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O futuro dos precedentes judiciais no sistema jurídico brasileiro com enfoque na admissibilidade recursal MESTRADO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Thiago Conte Lofredo Tedeschi

O futuro dos precedentes judiciais no sistema jurídico brasileiro com enfoque na admissibilidade recursal

MESTRADO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Thiago Conte Lofredo Tedeschi

O futuro dos precedentes judiciais no sistema jurídico brasileiro com enfoque na admissibilidade recursal

MESTRADO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Direito Processual Civil – Efetividade do Direito, sob a orientação da Profa. Dra. Arlete Inês Aurelli.

(3)

O futuro dos precedentes judiciais no sistema jurídico brasileiro com enfoque na admissibilidade recursal

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre Direito Processual Civil – Efetividade do Direito e aprovada em sua forma final pela Orientadora e pela Banca Examinadora.

Banca Examinadora

___________________________________________________

Orientadora: Profa. Dra. Arlete Inês Aurelli (PUC/SP) Doutora pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

___________________________________________________

Profa. Dra. Claudia Aparecida Cimardi (PUC/SP)

Doutora pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

___________________________________________________

Prof. Dr. Marcelo José Magalhães Bonicio (USP/SP)

Doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

(4)

DEDICATÓRIA

À minha amada mãe: exemplo de vida,

(5)

Agradeço à Professora Doutora Arlete Inês Aurelli, orientadora e amiga, pelo estímulo

intelectual e a permanente interação que têm me permitido dar passos seguros nos caminhos

do Direito.

À Professora Doutora Teresa Arruda Alvim Wambier, pelo grandioso exemplo de Jurista,

pelo apoio decisivo que me proporcionou segurança conceitual para acreditar e tornar possível

este trabalho.

Agradeço aos meus pais e irmãos que, no decorrer da minha vida, proporcionaram-me, além

de extenso carinho e amor, os conhecimentos da integridade, da perseverança e da dedicação.

Por fim, agradeço aos amigos(as), familiares, professores(as) e todos aqueles(as) que

cruzaram minha vida e, participaram, de alguma forma, da construção e realização deste tão

(6)

RESUMO

O presente trabalho desenvolve o estudo dos fatores envolventes no âmbito dos precedentes

judiciais, analisando os fatos, consequências e evolução do sistema jurídico quanto à sua

aplicação nos dias atuais. Traz o histórico dos sistemas utilizados na esfera jurídica,

analisando o comportamento e evolução de cada sociedade e seu regime adotado, traçando um

paralelo entre os sistemas do common law e civil law. Pretende demonstrar no campo dos

conceitos as tendências e efeitos de cada sistema, expondo as reais consequências e eventuais

problemas a serem gerados no âmbito jurídico. Apresenta um estudo da uniformização do

direito brasileiro de acordo com a evolução que acompanha a sociedade, os riscos que o

sistema pode vir a apresentar e os benefícios gerados ao coletivo a partir de uma ideia clara de

estabilidade e segurança jurídica. Traça um paralelo entre o direito e a exata essência da ideia

destinada a caracterizar os precedentes, inserindo-os nos ideias de sistemas existentes no

mundo; civil law e commom law. E expõe pontos quanto as questões repetitivas dos recursos

em busca de uma melhora na aplicabilidade das questões corriqueiras da sociedade atual. Visa

abranger todos os tópicos e pontos apresentados acima, concluindo para a evolução que se faz

necessária da ciência do direito, nos moldes em que se precisa evoluir chegando o mais

próximo possível da assertividade de um sistema efetivo, moderno e seguro.

(7)

This work deals with the study of the surrounding factors in judicial precedents, analyzing the

facts, consequences and evolution of the legal system and its application in present days.

Brings the history of the systems used in the legal sphere, analyzing the behavior and

evolution of each society and its regime adopted, drawing a parallel between the commom

law and civil law systems. Aims to demonstrate concepts in the field of trends and effects of

each system, exposing the real consequences and possible problems to be generated in the

legal field. Presents a study of standardization of Brazilian law according to the evolution

accompanying the society, the risk that the system may provide and the benefits generated to

the collective from a clear idea of stability and legal certainty. Draws a parallel between the

right and the very essence of the idea intended to characterize the foregoing, inserting them in

systems of ideas in the world; civil law and common law. And exposes points as repetitive

questions of search resources of an improvement in the applicability of everyday issues in

society today. Aims to cover all the topics and points presented above, concluding for the

evolution that is required of the science of law, in the manner in which they must evolve

coming the closest to the assertiveness of an effective, modern and secure system.

(8)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 HISTÓRICO ... 15

2 QUESTÕES REPETITIVAS ... 25

3 O PROCESSO DE UNIFORMIZAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO ... 28

3.1 A Admissibilidade Recursal e seu Reflexo na Uniformização de Jurisprudência ... 31

3.2 A Súmula Vinculante ... 35

3.3 Recursos Repetitivos – Artigos 543-B e 543-C do Código de Processo Civil ... 36

3.3.1 O constitucionalismo dos recursos repetitivos ... 41

3.3.2 Aspectos gerais e efeitos dos recursos repetitivos ... 45

4 A UNIFORMIZAÇÃO DE JULGADOS NO DIREITO COMPARADO ... 48

5 UM PARALELO ENTRE CIVIL LAW E COMMON LAW ... 53

6 EVOLUÇÃO DO SISTEMA BRASILEIRO DE CIVIL LAW... 58

7 CONCLUSÃO ... 65

BIBLIOGRAFIA ... 70

(9)

INTRODUÇÃO

Antes mesmo que se comece a falar sobre a importância dos precedentes e a crescente construção de uma uniformização de entendimentos, é relevante uma breve digressão, para que se explique melhor o porquê eles são realmente necessários.

Não há dúvidas de que a necessidade de um ordenamento jurídico urge com o surgimento de uma sociedade. Para Eros Grau1, o Direito é um produto cultural, sempre fruto de uma determinada cultura, e por isso não pode ser concebido como um fenômeno universal e atemporal.

