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A efetividade da lei de alienação parental na proteção do melhor interesse do menor e seus reflexos nas decisões dos tribunais

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GABRIELA CARVALHO RUFINO

A EFETIVIDADE DA LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL NA PROTEÇÃO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR E SEUS REFLEXOS NAS DECISÕES DOS TRIBUNAIS

NITERÓI 2013

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A EFETIVIDADE DA LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL NA PROTEÇÃO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR E SEUS REFLEXOS NAS DECISÕES DOS

TRIBUNAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Giselle Picorelli Yacoub Marques

Niterói 2013

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A EFETIVIDADE DA LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL NA PROTEÇÃO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR E SEUS REFLEXOS NAS DECISÕES DOS

TRIBUNAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovada em agosto de 2013.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Giselle Picorelli Yacoub Marques – Orientador UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Profa. Esther Benayon Yagodnik UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Profa. Fabiana Alves Mascarenhas UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

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Em primeiro lugar, agradeço a Deus, que me concede forças para seguir a cada dia, mesmo diante dos obstáculos que por ventura aparecem e que, por conseguinte, me concedeu a oportunidade de iniciar e concluir a Faculdade de Direito.

À minha mãe, Nara, e à minha tia, Venilza, pelo amor incondicional, pela dedicação, pela força nos momentos difíceis.

Ao meu noivo, Roberto, pela cumplicidade, pelo amor, pela paciência e por acreditar sempre na minha capacidade.

Às amigas, Elizabeth, Jéssica, Cristiane e Valquíria, pelo companheirismo, pela amizade e por tornarem a permanência na UFF muito mais agradável.

A todos os demais amigos que fizeram e ainda fazem parte desse percurso.

À minha orientadora e professora, Giselle, pela dedicação, paciência, auxílio, carinho e pelo exemplo de profissional e de pessoa que é, e que muito me inspira como ser humano.

A todos os demais professores que de alguma forma contribuíram para a formação do meu conhecimento ao longo desses cinco anos e meio.

Aos profissionais com os quais estagiei, pelo exemplo de dedicação e ética profissional.

A todos aqueles que, de alguma forma, estiveram presentes, direta ou indiretamente, e colaboraram para que essa etapa fosse concluída.

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O parentesco é imutável, independe de vontade ou aspiração para existir. A escolha de mantê-lo, por outro lado, é o que constrói a verdadeira afinidade, que por sua vez, torna o laço familiar forte.

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demonstrando que o mesmo consiste em uma forma de abuso parental cometido contra a criança e o adolescente, devendo ser rápida e efetivamente detectado e combatido. Para tanto, serão analisadas as condutas caracterizadas como ato de Alienação Parental, as sanções previstas em Lei, bem como a aplicabilidade de seus meios punitivos e a atuação do Poder Judiciário em reconhecer sua existência e reprimi-la, garantindo o princípio do melhor interesse do menor e seu direito fundamental à convivência familiar. Como fonte será utilizada a pesquisa doutrinária e jurisprudencial, além da análise da Lei nº 12.318/2010, a qual impõe medidas para preveni-la e afastá-la. Referente estudo mostra-se relevante, tendo em vista a necessidade de reconhecer a prática da Alienação Parental, a fim de possibilitar a adoção de medidas que assegurem os interesses e direitos dos menores envolvidos, considerando sua condição de ser humano em desenvolvimento.

Palavras-chave: alienação parental, síndrome da alienação parental, melhor interesse do

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consists in a form of parental abuse committed against children and adolescents, it must be quickly and effectively detected and countered. For this, we analyzed the behaviors that cause parental alienation, the penalties provided by law, and the applicability of its punitive means, and acting of judges to recognize their existence and repress it, ensuring the principle of the best interest and their fundamental right to family life. It will be used as a source to search doctrine and jurisprudence, as well as analysis of Law nº. 12.318/2010, which imposes measures to prevent it and push it away. Referent study shows it is relevant in view of the need to recognize the practice of Parental Alienation in order to enable the adoption of measures to ensure the interests and rights of those involved, considering their status as developing human being.

Keywords: parental alienation, parental alienation syndrome, the best interest, family life,

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INTRODUÇÃO ... 10 1. A FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO ... 12 1.1 A multiplicidade das relações familiares: o surgimento de um novo conceito. .. 12 1.2 A necessidade da observância do Princípio do Melhor Interesse do Menor e do Direito Fundamental à Convivência Familiar na dissolução das relações familiares: o ponto de partida para a Alienação Parental. ... 14 2. ALIENAÇÃO PARENTAL ... 21 2.1 Conceito e Origem da Alienação Parental. ... 21 2.2 As condutas ensejadoras de Alienação Parental: consequências psicológicas e jurídicas dos envolvidos. ... 26 2.3 Os efeitos das Falsas Memórias no processo alienatório. ... 29 2.4 Os meios punitivos da Lei de Alienação Parental à luz do princípio do melhor interesse do menor e do direito fundamental à convivência familiar. ... 32

3. O RECONHECIMENTO DA ALIENAÇÃO PARENTAL PELOS TRIBUNAIS .. 38

3.1 A atuação do Poder Judiciário na identificação e repreensão da prática de Alienação Parental. ... 38 3.2 Análise das decisões dos Tribunais frente ao Princípio do Melhor Interesse do Menor e do Direito Fundamental à Convivência Familiar. ... 42 CONCLUSÃO ... 58 REFERÊNCIAS ... 60

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INTRODUÇÃO

No presente estudo será abordada a alienação parental, em seu aspecto legal, doutrinário e jurisprudencial, apresentando as possíveis condutas que a tipificam, as sanções previstas em Lei, o entendimento dos Tribunais e a atuação do Poder Judiciário em reconhecer sua existência e reprimi-la, dentro da nova perspectiva de Família que se insere no Direito Civil Brasileiro.

A alienação parental é um fenômeno há muito presente nas relações familiares e decorre, geralmente, de processos de dissolução conjugal. Consiste na prática de determinadas condutas promovidas por um dos genitores - o genitor guardião ou genitor alienador -, sejam eles os pais ou qualquer um que tenha a criança ou o adolescente sob sua guarda ou companhia, de modo a impedir, inibir ou até mesmo extinguir a convivência parental e familiar entre o genitor alienado e o menor.

Em nosso ordenamento jurídico, a Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, dispõe sobre a alienação parental, expondo as condutas que a caracterizam, bem como suas formas de identificação e os meios punitivos que devem ser aplicados para inibi-la ou atenuá-la.

É preciso ressaltar que o objetivo da Lei nº 12.318/2010 e do Poder Judiciário ao aplicá-la deve ser, primordialmente, a proteção do interesse do menor, proporcionando a preservação de sua integridade psíquica, física e moral, de modo a assegurar e viabilizar a manutenção da convivência familiar entre o genitor alienado e a criança e/ou o adolescente.

