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Acordam no Tribunal da Relação de Évora

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Academic year: 2021

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________________________________________________________________________ PN 506/001; Ag.: TC Santarém; Ag.e2: Ag.o3: ________________________________________________________________________

Acordam no Tribunal da Relação de Évora

1. solicitou a suspensão cautelar da deliberação tomada na Assembleia Geral Extraordinária de Lda.

pela qual foi decidido entregar o pátio e casa anexa ocupados pela sociedade ao senhorio.

2. Na resposta a req.a sustentou a inexistência de arrendamento para salvaguarda do

qual veio o req.e a juízo; e que a entrega nunca viria a prejudicar em nada a sociedade uma vez que possui espaço suficiente de armazém naquele que obteve de arrendamento.

3. Ficou provado:

(a) deu de arrendamento, em 1972,

à req.a o seu prédio urbano, composto de casa de rés-do-chão destinada a comércio, com duas divisões e casa de banho, sito em S. Pedro, Salvador, Santarém, descrito na Conservatória da Comarca sob o nº 12170, lv. B31, omisso na matriz, mas requerida a inscrição (710805);

1 ML (564)

MM (44/2000).

(2)

(b) Da escritura pública referente a este arrendamento não consta o pátio da casa;

(c) Que todavia tem sido utilizado pela req.a;

(d) E a req.a adaptou quer esse pátio, quer a casa anexa, ao exercício da sua actividade, desde o início da utilização deles para normal e regular

desenvolvimento da actividade daquela;

(e) Tais melhorias consistiam em acimentar o pavimento na abertura de uma fossa para lavagem e manutenção dos veículos da req.a;

(f) O espaço do pátio é utilizado pela req.a para depósito e armazenagem de vasilhame e para a recolha de veículos;

(g) Existe a probabilidade séria de prejuízo para a req.a, provinda da execução da deliberação em crise;

(h) A gerência da req.a encontra-se atribuída, segundo o pacto, a todos os sócios;

(i) O sócio poderá ter vantagem económica com um posterior arrendamento do pátio em questão;

(j) A req.a tem dois veículos pesados, sendo apenas um de maior dimensão; (k) Os produtos de armazenamento da req.a estão no armazém coberto, sendo que é neste que são feitas as cargas;

(l) É no pátio que as viaturas são descarregadas;

(m) É também neste que são armazenadas as centenas, ou mesmo milhares de caixas de vasilhame;

(n) Ainda é neste que o vasilhame é escolhido;

(o) O pátio foi adaptado para este efeito, bem como para a limpeza e lavagem das viaturas;

(p) E tem ligação directa ao armazém;

(q) Uma das casas anexas ao pátio serve também de armazém;

(r) Todas as actividades referidas são inerentes e essenciais à actividade da req.a, que não pode desenvolver-se sem depósito de vasilhame e de

(3)

(s) O armazém coberto é de todo ocupado pelas mercadorias de venda; (t) E nele não cabem todos os carros ao serviço da req.a;

(u) Ao prédio omisso na matriz, que deu de

arrendamento à req.a, com a área coberta de 506 m2, veio a ser atribuído o art. matricial 1686º;

(v) Só este prédio foi dado de arrendamento à sociedade;

(w) O imóvel constituiu aliás artigo matricial autónomo, encontrando-se fisicamente separados os espaços restantes, com uma pequena porta de ligação, que pode ser encerrada sem qualquer custo ou prejuízo;

(x) A actual actividade da req.a está restringida ao comércio de sal e à distribuição de uma marca de refrigerantes na zona de Santarém;

(y) Há anos que abandonou o comércio de mercearias; (z) A req.a tem dez empregados;

(aa) Estão paletes espalhadas pelo armazém [coberto];

(bb) A casa contígua ao armazém está completamente degradada, abandonada,

a guardar lixo e entulho, não tendo há anos qualquer utilidade para a req.a, sem que a porta possa sequer ser aberta;

(cc) Alguns veículos estacionados no pátio estão no estado de sucata.

