PROCESSO PENAL I
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS:
Todo poder emana do Povo: Poder do Estado é limitado pelo direito e disciplina seu exercício.
Surgimento do processo: meio determinado pelo direito para exercício do poder jurisdicional, como forma de regulamentar e disciplinar, de forma igualitária, o exercício do jus puniendi do Estado.
Relação triangular: poder x direito x processo.
Processo Penal: instrumento destinado à realização do poder punitivo do Estado, disciplinado por um conjunto de normas e princípios jurídicos. Trata-se de procedimento, que é uma sequencia ordenada de atos (sucessão de atos), abrangendo a formulação de uma acusação, o exercício de uma defesa, produção de provas (acusação e defesa) e uma decisão final.
Instauração de uma relação jurídica processual triangularizada: Juiz x sujeito ativo x sujeito passivo, que ocupam posições distintas no processo com faculdade, direitos e obrigações.
2. FONTES DO PROCESSO PENAL: 2.1 – Fontes Materiais
2.2 – Fontes Formais
MATERIAIS: fontes de produção (União - Art. 22, I, CF). Competência Privativa (cabe delegação por LC).
FORMAIS: Leis em sentido amplo - fontes formais imediatas - fontes formais mediatas 2.2.1 Fontes Formais Imediatas:
Constituição Federal: Proteção à intimidade (art. 5º, X), Sigilo Telefônico (art. 5º, XII), contraditório (art. 5º, LV), inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI), limitações à prisão do acusado (art. 5º, LXI), etc.
Legislação Federal Infraconstitucional: CPP; Lei JECRIM; LEP. 2.2.2 Fontes Formais Mediatas:
Costumes: regras de condutas reiteradas que se agregam na consciência da coletividade com caráter de obrigatoriedade.
Princípios Gerais do Direito: “o Direito não socorre aos que dormem...”; “A ninguém é lícito alegar sua própria torpeza...” Analogia: procedimento consistente em estender a um caso não
previsto aquilo que o legislador previu para outro caso semelhante. Doutrina: opinião manifestada pelos operadores do direito ou
Jurisprudência: entendimento consubstanciado em decisões judiciais reiteradas sobre o mesmo assunto.
3. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS
3.1 – Sistema Acusatório: É o modelo adotado pelo processo penal brasileiro.. distinção entre as posições de acusar, defender e julgar. Assegura-se o contraditório e a ampla defesa.
As partes exercem posições bem definidas: ao juiz agir com imparcialidade, cabendo à polícia judiciária a atividade investigativa sob controle externo do Ministério Público (acusação) e a defesa técnica exercer seu papel assegurar o direito ao réu em responder plenamente os termos da acusação.
Mitigação: Produção de provas ex officio pelo juiz. Art. 156 do CPP (Lei 11.690/2008). Produção antecipada de provas urgentes e revelantes (inciso I) realização de diligências para dirimir dúvida de ponto relevante (II). Não ofende o sistema acusatório em homenagem ao princípio da Verdade Real.
Outros exemplos: art. 196; 209; 234; 242, todos do CPP.
3.2 – Sistema Inquisitivo: Típico de sistemas ditatoriais. Processo judicial sigiloso, sem contraditório. Reunindo na mesma pessoa a função de acusar, defender e julgar.
3.3 – Sistema Misto: Duas fases processuais: inquisitiva, sem contraditório e ampla defesa e publicidade e outra de julgamento onde se assegura as garantias do processo acusatório.
4. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS
4.1 Princípio da Verdade Real: apurar os fatos como efetivamente ocorreram, de forma a se responsabilizar apenas quem o cometeu. Agasalha a possibilidade de diligências ex officio pelo Juiz.
Seara diversa da esfera cível, onde o Juiz se restringe a julgar as provas produzidas pelas partes. Verdade Formal.
Exceções: limitação do depoimento de testemunhas que conhecem os fatos em razão do ofício, profissão, função ou ministério (art. 208 CPP); proibição de provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, CF), descabimento revisão criminal sentença absolutória (art. 621 CPP).
