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A crítica de Thomas Kuhn sobre a construção do conhecimento científico fundamentado no discurso do método Descartes.2014.1.doc (146 kB)

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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS

LUCIANA DE SOUZA LORENZONI PASCHOA MÁRCIA CRISTINA PAULUCIO

NATÁLIA GOMES DE SOUZA MENDES ROSANE GOMES DA SILVA TAMIRES PARTELLI CORREIA

A CRÍTICA DE THOMAS KUHN SOBRE A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO FUNDAMENTADO NO DISCURSO DO

MÉTODO DESCARTES

JERÔNIMO MONTEIRO 07/2014

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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS

LUCIANA DE SOUZA LORENZONI PASCHOA MÁRCIA CRISTINA PAULUCIO

NATÁLIA GOMES DE SOUZA MENDES ROSANE GOMES DA SILVA TAMIRES PARTELLI CORREIA

A CRÍTICA DE THOMAS KUHN SOBRE A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO FUNDAMENTADO NO DISCURSO DO

MÉTODO DESCARTES

Trabalho apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para aprovação na disciplina de Metodologia de Pesquisa Científica.

Prof. D.Sc. Wendel Sandro de Paula Andrade.

JERÔNIMO MONTEIRO 07/2014

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a ciência em determinada época e contexto histórico-cultural. Nesse sentido, Descartes e Thomas Kuhn também deixaram grandes contribuições na construção do conhecimento científico, sejam na época em que viveram e ainda na atualidade. Contudo, os conceitos e métodos propostos por cada um deles variam em grande amplitude, porém alguns apresentam semelhanças entre si. Desse modo, o presente trabalho objetiva levantar algumas críticas, positivas ou negativas, a respeito das ideias de Thomas Kuhn que divergem ou convergem com o método proposto por Descartes, bem como refletir sobre alguns conceitos destes pensadores que permeiam o âmbito da pesquisa acadêmica atual. Pode-se considerar que Descartes foi um dos primeiros filósofos que separou a fé da razão e provocando deste modo, uma revolução científica, de acordo o conceito de revolução proposto por Thomas Kuhn. As dúvidas na ciência são também ideias que ambos os pensadores compartilham, sendo essas necessárias para a evolução científica. Porém Descartes propõe métodos para se alcançar o conhecimento verdadeiro baseado na razão, e Thomas Kuhn critica que a mudança de paradigma não é um processo racional, metodológico, mas que depende das regras, modelos e questões compartilhados por uma comunidade científica.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...5

2 REVISÃO DE LITERATURA...7

2.1 O surgimento da Teoria do Conhecimento e do Método...7

2.2 A crítica de Thomas Kuhn sobre o método de Descartes...9

2.3 Considerações sobre alguns paradigmas no âmbito da pesquisa acadêmica...13

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS...15

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1 INTRODUÇÃO

A inquietação do homem em busca de explicações à respeito das questões do mundo impulsionou-o para a produção de conhecimentos, e a constituição do mesmo, é fortemente influenciada pela época e os conceitos vigentes. Dentre os vários tipos de conhecimentos que o homem utilizou para explicar os fenômenos, destaca-se o conhecimento científico, que segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 80), possui características tais como:

O surgimento do método científico surgiu no mundo moderno, coincidindo com a estruturação do Renascimento (FRANCELIN, 2004). A comunidade científica mais ampla foi sendo construída, quando estudiosos europeus começaram a ter contato com o conhecimento e culturas além de suas fronteiras e voltaram a observar os trabalhos de antigos pensadores, como Aristótoles, Ptolomeu e Euclides (MEIRES et al., 2014).

