• Nenhum resultado encontrado

CONTRIBUIÇÕES DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS PARA O PROCESSO DE TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CONTRIBUIÇÕES DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS PARA O PROCESSO DE TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

CONTRIBUIÇÕES DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS PARA O PROCESSO DE TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA

CONTRIBUTIONS OF THE TRADITIONAL COMMUNITIES TO THE AGROECOLOGICAL TRANSITION PROCESS

Autor(es):

Suzana Guimarães Andrade Djalma Ferreira Pelegrini

Filiação: Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG E-mail: djalma@epamig.br

Grupo de Pesquisa 4:Construção do saber coletivo na produção agroecológica Resumo

Os processos modernizantes têm provocado efeitos severos sobre o ambiente e a sociedade. Contudo, os saberes tradicionais das comunidades rurais constituem elementos importantes para a implementação de estratégias sustentáveis de desenvolvimento rural. Esta pesquisa teve como objetivo identificar práticas e conhecimentos capazes de contribuir com o processo de transição agroecológica em Minas Gerais. A partir de intercâmbio entre pesquisadores, agricultores, estudantes e extensionistas foi possível verificar que o cultivo em sistema agroflorestal, dentre outras práticas adotadas pelas Comunidades rurais Vereda Funda e Água Boa II poderão contribuir para o fortalecimento do processo de transição agroecológica em agroecossistemas.

Palavras-chave: Transição Agroecológica; Comunidade Rural; Saberes Tradicionais

Abstract

Moderning processes have provoked severes effects on the environment and the society. However, the conventional wisdom of rural communities constitutes important elements for the implementation of rural development sustainable strategies. This work had as aim to identify practices and knowledge able to contribute with the agroecological transition in state of Minas Gerais. As from the interchange among researchers, farmers, students and extension workers, it was possible to verify that the cultivation in agroforestry systems, aside others practices assumed by the rural communities of Vereda Funda and Água Boa II, might contribute to the strengthen process on agroecologial transition in agrosystems.

(2)

1. Introdução

A sobrevivência de povos e comunidades tradicionais de Minas Gerais tem sido constantemente ameaçada pelos grandes projetos de desenvolvimento, na forma de empreendimentos minerários, unidades de conservação compensatórias, barragens hidrelétricas, grandes obras de infraestrutura, agronegócio, monocultivo do eucalipto, dentre outras.

Apesar da desestruturação da agricultura tradicional imposta pelos processos modernizantes a partir do terço final do século XX, diversas comunidades rurais conservam conhecimentos e práticas de produção agrícolas herdadas de seus ancestrais, originárias das culturas de matriz indígena, africana e europeia, ou de suas mesclas, e que podem ser replicadas em outros locais, ou inspirar práticas sustentáveis em outros ambientes.

Este trabalho tem como objetivo identificar práticas e conhecimentos reunidos pelas comunidades de Vereda Funda e Água Boa II que poderão ser partilhados com a rede de agroecologia de Minas Gerais, de modo que possam contribuir com o processo de transição agroecológica em curso em diversos municípios. As comunidades referidas localizam-se no município de Rio Pardo de Minas, na mesorregião Norte de Minas Gerais.

2. Metodologia

Uma rede de produção de conhecimento acadêmico articulada com as comunidades tradicionais e com instituições do poder público foi constituída nos últimos anos em Minas Gerais, tendo em vista a necessidade de valorização de práticas de agricultura sustentáveis e de implementação de um modelo desenvolvimento rural inclusivo.

Em vista disso, um processo de aproximação e interação entre os núcleos de estudos em agroecologia existentes nas diversas regiões do Estado tem sido implementado, incluindo universidades, institutos de pesquisa e ensino, ATER’s, organizações de agricultores.

(3)

Um dos desafios técnicos e metodológicos enfrentados no processo de transição agroecologia diz respeito à dificuldade de entrelaçar os saberes populares dos agricultores e agricultoras com os conhecimentos desenvolvidos nos institutos de pesquisa e nas universidades. Os intercâmbios agroecológicos, que têm sido descritos como processos de construção horizontal do conhecimento, correspondem a uma das práticas metodológicas que tem possibilitado a aproximação entre os agentes que operam no meio rural (ZANELLI et al.,2015).

Com base nessa visão, o Núcleo de Estudos em Agroecologia da EPAMIG vem empenhando esforços com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e conhecimento agroecológico entre grupos de pesquisadores, extensionistas, agricultores e estudantes, a partir de viagens de intercâmbio e visitas a comunidades rurais.

Este trabalho teve início em uma viagem de intercâmbio realizada por membros do Núcleo de Pesquisa em Agroecologia da EPAMIG às comunidades de Vereda Funda e Água Boa II, localizadas no município de Rio Pardo de Minas, em janeiro de 2018.

Os dados e informações sistematizadas foram reunidos a partir de visitas e observação nas unidades de produção denominadas “Chácaras”, como também de entrevistas e diálogo com agricultores e lideranças das comunidades.

4. Resultados e Discussão

O modelo de desenvolvimento em vigor tem sido associado com a degradação dos ambientes naturais e sociais, desestruturação dos modos de vida no lugar e perda de território às comunidades tradicionais (PAULA et al., 2014). Em contraponto, é crescente o número de estudiosos, agricultores e agentes públicos empenhadas no fortalecimento do processo de transição agroecológica, em condições de por em prática um novo modelo de desenvolvimento rural.

