Métodos e práticas de irrigação urbana em Gana e no Togo
Bernard Keraita, George Danso, e Pay Drechsel - iwmi-ghana@cgiar.org
International Water Management Institute West Africa Office, Gana
Foto: George Danso - bomba a pedal Introdução
Os agricultores urbanos de hortaliças em Gana e no Togo tentam cultivar seus produtos perecíveis o mais perto possível de seus mercados
consumidores. Eles precisam cultivar seus produtos enfrentando uma grande variedade de condições locais, que podem incluir os solos urbanos
marginais e até praias arenosas, desde que haja uma fonte de água confiável a uma
distância razoável. As fontes de água podem ser cisternas com 0,5 a 1,5m de fundura, ou poços cavados à mão
medindo entre 2 e 7 m de profundidade, ou rios ou pequenos cursos d’água, ou mesmo drenos urbanos que conduzem águas servidas. A fonte de água determina, em parte, a altura à qual ela poderá ser elevada e o método de irrigação a ser usado. Os métodos mais comuns são regadores, baldes, e bombas a pedal ou motorizadas.
O uso de regadores é o método predominante de irrigação informal usado nos cultivos de hortaliças em Gana e no Togo, com os agricultores usando-os para levar a água desde a fonte até os canteiros. O método pode ser bem trabalhoso, já que a distância a ser percorrida a pé pode chegar a 100 m, e cada regador contém normalmente 15 litros. Por isso, somente os homens capazes de transportar dois regadores ao mesmo tempo fazem o trabalho de regar as plantas.
onde ela pode ser usada imediatamente ou armazenada em tambores para ser usada depois. Essa prática é observada comumente em Kumasi, sendo que na maioria das vezes são mulheres e crianças quem carrega os baldes sobre suas cabeças. Os homens usualmente regam as plantas usando regadores ou vasos, pois, na maioria das culturas africanas,
transportar baldes na cabeça é um hábito tradicionalmente feminino. Os cultivos irrigados com baldes estão localizados a cerca de 200m de distância da fonte de água. Os baldes também são usados para elevar água de poço, ou para aplicar água extraída com ajuda de uma bomba a pedal.
Embora a bomba a pedal seja considerada uma tecnologia nova em Gana, já há alguns anos ela já vem sendo usada no Togo, em Benin e noutros países da região, tanto em áreas rurais quanto urbanas. Os agricultores a consideram, muitas vezes, como um passo na direção de comprar uma bomba motorizada. A bomba a pedal é um equipamento usado normalmente para elevar água, mas algumas vezes é conectada a canos ou mangueiras, ou mesmo a aspersores, e usada diretamente na irrigação. Em muitos casos, são necessárias duas
pessoas: uma para pedalar a bomba a, outra para aplicar a água bombeada para os canteiros. Bombas motorizadas são usadas em alguns cultivos, geralmente quando os produtores são mais ricos ou o lençol d’água é mais fundo. Na periferia de Kumasi, os campos são
freqüentemente adjacentes às fontes de água, e mangueiras medindo até 300 metros são usadas ao longo dos cultivos. Como as mangueiras muitas vezes estão em más condições, vazamentos e inundações são bastante comuns. Sendo assim, é preciso mais de um agricultor, um para vigiar a bomba e outro para conduzir a mangueira por entre as plantas. Bombas elétricas são usadas por um pequeno número de horticultores mais ricos em Lomé, Togo, mas raramente em Gana. Em Lomé, bombas motorizadas também são usadas para encher reservatórios ou uma série de reservatórios conectados, dos quais a água para irrigação é retirada usando-se regadores (diminuindo assim a distância total para carregar a água). Às vezes as bombas estão ligadas diretamente às mangueiras de irrigação (sistemas com mangueiras simples ou duplas), prática menos comum nas cidades de Gana.
Custos da tecnologia
A Tabela 1 fornece informações comparativas sobre o custo das tecnologias de irrigação. Os dados foram obtidos por meio de uma rápida avaliação feita em áreas de cultivo urbano em Lomé, Togo, em 2002. (Fonte: Danso e outros, inédito). Um dólar americano valia 650 CFA. Tabela 1
Investimentos necessários para as várias tecnologias de irrigação
Tecnologia de irrigação
Regador Bomba a pedal Bomba a motor Bomba elétrica
Número de trabalhadores 0-1 1-2 4-6 8-12
Custo inicial (CFA) negligível 70.000-80.000
Novo: 250.000-400.000 Usado: 150.000-200.000 Aluguel mensal: 4.000-6.000 Novo: 200.000-300.000
Combustível ou energia elétrica (CFA/mês) 0 0 12.000-16.000 30.000-80.000
Manutenção (CFA/mês) 0 500 500 500
Custos de acessórios (CFA/mês) 0 80.000 200.000 500.000
Lidando com a demanda de água dos vários cultivos
As hortaliças, que formam os cultivos mais freqüentemente praticados pelos agricultores na área estudada, exigem mais água e irrigação mais regular do que os cultivos mais
tradicionais, como inhame, mandioca etc. Como os serviços de extensão agrícola destinados aos produtores urbanos são quase sempre muito limitados, os produtores contam somente com sua experiência para saber quando e quanta água devem aplicar em seus plantios. Setenta produtores urbanos de Kumasi foram entrevistados sobre "como você sabe a quantidade de água que deve aplicar em seu plantio?" A maioria respondeu que eles
dependem apenas de sua experiência própria, sendo que muitos usavam a situação do solo e das folhas como indicadores. Geralmente, a maioria deles irriga as plantas de manhã cedo e no fim da tarde, dizendo que nessas horas a temperatura está mais amena e assim é mais fácil transportar toda a água necessária. Essas horas também correspondem aos momentos em que a evapotranspiração é menor. Esse esquema de irrigação também é mais
conveniente para os muitos produtores que têm outro emprego durante o dia.