4.2 Princípio da iniciativa das partes: O processo penal só pode ser instaurado por iniciativa das partes, ou seja, MP (AP Pública) e ofendido ou representante legal (AP Privada ou subsidiária).
Reexame necessário: art. 574, I e II CPP (sentença que conceder HC e absolver sumariamente o acusado). Não ofende o princípio, pois desprovido de voluntariedade do Juiz, pois é condição de validade e eficácia da decisão.
4.3 Princípio do Devido Processo Legal: originado da cláusula do due processo of Law (direito anglo americano). Art. 5º, LIV e LV, CF: “Ninguém será privado de sua liberdade e de seus bens sem que haja um processo prévio, assegurado o contraditório e a ampla defesa”.
Direitos inerentes: ser ouvido pessoalmente pelo Juiz; defesa técnica; motivação das decisões judiciais, direito a recorrer das decisões.
4.4 - Princípio Vedação das Provas Ilícitas (violação de normas constitucionais ou ilegais indiretamente constitucionais) – Provas que afrontam direta ou indiretamente normas constitucionais. Art. 157 do CPP
Provas ilícitas – violação normas constitucionais ou indiretamente constitucionais (ilegais). Ex (1) interceptação telefônica sem ordem judicial (ofensa a norma constitucional). Ex (2) interrogatório judicial sem advogado (ofensa direta ao art. 185 CPP e indireta ao art. 5, LV, CF)
Provas ilegítimas – violação de normas legais puramente processuais. Ex. perícia realizada apenas por um perito nomeado (art. 159, par. 1, CPP). Nulidade relativa.
Possibilidade de utilização da prova ilícita em favor do réu, quando for a única prova para inocentá-lo.
4.5 Princípio da Presunção de Inocência ou Não culpabilidade – “Ninguém será considerado culpado até o transito em julgado da sentença” - art. 5, LVII, CF. Deve ser considerado sob três vertentes:
Na instrução processual (ônus da prova cabe à acusação)
Na avaliação da prova (na dúvida valorada em favor do acusado)
Quanto à segregação cautelar da liberdade (presentes requisitos prisão preventiva).
Observações:
- Maus antecedentes: apenas com o trânsito em julgado da sentença. Art. 59 CP
- Regressão regime carcerário: basta a prática de crime, não ofende princípio presunção de inocência, posto que se discute a adaptação ao convívio social. Entendimento STJ (RHC 18.334).
- Exigência da prisão para recorrer: revogado art. 594, CPP, só podia responder em liberdade se reconhecido bons antecedentes e primário. Atualmente só estiverem presentes requisitos da prisão cautelar. (art. 387, § 1º, CPP).
4.6 Princípio da obrigatoriedade da motivação das decisões judiciais: visa aos interessados impugnarem com efetividade as decisões judiciais e demonstrar a imparcialidade do Juiz.
Art. 155 CPP, Juiz não pode fundamentar sua decisão exclusivamente em provas produzidas na fase de IP, exceto as cautelares, antecipadas e não repetíveis. Exceção: decisões adotadas em fases pré processuais: prisão cautelar, busca e
apreensão, interceptação telefônica.
4.7 Princípio da Publicidade: Traduz transparência dos atos processuais.
Exceções: Publicidade restrita: alguns atos serão restritos às partes, procuradores. Art. 93, IX, CF – preservação do direito à intimidade. Ex: art. 201, § 6º; art. 485, §2º, art. 792, § 1º, todos do CPP.
Princípio da Imparcialidade do Juiz: capacidade subjetiva e objetiva para
julgamento da demanda, desprovido de sentimentos pessoais, emoções, restringindo-se à lei e as provas do processo.
Causas de Impedimento: Art. 252 CPP (incapacidade objetiva) Causas de Suspeição: art. 254 CPP (incapacidade subjetiva)
Princípio da Isonomia Processual: As partes devem ser tratadas de forma
igualitária, com as mesmas oportunidades.
Princípio “Favor Rei”: o acusado tem prevalência sobre a pretensão punitiva estatal: art. 386, VII (absolvição falta de provas); Art. 621 CPP (revisão criminal apenas para a defesa)
Foro privilegiado em razão da função: proteção de pessoas? Ou da função púbica?
