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Aspectos da gestão ambiental da produção de álcool e cachaça no Noroeste-Missões do Rio Grande do Sul

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação Departamento de Estudos Agrários

Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

SÉRGIO INÁCIO JUNG

ASPECTOS DA GESTÃO AMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE ÁLCOOL

E CACHAÇA NO NOROESTE–MISSÕES

DO RIO GRANDE DO SUL

Ijuí (RS) 2012

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SÉRGIO INÁCIO JUNG

ASPECTOS DA GESTÃO AMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE ÁLCOOL

E CACHAÇA NO NOROESTE–MISSÕES

DO RIO GRANDE DO SUL

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação Stricto Sensu, Mestrado em Desenvolvimento, Linha de Pesquisa: Gestão de Organizações para o Desenvol-vimento, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientadora: Professora Doutora Sandra Beatriz Vicenci Fernandes

Ijuí (RS) 2012

(3)

J95a Jung, Sérgio Inácio.

Aspectos de gestão ambiental da produção de álcool e cachaça no Noroeste – Missões do Rio Grande do Sul / Sérgio Inácio Jung. – Ijuí, 2012. –

93 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientadora: Dra. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes”.

1. Gestão de resíduos de cana. 2. Viabilidade técnica – Produção de cachaça e etanol. 3. Viabilidade econômica – Produção de cachaça e etanol. 4. Viabilidade ambiental – Produção de cachaça e etanol. 5. Bagaço de cana-de-açúcar. 6. Vinhaça. I. Fernandes, Sandra Beatriz Vicenci. II. Título.

CDU: 502.33 504.06

Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB 10/1879

(4)

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

A

ASSPPEECCTTOOSSDDEEGGEESSTTÃÃOOAAMMBBIIEENNTTAALLDDAAPPRROODDUUÇÇÃÃOODDEEÁÁLLCCOOOOLLEE C

CAACCHHAAÇÇAANNOONNOORROOEESSTTEE––MMIISSSSÕÕEESSDDOORRIIOOGGRRAANNDDEEDDOOSSUULL

elaborada por

Sérgio Inácio Jung

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes (UNIJUÍ): _____________________________

Profa. Dra. Marlise Amália Reinehr Dal Forno (UFRGS): ____________________________

Profa. Dra. Leonir Terezinha Uhde (UNIJUÍ): ______________________________________

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Dedico esta dissertação à Carmen e à Letícia, pela compreensão e estímulo com palavras ou na falta delas.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à professora Sandra Fernan-des, pela orientação segura, pela paciência e apoio incondicional em todos os momentos. Pelas palavras, pela persistência, perspicácia e perseverança e o estímulo para melhorar. As palavras apenas tentam descrever o sentimento de carinho, respeito e gratidão pelos ensina-mentos recebidos.

À minha família, amigos e professores, colegas de trabalho do IESA de Santo Ângelo, e a todos que colaboraram nesta jornada que ora está findando.

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“Existem três tipos de empresas (e pessoas). As que fazem as coisas acontecer, as que ficam vendo as coisas acontecer e as que se perguntam: ‘o que aconteceu?’”

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RESUMO

A produção de álcool e de cachaça na região Noroeste-Missões do Rio Grande do Sul é responsável pela dispersão de dejetos líquidos representados pela vinhaça e dejetos sólidos oriundos do bagaço da cana-de-açúcar e das cinzas da combustão que produz energia térmica nas unidades beneficiadoras, usinas e destilarias. A proposta deste estudo é analisar e discutir a viabilidade técnica, econômica e ambiental do impacto provocado pela disposição no ambiente dos dejetos resultantes da manufatura artesanal ou industrial dos derivados da cana-de-açúcar pelos estabelecimentos produtores. O estudo caracteriza-se como pesquisa aplicada e descritiva, sendo classificado também como pesquisa de campo, documental e bibliográfica. Os potenciais impactos foram acessados mediante questionário aplicado aos responsáveis por usinas e destilarias de 24 municípios da região Noroeste-Missões do Rio Grande do Sul, a partir do qual se buscou conhecer o processamento de cana para produção de álcool e cachaça. O trabalho descreve as características da região produtora de cana-de-açúcar, as principais etapas do processo produtivo de álcool combustível e cachaça e os potenciais impactos ambientais decorrentes das modalidades de gestão dos resíduos decorrentes do processo produtivo. Discute também a gama de alternativas de gestão desses resíduos, atendendo aos requisitos legais. Depreende-se do estudo que vinhaça representa tanto o maior potencial de gerar danos ambientais, como uma grande possibilidade de emprego em biofertilizantes, representando ganhos ambientais de grande relevância. O mesmo ocorre pela utilização de dejetos sólidos, tanto do bagaço quanto das cinzas como matérias-primas alternativas. Conclui-se que há um conjunto de possibilidades viáveis para o uso da vinhaça e do bagaço da cana-de-açúcar que representam atenuação de impactos ambientais, podendo gerar ganhos ambientais de grande relevância.

Palavras-chave: Gestão de resíduos de cana. Viabilidade técnica, econômica e ambiental da produção de cachaça e etanol. Bagaço de cana-de-açúcar. Vinhaça.

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ABSTRACT

The production of alcohol and white lightning (cachaça) in the Northwest-Mission region of Rio Grande do Sul is responsible for the dispersion of the liquid waste represented by the vinasse and the solid waste from the sugarcane bagasse and from the ashes of the combustion which produce thermo energy in the manufacturing units, plants and distilleries. The proposal of this study is to analyze and discuss the economical and financial viable alternatives in order to mitigate the impact caused by the disposal of the waste resulting from the handicraft or industrial manufacturing of the sugarcane derivatives by the producing establishments in the environment. The specific objectives of the study are: to analyze the environmental impact caused by the disposal of the waste in the nature by the producing establishments; to identify and analyze economical and financial viable alternatives which are legally supported by the management of the residues generated by the production; to create a distinctive model for small, medium and big producers while identifying the polluting potential for the three categories; to present a study of the economical and financial viability of the internalization of the alternatives by the reduction of the impact caused by the production waste in nature. The study is characterized as a descriptive and applied research, being classified as a field, documental and bibliographical research as well. A questionnaire was applied to the people responsible for distilleries and plants in 24 municipalities in the Northwest-Mission region of Rio Grande do Sul, and it aimed at learning about the cane processing for the production of alcohol and white lightning. It is possible to deduce form the study that the alternative possibilities for the use of vinasse as a biofertilizer represent, above all, highly relevant environmental gains. The same happens with the environmental gain from the use of solid waste, either the bagasse or the ashes, as alternative raw material. It is concluded that the possible alternatives for the use of sugarcane vinasse or bagasse represent highly relevant environmental gain.

Key words: Sugarcane. White lightning and ethanol economical-financial production viability. Residue management. Vinasse. Sugarcane bagasse.

