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Homero de Giorge Cerqueira

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A EMANCIPAÇÃO CRÍTICA DA FORÇA PÚBLICA BANDEIRANTE: CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS AGENTES DE DEFESA E PROMOÇÃO DA CIDADANIA E DOS SABERES DO CURRÍCULO DOS OFICIAIS DA PM NA

PROTEÇÃO DO CIDADÃO

CERQUEIRA, Homero de Giorge homero.cerqueira@pq.cnpq.br

Doutorando PONCE, Branca Jurema Profa. Dra. Puc-sp Agência de fomento: capes Resumo

A pesquisa teve como objetivo investigar sobre o currículo, analisando o conteúdo programático como facilitadores do desenvolvimento das competências, habilidades e atitudes, para dar contar, na tomada de decisões do cotidiano do PM, da observância dos direitos humanos e da dignidade da pessoa. a partir dessas inquietações, buscou-se resposta: quais os saberes que compõem o currículo da apmbb? o marco teórico do currículo da educação policial militar ancora-se no discurso de Michel Foucault e de paulo freire, bem como Michael Apple, Henry Giroux para alicerçar a pedagogia da autopoiese. a abordagem metodologia desta pesquisa está inserida dentro dos moldes da pesquisa qualitativa, tendo como instrumento de coleta de dados o questionário, grupo focal e entrevistas com os comandantes da apmbb, os professores, os egressos e os alunos.

Ppalavras-chaves: currículo, policial militar, disciplina.

Introdução

O sentido etimológico de polícia (do grego polis) é governo de uma cidade, administração, forma de governo, referindo-se a gestão, administração e governabilidade. Portanto a pesquisa em torno da articulação, preparação e aplicação do profissional de segurança pública se torna essencial à promoção da cidadania e na proteção dos direitos humanos.

Neste artigo, serão abordados os seguintes assuntos: o Currículo na formação do oficial da Polícia Militar, definição do problema, objetivo do trabalho e abordagem metodologia, bem como a conclusão final.

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A manutenção da ordem consiste em uma condição de salvaguarda da cidadania. O retrocesso ocorre quando a manutenção da ordem torna-se uma obsessão política que paralisa a vida social (a saúde social implica movimentos e mudanças constantes na sociedade, na polícia, no governo e na política).

Introduzindo a discussão sobre o currículo na formação do oficial da Polícia Militar

Meu interesse pela pesquisa do currículo na formação do oficial da APMBB nasceu ao longo de minha trajetória, devido à escassez da discussão sobre currículo dos oficiais da polícia militar e à necessidade epistemológica de conhecer os saberes que compõem o currículo e compreender como esse profissional de defesa da cidadania é marcado por ele.

O contexto social, a globalização, a dinâmica produção do conhecimento e o avanço tecnológico exigem a formação de um egresso com competências e habilidades específicas de sua área de atuação. A educação policial militar, como vem sendo, historicamente desenvolvida não tem mais suprido essas necessidades. O contexto atual requer, no exercício do oficialato, um sujeito que tenha mais do que domínio do conteúdo da área em que atua. Exige um oficial capaz de criar mediações possibilitadoras do desenvolvimento e da formação de um aluno autônomo1.

Portanto, é preciso que a escola ofereça condições para que o aluno possa apropriar-se desse saber escolar e fazer a leitura da realidade concreta de forma crítica (FREIRE, 2004, p. 31 e 39). Outro pressuposto para que isso ocorra são os métodos utilizados, que deverão estimular atividades criativas, propiciar atitudes dialógicas entre 1

A autonomia é um processo, é uma prática libertadora: “a autonomia enquanto amadurecimento do ser para

si, é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade” (freire, 2004, p. 107).

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alunos, instrutores/professores e a cultura, respeitar os interesses, os conhecimentos e do ritmo dos alunos, para que a aprendizagem se torne significativa. Deve-se, portanto, respeitar as dimensões pessoais, afetivas e intelectuais do aluno2.