Entretanto, identificar e coibir a Alienação Parental não é uma tarefa fácil, tendo em vista que o Judiciário necessita de conhecimento específico dessa prática, bem como de profissionais especializados para a realização das perícias psicológicas ou biopsicológicas necessárias à revelação precisa da conduta alienadora, sendo exigido um estudo e empenho cada vez mais aprofundado de cada caso.

Dessa forma, é perceptível que a situação merece a devida cautela, tendo em vista os interesses dos menores envolvidos, considerados seres em desenvolvimento, o qual deve ser amplamente resguardado e incentivado.

Logo, a prática da alienação parental pode gerar prejuízos irreparáveis para todos os envolvidos, principalmente para a criança e/ou o adolescente, cabendo a cada um evitar e reprimir o exercício de condutas que possam desencadeá-la, sendo o Poder Judiciário

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incumbido de promover um julgamento imediato, no sentido de prevenir maiores desgastes e danos ao menor, o qual deve ser o principal sujeito da tutela jurisdicional.

Assim, a Família, entendida como a base da sociedade, deve ter sua formação e constituição protegida pelo Estado, o qual, apesar de não intervir diretamente, garante aos seus membros a preservação de sua integridade física e psíquica, bem como de seus valores sociais e morais, principalmente no que condiz aos filhos menores.

No decorrer do presente estudo, será feita uma abordagem entre as condutas que ensejam a prática de alienação parental e os efeitos que podem ser causados no ambiente familiar, analisando os meios punitivos utilizados para refreá-la e inibi-la, além da atuação do Poder Judiciário para identificá-la e coibi-la, visando sempre o princípio do melhor interesse do menor e o seu direito fundamental à convivência familiar.

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1. A FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO 1.1 A multiplicidade das relações familiares: o surgimento de um novo conceito.

A Família é a base da sociedade e, como tal, deve ser amplamente protegida pelo Estado1, disposição corroborada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos2, apesar daquele não intervir diretamente em sua formação e constituição.

A princípio, a Família era constituída apenas pelo casamento, todavia, diante das constantes mudanças que abrangeram a sociedade ao longo do tempo, foi reconhecido o caráter familiar às relações extramatrimoniais.

De fato, com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, a chamada união estável ganhou contorno de entidade familiar, passando a mesma a ser respeitada e sendo garantidos aos seus membros alguns direitos antes somente previstos ao casamento.

Além disso, também foi protegida a família monoparental, constituída apenas por um dos pais e seus filhos, bem como se abriu caminho para a proteção da união homoafetiva.

Esta última, embora seja omissa em vários aspectos legais, tem sido palco de amplas discussões pela doutrina e jurisprudência, ganhando cada vez mais espaço e reconhecimento de sua existência, legalidade, bem como dos direitos a ela inerentes.

Percebe-se, com isso, que a Família presente no ordenamento jurídico brasileiro possui um conceito pluralista, não decorrendo mais exclusivamente do matrimônio, mas também de vínculos pautados na afetividade.

Nesse sentido, em importante reflexão, a advogada Patrícia Matos Amatto Rodrigues pontua que

O legislador constituinte, no caput do artigo 226 da Constituição Federal, normatizou o que já representava a realidade de milhares de famílias brasileiras, reconhecendo que a família é um fato natural, e o casamento uma solenidade, adaptando, por esta forma, o direito aos anseios e necessidades da sociedade, passando a receber proteção estatal não somente a família oriunda do casamento, bem como qualquer outra manifestação afetiva, como a união estável e a família

1 A proteção do Estado à família é obtida por meio da imposição de regras de comportamento que devem ser

respeitadas por todos, evitando condutas que possam prejudicar o convívio social. Art. 226, CRFB - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

2 Declaração Universal dos Direito Humanos - XVI 3 – A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade

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monoparental, formada esta na comunidade de qualquer dos pais e seus descendentes, no eloquente exemplo da mãe solteira.3

Deveras, a Carta Magna de 1988 causou uma mudança profunda na estrutura social, tendo em vista que o casamento deixou de ser o marco que caracterizava a existência de uma família.

Essa nova realidade, a qual ampliou o conceito de família, outorgou ao Estado a proteção tanto dos vínculos monoparentais quanto da união estável, que seria a relação entre um homem e uma mulher sem vínculo matrimonial, fundamentando-se mais no aspecto afetivo do relacionamento.

Além disso, mais recentemente, foi reconhecida à união homoafetiva, pelo Supremo Tribunal Federal, o caráter de entidade familiar, conferindo-lhe todos os direitos previstos para a união estável.4

Isto posto, reconheceu-se que há relacionamentos calcados na afetividade e que se constituem sem a diversidade de sexos, devendo ser abrangidos como entidades familiares que são e recebidos pela proteção estatal, tendo em vista que se caracterizam amplamente como família, conceituada e amparada pela Constituição Federal de 1988.

A Família agora não é mais hierarquizada, caracterizada como uma união constituída por meio de um matrimônio entre um homem e uma mulher, possuindo, por vezes, a imagem de uma família patriarcal.5

Assim, a ideia de família passou a ser entendida de forma abrangente e inclusiva, haja vista que a Constituição Federal de 1988 elaborou um rol apenas exemplificativo para enumerá-la e classificá-la, estando protegida toda e qualquer entidade familiar que possa vir a surgir.

Decerto, os novos contornos peculiares aos modelos familiares que surgiram deve-se a uma profunda e significativa transformação de seus elementos constitutivos, bem como da relevante diminuição no número de seus membros.6

3 RODRIGUES, Patrícia Matos Amatto. A nova concepção de família no ordenamento jurídico brasileiro. In:

Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 69, out 2009. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6792>. Acesso em: 18 jun. 2013.

4

STF, ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Brito, j. 05/05/2011

5 A Família Patriarcal seria aquela em que o pai ocupa o posto de figura central e tem ao seu a lado a esposa,

sendo rodeado pelos filhos e demais parentes. (DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias, p. 41).

6

RODRIGUES, Patrícia Matos Amatto. A nova concepção de família no ordenamento jurídico brasileiro. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 69, out 2009. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6792>. Acesso em: 18 jun. 2013

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Dessa maneira, conclui-se que a Família está em constante evolução, surgindo cada vez mais famílias que serão singulares por suas características e merecerão a devida e infungível proteção estatal.

Portanto, o conceito de Família no Direito Civil Brasileiro se flexibilizou, indicando que seu elemento formador, antes de qualquer fator genético ou matrimonial, é a afetividade, que hoje dá os contornos do que seja uma família.7

De acordo com Maria Berenice Dias,

O elemento distintivo da família, que a coloca sob o manto da juricidade, é a presença de um vínculo afetivo a unir pessoas com identidade de projetos de vida e propósitos comuns, gerando comprometimento mútuo. Cada vez mais a ideia de família afasta-se da estrutura do casamento.8

Assim, a Família atual é socioafetiva, não mais pautada somente no vínculo matrimonial ou biológico, mas sim em relacionamentos que possuem algum elo de afetividade, independentemente de como se estruturam.9

1.2 A necessidade da observância do Princípio do Melhor Interesse do Menor e do Direito Fundamental à Convivência Familiar na dissolução das relações familiares: o ponto de partida para a Alienação Parental.