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LISTA DAS SIGLAS

ADCE – Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas BAH – Bagaço de Cana-de-açúcar Auto-Hidrolizado

CCA – Coordenação de Controle Ambiental

CETESB – Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental do Estado de SP

CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

CTC – Capacidade de Troca Catiônica

DAP – Departamento de Atendimento ao Público

DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio

DBQ – Demanda Química de Oxigênio

EIA – Estudo de Impacto Ambiental

FND – Fibra Detergente Neutro

IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

LI – Licença de Instalação

LO – Licença de Operação

LP – Licença Prévia

NPA – Norma e Procedimento de Auditoria

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PNMA – Política Nacional de Meio Ambiente

SEAMA – Secretaria do Estado para Assuntos do Meio Ambiente SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

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LISTA DAS FIGURAS

Figura 1. Localização da área de abrangência – municípios com produção

canavieira para produção de álcool e cachaça. Região Noroeste-Missões

do RS, 2012... 49 Figura 2. Distâncias médias entre os mananciais hídricos e as unidades produtoras

de álcool e cachaça na Região Noroeste-Missões (RS), 2012... 52 Figura 3. Classes de solo predominantes no cultivo de cana na região

Noroeste-Missões, RS... 54 Figura 4. Percentual de adubação de plantio e de manutenção... 61 Figura 5. Modalidades de colheita da cana na região Noroeste-Missões (RS),

2012... 63 Figura 6. Emprego de mão de obra própria ou contratada para corte de cana

destinada a destilarias e usina na Região Noroeste-Missões (RS), 2012... 66 Figura 7. Altitude em que se situam os estabelecimentos de produção de cachaça e

álcool na Região Noroeste-Missões (RS), 2012... 67 Figura 8. Modalidade de moagem da cana destinada à produção de álcool e cachaça

na região Noroeste-Missões (RS), 2012... 71 Figura 9. O uso do bagaço como meio de combustão na usina de álcool e nas

destilarias de Cachaça no Região Noroeste-Missões (RS), 2012... 72 Figura 10. Armazenagem provisória adequada dos dejetos na produção de álcool e

cachaça na Região Noroeste-Missões (RS), 2012... 74 Figura 11. Forma de gestão dos resíduos de cabeça e cauda na produção de cachaça

na Região Noroeste-Missões (RS), 2012... 75 Figura 12. Disposição e/ou tratamento adequado do bagaço e cinzas da produção de

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LISTA DOS QUADROS

Quadro 1. Caracterização físico-química da vinhaça... 33 Quadro 2. Caracterização da produção de cana destinada à aguardente e etanol na

região Noroeste-Missões do Rio Grande do Sul, 2012... 51 Quadro 3. Produção de resíduos de cana em função do potencial produtivo de

materiais. Região Noroeste –Missões (RS), 2012... 57 Quadro 4. Tempo médio de duração dos canaviais destinados a destilarias de cachaça

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

1 REVISÃO DE LITERATURA ... 17

1.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL ... 17

1.2 VISÃO ECONÔMICA DA GESTÃO AMBIENTAL ... 18

1.2.1 Internalização de custos ambientais ... 21

1.3 INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL ... 24

1.3.1 Licenciamento ambiental ... 29

1.4 CARACTERIZAÇÃO E DESTINO DOS RESÍDUOS DA PRODUÇÃO DE CACHAÇA E ÁLCOOL ... 31

1.5 NORMATIZAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DO MANEJO DE RESÍDUOS DE CANA ... 38

1.5.1 Outras alternativas de destinação da vinhaça ... 42

1.5.2 Destino do bagaço da cana-de-açúcar ... 44

1.5.3 As cinzas do bagaço da cana e suas aplicações ... 46

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 48

2.1 CARACTERIZAÇÃO METODOLÓGICA ... 48

2.2 CARACTERIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS E DOS IMPACTOS DO PROCESSAMENTO DE CANA PARA PRODUÇÃO DE ÁLCOOL E CACHAÇA ... 49

2.2.1 Coleta de dados ... 49

2.2.2 Características da produção de cana na região Noroeste-Missões ... 51

2.2.3 Localização geográfica das unidades produtoras em relação aos mananciais hídricos e potencial de contaminação ambiental ... 53

2.2.4 Características dos solos da região produtora de cana ... 54

3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 57

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO POTENCIAL DE IMPACTO AMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE DERIVADOS DE CANA ... 57

3.1.1 Estimativa do potencial de produção de dejetos ... 57

3.1.2 Sistemas de cultivos de cana ... 60

3.1.3 Manejo de colheita da cana-de-açúcar ... 63

3.1.4 Aspectos relativos à colheita da cana-de-açúcar ... 65

3.1.5 Disposição espacial das unidades produtoras de álcool e cachaça em relação aos mananciais hídricos ... 68

3.1.6 Características e destino do bagaço produzido ... 70

3.2 ALTERNATIVAS VIÁVEIS PARA ATENUAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DO PROCESSAMENTO DA CANA ... 74

(14)

3.2.1 Gestão dos dejetos da vinhaça ... 74

3.2.2 Gestão do bagaço e das cinzas ... 76

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 83

REFERÊNCIAS ... 87

(15)

INTRODUÇÃO

A produção de álcool e de cachaça na região Noroeste-Missões do Rio Grande do Sul tem se mostrado uma atividade econômica promissora que vem buscando tanto afirmação econômica em sintonia com a demanda dos mercados consumidores como viabilidade financeira entre custos e benefícios monetários das atividades produtivas. A manufatura de derivados da cana-de-açúcar, especialmente a produção de álcool e de cachaça, são atividades consideradas de alto potencial poluidor. Embora se trate de unidades produtoras de pequeno porte, os dejetos da produção da usina de álcool e das destilarias de cachaça possuem alto potencial para contaminar os recursos do solo, da água e do ar.

A preocupação com recursos naturais empregados no processo produtivo frequentemente recebe atenção secundária dos empreendimentos empenhados em produzir derivados da cana-de-açúcar, a exemplo do álcool e da cachaça. A emissão e o destino dos dejetos de produção, com frequência, são ignorados pelas fontes poluidoras. A alta concentração de pequenos estabelecimentos pode aumentar o potencial risco poluidor da atividade, entretanto, a eleição de técnicas de manejo adequadas pode atenuar a ação destes dejetos nos meios onde são dispostos, de outra forma, métodos incompatíveis com a oportunidade podem agravar e potencializar os efeitos nocivos da ação destes rejeitos no meio ambiente.

Discutir e analisar alternativas econômicas e financeiras viáveis e legalmente amparadas para a gestão dos resíduos gerados pela produção pode contribuir de forma decisiva para a identificação e adoção de novas técnicas, capazes de atenuar ou neutralizar os efeitos nocivos dos dejetos. A vinhaça e o bagaço são os rejeitos mais volumosos do processamento da cana. O primeiro tem maior potencial de dano ambiental, mas pode ter destinação adequada como biofertilizante, por exemplo, ao passo que o segundo, de menor potencial de impacto, encontra ampla utilização como matéria prima para diversos bens acabados, produção de energia, alimentação animal, entre outros. As cinzas oriundas da

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combustão também possuem alternativas de utilização como insumo de produção de outros bens acabados, fonte de cálcio, aditivos de cimento Portland, entre outros.

O potencial poluidor está diretamente ligado ao tamanho dos empreendimentos alvo de análise no presente estudo – usina de álcool e destilarias de cachaça. A categorização dos empreendimentos que processam cana em pequenos, médios e grandes produtores possibilita acessar o potencial poluidor para as referidas categorias e, consequentemente, a identificação de alternativas viáveis ajustadas a cada realidade. As alternativas para gestão dos dejetos devem, em primeiro lugar, obedecer à legislação ambiental pertinente e, num segundo momento, serem norteadas pela viabilidade econômica. A viabilidade financeira identifica a relação positiva entre os custos para o beneficiamento dos dejetos em novos produtos e serviços e as receitas oriundas de sua comercialização.

Apresentar uma análise econômico-financeira da internalização das alternativas viáveis pela redução do impacto dos rejeitos de produção no ambiente pode representar a possibilidade de receitas extras a partir do beneficiamento de dejetos. Não é de se esperar, no entanto, que a internalização dos custos de todos os dejetos e todas as alternativas apresentadas encontre superávit financeiro. Entende-se que os empreendimentos devem comprometer-se com a responsabilidade ambiental sobre os dejetos que emitirem e os impactos causados ao meio ambiente por tais emissões. É possível que em alguns casos não haja superávit na relação custo benefício, entretanto, a necessidade e o compromisso da internalização dos custos ambientais devem ser absorvidos com a melhor relação custo-benefício possível, em favor do meio ambiente, com a desoneração da sociedade por danos privados que devem ser internalizados pelas entidades que os promoverem.