Para tratarmos da construção do saber, partiremos da concepção de educação de Paulo Freire, cuja matriz é liberdade, concepção essa que vai ao longo de sua obra se adensando, re-significando, anunciando vieses e coloridos de um processo contínuo: a educação é comunicação, pensar certo, diálogo, na medida em que não transfere apenas saber, mas se constitui em um encontro de sujeitos interlocutores e na superação da contradição educador-educando para que se instale uma situação gnosiológica entre os sujeitos cognoscentes e o objeto cognoscível que os mediatiza.

Acrescenta que a educação implica humanização, integração, tarefa político-pedagógica, direção, arte, estética, ética, forma de intervenção do mundo, prática da liberdade, aproximação crítica da realidade, problematização, ação e reflexão, conscientização, aspectos que serão destacados ao longo deste trabalho.

O papel da educação é humanizar o homem para que, em uma ação consciente, ele possa, dentro dos seus limites, transformar no mundo. A educação, especificidade humana, é uma forma de intervenção no mundo, que permite tanto a reprodução da ideologia dominante como o seu desmascaramento.

Ao educador crítico cabe a tarefa político-pedagógica de contribuir para a intervenção na sociedade: “a mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o anúncio de sua superação, no fundo, nosso sonho” (Freire, 2004, p. 79).

A educação é comunicação, é diálogo à medida que envolve sujeitos interlocutores em busca dos significados do aprendido e apreendido, das suas re-significações exigidas

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“Respeitar a leitura de mundo do educando (...). É a maneira correta que tem o educador de, com o educando e não sobre ele, tentar a superação de uma maneira mais ingênua por outra mais crítica de inteligir o mundo (...) o educador que respeita a leitura de mundo do educando, reconhece a historicidade do saber, o caráter histórico da curiosidade, desta forma, recusando a arrogância cientificista, assume a humilde crítica, própria da posição verdadeiramente cientifica” (freire, 2004, p.122).

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pelo espaço pedagógico que deve ser re-criado e re-inventado, de acordo com as condições do educando. É contrária à mera transmissão do conhecimento, proposta pela educação bancária, que é antidialógica. A educação problematizadora visa à superação dessa postura ‘bancária’ por meio do diálogo.

A educação, para ser humanista, tem que ser libertadora, o que pressupõe conscientização, que só se dá na práxis concreta, porque o ser humano consciente de seu inacabamento busca constantemente a sua completude.

No prefácio da obra de Paulo Freire, (1977, p.12), Jacques Chonchol explica que o papel da educação para Freire, “não é outro senão o de humanizar o homem na ação consciente que esse deve ter para transformar o mundo”.

Com a finalidade de esclarecer os conceitos que embasarão este trabalho, acrescentaremos, ainda, os conceitos de saber, ensinar, currículo e aprender, na ótica freireana e foucaultiana, esta será analisada no desenvolvimento de texto.

Perrenoud, ciente do caráter polissêmico e multifacetado da noção de competência, propõe que ela seja entendida como “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimento, mas sem limitar-se a eles” (PERRENOUD, 1999, p. 32). A relação entre saberes e competências está desde logo colocada e tem-se constituído no principal ponto polêmico quando se fala em currículo.

O processo de saber é social, cuja dimensão individual, porém, não poder ser esquecida ou subestimada. O saber parte da consciência do saber pouco sobre alguma coisa, quando atuamos. O homem, inserido em um movimento de busca constante, constrói e re-constrói o seu saber permanentemente à medida que o conhecimento anterior é substituído pelo novo:

O saber começa com a consciência do saber pouco (enquanto alguém atua). É sabendo que sabe pouco que uma pessoa se prepara para saber mais [...]. O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura faz e refaz constantemente o seu saber [...]. Há, portanto, uma sucessão constante do saber, de tal forma que todo novo saber, ao instalar-se, aponta para o que virá substituí-lo. (FREIRE, 1987, p.47).

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Há dois momentos do saber: o da experiência da e na cotidianidade, em que não há questionamentos e “o segundo momento em que nossa mente opera epistemologicamente, a rigorosidade metodológica com que nos aproximamos do objeto, tendo dele ‘tomado distância’, isto é, tendo-o objetivado, nos oferece um outro tipo de saber”. Esses dois saberes implicam “debates sobre prática e teoria que só podem ser compreendidos se percebidos e captados em suas relações contraditórias” (FREIRE, 2006b, p.124).