Nesse sentido também ensina Paulo Nader2, que de um lado tem o ordenamento jurídico elaborado como um processo de adaptação social, que se ajusta ao meio, e por outro lado tem

o Direito como criador da necessidade de adaptação do comportamento do povo aos novos padrões de convivência.

Se o Direito é fruto da cultura, da sociedade na qual está inserido, e a sociedade evolui, natural que o direito também evolua, a fim de se adaptar aos novos anseios da sociedade.3 Conforme Paulo Nader:

Se o Direito Envelhece, deixa de ser um processo de adaptação, pois passa a não exercer a função para a qual foi criado. Não basta, portanto, o ser do Direito na sociedade, é indispensável o ser atuante, o ser atualizado. Os processos de adaptação devem-se renovar, pois somente assim o Direito será um instrumento eficaz na garantia do equilíbrio e da harmonia social.4

Nesse sentido, Bobbio já dizia que em uma sociedade na qual os proprietários tinham cidadania ativa, era óbvio que o direito de propriedade fosse elevado a direito fundamental, da mesma forma com o direito do trabalho, na sociedade onde ocorreu a revolução industrial.5

1

GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 20.

2

NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 33. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 18.

3

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: RT, 2012, p. 14.

4

NADER, op. cit., p. 19.

5

(10)

Percebe-se, assim, que não se pode analisar a criação de uma norma separadamente do seu

contexto histórico-cultural, sendo, na verdade, uma verdadeira adaptação à sociedade na qual está inserido o Direito.

Naturalmente, com a evolução da sociedade, o Direito também precisou evoluir. Mauro Cappelletti6, já em 1976, chamava a atenção dos estudiosos para a nova dinâmica da sociedade, e necessidade de adaptação das técnicas jurídicas:

L’ottica individualistica si rivela del tutto inadeguata, e inutilizzabile

diventa quell’arsenale di metodi e di concetti di cui il giurista tradizionalmente dispone e che è, quasi sempre, informato al canone

dell’individuale [...] la necessità di uma radicale rimeditazioane

dell’orizzonte culturale in cui si inseriscono gli interessi collettivi e diffusi con la loro sempre più impellente necessità di efficaci forme di tutela.

Contemporaneamente, Barbosa Moreira7, em 1977, já chamava a atenção para a necessidade de adaptação do processo civil, uma vez que se via uma estrutura de direito que fora concebida para tutelar tão-somente os interesses individuais.

José Roberto dos Santos Bedaque também não discordava sobre a necessidade de evolução do processo civil, a fim de se garantir os direitos além daqueles individuais:

O Código de Processo Civil brasileiro, não obstante exemplo de aprimoramento técnico, constitui diploma distante das necessidades da sociedade moderna, voltada precipuamente para uma categoria de interesses, cujas características e peculiaridades foram praticamente ignoradas pelas regras instrumentais. As normas codificadas têm em vista tão-somente os conflitos envolvendo direitos individuais. Não são adequadas, pois, à regulamentação de processos cujo objeto seja interesses coletivos ou difusos.8

6

CAPPELLETTI, Mauro. La tutela degli interessi diffusi nel diritto comparato: con particolare riguardo alla

protezione dell’ambiente e dei consumatori. Milano: Giuffrè, 1976, p. VII.

7

MOREIRA, Barbosa José Carlos. A ação popular do direito brasileiro como instrumento de tutela

jurisdicional dos chamados “interesses difusos”. In: _____. Temas de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 110.

8

(11)

Após a Segunda Guerra Mundial, os direitos humanos se multiplicaram e se tornaram

universais, conforme destacou Bobbio9, que afirmou:

Essa multiplicação (ia dizendo proliferação) ocorreu de três modos: a) porque aumentou a quantidade de bens considerados merecedores de tutela; b) porque foi estendida a titularidade de alguns direitos típicos a sujeitos diversos do homem; c) porque o próprio homem não é mais considerado como genérico, ou homem abstrato; mas é visto na especificidade ou na concreticidade de suas diversas maneiras de ser em sociedade, como criança, velho, doente etc. Em substância: mais bens, mais sujeitos, mais status do indivíduo.10

Com efeito, o indivíduo alcança um patamar nunca dantes alcançado, que, na concepção de Sanford Schram e J. Patrick Turbett constitui uma expansão para além dos direitos básicos,

atingindo direitos sociais e econômicos: “the movement toward a ‘mass society’ constitutes an expansion in the concept of citizenship beyond classic political rights to include social and

economic rights.”11

Fato é que com a crescente multiplicação dos direitos, a sociedade passou a buscar mais seus direitos, necessariamente ligada à expansão da socialização de serviços públicos a indivíduos

antigamente desprovidos deles.

Em contrapartida, a má atuação do Estado na prestação desses serviços fez com que o número

de ações contra ele se tornasse cada vez maior, e a razão disso Saulo Ramos12 explica:

Não temos nada para impedir a prática da ilegalidade através de decisões em tese, circunstância que fez deste país o paraíso dos economistas e burocratas, grandes legisladores por portarias, fato que multiplica ao infinito as lesões individuais e os consequentes pedidos de socorro ao Judiciário [...] Convenhamos, porém, que a mais terrível realidade brasileira está na resistência da tecnocracia aos pronunciamentos judiciais, sobretudo os da Corte Constitucional. Agentes do governo cometem conscientemente várias inconstitucionalidades, estimulados pelo cálculo cinicamente contábil sobre quantos cidadãos lesados recorrerão ao judiciário e quantos deixarão de recorrer. (grifo nosso)

9

BOBBIO, op. cit., p. 67.

10

Id., Ibid., p. 68.

11

HAZARD JR., Geoffrey C. Challenges in law making in mass societies. Faculty Scholarship Series. Paper 2327, 2007. Disponível em: <http://digitalcommons.law.yale.edu/fss_papers/2327>. Acesso em: 29 ago. 2014, p. 616.