O objetivo deste estudo é analisar e discutir alternativas que sejam viáveis do ponto de vista técnico, econômico e ambiental para atenuar o impacto provocado pela disposição no ambiente dos dejetos resultantes da manufatura artesanal ou industrial dos derivados da cana-de-açúcar pelos estabelecimentos produtores da região Noroeste-Missões do Rio Grande do Sul. Assim, o desafio a que se propõe o presente estudo é caracterizar e analisar situações de desenvolvimento local e regional e a influência destes fenômenos sob os aspectos sociais e ambientais, bem como os impactos decorrentes sobre o meio.

A discussão preconizada neste estudo tem a intenção de propor uma análise crítica das reais possibilidades de ganhos socioambientais a partir da consideração dos pressupostos da sustentabilidade ambiental na implantação de projetos com grande impacto econômico, mas com custos sociais e ambientais também elevados, custos estes a serem internalizados de forma sustentável pelas fontes produtoras.

(17)

O estudo é caracterizado como pesquisa aplicada e descritiva, sendo classificada também como pesquisa de campo, documental e bibliográfica. Um questionário foi utilizado na busca das informações, a partir das quais se compreendeu o processamento de cana para produção de álcool e de cachaça.

O presente estudo está dividido em três capítulos. O primeiro apresenta a revisão da literatura, em que se busca a ampliação dos conhecimentos sobre responsabilidade social e ambiental, a visão econômica da gestão ambiental, o papel das empresas na sociedade, a normatização e o licenciamento ambiental e os efeitos dos resíduos dispostos inadequadamente no ambiente. O segundo traz a metodologia utilizada e o instrumento de coleta de dado. O terceiro capítulo, finalmente, caracteriza o potencial de impacto ambiental da produção de derivados de cana e propõe alternativas viáveis. Seguem as considerações finais e as referências que embasaram o estudo.

(18)

1 REVISÃO DE LITERATURA

1.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL

Para que o desenvolvimento seja sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental deverá contar com o esforço da gestão das organizações modernas. O desenvolvimento deve projetar os avanços tecnológicos sem causar prejuízos sociais. Assim, a palavra-chave no processo de gestão tecnológica é o equilíbrio, em que pese produzir sem destruir.

A responsabilidade social representa uma mudança na concepção de empresa e de seu papel na sociedade, uma vez que se constitui em uma nova visão da realidade, fazendo com que cresça constantemente o número de organizações que buscam reconhecimento como socialmente responsáveis.

As organizações, além de buscar a eficiência devem se preocupar com o impacto que suas atividades causam ao meio, investir em tecnologias modernas, menos agressivas ao meio ambiente. Estas medidas são vistas como vantagens competitivas para as empresas, pois a sociedade tem feito pesadas críticas às organizações que não têm demonstrado tal preocupação.

No campo da gestão Donaire (1999) enfatiza a necessidade de incorporar a dimensão ambiental em seus cenários de tomada de decisão, assim como a manutenção de uma postura ética e responsável em relação à referida questão.

É de se observar a crescente preocupação das pessoas e, por consequência, das empresas que são dirigidas e orientadas por profissionais que desenvolveram a consciência da preservação. Muito mais que uma questão ética, esta passou a ser uma questão de sobrevivência, e as próximas gerações poderão sofrer as consequências dos atos praticados hoje.

Além da responsabilidade econômica e financeira, as organizações necessitam preocupar-se com as questões políticas, culturais e sociais, incorporando os direitos que asseguram a vida em sociedade (FISCHER, 2002).

A posição de muitas empresas denota a importância dada às questões ambientais. Mais que uma questão mercadológica, esta preocupação tem conotação financeira e estratégica. A responsabilização por atos praticados pelas empresas pode representar gastos adicionais aos projetados para reparar os danos causados ao meio ambiente.

(19)

Com a adoção dos princípios de responsabilidade social as empresas acabam desenvolvendo uma imagem mais aprazível sob os olhos dos consumidores, e isto pode se traduzir em mais vantagens junto a estes consumidores. Uma empresa que é vista como socialmente responsável possui uma vantagem estratégica em relação àquela que não tem essa imagem perante o público (DONAIRE, 1999).

O compromisso social é o ponto de partida para uma mudança de cultura nas organizações. Este compromisso gera um conjunto de ações que passam pelo ambiente interno da organização e buscam investimentos em recursos humanos, departamentos financeiros, tecnológicos, ambientais, projetos de interesse público, entre outros, que visam proporcionar um melhoramento social.

Em 1960 foi constituída a Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), com sede em São Paulo, iniciando assim um discurso sobre responsabilidade social entre os dirigentes das empresas. Em 1977, a ADCE organizou o 2º Encontro Nacional de Dirigentes de Empresas, tendo como tema central o Balanço Social da Empresa. Em 1979, a ADCE passou a organizar seus congressos anuais e o Balanço Social tem sido objeto de reflexão (TINOCO, 2001).

Em 1984 foi elaborado o primeiro trabalho acadêmico do professor João Eduardo Prudêncio Tinoco, que é uma dissertação de mestrado do Departamento de Contabilidade e autoria da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), com o título Balanço Social: uma abordagem socioeconômica da

Contabilidade.

1.2 VISÃO ECONÔMICA DA GESTÃO AMBIENTAL

O crescimento demográfico exponencial representa um aumento quantitativo da demanda de bens e serviços. O aumento da produção para atender esta demanda deve guardar o equilíbrio entre o desenvolvimento produtivo e a preservação dos recursos naturais.

O Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente, editado em 1987 com o título de “Nosso Futuro Comum” disseminou a expressão “desenvolvimento ecologicamente sustentado” e definiu como sustentável aquele sistema que responde pela produção presente sem comprometer as gerações futuras. A transposição deste conceito para o desenvolvimento econômico fez emergir a gestão ambiental empresarial, como forma de reduzir os impactos dos sistemas produtivo sobre o ambiente.

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A gestão ambiental sustentável envolve um posicionamento estratégico para produzir e a organização como um todo deve ser preparada para este posicionamento. É fundamental que todos estejam comprometidos e conscientes dos objetivos a serem alcançados.

Andrade, Tachizawa e Carvalho (2002) salientam que o primeiro passo no caminho da produção ecologicamente sustentada é acompanhado da ideia que qualquer mudança na forma de produzir resulte no aumento dos custos e despesas ou na redução do aproveitamento produtivo, o que resulta em menor produção. Donaire (1999) contrapõe salientando que muitas empresas aumentam seus lucros a médio e longo prazo. Outras empresas conseguiram significativas melhoras nos custos de produção já em curto prazo.

Independentemente de a empresa conseguir uma adaptabilidade para reduzir custos e aumentar a produção a curto, médio ou longo prazo, a pressão exercida pelos mercados de consumos tem compelido sistematicamente os produtores de bens e serviços à redução na emissão de poluentes. Percebe-se o crescente envolvimento das nações, principalmente no continente europeu e latino-americano, competindo para uma gestão ambiental limpa e responsável.

Os novos tempos e os novos cenários econômicos fizeram despertar a cultura preservacionista. Mesmo com a tendência mais competitiva dos mercados que, em parte, é estimulada pelo movimento evolucionista dos mercados de consumo, os consumidores estão cada vez mais conscientes e empenhados na causa ambiental. Os mercados competitivos sofrem a pressão coercitiva do conjunto normativo imposto pelo Estado que, por sua vez, atende aos anseios da animosidade humana que forma a imensa onda preservacionista.

