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Caracterização da língua portuguesa da segunda metade do século XIX na região da fronteira (Santana do Livramento/ Rivera)

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS. Veridiana Veleda Pereira. CARACTERIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX NA REGIÃO DA FRONTEIRA (SANTANA DO LIVRAMENTO/ RIVERA). Santa Maria, RS 2017.

(2) Veridiana Veleda Pereira. CARACTERIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX NA REGIÃO DA FRONTEIRA (SANTANA DO LIVRAMENTO/ RIVERA). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras, Área de concentração em Estudos Linguísticos, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção de grau de Mestre em Linguística. Evellyne Patrícia Figueiredo de Sousa Costa. Santa Maria, RS 2017.

(3) Veridiana Veleda Pereira. CARACTERIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX NA REGIÃO DA FRONTEIRA (SANTANA DO LIVRAMENTO/ RIVERA). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras, Área de concentração em Estudos Linguísticos, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção de grau de Mestre em Linguística. Santa Maria, RS 2017.

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(5) DEDICATÓRIA. Dedico este trabalho in memoriam a minha amada mãe que pôde comemorar comigo a conquista do ingresso no curso de mestrado e que, com certeza, foi meu anjo da guarda no momento da defesa..

(6) AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus que em todos os dias de minha vida me deu forças para nunca desistir, assim como me iluminou para pensar e concluir este trabalho. A querida orientadora Evellyne Patrícia Figueiredo de Sousa Costa pelo apoio e amizade, além de sua grande dedicação e comprometimento durante as orientações. Aos meus amados pais Carmen Glécia Martins Veleda e Vagner Costa Pereira por sempre me terem transmitido valores como honestidade, tolerância e principalmente perseverança. E por sempre apoiarem minhas escolhas e acreditarem em meu potencial mesmo quando eu mesma duvidava da possibilidade de ser vitoriosa. Aos meus irmãos Augusto, Andressa e Ane Luise que mesmo sem entender o valor da pesquisa linguística vibraram pela minha conquista desde o processo de seleção até a defesa da dissertação. Agradeço especialmente, aos meus tão solícitos e amados avós paternos Luiza Marlene e Alferi pelo carinho, apoio e compreensão durante todo o período de elaboração da dissertação, assim como por estarem sempre prontos para ouvirem minhas lamentações e “manhas”. Ainda no círculo familiar, agradeço também aos meus tios, tias, primos e primas, sobretudo, à tia Ana e ao tio Alexandre que sempre me acompanharam e torceram pelo meu sucesso. Gostaria de lembrar ainda o nome de dois funcionários públicos que garantiram a realização da coleta dos documentos no Museu David Canabarro na cidade de Santana do Livramento. Senhor José Nilton Canabarro Secretário da Cultura da cidade de Santana do Livramento (no ano da coleta do corpus da pesquisa) e a Senhora Ilza Ocanha Bica secretaria e atendente do Museu. Por fim, agradeço a todos amigos que, mesmo geograficamente distantes, torceram por mim, em particular à Ananda que desde a graduação dividiu comigo momentos de angústia e alegria, amiga com a qual pude compartilhar saberes e debater assuntos que contribuíram para meu crescimento profissional e pessoal. Enfim, muitas pessoas cruzaram meu caminho durante esses dois anos de trabalho, a memória é fraca e sei que posso ter deixado de citar algumas pessoas que contribuíram com meu trabalho. Resta-me agora torcer pela compreensão dos eventuais ausentes. Mas com a certeza de que ninguém vence sozinho! Muito obrigada a todos!.

(7) RESUMO. CARACTERIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX NA REGIÃO DA FRONTEIRA (SANTANA DO LIVRAMENTO/ RIVERA) AUTORA: Veridiana Veleda Pereira ORIENTADORA: Evellyne Patrícia Figueiredo De Sousa Costa. Este trabalho se propõe a investigar as características da língua portuguesa da segunda metade do século XIX, na região de fronteira entre Santana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai), a partir de um cotejo de documentos coletados no Museu David Canabarro na cidade de Santana do Livramento. Para realizar a pesquisa partimos da teoria da Sociolinguística Histórica e como o estudo baseado nessa perspectiva é recente, apresentamos algumas questões teóricas baseadas em autores como Vera do Prado Lima Albornoz(s/d) que aborda a história de formação da fronteira; Juan Camilo Conde Silvestre (2007) o qual aborda em seus estudos o surgimento e desenvolvimento da perspectiva da sociolinguística histórica; Rosa Virginia Matos e Silva (2008) a qual trabalha com a perspectiva da linguística histórica; Weinreich, Labov, Herzog (2006)que abordam a relação entre língua, sujeito e história e Dorotea Frank Kersch (2011) a qual estuda o contato linguístico na região de fronteira e línguas e identidades em contexto de fronteira. Os documentos foram inicialmente separados por gênero e como um dos objetivos iniciais é observar possíveis influencias da língua espanhola na língua portuguesa classificamos os documentos por critério de data, uma vez que em 1867 a cidade de Rivera é inaugurada em frente ao território de Santana do Livramento possibilitando o contato linguístico entre português e espanhol naquela região. A partir dessa classificação, foram analisados 37 documentos com um total de 112 fólios. Como grande parte dos documentos que compõem essa coleta é de caráter oficial fez-se necessário também abordar a importância de tal tipo documental e sua contribuição para um estudo linguístico através da perspectiva sócio histórica. Os documentos oficiais fac-similados foram editados em edição diplomática e analisados de acordo com o número de ocorrências de fenômenos fonológicos como: elisão, proclitização, enclitização, apagamento, alçamento, harmonia vocálica, abaixamento, hipersegmentação e hiposegmentação. Após esse levantamento de dados criamos uma linha que indica quais gêneros apresentam menor e maior incidência de formas que podem representar fenômenos fonológicos, constituindo uma gradiência quanto à permeabilidade do texto em relação aos fenômenos fonológicos. Por fim, não foram identificados fenômenos linguísticos que acusassem a influência da língua espanhola na língua portuguesa, uma vez que os documentos oficiais apresentam um modelo de escrita, muitas vezes pré-pronta, que não permite observar particularidades de influências de outra língua na escrita do escrevente. Palavras-chave: Sociolinguística histórica. Manuscritos. Documentos oficiais..

(8) ABSTRACT. CHARACTERIZATION OF THE PORTUGUESE LANGUAGE IN THE BORDER REGION IN THE SECOND HALF OF THE NINETEENTH CENTURY. AUTHOR: Veridiana Veleda Pereira ADVISOR: Evellyne Patrícia Figueiredo De Sousa Costa. The purpose of the following work is to investigate the characteristics of the Portuguese language in the second half of the nineteenth century, in the border region between Santana do Livramento (Brazil) and Rivera (Uruguay) based on a collation of documents collected from the David Canabarro museum in Santana do Livramento city. To carry out the research we start from the theory of Historical Sociolinguistics, and since the studies based on this perspective are recent, we present some theoretical questions based on authors just as Vera do Prado Lima Albornoz (s/d) who addresses the history of border formation; Juan Camilo Conde Silvestre (2007) who addresses in his studies the emergence and development of the Historical Sociolinguistics perspective; Rosa Virginia Matos e Silva (2008), who works with the perspective of historical linguistics; Weinreich, Labov, Herzog (2006) that address the relation between language, subject and History and Dorotea Frank Kersch (2011) who studies the linguistic contact in the border region and languages and identities in the border context.The documents were initially separated by genre, and since one of the initial objectives is to observe possible influences of the Spanish language in the Portuguese language we have classified the documents by date criteria, once that in 1867 Rivera city is inaugurated right in front of Santana do Livramento's territory, making possible the linguistic contact between Portuguese and Spanish in that region. Based on this classification, 37 documents with a total of 112 folios were analyzed. As big part of the documents that compose this collect are of official character it was made necessary to also address the importance of this kind of document and its contribution for a linguistic study through the social historical perspective. The facsimile official documents were edited in diplomatic edition and analyzed according to the number of occurrences of phonological phenomena just as:elision, proclisification, enclitisation, deletion, raise, vocalic harmony, subsidence, hypersegmentation and hyposegmentation. After this data survey we created a line that indicates which genres present less or more incidence of forms that can represent phonological phenomena constituting a gradient in the permeability of the text in relation to the phonological phenomena. Lastly, linguistic phenomena that accuse the influence of Spanish language on Portuguese language were not identified, since the official documents present a writing model, many times pre-ready, that does not allow to observe particularities of other language influences in the writing of the scribe. Key-words: Historical Sociolinguistics. Manuscripts. Official documents..

