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Acidentes de trânsito causados por embriaguez: dolo ou culpa

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

EVERTON MAYA

ACIDENTES DE TRÂNSITO CAUSADOS POR EMBRIAGUEZ: DOLO OU CULPA

Santa Rosa (RS) 2015

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EVERTON MAYA

ACIDENTES DE TRÂNSITO CAUSADOS POR EMBRIAGUEZ: DOLO OU CULPA

Monografia final de Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DEJ- Departamento de Estudos Jurídicos.

Orientador: Fernando Antonio Sodré de Oliveira

Santa Rosa (RS) 2015

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Dedico este trabalho a minha família pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, por estar sempre ao meu lado, guiando meus passos e mostrando-me o caminho.

Aos meus pais, pelo exemplo de honestidade e, principalmente, pelo legado da educação.

Enfim, a todas as pessoas que, de uma forma ou outra, estiveram presentes na minha vida, acreditando em mim e proporcionando momentos inesquecíveis, o meu sincero

MUITO OBRIGADO!!!

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“Só engrandecemos o nosso direito à vida Cumprindo o nosso dever de cidadãos do Mundo.”

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RESUMO

As vias públicas de trânsito constituem um espaço de intensas relações interpessoais onde frequentemente ocorrem delitos, ou seja, a violação de bens penalmente protegidos. O presente trabalho monográfico centra-se na discussão e identificação das hipóteses de enquadramento do dolo eventual e culpa consciente nos crimes de homicídio e lesões corporais no trânsito quando o motorista se encontra embriagado. Tanto o dolo eventual quanto a culpa consciente trazem em seu bojo a previsibilidade do resultado, sendo que no primeiro caso, o agente não desiste de sua ação mesmo sabendo do dano que tal atitude venha a causar, não se importando com o resultado, enquanto que, na culpa consciente, o condutor prevê como possível resultado, mas acredita que sua sorte ou perícia, para evita-lo. Para a realização deste estudo, desenvolve-se a metodologia de pesquisa bibliográfica, utilizando-se de diferentes visões doutrinárias, e principalmente o Código de Trânsito Brasileiro, e as Leis que o alteraram. Constatou-se que o legislador tem se esforçado no sentido de apresentar Leis que coíbam a prática de direção sob efeito de álcool ou outras substâncias de efeitos análogos. Neste sentido o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) apresenta vários dispositivos de penalização ao condutor infrator. No entanto, mesmo assim, a maior parte das punições estão aquém à expectativa da sociedade.

Palavras-chave: Crimes de trânsito. Homicídio. Lesões corporais. Dolo eventual. Culpa consciente.

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ABSTRACT

Traffic thoroughfares are an area of intense interpersonal relationships where crimes often occur, ie, the violation of criminally protected goods. This monograph focuses on discussion and identification of framing hypotheses of possible fraud and conscious guilt in the crimes of murder and bodily injury in traffic when the driver is intoxicated. Both the eventual intention as the conscious guilt bring in its wake the predictability of the outcome, and in the first case, the agent does not give up its action even though the damage that such an attitude will cause, not caring about the result, while in conscious guilt, the driver provides as a possible result, but believes his luck or skill, to avoid it. For this study, we develop the literature search methodology, using different doctrinal views, and especially the Brazilian Traffic Code, and laws that changed. It was found that the legislature has endeavored to bring forward laws abridging the practice of driving under the influence of alcohol or other substances with similar effects. In this sense the Brazilian Traffic Code (CTB) has several devices penalty to the offender driver. However, even so, most of the charges are below the expectations of society.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 08

1 A PRÁTICA DO HOMICÍDIO NO TRÂNSITO ... 11

1.1 HOMICÍDIO ... 11

1.2 DA CULPA, ELEMENTOS DO CULPA ... 13

1.3 DO DOLO, ELEMENTOS DO DOLO ... 20

2 PRINCIPAIS CAUSAS DE CRIMES DE TRÂNSITO E AS POSSÍVEIS SOLUÇÕES ... 24

2.1 PRINCIPAIS ACIDENTES DE TRÂNSITO E ALGUMAS ALTERNATIVAS ... 24

2.2 OS CRIMES OCORRIDOS SOB A INFLUÊNCIA DE ÁLCOOL ... 26

3 EMBRIAGUEZ AO VOLANTE COMO INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA E ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ... 30

3.1 EMBRIAGUEZ E SEUS ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ... 30

3.2 A ABSORÇÃO DO ÁLCOOL PELO ORGANISMO, SUAS REAÇÕES FÍSICAS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O ATO DE DIRIGIR ... 32

3.3 EMBRIAGUEZ COMO INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA ... 33

3.4 EMBRIAGUEZ COMO INFRAÇÃO PENAL ... 35

3.4.1 Elementos objetivos do tipo e a natureza jurídica do delito ... 36

3.4.2 Elementos subjetivos do tipo ... 38

3.5 ALTERAÇÕES NAS INFRAÇÕES DE TRÂNSITO CONFORME A NOVA LEI 12.971/2014 ... 40

CONCLUSÃO ... 44

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INTRODUÇÃO

É inegável que a embriaguez constitui um dos maiores problemas sociais da atualidade, caracterizando-se como a razão principal de uma série de crimes, acidentes e fracassos pessoais de um número realmente alto de indivíduos. O álcool e as demais substâncias embriagantes atuam diretamente sobre o sistema nervoso central, diminuindo sensivelmente a capacidade de reação diante das adversidades surgidas no trânsito.

Não há dúvidas, portanto, de que é preciso prevenir e reprimir o uso de álcool por aqueles que irão conduzir veículo automotor. Faz-se necessário uma fiscalização maior no trânsito para demonstrar de forma efetiva ao condutor que dirigir embriagado e/ou sob efeito de substância psicoativa é uma conduta perigosa e irresponsável que pode trazer consequências graves a todos os envolvidos.

O Direito Penal deve ser entendido como ultima ratio legis (princípio da intervenção mínima), no entanto, tornou-se premente, em face da insuficiência das medidas que vinham sendo tomadas no enfrentamento das questões de trânsito, que fosse ele, com os seus recursos coercitivos mais enérgicos, incumbido de, juntamente com outras ações, confrontar o sério problema do trânsito no país, a exemplo do que ocorre praticamente no mundo todo. Foi neste cenário que muitas condutas verificadas no trânsito foram criminalizadas, com o advento do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a Lei n. 9.503 de 23 de setembro de 1997.

Ocorre que a evolução do trânsito indicou que eram necessários novos ajustes ao Código, em função disso, em 2008 foi aprovada a Lei 11.705, ainda carente de definições, esclarecimentos e formas, em 21 de dezembro de 2012 entrou em vigor a Lei 12.760, que vem sendo chamada pela imprensa como a nova Lei Seca; sendo que em primeiro de novembro de 2014 entrou em vigor a Lei 12.971 que também trouxe alterações no texto da Lei 9503/97, ou

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seja, no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

As razões que levaram a escolher o referido tema como objeto de estudo foram, primeiramente, o fato de que trânsito brasileiro vem apresentando sérios problemas de segurança, o que demonstra a relevância e atualidade de tal assunto. O aumento populacional e na frota de veículos tem gerado, não obstante a excepcional capacidade de trabalho e competência dos profissionais que atuam na temática trânsito, um preocupante conflito em nossas vias de circulação, ceifando-se um número cada vez maior de vidas e deixando ainda um assustador índice de pessoas feridas no trânsito. Tais circunstâncias tornam crucial voltarmos nossa atenção para esse acentuado problema, qual seja o fato de que o sistema viário brasileiro tem nos apresentado um alto custo social, sob todos os pontos de vista, inclusive o dos gastos de verbas públicas com sinistros, mas, principalmente, do parâmetro da vida humana.