O oficialato é uma profissão prazerosa e nada fácil. Para estudar a construção dos saberes no currículo, por profissionais no exercício da atividade de administração de segurança do cidadão, levaremos em conta, segundo Moreira (1997, p.15), a existência do currículo formal (planos e propostas), do currículo em ação (o que acontece na escola e na sala de aula), e um currículo oculto (regras e normas não-explicitas que permeiam as relações docentes e discentes).

Na ótica sociológica de currículo, devemos considerar o papel social da educação e da escola no desenvolvimento do ser humano e destacar que diferentes currículos produzem diferentes pessoas, identidades, subjetividades sociais determinadas, que podem conduzir à inclusão ou à exclusão social:

Uma história de currículo tem de ser uma história social do currículo, centrada numa epistemologia social do conhecimento escolar, preocupado com os determinantes sociais e políticas do conhecimento educacionalmente organizado (GOODSON, 1995, p. 03).

Tomamos a concepção de currículo apontada por Goodson (1995) como ponto de partida, por estar centralizada em vivências, visando contribuir para a interpretação e transformação das práticas escolares rumo a um projeto social emancipatório na defesa do cidadão e na importância do serviço exercido pelo policial militar.

Acredita-se na relevância do estudo proposto, pois os policiais militares precisam ser reconhecidos como agentes importantes da administração pública, não só pelo lugar que

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ocupam e as funções que desempenham no seio do estado, mas também pela sua proximidade e contato com a sociedade no cotidiano da sua prática.

A Polícia Militar é uma instituição que, apesar de guardar uma íntima relação com o poder de estado, mantém uma relação direta com a sociedade, sendo constantemente demandada pelo poder público para desempenhar numerosas e diversificadas tarefas que escapam às funções policiais tradicionais de aplicação da lei e manutenção da ordem. Conseqüentemente, as funções estratégicas que a polícia desempenha na sociedade como aparelho repressivo (ALTHUSSER, 2007) do Estado deve ser foco de reflexão permanente por parte não só do próprio Estado, mas, sobretudo, da sociedade, operando-se, assim, um controle sistemático sobre as práticas policiais, com vistas a atender aos preceitos de uma sociedade democrática.

A pesquisa que desenvolvo nos últimos anos tem como objeto de estudo as questões da prática escolar cotidiana do ensino policial militar, visando a encontrar alternativas para o redimensionamento do poder-saber e do aprender-fazer, aprender-saber, aprender-ser, aprender-aprender do docente policial militar (MORIN, 2000) por conta do fim da ditadura militar e da implantação da constituição federal do Brasil (1988), conhecida por constituição cidadã. Tais transformações alteraram as relações de trabalho dos policiais militares em todo o território nacional que, associadas às inovações tecnológicas, contexto social e a globalização, impõem novas posturas no mundo do trabalho policial e exigem novos perfis dos policiais militares e do currículo que lhes é proposto.

Nesta pesquisa empírica, investigarei os saberes que compõem o currículo, visando a: compreensão e valorização das diferenças; a formação e a qualificação profissional continuada; a flexibilidade na atuação de policiamento ostensivo; a diversificação e transformação da polícia comunitária; a interdisciplinaridade do currículo; a valorização dos conhecimentos pretéritos; a valorização do conhecimento da realidade; a abrangência e capilaridade, a universalidade, a articulação, a continuidade e a regularidade do profissional de defesa do cidadão. Enfim, a qualidade e atualização permanente da formação do oficial

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da Polícia Militar, aproximando-o do perfil preconizado pela Matriz Curricular Nacional da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça (MJ).

Este documento constitui-se em um referencial nacional para as atividades de formação em Segurança Pública que fomenta a reflexão e orientação, garantindo a coerência das políticas de melhoria da qualidade da Educação em Segurança Pública, bem como de desempenho profissional e institucional.