(9) LISTA DE QUADROS. Quadro 1 - Apresentação do corpus por gênero e número de fólios ........................ 31 Quadro 2 - Questões ortográficas ............................................................................ 32 Quadro 3 - Fenômenos Fonológicos – Admissão .................................................... 45 Quadro 4 - Fenômenos Fonológicos – Atestado ...................................................... 47 Quadro 5 - Fenômenos Fonológicos – Carta pessoal .............................................. 50 Quadro 6 - Fenômenos Fonológicos - Cartas patente ............................................ 53 Quadro 7 - Fenômenos Fonológicos – Extrato bancário .......................................... 55 Quadro 8 - Fenômenos Fonológicos - Intimação .................................................... 57 Quadro 9 - Fenômenos Fonológicos - Nomeação.................................................... 59 Quadro 10 - Fenômenos Fonológicos - Título de Eleitor ......................................... 61 Quadro 11 - Fenômenos Fonológicos - Ordem do dia ............................................. 81 Quadro 12 - Indice de escala variable correlación de conectores de relativo y tipos de texto em scots medio (basada em: Romaine 1982: 156) .......................................... 89 Quadro 13 - Relação percentual de ocorrências de fenômenos fonológicos de acordo com cada gênero....................................................................................................... 90.

(10) LISTA DE FIGURAS. Figura 1 - Carta pessoal ............................................................................................ 23 Figura 2 - Admissão .................................................................................................. 44 Figura 3 – Atestado ................................................................................................... 46 Figura 4 - Carta Pessoal ........................................................................................... 48 Figura 5 - Carta Patente ............................................................................................ 50 Figura 6 - Carta Patente ............................................................................................ 52 Figura 7 -Extrato bancário ......................................................................................... 54 Figura 8 - Intimação .................................................................................................. 56 Figura 9 – Nomeação ................................................................................................ 58 Figura 10 - Título de eleitor ....................................................................................... 60 Figura 11 - Ordem do dia .......................................................................................... 62 Figura 12 - Ordem do dia ......................................................................................... 64 Figura 13 - Ordem do dia .......................................................................................... 66 Figura 14 - Ordem do dia .......................................................................................... 68 Figura 15 - Ordem do dia .......................................................................................... 70 Figura 16 - Ordem do dia .......................................................................................... 72 Figura 17 - Ordem do dia .......................................................................................... 74 Figura 18 - Ordem do dia .......................................................................................... 76 Figura 19 - Ordem do dia .......................................................................................... 78 Figura 20 - Ordem do dia .......................................................................................... 80 Figura 21- Gradiência de ocorrência de fenômenos fonológicos de acordo com o gênero ....................................................................................................................... 91.

(11) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 2 FORMAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL: BREVE HISTÓRICO .......................... 13 3 A LÍNGUA NA FRONTEIRA BRASIL/ URUGUAI ................................................ 17 4 PRESSUPOSTOS TEÓRICO METODOLÓGICOS ............................................... 21 4.1 MOTIVAÇÕES ................................................................................................. 21 4.2 MANUSCRITOS ............................................................................................. 24 4.3 A PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA .......................................................... 33 4.4 PORTUGUÊS ANTIGO DO RIO GRANDE DO SUL: DOCUMENTOS DA FRONTEIRA .......................................................................................................... 38 4.5 DESCRIÇÃO DO CORPUS ............................................................................. 39 5 DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................................................... 43 5.1 HARMONIA VOCÁLICA................................................................................... 87 5.2 ALÇAMENTO SEM MOTIVAÇÃO APARENTE .............................................. 87 5.3 ABAIXAMENTO ............................................................................................... 87 5.4 PROCLITIZAÇÃO ............................................................................................ 88 5.5 ENCLITIZAÇÃO .............................................................................................. 88 5.6 ELISÃO ........................................................................................................... 88 5.7 HIPERSEGMENTAÇÃO ................................................................................. 89 5.8 MONOTONGAÇÃO ....................................................................................... 89 5.9 CORRELAÇÃO ENTRE FENÔMENOS FONOLÓGICOS E GÊNEROS TEXTUAIS ............................................................................................................. 89 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 95 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 97.

(12) 11. 1 INTRODUÇÃO. Este trabalho pretende caracterizar a língua portuguesa do século XIX na região da fronteira Brasil/Uruguai, com base no cotejo de documentos coletados no Museu David Canabarro na cidade de Santana do Livramento. Posteriormente os documentos devidamente organizados por gênero e editados serão doados ao projeto Português Histórico Do Rio Grande Do Sul (PHRS1). A gênese dessa reflexão a respeito da língua portuguesa na fronteira Brasil/Uruguai foi motivada a partir da transcrição de documentos coletados no Museu Paulo Firpo, na cidade de Dom Pedrito região da campanha do Rio Grande do Sul a aproximadamente 92km da cidade fronteiriça Santana do Livramento. A coleta de documentos foi promovida pelos bolsistas do projeto de pesquisa Banco de dados de textos escritos: Português Histórico do Rio Grande do Sul (PHRS) que pretende dar conta da implantação de um banco de dados de registros escritos representativos do português do Rio Grande do Sul. Durante a transcrição de um dos documentos encontramos a expressão “los homis” que sugere a influência da língua espanhola na língua portuguesa daquela região. Assim, acreditamos poder encontrar essa influência nos documentos coletados no museu da cidade de Santana do Livramento. Após a coleta foi feita uma categorização por gênero textual e após a categorização, foram selecionados os documentos datados a partir de 1867 data da criação oficial de Rivera, com 341 habitantes, em frete ao território de Santana do Livramento. O governo do Uruguai criou a povoação de Rivera na tentativa de impedir o avanço territorial brasileiro sobre as terras do norte uruguaio. Assim, esses documentos compreendem o início do contato linguístico entre brasileiros e uruguaios dividindo a mesma formação urbana. A partir da análise desses documentos oficiais, levantamos alguma hipótese a respeito da língua portuguesa na região de Santana do Livramento através dos fenômenos linguístico encontrados e, também, através do conteúdo dos documentos que pode apontar fenômenos socioculturais da época que influenciassem na língua. 1 O PHRS é um projeto de pesquisa que pretende dar conta da implantação de um banco de dados de registros escritos representativos da produção escrita do Rio Grande do Sul..