12

(12)

Com a participação ativa do Estado, o volume de demandas cresceu, e impôs uma

racionalização do processo civil:

The routinization of legal process is the system’s necessary adaptation to the burden of volume. Many legal systems in the modern era are starved of resources – not enough judges, not enough clerks, even not enough courtrooms. In some systems the delay in the calendar means effectively that all but a few cases will never get to trial. In some systems indefinite postponement is indeed a primary technique of disposition. But even systems that can handle the volumes must deal with the cases through techniques adjusted to sheer volume as such: separation of individual cases into discrete segments, waiting lines, standardized documentation, formulas for dispositions, etc.13

Fato é que, com a evolução da sociedade, percebe-se o surgimento de uma sociedade de massa, que tem cada vez mais uma necessidade comum, o que fez surgir, ou pelo menos

tornou mais visível e objeto de mais estudiosos, o direito coletivo e o direito individual homogêneo.

Não é o escopo deste trabalho a distinção entre esses direitos, mas, sim, demonstrar que por meio deles e, principalmente, com a crescente dos direitos individuais homogêneos surgiu a necessidade de uma solução pelo Judiciário, que uniformizasse o entendimento

jurisprudencial, sem prejudicar a individualidade de cada caso, e a homogeneidade do direito tutelado.

Nesse sentido, importante destacar o artigo de Estêvão Mallet14, que disse:

Os direitos individuais homogêneos não são, diversamente do que já se disse, espécie de direitos coletivos. São, ao contrário, direitos subjetivos individuais. Apenas se sujeitam a tutela coletiva, por conta exatamente da homogeneidade que apresentam. Logo, se falta esta homogeneidade, a tutela coletiva, por mais que se queira o contrário, e por mais que o legislador pretenda estabelecer algo diverso, torna-se impossível. Forçar a realidade, para tratar coletivamente direitos individuais não homogêneos – ou, caso prefira-se, direitos heterogêneos -, não deixa espaço senão a alternativas que se mostram igualmente insatisfatórias.

13

HAZARD JR., op. cit.

14

(13)

Entende-se, portanto, que quando se tratar de direito individual homogêneo, nem sempre a

tutela coletiva poderá ser aplicada ao caso, sob pena de se perder a individualidade do direito tutelado.

Em contrapartida ao acesso à justiça, observou-se a massificação das demandas judiciais, que trazem ao Judiciário a mesma questão a ser resolvida, alterando-se apenas detalhes. Com isso, correto Andrea Giussani:15

Il contezioso a tutela dei diritti omogenei è inevitabilmente repetitivo, sicché

l’avversario del grupo, oltre a fruire di economie di scala e vantaggi strategici nella sua gestione –sai sul piano dell’acesso alle infomazioni, sai

su quello dell’influenza sulla formazione dele regole di decisione – è razionalmente indotto a investire nella lite somme assai più considerevoli di quelle che ciascuno dei componenti del grupo stesso può a sua volta razionalmente investire.

E, com esse cenário, um fator chamou a atenção dos operadores do direito: em demandas

idênticas, o Judiciário passou a aplicar pesos e medidas diferentes. Talvez não intencionalmente, mas, provavelmente, devido ao assoberbamento do Judiciário, que passou a

decidir, sem unificar, todavia, o entendimento jurisprudencial sobre a questão.

Para ilustrar o que se diz, observe-se do julgado abaixo que, para o Tribunal de Justiça de São Paulo, o atraso na entrega de bem imóvel não é capaz de ensejar indenização por dano moral:

COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA OBRIGAÇÃO DE FAZER DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS PELA RÉ

FALTA DE REGULARIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

IMOBILIÁRIO DANOS MORAIS INOCORRÊNCIA DECEPÇÃO DECORRENTE DE FRUSTRAÇÃO DE NEGÓCIO IMOBILIÁRIO CONFIGURA MERO ABORRECIMENTO DO COTIDIANO NÃO PASSÍVEL DE REPARAÇÃO RECURSO ACOLHIDO UNICAMENTE PARA SE AFASTAR A CONDENAÇÃO POR DANOSMORAIS.16

15

GIUSSANI, Andrea. Situazioni soggetive superindividuali, azioni colletive e class actions: contributo ala teoria generale. Revista de Processo, São Paulo, n. 174, ago. 2009, p. 152-153.

16

(14)

No entanto, para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o atraso na entrega do bem imóvel

enseja reparação pela indenização por dano moral:

Agravo Interno. Decisão proferida com fulcro no art. 557, caput, do CPC, que negou seguimento ao recurso de apelação interposto pelo ora recorrente, assim ementada: APELAÇÃO - Ação de reparação de danos. Contrato de incorporação imobiliária para aquisição de imóvel. Atraso na entrega do imóvel. Fortuito interno. Dano material comprovado. Indenização por dano moral devida. Recurso a que se nega seguimento. [...] Agravo interno improvido.17

Como se pode verificar, as decisões são diametralmente opostas no que diz respeito a ocorrência de dano moral pelo atraso na entrega de bem imóvel adquirido, mesmo tendo sido

proferidas por Tribunais vizinhos, da mesma região do país.

Esta, é claro, é apenas uma das inúmeras hipóteses de casos que são levados diariamente à análise do Poder Judiciário, e recebem, como se percebe, tratamentos distintos, pois,

justamente, não há uniformidade de entendimento entre os órgãos que prestam a tutela jurisdicional ao jurisdicionado.

O problema é que se espera que os órgãos de cúpula exerçam sua função primordial de uniformização jurisprudencial, a fim de assegurar a igualdade perante a lei, bem como a

legalidade. Assim, “é inútil a lei ser a mesma para todos, se os tribunais podem interpretá-la

de modos diferentes e surpreender os jurisdicionados.”18

Parece lógico que conjuntos fáticos idênticos, apreciados pelo Judiciário no mesmo momento

e contexto histórico, tivessem o mesmo fundamento jurídico, bem como os mesmos efeitos, porém, costumou-se ver exatamente o oposto dos tribunais.

17

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Apelação Cível nº. 0020621-51.2012.8.19.0209. 27ª Câmara Cível Consumidor. Desembargadora Relatora Maria Teresa Pontes Gazineu. 15 de abril de 2014. Disponível em: <http://www.tjrj.jus.br>. Acesso em: 27 ago. 2014.