O conhecimento científico demanda a utilização de métodos para ser caracterizado como tal. Marconi e Lakatos (2003, p. 83), ressaltam que “[...] o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.” A questão de saber que método seria esse tem constituído uma das principais preocupações dos filósofos, formando-se então em torno dela e de outras questões correlacionadas, um ramo especial de filosofia, a filosofia da ciência (CHIBENI, 2006). Foi no entanto, com a obra “Discurso do Método” de René Descartes (1596-1650), é que foram lançados, de fato, os fundamentos do método científico moderno (MEIRES et al., 2014), “[...] constitui um conhecimento contingente, pois suas preposições ou hipóteses têm a sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se em conhecimento

falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por

este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente.”

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onde este se adentrou em uma via que em filosofia se chama “racionalista”, ou seja, que busca a fundamentação no âmbito exclusivo do pensamento humano (CHIBENI, 2006).

Assim como as ideias de Descartes, que fundou o método científico moderno desde a era renascentista, as de Thomas Kuhn também são revolucionárias em nossa época, o que de acordo com Ostermann (1996) é um marco importante na construção de uma imagem contemporânea de ciência, através de suas ideias sobre o desenvolvimento científico precursora à primeira edição de seu primeiro livro “A estrutura das revoluções científicas” em 1962, onde o autor propõe uma nova visão de ciência, e elabora críticas ao positivismo1 lógico na filosofia da ciência e à historiografia tradicional.

Embora o conhecimento científico seja construído a partir da formulação dos métodos, que são por vezes aceitos e empregados nas pesquisas, o cientista tem liberdade para aceitá-lo como conveniente ou não. É importante que, como cientistas, possamos ter a capacidade de compreender os métodos relacionados ao conhecimento científico e que tenhamos a habilidade de questionar, não sendo levados apenas por aquilo que é aceito, mas acreditando na capacidade de sugerir novos métodos e práticas quando necessário. Deste modo, estudar os métodos científicos aceitos na atualidade e as críticas existentes com relação aos mesmos é, portanto, de extrema relevância para formação de futuros mestres e cientistas.

O objetivo deste trabalho foi analisar a construção do conhecimento científico a partir do método de Descartes, assim como as críticas levantadas por Tomas Kuhn a respeito desse método.

1. O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro, e que uma teoria é correta se ela foi comprovada através de métodos científicos válidos, fundamentada em lógicas matemáticas.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O surgimento da Teoria do Conhecimento e do Método

A teoria do conhecimento surgiu no mundo desde a antiga Grécia (600 a.C), onde autores como Tales de Mileto, Sócrates, Platão e Aristóteles já discutiam sobre métodos científicos do conhecimento (RAHMÉ, 2013; UNIVESP, 2014). Na transição entre o mundo antigo e o moderno, em relação ao conhecimento o que mudou foi a problematização da certeza a partir do surgimento de métodos. Isso porque o papel central da ciência do século XV até o século XXI, não era tão amplo dentro da cultura grega, nem mesmo na cultura romana, não é porque a ciência naquela época não tinha sua importância, mas porque não se pensava a ciência separada das outras ciências, ou seja, com as outras áreas do conhecimento. Isso foi um marco que diferenciou a ciência antiga da moderna, pelo fato de dar mais centralidade ao fazer científico, ao próprio conhecimento.

A ciência moderna é todo processo de transformação ocorrido a partir do século XVI, que modificou o modo como os cientistas veem o mundo e como todos nós interpretamos a realidade (UNIVESP, 2014). Os gregos viam a ciência com o aspecto prático, no entanto com tons muito indutivos, e não experimentais. O Conhecimento indutivo é aquele que parte do particular para o geral, ou seja, eu vejo um fato ocorrendo, a repetição desse fato e constato que o fato acontece por isso (RAFIH, 2013). A ciência moderna traz o elemento da experimentação, sendo um suporte para o conhecimento indutivo, inclui provas e testes. Galileu é um bom exemplo, da inauguração da experimentação, através das observações dos astros com o telescópio, confirmou a teoria de Copérnico, quanto ao heliocentrismo (CARDOSO, 2009). Galileu também é um dos primeiros autores a insistir na transição do modelo qualitativo para o quantitativo, ou seja, propõe a matemática como instrumento para entender a natureza como um todo. A inauguração do mundo moderno, também começa a entender que o sujeito pode criar a análise cientifica, então o sujeito na ciência moderna passa a atuar, propor e fazer ciência (FRANCELIN, 2004). Nesse momento que surge uma nova instância imprescindível: o método!

