TEXTO
LITERÁRIO E
TEXTO
NÃO-LITERÁRIO
TEXTO 1
PEQUENA CRÔNICA POLICIAL – Mário
Quintana
Jazia no chão, sem vida, E estava toda pintada!
Nem a morte lhe emprestara A sua grave beleza...
Com fria curiosidade,
Vinha gente a espiar-lhe a cara, As fundas marcas da idade,
Triste da mulher perdida
Que um marinheiro esfaqueara! Vieram uns homens de branco, Foi levada ao necrotério.
E quando abriram, na mesa, O seu corpo sem mistério, Que linda e alegre menina Entrou correndo no céu?!
Lá continuou como era
Antes que o mundo lhe desse A sua maldita sina:
Sem nada saber da vida, De vícios ou de perigos,
Sem nada saber de nada... Com a sua trança comprida, Os seus sonhos de menina, Os seus sapatos antigos!
QUINTANA, Mário. Prosa e verso. Porto Alegre, Globo, 1978. p. 17.
TEXTO 2
No hospital da cidade de Marabá, em plena Amazônia, uma menina da qual se conhece apenas o primeiro nome, Rosália, dá entrada na emergência. Ela está em coma, tem as vestes rasgadas, o rosto dilacerado [...] Rosália tem apenas 13 anos. Ela havia sido aliciada por dois homens a entrar clandestinamente no garimpo de Serra Pelada. Em troca de algum dinheiro, iria manter relações sexuais com dois garimpeiros. Isso fora o combinado.
Mas os fatos se sucederam de forma diferente. Ao entrar no garimpo – onde até então não era permitida oficialmente a entrada de mulheres –, Rosália foi forçada a manter relações sexuais com mais de 30 homens, num só dia. Completamente desfigurada, em coma e com violenta hemorragia interna, ela foi levada às pressas para o hospital de Marabá. Não houve jeito. Quatro horas depois, a pequena adolescente morria, deixando atrás de si mais do que a história de uma criança prostituída e sexualmente violentada na Amazônia brasileira.
A história de Rosália, uma menina das ruas de Marabá, registrada pelo posto policial da cidade, no fundo é idêntica à de dezenas de milhares de outras meninas e meninos do Brasil entregues à prostituição. Com maior ou menor grau de violência, suas histórias constituem um dos aspectos mais cruéis e dolorosos da geração de rua do país, uma das mais comuns brutalidades a que está exposta essa infância marginalizada.
REPORTAGEM Especial, revista Afinal, São Paulo, 13
Reflexão
Objetivo do texto: informar o leitor.
Textos informativos: linguagem precisa, exata,
definida.
Texto 1 - expressões: “grave beleza”, “uns
Texto 1 – texto literário – trata de aspectos do
mundo real: narra poeticamente a morte de uma prostituta.
Texto 2 – texto não-literário – texto jornalístico,
LINGUAGEM NÃO-LITERÁRIA x
LINGUAGEM LITERÁRIA
Anoitece x A mão da noite embrulha os horizontes. Os cegos tentavam dormir x Os cegos esperavam
que o sono tivesse dó de sua tristeza.
Teus cabelos loiros brilham x Os clarins de ouro dos
teus cabelos cantam na luz.
Uma nuvem cobriu parte da lua x Um sujo de
nuvem emporcalhou o luar em sua nascença.
Aos cinquenta anos, inesperadamente
apaixonei-me de novo x Na curva perigosa dos cinquenta derrapei neste amor.
O PODER DE MULTIPLICAR OS SENTIDOS.
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues Tomásia
Rosa
— Estão todos dormindo Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
RAINER MARIA RILKE
“Indaga-me se os seus versos são bons. Pergunta a mim, depois de ter perguntado a várias pessoas. Manda-os para as revistas, compara-os a outros versos e alarma-se quando certos jornais repelem os seus ensaios poéticos. Doravante, peço-lhe que renuncie a tudo isto. O seu olhar está voltado para o exterior.
Eis o que não deve tornar a acontecer. Ninguém pode dar-lhe conselhos nem ajuda-lo - ninguém! Só existe um caminho: penetre em si mesmo e procure a necessidade que o faz escrever. Observe se essa necessidade tem raízes nas profundezas do seu coração.
Confesse à sua alma: "Morreria, se não me fosse permitido escrever?" Isto, principalmente. Na hora mais tranquila da noite, faça a si esta pergunta: "Sou de fato obrigado a escrever?" - Examine-se a fundo, até achar a mais profunda resposta.
Se ela for afirmativa, se puder fazer face a tão grave interrogação com um forte e simples "Sou", então construa a sua vida em harmonia com esta necessidade. A sua existência, mesmo na hora mais indiferente e vazia, deve torna-se sinal e testemunho de tal impulso.”
ALAN LIGHTMAN
Imagine um mundo em que não há tempo. Somente imagens.
Uma criança à beira do mar, enfeitiçada pela primeira visão que tem do oceano. Pegadas na neve em uma ilha no inverno. Um barco na água à noite, suas luzes tênues na distância, como uma pequena luz vermelha no céu negro. Um armário de remédios trancado. Uma folha no chão no outono, vermelha, dourada e marrom, delicada.
Uma chuva leve em um dia de primavera, em um passeio que será o ultimo passeio que um jovem fará no lugar que ele ama. Poeira em um peitoril de janela. Vapor subindo de um lago no início da manhã. Uma gaveta aberta.
Dois amigos em um café, o lustre iluminando o rosto de um dos amigos, o outro na penumbra. Um gato olhando um inseto na janela.
Uma jovem em um banco, lendo uma carta, lágrimas de contentamento em seus olhos verdes. Luz do sol, em ângulos abertos, rompendo uma janela no fim da tarde. Um livro surrado sobre uma mesa ao lado de um abajur de luz branda. O branco na água quando quebra uma onda, erguida pelo vento. O primeiro beijo. Planetas no espaço, oceanos, silêncio. Uma gota d'água na janela. Uma corda enrolada. Uma vassoura amarela.