(13) 12. da região. Assim, foi feita, a partir da seleção e classificação dos documentos, uma análise linguística que busque comprovar estas hipóteses. Para desenvolver este estudo, serão importantes as contribuições teórico metodológicas de autores como: Vera do Prado Lima Albornoz (s/d) que aborda a história de formação da fronteira; Juan Camilo Conde Silvestre (2007) o qual aborda em seus estudos o surgimento e desenvolvimento da perspectiva da sociolinguística histórica; Rosa Virginia Matos e Silva (2008) a qual trabalha com a perspectiva da linguística histórica; Weinreich, Labov, Herzog (2006) que abordam a relação entre língua, sujeito e história e Dorotea Frank Kersch (2011) a qual estuda o contato linguístico na região de fronteira e línguas e identidades em contexto de fronteira. Este trabalho está organizado em seis capítulos: o primeiro trata da introdução do trabalho e da apresentação do tema, objetivos e motivação; o segundo capítulo versa sobre a formação das fronteiras do Rio Grande do Sul a partir de um breve histórico da formação do estado. O terceiro capítulo aborda as características da língua portuguesa na fronteira Santana do Livramento/Rivera. O quarto capítulo discorre sobre a metodologia de pesquisa apresentando a motivação para a escritura deste trabalho, a descrição do corpus, a escolha e descrição do método de transcrição dos documentos e as contribuições da perspectiva sócio-histórica. No quinto capítulo, é feita a análise e discussão dos dados levantados nos documentos oficiais e o texto se encaminha para o capítulo de considerações finais..

(14) 13. 2 FORMAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL: BREVE HISTÓRICO. Durante os séculos XV e XVI, Portugal e Espanha lançaram-se ao mar para descobrir uma nova rota para as Índias e, também, para conquistar novos territórios. Os espanhóis descobriram a América no ano de 1492 e, por sua vez, os portugueses, no ano de 1500, chegaram às terras brasileiras e iniciaram a colonização, sendo datado de 1530 o surgimento dos primeiros povoados estabelecidos na nova Colônia portuguesa. A partir do domínio dos territórios da América do Sul pelas Coroas Portuguesa e Espanhola, iniciou-se uma série de acordos entre estes países como, por exemplo, o Tratado de Tordesilhas (1494), o Tratado de Madri (1750) e o Tratado de Santo Ildefonso (1777), pela a definição dos limites territoriais pertencentes a cada país. Essa delimitação territorial atendia aos interesses políticos portugueses e espanhóis e nunca se considerou as consequências de tais mudanças para a população que já habitava o território colonizado. Como efeito dessas alterações dos limites territoriais, o extremo sul do país transformou-se numa zona de constantes disputas militares, guerras e arranjos diplomáticos. Assim, a história de ocupação e povoamento do Rio Grande do Sul caracteriza-se pela constante demarcação das fronteiras e confrontos militares. Pelo tratado de Tordesilhas de 1494, a linha que dividia o território entre as duas Coroas, portuguesa e espanhola, em sua extensão meridional, estendia-se até o território de Laguna, em Santa Catarina, de forma que o atual território rio-grandense pertencia ao domínio espanhol. No princípio, o território rio-grandense era ocupado por índios e assim como as demais regiões do Brasil era visto como terra de ninguém pelos colonizadores. Em 1626, chegaram ao Rio Grande do Sul os primeiros padres jesuítas (espanhóis) e fundaram na zona do Tape, a primeira Redução Jesuítica, conhecida como São Nícolas, onde reuniram-se inúmeras tribos guaranis. Em 1641, após o povo das reduções ser combatido por bandeirantes que queriam escravizar os indígenas catequizados, as Reduções foram abandonadas e os padres levaram consigo a maioria dos índios que sobreviveram. Cabe lembrar que, no ano de 1634, o padre Cristobal Mendoza introduziu, em grande escala, o gado vacum às estâncias junto às Reduções. Quando as expedições.

(15) 14. bandeirantes devastaram as Reduções, o gado tornou-se selvagem e bravio e seu acúmulo naquela região ficou conhecido como Vacaria do Mar. Essa informação é importante, visto que espanhóis e portugueses, ao descobrirem a Vacaria do Mar, passaram a abater os animais em busca de sebo e couro e também a levar grandes tropas para São Paulo, explorando, assim, o potencial econômico da região. Apenas em 1682, os padres jesuítas retornaram ao Rio Grande do Sul e, em 1687, fundaram os Sete Povos das Missões convertendo, catequizando e concentrando os índios guaranis em uma só região. Em 1750, assina-se entre Portugal e Espanha o Tratado de Madri, segundo Correa e Godoy (2013, p.3) O Tratado de Madrid significou um acordo entre as coroas ibéricas e consistiu, em linhas gerais, em reconhecer oficialmente os territórios já ocupados por ambas as partes. O tratado tinha por finalidade oficializar as margens fluviais, marítimas e terrestres, definindo os limites dos poderes das Coroas.. Dessa forma, definiu-se a entrega da região dos Sete Povos das Missões à Portugal em troca da região da Colônia do Santo Sacramento. Como resultado à recusa dos índios missioneiros em transmigrarem-se para o lado Uruguaio, porque não queriam abandonar suas igrejas, cemitérios e lavouras deflagrou-se a Guerra Guaranítica em 1754. Somente em 1756, após inúmeros massacres, chega ao fim a resistência do povo guarani. Somente em 1770 vem para o Rio Grande do Sul uma leva de casais de imigrantes açorianos motivados por ações governamentais portuguesas de incentivo ao povoamento das terras ao sul da colônia. Os imigrantes fixaram-se onde hoje fica Porto Alegre e deram o nome à região de Porto dos Casais. Os açorianos praticavam a agricultura e tinham uma economia voltada para a pecuária. Durante o século XVIII, as estâncias e fazendas eram de núcleo familiar e os homens serviam ao exército em épocas de guerra. Por localizarem-se, muitas vezes, além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas, empurravam, pouco a pouco, a fronteira com os espanhóis. Segundo Flores (2006, p.66), “no fim do século XVII existiam três vilas na capitania: N. Sra. Madre de Deus de Porto Alegre, sede do governo e com a única Câmara Municipal da capitania, S. Pedro de Rio Grande e N..