A dissolução das relações familiares é um fenômeno cada vez mais frequente na sociedade, trazendo inúmeras mudanças na estrutura e na dinâmica familiar, principalmente diante da complexidade que tal processo litigioso gera e tendo em vista a pluralidade de famílias presente no ordenamento jurídico.10

Diante disso, quando há ruptura de uma relação conjugal ocorrem consequências profundas e decisivas no seio familiar, tanto para os cônjuges quanto para os eventuais filhos envolvidos.

7

DIAS, Maria Berenice. As famílias de hoje. Disponível em:

<http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/21>. Acesso em: 11 jun. 2013.

8 DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias, p. 40. 9

DIAS, Maria Berenice, ibidem.

10

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a pesquisa “Estatística do Registro Civil 2011”, em dezembro de 2012, a qual informa “o aumento da taxa de divórcio, registrando a maior taxa desde 1984, chegando a 351.153, ou seja, um crescimento de 45, 6% em relação ao ano de 2010. Esse aumento ocorreu devido à implementação da EC nº 66/2010, que eliminou os prazos para o divórcio ao extinguir o instituto da

separação judicial”. Disponível em:

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Assim, no meio de processos de separação estão presentes crianças e adolescentes, que necessitam crescer em uma família harmoniosa e saudável, haja vista que são seres em desenvolvimento e devem ter seu direito fundamental à convivência familiar protegido, conforme dispõe art. 227, da Constituição Federal de 1988, no qual também se encontra fundamentado o princípio do melhor interesse do menor:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Além disso, referido princípio está previsto no art. 4º e art. 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990):

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como a Constituição Federal de 1988 procuraram enunciar, em rol exemplificativo, objetivos e medidas que devem ser adotados de modo a garantir a tutela, de forma prioritária, do melhor interesse do menor, haja vista sua condição de ser humano em desenvolvimento.

Ademais, a proteção ao princípio do melhor interesse do menor se encontra solidificada desde a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, realizada em 1959 pela ONU, a qual determinou, por meio da Declaração Universal dos Direitos das Crianças, que todas as ações que envolvessem direitos de crianças e adolescentes deveriam ser pautadas sempre visando à proteção e efetividade de seu interesse maior.

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Princípio II -Direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social.

A criança gozará de proteção especial e disporá de oportunidade e serviços a serem estabelecidos em lei e por outros meios, de modo que possa desenvolver-se física, mental, moral, espiritual e socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade. Ao promulgar leis com este fim, a consideração fundamental a que se atenderá será o interesse superior da criança. 11

O mesmo se entende pela Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças, realizada em 1989, que ratifica o princípio do melhor interesse do menor, devendo o mesmo ser aplicado e protegido por todas as entidades públicas e privadas.

Artigo 3 - 1. Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança.12

Nesse sentido, a advogada Mariana Andrade Sobral salienta que,

Destarte, percebe-se que o Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente possui status de direito fundamental, e, assim sendo, deve ser necessariamente observado pela sociedade como um todo, incluindo-se aí o Estado, os pais, a família, os magistrados, os professores, enfim, as pessoas em geral.13

Outrossim, com relação ao direito fundamental à convivência familiar, referida proteção é solidificada no art. 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/2010), o qual informa que

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

11 Declaração Universal dos Direitos das Crianças. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_Universal_dos_Direitos_da_Crian%C3%A7a>. Acesso em: 24 jul. 2013.

12 Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças. Disponível em:

<http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10127.htm>. Acesso em: 24 jul. 2013.

13

SOBRAL, Mariana Andrade. Princípios constitucionais e as relações jurídicas familiares. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 81, out 2010. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8400>. Acesso em: 24 jul. 2013.

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Igualmente, a Declaração Universal dos Direitos das Crianças dispõe sobre referido direito, salientando que a criança, identificada como ser em desenvolvimento, deve crescer em ambiente de afeto e segurança material e moral, ou seja, necessita de uma convivência familiar harmoniosa e saudável para o seu pleno desenvolvimento.

Princípio VI -Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade. A criança necessita de amor e compreensão, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua personalidade; sempre que possível, deverá crescer com o amparo e sob a responsabilidade de seus pais, mas, em qualquer caso, em um ambiente de afeto e segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, não se deverá separar a criança de tenra idade de sua mãe. A sociedade e as autoridades públicas terão a obrigação de cuidar especialmente do menor abandonado ou daqueles que careçam de meios adequados de subsistência. Convém que se concedam subsídios governamentais, ou de outra espécie, para a manutenção dos filhos de famílias numerosas.14

Dessa forma, segundo Paulo Lôbo, a convivência familiar deve ser entendida como “o ninho no qual as pessoas se sentem recíproca e solidariamente acolhidas e protegidas, especialmente as crianças”.15

Logo, o princípio do melhor interesse do menor e o direito fundamental à convivência familiar devem ser amplamente observados nos processos de dissolução conjugal, tendo em vista a necessidade de favorecer o desenvolvimento moral, psicológico e físico do menor, dada a sua condição de ser humano em estágio formativo.

Dessa maneira, iniciar e concluir um processo de dissolução familiar não é tarefa fácil, principalmente quando há filhos envolvidos, o que gera impasses com relação à definição de determinadas situações como, por exemplo, o estabelecimento de pensão alimentícia, a instituição da guarda, a qual pode ser unilateral ou compartilhada, bem como a fixação de visitas, fatos esses que podem vir a ensejar práticas de alienação parental.16

Sendo assim, os conflitos judiciais como para a escolha do genitor guardião e para o estabelecimento de um plano de convivência da criança e/ou do adolescente com o genitor não guardião podem gerar divergências e disputas que trarão profundas consequências emocionais para todas as partes.17

14 Declaração Universal dos Direitos das Crianças. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_Universal_dos_Direitos_da_Crian%C3%A7a>. Acesso em: 24 jul. 2013.

15 LÔBO, Paulo. Famílias, p. 52.

16 SILVA, Denise Maria Perissini da. A nova lei da alienação parental. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n.

88, maio 2011. Disponível em:

<http://ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9277>. Acesso em: 18 jun. 2013.

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Deste modo, é importante que, ao estabelecer o regime de guarda com a dissolução da relação familiar, seja garantida a ampla participação de ambos os cônjuges nos cuidados para com os filhos, dividindo responsabilidades sempre com o intuito que proporcionar à criança e ao adolescente um ambiente familiar saudável e harmonioso, concretizando, assim, o previsto pelo princípio do melhor interesse do menor.