Um segundo motivo para definição de objeto de estudo, foi o fato de que a doutrina não tem dado homogêneo tratamento aos elencados delitos de trânsito, havendo enormes divergências a respeito de tais infrações, o que tem causado discordância nos processos de subsunção dos fatos nas correspondentes normas legais.

A invenção do automóvel surge como uma importante alternativa na solução de problemas relacionados à locomoção e ao transporte. Com o desenvolvimento e surgimento da tecnologia, estes veículos tornaram-se mais velozes e potentes. Esses fatores fizeram com que no decorrer dos tempos começassem a acontecer acidentes envolvendo os veículos, o que ocasionou o crescimento do número de mortos e de pessoas com sérias lesões físicas. Estes acidentes começaram a trazer enormes prejuízos para o Estado no sentido de que o gasto com recursos para tratar debilitados passou a ser um enorme rombo no orçamento.

Ao se verificar que estava difícil conter os acidentes, decidiu-se pela criação de uma lei mais rigorosa em relação aos envolvidos em crimes de trânsito e multas mais severas aqueles que não cumprem a lei de trânsito; assim com a Lei 9.503/97 (CTB) ficou estipulado que os crimes de trânsito, seriam a princípio tratados como culposos.

Porém, com o passar dos tempos, alguns operadores de direito passaram a entender que alguns casos de acidentes de veículos deveriam ser tratados de maneira diferente. Com

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isso, os julgamentos começaram a usar o Dolo Eventual e os acidentes passaram de culposos para dolosos, sendo que nestes deveriam estar presentes algumas características como embriaguez, alta velocidade e rachas, passando a ser abrangidos pelo Código Penal.

Esse trabalho apresenta-se em três capítulos: No primeiro será explanado sobre Homicídio, Da Culpa e do Dolo e seus elementos, e posteriormente no segundo capítulo será abordado sobre as principais causas de crimes de trânsito e as possíveis soluções, sobre os principais acidentes de trânsito, suas formas alternativas para a diminuição dos acidentes e alguns crimes ocorridos sobre a influência do álcool, e no terceiro capítulo será abordado sobre embriaguez ao volante como infração administrativa, infração penal e seus aspectos introdutórios.

A metodologia aplicada na realização do presente trabalho de conclusão é o método dedutivo e a pesquisa bibliográfica tanto nos Códigos de Trânsito e Penal, quanto em doutrinadores que discutem o tema.

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1 HOMICÍDIO NO TRÂNSITO

Neste capítulo busca-se elencar os principais aspectos do delito de homicídio, crime este que está inserido no Código Penal como o primeiro do rol dos crimes praticados contra a vida. Além disso, apresentam-se os elementos subjetivos do tipo penal, mais especificadamente a culpa consciente e o dolo eventual.

1.1 HOMICÍDIO

O delito de homicídio é um crime que ocorre com bastante frequência nas sociedades, sempre causando grande repercussão por atentar a vida do ser humano.

Este delito está inserido no artigo 121 do Código Penal Brasileiro que prevê como conduta típica: “Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos” (BRASIL, 2013).

O conceito desse crime é de fácil compreensão, uma vez que consiste na morte de uma pessoa provocada por outra.

Sua tipificação penal não inclui apenas os crimes dolosos, mas também a modalidade culposa. É o que dispõe o parágrafo 3º do artigo 121 do Código Penal, que trata do homicídio culposo, prevendo a pena de detenção de 1 a 3 anos.

Para haver crime é necessária uma conduta dolosa ou culposa que se encontra como um dos elementos do fato típico. O dolo e a culpa são definidos ela doutrina como os elementos subjetivos do crime e se encontram tipificados pelo Código Penal no seu artigo 18:

Art. 18 – Diz-se o crime:

I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia; (BRASIL, 2013).

Sabe-se que o maior bem jurídico tutelado pela norma penal é a vida, motivo pelo qual é plausível que se puna severamente quem atenta contra esse bem.

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importante de se analisar o conceito de morte.

Para Costa Junior (1992, p. 54) “ocorre a morte, não só com o silêncio cerebral, mas concomitantemente com a parada circulatória e respiratória, em caráter definitivo.”

Capez (1999, p. 16) explica que o critério proposto pela medicina legal é chamado de morte encefálica, em razão da Lei 9.434/97, que regula a retirada e o transplante de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, com fins terapêuticos e científicos.

Feita essa constatação, é importante ressaltar que o crime de homicídio como é evidente, também pode ser cometido no trânsito, que é objeto do presente trabalho.

Tanto é assim, que o Código de Trânsito Brasileiro, em seu art. 302 alterado pela Lei 12.971/2014, determina:

Art. 302 – Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas de detenção de 2 a 4 anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor

§ 1º No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente;

IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.

§ 2º Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente:

Penas - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (BRASIL, 2014).

Verifica-se, portanto, que o agente que estiver na direção de veículo automotor e matar alguém, culposamente, incidirá no disposto no art. 302 do CTB.

Versando sobre o tema, Fukassawa (1998, p.126) assevera:

Este crime é, por atropelamento de pedestre ou colisão entre veículos, sem nenhuma sombra de dúvida, ou de maior incidência dentre os chamados crimes de trânsito. Os prejuízos e consequências deles resultantes sejam de ordem material ou moral, são imensuráveis, [...] contam-se as vítimas mortas e feridas, mas não se contam, estatisticamente, aquelas pessoas que ficaram em eterno estado de abandono

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material e moral, e também aquelas outras que inválidas restaram para sempre, num estranho abandono presente.

Como já visto anteriormente, a ocorrência de acidentes de trânsito com morte no Brasil é imensa, mas os dados estatísticos, apesar de alarmantes, não conseguem refletir o quanto pode atingir a vida das pessoas envolvidas direta ou indiretamente nesses infortúnios.

O bem jurídico tutelado no crime de homicídio, seja qual for o meio empregado para se chegar ao resultado gravoso, é a vida.

Nesse sentido, Costa Júnior (1992, p. 15) assevera que a objetividade jurídica nos crimes de homicídio é a tutela da vida humana, sem distinção de idade, sexo, raça ou condição social. O direito penal assegura um direito à vida e não sobre a vida.

No homicídio de trânsito, bem como nos demais crimes descritos no CTB, alguns autores entendem que o bem jurídico vida e a integridade física são tutelados de forma indireta. Assim ensina Damásio (2006, p.115):

Nos delitos de trânsito, a objetividade jurídica principal pertence à coletividade (segurança no trânsito), sendo esse o se traço marcante. Nada impede que se reconheça nesses delitos uma objetividade jurídica secundária, já que a norma penal, tutelando os interesses individuais, como a vida, a integridade física, etc.

Assim, de forma primária, procura-se proteger a coletividade, por meio de segurança no trânsito e, secundariamente, o homicídio causado no acidente de trânsito. Este autor aponta que o objeto jurídico deste crime é o bem ou interesse que a norma penal tutela. É o bem jurídico que constitui em satisfazer a vontade do homem, como a vida, a integridade física, a honra e o patrimônio.

1.2 DA CULPA: ELEMENTOS DA CULPA

Em se tratando de culpa, é importante inicialmente defini-la e conceitua-la, para em seguida abordar seus elementos. Assim, cita-se Juarez Tavares que define a culpa como:

A forma de imputação de uma conduta humana caracterizada pela realização do tipo de um delito, centrando na violação do risco por meio da ação contrária ao dever de cuidado e lesiva ao bem jurídico, materializável em um resultado proibido e cuja culpabilidade se assenta no fato de não haver o agente evitado sua realização

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apesar de capaz em condições de fazê-lo (2009, p. 267, grifo do autor).

Já Rogério Greco caracteriza o delito culposo como sendo

ato humano voluntário dirigido, em geral, a realização de um fim lícito, mas que, por imprudência, imperícia ou negligência, isto é, por não ter o agente observado seu dever de cuidado, dá causa a um resultado não querido, nem mesmo assumido, tipificado previamente na lei penal (2010, p. 190).

