• Nenhum resultado encontrado

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO POTENCIAL DE IMPACTO AMBIENTAL DA

3.1.4 Aspectos relativos à colheita da cana-de-açúcar

Nos plantios convencionais, a eliminação da palha do canavial pelo fogo aumenta o rendimento de corte e facilita o manejo pelos cortadores. Como desvantagens, Vacaro e Lopes (2003) enumeram a perda de açúcares nos colmos, aumento das impurezas minerais (terra, areia, entre outros) aderentes aos colmos e, dependendo das condições de umidade e temperatura, pode haver contaminação microbiana.

O impacto produzido pela disposição no meio ambiente de resíduos produzidos pelas queimadas nas lavouras de cana, de acordo com Zancul (1998), pode determinar a mudança do microclima das zonas canavieiras, afetando o ciclo hidrológico e a incidência de radiação solar, o aumento de incidência de doenças respiratórias na população da região, danos à flora e a fauna, prejuízos à estética do meio ambiente, aumento da erosão em razão do solo estar descoberto e desprotegido, o desequilíbrio ecológico pela mortandade de insetos, aves, répteis e plantas e o acúmulo dos sedimentos produzidos pela fuligem oriunda das queimadas, que se espalha causando muitos transtornos ao cotidiano das pessoas que vivem nas proximidades de cultivos.

Uma das possíveis soluções para reduzir o volume das queimadas nas lavouras canavieiras está na mecanização do processo de colheita, o que requer um investimento inicial em máquinas e equipamentos. Entretanto, há que se avaliar e discutir a empregabilidade da mão de obra ocupada a partir da colheita manual da cana. Todo o processo de colheita mecanizado deixaria de empregar um contingente humano na execução das tarefas de corte, carga e descarga, provocando por consequência um desequilíbrio social, conforme salienta Ribeiro e Ficcarelli (2009).

Neste tocante, foi realizado o levantamento minucioso dos processos produtivos na produção de etanol e cachaça na região das Missões do Rio Grande do Sul. Os dados relativos ao corte procuraram identificar se os serviços são realizados pelas unidades produtoras ou subcontratados. Esta informação pode determinar, em função dos custos mais elevados na colheita da cana crua, que se passe à colheita da cana queimada. A coleta de dados identificou uma expressiva proporção de cana colhida com queima da palha. Na área de cultivo que atende a destilaria de álcool, a cana em sua totalidade é colhida pela utilização desta técnica, como forma de facilitar a colheita e reduzir os custos operacionais nesta etapa.

A utilização de máquinas colhedoras é uma das alternativas viáveis para a colheita da cana sem a queima da palha, atendendo assim a demanda pela solução de colheita com menor custo e menor impacto sobre o meio. Se for considerado o alto custo de aquisição das

máquinas colhedoras como investimento inicial, os benefícios financeiros proporcionados podem compensar este investimento inicial, especialmente se forem financiadas com recursos de longo prazo. Neste caso há que se considerar que a redução no impacto pela emissão de poluentes na atmosfera representa uma vantagem ambiental importante, no entanto, a preocupação é com o impacto social pela redução de empregabilidade da mão de obra, quando o trabalho dos obreiros é substituído pela mecanização do processo de colheita.

De outro modo, a erradicação das queimadas sem a consequente mecanização forçaria a realização da colheita manual. Esta metodologia, sob o ponto de vista social é ainda mais impactante, de acordo com Ribeiro e Ficarelli (2009). O nível de esforço despendido pelo trabalhador na realização da colheita manual da cana crua é muito superior ao esforço para a colheita da cana queimada. O volume de materiais tende a ser, em variedades sem desfolha natural, bem menor que o método da colheita de cana queimada. A redução do volume de materiais processados por cada trabalhador demandaria um número maior de operários para esta tarefa, considerando a mesma área. Este aumento do custo da mão de obra impactaria com o aumento do custo da colheita e, por consequência, do custo final de produto industrializado, neste caso o álcool ou a cachaça.

Há que considerar também a já escassa mão de obra no meio rural, em função das baixas remunerações, condições ambientais de trabalho e, principalmente, da descontinuidade de demanda, cuja safra tem duração média de seis meses, exemplo típico dos serviços prestados no corte da cana. A demanda não atendida de mão de obra rural foi apontada pelos produtores de cachaça como o fator limitante da expansão da produção. A subcontratação de trabalhadores para a colheita sofre restrição, principalmente pela dificuldade da colheita da cana crua, razão que força alguns produtores de cachaça, em pequenos talhões, a praticar a queimada para facilitar a colheita subcontratada.

Os dados levantados também revelam a prática da queimada entre os produtores de cachaça, que em tese operam com áreas de cultivo menores e que, em função destas características poderiam realizar a colheita manual sem a queima. Inclusive é recomendação técnica para a produção de cachaça artesanal de qualidade superior, que seja manufaturada a partir de cana colhida sem queima (RIBEIRO, 1997).

Chama atenção a utilização da prática da queima da palha pelas pequenas destilarias de cachaça. Os dados do diagnóstico mostram que 18% dos estabelecimentos utilizam a queima dos talhões para facilitar a colheita. Alegam os empreendedores que a falta de disponibilidade de mão de obra precisa ser compensada pela prática da queimada, com o

objetivo de atender a demanda no volume adequado para que não interrompa o fluxo de produção.

A figura 6, a seguir, apresenta um resumo da modalidade de mão de obra utilizada na usina de álcool e nas destilarias de cachaça que compõem a amostra. A partir desta visualização é possível perceber o grau de dependência total da usina e a dependência relativa das destilarias em relação à utilização de mão de obra de terceiros, subcontratada para os serviços de corte. O aspecto é realçado por todos os entrevistados como o fator mais vulnerável da produção, tanto de álcool quanto de cachaça e outros derivados, os quais dependem da cana de açúcar como matéria prima.

Figura 6. Emprego de mão de obra própria ou contratada para corte de cana destinada a destilarias e usina na Região Noroeste-Missões (RS), 2012.

Fonte: dados da pesquisa (2012).

A usina tem a totalidade dos serviços de colheita da cana atendidos por serviços subcontratados. Em relação às destilarias, 58% utilizam serviços de terceiros para as operações de colheita. Estes dados alertam para dependência da mão de obra de terceiros no processo produtivo e as limitações de aumento de produção, fato salientado por muitos entrevistados.

A falta de mão de obra na colheita da cana, o alto custo para o manejo da cana crua, aliado ao impacto das queimadas são questões apontadas pela maioria dos produtores de cachaça como de resolução relativamente fácil. A pesquisa e implantação de variedades com desfolha natural representam, em tese, a possibilidade de redução drástica dos custos com

mão de obra de colheita em função da possibilidade de maior rendimento de corte por operário/dia, diminuindo assim a demanda de maior número de trabalhadores.

É unanime dentre os entrevistados que a expansão da produção requer a seleção de variedades que apresentem maior facilidade da colheita. A seleção para o plantio de variedades com desfolha natural e caule ereto pode representar a redução do volume de produção a campo em razão da falta de melhor adaptação ao clima e solo, mas poderão apresentar compensação financeira pela redução de custos de colheita (RIBEIRO, 1997).

3.1.5 Disposição espacial das unidades produtoras de álcool e cachaça em relação aos