3.1 O Tribunal fundou a convicção no teor dos documentos juntos com os articulados

e nas fotografias juntas com a oposição e ainda nos depoimentos das testemunhas , depoentes que

demonstraram conhecimento directo dos factos comprovados, com serenidade;

Quanto às respostas não provado, as testemunhas inquiridas sobre os factos correspondentes limitaram-se a dizer que pensavam, ouviram dizer, não tinham a certeza.

4. Com base na matéria apurada, a decisão recorrida deferiu a providência: (a) O sócio é proprietário das instalações utilizadas pela req.a;

(b) Daí que não pudesse tomar parte na votação sobre o abandono do pátio e anexos que a sociedade utiliza;

(4)

(c) Podendo haver vantagem económica para o sócio em questão, através de um posterior arrendamento do pátio, sendo apenas armazenados e carregados os produtos que a req.a tem para venda no armazém coberto, existe séria probabilidade de a execução da deliberação em crise causar dano apreciável.

5. Concluiu a recorrente:

(a) Nos termos dos arts. 381º/1.2, 383º e 396º CPC, a procedência deste procedimento cautelar depende cumulativamente de três requisitos: existência de um direito a acautelar, existência de uma deliberação contrária à lei, aos estatutos ou ao contrato, dano apreciável que a execução desta possa causar;

(b) No caso dos autos não se encontra provada, ou sequer indiciada, a existência do direito que o recorrido supostamente pretenda cautelar: direito de arrendamento em favor da requerida;

(c) Não logrou o req. e produzir prova, na verdade, de qualquer facto que indicie a existência de uma relação locatícia relativamente ao pátio e quintal foi objecto da deliberação social;

(d) Não se verifica pois a existência de um direito preexistente, ou emergente de decisão a proferir em acção constitutiva, já proposta ou a propor, que tenha de

ser acautelado;

(e) Muito pelo contrário resultou provada a tese da oposição;

(f) Por outro lado, tem de ser dado como assente que a rq.a tem o capital social de Pte. 1 600 000$00, a quota do recorrido de Pte. 400 000$00, sendo as restantes, no montante de Pte. 600 000$00 cada uma de

e a ;

(g) Ora, na Assembleia Geral Extraordinária foi aprovada por maioria, por 2 votos contra 1, sendo o voto vencido do recorrido, a restituição imediata do prédio e da casa anexa;

(h) Deste modo, o voto do recorrente não era necessário para a aprovação da ordem de trabalhos da Assembleia Geral;

(5)

(i) Ainda que o sócio não tivesse exercido o direito de voto, a expressou validamente o seu, equivalente a mais de 50% do capital social remanescente;

(j) Não sendo pois o voto de essencial à maioria necessária para a aprovação da deliberação em causa;

(k) Assim, a circunstância do recorrente ter tomado parte na votação sobre a entrega do pátio e anexos, não fere a deliberação de ilegalidade, tendo apenas como consequência a ineficácia do voto;

(l) É que nos termos do art. 58º/1b CSC subsistem as deliberações dos sócios em que se prove que teriam sido tomadas mesmo sem os votos abusivos;

(m) Por consequência, não se encontram preenchidos os requisitos cumulativos para a procedência da providência cautelar;

(n) E ao decidir diferentemente a decisão recorrida violou o disposto nos art.s 381º, 383º e 396º CPC, 58º/1b CSC;

(o) Deve ser revogada e substituída por outra que julgue improcedente o pedido.

6. Nas contra-alegações disse-se:

(a) A decisão recorrida não merece qualquer reparo, e deve ser mantida na íntegra;

(b) O recorrido logrou provar os dois requisitos necessários à procedência da pretensão, a saber: ilegalidade da deliberação; resultado prejudicial para a sociedade;

(c) A deliberação em questão é ilegal por ter sido votada por um sócio em nítido conflito de interesses;

(d) A deliberação é nula também por ofender os bons costumes, a boa fé e a lei em geral;

(e) Na verdade, tal como ficou provado, o imóvel objecto da deliberação é utilizado pela rq.a desde 1972, tendo sido adaptado para o efeito;

(6)

(g) E mesmo cientes dos prejuízos que a deliberação causaria à sociedade, os dois sócios maioritários (que são primos) aprovaram a deliberação;