As comunidades rurais da Serra Geral, no Norte de Minas, tem enfrentado muitas dificuldades, porém as principais estão relacionadas com a perda de território para as empresas que cultivam eucalipto em sistema de monocultura, em áreas cedidas pelo governo estadual. Nos últimos anos essas comunidades se mobilizaram a partir de iniciativas judiciais, procurando reaver os territórios perdidos, enquanto também buscam impedir o estabelecimento de novos monocultivos,

(4)

principalmente em razão dos malefícios que provocam ao ambiente. De acordo com Magalhães e Amorim (2015) os conflitos das comunidades tradicionais com os grandes empreendimentos madeireiros e de mineração tiveram início na década de 1970.

Essas comunidades têm sofrido com a alteração de regime de chuvas, que resultou em redução drástica da pluviosidade. Necessário esclarecer que a monocultura do eucalipto é vista como agravante da diminuição das reservas de água no solo.

O ecossistema típico da Serra Geral é composto por três unidades distintas, a saber: os gerais (áreas altas), os tabuleiros (parte intermediária) e as veredas, que se localizam nas áreas mais baixas, cujos terrenos são, em geral, mais úmidos e adequados para a condução de cultivos agrícolas

(NOGUEIRA, 2009; DAYRELL, 1998 apud MAGALHÃES e AMORIM, 2015). A dissociação dessas

unidades constitui raiz de muitos problemas para as comunidades rurais, uma vez que a retirada da vegetação original e o uso das áreas altas para cultivo do eucalipto implica na alteração da dinâmica da água nos terrenos, e provoca diminuição da disponibilidade nas áreas de cultivo.

O peculiar sistema de produção nesse ambiente, denominado “chácara”, constitui-se de um sistema agroflorestal mantido nas áreas planas e baixadas, que tem na ingazeira (Inga sp.) a espécie responsável pelo sombreamento e manutenção de espessa camada de serapilheira, que mantém o suprimento de matéria orgânica e água no solo, apesar de apluviosidade média situar-se em torno de 880 mm anuais. Nessas condições os agricultores conseguem cultivar café arábica e banana, dentre outras plantas (manga, abacate, limão, caju, urucum) entre as ingazeiras. Em áreas contíguas, cultiva-se um número variado de plantas alimentícias (abacaxi, hortaliças, feijão, arroz, mamão, manga, mandioca, milho, maracujá, dentre outras). Nas áreas de altitude mais elevada, os agricultores coletam frutos de pequi, murici, côco azedo, cagaita, fibras de Ouricuri (utilizadas para artesanato), dentre outras.

As famílias residentes na comunidade rurais Água Boa II equilibram suas receitas mensais com base no artesanato de barro, chapéus, além do comércio de polpas de pequi, côco e manga, viabilizada pela operação de uma unidade de processamento, que é conduzida pela Cooperativa dos Agricultores Familiares Agroextrativistas de Água Boa II. Necessário registrar que a referida cooperativa é composta majoritariamente por mulheres. O cultivo de mandioca e a fabricação de

(5)

polvilho, farinha, goma de tapioca, dentre outros derivados é conduzida em todas as comunidades rurais do município.

Esse arranjo produtivo gerou ganhos não apenas de caráter ambiental, mas também foi capaz de gerar benefícios sociais e econômicos para as comunidades. A melhoria da renda advinda da produção tornou possível a permanência de muitas famílias no território população, envolvimento de mulheres e jovens no sistema produtivo, e dinamização dos processos de sucessão familiar, inclusive com ocorrência de retorno de pessoas que haviam migrado para as cidades.

5. Considerações Finais

O cultivo em sistema agroflorestal, dentre outras práticas adotadas secularmente pelas Comunidades rurais Vereda Funda e Água Boa II constituem exemplos de saberes tradicionais que poderão contribuir para o fortalecimento do processo de transição agroecológica em agroecossistemas. Em vista disso, sugere-se a realização de atividades de intercâmbio entre agricultores, pesquisadores, estudantes e extensionistas, como estratégia de aproximação entre agricultores, estudantes, pesquisadores e extensionistas.

7. Referências

MAGALHÃES, F. R.; AMORIM, R. A. O movimento dos geraizeiros e a luta pela terra no Alto Rio Pardo. Ruris, v. 9, n. 02, setembro 2015.

DAYRELL, C. Geraizeiros e Biodiversidade no Norte de Minas: a contribuição da agroecologia e da etnoecologia nos estudos dos agroecossistemas tradicionais. Dissertação (Maestria em Agroecologia y Desarrollo Rural Sostenible) – Universidade Internacional de Andalucia. Espanha, 1998.

NOGUEIRA, M. C. R. Gerais a dentro e a fora: identidade e territorialidade entre os Geraizeiros do Norte de Minas Gerais. Tese (Doutorado em Antropologia). Universidade de Brasília, 2009.

PAULA, A. M. N. R.; ANAYA, F.; BRITO, I. C. B.; IDE, M. H. S.; BARBOSA, R. S.; GAWORA, D. Povos e comunidades tradicionais: contribuições para outro desenvolvimento. Revista Desenvolvimento Social, n. 13, 2014.

ZANELLI, F. V. et al. Intercâmbios agroecológicos: aprendizado coletivo. Informe Agropecuário, v. 36, n. 287, 2015.

Referências

Documentos relacionados

Aprendizado na Empresa Levantamento de Necessidades Finalidade do treinamento Elaboração do Programa Avaliação do Programa Contexto Implementação do Programa Planejamento de

(grifos nossos). b) Em observância ao princípio da impessoalidade, a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, vez que é

A placa EXPRECIUM-II possui duas entradas de linhas telefônicas, uma entrada para uma bateria externa de 12 Volt DC e uma saída paralela para uma impressora escrava da placa, para

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Muitos insetos, ácaros, fungos e bactérias adquirem resistência após sucessivas aplicações e passam a sugar das plantas uma seiva "enriquecida" com substâncias nutritivas