De fato, a dissolução conjugal não deve prejudicar a continuidade do vínculo parental, já que o que se extinguiu foi apenas o vínculo conjugal18, cabendo a ambos os genitores a manutenção da convivência familiar com relação à prole, tendo em vista que a família persiste mesmo com o advento da cessação da relação conjugal.19

Com isso, observa-se que na guarda unilateral, por vezes, o genitor que detém a guarda do filho oferece diversos obstáculos e restrições que acabam por dificultar e até extinguir a convivência do genitor não guardião com a criança e/ou o adolescente.

Nesse sentido, segundo Maria Berenice Dias,

A guarda unilateral afasta, sem dúvida, o laço de paternidade da criança com o pai não guardião, pois a este é estipulado o dia de visita, sendo que nem sempre esse dia é um bom dia – isso porque é previamente marcado, e o guardião normalmente impõe regras. Maria Antonieta Pisano Motta afirma que a prática tem mostrado, com frequência indesejável, ser a guarda única propiciadora de insatisfações, conflitos e barganhas envolvendo os filhos. Na verdade, apresenta maiores chances de acarretar insatisfações ao genitor não guardião, que tenderá a estar mais queixoso e contrariado quando em contato com os filhos.20

Os pais, como já dito, são responsáveis pela formação intelectual e emocional dos filhos e devem manter entre si e com eles uma relação que favoreça ao seu desenvolvimento, tendo em vista a sua condição de ser humano dependente e em processo de crescimento.

Logo, é muito importante que o Juiz, ao decidir sobre a dissolução da relação conjugal, estabeleça, caso entenda conveniente e importante para o melhor desenvolvimento da criança, o instituto da guarda compartilhada, prevista na Lei nº 11.698/2008, que atribui a ambos os pais o direito de conviver e decidir sobre os aspectos da vida dos filhos, preservando-se, assim, as relações filiais com ambos os pais.

18 Cabe ressaltar que a utilização do termo vínculo conjugal foi adotado de forma genérica, não o restringindo

somente aos decorrentes do casamento, mas também aos provenientes de união estável, tendo em vista que a alienação parental pode ocorrer tanto em relação aos pais casados quanto aos conviventes em união estável.

19 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, p. 451. 20 DIAS, Maria Berenice. Ibidem, p. 458-459.

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Espera-se, com referido instituto, que sejam minimizados todos os efeitos negativos e prejuízos que a guarda unilateral pode trazer, como, por exemplo, a manipulação dos filhos, podendo estabelecer uma situação de alienação parental.

Para tanto, é necessário que o Judiciário esteja preparado para lidar com situação tão complexa e delicada, utilizando, para isso, de profissionais capacitados e especializados de várias áreas, como psicólogos, advogados e assistentes sociais.

Assim, a Alienação Parental, objeto do presente estudo, corresponde a um fenômeno há muito presente nas relações familiares e consiste, basicamente, na prática de condutas por um dos genitores ou por aqueles que tenham a guarda da criança ou do adolescente, que visam denegrir a imagem do genitor não guardião, de modo a ocasionar a rejeição a esse e prejudicar a manutenção dos vínculos familiares.

Nesse sentido, a Lei nº 12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental, define o ato de alienação parental em seu art. 2º, caput, nos seguintes termos:

Art. 2º. Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança e do adolescente promovida e induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Entretanto, identificar e coibir a alienação parental não é uma tarefa fácil, tendo em vista que o Judiciário necessita de conhecimento específico dessa prática, bem como de profissionais especializados para a realização das perícias psicológicas ou biopsicológicas necessárias à revelação precisa da conduta alienadora, sendo exigido um estudo e empenho cada vez mais aprofundado de cada caso.

Portanto, é preciso que, diante de referido problema, o Judiciário supra a carência de profissionais aptos a lidar com casos dessa natureza, adotando instrumentos que permitam identificá-la com mais precisão e rapidez, de modo a garantir às crianças e aos adolescentes a proteção de seus interesses.

Com isso, a dissolução das relações conjugais pode ser o ponto de partida para que se inicie uma campanha desmoralizadora contra o genitor alienado, que culminará no afastamento ou até mesmo na destruição do vínculo afetivo entre este e a criança e/ou o adolescente.

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muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, se um dos cônjuges não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, o sentimento de rejeição, ou a raiva pela traição, surge um desejo de vingança que desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. Nada mais do que uma “lavagem cerebral” feita pelo guardião, de modo a comprometer a imagem do outro genitor, narrando maliciosamente fatos que não ocorreram ou não aconteceram conforme a descrição feita pelo alienador.21

Dessa maneira, é imprescindível a observância ao direito fundamental à convivência familiar e ao princípio do melhor interesse do menor em processos de dissolução conjugal, haja vista que os principais afetados, ou seja, a criança e/ou o adolescente, detêm condição de ser humano em desenvolvimento e necessitam de ampla proteção e cuidado, seja da Família, da Sociedade ou do Estado. A dissolução conjugal não deve ser encarada e caracterizada como fato preponderante para o rompimento da convivência familiar, uma vez que a Família persiste e deve ser o meio em que o interesse do menor se solidifica e encontra tutela.

21 DIAS, Maria Berenice. Ibidem, p. 473.

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2. ALIENAÇÃO PARENTAL

2.1 Conceito e Origem da Alienação Parental.

A Alienação Parental foi primeiramente proposta por Richard Gardner, Professor do Departamento de Psiquiatria Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade de Columbia, em Nova York, EUA, e define a situação na qual uma criança e/ou um adolescente, em virtude de práticas abusivas por parte do genitor guardião, passa a rejeitar a convivência com o genitor alienado, sem estar determinada qualquer justificativa real para a sua atitude.

Assim, de acordo com os estudos propostos por Richard Gardner, percebeu-se que

a prática de certas condutas no sentido de destruir a figura de um dos genitores para obter a guarda dos filhos, pode causar uma síndrome denominada de alienação parental. Nela há a programação da criança no sentido de que ela passe a odiar o genitor sem motivos reais. Há uma desmoralização intencional de um dos pais (alienador) em face do outro (alienado), sendo que o filho é utilizado como instrumento de agressividade.22

Cabe salientar que Richard Gardner propôs a qualificação de dois termos distintos: a alienação parental, entendida de forma mais genérica, e a síndrome da alienação parental, caracterizada como uma espécie daquela.

De fato, o termo síndrome da alienação parental não foi bem recepcionado entre os estudiosos do tema, tendo em vista o uso da palavra síndrome. Porém, o autor defende sua ideia e salienta que o uso apenas da expressão alienação parental pode causar conflitos, uma vez que podem ter diversas causas não condizentes com a simples prática de condutas pelo genitor alienador que prejudiquem ou inibam o relacionamento da criança e/ou do adolescente com o genitor alienado.23

Como afirma Richard Gardner

Uma criança pode ser alienada de um pai por causa do abuso parental da criança – por exemplo: físico, emocional ou sexual. Uma criança pode ser alienada por causa da negligência parental. As crianças com transtornos de conduta frequentemente são

22 GOMES, Acir de Matos. Alienação parental e suas implicações jurídicas. Disponível em:

<http://ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/870>. Acesso em: 21 jul. 2013.