(h) Tal circunstância é, por si só, violadora da boa fé e ofensiva dos bons costumes, o que confere o carácter de ilegalidade para a deliberação em crise;

(i) Mas mesmo que assim se não entendesse, sempre teria de se concluir que a deliberação em causa foi tomada com nítido abuso de direito;

(j) É que favorece o sócio , o qual com a sua execução obtém um acréscimo patrimonial e simultaneamente a sociedade;

(k) Por seu turno, a sócia a, com um voto, apenas pretendeu favorecer o primo, em prejuízo da rq.a;

(l) A deliberação objecto dos presentes autos é portanto ilegal;

(m) Mas da prova produzida resultaram também factos que indiciam a existência de um arrendamento: a sociedade ocupa o espaço desde 1972, sendo ela que ofrui e usa;

(n) Por fim resultou provado, como já se disse, que da execução da deliberação resultaria um dano apreciável para a rq.a;

(o) Estão pois reunidos os requisitos para ser decretada a suspensão de deliberação;

(p) Não merece qualquer reparo a decisão recorrida.

7. O recurso está pronto para julgamento.

8. Perante os documentos juntos, e as posições concordes das partes, deve ser aditado à matéria assente o seguinte:

(a) O capital social da rq.a é de Pte. 1 600 000$00, detida uma quota de Pte. 400 000$00 por , outra de Pte. 600 000$00 por

, e outra de igual montante por a ;

(b) A deliberação em crise foi votada pelos sócios e a, votando contra João .

(7)

9. O problema que tem de ser encarado na apreciação do presente recurso é o de saber se, não obstante a ilegalidade da participação na votação do sócio que tem interesse particular na entrega do pátio e anexo (utilizados com proveito, até aqui, pela sociedade), mesmo assim, podendo tal deliberação ser tomada sem a

participação dele na votação, há ou não, acaso persista, ofensa do princípio da protecção da minoria.

A decisão recorrida pronunciou-se, ainda que de modo implícito, pela resposta afirmativa, tendo em consideração que o voto em conflito de interesses inquinava sem mais a votação, provada indiciariamente a possibilidade de prejuízo da

sociedade.

O recorrente defende o contrário, fundado no disposto no art. 58º/1b CSC.

Mas, na verdade o sistema legal da protecção das minorias societárias, não vai ao ponto de fazer prevalecer a posição destas contra qualquer maioria, nomeadamente se desinteressada, como é o caso (o parentesco de pelo menos 3º grau, alegado pelo recorrido, não afasta do voto de a a qualidade referida).

Não se segue porém que haja, para já, de conferir-se razão aos argumentos de recusa

da decisão recorrida: a maioria tem de estar de acordo com os fins sociais. E devendo, pelo menos, aceitar-se, ao nível indiciário que é o das providências cautelares, que se trata de comodato gratuito, sem prazo, mas com fim determinado, e em concreto benefício da sociedade, não foi alegada, nem comprovada por conseguinte, qualquer razão objectiva, segundo o interesse social, para a revogação do consenso, que todavia pode ser resolvido4 por alegação de justa causa do

comodante, justamente um dos sócios que, na Assembleia Geral votou a restituição, mas por iniciativa da comodatária.

Esta circunstância, ainda que se elida a posição de , destitui de

racionalidade a deliberação atacada, que então já pode ser vista como contrária ao pacto: o contrato de sociedade destina-se ao cumprimento de determinada actividade

empresarial; à actividade pactada serve a utilização do pátio e anexo; há desrespeito

(8)

do contrato, por conseguinte, quando sem razão se força o abandono de um elemento útil da empresa.

Nesta medida, e sob este ponto de vista, estão presentes os núcleos de anti- jurídicidade que autorizam a suspensão da eficácia da deliberação (ilegalidade e perigo de prejuízo social5).

Logo, improcede o recurso.

10. Atento o exposto, vistos os art.s 980º CC, e 381º, 383º, 396º CPC, decidem manter inteiramente a decisão recorrida.

11. Custas pelo Ag.e, sucumbente.

5 Não por se ter dado como provado, em certa altura, isso e só isso mesmo, i.e. com esta formulação linguística, mas porque o perigo de prejuízo advém tão simplesmente da desafectação de um elemento útil

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