Com base na interpretação destes autores, no crime culposo o agente voluntariamente pratica uma ação permitida, mas que pela falta de cuidado, ou até mesmo pela maneira inadequada que foi realizada, acaba produzindo um resultado lesivo embora não desejado pelo agente.

No entendimento de Fernando Capez, culpa

é o elemento normativo da conduta [...] a conduta normal é aquela ditada pelo senso comum e está prevista na norma, que nada mais é do quer o mandamento não escrito de uma conduta normal. Assim, se a conduta do agente afastar-se daquela prevista na norma haverá a quebra do dever de cuidado e, consequentemente, a culpa (2008, p 207).

Para caracterizar uma conduta culposa é necessária a observação de elementos como a conduta humana voluntária, a inobservância do dever de cuidado, a previsibilidade objetiva do resultado, a previsibilidade subjetiva do resultado, a ausência de previsão, a imputação objetiva, o resultado involuntário e também o nexo causal entre a conduta e o resultado.

A imprevisibilidade objetiva, que se relaciona com a tipicidade da conduta delituosa, omissiva ou comissiva, resulta na inobservância de cautelas objetivas, caracterizando-se pela negligência, imperícia ou imprudência. Assim,

No sentido jurídico-penal, a culpa tem por pressuposto a consciência da imperícia, da imprudência ou da negligência , as quais se traduzem, no ato em um resultado não querido, mas previsível, por parte do agente. O comportamento comum determina um freio moral a tais deficiências humanas, sendo certo que o descuido ou o desprezo a este da ensejo à reprovabilidade da conduta, fundamentando a razão de punir por parte do Estado. (OLIVEIRA, 1997, p.30)

A imprudência advém de um ato positivo, em natureza comissiva e o agente age com descuido. Trata-se da falta de cautela com relação a uma determinada ação, como por exemplo: dirigir um veículo em um cruzamento onde o condutor desrespeita as normas de

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preferência e ou parada obrigatória.

Segundo Cezar Roberto Bitencourt (1997, p. 248), a imprudência é:

A prática de uma conduta arriscada e/ou perigosa e tem caráter comissivo. É a imprevisão ativa (culpa in faciendo ou in committendo). Conduta imprudente é aquela que se caracteriza pela intempestividade, precipitação, insensatez ou imoderação. Imprudência será, por exemplo, o motorista que, embriagado, viaja dirigindo seu veículo automotor, com visível diminuição de seus reflexos e acentuada liberação de seus freios inibitórios. Se o agente houvesse sido mais atento, poderia prever o resultado, alterando e utilizando seus freios e assim não realizar a ação lesiva.

Portanto, é imprudente a conduta realizada quando a cautela indica que não deve ser realizada. É um agir descuidadamente.

A negligência é ausência de precaução ou indiferença em relação ao realizado, como por exemplo, abster-se deixar o veículo estacionado devidamente freado ou ainda deixar arma de fogo ao alcance de uma criança, ou seja, a negligência ocorre quando o sujeito deixa de fazer algo que a prudência impõe a ser feito e caracteriza-se através de um comportamento negativo do agente.

De acordo com Julio Fabbrini Mirabete (2008, p. 140), “a negligência é a inércia psíquica, a indiferença do agente que, podendo tomar as cautelas exigíveis, não faz por displicência ou preguiça mental, exemplo é deixar substância tóxica ao alcance de crianças”.

A negligência não é desta forma, um fato psicológico, mas sim, um juízo de apreciação, ou seja, a comprovação que se faz de que o agente tinha possibilidade de prever as consequências de sua ação (BITENCOURT, 2003).

A falta de conhecimentos técnicos para uma segura e correta execução de determinada conduta, chama-se imperícia. Como por exemplo, não saber conduzir um veículo automotor e mesmo assim dirigi-lo.

Segundo Julio Fabbrini Mirabete (2008, p. 140), a imperícia é a “incapacidade, a falta de conhecimentos técnicos de arte ou profissão, não tomando o agente em consideração o que sabe ou deve saber. Exemplo: não saber dirigir um veículo”.

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Para Cezar Roberto Bitencourt (1997, p. 33), a imperícia não se confunde com erro profissional, esse tipo de acidente não decorre de regras e princípios recomendados pela ciência, deve-se, sim, a imperfeição e precariedade dos conhecimentos humanos, operando, portanto, no campo do imprevisto e transpondo da prudência e da atenção humana.

Segundo o artigo 18, II do Código Penal é crime culposo quando o agente de causa a resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Contudo, essa definição não demonstra suficientemente um conceito concreto, necessitando assim de uma busca doutrinária para um melhor entendimento da modalidade culposa.

Bitencourt conceitua culpa como “a inobservância do dever objetivo de cuidado manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, objetivamente previsível” (BITENCOURT, 2006, p. 347). Dando um aprofundamento maior a instituto em tela, Capez (2005, p.205) nos informa que:

Culpa é o elemento normativo da conduta. Culpa é assim chamada porque sua verificação necessita de um prévio juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela está ou não presente. Com efeito, os tipos se definem os crimes culposos são, em geral abertos, portanto neles no se descreve em que consiste o comportamento culposo. O tipo limita-se em dizer: se o crime é culposo a pena será de [...], não descrevendo como seria a conduta. [...] em suma, para se saber se houve culpa ou não será sempre necessário proceder-se a um juízo de valor, comparando a conduta do agente no caso concreto com aquela que uma pessoa medianamente prudente teria na mesma situação.

De fato, ao prever crimes culposos, o Código Penal limita-se a definir que se um determinado resultado foi atingido a título de culpa haverá crime, sem tecer maiores detalhes sobre a conduta típica, o que reforça o argumento da doutrina de que o importante para a caracterização de um delito culposo não é verificar a produção de um resultado, e sim a maneira como ele foi provocado.

Assim, Edgar Magalhães Noronha (2009, p. 140, grifo nosso) esclarece que ocorre o crime culposo “quando o agente, deixando de empregar a atenção ou diligência de que era

capaz em face das circunstâncias, não previu o caráter delituoso de sua ação ou resultado desta, ou, tendo-o previsto, supôs levianamente que não se realizaria.”

Percebe-se, que o dever de cuidado objetivo constitui um elemento do fato típico nos crimes culposos, justamente porque, para se aferir a presença da culpa, é preciso averiguar se

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o indivíduo agiu com as cautelas necessárias, comparando a sua atitude na situação especifica aquela esperada de um homem dotado de mediana prudência e discernimento.

Como se pode observar em todos os conceitos dados, a doutrina busca uma complementação do que o Código Penal afirma. Em todos eles percebe-se que o agente age de uma maneira voluntária, mas com imprudência, negligência ou imperícia, sem a intenção de praticar o ato, pois acharia que o incidente não iria acontecer.