De acordo com Faria et al. (2006, p. 2):

A sociedade industrial, surgida no século XIX, estruturou-se sobre a ideologia do liberalismo, tendo como princípio fundante a livre concorrência – a liberdade de empresa, cujos padrões de produção e consumo vêm gerando notável depredação ambiental em decorrência de: aumento de poluição pelas fábricas e veículos automotores; emprego desordenado de substâncias tóxicas na produção agrícola; consumismo desmedido; uso irracional dos recursos naturais; e acúmulo de lixo não degradável.

Donaire (1999) afirma que na visão tradicional da instituição apenas o lado econômico está voltado para a maximização de lucros, controle e redução de custos. Assim, a mudança de posicionamento estratégico em relação ao meio ambiente não foi assimilada instantaneamente e sem resistência, fato que pode ser constatado a partir de Friedmann (1985, p. 23):

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Ultimamente um ponto de vista específico tem obtido cada vez maior aceitação – o de que os altos funcionários das grandes empresas e os líderes trabalhistas têm uma responsabilidade social além dos serviços que devem prestar aos interesses de seus acionistas ou de seus membros. Este ponto de vista mostra uma concepção fundamental errada do caráter e da natureza de uma economia livre. Em tal economia só há uma responsabilidade social do capital – usar seus recursos e dedicar-se a atividades destinadas a aumentar seus lucros até onde permaneça dentro das regras do jogo, o que significa participar de uma competição livre e aberta, sem enganos ou fraudes.

O modelo preconizado por Friedmann (1985) pressupõe que as questões éticas estão na esfera individual, se manifestando na sociedade por meio das normas e padrões de conduta social estabelecidas, refletidas, pressupostos legais e jurídicos. Estas regras jurídicas e legais funcionam como meio de pressão quando a empresa pratica algum ato arbitrário com prejuízo socioambiental que prejudica a coletividade.

Ainda de acordo com Friedman (1985, p. 22):

A existência de um mercado livre não elimina, evidentemente, a necessidade de um governo. Ao contrário, um governo é essencial para a determinação das regras do jogo e um árbitro para interpretar e pôr em vigor as regras estabelecidas. O que o mercado faz é reduzir sensivelmente o número de questões que devem ser decididas por meios políticos - e, por isso, minimizar a extensão em que o governo tem de participar diretamente do jogo.

O mesmo autor complementa: “Papéis básicos do governo numa sociedade livre – prover os meios para modificar as regras, regular as diferenças sobre seu significado e garantir o cumprimento das regras por aqueles que de uma forma ou de outra forma não se submeteriam a elas” (FRIEDMAN, 1985, p. 22).

Friedman (1985) é um crítico feroz das ações e decisões tomadas pelos administradores para a contribuição social em detrimento dos interesses da corporação. E cita como exemplos: deixar de aumentar preços dos produtos para contribuir com o objetivo social de prevenir a inflação; despender recursos que vão além dos requisitos legais para a melhoria do meio ambiente, à custa dos lucros da corporação; contratar desempregados em vez de trabalhadores mais qualificados com o objetivo de reduzir a pobreza. Ele vê estas ações como uma violação da função dos negócios. O dinheiro gasto em projetos sociais é uma imposição e o dispêndio de taxas com o dinheiro dos outros para atender ao interesse geral da sociedade reduz os salários e os dividendos dos acionistas e aumenta os preços ao consumidor. Essas ações transformam os executivos em funcionários públicos ou servidores da sociedade civil, os quais tomam decisões seguindo critérios políticos e sociais para alocar recursos e definir quais são os interesses sociais coletivos.

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Para Friedman (1985, p. 23):

Se os homens de negócios têm outra responsabilidade social que não obter o máximo de lucro para seus acionistas, como poderiam saber qual é ela? Podem os indivíduos saber o que é interesse social? Podem eles decidir que carga impor a si próprios e aos acionistas para servir ao interesse social? É tolerável que funções públicas sejam exercidas pelas pessoas que estão no momento dirigindo empresas particulares, escolhidas para estes postos por grupos estritamente privados?

Farias e Bastos et al. (2006) argumentam que o alucinante progresso econômico do século 20 teve como fundamento o uso indiscriminado dos recursos naturais antes considerados inesgotáveis. Por outro lado, foi a polêmica suscitada pela questão da energia nuclear nos anos 60, e o aumento inesperado dos preços do petróleo, nos anos 70, que provocaram os primeiros debates sobre a escassez de recursos naturais e levaram à percepção da finitude da biosfera. Esta preocupação ambientalista tornou-se sensível, desde os anos 60, com o aparecimento de um movimento social engajado no enfrentamento da questão nuclear em vários países europeus e nos Estados Unidos. A sociedade civil e seus movimentos ativistas passaram a volver seu olhar, também, para o problema da degradação do meio ambiente, que já ameaça a continuidade da sobrevivência na Terra.

Nesse sentido, em contraponto à visão de Friedman, Drucker (1992) é enfático no papel de liderança dos executivos na comunidade, ultrapassando os limites das organizações. A ideologia predominante nos anos 60 de que o governo-estado podia e devia cuidar dos problemas da comunidade foi superada pelas evidências de que os governos não podem tomar conta dos problemas da comunidade, e tampouco os negócios e o mercado livre podem tomar conta dos problemas da comunidade, mas, em parceria com a sociedade civil, representada pelo terceiro setor, compreendido pelas organizações comunitárias não lucrativas, as empresas devem se responsabilizar pelas soluções dos problemas da comunidade, fornecendo os recursos materiais e o trabalho voluntário de seus colaboradores.

1.2.1 Internalização de custos ambientais

A busca por competitividade pelas empresas modernas tem desencadeado uma exploração intensiva dos recursos disponíveis e lançado mão de metodologias que nem sempre são revertidas em avanços produtivos sustentáveis. A competitividade em produzir pelo menor preço faz com que algumas etapas importantes do processo sejam suprimidas ou simplificadas em nome da redução de gastos com manufatura, sob o risco de os custos de

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produção onerarem os produtos ou serviços finais de tal forma que os mesmos se tornem pouco atraentes sob o ponto de vista mercadológico. Assim, alguns processos importantes a exemplo do manejo de dejetos resultantes do processo de manufatura são suprimidos ou simplificados de forma a se externalizarem, causando prejuízos ambientais compartilhados pela sociedade.

Soares (2003, p. 4) salienta o compartilhamento social dos custos privados:

A externalidade é um importante conceito econômico utilizado para entendermos como a economia e a formação de preços frequentemente deixam de incorporar os impactos sociais, ambientais e sanitários consequentes das atividades produtivas que geram produtos e serviços.

Ainda de acordo com Soares (2003), a forma de competição entre agentes econômicos por melhores preços oferecidos ao mercado, longe de otimizar o funcionamento da economia, pode se constituir num dos maiores entraves para a sustentabilidade do desenvolvimento, pois externaliza diversos custos sociais, ambientais e sanitários que permanecem ocultos nos preços das mercadorias e terminam por serem socializados.

A crítica de Dupas (2008) é contundente em relação aos resultados catastróficos desta ação do homem sobre o meio, em nome da competitividade mercadológica, quando afirma que o envolvimento das corporações com os danos ambientais tornou-se mais problemático pela assunção plena, por parte das empresas, da definição dos vetores tecnológicos, ocorrida a partir da segunda metade do século 20. Isso foi consequência da liberdade quase absoluta que as corporações assumiram pela escolha e criação dos produtos ou serviços que deverão ser transformados em objetos de desejo dos consumidores para manter viva a lógica da acumulação, essencial à produção de riqueza no capitalismo.