Nem todos os agricultores têm condições para comprar equipamentos de irrigação, como bombas motorizadas. Entretanto, existe quase sempre a possibilidade de alugar uma bomba a baixo custo. Em Kumasi, por exemplo, a maior parte dos produtores paga apenas pelo combustível para usar uma bomba disponível nas proximidades. Onde os produtores são chamados a pagar mais do que isso, o preço ainda assim é bem razoável, e pode ser pago depois de vendida a colheita, ou em troca de algum trabalho para o dono da bomba. Em algumas áreas de plantio, os agricultores estão organizados em associações que facilitam a troca de serviços por mão-de-obra e garantem a disponibilidade de equipamentos de
irrigação.
revelou que os produtores urbanos tendem a usar mais água do que o necessário (1/3 a mais), enquanto que os produtores da periferia tendem a usar menos do que deviam (também 1/3, porém a menos).
Os cultivos urbanos têm, em média, 1/7 do tamanho dos cultivos periurbanos, e os
agricultores dessas áreas menores usam, predominantemente, regadores para a irrigação. Os produtores periurbanos usam principalmente baldes ou bombas motorizadas ligadas a
mangueiras. Os produtores urbanos conseguem uma distribuição mais regular e mais uniforme espacialmente, que é muito facilitada pelo uso de regadores. Os agricultores
periurbanos são mais irregulares quanto ao tempo para irrigar e quanto à quantidade de água aplicada, especialmente quando usam mangueiras. Como apenas alguns produtores
periurbanos têm uma bomba, a maioria precisa entrar em uma fila para poder alugar uma. Como resultado, é muito comum que esses produtores apliquem uma grande quantidade de água quando dispõem de uma bomba, já que não têm certeza de quando voltarão a contar com a ajuda dela, novamente.
Por que existem diferenças nas tecnologias de irrigação em Togo e em Gana?
Por que existem mais bombas sendo usadas em Lomé, no Togo, do que em Accra ou em Kumasi, em Gana? Os próprios agricultores de Gana são os primeiros a reconhecer que seus métodos são mais trabalhosos. A explicação não se limita às diferenças do capital disponível e dos custos de manutenção (listados na Tabela 1).
Uma comparação financeira mostrou que a margem de lucro dos produtores de hortaliças em ambos os países é semelhante, embora faturamentos mais elevados sejam mais comuns em Lomé, onde também se plantam cultivos para exportação (por exemplo, manjericão para a Europa). Em Lomé, embora muitos plantios estejam localizados ao longo do oceano, na areia pobre das praias, as autoridades urbanas locais aceitam a presença dos agricultores e permitem áreas de cultivo maiores do que em Accra. Essa relativa economia de escala favorece os investimentos em tecnologias que economizam mão-de-obra. Além disso, equipamentos para elevar água são indispensáveis em Lomé, já que as águas subterrâneas são a única fonte de água viável ao longo do oceano.
Em Accra, por outro lado, os cultivos são feitos ao longo de cursos d’água e drenos, e a distância a percorrer com os regadores é normalmente curta o bastante para favorecer o emprego de mão-de-obra, e não o investimento de capital. Além disso, regadores permitem maior flexibilidade, o uso de apenas um trabalhador, e são menos suscetíveis à má qualidade da água e às partículas sólidas presentes nela, que podem entupir bombas e mangueiras. Essa é outra razão que leva os produtores a evitarem investir em bombas de irrigação. Existem também diferenças na disponibilidade e promoção comercial de bombas e
mangueiras em Togo, um país onde se fala o francês, e em Gana, onde a língua mais usada é o inglês. A firma EnterpriseWorks, por exemplo, começou a vender bombas a pedal nos países francófonos da África Ocidental entre 1995 e 1999, enquanto que atividades correspondentes só começaram em Gana no ano de 2002.
Conclusão
Este estudo destaca que, na escolha de tecnologias, é crucial considerar as condições biofísicas e sócio-econômicas específicas do ambiente onde elas serão utilizadas. Enquanto que as bombas são mais viáveis em Lomé, os poços rasos e regadores são considerados mais apropriados em Kumasi. A demanda por bombas pode, entretanto, aumentar nas terras mais elevadas, como em Accra, onde os cultivos são maiores e as fontes de água nem
sempre estão localizadas próximas aos locais de plantio. As bombas também podem ser mais atraentes onde as águas subterrâneas estejam disponíveis entre 1 e 7 metros de
profundidade, ou onde a distância entre a fonte e o plantio seja maior do que 50 a 100 metros. Se a bomba não for móvel, o local de plantio precisa de instalações físicas com condições de protegê-la de furto (principalmente quando o produtor mora longe).
Onde exista água de melhor qualidade, que não provenha de drenos de águas servidas, por exemplo, tecnologias de irrigação por gotejamento de baixo custo, usando-se baldes ou tambores, podem ser tentadas. Os governos locais e estaduais devem ser encorajados a apoiarem as tecnologias de irrigação que tragam benefícios adicionais pela redução dos riscos à saúde associados ao uso de águas poluídas.