23 GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental

(22)

alienadas de seus pais, e os adolescentes atravessam geralmente fases de alienação. A SAP é vista como um subtipo da alienação parental.24

Assim, é preciso passar à diferenciação minuciosa de ambos os termos propostos, para que se entenda o problema no seu todo, de forma a encontrar as melhores soluções cabíveis.

A Alienação Parental inicia, geralmente, após a separação conjugal, caracterizando-se como uma forma de abuso emocional pelo qual o genitor guardião ou genitor alienador pratica condutas que visam impedir, inibir ou até mesmo extinguir a convivência parental entre o genitor alienado e a criança e/ou o adolescente, como dificultar o cumprimento do horário de visitas, usar de críticas demasiadas e difamações para com o genitor não guardião e, até mesmo, de falsas acusações de abuso sexual.

Dessa maneira, de acordo com a psicóloga Denise Maria Perissini da Silva,

a alienação parental é um processo que consiste em programar uma criança para que odeie um de seus genitores (o genitor não guardião) sem justificativa, por influência do outro genitor (o genitor guardião), com quem a criança mantém um vínculo de dependência afetiva e estabelece um pacto de lealdade inconsciente.25

Ademais, é preciso ressaltar que o alienador pode ser qualquer familiar que detenha a guarda da criança e/ou do adolescente, como o pai ou mãe, ou que com ele mantenha um laço de convivência ou afetividade, como os avós, tios ou os irmãos. Por sua vez, o genitor alienado é aquele que não detém a guarda do menor, podendo ser o outro genitor e/ou outro familiar.

De acordo com Maria Berenice Dias,

Este fenômeno manifesta-se principalmente no ambiente da mãe, devido à tradição de que a mulher seria a mais indicada para exercer a guarda dos filhos, notadamente quando ainda pequenos. Entretanto, pode incidir em qualquer um dos genitores e, num sentido mais amplo, pode ser identificado até mesmo em outros cuidadores. Assim, o alienador pode ser o pai, em relação à mãe ou ao seu companheiro. Pode ser levado a efeito frente aos avós, tios ou padrinhos e até entre irmãos.26

Neste mesmo sentido, Denise Maria Perissini da Silva expõe que,

24 GARDNER, Richard A, ibidem.

25 SILVA, Denise Maria Perissini da. Os entraves à guarda compartilhada: a síndrome de alienação parental

(SAP), as falsas memórias e as acusações de abuso. In: Mediação e guarda compartilhada; conquistas para a

família. Curitiba: Juruá, 2011, p. 207.

(23)

Na maioria das vezes, dado o elevado índice de guardas de menores concedidas às mães (cerca de 95 a 98% no Brasil, segundo dados do IBGE), o alienador é a mãe, por ser a detentora da guarda monoparental, tem mais tempo para ficar com a criança, está movida pela raiva e ressentimentos pelo fim do relacionamento conjugal, e mistura sentimentos. Mas, o alienador pode ser também: avós, familiares, padrasto/madrasta, o pai, amigos, que manipulam o pai/mãe contra o outro para envolver o(s) filho(s) menor(es) na rejeição ao outro pai/mãe.27

Por sua vez, a Síndrome da Alienação Parental caracteriza-se como um distúrbio resultado de todo um processo alienatório, no qual a criança e/ou o adolescente já rejeita e recusa qualquer contato com o genitor alienado e passa a aderir às opiniões e pressupostos pelos quais se vale o guardião para desacreditar a imagem daquele.

Dessa maneira, segundo Richard Gardner, trata-se de

um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denigritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo.28

Sendo assim, é preciso ter claramente a diferenciação entre ambos os institutos, ressaltando que

a Síndrome não se confunde com a Alienação Parental, pois que aquela geralmente decorre desta, ou seja, ao passo que a Alienação Parental se liga ao afastamento do filho de um pai através de manobras do titular da guarda; a Síndrome, por seu turno, diz respeito às questões emocionais, aos danos e sequelas que a criança e o adolescente vêm a padecer.29

Entende-se, portanto, que a Síndrome da Alienação Parental é uma etapa posterior, podendo ser considerada como o resultado decorrente dos atos de Alienação Parental iniciados pelo genitor alienador e que apresenta um conjunto de sintomas que podem vir ou não a serem manifestados pela criança e/ou pelo adolescente.

27 SILVA, Denise Maria Perissini da. A nova lei da alienação parental. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n.

88, maio 2011. Disponível em:

<http://ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9277>. Acesso em: 30 jul. 2013.

28 GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental

(SAP)? Tradução de Rita Rafaeli. Disponível em:

<http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente>. Acesso em: 21 jul. 2013

29 PINHO, Marco Antônio Garcia de. Alienação Parental. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n.

(24)

Conforme salienta Denise Maria Perissini da Silva

Os efeitos nas crianças vítimas da Síndrome de Alienação Parental podem ser: depressão crônica, incapacidade de adaptar-se aos ambientes sociais, transtornos de identidade e de imagem, desespero, tendência ao isolamento, comportamento hostil, falta de organização, consumo de álcool e/ou drogas e algumas vezes suicídios ou outros transtornos psiquiátricos. Podem ocorrer também sentimentos incontroláveis de culpa quando a criança, quando adulta, constata que foi cúmplice inconsciente de uma grande injustiça ao genitor alienado.30

Entretanto, apesar da constatação de que a Síndrome Alienação Parental acarreta resultados gravíssimos a criança e/ao adolescente, vê-se a necessidade de concentrar o presente estudo na conduta iniciadora de referida síndrome, ou seja, nos atos de Alienação Parental, analisando suas características peculiares e os meios de refreá-la, uma vez que a mesma enuncia o abuso parental perante o menor, devendo ser identificada e contida de modo a evitar consequências danosas e irreparáveis.

Percebe-se, portanto, que o processo alienatório é composto de estratégias que buscam o afastamento do genitor alienado, retirando este da esfera de convivência da prole, sendo evidente, assim, a ofensa ao direito fundamental à convivência familiar harmoniosa e saudável, bem como ao princípio do melhor interesse do menor.

No mais, além de ofender o direito à convivência familiar, o abuso parental no exercício da alienação parental fere a identidade pessoal da criança e/ou do adolescente, tendo em vista que os submete a objetivos egoísticos de vingança pelo fim da relação afetiva entre os genitores.

