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3.1 CARACTERIZAÇÃO DO POTENCIAL DE IMPACTO AMBIENTAL DA

3.1.1 Estimativa do potencial de produção de dejetos

A mensuração de potencial produtivo do volume de cana produzido possibilita estimar o volume de dejetos líquidos, sólidos e gasosos resultantes do processo de manufatura. Entre os estabelecimentos produtores de cachaça foram identificados potenciais produtivos que variam entre 8.000 e 120.000 litros. Somados os volumes de produção de cana destinados à produção de cachaça constatou-se o potencial de produção de 1.490.000 litros pelo conjunto dos 48 estabelecimentos produtores, o que representa uma média de 31.042 litros por estabelecimento produtor.

Já o potencial produtivo da usina de álcool é de 8.500.000 de litros por ano. A avaliação do potencial de produção considerou as dimensões dos talhões de cultivo de cana, o potencial produtivo da cultura em relação ao tempo de implantação, as condições de fertilidade dos solos, a adubação de plantio e de manutenção, assim como as características edafoclimáticas que interferem na adaptabilidade da cultura e responsáveis diretas pelo volume de cana produzido. Neste sentido, foi possível identificar produções extremas dos talhões avaliados de até 106.667 toneladas de cana por hectare em contraste com o volume de 32.000 toneladas em outros talhões.

Com base nos dados levantados que quantificam as potencialidades de produção é possível dimensionar o volume de dejetos a serem produzidos em cada safra. De acordo com estes dados e respaldados por Silva, Griebeler e Borges (2007), é possível estimar o volume de dejetos gerados em cada safra em função do potencial de produção. Os autores afirmam que para cada litro de etanol produzido restam entre 10 e 18 litros de vinhaça líquida. Já Oliveira et al. (2009) sustentam que o volume residual da vinhaça na produção de cachaça artesanal ou industrial, libera, em média, entre 8 e 10 litros, para cada litro de produto final manufaturado. Desta forma, e baseado nestas premissas, estabeleceu-se para fins de análise o valor médio do volume de emissão de dejetos de 13 litros de vinhaça para cada litro de etanol produzido e o volume médio de 9 litros de vinhaça para cada litro de cachaça produzido.

Assim, considerando o volume total da produção de etanol e de cachaça nas unidades produtoras que fizeram parte da amostra é possível estimar o volume de dejetos por safra, que

totaliza 110.500.000 litros de vinhaça (8.500.000 litros de álcool x 13 litros de vinhaça) a partir da produção de álcool e, na produção de cachaça, 13.410.000 litros de vinhaça por safra (1.490.000 litros de cachaça x 9 litros de vinhaça), como apresenta oQuadro3, a seguir.

Potencial produtivo Álcool Cachaça

Produtos acabados (l) 8.500.000 1.490.000

Vinhaça Volume médio/litro de produto acabado 13 litros 9 litros

Volume total (l) 110.500.000 13.410.000

Volume de materiais (t) 140.000 13.810

Bagaço Percentual médio de resíduos/kg de cana 30% 35%

Volume total de resíduos (kg) 42.000.000 4.833.500 Quadro 3. Produção de resíduos de cana em função do potencial produtivo da cana. Região Noroeste-Missões (RS), 2012.

Fonte: dados da pesquisa (2012).

O processamento da cana tem como importante subproduto o bagaço, podendo representar 30% da cana moída. Sua composição é predominantemente fibra e resíduos de açúcar (VACARO; LOPES, 2003).

A produção de bagaço também leva em consideração o volume de materiais produzidos em cada safra. Em dados coletados nos estabelecimentos pesquisados – usina de álcool e destilarias de cachaça – levantou-se o percentual médio de bagaço produzido a cada tonelada de cana esmagada. Assim, foi possível estabelecer uma média de 30% e 35% de bagaço para a usina e para as destilarias, respectivamente. A diferença de percentual se deve à melhor tecnologia utilizada pela usina para extração do caldo da cana, com sistema de trituração e lavagem, enquanto que na maioria das destilarias o processo de moagem é bastante rudimentar, com baixo aproveitamento de materiais, alguns inclusive com produção de bagaço superior a 40%. No geral, a média entre as destilarias se situa em 35%. Assim, o volume total estimado de bagaço produzido por safra na usina é de 42.000.000 quilos (140.000.000 kg de cana x 30%) e entre as destilarias de cachaça, de 4.833.500 quilos (13.810.000 kg de cana x 35%), conforme Quadro 2. A massa média estimada de bagaço, resultante do processamento na usina e nas destilarias, não é o melhor indicador de impacto em razão da baixa densidade do material, expressa em kg por metro cúbico, que acaba por resultar em volume expressivo, com efeito visual impactante.

