao adentrarem esse espaço – como muitos outros espaços conquistados, outrora exclusivos dos homens, sobretudo a partir do movimento feminista – deparam-se com uma estrutura androcêntrica secularizada, cuja dinâmica contrasta com seu ethos feminino, forçando-as (sob o risco de serem excluídas) a assumirem e. 5.

(23) desenvolverem sua masculinidade transformando sua visão de mundo e uso do corpo num grau elevado o suficiente (ou insuficiente, na maioria das vezes) para que elas possam operar a transformação de estruturas sociais em estruturas mentais e, com isso, sejam reconhecidas como soldados3. Mas é justamente aí que reside a violência, sobretudo simbólica, pois ocorre de forma autorizada, sendo reconhecida como legítima. Afinal, foi delas a decisão de ser militar. De forma homóloga, a mulher é vista como um estrangeiro que deve aprender um novo idioma, uma nova forma de expressão verbal e corporal, assumindo o olhar do outro para que possa se movimentar no novo espaço. Todavia, assumir esse olhar não resulta necessariamente numa igualdade de tratamento e reconhecimento. Pois mesmo falando o idioma e se portando de forma similar, será sempre um estrangeiro (mulher). Ou seja, está incluída materialmente (porque usa a mesma farda, está sujeita ao mesmo regulamento e recebe a mesma remuneração), mas excluída simbolicamente (porque não participa dos jogos viris, não desfruta do mesmo prestígio, nem da mesma autoridade). Ademais, segue também a resistência dos nativos (homens) à sua presença. As conseqüências disso refletem-se nas relações de trabalho no cotidiano, cuja feminilidade está exposta às duas formas predominantes de segregação profissional: a vertical, que limita a ascensão delas ao topo da carreira e a horizontal, que restringe a ocupação de funções de prestigio, especialmente àquelas de comando. Por conseguinte, acreditamos tratar-se de um problema que envolve uma complexa dialética entre estruturas mentais e sociais que operam na 3 O termo “soldado” refere-se a todo profissional militar do Exército. Trata-se de uma denominação geral da profissão independente de postos (sargento, tenente, major etc.), tal como é a de “marinheiro” para os militares da Marinha, “aviador” para os da Força Aérea e “policial” para os integrantes das policias militares. É interessante notar desde já o efeito simbólico das patentes militares, isto é, mesmo existindo a possibilidade de flexibilização gramatical, são preservados em sua forma masculina. Assim, ao invés de dizer-se, por exemplo, Capitã Maria, diz-se Capitão Maria.. 6.

(24) (re)produção de uma assimetria de gêneros (a partir de agora sempre no plural!), colocando a ordem feminina sob o jugo da ordem masculina, gerando a dominação. Sendo assim, acreditamos que a teoria desenvolvida pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu e suas categorias teóricas (campo social, capital simbólico, habitus, doxa e violência simbólica4), inseridas no contexto do simbolismo organizacional, podem oferecer um quadro teórico-metodológico adequado para a compreensão dessa dinâmica dentro do que denominamos aqui de campo militar, cuja estrutura e relações sociais são estruturantes e estruturados pelo habitus militar que, a priori, consiste num conjunto de disposições permanentes formadas pela herança masculina, que molda a identidade da organização. Por outro lado, vale frisar que a utilização desse arcabouço teórico relacionado à dominação masculina pode não ser a opção mais adequada em outros campos sociais, tendo em vista a pluralidade com que as relações entre gêneros têm ocorrido no mundo social, chegando, por vezes, a inverter (como na área de estudos sobre gêneros, em que há uma hegemonia feminina) ou a extinguir (como na área de prestação de serviços, em que há um equilíbrio entre os gêneros) a lógica da dominação. Tanto a inversão, como o equilíbrio de gêneros, têm causado uma situação de “crise da masculinidade”, seja porque os próprios homens não conseguem se libertar da prisão que eles mesmos criaram ao longo da história, seja porque o avanço feminino em determinadas áreas corresponda a uma ameaça à própria masculinidade como sinônimo de dominação. Assim, acreditamos que a análise organizacional no campo militar, considerando-se a dominação masculina, só se aplica adequadamente em virtude do caráter inercial e conservador desse campo e por ele ser ainda um dos 4. Todos estes conceitos estão articulados no âmbito da sociologia dos sistemas simbólicos e serão tratados em detalhes e de forma contextualizada ao longo da dissertação.. 7.