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O modelo científico moderno tem duas necessidades fundamentais para acontecer: a primeira é a de criação de modelos mais práticos de experimentação, segundo é do método garantido, um método que sustente a estrutura científica em direção à verdade, ao conhecimento verdadeiro (LOBO, 2013). A segunda necessidade é o que vai inspirar as teorias modernas sobre o conhecimento, fato esse que vai motivar autores como René Descartes, Looke, Kante a questionar os princípios científicos (LANDIM FILHO, 2013). As correntes do ceticismo e dogmatismo, também vão entrar em conflito para se por em discussão qual seria a ciência segura, e questionamentos pertinentes nos dias de hoje. Um bom exemplo é de como deveria se estruturar o conhecimento: a partir do todo ou em partes e recortes?

Perante essa situação surgem vários autores que estão englobados em duas escolas principais: a primeira é o Racionalismo, sendo considerado o filosofo René Descartes como seu grande precursor, e o seu primeiro questionamento é sobre qual é a ciência segura, como garantir a certeza da ciência. A segunda é o empirismo, que contrapõe as ideias racionalistas, principalmente sobre a origem do conhecimento (BRESSAN, 2008).

O filósofo, físico, matemático e francês: René Descartes também conhecido como Renatus Cartesius, nasceu no ano de 1596 na cidade francesa de La Haye, estudou bacharelado e licenciatura em Direito pela Universidade de Poitiers, e em 1637, aos 41 anos de idade, Descartes publica em francês a sua primeira grande obra, o “Discurso do método”. Nesta obra o [...] O desenvolvimento das ciências da natureza, a partir do Renascimento, está ligado intimamente à formulação de uma nova metodologia, em contraposição à silogística2 aristotélica: a da indução e

experimentação. A primeira formulação sistemática do método indutivo-experimental encontra-se no Novum Organum [1620], de Francis Bacon [1561 – 1626]. Na mesma época, [René] Descartes [1596 – 1650] escreveu o Discurso do Método, obra na qual a verdade só pode ser obtida por meio de procedimento puramente racional, como os empregados pelos matemáticos.

A tarefa de união da indução e da experiência com a matemática ficou reservada a Galileu [Galileu Galilei – 1564 – 1642] e Newton: o conhecimento científico da natureza só é obtido quando os dados fornecidos pela observação e pela experimentação podem ser traduzidos em linguagem matemática e expresse a regularidade, a constância e as relações entre os fenômenos considerados (ABBAGNANO, 1982, p. 873).

2. Silogismo (do grego antigo, "conexão de ideias", "raciocínio") é um termo filosófico com o qual Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, constituída de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a partir das duas primeiras, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão.

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autor descreve algumas das principais regras sugeridas para a prática científica, tais como a de que não existe tanta perfeição nas obras formadas de várias peças, e feitas pelas mãos de diversos mestres, como naquelas em que um só trabalhou; não aceitar algo como verdadeiro, sem que antes tenha prova como tal; repartir minuciosamente as dificuldades de forma a ter clareza delas e de conduzir com ordem os pensamentos, partindo das ideias mais simples às mais complexas (DESCARTES, 1996).

Muitos acontecimentos também provocaram mudanças no modo de pensar, que também são consequências desse ofício, como a chegada do Renascimento Cultural a partir do século XV, com toda sua carga de transformação sociocultural, o Humanismo, Cientificismo, Antropocentrismo, além da Reforma Protestante e o iluminismo nos séculos XVIII e XIX (CARDOSO, 2009).