Para Griesse (2007) deve ser reconhecido, em primeiro lugar, que a aproximação entre ética e economia é um reflexo da condição global de desequilíbrios sociais crescentes, degradação da natureza e falta de um desenvolvimento sustentável. É necessário um sistema de interação mais global para fazer transformações significativas. Para a empresa ir além do princípio do lucro e do interesse próprio, de modo sistemático, há que ter o apoio institucional da sociedade, do poder público e de outras empresas para transformar o tecido cultural e a forma de se entender a ética nos negócios.

Soares e Porto (2009) complementam enaltecendo que isso ocorre quando florestas são desmatadas, rios e solos são poluídos, trabalhadores e consumidores são contaminados, e as doenças e mortes – frequentemente invisíveis no conjunto das estatísticas de saúde –

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acabam sendo coletivamente absorvidas pela sociedade e pelos sistemas públicos previdenciários e de saúde.

A este respeito Soares (2003, p. 4) entende que:

A introdução de discussões oriundas da economia no campo da saúde pública, como a externalidade ambiental, permite ampliar o olhar sobre a relação saúde-ambiente a partir dos processos sociais e econômicos de desenvolvimento que se encontram por detrás de inúmeros problemas de saúde.

Nesse mesmo sentido, Soares (2003, p. 5) afirma que “estabelecer novos vínculos entre a saúde coletiva, a economia e as ciências sociais poderá contribuir para a construção de novas estratégias de promoção da saúde”.

Há necessidade de desenvolvimento de políticas estratégicas de normatização e controle sobre a emissão e externalização de resíduos para compartilhamento social, sob pena de o descaso produzir índices irreversíveis de degradação ambiental.

Neste sentido, citam Soares e Porto (2009, p. 3) que: “Os exemplos de políticas possíveis de serem adotadas podem ser indutores de mudanças estruturais de tecnologias produtivas, ou de comando-controle para situações onde a saúde pública reconheça a existência de riscos mais graves para a população”.

Para Milanez e Porto (2009, p. 2): “as discussões teóricas e as experiências empíricas apontam para a existência de eixos de desenvolvimento econômico no Brasil, ambientalmente insustentáveis e socialmente injustos, que intensificam os conflitos socioambientais”.

Há necessidade, portanto, de consciência ambiental e desenvolvimento cultural voltados ao monitoramento e controle a partir da imposição de regras claras que tenham força para inibir atitudes sociais que provoquem desequilíbrio de recursos naturais. Os argumentos de que um crescimento econômico, mesmo que a partir de instituições privadas, apresentem inúmeros benefícios sociais que compensam os custos sociais externalizados, são fortemente contestados.

Veiga (2009, p. 4) afirma nesse sentido:

A teoria da maximização da eficiência econômica induziria a uma busca de alocação dos recursos de forma mais eficiente, tais como reduzir o custo econômico através de ganhos de produtividade e deslocamento de riscos para comunidades de menor nível socioeconômico. Porém, por essa lógica competitiva capitalista, a existência de forças socio-econômicas e políticas desiguais poderia provocar ou agravar situações de injustiça socioambiental. Com isso, pôde-se inferir a existência da relação inversa entre eficiência econômica e justiça socioambiental.

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O comportamento privado em relação às externalidades e utilização de recursos naturais e o consequente compartilhamento dos custos com o meio social, pode não ser o melhor resultado numa perspectiva de bem-estar social e mesmo individual no longo prazo. Isso porque o custo marginal ou benefício marginal individual pode desprezar efeitos para a saúde humana e dos ecossistemas, assim como os impactos destes para o sistema de saúde, previdenciário e a sociedade como um todo (SOARES, 2003).

Pearce (apud SOARES, 2003, p. 6) confirma seu posicionamento em relação às externalidades com custo social por benefícios privados:

As externalidades surgem por divergência entre interesses sociais e privados: os livres mercados seriam baseados num estreito interesse pessoal, onde o gerador da externalidade não tem qualquer incentivo para contabilizar os custos que impõe a terceiros. Se a externalidade for negativa, há maior produção desta pelo agente gerador, em equilíbrio competitivo, do que seria socialmente desejável.

Os benefícios sociais “podem ser definidos pelo embate entre grupos sociais a partir de seus interesses e valores envolvendo de forma central questões ecológicas, como o meio biofísico, o uso dos territórios e seus recursos naturais” (MILANEZ; PORTO, 2009, p. 6).

Ainda segundo esses autores:

Em linhas gerais, nossa principal argumentação é que a emergência e intensificação dos conflitos no atual contexto brasileiro (mas também internacional) decorrem de uma visão economicista restrita de desenvolvimento. Esta visão é pautada por critérios de crescimento econômico – visto como alternativa única de progresso – de natureza produtivista e consumista. Tal visão desrespeita a vida humana e os ecossistemas, bem como a cultura e os valores dos povos nos territórios onde os investimentos e as cadeias produtivas se realizam (MILANEZ; PORTO, 2009, p. 6).

Apresentado o papel das empresas na sociedade e a sua atividade de gestão ambiental, o tópico que segue traz a normatização e o licenciamento ambiental.

1.3 INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL

A Constituição Federal de 1988 (CF/88) destacou o meio ambiente em capítulo próprio, o de número 5, integrando-o ao Título VIII – da Ordem Social – o qual tem como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. A Lei Maior salvaguarda o direito de todos ao meio ambiente em equilíbrio para atender ao reclamo dos indivíduos e da coletividade a uma vida sadia, em sintonia com a natureza.

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Consoante se deflui do art. 225 da CF/88, impõe-se ao Poder Público o escopo de assegurar a efetividade desse direito:

a) preservar os ecossistemas, as espécies, a integridade do patrimônio genético do País;

b) definir os espaços territoriais, nas unidades da Federação, a serem protegidos; c) exigir estudo prévio de impacto ambiental, para instalação de obra ou atividade

potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, devendo ser dada publicidade; controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

d) promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino; e) proteger a fauna e a flora.

Faria et al. (2006) salientam que a Carta Constitucional de 1988, em seu preâmbulo, declara um Estado democrático de Direito, tendo como princípio fundamental a dignidade da pessoa humana. A Constituição Federal assume uma postura coerente por desenvolver a ideia da objetivação da responsabilidade em relação ao dano ambiental provocado por pessoas jurídicas que, notadamente, por vezes, têm se revelado as mais degradadoras do meio ambiente.

Os instrumentos de política ambiental empregados com vistas ao enfrentamento das questões ambientais são de duas ordens: Instrumentos Regulatórios, do tipo Comando e Controle e os Instrumentos de Incentivos Econômicos ou de Mercado. O primeiro grupo corresponde àquelas políticas que visam identificar problemas ambientais específicos. As regulamentações formam um conjunto de normas, regras, procedimentos e padrões que devem ser obedecidos com vista à adequação a determinadas metas ambientais, acompanhadas de um conjunto de penalidades previstas para aqueles que não as cumprirem. O licenciamento ambiental é o principal deles.

Para problemas ambientais decorrentes de práticas agropecuárias Bartholomeu (2006) apresenta de forma detalhada algumas soluções por intermédio de políticas ambientais. Via de regra, as soluções são propostas por mecanismos de gestão ambiental e correspondem a incentivos econômicos e de controle, os quais podem ser aplicados para a maior parte dos casos:

 regulamentos e sanções (estabelecimento de padrões de emissões; exigência de licenciamento para atividades; restrições ao uso do recurso; aplicação de multas; estabelecimento de fechamento da atividade);

 taxas, impostos e cobranças (taxas por não cumprimento da legislação ambiental ou para racionalizar o uso de determinado recurso; bônus de desempenho etc.);

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 criação de mercado (licenças comercializáveis para direito de captação de água ou emissões, por exemplo); e

 intervenção de demanda final (programas de rotulagem, processos de certificação, adoção de selos “verdes” etc.).