Nesse sentido, Giselda Hironaka salienta que

ao afetar o direito à convivência familiar por meio da opressão e da violência psíquica, a síndrome da alienação parental macula a dignidade humana também por afetar a identidade pessoal da criança. (...) ressalte-se como inadmissível a submissão da criança aos desejos dos adultos, como se ela fosse o objeto do desejo destes.31

Diante desse panorama surge a Lei nº 12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental, definindo-a e caracterizando suas condutas ensejadoras, procurando estabelecer os

30

SILVA, Denise Maria Perissini da. Os entraves à guarda compartilhada: a síndrome de alienação parental

(SAP), as falsas memórias e as acusações de abuso. In: Mediação e guarda compartilhada; conquistas para a

família. Curitiba: Juruá, 2011, p. 208.

31

HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; MONACO, Gustavo Ferraz de Campos. Síndrome de

alienação parental. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/589>. Acesso em: 21

(25)

meios punitivos mais eficazes para preservar o melhor interesse das crianças e/ou dos adolescentes.

No entanto, a norma carece de critérios de maior precisão, haja vista que a alienação parental pode ser entendida como qualquer prática de conduta que dificulte ou impeça a convivência familiar do genitor alienado com sua prole.

Assim, de acordo com Marcos Duarte,

A norma destaca formas exemplificativas e genéricas de alienação parental. Revela o poder discricionário do juiz que poderá declarar outros atos percebidos no contato com as partes ou constatados por perícia, praticados de forma direta ou com auxílios de terceiros. Neste patamar estão as formas mais comuns de identificação. A campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; os impedimentos ao exercício da autoridade parental, ao contado de criança e adolescente com genitor, exercício de direito regulamentado de convivência familiar; a omissão deliberada a genitor de informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente e mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.32

Com isso, é preciso ter claro que a referida Lei busca a proteção e efetivação do princípio do melhor interesse do menor, que deve ser superior a qualquer interesse superveniente ao fim da relação conjugal. O interesse da criança e/ou do adolescente deve ser entendido e concretizado de modo a preservar sua identidade, personalidade e estágio formativo, e é na Família o local apropriado para solidificá-lo e efetivá-lo.

Nesse sentido, como bem salienta Marcos Duarte,

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no sentido do que já estabelecera a CF/88 (art.227), elencou como direito fundamental do menor a convivência familiar (art. 19 do ECA). Não temos dúvidas que a família é a base social do ser humano, sendo os pais os responsáveis pela formação e proteção dos filhos, cabendo-lhes, em primeiro lugar, garantir e assegurar à criança e ao adolescente os direito e garantias descritas no art. 227 da CF/88. O vínculo familiar é essencial para o desenvolvimento harmonioso e sadio de crianças e adolescentes, o que só é possível no núcleo familiar.33

32

DUARTE, Marcos. Alienação Parental: Comentários iniciais à Lei 12.318/2010. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/697>. Acesso em: 18 jun. 2013.

(26)

Assim, a Família deve ser a base que resguarda e forma a personalidade do menor, sendo responsável contínua e plenamente por ele, proporcionando uma convivência familiar harmoniosa e saudável, mesmo quando há a dissolução da relação conjugal.

2.2 As condutas ensejadoras de Alienação Parental: consequências psicológicas e jurídicas dos envolvidos.

O processo alienatório se inicia com a obstrução, pelo alienador, do contato entre o não guardião e sua prole, utilizando, para tanto, de interceptações, críticas demasiadas e tomadas de decisões acerca da criança e/ou do adolescente sem a consulta devida ao genitor alienado.34

Assim, de acordo com o advogado Frederick Gondin, várias são as técnicas que constituem o procedimento alienatório:

Limitar o contato da criança com o genitor alienado e se possível eliminá-lo; Evitar mencionar o genitor alienado dentro de casa;

Desvalorizar o genitor alienado, seus hábitos, costumes, amigos e parentes; Criar a impressão de que o genitor alienado é perigoso;

Provocar conflitos entre o genitor alienado e a criança; Interceptar telefonemas, presentes e cartas do genitor alienado;

Fazer com que a criança pense que foi abandonada e não é amada pelo genitor alienado;

Induzir a criança a escolher entre um genitor e outro;

Induzir culpa no filho por ter bom relacionamento com o genitor alienado; Instigar a criança a chamar o genitor alienado pelo seu primeiro nome;

Impor pequenas punições sutis e veladas quando a criança expressar satisfação ao se relacionar com o genitor alienado;

Confiar segredos à criança, reforçando o senso de lealdade e cumplicidade; Cultivar a dependência entre genitor alienador e a criança;

Interrogar o filho depois que chega das visitas;

Encorajar a criança a chamar o padrasto/madrasta de pai/mãe; Ocultar a respeito do verdadeiro pai/mãe biológico;

Abreviar o tempo de visitação por motivos fúteis;

Dificultar ao máximo o cumprimento do calendário de visitas;

Mudança de domicílio para o mais longe possível do genitor alienado.35

Dessa forma, a prática do ato de alienação parental é composta de determinadas estratégias que visam prejudicar e denegrir a imagem do genitor alienado frente aos filhos, de modo a garantir que a convivência entre eles seja afetada de forma decisiva.

34 GONDIN, Frederick. Alienação Parental: A impropriedade do inciso III do artigo 6º da Lei nº 12.318, de 26

de agosto de 2010 (Lei da Alienação Parental). Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/556>. Acesso em: 21 jul. 2013.

(27)

Além disso, pode ser praticada a implantação de falsas memórias, principalmente no que se refere a acusações de abuso sexual, sendo incutido na criança e/ou no adolescente que o alienado estaria abusando sexualmente, garantindo, dessa forma, que a criança e/ou o adolescente tenha temor e receio de encontrar o não guardião.

A Lei de Alienação Parental, em virtude de tais condutas, cita-as e qualifica-as, de modo a prever as medidas necessárias para tratar e refrear a conduta alienadora, como o acompanhamento psicológico, a aplicação de multa, alteração do regime de guarda exercido pelo genitor alienador e até mesmo a suspenção do poder familiar.