18

(15)

Manter-se-ia, assim, a normalidade da jurisprudência orientadora dos tribunais, no lugar da

não uniformidade, que fomenta a insegurança jurídica, e encoraja demandas aventureiras.

Com razão Teresa Wambier19, quando diz que não necessariamente a uniformização de um entendimento signifique sua imutabilidade, devendo a uniformidade vir seguida da desuniformidade, a fim de gerar estabilidade.

19

(16)

1 HISTÓRICO

Para melhor definir o conceito de precedente judicial, faz-se de especial relevância a análise da evolução histórica do direito.

Na Roma antiga, o direito era tido como uma “atividade ética - a prudência, virtude moral do

equilíbrio e da ponderação nos atos de julgar. Essa atividade foi qualificada como

Jurisprudentia”.1

Naquele período o direito se caracterizava essencialmente pela sua rigidez, solenidade e primitividade, estando o Estado mais preocupado com questões relacionadas à sua própria

sobrevivência. Com o tempo, o Estado passou a acentuar seu poder central, sendo um marco da época o registro escrito do direito vigente, nas XII Tábuas, que consistiam na codificação de regras costumeiras e primitivas.2

Com esta evolução, a atividade desenvolvida por magistrados e jurisconsultos sofreram grandes modificações e inovações: originariamente, apenas os sacerdotes possuíam o conhecimento e a tarefa de interpretar as normas jurídicas. A partir do século IV a. C.,

todavia, o monopólio sacerdotal cessou, passando este ônus aos peritos leigos.3

A atividade praticada pelos peritos leigos começou a se estender, não consistindo mais

somente na adaptação das normas jurídicas existentes, mas na efetiva criação de novas regras jurídicas. Referida jurisprudência contribuiu de sobremaneira para o desenvolvimento do

direito romano.4

1

CIMARDI, Cláudia Aparecida. A jurisprudência uniforme como elemento estruturante do sistema jurídico brasileiro. 2014. Tese (Doutorado em Direito)– Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014, p. 16.

2

MARKY, Thomas.Curso elementar de direito romano. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 6.

3

Id., Ibid., p. 8.

4

(17)

Posteriormente, houve a criação dos jurisconsultos: privilégio concedido a determinados

juristas da época para emitir pareceres com força vinculantes aos juízos. Seu trabalho consistia em examinar, explicar e solucionar casos concretos, de tal sorte que não tinham por

objetivo a realização de exposições sistemáticas e teóricas.5

A credibilidade dos julgados se baseava na credibilidade e mérito de seus julgadores. Sobre o assunto, comenta Cláudia Aparecida Cimardi:

O raciocínio dos romanos se baseava em discursos, cujas afirmações não continham uma conexão analítica entre si. Por isso, estava fundamentado em afirmações aceitas que variavam de acordo com a época e o lugar, mas que comandavam a racionalidade do discurso [...] não havia preocupação com a concatenação de ideias e a com a justificação de decisões. O objetivo do discurso jurídico dos romanos estava em convencer aquele a quem era dirigido, por meio do poder de argumentar e provar [...] Por isso, era constante no discurso jurídico dos romanos certa sensação de precariedade, ante à ausência de fundamentação das conclusões apresentadas. Para afastar tal sensação, a solução encontrada foi a de respaldar o discurso jurídico na autoridade daquele que proferia as decisões – e, consequente e nitidamente, na noção de poder - a fim de imprimir credibilidade e estabilidade à jurisprudência.6

Posteriormente, com a queda do Império Romano e o início da era medieval alterou-se o foco

do direito. O poder centrado nos grandes senhores dos feudos direcionou as discussões para as relacionadas com a propriedade e detenção de terras. Os conflitos eram solucionados a partir

de cortes ou conselhos organizados pelos próprios senhores feudais. Já os conflitos envolvendo senhores de grandes terras, eram resolvidos mediante guerra.7

O direito passou a ser estudado de modo mais acadêmico e menos prático. Iniciou-se uma

organização do pensamento jurídico para harmonizar os textos romanos.8 Como tais textos se limitavam à explicação e solução de casos práticos, sem grande fundamentação, muitas vezes

5

MARKY op. cit., p. 8.

6

CIMARDI, op. cit., p. 17.

7

Id., Ibid., p. 16.

8

(18)

apresentavam incoerências entre si. A solução encontrada foi a de interpretar os textos

romanos que traziam casos problemáticos e transformá-los em casos paradigmáticos, buscando regras e princípios para harmonizar as incongruências apresentadas.9

A base dos estudos era a codificação realizada por Justiniano, já na época de decadência do

Império Romano. O Corpus Iuris Civilis foi a denominação dada a esta codificação, que era formada pelo Codex, o Digesto, as Institutas e as Novallae.

O Codex teria sido a organização publicada de uma coleção de leis emanadas pelos imperadores, realizada por um grupo de juristas, à ordem de Justiniano. O Digesto seria a

seleção de obras de jurisconsultos clássicos, composto por mais de 50 livros. As Instituttas

consistiam em um manual de direito para estudantes e as Novallae em um conjunto de novas leis publicadas por Justiniano até sua morte.10

Paralelamente ao que era estudado na Europa continental, a antiga Bretânia praticava o direito fundado na regra conhecida e na prática cotidiana, não sofrendo grande influência do direito romano.11

José Reinaldo de Lima Lopes esclarece como se dava a prática forense da época, discorrendo sobre as corporações profissionais, onde se lecionava a juízes, técnicas de julgamento:

[...] ali ingressavam os que eram capazes de aprender a técnica dos julgamentos e dos precedentes e iam aprendendo dos mesmos juízes que já estavam na profissão. O direito nacional nunca foi objeto de estudo universitário até o século XX. Quem quisesse exercer o direito, formava-se em alguma disciplina “séria” em Oxford ou Cambridge (filosofia, história, etc.) e depois se profissionalizava na corporação dos juízes para a aprender apenas uma técnica, não uma ciência.12

9

FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 62-63.