Para que se caracterize uma conduta culposa é necessária a observação de alguns elementos, que, de acordo com (JESUS, 2005. p. 300-301), são os seguintes:

a) Conduta humana voluntária, de fazer ou não fazer. No delito culposo, porém, o agente não pretende praticar um crime, nem quer expor terceiros a perigo de dano, mas lhe falta o dever de diligência, razão pela qual, agindo voluntariamente, ele acaba praticando um crime não querido:

b) Inobservância do cuidado objetivo, manifestada por meio da imprudência, negligência ou imperícia. Nesse ponto, é importante ressaltar as modalidades de culpa – imprudência, negligência ou imperícia, previstas no art. 18, II do CP. A imprudência é um agir sem a cautela necessária visibilidade à frente. A negligência por sua vez, se manifesta pela inércia do agente, que podendo agir para não casar ou evitar o resultado lesivo, não faz por preguiça, desleixo, desatenção ou displicência, e ocorre quando o condutor do veiculo não substitui os pneus gastos pelo uso. Quanto a imperícia vem a ser a incapacidade, a falta de conhecimentos técnicos precisos para o exercício da profissão ou arte, e ocorre quando falta habilitação no conduzir veículo (motorista profissional);

c) Previsibilidade objetiva, que quer dizer que, qualquer pessoa dotada de prudência mediana deve ser capaz de prever o resultado;

d) Ausência de previsão, ou seja, é necessário que o agente não tenha previsto o resultado, mas se o agente previu a possibilidade, não estaremos no terreno da culpa, mas do dolo, pois que a culpa é a imprevisão do previsível;

e) Resultado involuntário, que é quando o agente não deseja efetivamente o resultado causado;

f) Nexo de causalidade: é necessário que exista um nexo causal entre a conduta humana voluntaria e o resultado naturalístico, quando o crime culposo exigir esse resultado;

g) Tipicidade: para que exista um crime culposo é preciso que ele esteja tipificado na lei;

Portanto, o agente que agir (ação) ou deixar de agir (omissão) e ocasionar um resultado típico, previsível ou não, porque deixou de adotar os cuidados necessários para sua não ocorrência, age de forma culposa.

Existem várias espécies de culpa classificadas por diversos doutrinadores, sendo elas: culpa inconsciente, culpa consciente ou com previsão, culpa imprópria, culpa presumida e culpa mediata ou indireta. Porém, no presente trabalho, a que merece destaque é a culpa

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consciente, pois está diretamente ligada aos crimes de homicídio decorrentes da condução displicente de veículo automotor, e é constantemente discutida sua aplicabilidade em relação ao dolo eventual, a qual será mais a frente discutida.

Na culpa consciente age nessa espécie de culpa, o agente que sabe do resultado que sua ação poderá gerar, mas acredita verdadeiramente que não irá acontecer, pois confia em sua habilidade e acredita que pode evita-la.

Damásio de Jesus (2005, p. 301) acentua que na culpa consciente o resultado é previsto pelo sujeito, que espera levianamente que não ocorra ou que possa evitá-lo. É também chamada de culpa com previsão.

Jesus (2001, p. 303), exemplifica com a hipótese do caçador que avista sua caça próxima a um confrade e percebe que, atirando no animal poderá acertar em seu companheiro. Confiando na pontaria e acreditando que não atingirá, dispara sua arma, matando-o. Perceba-se que o agente não assumiu a possibilidade da produção do resultado porque acreditava que sua habilidade seria suficiente para afastá-lo.

O sujeito ao caminhar para a sua conduta possui a representação de que desta pode ocasionar um resultado que ofenda o bem jurídico de outrem. Em sua mente o agente sabe que poderá advir um prejuízo a seu semelhante, mesmo assim age acreditando fielmente de que este dano não irá ocorrer, pois ele mesmo o impedirá. Acredita que será competente o suficiente para impedir a ocorrência do resultado tipificado.

De acordo com Julio Fabbrini Mirabete (2001, p. 150), “a culpa consciente avizinha-se do dolo eventual, mas com ela não se confunde. Naquela, o agente, embora prevendo o resultado, não aceita como possível. Neste, o agente prevê o resultado, não se importando que venha ela a ocorrer”.

Seguindo com a definição de culpa consciente ou com previsão, Luiz Régis Prado (2008, p.331) ensina que o autor prevê o resultado como possível, mas espera que não ocorra. Há efetiva previsão do resultado, sem a aceitação do risco de sua produção (confia que o evento não sobreviverá). Sem dúvida, há uma consciente violação do cuidado objetivo. A previsibilidade no delito de ação culposa se acha na culpabilidade e não no tipo de injusto.

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Entende-se assim, que na culpa consciente, o autor prevê o resultado, mas acredita que este não ocorra, pois acredita que de alguma forma possa evitar o resultado previsto; diferente do dolo eventual, no qual o autor prevê o resultado, sabe que sua conduta poderá gerar um dano ao bem jurídico e mesmo assim assume o risco, não se importando com o que possa ocorrer.

Na culpa inconsciente, o agente não prevê ou desconhece o resultado que sua conduta poderá causar, por mais perigosa que seja sua conduta. Assim, diferenciando da culpa consciente, pois como o próprio nome diz, o autor sabe prevê, ou em outras palavras, tem plena ciência do resultado que sua conduta poderá gerar, porém acredita fielmente que poderá evita-lo.

Para Jesus, na culpa inconsciente o resultado não é previsto pelo agente, embora previsível. É a culpa comum, que se manifesta pela imprudência, negligência ou imperícia. (JESUS, 2005. p. 301).

Nesse caso, o agente realiza uma conduta sem a previsão de que o resultado lesivo possa ocorrer. Essa possibilidade de obtenção de um resultado, aliás, nem sequer passa pelo pensamento do autor.

Culpa inconsciente é a culpa comum. O autor não conhece concretamente o dever objetivo de cuidado, apesar de lhe ser conhecível (PRADO, 2004). Holanda (2004, p. 8) afirma que “se o evento era previsível para o agente, que, por qualquer motivo, não o anteviu, será hipótese de culpa inconsciente (culpa ex ignorantia)”. Julio Fabbrini Mirabete (2001, p. 150) explica que a culpa inconsciente, juntamente com a culpa consciente são espécies de culpa. Nesta, embora resultado seja previsível (condição sine qua non para o juízo de culpabilidade do crime, como já descrito), o agente não antevê a possibilidade do resultado por mera displicência.

Sobre a culpa inconsciente, Oliveira (1997, p. 33) define-a através da afirmativa de que, “[...] o agente não prevê o resultado negativo para a sua ação ou omissão, porque incompetente para tanto, muito embora tal resultado seja absolutamente previsível”.

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fogo displicentemente em local com fácil acesso a crianças. Sabendo este indivíduo que não deseje causar um homicídio, sua conduta torna este resultado possível por puro desleixo. Observa-se que o resultado não é desejado pelo agente, ocorre por mera desatenção.

1.3 DO DOLO: ELEMENTOS DO DOLO

Após discorrer sobre a culpa e suas espécies este tópico tratará do dolo, que também é um dos elementos subjetivos do crime de homicídio. Como já mencionado, sem a presença de dolo ou culpa, não há infração penal.

O dolo pode ser conceituado como a vontade de concretizar os elementos objetivos do tipo, ou seja, é a consciência e a vontade e a realização de uma conduta escrita como tipo. Ainda sobre a caracterização do dolo, o Código Penal Brasileiro, em seu artigo 18, inciso I, dispõe que é considerado doloso o crime quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Sendo que a doutrina acentua que é inerente ao dolo a consciência d ilicitude do fato, sendo consciência e voluntariedade do fato conhecido como contrário ao dever. Assim, no que tange ao tipo penal doloso, Welsel e Zafaroni, citados por Rogério Greco (2010, p.51), conceitua dolo da seguinte maneira:

Dolo é a vontade e consciência dirigidas a realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador. Conforme preleciona Welsel, “ toda ação consciente é conduzida pela decisão da ação, quer dizer, pela consciência do que e quer – o momento intelectual – e pela decisão a respeito de querer realiza-lo – o momento volitivo. Ambos os momentos, conjuntamente, como fatores configuradores de uma ação típica real, formam o dolo, ou ainda, na lição de Zaffaroni, dolo é uma vontade determinada que, como qualquer vontade, pressupõe um conhecimento determinado. Assim, podemos perceber que o dolo é formado por um elemento intelectual e um elemento volitivo.

Diante dessa visão, percebe-se que dolo nada mais é do que a vontade livre e consciente do agente praticar uma ação lesiva ao bem jurídico tutelado.