(16) 15. Sra. Do Rosário de Rio Pardo”. As demais povoações eram sedes de freguesias e algumas freguesias2 dividiam-se ainda em capelas3. A linha que delimitava a fronteira entre as terras portuguesas e espanholas seguia da bacia do rio Uruguai e passava pelos demais rios que desaguavam no Oceano Atlântico, segundo o tratado de Santo Idelfonso (1777). Ao longo dessa linha situava-se uma região denominada Campos Neutrais, lugar em que não poderiam se concentrar povoações, fortalezas ou guardas militares. Em 1804, o Tratado de Santo Idelfonso foi anulado e o limite territorial concentra-se às margens do rio Ibicuí, porém esse limite não é respeitado pelos brasileiros que constroem povoações até as margens do rio Quaraí. Quatro municípios foram criados na Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul a partir da Provisão de 27 de abril 1809 que determinava a criação de Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha. Sant’Ana do Livramento teve seu surgimento natural em 30 de setembro de 1810 a partir da chegada da 2ª divisão sob o comando do Marechal Joaquim Xavier Cuarado às margens do Ibirapuitã-Guaçú com 1900 soldados pouco depois chegaram 15 carretas com famílias para povoar e resguardar a região conquistada em 18014. A fundação oficial de Santana do Livramento ocorre em 09 de novembro de 1910 quando o Governador da Capitania de São Pedro D. Diogo de Sousa concede a instalação definitiva do acampamento naquela região e através de determinação de Lei Imperial, aprovada pelo Ministério da Guerra. Assim, a primeira colônia para povoar a região recebe o nome de Acampamento de São Diogo. O Acampamento São Diogo é elevado a Freguesia por Lei Provincial, número 156, em 7 de agosto de 1837.Nessa data, aparece pela primeira vez o nome de Santa Anna do Livramento. Em 10 de fevereiro de 1857, a Freguesia é elevada a Vila através da Lei número 351 sancionada por Jeronimo Francisco Coelho, Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Segundo Albornoz (s/d, p.11): 2Segundo. Moacir Flores (2006, p.66) “Freguesia ou Paróquia era a divisão administrativa do município que possuía um núcleo urbano com praça e Igreja Matriz, onde se registravam os casamentos, batizados e óbitos. Os moradores da freguesia eram denominados fregueses e estavam registrados por fogos (propriedades) para fins de pagamentos de impostos e recrutamento militar.” 3Segundo Moacir Flores (2006, p.66) “As capelas faziam parte do território de um município. Em torno dela surgiam os povoados, tendo o traçado urbano determinado pelos ângulos da praça em frente ao templo.” 4Informação contida nos manuscritos recolhidos no Museu Municipal David Canabarro de Sant’Ana do Livramento..

(17) 16. Em 1828, o Uruguai havia conquistado sua independência do Brasil, ajudado pela Argentina e Inglaterra. Sendo Montevidéu uma capital estrangeirada, os produtos europeus que eram comerciados no seu porto – tecidos, roupas, louças e arames – chegavam em carretas até Sant’Ana do Livramento e eram distribuídos para Itaqui, Rosário, Alegrete e São Gabriel. As carretas voltavam com erva, banha, feijão, milho e fumo, produtos agrícolas valorizados na capita uruguaia. Em 1841, Sant’Ana mantinha sua rota comercial com Montevidéu, incrementada pelo trafego de armas e mantimentos, em troca de couros e tropas. Foi o grande porto (seco) dos farroupilhas.. A Villa de Ceballos que deu origem a atual cidade de Rivera, por sua vez, foi criada em 7 de maio de 1862, com o intuito de frear a ocupação brasileira no norte do território uruguaio, que já ocupava a margem do rio Ibirapuitã com um povoamento conhecido como “Acampamento de São Diego” que posteriormente tornar-se-ia a atual Santana do Livramento, formado por militares brasileiros. Segundo Albornoz (s/d) a Vila de Ceballos foi criada também como “uma tentativa de retomar o tráfico de mercadorias através das carretas para Montevidéu”..

(18) 17. 3 A LÍNGUA NA FRONTEIRA BRASIL/ URUGUAI. A tendência dos colonizadores em termos de dominação, é impor a sua religião aos nativos da colônia e estabelecer em todo o território uma língua, a língua do colonizador, extinguindo as demais línguas locais. No século XVIII, no Brasil vários moradores da colônia utilizavam a língua geral para se comunicar. Segundo Garcia (2007, p.26): No século XVIII, no entanto, além das populações indígenas, vários outros segmentos sociais não utilizavam o português para se comunicar, mas sim a língua geral, falada por moradores de várias regiões da Colônia. Esta situação levou a Coroa a buscar meios de impor o português nos seus domínios americanos. Além dos idiomas indígenas, nesta época também vigoravam línguas africanas, amplamente usadas pelos escravos e seus descendentes. Apesar de não terem sido tão intensamente utilizadas como as línguas gerais indígenas e, tampouco, objeto de uma política específica de extinção neste período, as línguas africanas também significavam entraves ao projeto de exclusividade do português.. Em Portugal, o Marquês de Pombal implementou mudanças sociais e econômicas na Colônia, baniu a Companhia de Jesus e determinou que a única língua que poderia ser falada no Brasil seria o português abolindo a língua geral. Segundo Garcia (2007, p.24): Em meados do século XVIII, o ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, elaborou uma série de medidas visando integrar as populações indígenas da América à sociedade colonial portuguesa. Estas medidas foram sistematizadas no Diretório que se deve observar nas povoações dos índios do Pará e do Maranhão enquanto sua majestade não mandar o contrário, publicado em 3 de maio de 1757 e transformado em lei por meio do alvará de 17 de agosto de 1758.. Assim como o português foi imposto ao território colonizado por Portugal o castelhano foi imposto ao território colonizado pela Espanha. “Após a expulsão dos jesuítas, em 1767, a política linguística da Coroa espanhola mudou de direção, passando a prever a obrigatoriedade da língua espanhola em seu Império. Para os Trinta Povos do Paraguai, foram estabelecidas medidas similares às adotadas por Pombal, que tiveram como modelo o Diretório dos Índios.” (Garcia, 2007,p.33) No caso de muitas colônias, mesmo após conquistarem a sua independência, a língua admitida era a língua do colonizador..

(19) 18. Segundo Dos Santos (2008, p.24): O contato lingüístico entre o Português Brasileiro (PB) e o Espanhol Uruguaio (EU) em Livramento - Rivera é decorrente de lutas de domínio de território e conflitos militares, conforme já vimos anteriormente. O norte do Uruguai foi ocupado durante muito tempo por portugueses e, depois, por brasileiros. Isso explica o fato de haver um maior domínio do português pelos uruguaios do que o contrário. Assim como há uruguaios falantes de português, o que comprovaria uma situação de bilingüismo, também há falantes de uma mistura das duas línguas. Essa mistura é o que muitos chamam de portuñol ou Dialeto do Português no Uruguai (DPU), caracterizado por um panorama lingüístico heterogêneo.. Percebe-se assim que essa região de fronteira entre Brasil e Uruguai, ora pertencia à Espanha ora à Portugal, e depois de definida, tal qual é hoje, a fronteira entre Rivera e Santana do Livramento apresenta de fato uma língua oficial5 para cada país, mas são línguas que coexistem em um mesmo território e deste contato podese observar alguns fenômenos linguísticos recorrentes na fala contemporânea. Lipski (2011, p.358) aponta: Os padrões fonotáticos fundamentais são os do dialeto do Rio Grande do Sul, em particular o emprego do pronome tu e as formas verbais correspondentes, a ausência da palatalização de /t/ e /d/ em frente de [i], o emprego da vibrante múltipla [r] em vez da fricativa velar [x] em representações de - rr - e muitos plurais “nus”, isto é, com a marca do plural [s] só ao final do primeiro elemento, geralmente em determinante [...].. Hoje Santana do Livramento e Rivera compartilham de um mesmo território urbano, separados apenas por uma rua, a divisa se dá por uma linha imaginária, ou seja, aparentemente não há delimitação da fronteira. No centro das cidades, encontramos a Praça Internacional dividida igualmente entre os municípios. Em seu centro, foi construído um obelisco e à+ esquerda e à direita do monumento, foram postas respectivamente as bandeiras do Brasil e do Uruguai. Segundo Sturza (2005, p.48): Este espaço desterritorializado é o que coloca as nossas línguas da fronteira em situação de contato. Com o status de línguas oficiais e predominantes, o português e o espanhol na América se colocam lado a lado ao longo das fronteiras geográficas que compartilham. Porém, do ponto de vista da situação étnica, os grupos de convívio e seus contatos lingüísticos, em diferentes regiões fronteiriças do Brasil com os demais países da América do Sul, contribuem para a constituição de um panorama lingüístico. 5. Entende-se língua oficial a partir do conceito estabelecido pela constituição brasileira. O art. 13 da Constituição determina: “A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil”..