2.2 A crítica de Thomas Kuhn sobre o método de Descartes

A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Samuel Kuhn (1922-1996) é uma das obras mais influentes da filosofia da ciência e tem causado muitos debates e divergências por suas ideias. Embora tenha se graduado em física pela Universidade de Harvard, teve grande interesse por questões de filosofia da ciência e dedicou maiores esforços em investigações no campo de história da ciência, onde obteve maior mérito (DAYRELL, 2008).

As ideias de Thomas Kuhn transformaram radicalmente a imagem da ciência que predominara até então, onde o mesmo não explicou a ciência apenas em termos de metodologia, mas cunhou a noção mais abrangente de paradigma, como o responsável por instaurar um consenso em vários níveis (metodológico, epistemológico, ontológico e axiológico) no interior de uma comunidade científica (PORTAL ..., 2012). No sentido etimológico da palavra, o termo paradigma deriva do grego, que significa “modelo”, “padrão”, e Thomas Kuhn utilizou o termo voltado para o campo da ciência, sendo um paradigma “[...] aquilo que os membros de uma comunidade científica compartilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma” (KUHN, 2011, p. 221).

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Assim como Kuhn utilizou o termo voltado para a comunidade científica, Maimone e Silveira (2007, p. 56) também o fizeram, onde ressaltam que “um paradigma pode ser entendido como um modelo, um método ou um padrão plenamente aceito pela comunidade científica, que pode servir de base para as gerações posteriores praticantes de uma determinada ciência”. Desse modo, os paradigmas podem se manifestar para a sociedade através de períodos históricos, modelos e sistemas econômicos, culturais, educacionais e até mesmo na literatura.

Para que um paradigma possa ser quebrado, é necessário um conjunto de ideias que precisam ser seguramente comprovadas e tidas como melhores do que as anteriores, trazendo novas concepções de interpretação da realidade, como aquilo que essencialmente acreditamos. Para Kuhn (2011), os avanços científicos somente foram possíveis porque algumas crenças ou procedimentos anteriormente aceitos foram descartados e, simultaneamente substituídos por outros.

Esse processo fica mais evidente quando a comunidade científica não pode mais esquivar-se das anomalias que subvertem a tradição existente da prática científica – então começam as investigações extraordinárias, que conduzem a um novo conjunto de compromissos, a uma nova base para a prática da ciência. Esses episódios extraordinários são denominados de revoluções científicas, os quais são desintegradores da tradição à atividade da ciência normal ligada a tradição (KUHN, 2011).

Os exemplos de revoluções científicas que o autor traz em seu livro são aqueles episódios famosos do desenvolvimento científico que, no passado, foram frequentemente rotulados de revoluções, como as de Copérnico, Newton, Lavoisier e Einstein, onde cada um deles “[...] forçou a comunidade científica a rejeitar a teoria científica anteriormente aceita em favor de uma outra compatível com aquela”, sendo que a nova teoria nunca ou quase nunca é um mero incremento ao que já é conhecido (KUHN, 2011, p. 25-26).

O primeiro ponto que liga Thomas Kuhn a Descartes, que pode ser evidenciado é em relação aos critérios indutivistas e falseacionistas3, onde ele propôs que uma disciplina se torna uma ciência quando adquire um paradigma, ou seja, a sua tese para o desenvolvimento de uma nova ciência é através das fases abertas que representa uma espinha dorsal: a primeira é fase

pré-3. Idéia proposta por Karl Popper, onde este ressalta que uma teoria deve ser rigorosamente testada por observações e experimentos, se falhar, deve ser eliminada ou substituída por outra que foi capaz de passar nos testes.

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paradigmática; logo depois inicia-se a fase de ciência normal (uma ou mais realizações científicas universalmente aceitas), passando por crises até chegar em revolução científica, tornando-se novamente uma ciência normal (CHIBENI, 2006; SZCZEPANIK, 2005), conforme mostrado na Figura 1. Nesse sentido, Descartes também quebrou paradigmas das ideias indutivistas vigentes na época, se enquadrando deste modo, nas fases de construção do conhecimento de Thomas Kuhn, ao introduzir uma filosofia racionalista, independente da fé. Desta forma, posteriormente à filosofia elaborada por Descartes, houve uma distinção entre a razão e mundo, no qual a natureza passa a ser mediada pela razão (GONDIM; RODRIGUES, 2010).