10

MARKY, op. cit., p. 5-10.

11

CIMARDI, op. cit., p. 21.

12

(19)

Ao comentar a época, R. C. Van Caenegem acrescenta:

Na Inglaterra a jurisprudência ocupou e ainda ocupa um lugar importante. A partir do século XII há uma série ininterrupta de “atas” dos tribunais reais que registram os precedentes. Na prática jurídica, no entanto, as coleções autônomas privadas para o uso dos advogados – os “Year Books” – eram mais significativas. Essas coleções, que apareceram a partir do século XIII, assemelham-se a uma espécie de jornal jurídico: repetem argumentos jurídicos apresentados diante do tribunal, e dão um relato vívido do debate entre juízes e advogados, frequentemente palavra por palavra. Os Year Books(“Livro do Ano”) relatam as decisões de ordem cronológica: a partir do século XV foram revistos e usados como base para a coleções

sistemáticas (“Abridgments”, sinopses) que reagrupavam os casos de acordo

com o assunto e que tiveram influência considerável na formação dos jovens advogados. Os últimos Year Books foram compilados no século XVI; seu lugar foi tomado pelos Law Reports (“Relatórios Jurídicos”), alguns dos quais cresceram até se tornarem comentários virtuais.13

Era, portanto, o início da formação do sistema da common law.

Este sistema se espalhou por grande parte dos países colonizados pela coroa inglesa e continua sendo utilizado nos diversos países que se submetem à monarquia do Reino Unido. Obviamente, com o tempo, cada país moldou o sistema de acordo com suas necessidades e

cultura, criando peculiaridades autênticas do common law.

Mas, em essência, o atual pensamento jurídico deste sistema, que se apoia basicamente no

precedente vinculante como regra (stare decisis), teria surgido apenas em meados do século XVIII. Até então, apesar da solução do conflito se basear a partir da verificação de

precedentes judiciais e não a partir de textos normativos, não havia uma vinculação de juízes ou tribunais hierarquicamente inferiores em proferir decisões similares às de tribunais hierarquicamente superiores.14

E o surgimento do precedente vinculante se deu por razões óbvias: os precedentes seriam como modelos de decisões da prática de julgar considerada correta, o que fornece aos juízes

motivos para justificar uma decisão. Além disso, decisões congruentes possuem maior

13

VAN CAENEGEM, op. cit., p. 135-136.

14

(20)

credibilidade, fazendo com que a aplicação das regras ocorra com maior certeza e

previsibilidade.15

A utilização dos precedentes na atividade jurisdicional dos magistrados envolve, fundamentalmente, a verificação de semelhança entre os casos apresentados. Esta atividade

envolve, necessariamente, a interpretação do precedente para a análise de sua similaridade com o caso a ser julgado.

Para auxiliar na tarefa dos magistrados, existem até hoje, na Inglaterra, os Law Reports, compilações de transcritos de identificação das partes, petições em geral e decisões com suas respectivas fundamentações, de suma importância para a análise e pesquisa do precedente.16

Como se vê, a essência do sistema da common law não sofreu grandes alterações e induziu a grandes debates filosóficos. Isto se evidencia ante ao reconhecimento de que as leis se

encontram submissas ao Direito, que lhes é superior, e que, quando esta submissão não ocorre, tais leis são nulas e desprovidas de eficácia, por não atenderem à sua função, que é o

resguardo dos Direitos do povo e do Estado.

Portanto, enquanto as técnicas de manuseio de precedentes judiciais continuaram a ser desenvolvidas na Inglaterra, o que acarretou num pensamento sistemático baseado no

encadeamento lógico de ideias, com o objetivo de formalizar o direito, estendendo os efeitos de casos decididos ao ponto de estes servirem como lei para os casos futuros, a Europa

continental tendeu a traçar normas regulamentadoras escritas, genéricas e abstratas do comportamento dos indivíduos, estabelecendo regras de convivências.17

Com o fim da Idade Média e início da Era Moderna, percebeu-se na Europa Continental a

necessidade de um sistema jurídico nacional, pois o direito era encontrado em diferentes

15

DUXBURY, op. cit., p. 152.

16

CIMARDI, op. cit., p. 38.

17

(21)

fragmentos de textos, em especial os romanos, e servido de diversas fontes, como os costumes

locais, direito romano, canônico, entre outros.

Iniciou-se, assim, uma vertente que abordava a necessidade de ordenar o direito a partir de

princípios comuns. Assim explica Tércio Sampaio Feraz:

É nesse sentido, precisamente, que podemos dizer que o ideal clássico da ciência corresponde aos séculos XVII e XVIII está ligado ao pensamento sistemático. Ora, o conceito de sistema é, conforme testemunho de Wieacker (1967:275), a maior contribuição do chamado jusnaturalismo moderno ao direito privado europeu. A teoria jurídica europeia, que até então era mais uma teoria da exegese e da interpretação de textos singulares, passa a receber um caráter lógico-demonstrativo de um sistema fechado, cuja estrutura dominou e até hoje domina os códigos e compêndios jurídicos (cf. Coing, 1962:23). Numa teoria que devia legitimar-se perante a razão por meio da exatidão lógica da concatenação de suas proposições, o direito conquista uma dignidade metodológica especial. A redução das proposições e relações lógicas é pressuposto óbvio da formulação de leis naturais, universalmente válidas, a que se agrega o postulado antropológico que vê no homem não um cidadão da cidade de Deus, ou, como no século XIX, do mundo histórico, mas um ser natural, um elemento de um mundo concebido segundo leis naturais.18

A partir disso, a Europa continental foi invadida por movimentos de codificação, servindo,

inclusive, como meio de os soberanos da época promoverem unificações políticas, atenderem às reivindicações da burguesia, bem como as dos intelectuais, pois muitos dos códigos

acatavam os ideais iluministas da época.19

Com a expansão do positivismo, criou-se a ideia de que as normas codificadores seriam a

primeira “fonte do direito”, prevalecendo sobre as demais. Aliás, neste período é que surgem

as primeiras noções de hierarquia entre normas, estando, por exemplo, as normas codificadas, em posição superior às normas consuetudinárias. Tal noção é fruto da própria estruturação do

direito pelo Estado soberano.20

18

FERRAZ JUNIOR, Introdução... op. cit., p. 62-63.