(20) 19. heterogêneo, muito aquém do que representa a dualidade portuguêsespanhol no seu estatuto de línguas majoritárias.. Nessa região, é possível observar uma variação linguística que se deu devido à coexistência das línguas portuguesa e espanhola no mesmo território. A influência da língua espanhola sobre a língua portuguesa e vice-versa é “conhecida popularmente como ‘portunhol’ e entre linguistas como dialetos ‘fronteiriços’” (LIPSKI, 2011, p.357). Essa variação, segundo pesquisas, contemporaneamente não é prestigiada, pois cada sujeito faz uso da sua língua nacional, principalmente na escrita em que se deve apresentar maior domínio das convenções gramaticais. Segundo Lipski (2011, p.358): Os brasileiros só falam português e, a maioria dos uruguaios emprega variedades mistas, que falam com espontaneidade e fluência. [...] na fronteira uruguaia os residentes aprendem os dialetos fronteiriçoS como língua nativa e falam estas variedades livremente com os compatriotas uruguaios nos registros coloquiais.. Observa-se que a coexistência de dois idiomas em um único território tem atraído a atenção dos estudiosos da linguagem. Segundo Lopez (2011, p.2): Essa região, de divisa dos dois municípios, tem sido caracterizada como um território peculiar, cultural e linguisticamente híbrido, na qual não há nenhum tipo de separação concreta, obstáculo geográfico ou alfandegário, que impeça o acesso da população de uma cidade à outra. Santana do Livramento e Rivera são separadas e ligadas por uma rua e pela “Praça Internacional”. Entre as duas cidades, Santana do Livramento e Rivera, a mistura e integração se dão não somente na geografia, na história e nos costumes, mas também nas famílias, pois muitos desfrutam de dupla cidadania; no comércio, que faz uso tanto do peso como do real; e nas empresas de ambas as cidades, já que muitos trabalham no outro país.. Os principais estudos desenvolvidos na região da fronteira Brasil/ Uruguai são voltados para dois temas principais: o ensino de língua, tanto a materna quanto a estrangeira nessas regiões, e o desenvolvimento sociocultural dos habitantes, devido às características híbridas da linguagem e, principalmente, pelo fato de não haver nesse local uma separação através de uma barreira geográfica que permite o livre contato entre as línguas e culturas portuguesa (brasileira) e espanhola. O estudo da influência da língua espanhola no português do século XIX é um estudo que contribuirá com a pesquisa para o ensino de língua na região da fronteira,.

(21) 20. apresentando o aspecto histórico das línguas coexistentes na região, bem como para a mudança linguística ao observar estágios anteriores da língua portuguesa..

(22) 21. 4 PRESSUPOSTOS TEÓRICO METODOLÓGICOS. 4.1 MOTIVAÇÕES. O projeto de pesquisa Banco de dados de textos escritos: Português Histórico do Rio Grande do Sul (PHRS) implementado no ano de 2011, sob coordenação da professora Evellyne Patricia Figueiredo De Sousa Costa, tem por objetivo instalar um banco de dados de texto escrito característico do Rio Grande do Sul, visando não só disponibilizar dados diacrônicos para a comunidade acadêmica, mas também promover o resgate da história e memória cultural do estado. Em seu ano de inauguração, alguns graduandos em Letras da Universidade Federal de Santa Maria participaram do projeto como voluntários. Recém iniciado, o PHRS ocupava-se com a transcrição diplomática de cartas coletadas em museus e arquivos de Porto Alegre e do estudo teórico metodológico sobre o tratamento dos manuscritos, tipos de transcrições e possíveis análises linguísticas que contribuíssem para a formação dos voluntários do projeto. No ano de 2012, o projeto PHRS expandiu-se em termos de coleta e buscou documentos no Museu Paulo Firpo, na cidade de Dom Pedrito região da campanha rio-grandense. A partir dos trabalhos de coleta e transcrição de documentos na Iniciação Científica, desenhamos o projeto de mestrado que compreendesse a região de fronteira entre Santana do Livramento/ Rivera, caracterizando a língua portuguesa dessa época e buscando possíveis indícios de processos fonológicos. Na época, os estudantes já instruídos sobre a forma correta de se manusear os documentos antigos, fizeram a coleta de fac-símiles através de fotografia digital. Foram fac-similados mais de quinhentos fólios dos mais diversos gêneros. Durante a transcrição diplomática de um dos fólios com o objetivo de preparar um trabalho de graduação sobre os diacríticos em cartas do século XIX, observamos a expressão “los homis” (l.16) que apontava para a influência da língua espanhola na língua portuguesa daquele escrevente e possivelmente de alguns habitantes daquela região. É importante lembrar que a cidade de Dom Pedrito localiza-se na região da campanha, mas está a 92km de Santana do Livramento e, durante o século XIX, os seus campos receberam inúmeras batalhas entre forças brasileiras e uruguaias na.

(23) 22. disputa pelo território. Dessa forma, existia o contato entre as línguas portuguesa e espanhola, o que possibilitava a influência de uma língua sobre a outra. A partir desse exemplo, surgiu a hipótese de que poderia haver tal influência em documentos pertencentes à cidade de Santana do Livramento que faz divisa com a cidade uruguaia de Rivera. Nessa região, devido à necessidade de delimitar as fronteiras (na segunda metade do século XIX) foi criada a cidade de Rivera em frente ao território de Santana do Livramento permitindo que os cidadãos de ambos os lados convivessem. A seguir, disponibilizamos a edição fac-similar e diplomática da carta..

(24) 23. Local: Dom Pedrito Data: 21 de julho de 1818 Fonte: Museu Paulo Firpo Tipo: Carta Pessoal. Figura 1 - Carta pessoal.

(25) 24. 1. Meu Pay eSr. Rbi. de (11) de Julho, emto. estimo [+...] ja seachar bem da molestia q´. padecia e [+..] [+.....] Continuar com boa saude por. 5. m.tos annos. Logo q´. vma seache detodo com valecido mto dezo vma [+.....][+.....] ca hia chega da enq.to ao cuid.o das fazd.as pode vma estar descançado. Plantarãose 17% de alg. de trigo enão se plantou mais p.r não haver (este). 10 m.mo comprei emto [+...] enão quis comprar mais Pr. [+.....] perderse assim como ter a contuido os mais [+..] Logo q. haja [+..] escreverei ao Bento fazendo vir aq. vma [+.....]mereço15 menda apezar de q. Joze Soaris [+...] desta me dis [+.......] com los homis atacar a Copm, [+..........], as cartas p.a o Boaventura logo as fis seguir. Nada mais digo p.a q~ [+.....] esta com qnta preca. Dez.o asua boa 20 saude eq~. Ds. N. Sr. aje como lhedezo este q.~ he Devma Fo. Obed.e Julho (21) de 1818. Joaõ. 4.2 MANUSCRITOS. Presume-se que os textos escritos são, geralmente, mais formais do que os textos orais, porém como não há uma forma de recuperar a oralidade representativa do século XIX, escolheu-se trabalhar com os manuscritos da época. A partir desses documentos buscou-se refletir sobre a variação e mudança linguística na região da fronteira entre Brasil/Uruguai, buscando compreender melhor os fenômenos.