Fundamentada em uma concepção abrangente e dinâmica de currículo, a Matriz Curricular da SENASP propõe instrumentos que permitem orientar práticas formativas e situações de trabalho em Segurança Pública, proporcionando a unidade na diversidade, a partir do diálogo entre Eixos Articuladores e Áreas Temáticas.

Os Eixos Articuladores estruturam o conjunto dos conteúdos formativos, definidos por sua pertinência na discussão da Segurança Pública e por envolverem problemáticas sociais, enfrentadas pelos profissionais, consideradas de abrangência nacional. As Áreas Temáticas contemplam os conteúdos indispensáveis à formação do profissional da Segurança Pública, isto é, devem convergir para capacitá-los no exercício da função profissional.

É preciso, também, analisar a literatura acadêmica especializada, os fundamentos relativos à evolução do ensino policial militar no Brasil e em outros países, para desenvolver os fundamentos teóricos e as características relativas ao trabalho. Buscar-se-ão as relações de poder, dominação, disciplinamento, institucionalização, dignidade da pessoa humana, de direitos humanos, de valores humanos, de respeitos. Um currículo emancipatório cujas interpretações da realidade sejam amplas e críticas, que ultrapasse significado subjetivo, visando a produzir um conhecimento emancipador que permita avaliar as condições e determinações sociais, culturais e políticas, além de promover ações sociais.

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O motivo que me leva a perseguir essa linha de investigação é, por um lado, o desejo de contribuir e continuar o discurso da humanização para que a formação do oficial da polícia militar seja contemplada com um currículo crítico, preparando-o para prestar à sociedade um serviço público de qualidade social; e, por outro, mostrar o reconhecimento, pela população, do importante papel do policial militar.

O estudo dos saberes, estabelecido pela instituição na formação do oficial para capacitar os cadetes, causou-me inquietações. Não há, no mundo acadêmico, pesquisas sobre currículo centrado nessa temática e por isso é preciso investigar a educação policial militar, em especial com foco sobre o cadete, 3 da APMBB.

Para fazer frente às exigências que se apresentam e se modificam, rapidamente, na formação dos profissionais de defesa do cidadão, é necessário que haja mudanças no processo curricular, tornando-o adequado à contemporaneidade, à complexidade e à imprevisibilidade que caracterizam o processo de trabalho dos administradores de segurança do cidadão.

No Brasil, salvo raríssimas exceções, os estudos sobre a Polícia Militar não incluem a pesquisa empírica, limitando-se apenas à pesquisa bibliográfica. No conjunto dos estudos nacionais examinados, constituem algumas das importantes exceções: Paixão (1981; 1982); Oliveira, (1984; 1985); Fischer (1985); Kant de Lima (1994), Mota (1995), Muniz (1999), Paula Poncione (2003) Ronilson de Souza Luiz (2008).

Kant de Lima, Misse e Miranda (2000) ressaltam que, muito provavelmente, um dos fatores que afastou a reflexão dos cientistas sociais contemporâneos, durante um longo período, das etnografias dos sistemas judicial e policial brasileiro, foi o caráter hierárquico desses sistemas, concebidos como sendo “meros reflexos de uma ordem opressora e injusta”, nada tendo a ser estudado neles, a não ser seus modos de extinção. Pode-se inferir, ainda, que esta carência de estudos na área é, também, em grande parte, resultado da

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Cadete: nesta concepção significa aspirante a oficial. Em francês, cadet significa “caçula, derivado do

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ausência de investimentos sistemáticos do estado em pesquisas sobre a organização policial, com vistas a prover uma política pública na área de segurança.

Com essa compreensão, defende-se que o modelo de formação do oficial da polícia militar do estado de São Paulo deve estar ancorado no referencial da pedagogia crítico-reflexiva, contribuindo para a construção de um currículo que possibilite o agir centrado no cuidado integral.

O currículo tem sido objeto de inúmeros estudos pelos profissionais de aprendizagem, didática, psicologia da educação e formação de professores. A área de Educação: Currículo preocupa-se também em compreender as mudanças da filosofia educacional, do ensino-aprendizagem, da avaliação e da administração escolar.