19

VAN CAENEGEM, op. cit., p. 177-179.

20

(22)

Juízes estavam subordinados à lei e havia determinação de que suas decisões fossem

apresentadas com a respectiva motivação legal. “O papel do juiz se limitava a de ser ‘a voz do

direito’, este entendido como o direito positivado, codificado.”21

A atribuição dos magistrados da época se restringia exclusivamente à interpretação dos textos normativos, não havia autorização para que a interpretação do direito se desse de outra forma, a partir de outras fontes.22

Portanto, a utilização de precedentes judiciais para a interpretação do direito e solução do caso concreto tornava-se vedada pelos ordenamentos jurídicos da época.23

O raciocínio desenvolvido era de que os textos normativos eram a principal fonte do direito e constituíam uma unidade autossuficiente que permitiria compreender o direito e aplicá-lo a todo caso concreto que se apresentasse.24

Como já se sabe atualmente, os textos normativos não possibilitam prever todas as situações fáticas, a ponto de tornar clara a aplicação do direito a todo conflito que emerge.

Assim, com alguma frequência, não havia previsão legal para a solução do litígio no caso

concreto, de tal sorte que não demorou muito para que se diagnosticasse o problema metodológico. A solução foi a criação de um novo modelo de interpretação da norma: a busca

na compreensão da razão, objetivo da criação de uma norma diante da sociedade e sua época passou a complementar a metodologia antes aplicada. Não bastava, portanto, a interpretação literal dos textos normativos, era necessário entender qual o bem jurídico a ser tutelado.25

21

CIMARDI, op. cit., p. 25.

22

FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Função social da dogmática jurídica. São Paulo: Max Limonad, 1998, p. 67.

23

VAN CAENEGEM, op. cit., p. 182.

24

Id., Ibid., p. 208.

25

(23)

Aos poucos, todavia, verificou-se que ainda assim, muitos litígios permaneciam sem solução.

Não bastava um sistema jurídico organizado com base exclusivamente nas leis positivadas.26

É por isso que no início do século XX, na Europa Continental (civil law), ocorreu uma

mudança no pensamento jurídico. Os juízes não estavam mais “amarrados” à lei, como nos

séculos anteriores. Sob influência do Iluminismo, as decisões prolatadas teriam como base o seu próprio convencimento.27

Isto garantia ao julgador poderes equivalentes ao de um legislador, o que, para o sistema da

civil law se revelava uma verdadeira revolução. É neste contexto que surge o neopositivismo,

como superação do legalismo e consolidação da Constituição como ordenamento de princípios e valores.28

Nesse sentido, esclarece Cláudia Aprecida Cimardi:

Nesse cenário de transformação da dogmática, doutrinadores de vários países passaram a notar a insuficiência das teorias do direito e da hermenêutica fundadas no positivismo, o que provocou o desenvolvimento de um novo pensamento jurídico, designado neopositivismo, baseado em novo paradigma teórico e técnicas interpretativas, especialmente das Constituições de diversos países [...] A teoria do neopositivismo conduz a Constituição – e, por conseguinte, os princípios nela instituídos – ao vértice máximo do sistema afastando os Códigos da posição de primazia dantes ocupadas. Em suma, contesta a concepção de que a “lei” é produto acabado e perfeito. [...] Portanto, pode-se atestar que o neopositivismo rejeita o afastamento da norma à realidade, eis que para sua construção é imprescindível um dado de realidade (do mundo empírico ou do mundo das ideias). No que concerne, em específico, à “aplicação” da norma aos casos concretos, em virtude da atividade jurisdicional, constata-se que esta não se dá isoladamente, uma vez que se faz necessária a interpretação do denominado “programa normativo” e do contexto dos fatos envolvidos no caso concreto. [...] da Roma antiga à época presente, constata-se que atualmente o pensamento jurídico se volta à busca de soluções de funcionalidade da atividade decisória de conflitos. O sistema jurídico tem como um de seus principais objetivos proporcionar ao juiz condições adequadas para solucionar os conflitos, concretizando, assim, o comando da norma [...] O pensamento jurídico do fim do século XX pôs em xeque antigas teorias que não mais

26

TUCCI, op. cit., p. 216.

27

LOSANO, Mario G. Sistema e estrutura no direito. São Paulo: Martins Fontes, 2008. v.1, p. 143.

28

(24)

se adaptam, de forma absolutamente tranquila às contingências do mundo atual. Assim, novas formas de pensar o direito foram engendradas, as quais provocam reflexos, como não poderia deixar de ser, na aplicação em concreto do direito na solução dos conflitos.29

Em suma, a lei em sentido amplo não se restringe mais à interpretação do texto normativo. A

lei se concretiza a partir da verificação da realidade fática conectada com todos os demais textos do sistema jurídico, em especial, com princípios e valores estatuídos na Constituição, bem como com os direitos fundamentais.30

É nítida, portanto, a evolução do pensamento jurídico, com o que se realizava nos primórdios do sistema de civil law. Por outro lado, a importância do positivismo jurídico não pode ser

desconsiderada, como recorda a doutrina italiana:

O apelo de Kelsen serve para indicar o resultado extremo a que pode conduzir o direito reduzido a um universo de normas e sanções; é um universo bem pobre que corre o risco de flutuar sobre a sociedade ou até, perversamente, forçá-la e condená-la nos seus envolvimentos vitais. É necessário, ao contrário, insistir sobre o direito como ordenamento.31

O Pós-positivismo logrou trazer os princípios à sua atual configuração, espécies de normas jurídicas, ao lado das regras. Com isto, os princípios passaram a ser detentores de

densidade normativa suficiente para reger diretamente as relações intersubjetivas.

