• Nenhum resultado encontrado

1.5 NORMATIZAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DO MANEJO DE RESÍDUOS DE

1.5.2 Destino do bagaço da cana-de-açúcar

O bagaço proveniente da industrialização da cana-de-açúcar em seus derivados sempre representou preocupação para as empresas produtoras em função do significativo volume, que representa 25% a 30% da cana processada. Esta preocupação se deve muito mais pelo espaço ocupado pelo resíduo do que pelo seu potencial contaminante,

Botão e Lacava (2003) afirmam que o resíduo proveniente da moagem da cana não apresenta impactos significativos ao meio ambiente. Composto basicamente por fibras de celulose, o bagaço apresenta degradação relativamente rápida, em média de dois a três anos, graças à ação macro e microbiana em condições ambientais ideais de umidade, temperatura e insolação. Algumas áreas utilizadas para sua decomposição, no entanto, tendem a ficar inutilizadas para o cultivo por tempo relativamente maior em função do excesso de matéria orgânica remanescente e de difícil remoção.

A utilização do bagaço de cana-de-açúcar como alimentação de ruminantes, na forma

in natura, apresenta restrições devido à baixa digestibilidade em função do grande volume de

fibras lignocelulósicas que compõem este volumoso (LACORTE; BOSE; RIPOLI, 1989). A sua utilização para consumo animal demanda a necessidade de aumentar a digestibilidade e a palatabilidade destes materiais. O bagaço oriundo das destilarias de cachaça, muito em função da utilização de tecnologias menos avançadas para extração do caldo da cana, possui um teor de palatabilidade melhor do que aqueles materiais provenientes de usinas de açúcar e álcool, de porte maior e que utilizam tecnologias mais avançadas. Estas realizam moagem da cana triturada e a posterior lavagem a quente, para uma última prensagem, determinando aproveitamento dos materiais muito superior às pequenas beneficiadoras. Enfim, a falta de palatabilidade e digestibilidade deve ser compensada por processo químico que transforme estes materiais em condições de uso como ração animal. Uma das formas mais utilizadas, de acordo com Lacorte, Bose e Ripoli (1989), é a auto-hidrolização do bagaço mediante um processo que submete estes materiais a uma alta pressão e alta temperatura por determinado

tempo, para em seguida promover uma rápida descompressão. De acordo com os autores, o bagaço que passou pelo processo de auto-hidrolização apresenta, se comparado com o bagaço

in natura, uma diminuição considerável do teor de Fibra Detergente Neutro (FND). Isso está

relacionado, provavelmente, ao desaparecimento da hemicelulose; acréscimo no teor de extrato etéreo; manutenção inalterada dos níveis de celulose, lignina e proteína; redução da fibra bruta e incremento no teor extrativo não nitrogenado.

Lacorte, Bose e Ripoli (1989) mencionam certos limites para o resultado conclusivo de utilização do BAH como ração animal, podendo variar entre 32% e 60% da matéria seca da ração a ser administradas aos bovinos.

Há bastante tempo o bagaço já vem sendo utilizado como fonte de energia nas usinas produtoras de derivados da cana-de-açúcar. Batistelle, Marcílio e Lahr (2005) observam que o bagaço tem sido importante fonte de combustão em usinas geradoras de energia que movimentam a força propulsora de moendas e outras utilizações que geram o bagaço. Botão e Lacava (2003) enumeram várias formas de utilização de bagaço de cana para geração de energia: como meio de combustão das caldeiras que produzem energia térmica que movimenta os destiladores que, por sua vez, transformam o mosto1, ou ainda como energia térmica no processo de secagem e desidratação do açúcar nas usinas. A energia térmica, a princípio, pode ser transformada em energia hidráulica que passa, através da pressão do vapor d’água, a movimentar turbinas e geradores, transformando-a em energia elétrica.

Segundo Botão e Lacava (2003), o processo de combustão desse bagaço, sob a ótica do impacto ambiental, possibilita o aumento da poluição ambiental pela descarga de dióxidos e monóxidos de carbono na atmosfera. Ainda assim os autores enaltecem a menor carga tóxica destes poluentes se comparado àqueles produzidos pela queima de combustíveis fósseis, muito superiores aos produzidos pela energia oriunda das hidroelétricas.

Botão e Lacava (2003) observam que, apesar dos impactos causados pelos poluentes gasosos depositados na atmosfera e das cinzas resultantes a serem utilizadas em solo agrícola para reduzir a acidez, a utilização do bagaço tem se mostrado uma alternativa econômica para gerar energia térmica e hidráulica nas usinas e destilarias. O impacto ao meio ambiente tende a ser amenizado quando analisada a não utilização de combustíveis fósseis e sua elevada carga poluente ou a manutenção de florestas, ainda que resultantes de reflorestamentos, que deixam de ser utilizadas para produzir energia nas usinas e destilarias.

1 Mosto: produto obtido a partir do caldo da cana-de-açúcar fermentado, cujo processo de manufatura resultará

Batistelle, Marcílio e Lahr (2005) estudam a utilização do bagaço, aproveitando suas propriedades lignocelulósicas para, associadas com as folhas do bambu da variedade

Dendrocalamus giganteus, produzirem chapas de aglomerado. A alternativa de utilização do

bagaço da cana-de-açúcar associada ao bambu representa ganhos ambientais incalculáveis. A disponibilidade e a abundância de materiais, em função da adaptabilidade climática e a facilidade de produção tanto da cana quanto do bambu, oferecem a perspectiva de uma fórmula de sucesso na manufatura de chapas de aglomerado.

Um dos fins mais comuns dados ao bagaço da cana-de-açúcar está relacionado à produção de papel, seja por meio de modernos processos, transformando os dejetos em papeis de alta qualidade, seja através de utilização de técnicas artesanais para produzir papel decorativo, ambos com grande demanda no mercado consumidor. Associar a preocupação ambiental e o aproveitamento de resíduos para atender uma demanda de mercado cumpre dupla função, com eficácia, no campo econômico e no campo socioambiental.