Outro aspecto importante evidenciado é a qualidade dos materiais vegetais produzidos na região e que abastecem a usina e as destilarias. A produção de etanol ou cachaça terá maior rendimento quanto mais qualidade tiverem os materiais empregados no processamento. Comparada com a média alcançada na região Sudeste do Brasil, a baixa produção média por área identificada na pesquisa é compensada pelo alto teor de açúcar da cana, mensurado pelo

grau Brix. A seleção de variedades melhor adaptadas, a adubação de plantio e de manutenção, a colheita de talhões com maturação homogênea são apontados pelos proprietários dos estabelecimentos como determinantes para que o material tenha a qualidade esperada.

O clima é outro fator fundamental responsável por elevar a qualidade da cana-de- açúcar produzida na região Sul do Brasil, especialmente na região Noroeste-Missões, onde se encontra a usina de álcool e as destilarias. O moderado volume pluviométrico da estação de verão, o aumento das chuvas no outono e o frio do inverno são ideais para o desenvolvimento de alto teor de açúcares na cultura. Especialmente o frio do outono e inverno determina uma maturação mais uniforme dos talhões pela redução da atividade metabólica da planta. Assim, a colheita ocorre quando todos os colmos estiverem maduros, independendo inclusive da época de brotação e do porte individual de cada colmo. Desta forma, facilmente se atinge a média de 21º Brix, determinando a necessidade de diluição do caldo em água, tanto para a produção de álcool quanto para a produção da cachaça, a fim de proporcionar um melhor aproveitamento da fermentação do mosto, que transformará os açúcares em álcool.

O maior ou menor potencial produtivo de um talhão guarda relação direta com o tempo de implantação e estabelecimento da cultura. Conforme observam Vacaro e Lopes (2003), culturas com maior tempo de implantação apresentam produção decrescente com o passar do tempo, em função da depleção o desgaste do solo motivado pela carência de nutrientes, especialmente o potássio, acentuando-se a partir do quarto ano de implantação. Assim, a redução do volume de produção geralmente é compensada pelo plantio em novas áreas, submetendo as áreas antigas à rotação de culturas, com implantação de leguminosas.

O elevado custo de implantação das lavouras de cana-de-açúcar, no entanto, concorre com a manutenção dos talhões por maior tempo, além dos quatro anos recomendados para rotação de culturas. Na prática, a pesquisa detectou que o plano de assistência técnica da cooperativa, responsável pela industrialização da usina de álcool, é instrumento de persuasão para a produção de maior volume de cana de açúcar por área cultivada. Assim, motivados por incentivos financeiros, tais como maior remuneração proporcional por hectare a partir do aumento de produção e pelos financiamentos para custear novos plantios, além da disponibilidade de máquinas e equipamentos adequados para efetuar esta renovação de culturas o em períodos de tempo menores, os produtores de matéria de cana respondem positivamente, investindo no plantio em áreas nobres, solos melhor estruturados e utilização de fertilizantes na adubação de plantio e de manutenção e renovação mais frequente de canaviais com produção decrescente.

Geralmente emprega-se no plantio a adubação química e a manutenção é realizada com adubação química combinada à fertirrigação com aplicação da vinhaça. Na prática, e de acordo com informações recolhidas na pesquisa, a colheita fora de época provoca atraso da rebrota dos talhões e prejudica o volume da próxima safra. Pelo menos 90% dos produtores de cachaça afirmaram categoricamente que estendem o período de produção de junho a novembro, e que percebem que o atraso no corte é um dos principais fatores de redução do volume de produção na próxima safra. O Quadro 4 reflete o exposto em relação à maior média de produção entre os produtores de cana que atendem a usina e o tempo médio de renovação dos canaviais para esta categoria. No caso desses produtores, o tempo médio de renovação dos cultivos é de quatro anos. Nos estabelecimentos de produção de cachaça identificou-se o tempo médio de renovação dos canaviais a cada seis anos.

Estabelecimento produtor Longevidade média dos canaviais (anos)

Usina 4

Destilarias 6

Quadro 4. Tempo médio de duração dos canaviais destinados a destilarias de cachaça e produção de etanol. Região Noroeste-Missões (RS), 2012.

Fonte: dados da pesquisa (2012).

Estima-se que a redução da produção média por hectare dos produtores de cachaça em relação aos produtores de cana que atendem à usina se deva, justamente, em razão da renovação da cultura na forma de novos plantios. Se for considerado que a colheita com a queima da palhada condiciona uma degradação gradual do solo, conforme defendem Vacaro e Lopes (2003), a produção que atende a usina tenderia a ter seu volume reduzido.