Assim, a valorização dos princípios, sua incorporação, explícita ou implícita, pelos textos constitucionais e o reconhecimento pela ordem jurídica de sua normatividade

fazem parte desse ambiente de reaproximação entre direito e ética, e o que acontece é um verdadeiro resgate aos princípios constitucionais como uma forma de colocar freios a uma

interpretação do ordenamento jurídico positivado em desconformidade aos valores constitucionais.

29

CIMARDI, op. cit., p. 31-34.

30

CAMBI, op. cit., p. 87.

31

(25)

Em que pese o modelo tradicional positivista continue a desempenhar papel fundamental à

segurança jurídica das decisões, já não é suficiente para dirimir todas as questões complexas e evoluídas decorrentes do avanço social, de tal sorte que ultrapassar os paradigmas do

(26)

2 QUESTÕES REPETITIVAS

A origem do direito brasileiro remonta à tradição romano-germânica que adota o sistema do

civil law, cuja base é o direito positivado. Por meio desse sistema, a segurança jurídica é alcançada pela estrita aplicação da lei pelos operadores do direito.

Para aplicação da lei, no entanto, é necessário interpretá-la, o que enseja, fatalmente, divergências de opiniões e, por conseguinte, decisões judiciais antagônicas e desproporcionais

entre si. E é justamente com o aumento de decisões conflitantes que se percebe forte tendência atual do sistema jurídico nacional em alcançar Jurisprudência sólida como forma de

uniformização dos entendimentos provenientes do Judiciário, a fim de se evitar desigualdades entre os iguais.

Um fator que permite afirmar tal tendência é a adoção das súmulas vinculantes e a

obrigatoriedade de sua aplicação pelos órgãos inferiores, como meio à almejada previsibilidade jurisprudencial.

Destaque-se, ainda, que a não observância da súmula vinculante enseja reclamação ao próprio

Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pela edição das súmulas vinculantes a serem seguidas. Assim, obriga-se a incidência delas aos casos concretos, servindo também para

educar o julgador no sentido de que referido instituto é precedente obrigatório, não se aceitando qualquer margem de manobra em sentido diverso daquele apontado pelo STF.

Não é outro o caso dos Recursos Repetitivos, pois de uma decisão em caso paradigma se terá

(27)

Trata-se, portanto, de tendência amplamente favorável aos jurisdicionados, fruto da natural

evolução dos estudos, motivada pela necessidade de que se atribua força às decisões dos tribunais, no sentido de dar sentido à Constituição Federal (CF) e às leis infraconstitucionais,

evitando-se a incoerência da ordem e a insegurança jurídica.1

Alexandre de Morais lembra, entretanto, que existem opositores às súmulas vinculantes. Há quem entenda que a obrigatoriedade de observância ao precedente tem o efeito colateral de

“verdadeiro engessamento de todo o Poder Judiciário e consequente a paralisia na evolução

do Direito, além da possibilidade de maior totalitarismo do órgão de cúpula judicial.”2

Tal sentimento, no entanto, deve ser entendido como advindo de uma sociedade que teme resultados manipulados, e a burocracia para que sejam revistos, além da falta de conhecimento de como proceder para a desconstituição de entendimento que não se adequa ao

direito contemporâneo, como ocorre em relação às súmulas do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal, criadas em outro momento.

Entretanto, importante destacar que a própria operacionalidade do Direito em países de

common law, comprova o contrário. Isto porque a criação de um precedente a ser observado não significa que este jamais venha a ser modificado.

É neste exato sentido a lição de Alexandre Moraes, quando afirma que

A EC n° 45/04 possibilitou ao Supremo Tribunal Federal, assim como à Corte Suprema Americana e à Câmara dos Lordes inglesa, a não vinculação ad eternum a seus próprios precedentes, podendo, a partir de novas provocações, reflexões e diversas decisões futuras, alterar a interpretação dada em matéria constitucional e, consequentemente, proceder a revisão ou cancelamento da súmula, o que impedirá qualquer forma de engessamento e paralisia na evolução do Direito, sem, contudo, desrespeitar os princípios da igualdade, segurança jurídica e celeridade processual.3

1

MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo: RT, 2011p. 20.

2

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 800.

3

(28)

Assim, observa-se que o precedente, exemplificado por meio das súmulas vinculantes, é

fundamental justamente para a evolução almejada pelos críticos desta teoria, já que propicia a garantia dos princípios inseridos na Carta Magna, organiza o entendimento emanado pelo

(29)

3 O PROCESSO DE UNIFORMIZAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO

Todo sistema jurídico deve estar em constante evolução, caminhando no mesmo ritmo e acompanhando a evolução da sociedade na qual se insere. No Brasil, não é diferente, de tal sorte que, atualmente, é perceptível a forte tendência do Judiciário e da própria Doutrina em

apontar a estabilidade jurisprudencial como norte necessário, proporcionando, assim, decisões coerentes entre si e segurança jurídica às partes e à sociedade.

Nesse sentido, a Jurisprudência ganha espaço na Constituição Federal, a partir das diversas emendas que disciplinam e reformam o Judiciário e nas leis infraconstitucionais, tendo, nesse

caso, como ponto basilar o Novo Código de Processo Civil, de tal sorte que conquista espaço e passa a figurar nas próprias fontes do Direito brasileiro.

Para Marinoni1, por exemplo, “é preciso dar atenção à multiplicação das ações que repetem litígios calcados em fundamentos idênticos, solucionáveis unicamente a partir de

interpretação da norma”.

Surge, então, uma política judiciária, com a finalidade de racionalização e eficiência da

prestação jurisdicional. Nesta esteira, analisando-se o texto do §6º, do art. 14, da Lei nº 10.259/2001, que disciplinou o pedido de uniformização de interpretação de lei federal

referente às decisões dos juizados especiais federais: “eventuais pedidos de uniformização idênticos, recebidos subsequentemente em quaisquer Turmas Recursais, ficarão retidos nos

autos, aguardando-se pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça”.