(25) maiores refúgios da masculinidade e da resistência à mulher no mundo contemporâneo.. 1.1 Questões Considerando. as. condições. sócio-organizacionais. apresentadas,. formulamos as seguintes questões norteadoras da análise: 1) Qual a influência da estrutura organizacional na (re)produção das desigualdades de gêneros no campo militar? 2) Uma vez inserida(o)s nessa estrutura, como mulheres e homens interpretam a relação de gêneros no espaço organizacional? 3) Que ações essa(e)s agentes desenvolvem para subverter ou conservar a ordem simbólica masculina na organização militar?. 1.2 Objetivos A fim de responder às questões propostas, o objetivo geral é desenvolver um estudo sobre a dimensão simbólica das relações entre gêneros em um Colégio Militar do Exército Brasileiro, com base nas estruturas objetivas e subjetivas inscritas num espaço relativamente autônomo denominado aqui de campo militar, cuja dinâmica se reproduz nas organizações que nele se inserem. Com efeito, o objetivo geral se desdobra em quatro objetivos específicos, que visam a detalhar melhor a pesquisa, sendo eles: 1) Caracterizar a gênese e estrutura social do campo militar, com suas principais regras (doxa), relações de força e tipos de capital; 2) Investigar como a estrutura social do campo militar tem sido interiorizada e exteriorizada por homens e mulheres, transformando-se em disposições duráveis (habitus);. 8.

(26) 3) Identificar as especificidades do espaço organizacional analisado e sua influência nas formas de inculcação da ordem simbólica militar (violência simbólica), enfocando as repercussões desse fenômeno na (re)produção da dominação masculina; Além dos objetivos acima, com a presente pesquisa visa-se também cumprir um objetivo secundário, que é fornecer subsídios para que outras investigações empíricas sobre a dinâmica das relações entre gêneros no espaço organizacional militar sejam realizadas, bem como estudos sobre outros tipos de relações nesse mesmo espaço.. 1.3 Justificativas Se a teoria organizacional teve sua alavancagem com base nos estudos de Max Weber sobre burocracia, então podemos dizer que indiretamente teve sua origem na organização militar, uma vez que foi nessa seara que o teórico alemão buscou elementos para suas formulações, em particular no que tange à formalização, hierarquia e disciplina. Sendo essa última um exemplo de que “nenhuma prova especial é necessária para mostrar que a disciplina militar é o modelo ideal para a moderna fábrica capitalista” (Weber, 2002, p.183). Suas conseqüências aparecem nos trabalhos de Taylor, Fayol, Urwick e de muitos outros fundadores do campo da administração; assim, desenvolver uma análise organizacional do campo militar seria, de certa forma, um retorno à fonte. Como revisitar um lugar de origem e verificar o que ainda se preserva nesse lugar e principalmente: o que mudou ao longo do tempo. Todavia, não é a organização militar em si que justifica essa análise. Mas as relações sociais em seu interior, particularmente entre gêneros que, muito recentemente, começou ocorrer, pois somente no ano de 1992 o Exército Brasileiro resolveu admitir as primeiras mulheres em suas fileiras. Essa nova. 9.