Sendo assim, a Lei nº 12.318/2010 define a alienação parental em seu art. 2º, caput:

Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Além disso, a lei define, apenas exemplificativamente, no parágrafo único do art. 2º, algumas das condutas ensejadoras da alienação parental:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Conclui-se, portanto, que a alienação parental gera uma formação psicológica negativa na criança e/ou no adolescente, que age e fala de acordo com o que pensa o alienador, produzindo um indivíduo agressivo, dependente e sem autonomia, que rechaça o genitor alienado e seus familiares, sem consciência de que assume um discurso que não é seu. De fato, a criança e/ou o adolescente se sentem traídos e abandonados, refletindo os sentimentos negativos do genitor guardião. Primeiramente, se reprimem e se revoltam, criando problemas no ambiente escolar e familiar. Com o tempo assumem o discurso do

(28)

alienador, rejeitando o próprio pai ou mãe não guardião, tendo em vista que “o filho passa a acreditar que foi abandonado e passa a compartilhar ódios e ressentimentos com o alienador”.36

Tal conduta tende a ser determinante para a vida futura desses indivíduos em estágio formativo, tendo em vista que muitos repetem as uniões conjugais frustradas na vida pessoal ou se iniciam nas drogas e alcoolismo.37

Dessa maneira, conforme dispõe Denise Maria Perissini da Silva, psicóloga e mediadora familiar, a alienação parental ensina à criança e/ou ao adolescente a:

- mentir compulsivamente;

- manipular as pessoas e as situações;

- manipular as informações conforme as conveniências do (a) alienador (a), que a criança incorpora como suas (“falso self”);

- exprimir emoções falsas; - acusar levianamente os outros;

- não lidar adequadamente com as diferenças e as frustrações = INTOLERÂNCIA; - mudar seus sentimentos em relação ao pai/mãe-alvo: de ambivalência amor-ódio à aversão total;

- ter dificuldades de identificação social e sexual com pessoas do mesmo sexo do pai/mãe-alvo;

- exprimir reações psicossomáticas semelhantes às de uma criança verdadeiramente abusada.38

Dessa maneira, a formação psicológica e a personalidade da criança e/ou do adolescente sofrem uma ruptura, que colabora para prejudicar o desenvolvimento pessoal e social desses indivíduos, os quais muitas vezes não adquirem consciência, ou a adquirem tardiamente, de que foram vítimas daquele que deveria zelar pelo seu bem estar e pelo seu direito a uma convivência familiar harmoniosa e saudável.

Como bem pontua a advogada Ana Maria Frota Velly,

uma das consequências da Síndrome da Alienação Parental, segundo Eliana Nazareth, é o “efeito bumerangue”, isto é, quando a criança fica mais velha, geralmente no início da adolescência, começa a se dar conta que cometeu uma injustiça com o pai ou a mãe que foi alienada, quando o relacionamento dos dois já está muito prejudicado. Como consequência o filho vai se rebelar contra o genitor que detém a guarda e estimulou o afastamento do outro.39

36 GONDIN, Frederick. Alienação Parental: A impropriedade do inciso III do artigo 6º da Lei nº 12.318, de 26

de agosto de 2010 (Lei da Alienação Parental). Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/556>. Acesso em: 21 jul. 2013.

37

SILVA, Denise Maria Perissini da. A nova lei da alienação parental. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n.

88, maio 2011. Disponível em:

<http://ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9277>. Acesso em: 18 jun. 2013.

38

SILVA, Denise Maria Perissini da. Ibidem.

39 VELLY, Ana Maria Frota. Alienação Parental: Uma visão jurídica e psicológica. Disponível em:

(29)

Percebe-se, assim, que o processo alienatório pode acarretar consequências negativas para todos os envolvidos, inclusive para o então genitor alienador, tendo em vista que a criança, vítima da alienação parental, que passa grande parte de sua infância e adolescência rejeitando um de seus pais, pode vir a perceber o contexto em que foi inserida e adquire consciência de que agiu, involuntariamente, de forma a romper o vinculo parental, passando, por fim, a rejeitar o genitor alienador.

2.3 Os efeitos das Falsas Memórias no processo alienatório.

Diante das inúmeras condutas que ensejam a prática de alienação parental, o uso das falsas memórias é, sem dúvida, uma das formas mais graves de alienação, que vai muito além da obstrução do contato entre o genitor alienado e a prole.

As falsas memórias consistem em induzimentos de acontecimentos que jamais se iniciaram e, em sua maioria, tratam de acusações de abuso sexual, emocional ou agressão física, sendo fixados na mente das crianças e/ou dos adolescentes de forma repetitiva, de modo que estes passam a acreditar que tais situações realmente aconteceram.

(...) a Síndrome das Falsas Memórias traz em si a conotação das memórias fabricadas ou forjadas, no todo ou em parte, na qual ocorrem relatos de fatos inverídicos, supostamente esquecidos por muito tempo e posteriormente relembrados. Podem ser implantadas por sugestão e consideradas verdadeiras e, dessa forma, influenciar o comportamento.

Falsas memórias são aquelas que têm relação ao fato de serem uma crença de que um fato aconteceu sem realmente ter ocorrido. Essas recordações são muito subjetivas e, possuem informações idiossincráticas da pessoa, isto é, cada indivíduo tem a sua própria maneira de ver, sentir e reagir a cada acontecimento.

Na Síndrome das Falsas Memórias, o evento não acontece realmente, mas a pessoa reage como se efetivamente tivesse acontecido, pois passa a ser realmente vivido como real e verdadeiro.40

Com isso, o genitor guardião pratica uma conduta gravíssima, que viola a dignidade e a personalidade da criança e/ou do adolescente ao serem influenciados a acreditar que o suposto abuso sexual ou agressão física aconteceu por parte daquele que deveria protegê-lo, quando, na verdade, é mera invenção do alienador em busca de vingança pessoal.

Para ver seu intento concretizado, o genitor alienador não mede esforços para convencer a criança de que houve o abuso sexual, levando-a a exames médicos e entrevistas com profissionais, nem sempre preparados, os quais se preocupam mais com o relato da

(30)

criança do que a utilização de medidas protetivas que guarneçam a sua dignidade e personalidade, acabando por concretizar a acusação ao genitor alienado.

O que ocorre, com frequência, é que os profissionais de psicologia (clínica e jurídica), bem como os operadores do Direito (advogados, promotores, juízes), não estão preparados para lidar com a hipótese de que as acusações de abuso sexual possam ser falsas, e qual o interesse obscuro que serve de pano de fundo para que ocorram – a completa destruição do vínculo paterno-filial, objetivado pelo(a) genitor(a) guardião(ã), que mistura ressentimentos, frustrações, mágoas, raiva próprios (do fracasso da relação conjugal) com o relacionamento do(a) genitor(a) não guardião(ã).41

Deveras, toda acusação de abuso sexual deve ser amplamente investigada, principalmente quando se tratar de menor envolvido em processos litigiosos de guarda, antes de ser efetivada qualquer acusação. No entanto, cada vez mais o relato de uma criança e/ou de um adolescente sobre um evento dessa natureza pressupõe-se verdadeiro, evidenciando o despreparo dos profissionais frente a essas situações, especialmente porque uma criança supostamente abusada apresenta reações psicossomáticas semelhantes às de uma criança verdadeiramente abusada, como ambivalência de sentimentos, contradições, lacunas, esquecimentos no relato, memória do ocorrido e interesse em evitar o vínculo familiar.42

Os profissionais envolvidos devem fazer um trabalho multidisciplinar, apurando todos os fatos e a credibilidades dos testemunhos dos envolvidos, sobretudo dos menores, procurando descobrir se há a prática de alienação parental e o induzimento das falsas memórias pelo genitor guardião.