O dolo, de acordo com o entendimento generalizado a doutrina, apresenta dois componentes subjetivos: um intelectivo e o outro volitivo. Esses componentes do dolo são assim definidos por Leal: “[...] podemos dizer que o elemento intelectivo consiste na consciência da conduta e do resultado, além da relação causal entre uma e outra, enquanto que o elemento volitivo consiste na vontade e praticar tanto a conduta quanto o resultado.” (LEAL, 2004, p. 241).

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Os elementos do dolo, segundo Jesus (2003, p. 89) são os seguintes:

a) Consciência da conduta do resultado: o objetivo que o sujeito deseja alcançar; b) Consciência da relação causal objetiva entre a conduta e o resultado os meios que emprega para isso;

c) Vontade de realizar a conduta e produzir o resultado: as consequências secundárias que estão necessariamente vinculadas com o emprego dos meios.

Compreende-se então que tanto a vontade (querer, assumir ou admitir), quanto o conhecimento (previsão) são elementos que configuram o dolo.

São três as teorias que estabelecem o conteúdo de dolo: a da vontade, a da representação e a do assentimento. Para a teoria da vontade, age dolosamente quem pratica a ação consciente e voluntariamente. Já para a teoria da representação, o dolo é a simples previsão do resultado, embora não se negue a existência de vontade na ação. Argumenta-se que a simples previsão do resultado, sem a vontade efetivamente exercida na ação, nada representa. Portanto, a representação já está prevista na teoria da vontade. Por fim, para a teoria do assentimento, também denominada do consentimento, faz parte do dolo a previsão do resultado a que o agente adere, não sendo necessário que ele o queira. E assim, para essa teoria existe dolo simplesmente quando o agente consente em causar o resultado ao praticar a conduta.

A teoria da vontade foi adotada pelo Código Penal quando dispõe na primeira parte do artigo 18, inciso I, que “o agente quis o resultado” (dolo direto) e a teoria do consentimento na parte final, quando preconiza “ou assumiu o risco de produzir o resultado” (dolo eventual).

Percebe-se que o dolo é a consciência e a vontade de realizar certa conduta que acaba produzindo o resultado morte. O dolo, assim como a culpa, apresenta duas espécies em especial, o dolo direto e o dolo indireto, sendo este último dividido entre alternativo e eventual.

Jesus (2006, p.71) ensina que no dolo direto, o sujeito visa certo e determinado resultado. Como por exemplo, quando o agente desfere golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O dolo se projeta de forma direta no resultado morte.

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quando o agente, querendo matar seu desafeto, vai ao encontro dele e desfere vários tiros a queima roupa, vindo a matá-lo. Nessa situação, o agente preencheu os elementos do dolo, agiu com vontade e consciência do resultado que sua ação ocasionaria.

Jesus (2006) ensina que há dolo indireto quando a vontade do sujeito não se dirige a certo e determinado resultado. Possui duas formas: a) dolo alternativo (o agente quer produzir um ou outro resultado, por exemplo matar o ferir); b) dolo eventual (o agente não quer produzir o resultado, mas com sua conduta, assume o risco de fazê-lo), sendo este último, motivo de acirradas discussões quando o assunto é homicídio praticado no trânsito.

O dolo indireto ou indeterminado, portanto, é aquele em que o agente, deseja o resultado, entretanto, não há um querer específico na sua conduta delituosa. Já no dolo eventual e culpa consciente inúmeros acidentes de trânsito ocorridos nos últimos anos estão sendo enquadrados como dolo eventual.

O dolo eventual, ocorre quando o agente prevê o resultado, aceita-o (assume o risco de produzi-lo) e atua com indiferença frente ao bem jurídico lesado. Três são as exigências do dolo eventual: previsão do resultado, aceitação e indiferença. O dolo eventual não pode ser confundido com a culpa, seja ela consciente ou inconsciente, visto que nesta o agente não aceita o resultado, nem atua com indiferença frente ao bem jurídico.

Uma outra diferença marcante entre os dois conceitos é a de que no crime culposo, o agente se soubesse que iria matar alguém não teria prosseguido na sua ação. Já no dolo eventual, o agente, contrariamente, mesmo sabendo que pode matar alguém prossegue no seu ato, porque esse resultado lhe é indiferente, ou seja, se ocorrer, ocorreu (tanto faz acontecer ou não, visto que lhe é indiferente a lesão ao bem tutelado).

Então, percebe-se que, teoricamente não é complicado distinguir um instituto do outro, mas, na prática, no entanto, a questão não é tão simples, visto que nem sempre contamos com provas inequívocas do dolo eventual.

Se um terceiro diz para o motorista (que está embriagado) que ele pode matar pessoas e ele diz que “se matar, matou”, sem sombra de dúvida está comprovado o dolo eventual. Mas nem sempre, ou melhor, quase nunca, tem-se essa prova no processo, daí a grande dificuldade

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de enquadrar tal conduta.

Agora, se enquadrada a conduta como dolosa, a competência para o julgamento do caso é do Tribunal do Júri, pois julga os crimes dolosos contra a vida. Mas, se o juiz instrutor não vislumbrar nenhuma pertinência em relação ao dolo eventual, cabe desde logo, desclassificar a infração, retirando do referido tribunal.

Havendo um mínimo de justa causa (provas), compete ao juiz proferir a decisão de pronúncia. A pronúncia é a decisão que leva o acusado a julgamento perante o Júri, tendo o juiz se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação (art. 413 CPP). Depois é da competência do Tribunal do Júri a conclusão final, se o fato se deu mediante culpa (consciente ou inconsciente) ou dolo eventual.

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2 PRINCIPAIS CAUSAS DE CRIMES DE TRÂNSITO E AS POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Inicialmente cabe definir o que se entende por acidente de trânsito, para em seguida abordar suas causas que se caracterizam em crimes de trânsito e as soluções.

Lazzari (2003) entende por acidente de trânsito, todo acontecimento desastrado, causal ou não, tendo como consequências desagradáveis danos físicos e ou materiais, envolvendo veículos, pessoas e ou animais nas vias públicas.

Por se tratar de acidente, a compreensão é que pode ser evitado, ou ainda ter seus danos minimizados. Isso porque os números referentes aos acidentes de trânsito no Brasil são alarmantes. Segundo as estatísticas morre por ano vítima desse mal, mais pessoas do que morreram durante a guerra do Vietnã. Na guerra do Vietnã morreram 40.000 americanos em 10 anos, no Brasil morreram em um só ano, 20.000 pessoas em acidentes. Mas, o que nos deixa numa situação bastante triste é que os acidentes de trânsito ocorrem, quase sempre, por falhas humanas e que acontecem, na sua maioria, nos finais de semana prolongados quando aumenta o número de motoristas inexperientes nas rodovias (JESUS, 2008).

2.1 PRINCIPAIS ACIDENTES DE TRÂNSITO E ALGUMAS ALTERNATIVAS

Com relação aos condutores dos veículos envolvidos em acidentes de trânsito, através de dados estatísticos observamos pertencerem, na maioria (85%), ao sexo masculino, com tempo de habilitação entre 5 e 9, que se encontravam dirigindo entre 00:15 a 01:00 h, e que 1,3% apresentavam sintomas de embriaguez. Cerca de 25% das vítimas fatais de acidentes de trânsito apresentam sinais de álcool no sangue (DEPARTAMENTO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, 2008).

Como fatores contribuintes aos acidentes registrados são apontados as seguintes causas: falta de atenção; velocidade incompatível; não manter distância de segurança do veículo que segue à frente; desobedecer a sinalização; as ultrapassagens mal realizadas; defeitos na via; dirigir com sono; dirigir alcoolizado.

A Situação nas rodovias federais, de acordo com a Polícia Federal, foram registrados os seguintes números de acidentes de trânsito (DEPARTAMENTO DE POLÍCIA

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RODOVIÁRIA FEDERAL, 2008).