(27) dinâmica de relações impõe um desafio ao analista organizacional: compreender a. organização. militar. como. um. espaço. relativamente. autônomo. e. particularmente complexo, cujas relações entre homens e mulheres produzem práticas vinculadas a uma dialética entre estruturas sociais e mentais que se reproduzem de forma diferenciada em cada estrutura organizacional. Nesse sentido e em termos mais específicos, as justificativas para o presente estudo contemplam três dimensões: 1) Acadêmica – na medida em que busca expandir os estudos sobre simbolismo e relações entre gêneros em organizações brasileiras; sobre campos sociais, fornecendo elementos iniciais para a caracterização do campo e habitus militar; e ainda, expande também os recursos teóricometodológicos para a análise organizacional com a utilização do modo de trabalho bourdieusiano5. 2) Gerencial – na medida em que desloca a análise organizacional para formas de organização social secularizadas, diferentes dos estudos tradicionais sobre empresas capitalistas de mercado, fornecendo subsídios sobre formas de gestão e relações de trabalho que podem ser interessantes para ampliar o olhar sobre as práticas gerenciais em outros. 5. Num levantamento sobre as apropriações de Pierre Bourdieu no campo da educação, Catani et al. (2001) apontam três modos de apropriá-lo nas pesquisas: A primeira, mais freqüente delas, é a (i) apropriação incidental, caracterizada por referências rápidas ao autor, em que ele aparece arrolado nas referências bibliográficas, mas não aparece mencionado no corpo do texto, ou é citado apenas de passagem, junto com outros autores, ou surge em notas não substantivas; a segunda forma é a (ii) apropriação conceitual tópica, caracterizada pela citação restrita do autor em que alguns de seus conceitos (campo, capital social, etc.) são mobilizadas, com maior ou menor intensidade, para reforçar argumentos ou resultados obtidos e desenvolvidos num quadro teórico que não necessariamente é o do autor; e finalmente a (iii) apropriação do modo de trabalho, constituindo-se em maneiras de apropriação reveladoras da utilização sistemática de noções e conceitos do autor, tais como campo, habitus etc., bem como mostram preocupação central com o modus operandi da teoria (construção do objeto, pensamento relacional, análise reflexiva, etc.). Nosso trabalho segue esta última forma de apropriação. 10.

(28) contextos organizacionais. Além disso, na área de gestão de pessoas, fornece informações que podem ajudar no planejamento de políticas de promoções e de descrições de cargos mais adequados às necessidades da organização e das mulheres militares; 3) Social – na medida em fornece subsídios teóricos para que as mulheres na organização militar entendam melhor as regras de funcionamento do campo e os tipos de lucros simbólicos mais disputados e, com isso, adotem estratégias mais eficazes de emancipação que venham a ampliar seu papel na organização militar.. 1.3 Estrutura da dissertação A presente dissertação está estruturada em seis capítulos, a saber: além desta introdução, que ocupa a primeira parte, segue o segundo capítulo, no qual é apresentado o esquema teórico-metodológico que serve de lente de análise para o estudo do fenômeno proposto. Nele constam os principais conceitos da sociologia. bourdieusiana,. bem. como. suas. conexões. com. a. análise. organizacional. Ainda neste capítulo, apresentamos os procedimentos de coleta e análise dos dados como uma extensão do quadro teórico-metodológico e, ainda, apresentamos como a pesquisa foi feita, detalhando os caminhos percorridos durante a análise. Trata-se, portanto, de um capítulo de apresentação que visa a fornecer ao leitor uma base referencial de toda discussão subseqüente. No terceiro capítulo, já iniciamos os resultados da pesquisa com uma descrição da gênese e estrutura do campo militar. Procuramos demonstrar que a formação desse campo social passou por um longo processo de estruturação, com vistas à profissionalização e à delimitação precisa de sua missão institucional junto ao governo brasileiro. Demonstramos também que sua estrutura é o resultado de uma simbiose entre a dimensão racional e simbólica da. 11.

(29) vida social uma vez que se trata de uma burocracia muito próxima ao tipo-ideal weberiano, mas com rico espaço de simbolismo, onde circulam diversos tipos de símbolos (físicos, verbais e comportamentais) que delineiam sua dinâmica. Além disso, consideramos que esse mesmo espaço possui algumas homologias com o campo religioso e burocrático, que nos ajudam a compreender melhor essa dinâmica. Nesse contexto, insere-se o colégio militar analisado que também é uma instituição de ensino cujas particularidades o colocam numa posição híbrida, por estar simultaneamente vinculado ao campo militar e ao campo escolar. No quarto capítulo, busca-se compreender como a estrutura descrita no capítulo anterior tem sido interiorizada pelos participantes do campo, transformando-se em disposições duráveis que servem de matriz geradora das práticas, delineando as facetas do que denominamos para efeito deste trabalho de habitus militar. Para tanto, apresentamos inicialmente uma breve discussão sobre socialização militar e seus tipos na organização militar brasileira. Em seguida, fazemos uma discussão sobre o espírito militar entendido aqui como um tipo de subjetividade militar, que se delineia a partir de eixos temáticos, que também são os principais componentes do habitus militar que se manifesta em sua dimensão moral por meio do ethos militar e corporal, por meio da héxis militar, que são descritos na última parte deste capítulo. O capitulo cinco traz uma articulação dos capítulos anteriores, com o intuito de discutir o fenômeno da dominação masculina e da violência simbólica na organização militar. Inicia com uma breve discussão sobre gêneros e suas interfaces com a sociedade e com as organizações. Nessa parte, destacamos a ênfase do estudo na masculinidade e no corpo como elementos-chave para a compreensão desta lógica da dominação simbólica. Em seguida, apresentamos uma breve digressão sobre a entrada da mulher no universo militar, desde a sua agregação nos exércitos medievais, até sua efetiva incorporação na. 12.

