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3.1 CARACTERIZAÇÃO DO POTENCIAL DE IMPACTO AMBIENTAL DA

3.1.6 Características e destino do bagaço produzido

A coleta dos dados relativos à moagem teve duplo propósito: o de identificar o aproveitamento dos materiais processados na moenda, em função do volume percentual de caldo extraído, e a qualidade do bagaço produzido, cujo percentual de umidade poderá determinar sua forma de utilização em diferentes processos.

Foram identificadas três modalidades distintas de moagem: moagem precária – aquela cujo percentual de aproveitamento é inferior a 60%, ou seja, a cada tonelada moída são obtidos, no máximo, 600 litros de caldo. Na segunda classificação são obtidos percentuais entre 600 e 700 litros de caldo por tonelada de cana processada. Por fim, o processo mais adequado utiliza a cana triturada para o esmagamento, com a posterior lavagem a quente do bagaço. Neste caso o índice de extração é máximo, sofrendo variação apenas em relação à qualidade da cana, tendo em vista que algumas variedades são mais abundantes em fibras, o que resulta numa menor quantidade de caldo.

A maior ou menor presença de caldo no bagaço pode determinar o destino de sua utilização. Bagaços mais impregnados de caldo, com percentual maior de umidade, dificilmente serão utilizados como meio de combustão nas caldeiras ou a fogo direto, ou ainda para geração de energia térmica ou a partir desta, em energia elétrica, sem antes passarem por processo de estabilização para que reduzam seu percentual de umidade. Esses materiais in

natura estão sujeitos ao processo fermentativo que ocorre no início do processo de

decomposição. Já o bagaço com menor percentual de caldo pode ser utilizado com facilidade como meio de combustão na geração energia térmica, especialmente demandada no processo de destilação, tanto na produção de cachaça quanto na produção de álcool.

A utilização do bagaço como meio de combustão, por exemplo, reduz o volume necessário de lenha. A geração de energia térmica pode poupar florestas de árvores nativas ou reflorestadas. Justifica-se, portanto, a identificação dos meios de combustão utilizados pelas usinas e/ou destilarias na geração da energia térmica demandada nos processo produtivos.

Neste tocante, o estudo identificou que 90,09% do volume total de cana processada são submentidos à moagem lavada, e que 5,52% dos materiais são submetidos à moagem precisa, com a produção de bagaço em condições de ser utilizada como meio de combustão, seja como geradora de energia térmica na própria unidade beneficiadora, ou utilizada como meio para produzir energia térmica a ser transformada em energia elétrica na movimentação de turbinas, bastante difundidas no atual momento da alta demanda energética mundial. A usina de álcool é responsável pela produção de 100% do bagaço lavado a quente. A moagem precisa é realizada pelas produtoras de cachaça que utilizam equipamentos mais evoluídos tecnologicamente e mais bem ajustados, capazes de extrair maior percentual de caldo e produzir bagaço com menor percentual de umidade. Os resíduos produzidos nestas duas situações são utilizados potencialmente na produção de energia e sem nenhum tratamento adicional para sua estabilização.

Os dados provenientes da pesquisa também identificaram um percentual mínimo de moagem precária, em torno de 4% do total do volume de bagaço produzido. Estes materiais dificilmente poderão ser utilizados como meio de combustão diretamente e in natura, sem estabilização, por apresentarem um percentual de umidade que inviabiliza sua utilização imediata para tal fim.

A figura 8 apresenta uma síntese dos processos de moagem da cana e a resultante qualidade do bagaço produzido, o que possibilita sua utilização como meio de combustão ou, mediante operação adicional de estabilização, sua utilização posterior como meio de combustão, ou ainda, para simples distribuição em solo agrícola com o mínimo impacto.

Figura 8. Modalidade de moagem da cana destinada à produção de álcool e cachaça na Região Noroeste-Missões (RS), 2012.

Fonte: dados da pesquisa (2012).

A alternativa preconizada inclusive pelos órgãos de controle ambiental é a estabilização do bagaço em ambiente coberto para que seja reduzido seu percentual de umidade e, assim, possa ser utilizado como meio de combustão. Haverá, neste caso, um custo adicional de armazenagem e manuseio dos materiais. Uma alternativa é a utilização do bagaço para disposição em solo agrícola. Para tanto é recomendada a estabilização dos materiais em abrigo fechado para evitar a fermentação in loco, o que poderá causar impacto à biota do solo, podendo em seguida ser disposto em solo agrícola, em quantidades adequadas, como forma de cobertura.

Além da possibilidade potencial de utilização do bagaço de cana como meio de combustão, o mesmo foi identificado como fonte geradora de energia, seja pela utilização de caldeira a vapor ou a fogo direto. O avanço tecnológico que introduziu a caldeira a vapor na capacidade instalada das usinas e destilarias abriu a possibilidade de utilização do bagaço de cana como meio de combustão com maior eficiência, em larga escala, substituindo outras fontes alternativas, especialmente a lenha, com facilidade, praticidade e sem custos adicionais.

Constatou-se, porém, a baixa utilização do bagaço como meio de combustão. Apesar de ser utilizado por algumas pequenas destilarias de cachaça mesmo em sistema de fogo direto, a utilização como meio de combustão ainda é limitada a poucas experiências. A usina de álcool utiliza o bagaço como meio de combustão, substituindo parcialmente a lenha no processo de produção. Estima-se que 40% do bagaço produzido na usina de álcool seja utilizado com fonte de energia. Entre as destilarias de cachaça, apenas uma faz a utilização

intensiva do bagaço como meio de combustão, em substituição à lenha. Isso se deve à associação tecnológica pelo uso da caldeira de vapor adaptada a sistema de ventilação forçada. Neste caso, cerca de 50% do bagaço produzido é utilizado com meio de combustão, representando entre 60% e 70% dos meios totais de combustão utilizados pela destilaria em substituição à lenha, constituindo-se em fonte alternativa de energia. Apenas esta destilaria utiliza caldeira a vapor na destilação. As demais destilarias utilizam sistema de fogo direto para destilação e por esta razão empregam lenha como fonte de energia e, eventualmente, adicionam bagaço ao fogo, mas em percentuais insignificantes.

A figura 9 apresenta as informações levantadas em relação à utilização do bagaço como meio de combustão. Foi possível identificar a utilização desta fonte alternativa de energia na totalidade da produção na usina. Por outro lado, 27% do potencial produtivo das destilarias de cachaça utilizam a mistura de lenha e bagaço como meio de combustão.

Figura 9. O uso do bagaço como meio de combustão na usina de álcool e nas destilarias de cachaça no Região Noroeste-Missões (RS), 2012.

Fonte: dados da pesquisa (2012).

Uma das possíveis explicações para a reduzida utilização do bagaço como fonte de combustão é a precariedade tecnológica das capacidades instaladas. A única destilaria a utilizar esta alternativa para produzir energia térmica no processo de destilação possui uma caldeira de vapor. Esta caldeira está adaptada à ventilação forçada, possibilitando um melhor aproveitamento do bagaço, mesmo quando este apresenta algum percentual de umidade, no entanto, não muito elevado.

A possibilidade de utilização do bagaço como fonte alternativa de energia é enaltecida pela maioria dos proprietários de destilarias de cachaça. Sua inexpressiva utilização e baixa eficiência nos casos citados, no entanto, está condicionada à prática de destilação a fogo direto, processo que limita a eficiência desta fonte de energia. Das 48 destilarias de cachaça analisadas, 47 delas utilizam esta tecnologia de produção.