Em 2002: 100.759 acidentes com 54.664 feridos e 5.982 mortos. Em 2003: 133.860 acidentes com 77.233 feridos e 7.306 mortos. Em 2004: 112.457 acidentes com 66.117 feridos e 6.119 mortos. Em 2005: 110.086 acidentes com 68.524 feridos e 6.346 mortos.

Com esses dados pode-se observar o seguinte, em 2003, houve um aumento de 32,8% no número de acidentes; de 41,3% no número de feridos e de 22% no número de mortos com relação a 2002.

Em 2004, houve uma redução de 15% no número de acidentes; 14% no número de feridos e de 16% no número de mortos com relação a 2003.

Em 2005, apesar de ter havido uma redução de 2% no número de acidentes, o número de feridos aumentou em 3,5% e o de mortos também em 3,5%.

O tipo de acidente mais acentuado, de acordo com dados estatísticos, é a “Colisão na traseira”. Quanto às condições meteorológicas, podemos informar que aproximadamente 65% dos acidentes de trânsito em rodovias federais ocorrem com “tempo bom”. Quanto às fases do dia temos a seguinte informação: aproximadamente 55% dos acidentes ocorrem em pleno dia, 35% em plena noite, e 5% ao anoitecer (DEPARTAMENTO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, 2008).

Com relação ao tipo de pista (simples, dupla e múltipla) onde ocorrem os acidentes, informamos que 70% dos acidentes registrados ocorrem em pistas simples, o que nos leva a crer que com a duplicação das vias, esse índice sofreria grande redução.

O Estado do Rio Grande do Sul, assim como todo o País, enfrenta sérios problemas com o trânsito, várias pessoas são vítimas com o caos do trânsito, sendo estas muitas vezes vítimas fatais, causando um dano irreparável para as famílias.

Segundo Jesus (2006), especialista em direito penal e Presidente do Complexo Jurídico Damásio de Jesus (CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO):

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brasileira, de usar o Direito Penal como normativo e disciplinador, o que, do ponto de vista do Direito, é a meu ver contra indicado. Se dependesse de mim, o CTB seria, com certeza, diferente do que é. Preferiria um estatuto menos cominativo, com menor número de determinações de ordem penal. Nota-se que as imposições de alguns de seus dispositivos chegam a ser draconianas, prevendo penas excessivas e desproporcionadas, em outros casos, são de valor intimidativo muito pequeno diante da gravidade ofensiva do fato.

Tratando-se de crimes do automóvel, que vitima um número absurdo de pessoas, é necessário que a resposta penal se mostre de ficção punitiva amedrontadora. Sabe que, dez anos depois de aplicado, o código penal viário tem prestado grande serviço e evitado maiores males. Ele poderia e deveria ser aperfeiçoado no aspecto penal e extra penal, conferindo às autoridades condições de sua real aplicação. (CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO).

2.2 OS CRIMES OCORRIDOS SOB A INFLUÊNCIA DE ÁLCOOL

O uso de álcool está diretamente ligado às mortes por acidentes de trânsito, homicídios e outras mortes por causas externas. Esta relação varia-nos diversos locais e países, mas está sempre presente. No Brasil, esse problema se agrava devido ao alto número de vítimas fatais nesse tipo de acidente.

O álcool é uma droga lícita, pode ser vendida livremente para indivíduos maiores de idade e a legislação de trânsito é bem clara quanto ao limite alcóolico permitido para a direção veicular, ação está que por si só, é considerada crime: expor a dano potencial a incolumidade de outrem. Não obstante, ir-se-á discutir a ocorrência do dolo eventual ou da culpa consciente, quando o dano à incolumidade de terceiro for atingida.

Segundo Jesus (2000), este crime ocorre quando o condutor coloca em risco qualquer que seja o cidadão, não necessita de que o condutor exponha a perigo de dano uma certa e determinada pessoa:

Dolo: vontade livre e consciente de dirigir o veículo automotor, com o conhecimento de que ingeriu substância inebriante e que, com sua condução anormal, expões bens jurídicos da coletividade a perigo de dano. O motorista não quer o dano nem assume o risco de produzi-lo, tendo consciência de que, com sua conduta, expõe a incolumidade pública a perigo de dano. Não é exigível vontade no sentido de expor pessoa certa e determinada a perigo de dano, sendo suficiente que seja dirigida a realização de um comportamento que o motorista sabe apresentar potencialmente lesiva: vontade livre e consciente de dirigir veículo automotor, consciente da influência psíquica de ingestão de bebida alcóolica ou do efeito análogo e de estar expondo a segurança alheia a perigo de dano. (JESUS, 2000, p. 160).

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O delito de conduzir veículo sob a influência de álcool está tipificada no art. 306 do CTB e com a Lei n. 11.705/2008, o tipo penal passou a ser:

Art. 306. Conduzir veiculo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6(seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência”. As penas permaneceram idênticas.

João José Leal e Rodrigo José Leal (2007) asseveram que:

[...] cabe ressaltar que 6 decigramas correspondem a 0.6 gramas, que é o limite mínimo para haver embriaguez (influência de álcool) e impedir o motorista d conduzir um veículo automotor em condições de segurança, nos termos do mencionado art. 276, caput, do CTB. Assim, para alcançar este patamar mínimo e praticar a infração descrita no art. 165, do CTB, em relação a determinadas pessoas mais sensíveis ao álcool, basta a ingestão de um copo de vinho ou dois de cerveja para que o índice de concentração alcóolica no sangue chegue aos seis decigramas por litro de sangue.

Pessoa embriagada, pelo que se conclui da sistemática do CTB é aquela que está em estado de embriaguez decorrente de ingestão alcóolica, caracterizada quando a concentração de álcool no sangue for igual ou superior a 6 decigramas por litro (ou índice equivalente de acordo com o art. 276 do CTB), bem como aquela que esta sob efeito de substância entorpecente, tóxica ou de efeitos análogos, devidamente comprovados pelo teste de alcoolemia ou outro teste equivalente (Resolução n.81/98 do CONTRAN).

Salienta-se que a Lei 12.974/14, trouxe importante alteração no artigo 306 do CTB, inserindo os parágrafos 2º e 3º, que tratam exatamente da possibilidade de utilização como comprovação da alteração da capacidade psicomotora do condutor tanto teste de alcoolemia quanto o exame toxicológico.

§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. § 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

Ou seja, a partir desta Lei, o toxicológico é um exame a mais que pode ser aplicado. Destacando-se que cabe ao Contran fazer uma Resolução dispondo a respeito da equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

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Segundo Mario Machado (2008):

Fácil perceber que, na redação antiga, dirigindo o motorista sob a influência de álcool, qualquer que fosse a concentração, e oferecendo risco potencial à segurança viária, estaria caracterizado, em tese, o crime de embriaguez ao volante. A prova não oferecia dificuldade. Recusando-se o motorista aos exames técnicos do etilômetro (bafômetro) e dosagem sanguínea, eram suficientes a documentação oficial da ocorrência, o exame médico clínico e a prova testemunhal, tudo indicando o estado de embriaguez e a direção anormal. Não havia a exigência de um nível de alcoolemia, agora de 6 (seis) decigramas de álcool por litro de sangue, que equivalem a 0,3 miligramas de álcool por litro de ar expelido no bafômetro.

Machado (2008) segue seu raciocínio, ao afirmar que:

Só haverá o crime de embriaguez ao volante quando o motorista dirigir em via pública, sob influência de álcool e com concentração deste por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, gerando perigo para a segurança viária, ainda que indeterminado. Explica-se: pode não haver, no momento, perigo concreto a uma determinada pessoa, mas basta perigo indeterminado, isto é, um risco potencial para a segurança viária a partir da direção anormal. [...] a nova lei, paradoxalmente, é mais benéfica. Antes, qualquer a taxa de alcoolemia, poderia haver o crime. Hoje, é necessário, a mais, o elemento objetivo concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas. Aí o maior problema causado pela mudança, bem-intencionada e infeliz: o da prova.