(30) modernidade. Nessa parte, delineamos as condicionantes que limitam sua efetiva participação nas atividades nobres da esfera militar, particularmente na área operacional, cujo acesso tem sido vedado ao segmento feminino por diversas razões, com destaque para a parte física e corporal. Em seguida, são discutidas, com base nos relatos coletados em campo, o que denominamos neste trabalho de desigualdades morais e corporais, cuja dinâmica caracteriza a presença feminina no espaço militar e, indiretamente, são o principal argumento para seu acesso em determinadas funções na organização. Na última parte do capítulo, apresentamos uma discussão sobre o caso estudado, explicitando a dinâmica das relações entre gêneros na organização militar. Encerramos com as considerações finais, recuperando os pontos principais discutidos nos texto e apresentando as implicações decorrentes desta pesquisa. Ainda nessa parte, segue também um tópico com aberturas para pesquisas futuras. Finalmente, antes mesmo de iniciarmos nossa discussão, torna-se importante uma ressalva: com esta pesquisa, não se busca explicar os fenômenos que estão sendo analisados, tampouco propor soluções para o problema. Tratase de uma investigação qualitativa com caráter descritivo e interpretativo. Ou seja, nossa idéia é “abrir a cortina” e apresentar aos leitores o que está por detrás dela, ou pelo menos o que julgamos estar. Na verdade, trata-se de uma leitura crítica de como a vida e as relações ocorrem dentro desse contexto específico e complexo: a organização militar. Assim, esperamos acrescentar mais alguns elementos nesse grande quebra-cabeça social, cujas peças estão cada vez mais fragmentadas aos olhos dos analistas, diluindo significativamente qualquer pretensão de explicá-lo in toto. Portanto, os capítulos que compõem esta dissertação são um esforço nessa direção e delineiam uma forma particular de enxergar o mundo das organizações. Alguns podem identificar um forte viés sociológico na nossa. 13.

(31) argumentação, talvez até mais do que a própria área de Administração, que abriga esta dissertação em sua origem. Esse caráter interdisciplinar, sem dúvida, é uma marca deste trabalho e também de boa parte dos trabalhos desenvolvidos hoje no campo dos estudos organizacionais. Evidentemente há sempre o risco de ser incompreendido – como há em qualquer forma de comunicação – pois, optar por esse diálogo entre tradições teóricas nos coloca na perigosa e desafiadora condição de ser administrador dublê de sociólogo.. 14.

(32) 2 SIMBOLISMOS, PODER SIMBÓLICO E ANÁLISE ORGANIZACIONAL. “Contra o positivismo, que pára perante os fenômenos e diz: ‘Há apenas fatos’, eu digo: Ao contrário, fatos é o que não há; há apenas interpretações.” Friederich Nietzsche. O esforço de superar a influência positivista nas ciências sociais remete ao trabalho de autores, como Max Weber, cujas pesquisas de cunho hermenêutico contribuíram para a formação da sociologia compreensiva e do que hoje conhecemos por paradigma interpretativo. Nos rastro da iniciativa weberiana, outras disciplinas também buscaram alternativas ao positivismo e engajaram-se numa forma de teorização que levasse em conta o contexto em que os grupos sociais se inseriam, bem como suas características intersubjetivas formadas a partir de uma realidade socialmente construída e culturalmente sustentada. Nesse movimento, como ressalta Reed (1996), o campo organizacional delineia um projeto próprio e, sob um enfoque multidisciplinar, pressupondo-se também outras formas de teorização que contraponham o mainstream representado pelo funcionalismo – paradigma dominante alinhado ao positivismo, que é visto como a “ciência normal” no âmbito dos estudos organizacionais. Segundo Marsden & Townley (1996), o primeiro esforço de teorização “contra-normal” surge com os antigos trabalhos de Silverman (1968; 1971), que demarcaram a veia interpretativa nos estudos sobre organizações. Anos mais tarde, no final dos anos 1970, Burrel e Morgan, inspirados no trabalho de Thomas Kuhn sobre paradigmas científicos, publicam, em 1979, o polêmico. 15.