O currículo não é um elemento neutro, de transmissão desinteressada do conhecimento social. Ele não é um elemento transcendental e atemporal e, portanto, tem história (MOREIRA; SILVA, 2002). Para compreendê-lo, faz-se necessário realizar uma abordagem conceitual sobre ele.

Neste trabalho, será utilizado o conceito de currículo de Jean-Claude Furquin (1993, p. 32) como uma abordagem global dos fenômenos educativos em sala de aula e também como maneira de pensar a educação voltada para a questão dos conteúdos e da forma como esses conhecimentos se organizam no curso.

Na formação dos oficiais, o currículo oficial privilegia as questões de direito, autoridade, hierarquia e disciplina. Influências vindas dos militares no período de exceção. O pensamento curricular na formação do oficial reflete essa ideologia autoritária.

Não se pretende apontar os fatos sociais que legitimaram esse pensamento, mas, apenas, assinalar aqueles que sub-repticiamente permanecem nas entrelinhas da legislação que controla a educação policial militar no nível superior.

Do ponto de vista educacional, pode-se caracterizar esse currículo do ensino policial militar como adoecido, devido aos paradigmas curriculares vigentes (que foram arraigados pela instituição), ao autoritarismo (que extrapola o exercício da docência), à falta de cidadania educacional (que se faz tão necessária aos discentes que atuarão na sociedade

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para a manutenção e restabelecimento da ordem pública em uma sociedade democrática) e à prática social complexa (CERQUEIRA, 2006).

Profissionalização e a problematização

Com base nas novas exigências de profissionalização requeridas pela racionalidade instrumental e pela administração pública e ocasionadas pelas transformações ocorridas no mundo do trabalho, percebo que o curso de formação de oficiais precisa reconstruir e implantar uma nova matriz curricular para contribuir na formação de um profissional que atenda, de modo efetivo, às expectativas da sociedade.

A perspectiva dialógica na construção do currículo de formação de oficiais parece ser uma solução indicada para o desenvolvimento de competências e habilidades, atualmente exigidas do profissional de segurança do cidadão, considerando as mudanças organizacionais e ambientais no desempenho da atividade policial.

Esta deve ser entendida dentro de sua dimensão mais ampla de desempenhos esperados, de desejado relacionamento com o meio a que serve – a sociedade, os estados e as instituições.

O oficial da polícia militar não pode mais continuar apegado à incumbência arcaica de favorecer a dominação dos que detêm o controle da propriedade dos recursos materiais sobre aqueles que possuem apenas sua força de trabalho. Esta análise opõe-se ao conceito de continuidade dessa cultura.

Segundo Silva (2000, p.13), o currículo deve responder às questões sociais com o intuito de idealizar um conjunto de ações e saberes na formação dos oficiais, tais como: quais conhecimentos os cadetes devem ter? Na formação do currículo formal para formação do oficial, quais conhecimentos ou saberes serão considerados importantes, válidos ou essenciais?

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Objeto da pesquisa

Buscaremos, com esta investigação, conhecer os saberes que compõem o currículo na formação do oficial da Polícia Militar. Os sujeitos escolhidos serão os alunos-oficiais atuais (2008) da APMBB e os dela egressos antes de 1991, atuais capitães da instituição, o atual comandante da APMBB e os que já comandaram a escola de oficiais, coordenadores de curso de formação de oficiais e os professores civis e militares da instituição.

O presente estudo tem por objetivo geral refletir sobre o currículo da formação de oficiais da academia de polícia militar do barro branco, analisando as estratégias didáticas e o conteúdo programático como facilitadores do desenvolvimento da habilitação a fim de compreender as tomadas de decisões do cotidiano do policial militar e apontar maior necessidade de observar o respeito aos direitos humanos e à dignidade da pessoa, o estado democrático de direito, a responsabilidade social e a vida humana no exercício da atividade do policial militar.

Ressaltamos que o papel da educação é humanizar o homem para que ele em uma ação consciente possa, dentro dos seus limites, transformar o mundo. A educação, especificidade humana, é uma forma de intervenção no mundo.