Esse artigo é certamente o mais polêmico deste Código de Trânsito Brasileiro. Essa polêmica deve-se ao fato de que logo no início do uso, a embriaguez foi tratada severamente, pois os condutores envolvidos em acidentes de trânsito ou simplesmente pegos circulando com seus veículos eram detidos pelas autoridades públicas e conduzidas até as delegacias onde se fazia o exame do teste do bafômetro, e dificilmente alguém negava-se a fazer.

Toda via, ao passar os dias, o motorista, pego conduzindo um veículo aparentando embriaguez, passou a se negar há fazer o teste do bafômetro e ou o exame clínico em função de um direito constitucional: o de não produzir prova contra si próprio.

Neste sentido, Machado (2008):

Tanto um, como outro exame dependem do fornecimento de material pelo motorista, sangue, ou ar expelido pelos pulmões. Sucede que, por força de princípio abrigado na Constituição Federal (art. 5, LXIII) e na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8º, II, g), ratificada pelo Brasil, ninguém está obrigado a produzir prova contra si mesmo e tem direito a disso ser informado. Exame realizado sem prévia informação constitui prova ilegal. Nesse sentido a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Pode chocar a opinião pública que um motorista, aparentando embriaguez, não seja condenado por se ter recusado a fornecer sangue ou soprar no etilômetro. Mas o assassino também se pode negar a confessar seu crime. A opção pelo silêncio faz parte de um sistema garantista de direitos fundamentais

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indispensáveis ao Estado Democrático de Direito.

Quanto a questão da embriaguez ao volante causadora de mortes e lesões à incolumidade física, a jurisprudência é mais farta ao reconhecer o dolo eventual nesta ocasião. O assumir o risco é latente quando o motorista dá causa ao resultado morte ou lesão corporal ao dirigir veículo automotor embriagado.

Por ser visto no recurso em sentido estrito nº: 70003230588 da 3ª Câmara Criminal do TJRS, cujo relator foi o Desembargador Danúbio Edon Franco:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO. TRÂNSITO. EMBRIAGUEZ. DOLO EVENTUAL. PRONÚNCIA. O motorista que dirige veículo automotor embriagado causando morte de outrem assume o risco de produzir o resultado danoso, restando caracterizado o dolo eventual.

Na mesma direção do julgado anterior, há o recurso em sentido estrito de nº:70005794771, da Câmara Especial Criminal do TJRS, cujo relator fora o Desembargador Marco Antônio Barbosa Leal:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DELITO DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO TENTADO. DOLO EVENTUAL. VIABILIDADE. O motorista que dirige veículo automotor embriagado invade pista de rolamento abalroando veículos que trafegavam em sentido contrário, causando lesões corporais e pondo em risco a vida de seus ocupantes, assume o risco de produzir o resultado danoso, restando caracterizado o dolo eventual.

Se até a jurisprudência já considerava as mortes ou lesões corporais causadas pela embriaguez ao volante como dolo eventual, obviamente que com o advento desta nova lei, que pune com mais rigor o uso do álcool na direção de veículo, haverá maiores justificativas para tal enquadramento.

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3 EMBRIAGUEZ AO VOLANTE COMO INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA E ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Uma vez destacadas algumas das principais características do Código de Trânsito Brasileiro, cumpre que sejam enfocadas as peculiaridades essenciais do tema central deste trabalho, qual seja a que se refere ao crime de embriaguez ao volante.

3.1 EMBRIAGUEZ E SEUS ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

É inegável que a embriaguez constitui um dos maiores problemas sociais da atualidade, caracterizando-se como a razão principal de uma série de crimes, acidentes e fracassos pessoais de um número realmente alto de indivíduos. O álcool e as demais substâncias embriagantes atuam diretamente sobre o sistema nervoso central, diminuindo sensivelmente a capacidade de reação diante das adversidades surgidas no trânsito.

Não há dúvidas, portanto, de que é preciso prevenir e reprimir o uso de álcool por aqueles que irão conduzir veículo automotor. Faz-se necessário uma fiscalização maior no trânsito, para demonstrar de forma efetiva ao condutor que ao dirigir embriagado e/ou sob efeito de substância psicoativa é uma conduta perigosa e irresponsável, que pode trazer consequências graves a todos os envolvidos.

Vale destacar, contudo, alguns pontos básicos desse mal, começando pelo conceito do termo “embriaguez”, bem como de suas espécies em particular, cuja menção se faz a seguir.

A palavra “embriaguez” deriva do latim inebriare (embriagar-se, embebedar-se) e, segundo Costa Júnior (1992) no âmbito do Direito Penal, a “[...] intoxicação, aguda e transitória, causada pelo álcool ou substância análoga, que elimina ou diminui no agente sua capacidade de entendimento ou de autodeterminação.”

Na doutrina, Fernando Capez (2008, p. 313), conceitua a embriaguez da seguinte forma:

Causa capaz de levar à exclusão da capacidade de entendimento e vontade do agente, em virtude de uma intoxicação aguda e transitória causado por álcool ou qualquer substância de efeitos psicotrópicos, sema eles entorpecente (morfina, ópio etc.), estimulantes (cocaína) ou alucinógenos (ácido lisérgico).

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De qualquer forma, vale aqui ressaltar que a embriaguez não deve se confundir com a alcoolemia, que é o teor de álcool etílico no sangue.

Segundo a corrente mais aceita, o estado de embriaguez pode ser dividido em três fases distintas, a saber: excitação, confusão e sono. Sobre essas fases, esclarece Genival Veloso França que:

Na fase de excitação o indivíduo se mostra loquaz, vivo, olhar animado, humorado e gracejador; diz leviandades, revela segredos íntimos e é extremamente instável; é a fase da euforia. Na fase de confusão surgem as perturbações nervosas e psíquicas, anda cambaleando e apresenta perturbações sensoriais, irritabilidade e tendências às agressões. Já na fase do sono ou comatosa, o paciente não se mantém em pé, caminha se apoiando nos outros ou nas paredes e termina caindo sem poder erguer-se, mergulhando em sono profundo; sua consciência fica enfraquecida, não reagindo aos estímulos normais; as pupilas dilatam-se e não reagem à luz, os esfíncteres relaxam-se e a sudorese é abundante. (FRANÇA, 1994, p. 274).

Além disso, Jesus (2000) assinala diferentes formas de embriaguez, conforme expresso a seguir:

a) Voluntária: ocorre quando o indivíduo ingere substância tóxica, com o intuito de embriagar-se;

b) Culposa: ocorre quando o indivíduo, que não queria se embriagar, ingere, por imprudência, álcool ou outra substância de efeitos análogos em excesso, ficando embriagado;

c) Patológica: é aquela decorrente de enfermidade congênita existente, por exemplo, nos filhos de alcoólatras que se ingerirem quantidade irrisória de álcool ficam em estado de fúria. Nesse caso, pode haver a isenção ou atenuação da pena (art.26 CP);

d) Fortuita: é quando o agente desconhecia os efeitos da substância ingerida no seu organismo. Pode ocorrer a exclusão da culpabilidade;

e) Por força maior: é quando o agente é coagido física ou moralmente a ingerir a substância. Pode ocorrer a exclusão da culpabilidade;

f) Acidental: é aquela em que o indivíduo ingere substância, desconhecendo seu caráter inebriante, ou que por reações químicas dentro do organismo, esta adquire a presente capacidade;

g) Habitual: é quando o sujeito faz uso de bebidas alcoólicas e se encontra constantemente em estado ébrio;

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do delito. É imputável, sendo punido com agravante (art. 61, I CP).