(26) 25. linguísticos recorrentes nos manuscritos os quais caracterizam a língua portuguesa no século XIX na região da fronteira. Os documentos que formam o corpus deste trabalho foram recolhidos no museu David Canabarro da cidade de Santana do Livramento e, devido à forte presença militar na região, fato que deu origem à cidade, encontraram-se muitos documentos públicos. Na busca por traços de informalidade, que poderiam apontar para um maior ou menor prestígio quanto ao uso da variante portuguesa que sofria alguma influência da língua espanhola, seria mais apropriado buscar exemplos desse aspecto em cartas do tipo pessoais, uma vez que nesse gênero o remetente, geralmente, dá maior importância para o conteúdo a ser informado e não a fatores gramaticais que determinam a forma do documento. Porém, decidimos trabalhar com documentos públicos, uma vez que há maior facilidade em se encontrar esse tipo de documento nos arquivos e a nossa experiência em coleta, transcrição e análise durante a iniciação científica gira em torno de documentos oficiais. Embora seja uma trajetória de maior complexidade devido à formalidade presente na escrita dos documentos, escolhemos fazer uma busca minuciosa para caracterizar a língua escrita no século XIX na região da fronteira Brasil/Uruguai e, se possível, apontar indícios da influência da língua espanhola na língua portuguesa. Assim, com o objetivo de identificar se o uso de expressões que sofreu alguma influência da língua espanhola aponta para um maior ou menor grau de prestígio social atribuído aos usuários dessa variedade, foi necessário estabelecer alguns critérios de avaliação. Ao escolher como corpus de pesquisa documentos públicos e cartas, pode-se observar características que apontam para um maior ou menor grau de formalidade escrita. Uma das formas de se avaliar este grau de formalidade em cartas de épocas passadas é observar elementos como saudações, assunto, despedida e a relação remetente-destinatário. Segundo Berlinck, R.A.; Barbosa, J.B; Marine, T.C. (2008): [...] na carta podemos encontrar diferentes graus de formalidade, que podem variar do mais formal ao informal (ou até mesmo pessoal) dependendo da situação (contexto) em que se encontra o emissor, e, principalmente, de quem será o seu destinatário. Essa característica peculiar possibilita que o sociolingüista realize pesquisas que levem em conta o grau de formalidade ou estilo [...] (pag. 172). E acrescentam:.

(27) 26. [...] nas cartas, a presença de um determinado destinatário condiciona o momento da sua produção. Quando aquele que escreve escolhe aquele para quem escreve, ele, consequentemente, modula o seu discurso de acordo com essa escolha. Nesse sentido, uma das estratégias que pode nos auxiliar na percepção do grau de formalidade nas cartas é, por exemplo, o estudo dos pronomes e expressões de tratamento. As expressões de tratamento exprimem o grau de distanciamento e a subordinação em que uma pessoa voluntariamente se põe em relação a outra, a fim de agradá-la e ensejar um bom relacionamento. (p.175). Por sua vez, nos documentos públicos, poderia ser observado o contexto de escritura, ou seja, quais as opções lexicais eram feitas para atender às características do gênero selecionado. De fato, é bastante difícil definir o que é formal ou informal para a escrita do século XIX, porém observar tais fatores tipológicos nos documentos permitirá a caracterização desse estágio de língua na fronteira Brasil/Uruguai. Fator tão importante quanto à seleção dos manuscritos para compor o corpus de pesquisa é o tipo de edição escolhida para a transcrição dos documentos. A edição dos documentos é de suma importância uma vez que ela garante a preservação de seu conteúdo, pois muitas vezes os documentos se degradam parcial ou integralmente devido a seu mau arquivamento. Outro fator importante em relação à preservação através da edição é a acessibilidade pelos pesquisadores das mais diversas áreas de conhecimento, assim como a acessibilidade do público, uma vez que esses documentos, por pertencerem a uma instituição pública, compõem o patrimônio cultural brasileiro. Assim, foi de suma importância os conceitos de Cambraia (2005) que divide os tipos de edição em “monotestemunhais (baseadas em apenas um testemunho de um texto) e as edições politestemunhais (baseadas no confronto de dois ou mais testemunhos de um mesmo texto)” (CAMBRAIA, 2005, p.91). Os documentos que compõem a pesquisa aqui proposta adequam-se às edições do tipo monotestemunhais que se subdividem em outros quatro tipos “[...] com base no grau de mediação realizada pelo crítico textual na fixação da forma do texto, são elas: fac-similar, diplomática, paleográfica e interpretativa” (CAMBRAIA, 2005, p.91). A escolha do subtipo de edição foi feita com bastante cuidado, pois cada tipo apresenta características próprias e distintas entre si. A edição fac-similar caracteriza-se por ser uma reprodução fiel do manuscrito original “neste tipo, apenas se reproduz a imagem de um testemunho através de meios mecânicos, como fotografia, xerografia, escanerização, etc.” (CAMBRAIA, 2005,.

(28) 27. p.91). Esse tipo de edição tem a vantagem de manter as características originais do documento e a desvantagem de poder ser lida, geralmente, por especialistas, uma vez que quanto mais antigo o manuscrito for maior conhecimento linguístico deve ter o leitor. A edição fac-similar é um dos suportes utilizados para a preservação de documentos de origem lusófona salvaguardados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Entre os documentos lusos fac-similados, encontram-se: o Cancioneiro da Ajuda (1994), as Cantigas de Santa Maria, de Afonso X (1979), Gramática da Linguagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira (1988), Os Lusíadas, de Camões (1982) entre outros documentos históricos e literários. A edição diplomática é aquela na qual “faz-se uma transcrição rigorosamente conservadora de todos os elementos presentes no modelo, tais como sinais abreviativos, sinais de pontuação, paragrafação, translineação, separação vocabular, etc.” (CAMBRAIA, 2005, p.93), neste caso, o texto transcrito apresenta translineação igual ao documento original e o parágrafo é numerado a cada cinco linhas. A edição diplomática é vantajosa, pois facilita a leitura ao fazer uma decodificação gráfica do documento original, porém não dispensa uma leitura especializada, uma vez que mantém os sinais abreviativos e o vocabulário característico do período em que o documento foi escrito. Este tipo de edição, no passado, tinha uma função bastante importante de permitir ao pesquisador que trabalhava com diversos testemunhos o contato com o modelo, pois o documento original permanecia nas mais diversas bibliotecas para sua preservação. Hoje, com o surgimento da edição fac-similar através dos diversos aparelhos tecnológicos que permitem a captura da imagem original do documento, a edição diplomática é importante para a construção de bancos de dados, auxiliando a leitura dos manuscritos e permitindo um estudo sobre aspectos da língua escrita e suas características históricas, sociais e gráficas. A edição paleográfica, por sua vez, preserva a maior parte das características do texto, porém desenvolve as abreviaturas e estabelece, quando não existem, os limites entre as palavras “no processo de reprodução do modelo, realizam-se modificações para o tornar mais apreensível por um público que não seria capaz de decodificar certas características originais” (CAMBRAIA, 2005, p.95). Esse tipo de edição é muito útil para textos literários, alguns editores americanos aplicaram essa edição para textos medievais portugueses como, por exemplo, Regra de São Bento, por Burman (1911), Diálogo do Barlaão e Josafá, por Abraham (1938) e o Livro de.