A normatização imposta de forma coercitiva e unilateral pelo Estado representa a evolução teleológica dos movimentos sociais que buscam reconhecimento e tem a finalidade de regulamentar a conduta social. O conjunto de regras normatiza as relações entre a sociedade, em que pese identificar o interesse público tutelado pelo Estado.

Dupas (2006) considera que o modelo de desenvolvimento mais difundido passa a ser uma contingência da própria lógica capitalista de reprodução contínua dos ciclos de escassez — dos novos produtos objetos de desejo — com os de abundância, quando esses mesmos produtos tornam-se consumo de massa. Em vez da maior prosperidade geral, para que a engrenagem da acumulação funcione, assiste-se a um sucateamento contínuo de produtos em escala global, gerando imenso desperdício de matérias-primas e recursos naturais ao custo imenso de degradação contínua do meio ambiente e de escassez de energia. É a opção privilegiada e inexorável pela acumulação de capital, em detrimento do bem-estar social amplo.

Os países em desenvolvimento e com forte vocação agrícola representam um mercado profícuo às indústrias químicas que despejam produtos à base de princípios ativos rejeitados na maioria dos países europeus e outros países desenvolvidos em função do risco que representam à biodiversidade. É inviável pensar em modelos socioambientais sustentáveis sem investir em tecnologias limpas que permitam produzir com qualidade.

Uma das alternativas para a gestão socioambiental responsável e equilibrada pode estar no desenvolvimento biotecnológico. Nesse contexto emerge o conceito de bioeconomia adotado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e transcrito por Barros e Machado (2007): “aquela parte das atividades econômicas que capturam valor a partir de processos biológicos e biorrecursos para produzir saúde, crescimento e desenvolvimento sustentável”. Neste sentido, os autores enfatizam que resta saber o grau em que o conhecimento biológico pode ser difundido na forma de aplicações biotecnológicas, bem como as políticas que serão eficientes para promover o uso dessa nova onda de inovações.

A Agenda 21, programa estabelecido em 1992 pela Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, assevera que a biotecnologia promete fazer uma contribuição significante em possibilitar o desenvolvimento de, por exemplo, melhor cuidado

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da saúde, melhor segurança alimentar por meio de práticas agrícolas sustentáveis, melhor oferta de água potável, processos de desenvolvimento industriais mais eficientes para transformação de matérias-primas, apoio a métodos sustentáveis de aflorestamento e reflorestamento e também de destoxificação de resíduos.

Dentre os mecanismos de mercado, a política de Mercado de Carbono pode representar mais um impulso para a ativação da cultura preservacionista, como possível instrumento de efetivação de práticas socioambientais sustentáveis e viabilização de investimentos para aproveitamento de resíduos e geração de energia. Usinas sucroalcooleiras estão investindo em aumento de eficiência do processo de cogeração de energia (substituição por caldeiras e turbinas mais eficientes), capaz de utilizar o bagaço da cana durante todo o ano para gerar sua própria energia e vender o excedente para a rede brasileira de energia elétrica (BARTHOLOMEU, 2006).

A evolução cultural que desenvolve um novo comportamento social em relação ao modelo de gestão da produção em que pese administrar de forma mais consciente os dejetos emitidos por estes processos fabris, faz surgir, como fruto dos debates norteados por anseios sociais, um conjunto de regramento legal ou de convenções doutrinárias orientadas para a preservação de recursos naturais. Na contramão deste processo estão interesses particulares de clãs setoriais que resistem ao novo modelo de gestão ambiental de resíduos em nome da lucratividade de produtos e serviços e da rentabilidade dos capitais investidos, fazendo com que os custos externalizados pelos danos ambientais causados sejam compartilhados e arcados pela sociedade.

Riggoto (2002) é enfático ao lamentar que no Brasil, apesar de haver uma legislação e instituições destinadas a aplicar as leis de proteção ao meio ambiente, as atividades humanas, sejam domésticas ou econômicas, continuem a provocar a degradação ambiental.

Bartholomeu (2006, p. 1) salienta nesse sentido que:

Apesar de a legislação ambiental brasileira ser abrangente, não se verifica, na prática, o cumprimento de diversas regulamentações. Neste sentido, o problema parece estar concentrado em duas frentes: por um lado há uma clara ineficiência no processo de fiscalização e estabelecimento do enforcement e, por outro, há um desconhecimento generalizado, por parte dos produtores, da existência de tais legislações e normas.

Segundo Bartolomeu (2006), o investimento em práticas sustentáveis ainda é visto como um custo desnecessário. Em alguns anos, entretanto, isto poderá representar vantagens competitivas no comércio ou, de forma mais radical, a própria exclusão do produtor da

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atividade. O fato de as práticas recomendadas não serem utilizadas provoca custos sociais na forma de externalidades negativas. Deve-se, pois, consolidar a avaliação de impactos ambientais em qualquer atividade potencialmente poluidora. Tal avaliação não deve ser vista como mais uma barreira às atividades produtivas, mas como instrumento para identificar os problemas ambientais de determinada atividade, servindo como subsídio para a elaboração de políticas que ajam no sentido de minimizar os impactos negativos ao meio ambiente. A identificação de saídas eficientes depende de investimento em ciência e tecnologia que, em seguida, levarão a resoluções e normas legais que poderão ser cobradas pelos agentes fiscalizadores.

Para Leite (2000), questões como os resíduos gerados pelos processos produtivos e as externalidades merecem destaque e preocupação especial. Estes resíduos contaminam o solo, os recursos hídricos e o ar, através da poluição local (queimadas) ou global (emitindo gases que prejudicam o efeito estufa). O desafio é encontrar alternativas de tratamento e, se possível, explorar de forma viável as potencialidades destes dejetos na produção de novas formas de energia limpa, se possível, ou até mesmo a produção de energia pela redução da emissão de poluentes. Estas formas alternativas de energia podem encontrar tratamento e, quando possível, serem aproveitadas como fonte energética para o abastecimento da propriedade ou até mesmo de pequenas comunidades locais como já vem sendo verificado em algumas propriedades suinícolas (aproveitamento do biogás, produzido pelos dejetos), usinas de açúcar e álcool (utilização do bagaço da cana para cogerar energia e dos dejetos da vinhaça na fertirrigação das lavouras de cana-de-açúcar), madeireiras (serragem), beneficiadoras de arroz (aproveitamento da palha de arroz), entre outros.

No que se refere às atividades econômicas, de acordo com Callenbach e Capra (2000), a regulamentação sozinha não resultará em uma maneira nova ou criativa de pensar sobre numerosos aspectos das operações de uma empresa. Para tanto, são necessárias metodologias inovadoras. Todas as atividades econômicas causam impacto sobre a sociedade e o meio ambiente e, portanto geram custos sociais e ecológicos.

As soluções apresentadas só serão efetivas se, por um lado, os problemas ambientais forem bem identificados e quantificados (mediante parceria com universidades e centros de pesquisa), se existirem alternativas viáveis para a adequação (tecnologias, financiamento, crédito etc.) e, finalmente, se os produtores tiverem conhecimento tanto das exigências quanto das alternativas existentes.