Uma atitude acolhedora por parte do profissional é fundamental para que possa ocorrer a aproximação da criança ou do adolescente. Esse comportamento facilitador possibilitará que ele fale de seus problemas. Não cabe ao profissional, no entanto, tentar “descobrir coisas”. Os limites da criança ou do adolescente devem ser sempre respeitados. O importante é que fique claro que as mudanças em seu comportamento não passaram despercebidas e que o educador estará disponível para o que ele queira confidenciar.43

41

SILVA, Denise Maria Perissini da. Os entraves à guarda compartilhada: a síndrome de alienação parental

(SAP), as falsas memórias e as acusações de abuso. In: Mediação e guarda compartilhada; conquistas para a

família. Curitiba: Juruá, 2011, p. 217.

42

SILVA, Denise Maria Perissini da. A nova lei da alienação parental. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n.

88, maio 2011. Disponível em:

<http://ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9277>. Acesso em: 21 jul. 2013.

43 MOURA, A.C.A.M.; SCODELARIO, A.S.; CAMARGO, C.N.M.F.; FERRARI, D.C.A.; MATTOS, G.O.;

MIYAHARA, R.P. Reconstrução de vidas. Como prevenir e enfrentar a violência doméstica, o abuso e a

exploração sexual de crianças e adolescentes. Sedes Sapientiae – CNRVV. São Paulo, 2008. Disponível em:

(31)

Para tanto, é essencial que não ajam de forma tendenciosa, beneficiando o genitor alienador em detrimento do genitor alienado e baseando suas conjecturas em fatos que não podem ser efetivamente provados e demonstram claramente a utilização das falsas memórias.

É preciso ressaltar que esse cuidado é imprescindível, tendo em vista que uma acusação falsa de abuso sexual pode ensejar um crime contra a criança, bem como contra o genitor alienado, o qual, além de ter seu poder familiar restringido, pode vir a enfrentar um processo judicial diante de uma perícia inadequada.

De fato, como bem salienta Denise Maria Perissini da Silva, a utilização das falsas memórias é a mais grave e devastadora conduta de que o genitor alienador pode se valer para prejudicar e inibir o contato entre o genitor alienado e a criança e/ou o adolescente,

isso porque, além de ser um ato lesivo à moral, e que depreciará para sempre a reputação daquele que recebe a acusação, em determinados momentos da vida dos filhos essa manobra encontra guarida em alguma fase do desenvolvimento psicosexual infantil, bem como na importante questão da fantasia e do desejo.44

Assim, determinados fatores devem ser observados e podem ser decisivos para concluir se a acusação de abuso sexual é verdadeira ou não, como a presença de litígio judicial entre os pais, principalmente se iniciado antes da acusação de abuso; comentários discriminatórios e preconceituosos sobre o genitor alienado, como sobre sua religião, homossexualidade ou formação profissional; incongruências durante o relato do fato abusivo; e necessidade do uso de estímulos para que a vítima se lembre do que ocorreu.45

Percebe-se, diante das consequências que referida conduta proporciona, que é preciso um intenso trabalho psicológico para refrear os efeitos nocivos da alienação, podendo ser utilizado, até mesmo, a interrupção temporária da guarda do genitor alienador, tendo em vista que se torna necessário conscientizá-lo de que sua conduta alienadora é prejudicial à criança, a qual também é preciso demonstrar que a imagem que tem do genitor alienado não é verdadeira, tratando-se apenas de uma manipulação emocional.46

Dessa maneira, os profissionais envolvidos devem especializar-se na alienação parental, suas causas e efeitos, bem como nas condutas praticadas pelo genitor alienador para prejudicar o vínculo familiar entre o genitor não guardião e a criança e/ou o adolescente, principalmente no que diz respeito ao uso das falsas memórias. Diante da acusação falsa de

44 SILVA, Denise Maria Perissini da. A nova lei da alienação parental. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n.

88, maio 2011. Disponível em:

<http://ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9277>.. Acesso em: 18 jun. 2013.

45 SILVA, Denise Maria Perissini da. Ibidem. 46 SILVA, Denise Maria Perissini da. Ibidem.

(32)

abuso sexual ou agressão física, os profissionais devem adotar uma postura voltada a conter os efeitos do processo alienatório, evidenciando os prejuízos emocionais e psicológicos de referida conduta.

Os psicólogos (clínico/jurídico) devem estar atentos aos relatos (verbalizações e não-verbalizações), expressões faciais, demonstrações de sentimentos e outros sinais relevantes. Do mesmo modo, devem ter extrema cautela com os desenhos, testes e brincadeiras/jogos das crianças analisadas, porque quando há uma construção de falsas memórias de abuso sexual, os sintomas e reações são muito semelhantes àqueles manifestados por crianças efetivamente abusadas. É imprescindível que o profissional analise o contexto familiar (disputas conjugais, por exemplo), se a criança apresentou relato verbalizado ou desenhos a outras pessoas antes do atendimento e quais as reações/atitudes dessa(s) pessoa(s) ante o relato. Ocorre que reações da criança como masturbação excessiva, depressão, baixa autoestima, enurese, podem advir muito mais do próprio contexto de litígio familiar do que de um abuso propriamente dito. Como os juízes confiam na opinião dos profissionais (peritos), uma interpretação equivocada pode prejudicar irremediavelmente a reputação de um indivíduo envolvido em uma acusação falsa.47

É preciso, portanto, avaliar a autenticidade e veracidade de cada uma das informações prestadas pelo genitor guardião acerca da acusação de abuso sexual, tendo em vista que esta pode apenas caracterizar um mero instrumento para obstruir a relação entre o genitor alienado e sua prole. O profissional deve estar atento aos fatos, sendo primordial para conscientizar os familiares que se utilizam das falsas memórias de que estão prejudicando profundamente o desenvolvimento psicológico, emocional e social das crianças e/ou dos adolescentes envolvidos.

2.4 Os meios punitivos da Lei de Alienação Parental à luz do princípio do melhor interesse do menor e do direito fundamental à convivência familiar.

Após a caracterização e identificação das condutas ensejadoras da alienação parental, a Lei nº 12.318/2010 propôs meios punitivos para aqueles que incidissem na prática de referidos atos.

De fato, a síndrome da alienação parental deve ser tratada por profissionais especializados no assunto e adotando-se, em conjunto, medidas legais e terapêuticas.

Buscando encontrar a melhor forma de abordagem para os casos de Alienação Parental, importante destacarmos os seus possíveis níveis de intensidade, de acordo com Almir Bezerra Evaristo:

47

PADILLA, E. A propósito de los relatos de abuso sexual infantil. ALPJF (Curso de Violencia Intrafamiliar – post-grado en la Universidad de Córdoba), 1999. Disponível em: <http://www.psicologiajuridica.org>. Acesso em: 18 jun. 2013.

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