(29) 28. José de Arimatéia, por Carter (1967). No Brasil, esse tipo de edição pode ser observada na edição de cartas baianas do século XVIII por Tania Lobo (2001). E, por fim, a edição interpretativa desenvolve as abreviaturas, apresenta a interpretação de trechos de difícil leitura e padroniza a grafia dos textos, sendo, dessa forma, a edição menos fiel ao documento original “neste tipo de edição, a uniformização é essencialmente gráfica: não se uniformizam variantes fonológicas, morfológicas, sintáticas e lexicais”. (CAMBRAIA, 2005, p.97). Esse tipo de edição é muito usado para impressões de edições atualizadas e didáticas, assim como a Carta de Pero Vaz de Caminha. Como se pretende caracterizar a língua portuguesa da segunda metade do século XIX na região de fronteira entre Santana do Livramento/ Rivera, optamos pela edição fac-similar para a preservação dos documentos, uma vez que esses pertencem ao museu e não poderiam ser removidos de lá, e para a preparação do texto, em termos de transcrição para posterior análise, optamos pela edição diplomática que preserva o texto original. A edição diplomática caracteriza-se segundo Cambraia (2005) por: a) Reproduzir os caracteres alfabéticos, mantendo a diferença de módulo. b) Transcrever-se fielmente os sinais abreviativos, sinais de pontuação, diacríticos, separação vocabular (intra- e interlinear) e paragrafação. c) Transcrever-se entre parênteses caracteres de leitura duvidosa. d) Transcrever-se com pontos (um ponto para cada possível caractere não legível) dentro de colchetes precedidos de uma cruz (†). e) Transcrever-se com tachados caracteres que estejam riscados. f) Informar-se em nota caracteres modificados, apagados, nas entrelinhas e nas margens. Assim como, mudança de punho, mudança de tinta e qualquer outra particularidade. g) Não realizar supressões conjecturais ou inserções conjecturais. h) Informa-se na margem de cabeça, em itálico e entre colchetes mudança de fólio, face e coluna. i) Fazer-se a numeração das linhas de forma contínua ao longo do texto, inserindo numeração na margem externa a cada 5 linhas. Em relação ao item “d”, que trata das palavras ilegíveis, fizemos uma alteração para fins de melhorar a leitura e contagem dos caracteres ilegíveis, substituindo o ponto (.) que representaria a letra indecifrável por uma cruz (†). Com as edições fac-.

(30) 29. similares e diplomáticas realizadas, deu-se início ao levantamento de formas que caracterizassem a língua portuguesa escrita do século XIX No segundo semestre de 2016, foram coletados através de fotografia (edição fac-similar) 411 fólios dos manuscritos arquivados no Museu David Canabarro, na cidade de Santana do Livramento. Por ser uma instituição de caráter cultural, o Museu tem por objetivo salvaguardar os bens culturais materiais e imateriais que compõem seu acervo, porém, assim como em outros museus do Rio Grande do Sul, no Museu David Canabarro, essa tarefa é dificultada por vários fatores. Roncaglio, Szvarça e Bojanoski (2004, p. 9) reforçam que: [...] a organização adequada dos acervos é uma condição prévia indispensável para a sua preservação. Ou seja, não é possível dissociar a aplicação dos procedimentos de preservação dos princípios de organização e de acesso. Não faz absolutamente nenhum sentido adotar medidas extremas de preservação que resultem no total isolamento de um documento. E tampouco pode-se disponibilizar um documento de tal forma que resulte na sua rápida destruição.. Assim, a organização do arquivo contribuiria para a preservação dos documentos estendendo sua vida física, uma vez que os fatores ambientais como calor, luz e umidade degradam diretamente a celulose dos manuscritos. O prédio demasiadamente antigo do museu David Canabarro apresenta infiltrações que, durante dias chuvosos, umedecem todas as salas. As janelas sem proteção adequada permitem a incidência de luz solar na sala reservada para o arquivo documental. Esse cenário não só retrata as péssimas condições em que se encontra o museu, como também justifica o aparecimento de fatores biológicos como fungos e insetos. Nesse sentido, devido os danos ao arquivo serem intensos e, por vezes, irreversíveis, uma das medidas de conservação destes documentos é a edição facsimilar. Uma parte dos documentos do Museu foram selecionados e fotografados para a realização desta pesquisa (deu-se prioridade aos documentos manuscritos, porém havia também no arquivo jornais e livros), garantindo a preservação e posterior disponibilização deles para a sociedade. Mas para que haja uma melhor manutenção dos documentos, seria importante para a instituição a organização e sistematização do seu Arquivo Documental. Segundo Roncaglio, Szvarça e Bojanoski (2004, p. 2): A função de um arquivo é guardar a documentação e principalmente fornecer aos interessados as informações contidas em seu acervo de maneira rápida e segura. Neste sentido, a classificação dos documentos de arquivos.

(31) 30. deve ser feita a partir de um método de arquivamento a ser definido, levando em consideração a estrutura da empresa, suas funções e a natureza de seus documentos.. Assim, faz-se necessária a criação de arquivos organizados nos Museus, para que as instituições possam fornecer informações seguras e classificadas sobre os documentos dos quais dispõem. O material exposto no Museu encontrava-se em pastas organizadas por data e algumas vezes apresentavam um resumo do que seria lido no documento ou seu gênero. Porém, muitas vezes, as informações não equivaliam aos documentos anexados na pasta, dificultando, assim, a seleção do material de pesquisa. Após a etapa de coleta, fez-se necessária uma categorização dos manuscritos, haja vista que no arquivo em que se encontravam não havia critérios de classificação que abrangessem todos os documentos, assim, para organizar as edições facsimiladas, escolhemos a categorização através de gêneros textuais. Esse trabalho é muito importante para que os textos possam fazer parte de um arquivo que prevê essas etapas, no caso o PHRS. As instituições nas quais os textos estão depositados raramente dispõem dessa organização. A maior parte dos documentos eram de cunho oficial apresentando forma, função e características específicas textuais e também extratextuais que apontam para os modos de produção e de circulação específicos, assim como para os fatores sócio-históricos. O presente corpus foi constituído obedecendo ao critério de data (1867 data em que Rivera é inaugurada em frente ao território de Santana do Livramento). Na primeira etapa, todos os documentos, dispostos no museu, do século XIX foram fac-similados, assim como alguns textos da virada para o século XX. A etapa seguinte compreendeu a categorização do material por gênero, contabilizando o número de fólios e de documentos. A primeira subdivisão dos 411 fólios deu-se da seguinte maneira: Admissão, Ata (Termo), Atestado, Carta de Sesmaria, Carta Militar, Carta Patente, Carta Pessoal, Demissão, Desoneração, Extrato Bancário, Intimação, Jornal, Mapa, Nomeação, Ordem de despejo, Ordem do dia, Testamento, Testemunho, Título de eleitor e Traslado. O governo do Uruguai criou a povoação de Rivera na tentativa de impedir o avanço territorial brasileiro sobre as terras do norte uruguaio. Assim, esses.