Figura 1. Fases da construção do conhecimento científico propostas por Thomas Kuhn.

O segundo ponto é que Thomas Kuhn defende a opinião de que não há uma verdade absoluta, onde ele põe em causa o conceito de verdade como objeto da ciência, sendo nisto que reside o progresso da ciência (MAIA, 2001). Assim, Thomas Kuhn vai ao encontro de Descartes, ao considerar também a dúvida como princípio para chegar ao conhecimento. Descartes propôs o método conhecido como dúvida hiperbólica, esse princípio é a ideia de que tudo pode ser questionado, tudo pode se passar pelo ceticismo, e, se após questionar tudo, e for encontrado uma única certeza, pode-se então reconstruir a ciência toda (LOBO, 2013). Isso pode ser evidenciado em sua afirmação de que a razão, na qual acreditamos na maior parte do tempo, nos engana por vezes, mesmo nos cálculos mais simples, devendo por isso, também desconfiarmos da mesma (DESCARTES, 1996).

Um dos paradigmas que Descartes também seguia, e que era aceito desde a época de Platão, é o paradigma dualista mente/corpo, que considerava a separação total da mente e corpo, sendo o estudo da mente

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atribuído à religião e à filosofia, e o estudo do corpo, visto então como uma máquina, era objeto de estudo da medicina (DESCARTES, 2000). De acordo com Ribeiro (2011), este paradigma permaneceu até a inclusão de um novo conceito (comprovado cientificamente), onde se deu pela descoberta da origem das espécies por Darwin, que retrata sobre o pensamento sendo oriundo da matéria biológica.

No entanto, Thomas Kuhn fez uma crítica ao método objetivo/subjetivo que Descartes defendia, o qual diz que o indivíduo pode por si só chegar ao conhecimento através da razão e tudo podia ser provado através de cálculos “teoria cartesiana”, conforme mostrado na Figura 2. Em contrapartida, Thomas Kuhn (2009 citado por DAYRELL, 2008) afirmou que a mudança de paradigmas não é um processo racional, e não a há qualquer padrão de racionalidade que irá avaliar e criticar os paradigmas sob um ponto de vista comum, já que cada paradigma possui seu conjunto de regras que só tem sentido dentro de sua própria teoria. Thomas Kuhn também ressalta que nem experimentos, cálculos complexos, análises metodológicas ou deduções são capazes de estabelecerem uma nova ciência. O que realmente contribui para a disputa de dois paradigmas é poder de persuasão dos cientistas em estabelecer suas regras, seus modelos e transformá-las em ciência normal (KUHN, 2009 citado por DAYRELL, 2008). Para ele, um novo paradigma é como uma conversão religiosa, pois a transição de um paradigma não é feito simplesmente, empregando somente a lógica, conforme propunha Descartes. Ao analisar o desenvolvimento histórico da ciência, Kuhn detectou episódios revolucionários que não poderiam ser reduzidos simplesmente a um cálculo axiomático e às regras lógicas.

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Figura 2. Etapas da construção do conhecimento científico de acordo com o método de

Descartes.

2.3 Considerações sobre alguns paradigmas no âmbito da pesquisa acadêmica

Os paradigmas influenciam nossas escolhas, bem como os conceitos, embasamentos, métodos que utilizamos para construir o conhecimento científico. Muitos pesquisadores não possuem a prática de refletir sobre a construção do conhecimento científico, de modo que se faz ciência ou determinadas práticas sem questionamentos, de que essa é de fato a melhor forma de construir ciência.