Princípio do Contraditório: Ninguém pode ser condenado antes de ter
oportunidade de se ouvido quanto aos fatos imputados. Assegurar às partes de serem cientificadas de todos os atos e fatos havidos no curso do processo, podendo se manifestar e produzir provas a respeito.
Exceções: decisão inaudita altera pars: decretação prisão preventiva; sequestro de bens advindos da infração penal.
Cabe contraditório no IP? Em regra não. Apenas IP Federal instaurado por requisição do Ministro da Justiça para expulsão de estrangeiro.
Princípio da Ampla Defesa: é o direito à mais complexa defesa quanto à
imputação que lhe foi realizada. Possui relação com o P. Contraditório. Ter conhecimento amplo da acusação;
Poder apresentar alegação contra a acusação;
Ter acesso às provas produzidas e acompanhá-las e fazer contra-prova; Ter defesa técnica;
4..1 Análise de acordo com o prejuízo ocasionado ao réu: Nulidade relativa: - perder prazo para recorrer;
- Não observar o prazo de 3 dias para juntada de documentos para julgamento pelo júri (art.479 CPP). Nulidade absoluta: - falta de defesa prévia – art. 396 CPP
- falta das razões de recurso interposto, nomeia dativo.
4.12 Princípio Duplo Grau Jurisdição: Direito à revisão das decisões proferidas em primeiro grau.
Exceção: decisões originárias do STF (art. 102, I, CF)
4.13 Princípio do Juiz Natural: “Ninguém será processado e sentenciado, senão por juiz competente” – art. 5º, LIII, CF.
Consiste em assegurar aos indivíduos o direito de ser processado e julgado por
membro do Judiciário, investido e imparcial, de acordo com as regras anteriores à prática do crime. Vedação de juízo ou tribunal de exceção (não se confunde com as jurisdições especializadas, por. Exemplo), bem como a designação de juiz para atuar em determinado processo.
4.14 Princípio do Promotor Natural: Veda a designação pelo Procurador Geral, de promotor de justiça ou procurador da república para atuar em caso específico, abstraindo regras estabelecidas anteriormente à infração penal.
Art. 28 CPP: Ofende esse princípio, no caso de nomeação de membro do MP, quando Juiz não acolheu pedido de arquivamento do IP? Não porque não visa afastar o promotor titular (questão concurso MP de Santa Catarina em 2008).
4.15 OUTROS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PROCESSO PENAL
4.15.1 Legalidade: Os órgãos aos quais são atribuídas a função da persecução penal devem agir sem discricionariedade. O delegado deve instaurar IP tão logo tenha conhecimento da prática de crime (ação penal pública incondicionada).
4.15.2 Oficiosidade: A autoridade Policial e o membro do MP devem agir de ofício visando a apuração de crimes de ação penal pública incondicionada. Se condicionada, devem aguardar representação por ser tratar de requisito de procedibilidade da ação.
4.15.3 Impulso Oficial: uma vez instaurada a ação penal, o Juiz deve conduzir o processo, seguindo as etapas processuais, sem aguardar manifestação das partes. 4.15.4 Oficialidade: É atribuir-se a determinados órgãos do Estado a apuração de
delitos. Cabe ao delegado de polícia e ao MP a atividade persecutória e ao Judiciário a prestação jurisdicional penal.
4.15.5 Indisponibilidade: A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos do IP (art. 17 CPP); O MP não poderá desistir da ação penal pública (art. 42 do CPP). Exceção: transação penal em crimes de menor potencial ofensivo.
4.15.6 Identidade física do Juiz: o juiz que presidiu a instrução deverá proferir sentença (art. 399, § 2º, CPP). Exceção: Juiz licenciado, convocado, afastado, promovido ou aposentado, passa-se ao sucessor (art. 132 do CPC). Aplica-se literalmente com relação ao conselho de sentença do Júri.
4.15.7 “In dúbio pro reo” ou “favor rei”: Apenas diante da certeza é que se pode condenar o acusado. Havendo dúvidas ou insuficiência de provas, deverá o réu ser absolvido (art. 386, VII, CPP).