(32) 31. documentos compreendem o início do contato linguístico entre brasileiros e uruguaios dividindo a mesma formação urbana. Como citado anteriormente, um dos objetivos preliminares da pesquisa era verificar a influência da língua espanhola na língua portuguesa, razão pela qual se fez necessário estabelecer o critério de data. A data de escritura dos manuscritos foi determinada a partir da instalação da cidade de Rivera em frente a de Santana do Livramento, no ano de 1867, ou seja, o momento em que ocorre efetivamente a interação direta das línguas no mesmo núcleo citadino. A partir dessa nova seleção constituiu-se um corpus com 112 fólios. No quadro 1, pode-se observar o número de fólios e documentos separados por gênero.. Quadro 1 - Apresentação do corpus por gênero e número de fólios Gênero. Número de fólios. Número de documentos. Admissão. 1. 1. Atestado. 5. 3. Carta patente. 16. 8. Carta pessoal. 1. 1. Extrato bancário. 2. 1. Intimação. 3. 3. Nomeação. 12. 11. Ordem do dia. 71. 8. Título de eleitor. 1. 1. 112. 37. TOTAL. Embora, alguns autores defendam que os manuscritos autógrafos, como as cartas pessoais, por exemplo, ofereçam mais dados para o estudo de fenômenos linguísticos por apresentarem mais reflexos da fala, os documentos oficiais constituem um importante objeto de pesquisa. Os desafios que esses textos oferecem são notadamente linguísticos. O distanciamento da fala é a principal problemática, pois estamos falando de gêneros que apresentam, inclusive, formas pré-prontas, como a admissão e o título de eleitor. A barreira ortográfica também é mais evidente nos textos oficiais, seja pelo apego do escrevente à ortografia etimológica (que é aquela “que reflete a do étimo do.

(33) 32. vocábulo”6) seja pela pseudoetimológica (que é aquela “que a grafia etimológica utilizada não se origina do étimo próximo ou remoto do vocábulo”7), seja pela obediência às normas ortográficas organizadas a partir de 1911, no caso do português.. Entendemos que esses e outros desafios, assim como questões. metodológicas, merecem ser mais bem discutidos. No entanto, através do estudo desses textos, temos um testemunho da sociedade da época, isto é, os documentos oficiais revelam como a comunidade se organizava no âmbito cultural, econômico, administrativo, militar, político, religioso. Estudos que abarquem esses documentos contribuem, desse modo, não só para a caracterização de sincronias passadas, mas também para a preservação da memória cultural. Apresentaremos agora algumas das questões ortográficas encontradas no corpus. Adiantamos que é perceptível a ausência de acentuação gráfica e lembramos que a primeira normatização ortográfica da língua portuguesa ocorre apenas em 1911, assim entendemos a grande variação da ortografia no século XIX/XX.. Quadro 2 - Questões ortográficas Questões ortográficas. Exemplos Attest official. Geminadas. revellando annos commando Extincto assignatura. Encontro impróprio. directoria funcçoes diretor. Diacrítico. 6NETO,. Ahi Athe. Sílvio de Almeida Toledo (USP). Características gráficas de um texto português setecentista. Disponível em: <www.filologia.org.br/anais/anais_360.html> Acesso em: 15/01/2017 7 NETO, Sílvio de Almeida Toledo (USP). Características gráficas de um texto português setecentista. Disponível em: <www.filologia.org.br/anais/anais_360.html> Acesso em: 15/01/2017.

(34) 33. 4.3 A PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA. Uma das maiores dificuldades do pesquisador que pretende analisar a língua em estágios anteriores é a impossibilidade de encontrar falantes ou fontes de língua falada referentes ao período escolhido, de modo que se recorre a documentos representativos da época. Segundo Silvestre (2007, p.35), esse seria um dos obstáculos para a sociolinguística histórica uma vez que: Para la consecución de estos objetivos la sociolinguística histórica depende de la posibilidad de recuperar los hechos linguísticos del pasado a partir de los textos que han sobrevivido en la actoalidad. Em comparación con la diversidad, cantidad y autenticidad de los datos a disperción del investigador sociolinguística sincrónica e en linqguistica descriptiva, la información de que dispone quien intenta desarrollar su investigación en el âmbito de la linguística o la sociolinguística histórica es fragmentaria, escasa y difícilmente vinculable com la producción real de sus ablantes.. Dessa forma trabalhar com textos antigos pressupõe algumas dificuldades. Com frequência, os textos aparecem isolados e desprovidos dos componentes do contexto e da situação em que se originaram; por sua vez, nos textos que se conservam pode-se observar os registro, estilos e variedades de uma língua em estágio anterior e a variedade nos dados varia enormemente de um período para outro por circunstâncias aleatórias. (SILVESTRE, 2007, p.36) Muitas vezes, não é possível recuperar informações importantes sobre os escreventes dos documentos como a idade e o grau de escolaridade, por isso o pesquisador que se ocupa desses documentos trabalha com dados escassos e, por vezes, incompletos no que se refere às informações sobre quem escreve os documentos. Assim, segundo Silvestre (2007, p.37), “Las mismas limitaciones que se observan com relación al material de investigación afectan a las variables del contexto social”. Para caracterizar a língua portuguesa do século XIX na região da fronteira (Santana do Livramento/ Rivera) a partir da perspectiva sócio-histórica, analisamos um corpus de cartas do século XIX coletadas no Museu Municipal David Canabarro, na cidade de Santana do Livramento (fronteira seca com a cidade uruguaia Rivera). De acordo com Mattos e Silva (2008), alguns autores empreenderam seus estudos a partir de um ponto de vista sócio-histórico, sendo caracterizados como percussores de uma investigação extralinguística. A autora destaca como precursores.

(35) 34. Antoine Meillet, Mikhail Bahktin, Otton Jespersen, Ramón Menéndez Pidal e Émile Benveniste. Antoine Meillet (1866/1936), embora fosse discípulo de Saussure, destacou em seus estudos o caráter social da língua, fazendo uso de conceitos da geografia linguística e de empréstimo linguístico a partir do contato entre as diferentes línguas e culturas. Em suas obras Esquisse d’une histoire de la langue latine e Esquisse d’une histoire de la langue grecque, Meillet consegue relacionar a história da língua com a história da sociedade. Mikhail Bahktin (1895/1975), em sua obra Marxismo e filosofia da linguagem, faz uma crítica as concepções de língua vigentes na época (o subjetivismo idealista e o objetivismo abstrato). Sua crítica dirige-se também a Saussure, embora Bahktin considere a língua como um fato social, ele entende que é de suma importância a dialogia, ou seja, a relação construída entre os falantes, enquanto Saussure deixa de lado o estudo da fala, dando à língua um caráter ideal. O dinamarquês Otto Jespersen (1860/1943) em sua obra Growth and Structure of the English Grammar consegue relacionar características linguísticas descritivistas do inglês ao seu aspecto histórico. Jespersen, diferente de Saussure, defendia o estudo da sincronia e da diacronia simultaneamente. O galês Ramón Menéndez Pidal (1869/1968) em sua obra Origenes do español discute questões de mudanças e estabilidade linguística, assim como fenômenos antigos na língua moderna. Pidal estudou também a poesia popular espanhola medieval com o intuito de apontar a sua formação histórica. “Pidal associa dialetologia à história da língua, como muito depois, vieram fazer Weinreich, Labov, Herzog.” (SILVA, 2008, p. 64) Émile Benveniste (1902/1976) afirma que a repartição do indo-europeu em outras línguas pelo mundo resulta em histórias distintas associadas a particularidade de cada língua, assim como só é possível determinar um povo como indo-europeu só é possível através da língua. Em seus estudos embora reconheça o valor histórico e línguas social da língua, limita-se a fazer um estudo linguístico das línguas indoeuropeias. Mas o que consagrará os estudos de Benveniste na linguística será a teoria da enunciação com destaque para o papel do sujeito. Para avaliar os dados linguísticos fornecidos pelas cartas, com o intuito de caracterizar a língua portuguesa do século XIX e possíveis influências da língua espanhola na língua portuguesa, faz-se importante retomar o modelo da Teoria da.

Referências

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