A ciência não é um processo definitivo, assim como as ideias de Descartes sobre a dúvida, e de Thomas Kuhn sobre as revoluções científicas e sua importância para a evolução da ciência. Nesse sentido, dentre alguns dos paradigmas que destacamos no âmbito da pesquisa cientifica estão a produção de conhecimentos como uma atividade influenciada pelo modelo econômico vigente, onde a confecção de artigos atendem à uma expectativa de produtividade técnica, voltada principalmente para a quantidade, e não para qualidade. Freire (2001) ressalta que o conhecimento científico tornou-se elemento cada vez mais presente na estrutura da visão do mundo capitalista, gerando uma atividade produtiva em si, expressando conhecimento humano e atendendo às necessidades de organização da sociedade.

Outra questão paradigmática é a educação com uma lógica mercadológica, que têm contribuído para a formação de pesquisadores que reproduzem técnicas e procedimentos, apenas como um processo mecanicista e de acumulação do conhecimento, e não como um processo reflexivo da prática.

Com o surgimento do advento do capitalismo, que vai além dos modos de produção, houve uma influência muito grande na produção do conhecimento orientando áreas prioritárias e profissões com melhores remunerações e cada vez mais técnicas. Como dizem Marx e Engels (1987, p. 94) “as ideias dominantes de uma época são sempre àquelas da classe dominante”, ainda hoje os paradigmas também são difíceis de serem superados devido às ideologias, o que pode ser evidenciado pelo otimismo muito grande que se

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experimentou devido à muitas descobertas com o desenvolvimento tecnológico, as quais também proporcionaram o desenvolvimento humano.

Se a tecnologia veio para otimizar a produção humana e provar que o ser humano é capaz de criar coisas impensáveis por muitos ainda, também acelerou o ritmo de vida e torna tudo obsoleto rapidamente. Com tanta praticidade, até as relações humanas são mais apreciadas no mundo virtual, e para ser bem sucedido hoje, não basta ter escolaridade, mas também estar o tempo todo em constante atualização profissional.

Como o sistema não consegue embarcar todos, muitos ficam literalmente às margens desse desenvolvimento. Vivemos em uma época em que o conhecimento acadêmico científico é uma necessidade de sobrevivência para obter os padrões de vida “ditos” ideais. A consequência grave é o sucateamento do processo educacional, desvalorização dos profissionais que lidam com a educação (pois não produzem o que é valorizado), esvaziamento dos valores humanos e aumento de problemas de ordem social e ambiental. No entanto, mesmo assim, a sociedade acredita que só o avanço e o desenvolvimento científico-tecnológico são capazes de resolver os grandes dilemas do século e do futuro, pois temos a esperança de que as coisas sempre tendem a melhorar.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido ao seu modo de pensar, Descartes provocou uma importante revolução científica. Thomas Kuhn foi ao encontro de Descartes ao elaborar também etapas da construção da ciência, destacando a ocorrência de revoluções científicas como importantes na construção do conhecimento científico. Os dois autores citados também compartilham da existência da dúvida em seus métodos, trazendo a ciência como algo transitório, não definitivo.

Descartes inseriu algumas ferramentas de seu método racionalista em busca de uma ciência verdadeira, como a de que cada um pensasse por si mesmo na busca da verdade, como diz sua famosa frase “Penso logo existo...”. Já Thomas Kuhn, discorda desses métodos para obtenção do conhecimento, pois não acredita que esse processo é racional, metodológico e calculista. Porém, de acordo com suas teorias, são etapas que depende de regras, modelos e questões compartilhadas por toda uma comunidade científica.

Thomas Kuhn foi duramente criticado nas primeiras versões da sua principal obra, por dar valor ao que ele chamou de estudos sociais da ciência. Um dos motivos que o impulsionou a essa teoria, foi a sua própria experiência, em ter tido um contato bem tardio com a filosofia. Esse fato deveu-se principalmente ao episódio da segunda guerra mundial, no qual houve uma enorme pressão para o desenvolvimento de carreiras científicas e foram deixadas de lado as matérias humanísticas.

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4 REFERÊNCIAS

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