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1.3.1 Licenciamento ambiental

O licenciamento ambiental emergiu formalmente no Brasil, assim como em boa parte do mundo, na década de 1970. As primeiras iniciativas tinham como objetivo o controle da poluição industrial, norteado pelas diretrizes do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, em 1975. No início da década de 1980, mais exatamente em 1983, com a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), constituiu-se a base institucional e legal do Licenciamento Ambiental aos moldes do modelo conhecido nos dias atuais.

Na institucionalização do modelo de licenciamento ambiental destacam-se dois órgãos com importância fundamental dentro do PNMA: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), que tem por instância superior o Conama. O Sisnama compreende o conjunto de instituições na esfera federal, estadual e municipal que formulam e regulam a política ambiental e aplicam a legislação pertinente, sendo responsáveis pelo licenciamento ambiental.

A emergência da consciência ambiental e o desenvolvimento da cultura de proteção aos recursos naturais refletidos no conjunto de leis e regras burocráticas são importantes barreiras para frear o ímpeto da utilização dos meios naturais públicos em benefício particular, externalizando custos privados para que sejam compartilhados pela sociedade.

Para Ribeiro (1997), as preocupações da sociedade com os efeitos adversos do desenvolvimento econômico e a visão de impactos ambientais mais abrangentes e inter-relacionados estão muito além da regulação da poluição industrial pontual. Para tanto foi estabelecida pela PNMA um conjunto de instrumentos metódicos e burocráticos como instrumentos de regulação das atividades com potencial poluidor, tais como:

a) o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; b) o zoneamento ambiental (ecológico-econômico); c) a avaliação de impactos ambientais; e

d) o licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras ou causadoras de degradação ambiental.

Para Machado (1998), as Resoluções 001 e 011/1986 e a 237/1997 do Conama, basicamente estabelecem os instrumentos mais comentados do sistema de licenciamento ambiental brasileiro: o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e as licenças ambientais: prévia (LP); de instalação (LI) e de operação (LO). A partir de 1997 o empreendedor passou a ter o direito de participar do estabelecimento das exigências do estudo de impactos e

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condicionantes de licenciamento, tornando-se também responsável pela contratação da equipe técnica que realiza o Estudo de Impacto Ambiental.

No Rio Grande do Sul as atividades estatais de Licenciamento Ambiental são realizadas pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), constituída por uma fundação pública ligada à Secretaria Estadual da Saúde e do Meio Ambiente. Suas incumbências específicas, além da operação de Licenciamento Ambiental das atividades de impacto supralocal, são:

 aplicação da Legislação Ambiental e fiscalização em conjunto com os demais órgãos do SEMA – Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Municípios e Batalhão Ambiental da Brigada Militar;

 avaliação, monitoramento e divulgação de informação sobre a qualidade ambiental. Este trabalho é a base para a priorização e avaliação da efetividade das ações desenvolvidas (como o próprio licenciamento ambiental);

 diagnóstico e planejamento para que a ação do Sistema Estadual de Proteção Ambiental (SISEPRA), a avaliação das mudanças ambientais e o licenciamento ambiental de atividades individuais sejam vistos dentro do marco de diretrizes regionais e da capacidade suporte do ambiente;

 apoio, informação, orientação técnica e mobilização de outros atores importantes como os Municípios, os Comitês de Bacia e organizações da sociedade civil.

O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas (SEBRAE, 2001), em suas publicações técnicas tem manifestado preocupação com o desenvolvimento das atividades fabris, em escala industrial ou artesanal, de cachaça ou aguardente de cana-de-açúcar, atividade considerada de grande potencial poluidor, embora o porte da maioria dos empreendimentos seja de pequenos estabelecimentos industriais ou artesanais.

Por analogia, o SEBRAE também manifesta a preocupação dos grandes estabelecimentos produtores de álcool, compostos de grandes usinas, com elevado potencial poluidor e escala ampliada. Estas publicações deixam evidente a necessidade de enquadramento normativo dos estabelecimentos, tanto os de escala industrial quanto artesanal para a produção de álcool e para de cachaça ou aguardente. A partir dessas publicações é possível identificar um roteiro recomendado para o licenciamento ambiental dessas atividades a partir do conjunto normativo emitido pela legislação SEAMA:

Licença Prévia (LP) – emitida na fase inicial do planejamento do empreendimento, visando à aprovação da área pretendida.

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Licença de Instalação (LI) – emitida com base no cumprimento das condicionantes (exigências) contidas no verso da Licença Prévia (LP) e documentos/informações necessários. Essa Licença autoriza o início da implantação da atividade.

Licença de Operação (LO) – É emitida após a instalação dos equipamentos e toda a infraestrutura necessária à operação do empreendimento, bem como a implantação dos sistemas de controle de poluição hídrica, atmosférica e de resíduos sólidos, ruídos e vibrações. Com esta Licença, o empreendedor poderá iniciar a operação de suas atividades, devendo, porém, ter cumprido as condicionantes (exigências) anexas à Licença de Instalação. O prazo de validade dessa Licença varia de quatro a seis anos, sendo este prazo determinado pelo próprio órgão ambiental que defere o licenciamento.

1.4 CARACTERIZAÇÃO E DESTINO DOS RESÍDUOS DA PRODUÇÃO DE CACHAÇA E ÁLCOOL

A compreensão do fluxograma de produção de derivados de cana é o passo inicial para o planejamento e gestão do conjunto de resíduos produzidos, sendo também condicionante para adaptar plantas agroindustriais ao correto manejo destes dejetos, desde a produção até o destino final, tanto para os rejeitos sólidos como para os rejeitos líquidos resultantes da manufatura. Neste sentido, o bagaço e as cinzas produzidos são oriundos de etapas diferentes do processo fabril. O bagaço é originado da moagem da cana-de-açúcar, que depois de estabilizado em ambiente coberto, para que haja a redução de líquidos capazes de promover a fermentação, poderá ser disposto em solo agrícola, apresentando-se como excelente material de cobertura de solo. Já as cinzas são produzidas a partir da combustão do próprio bagaço utilizado para aquecimento de caldeiras ou também da combustão de outras fortes de energia, a exemplo da lenha. As cinzas podem ser dispostas em solo agrícola após a redução da temperatura, não havendo a necessidade de nenhum processo adicional.

A vinhaça é resultante da fermentação do caldo da cana-de-açúcar, que destilado resultará no produto desejado – etanol ou cachaça, e o restante representa o resíduo não aproveitável, frequentemente é disposto em solo agrícola após a redução da temperatura resultante do processo de destilação.

A vinhaça é o produto de calda na destilação do licor de fermentação do álcool ou da cachaça da cana-de-açúcar, ou seja, é o líquido residual também conhecido regionalmente por restilo ou vinhoto (SILVA; GRIEBELER; BORGES, 2007). Este resíduo é conhecido em muitos países do mundo como subproduto na produção de álcool e bebidas alcoólicas

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oriundas das mais diferentes matérias primas, a exemplo da cana-de-açúcar no Brasil, da beterraba na Europa, e do milho nos Estado Unidos. Da mesma forma como se origina dos mais diferentes materiais, também sua composição sofre alterações de propriedades químicas e biológicas peculiares a cada tipo de materiais que lhe dão origem.

A vinhaça ou vinhoto é o principal resíduo resultante do beneficiamento da cana-de-açúcar em seus derivados – o etanol, o cana-de-açúcar e a cachaça. De acordo com Silva, Griebeler e Borges (2007), para cada litro de etanol produzido restam entre 10 e 18 litros de vinhaça líquida. Para Oliveira et al. (2009), o volume residual da vinhaça na produção de cachaça artesanal ou industrial, libera, em média, entre 8 e 10 litros para cada litro de produto final manufaturado. Ainda de acordo com Silva, Griebeler e Borges (2007), o constituinte principal da vinhaça é a matéria orgânica, constituída basicamente por ácidos orgânicos e, em menores quantidades, por cátions como o potássio, o cálcio e o magnésio, sendo que sua riqueza nutricional está ligada à origem do mosto.