A educação é diálogo à medida que envolve sujeitos interlocutores em busca dos significados do aprendido e apreendido, das suas re-significações exigidas pelo espaço pedagógico que deve ser re-criado e re-inventado, de acordo com as condições do educando.

Metodologia

Para desdobrar a cultura policial militar, compreender a relação instrutor—cadete mantida nos fundamentos da disciplina militar e a prática do docente na escola de formação de oficiais (EsFO) da academia de polícia militar do barro branco, utilizou-se como método à pesquisa exploratória. Essa pesquisa exploratória tem a intenção de proporcionar maior familiaridade com o problema de saberes necessários no processo de formação do oficial, visando a torná-lo mais explícito.

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Nesse prisma, realizar-se-á a pesquisa bibliográfica na legislação, nas normas e nos currículos que norteiam o ensino e a instrução da APMBB. Também serão feitas pesquisas bibliográficas dos manuais que eram utilizados após 1970 para orientação de futuros instrutores, quando a denominação tornou-se polícia militar do estado de São Paulo.

Para esta pesquisa serão entrevistados policiais militares com vinte anos de serviço e que atuem na área administrativa da instituição, no policiamento ostensivo e no ensino, bem como militares que atualmente exercem suas atividades na instituição militar. Essas entrevistas terão por objetivo constatar o conhecimento, as habilidades e atitudes desses envolvidos. Além disso, a formação para administrar a segurança do cidadão deverá ser capaz de produzir uma relação entre o saber e o fazer no processo de produção, implicando na capacidade de elevação do saber cientifico básico por parte do oficial.

Os questionários serão aplicados aos cadetes da APMBB em seus quatro anos de curso: desde o ingresso na academia até a formatura como aspirantes a oficiais. Por ser capitão da instituição não atuarei como pesquisador direto para realizar as entrevistas com os alunos, pois o posto de superior hierárquico em relação aos cadetes, ou seja, a reverência ao superior, prejudicará o resultado da pesquisa.

Após ser feito um recorte da formação do oficial, procurarei — por meio de questionários e de entrevistas — retirar dessa relação o conhecimento objetivado nesta pesquisa, sem interferir na escola, em razão do posto ocupado pelo pesquisador, principalmente, quando das questões realizadas com o corpo discente da escola.

Buscarei, também, interpretar o mundo como é experienciado e compreendido pelo policial militar, a partir do que cada pessoa, ou cada pequeno grupo de policiais militares pensa ser a realidade. Todavia, tenho vista a premissa de que não é possível uma postura neutra enquanto pesquisador porque sou integrante da polícia militar (LUDKE; ANDRÉ, 1986).

A pesquisa exploratória aproximar-se-á do sistema de representação, classificação e organização do universo estudado. Portanto, a preocupação deste trabalho de investigação científica será com o significado, com a maneira própria com que as pessoas vêem a si

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mesmas, suas experiências e o mundo que as cerca. Enfocará os responsáveis pela formação profissional dos oficiais, diretores e professores do corpo docente da escola de oficiais e os responsáveis pela capacitação e atualização de policiais militares.

Conclusões finais

Há que ser uma reforma que derrube o prédio todo, para reerguê-lo desde as fundações. Há que ser uma reforma a deixar de lado os modelos dos estabelecimentos de ensino policial que, para além de voltados a propósitos diversos dos que são visados na formação do oficial, não podem ser havidos por bons paradigmas, como vimos acima.

É preciso que cada disciplina escolar seja construída em torno do propósito primeiro e fundamental de proteger as pessoas e os seus direitos fundamentais, porque, antes e mais que garantir a ordem, a polícia deve ser vista como instrumento de garantia da cidadania.

Para tanto, a sociedade não pode ser havida como o objeto em face do qual a polícia faz atuar o seu poder, mas sim, a razão primeira e única de sua existência. Sem lugar para indivíduos – essa categoria em que o home concreto se dissolve e perde a sua essência, converte-se em coisa, reifica-se, enfim – mas para os homens e as mulheres autênticos, com suas deficiências, necessidades e carências – todos faltos da justiça igualmente autêntica.

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