(33) “Sociological Paradigms and Organizational Analysis” como forma de apresentar não apenas a alternativa interpretativa, mas também outros dois paradigmas: o humanista radical e o estruturalista radical. O efeito esperado pelos autores era o de uma “abertura da caixa de pandora” e, com isso, fornecer “[...] as condições para que alguns analistas organizacionais abraçassem outros quadros de referência, sem se preocuparem demais com a ortodoxia” (Burrel, 1996, p. 648). Todavia, o efeito colateral da proposta veio com a incomensurabilidade6, que impedia a livre-troca entre os paradigmas. A seqüência dos fatos é conhecida: no início da década de 1980, logo após a publicação do modelo de Burrel e Morgan, abriu-se um caloroso debate em torno da proposta. Funcionalistas rejeitavam as alternativas, ao passo que os críticos as celebravam. No entanto, o foco das discussões era a questão da incomensurabilidade, pois mesmo diante das críticas, permaneciam as restrições quanto à utilização combinada de paradigmas. Até que o próprio Morgan (1980) publicasse uma continuação do modelo, relacionando-o ao uso de metáforas como forma de se representar simbolicamente uma dada realidade e, por conseguinte, as escolas de pensamento subjacentes. Essa primeira abordagem das metáforas como recurso teórico foi aprofundado com a publicação do famoso livro “Images of Organization” em 1986, cujo objetivo era contrapor a suposta não-conversação paradigmática, permitindo uma livre compatibilidade entre as metáforas.. 6. Para os autores do modelo, o objetivo de isolar os paradigmas alternativos impedindo as chamadas “conversações” constituiu-se num esforço de salvaguardá-los de serem dominados pelo mainstream representado pelo funcionalismo e ao mesmo tempo possibilitar o desenvolvimento deles por meio de pesquisas referenciadas em seus pressupostos e teorias adjacentes (Burrel, 1996). Intensos debates têm ocorrido desde a sua publicação, resultando em propostas alternativas, tais como, multiparadigmas, interparadigmas e metaparadigmas. Um bom panorama destes debates pode ser acessado no trabalho de Lewis & Grimes (1999).. 16.

(34) À medida que apresenta o livro numa forma não técnica – acessível tanto para acadêmicos como para profissionais – e desenvolve implicações práticas das metáforas na análise organizacional com sua “visão binocular” da realidade7, Morgan (1986) faz uma dupla ruptura com seu trabalho anterior e fornece uma solução pragmática ao problema da incomensurabilidade. Evidentemente essa postura também foi sujeita à crítica, principalmente do seu ex-mestre e ex-parceiro do “sociological paradigms...”, que o acusou de promiscuidade paradigmática e de vender a falsa idéia de que tradições teóricas poderiam ser combinadas como produtos em prateleiras de supermercado. Ao levantar tais questões, Burrel (1996) confirma a ruptura com o antigo colega iniciada no final dos anos 1980, quando, com vistas a explorar as alternativas para seus incomensuráveis paradigmas, se engaja no pós-modernismo, publicando juntamente com Robert Cooper uma série de trabalhos8, que seriam uma nova vertente aberta no movimento “contra-normal” ou antipositivista inaugurado por Silverman nas décadas de 60-70. Seguindo sua linha de teorização, Morgan estende suas investigações sobre metáforas e paradigmas, alinhando esses resultados ao movimento do. 7. O uso de metáforas como recurso para análise organizacional, na perspectiva desenvolvida por Morgan (1986), parte do pressuposto de que “as organizações são muitas coisas ao mesmo tempo”, ou seja, elas podem assumir várias imagens que representam formas de “ler” a realidade organizacional. Ao combinar mais de uma imagem o analista adota a visão binocular que significa enxergar uma mesma realidade a partir de duas lentes combinadas. Para detalhes sobre metáforas e análise organizacional ver Alvesson (1993) e Morgan (1980; 1986; 1993). 8 Estes trabalhos compõem uma série de quatro artigos publicados no periódico Organization Studies sob o título de “Modernism, Postmodernism and Organizational Analysis”, cujo objetivo foi apresentar ao público da academia de administração os principais autores filiados à epistemologia pós-moderna. Estes trabalhos contribuíram também com a alavancagem do movimento dos Critical Management Studies que estava em vias de se consolidar no início dos anos 1990 em contexto anglo-saxão. Para acessar estes trabalhos ver Burrel (1988; 1994), Cooper (1989) e Cooper & Burrel (1988). 17.