3.2 A ABSORÇÃO DO ÁLCOOL PELO ORGANISMO, SUAS REAÇÕES FÍSICAS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O ATO DE DIRIGIR

A ingestão de álcool implica em diferentes e variadas reações no organismo do indivíduo, repercutindo diretamente nas atividades que venha a realizar estando neste estado, inclusive no ato de dirigir. Esses efeitos variam com relação à quantidade de bebida alcoólica ingerida em cada individuo, já que cada organismo processa a substância de modo diverso.

De acordo com as lições de Genival Veloso França:

Uma pequena parcela do álcool introduzido no organismo é absorvida pela mucosa da boca, entretanto, a grande maioria é absorvida pelo estômago e intestino delgado, e daí vai para a circulação sanguínea. O processo de absorção do álcool é relativamente rápido, aproximadamente 90% em uma hora. (FRANÇA, 1988, p. 274).

Já o processo de eliminação não ocorre com tanta rapidez, demora de seis a oito horas, sendo feita 90% através do fígado, 8% pela respiração e 2% pela transpiração. (SOUZA, 1998, p. 78).

É importante ressaltar que esses dados são aproximados, levando-se em consideração uma pessoa de mais ou menos 70 quilos, uma vez que tanto os níveis e velocidades de absorção e eliminação variam de pessoa para pessoa, e de situação para situação. Costa Junior e Almeida Júnior citam uma série de circunstâncias que influenciam diretamente a metabolização do álcool como: a diluição (que é o volume alcoólico da bebida ingerida, isso quer dizer que, quanto maior for o volume alcoólico, mais rápida será a absorção); o estado de vacuidade ou de plenitude do estômago (isso significa que, quanto mais cheio o estômago, mais lenta será a absorção do álcool); o ritmo da ingestão (pois que, quanto mais rápida for a ingestão, mais rápida será a absorção); e a habitualidade (COSTA JÚNIOR; ALMEIDA JÚNIOR, 1998).

Dessa forma, no que se refere à embriaguez, o ideal é analisar e avaliar cada caso, não se adotando um critério fixo de concentração de álcool no sangue para sua configuração, uma vez que, como ficou demonstrado, cada pessoa reage de forma diferente diante de uma mesma

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quantidade de álcool.

Portanto, a influência do álcool somente será diagnosticada da maneira correta, diante do caso concreto, isto é, diante da análise das características do indivíduo, suas reações físicas e psíquicas, seus atos, enfim, seu comportamento como um todo.

Mas, não é o que vislumbra no Código de Trânsito, pela Lei 11.705/2008, que considera impedida de dirigir a pessoa com concentração de álcool igual ou superior a seis decigramas por litro de sangue. A nova redação menciona “qualquer quantidade de álcool”, pouco importando o estado de embriaguez, basta a ingestão de álcool para ensejar a penalidade administrativa prevista no art. 165 do CTB, estando o referido limite limitado à configuração do crime de embriaguez ao volante.

3.3 EMBRIAGUEZ COMO INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA

Por reconhecer os riscos naturais relativos a atividade de dirigir, que são potencializados por qualquer ato ou fato que reduza a capacidade cognitiva ou psicomotora dos condutores, o Código de Trânsito passou a considerar o risco potencial gerado pela ingestão de bebidas alcoólicas por aqueles que pretendem dirigir veículos automotores. A potencialidade deste risco é embasada por estudos médicos que demonstram a diminuição da capacidade psicomotora decorrente da ingestão de bebidas alcoólicas.

Assim, dando prioridade a garantia da segurança viária bem como a proteção dos bens jurídicos expostos a risco pela atividade, a legislação de trânsito estabeleceu medidas constritivas de caráter administrativo, além de estabelecer a incriminação da conduta de dirigir embriagado.

É pertinente ao assunto proposto verificar as modificações do Código de Trânsito trazidas pela Lei 12.760/2012 e ainda mais recentemente pela Lei 12.971/2014, que buscam corrigir e melhorar as possíveis interpretações da situação que envolvam embriaguez e direção. É o caso da Lei 12.971/14 que vem inserir a aplicação de teste toxicológico ao motorista, isso porque o art. 306, § 2º que não previa expressamente a possibilidade de ser feito exame toxicológico no condutor do veículo. Pois até então, se houvesse suspeita de a pessoa estar dirigindo sob efeito de álcool, o dispositivo dizia ser possível a realização de

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teste de alcoolemia; isso mesmo após a Lei 12.760/12, tida como a Nova Lei Seca, se acaso existissem indícios de o condutor ter consumido alguma droga ilícita (cocaína, maconha, êxtase etc.), não havia previsão de lhe ser aplicado o teste toxicológico.

Conduzir veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer substância entorpecente caracteriza uma infração administrativa, considerada gravíssima, conforme dispõe o art. 165 do CTB e cuja pena, antes do advento da Lei 11.705/2008 era de multa (cinco vezes) e de suspensão do direito de dirigir, tendo sido acrescentado pela Lei 12.760/12 que a suspensão deve durar doze meses, que prevê ainda como medida administrativa, a retenção do veículo até a apresentação de um condutor habilitado, bem como o recolhimento do seu documento de habilitação.

Ou seja, dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. Trata-se de infração de trânsito gravíssima que sujeita o infrator a multa e suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Haverá também o recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo (art. 165 do CTB).

Além disso, o ato de conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência também é considerada crime (infração penal), cuja pena é de detenção, de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor (art. 306 do CTB).

A verificação da embriaguez de acordo com o parágrafo único do art. 165 do CTB é feita na forma do art. 277 do mesmo Código. Anteriormente, havia a previsão legal de que seria considerado embriagado aquele condutor que tivesse ingerido bebida a ponto de ser constatado em seu sangue um nível de substância alcoólica superior a seis decigramas por litro de sangue.

A apuração da materialidade da conduta e a verificação do consumo de álcool será realizada por meio dos procedimentos previstos no artigo 277 do CTB:

• testes de alcoolemia;

• exames clínicos

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• outros exames ou meios técnicos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN

Tais medidas são aplicáveis ao agente que ingere bebidas alcoólicas e extensíveis também àqueles que façam uso de substância entorpecente ou análoga que possa de alguma forma influir na capacidade psicomotora do condutor.

Além disso, prevê o § 2º do Art. 277 da Lei 12.760/12, que a condição do condutor pode ser caracteriza pelo agente de trânsito não só pelos procedimentos estabelecidos no caput do artigo mas também por outros meios de prova em direito admitidos, tal como provas testemunhais, documentos, e outros que possam servir para indicar a condição do condutor implicado.

Não obstante, a negativa do condutor em se submeter aos testes e exames que lhe forem impostos administrativamente, implicará por si só infração administrativa autônoma, aplicando-se ao infrator as mesmas penalidades e medidas administrativas cabíveis à infração do Art. 165 da Lei 12.760/12.

Cabendo aqui ainda lembrar, que, como já citado anteriormente, a Lei 12.974/14, inseriu dois parágrafos no artigo 302 do CTB, os quais tratam da possibilidade de utilização como comprovação da alteração da capacidade psicomotora do condutor tanto teste de alcoolemia quanto o exame toxicológico.

A responsabilidade pela infração administrativa independe da responsabilidade penal, podendo então o infrator responder e ser penalizado pelas condutas do Art. 165 e 306, uma vez que diversas são as naturezas dos ilícitos e os fundamentos jurídicos de sua incidência, tal como se verá a seguir.

3.4 EMBRIAGUEZ COMO INFRAÇÃO PENAL

A embriaguez no trânsito como crime está prevista no art. 306 do CTB. Anteriormente às alterações trazidas pela Lei 11.705/2008, não bastava a embriaguez do condutor para caracterizar o crime de embriaguez ao volante, se fazia também, necessário, que a sua conduta ao volante fosse anormal, de forma a causar algum perigo para outras pessoas.

Referências

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