Os mesmos autores relatam grandes desequilíbrios ambientais causados por esta disposição em mananciais e águas superficiais, causando a mortandade de peixes e outros animais. Em função disso há preocupação com o teor químico e biológico da vinhaça e o impacto causado ao meio ambiente pela sua disposição indiscriminada e inadequada. A partir dessas catástrofes surgiu o interesse de ambientalistas e estudiosos e, em alguns casos, das empresas causadoras, em reduzir os danos causados por detritos resultantes da produção de açúcar e, posteriormente, da produção de álcool.

Freire e Cortez (2000) afirmam que a disposição dos resíduos da vinhaça de forma incorreta e indiscriminada na natureza pode causar a contaminação dos recursos hídricos, além de alterar as propriedades físicas e químicas do solo. A preocupação em reduzir ou neutralizar os impactos causados pela disposição deve ser uma preocupação preliminar de quem se propõe beneficiar cana, especialmente na produção de etanol e da cachaça.

A vinhaça é constituída de um líquido de cor marrom escuro, mal cheiroso, de natureza ácida, de elevada Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), corrosivo e altamente poluidor (CRUZ et al., 2008). É composta de aproximadamente 93% de água e 7% de sólidos. Dos sólidos, 75% são representados por matéria orgânica e 25% por compostos minerais diversos.

Freire e Cortez (2000) sustentam que a disposição destes resíduos, em função de suas características fisico-químicas, de forma indiscriminada e sem controle no ambiente natural, pode causar severos impactos sobre o meio. Gloeden et al. (1991) e Hassuda (1989) destacam os constituintes da vinhaça que representam maior risco aos mananciais subterrâneos de água.

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O cloro, o carbono, o amônio e o nitrogênio orgânico podem ser responsáveis, quando atingirem águas subterrâneas, por comprometerem a qualidade desses recursos hídricos; infiltrados no solo podem liberar em águas subterrâneas, a amônia, o magnésio, o alumínio, o ferro, o manganês e também matéria orgânica.

Os mesmos elementos químicos encontrados na vinhaça e que lhe conferem a condição de poluente, aplicados de forma controlada podem apresentar benefícios ao solo como fertilizante. Entretanto, a alta concentração deste resíduo em limitado espaço físico pode causar desequilíbrio geofísico do solo, além contaminar águas superficiais e profundas em função de suas elevadas Demandas Biológicas de Oxigênio (DBO) e Demandas Químicas de Oxigênio (DQB), ressalta Gloeden et al. (1991). Outro fator que causa desequilíbrio ambiental é a falta de controle e a elevada temperatura de saída dos destiladores dos resíduos depositados na natureza (SILVA, GRIEBELER; BORGES, 2007).

Freire e Cortez (apud SILVA; GRIEBELER; BORGES, 2007) afirmam que o alto poder fertilizante em função de sua composição química e biológica contrasta com a alta potencialidade poluidora e nociva à fauna, flora, microfauna e microflora das águas doces, além de afugentar a fauna marinha que vem às costas brasileiras para procriação.

Hassuda (1989) apresenta as características do composto sólido da vinhaça. Destaca quantidades significantes de potássio, de nitrogênio, fósforo, cálcio e magnésio. Também destaca a presença de zinco, ferro, manganês e cobre, porém estes em quantidades menores.

Para Silva, Griebeler e Borges (2007), a vinhaça é caracterizada como o efluente de destilarias com alto poder poluente e alto valor fertilizante. O poder poluente, cerca de 100 vezes maior que o do esgoto doméstico, decorre de sua riqueza de matéria orgânica, baixo pH, elevada corrosividade e altos índices de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO).

O quadro 1 apresenta a caracterização físico-química da vinhaça elaborado por Elia Neto e Nakahodo (1995), a partir de um estudo analítico de 64 amostras coletadas em 28 usinas no Estado de São Paulo. Conforme os autores, o teor ácido da vinhaça provoca, a partir da atividade microbiana por ela desenvolvida, a redução da acidez dos solos aonde são dispostos estes dejetos.

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Quadro 1. Caracterização físico-química da vinhaça. Fonte: Elia Neto e Nakahodo (1995).

Glória e Orlando Filho (1983) enumeram os seguintes efeitos da disposição da vinhaça no solo: a) elevação do pH; b) aumento da disponibilidade de alguns íons; c) aumento da capacidade de troca catiônica (CTC); aumento da capacidade de retenção de água; e e) melhoria da estrutura física do solo. Sustentam ainda que a vinhaça é agente de aumento da população e capacidade microbiana do solo.

A matéria orgânica pode ser considerada fator importante na produtividade agrícola devido à influência que exerce sobre as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo.

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No momento em que esta matéria orgânica contida na vinhaça é incorporada ao solo, ela é colonizada por fungos, que a transformam em humos, neutralizando a acidez do meio e preparando, deste modo, o caminho para a proliferação bacteriana (SILVA; GRIEBELER; BORGES, 2007). Estes autores relatam a existência de estudos que comprovam o aumento da eficiência dos fertilizantes aplicados em associação com a vinhaça, favorecendo o desenvolvimento de microrganismos que atuam na mineralização e imobilização do nitrogênio e sua nitrificação, desnitrificação e fixação biológica, assim como de microrganismos participantes dos ciclos biogeoquímicos de outros elementos.

De acordo com Neves, Lima e Dobereiner (1983), a distribuição de vinhaça nos solos e sua incorporação com a matéria orgânica podem permitir condições físicas adequadas, capazes de promover maior disponibilidade e mobilidade de nutrientes em função de a vinhaça apresentar-se de forma líquida e, portanto, mais solúvel. No entanto, Lyra, Rolim e Silva (2003) advertem para o aumento da salinização dos solos a partir da utilização da vinhaça associada com outros materiais orgânicos disponíveis no próprio solo e no caso da colheita da cana-de-açúcar sem a queima da palha, o que resulta em abundante volume de matéria orgânica. A salinização seria o resultado da aplicação prolongada, por muitos anos, de vinhaça nos solos agrícolas e a reduzida lixiviação de nutrientes, ou seja, o baixo arraste de sais minerais não absorvidos pelas plantas e, por consequência, o acúmulo residual nos solos superficiais.

Outro problema correlato à mineralização deste efluente nos solos diz respeito à possibilidade de contaminação do lençol freático por nitrato. Madejón et al. (apud SILVA; GRIEBELER; BORGES, 2007) observam que embora os teores de nitrato se elevem nos solos a partir da retirada da vegetação, por advento da colheita, a lixiviação, ou seja, o arraste de nitratos para as camadas mais profundas é irrelevante e inexpressivo, tendo em vista que estes permanecem em camadas pouco profundas do solo. Os autores chamam a atenção para a necessidade de evitar a utilização de áreas próximas às nascentes d’água ou locais com lençol freático superficial.

A preocupação com a contaminação de fontes de água superficiais e profundas é crescente e constante, assim como o aumento da demanda pelos combustíveis renováveis não fósseis que provocaram o aumento da produção de etanol e ou a transformação da cana-de-açúcar e outros derivados que apresentam a vinhaça como resíduo industrial. Canellas et al. (2003) relacionam a utilização da vinhaça e a contaminação de águas subterrâneas por potássio, decorrente do processo de lixiviação como pouco expressiva. Cunha et al. (apud SILVA; GRIEBELER; BORGES, 2007) já afirmavam muito antes que o acúmulo dos níveis

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