(35) simbolismo organizacional. Em co-autoria com Pondy, Frost e Dandridge9, Morgan edita a coletânea de textos “Organizational Symbolism”, em 1983, demarcando, com isso, mais uma frente de trabalho no movimento “contranormal”. No artigo introdutório da coletânea, Morgan et al. (1983) ressaltam que a teoria organizacional tradicional estaria referenciada apenas nos aspectos formais e intencionalmente racionais da vida organizacional, relegando, com isso, todo universo de sistemas simbólicos formado pela linguagem, cultura, mitos, etc., que são responsáveis pela produção de significado nas mais variadas situações do cotidiano organizacional. Por sua vez, Chanlat (1992) ressalta que as formas simbólicas têm sido colocadas num plano marginal quando comparadas a outras perspectivas teóricas. A predominância de uma perspectiva estrutural-funcionalista, aliada à visão economicista e ao controle de inspiração taylorista e burocrático, tenderam a ocultá-las, tornando-as “esquecidas” na teoria e na prática administrativa. Um exemplo clássico de tal “esquecimento” aparece nas formas burocráticas de organização, ainda predominantes no mundo organizacional10 e reguladas por uma dinâmica baseada na padronização, na especialização das tarefas, na impessoalidade, linha-staff e disciplina que se traduz numa imagem de organização vista como “máquina” (Morgan, 1986). O “pano de fundo” desse modelo organizacional tem sido a racionalidade instrumental, criticada por Max Weber e exaltada pela escola clássica da administração11.. 9. Antes mesmo da publicação desta coletânea, Dandridge juntamente com Mitroff e Joyce publicam o primeiro artigo do gênero na Academy of Management Review em 1980. Neste texto, os autores apresentam os fundamentos básicos do simbolismo delimitando os tipos e as funções dos símbolos no espaço organizacional. 10 Não obstante a emergência de novas formas de organização e seu alinhamento com algumas abordagens pós-modernas de análise, o estudo realizado por Dallagnelo & Machado-da-Silva (2000), sobre a ruptura com o modelo burocrático, mostra que ainda há o predomínio desta forma organizacional. 11 Princípios como hierarquia, linha-staff, unidade de comando, amplitude do controle etc. caracterizam a base da teoria clássica defendida por autores como Fayol, Mooney, 18.

(36) Todavia, mesmo tendo a razão instrumental como “pano de fundo” – resultando num realismo que tende a suprimir o universo subjetivo dos signos, imagens, metáforas, mitos e alegorias que caracterizam a dimensão simbólica da vida humana (Durand, 1993) –, a organização burocrática também produz e consome símbolos como forma de representar o mundo que lhe confere significação e, principalmente, como forma de demarcar os limites da organização simbolicamente construídos. Ou seja, nesse caso, o simbólico expressa um conjunto de ideologias, imagens e valores que são ao mesmo tempo importantes para alguns e imperceptíveis para outros (Dandridge et al., 1980). O reconhecimento desses limites simbólicos ajuda a registrá-los na experiência de seus membros que, por meio de rituais que são repetidos e re-significados, identificam-se com a comunidade de significados existente dentro desse perímetro simbólico. Essa comunidade, por sua vez, simboliza o passado e, desse modo, produz classificações e identidades que formam a base para se compreender o presente (Turner, 1992). A manipulação dos aspectos simbólicos na organização, além de contribuírem para a formação de uma comunidade de significados, exerce um papel de controle. Nesse sentido, Wood Jr. (2000), ao apresentar o tipo-ideal de “organizações de simbolismo intensivo”, destaca, entre outras características do modelo, a ênfase dos gestores no gerenciamento da impressão e do significado, procurando construir imagens que possibilitem maior coesão organizacional. No entanto, a estratégia de orientação simbólica como forma de manutenção da integridade, comunidade e da coesão organizacional reflete uma dimensão consensual do simbolismo organizacional. Afinal, “os símbolos são os instrumentos por excelência da ‘integração social’ [...] eles tornam possível o consensus acerca do sentido do mundo social” (Bourdieu, 1989, p.10) e, Urwick e Taylor na primeira metade do século XX, mas que até hoje exercem sua influência. Para detalhes sobre a escola clássica, ver Morgan (1986, p. 19-38). 19.

(37) certamente, exercem forte influência na subjetividade dos seus integrantes. Esse processo constitui-se em um fator importante para se compreender o espaço organizacional, mas devemos observar que “[...] a cultura que une (intermediário de comunicação) é também a cultura que separa (instrumento de distinção)” (idem, p.11). Sendo assim, torna-se necessário abordar esse espaço simbólico também como um espaço de conflitos, onde os diversos atores distinguem-se pelos diferentes tipos de capital adquiridos em lutas por posições e por lucros simbólicos dentro do campo de poder nos quais se inserem e cuja dinâmica segue regras que são constitutivas desse espaço de jogo. Considerar a organização nesta perspectiva requer explorar a principal característica do simbolismo organizacional: a multidisciplinaridade. Pois, como mostram Pondy et al. (1983), assumir a dimensão simbólica como campo de pesquisas na área organizacional implica necessariamente uma abertura de diálogo com outras disciplinas, tais como, filosofia, antropologia, psicanálise e sociologia. Assim, o simbolismo organizacional se caracteriza – desde a sua gênese – como um campo de pesquisa cuja teorização seria o resultado do encontro de diversas correntes teóricas e, conseqüentemente, de diversos autores. Dentro dessa perspectiva, portanto, no presente capítulo tem-se por objetivo apresentar a lente de análise utilizada nesta pesquisa a partir de um diálogo com a sociologia dos sistemas simbólicos desenvolvida pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), cuja teorização parte da sistematização de outras correntes teóricas dispostas pela filosofia das formas simbólicas e pela sociologia clássica com ênfase na teoria do conflito e nas suas conseqüências para as relações de poder inseridas numa dada ordem simbólica de organização social. Justamente por transitar por essas correntes, a sociologia bourdieusiana apresenta-se como uma abordagem multiparadigmática, que busca superar algumas das principais dicotomias presentes na teorização tradicional. Sendo. 20.

(38) assim, a sociologia simbólica ajuda a revelar e compreender formas de dominação. inscritas. nas. práticas. sociais,. constituindo-se,. como. será. demonstrado ao longo do texto, num poderoso modelo analítico para pesquisadores que buscam uma abordagem crítica na área de estudos organizacionais. O capítulo está organizado em dois grandes blocos, a saber: após esta introdução, segue a parte teórica da abordagem delineada por uma discussão sobre a presença de Pierre Bourdieu nos estudos organizacionais; em seguida, são apresentados seus principais conceitos, bem como suas conseqüências para as relações entre gêneros – que será nosso foco de análise. Seguem também as limitações dessa abordagem apontadas pelo próprio autor e também pelos seus críticos. Na segunda parte, com vistas a viabilizar metodologicamente a seção anterior, segue uma discussão sobre o modo de trabalho bourdieusiano e suas aberturas para pesquisa organizacional. Ainda nessa parte, no capítulo verificouse como essa abordagem – combinada com outros métodos de pesquisa – foi utilizada na pesquisa empírica desta dissertação.. 2.1 Pierre Bourdieu e os Estudos Organizacionais: uma breve revisão Segundo o próprio Bourdieu (2005a, p. 40), para se “compreender [um autor] é [preciso] primeiro compreender o campo com o qual e contra o qual cada um se fez”. Assim, compreender as opções teóricas e políticas de Pierre Bourdieu implica compreender a dinâmica do campo acadêmico a partir dos anos 1950, quando ele ingressa na tradicional Escola Normal Superior e passa a conviver com figuras ilustres da filosofia francesa, cujas posições seriam duramente contestadas por ele que, de partida, já identificava que os agentes do campo compartilhavam um habitus diferente do seu. A altivez e o distanciamento do mundo social adotado pelos filósofos foi o grande estopim do. 21.

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