1

(30)

Com isso, identificou-se a possibilidade de uma decisão, proferida em ação completamente

distinta, ter eficácia sobre outra ação, cujas partes sejam completamente diversas daquela. Tal previsão estava no § 9º, do mesmo diploma legal: “publicado o acordão respectivo, os pedidos

retidos referidos no §6º serão apreciados pelas Turmas Recursais, que poderão exercer juízo de retratação ou declará-los prejudicados, se veicularem tese não acolhida pelo Superior

Tribunal de Justiça”.

Nesse mesmo sentido, a Medida Provisória 2.180-35, que adicionou ao art. 4º, da Lei nº 8.437/92, o §8º: as liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única

decisão, podendo o Presidente do Tribunal estender os efeitos da suspensão a liminares supervenientes, mediante simples aditamento do pedido original, cuja redação é aproveitada no §5º do art. 15, da Lei nº 12.016/09, a nova lei do mandado de segurança.

Para Leonardo Carneiro da Cunha:2

A regra concorre para afastar a divergência jurisprudencial: ocorrem, com frequência, situações em que um sujeito obtém determinado provimento de urgência, enquanto várias outras pessoas, nas mesmas condições, não logram o mesmo êxito, causando uma ofensa ao princípio da isonomia e privilegiando aquele que, por sorte ou por um detalhe específico de sua demanda, conseguiu manter vigente o provimento.

Com o intuito de dar eficácia, e disciplinar o procedimento previsto na Lei º 10.259/01, o Supremo Tribunal Federal editou a Emenda Regimental nº 12/2003, que acrescentou ao seu

art. 321, do Regimento Interno, o §5º:

§ 5º Ao recurso extraordinário interposto no âmbito dos Juizados Especiais Federais, instituídos pela Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001, aplicam-se as seguintes regras: [...]

VI - eventuais recursos extraordinários que versem idêntica controvérsia constitucional, recebidos subsequentemente em quaisquer Turmas Recursais ou de Uniformização, ficarão sobrestados, aguardando-se o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal;

2

(31)

VII - publicado o acórdão respectivo, em lugar especificamente destacado no Diário da Justiça da União, os recursos referidos no inciso anterior serão apreciados pelas Turmas Recursais ou de Uniformização, que poderão exercer o juízo de retratação ou declará-los prejudicados, se cuidarem de tese não acolhida pelo Supremo Tribunal Federal;

VIII - o acórdão que julgar o recurso extraordinário conterá, se for o caso, súmula sobre a questão constitucional controvertida, e dele será enviada cópia ao Superior Tribunal de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais, para comunicação a todos os Juizados Especiais Federais e às Turmas Recursais e de Uniformização.

Com tal regra, começa a se delinear o que seria o julgamento por amostragem, hipótese cada vez mais adotada pelos tribunais superiores como forma de se almejar estabilidade da

Jurisprudência por meio de decisões paradigmas.

É preciso, entretanto, analisar a questão de maneira global, tomando-se por base a realidade

social e as consequências de um julgamento paradigmático às decisões análogas. Tal comportamento permite diagnosticar problemas e fornece parâmetros para concretizar o direito. Os paradigmas são dotados de visões de mundo por ângulos que fornecem

pressupostos necessários à interpretação concreta do direito.

Em outras palavras, os paradigmas cumprem duas funções de destaque no campo do direito,

na medida em que reduzem as complexidades que envolvem uma decisão consistente e racional futura (já que, para casos futuros, a tese jurídica já terá sido apreciada), além de uma função legitimadora da atuação dos tribunais ante os próprios jurisdicionados. Valendo-se

desta ideia, paradigmas emergem das decisões exemplares que pode vir a perpetuar por um significativo espaço de tempo e aplicabilidade em gerações. São teorias que iluminam e

conformam os fatos e sua referência pelas normas em decisões judiciais.

Nesta esteira, as transformações existentes no direito vão além de categorias jurídicas, a

(32)

Hoje em dia, a doutrina e a pratica do direito tomaram, consciência de que existe uma teoria social que serve como pano de fundo. E o exercício da justiça não pode mais permanecer alheio ao seu modelo social. E, uma vez, que a compreensão paradigmática do direito não pode mais ignorar o saber orientador que funciona de modo latente, tem que desafiá-lo para uma justificação autocritica. Após o comentado, a própria doutrina não pode mais evadir-se da questão acerca do paradigma “correto”.3

3.1 A Admissibilidade Recursal e seu Reflexo na Uniformização de Jurisprudência

Tomando-se como premissa a compreensão do paradigma, tal qual exposto no item anterior e, analisando-se, por exemplo, o Recurso Extraordinário, é perceptível que a própria repercussão geral e as súmulas impeditivas de recurso, obstáculos intransponíveis à admissibilidade de

Recurso Extraordinário protelatório, tem a finalidade de restabelecer o caráter objetivo daquele recurso e, em especial, conferir as decisões proferidas em sede de controle de

constitucionalidade incidental.

E, nesta esteira, a admissibilidade recursal pode ser muito útil para viabilizar, justamente, a pretendida estabilidade das decisões paradigmas em seu conceito amplo, na medida em que

filtra questões anteriormente abarcadas e já julgadas na mesma linha do paradigma, evitando-se, assim, além da protelação do feito, decisões antagônicas.

A admissibilidade de recursos como meio de se alcançar estabilidade jurisprudencial é, ao que parece, questão bastante razoável e positiva, mas desde que referido controle seja realizado com precisão cirúrgica, afinal, segurança jurídica e estabilidade jurisprudencial não são

sinônimos de proteção e assertividade jurisdicional.

O que se quer demonstrar é que, necessariamente, há de se alcançar o meio termo entre a

proteção das decisões paradigmas e as peculiaridades do caso concreto, de modo a se evitar ao máximo, eventual falha na prestação jurisprudencial com fundamento, justamente, na

segurança jurídica proporcionada pela uniformização da Jurisprudência.

3

(33)

A conclusão, portanto, não seria outra senão que o fato de se criar “barreiras” para que se

analisem recursos e, por conseguinte, não sejam reexaminadas as matérias ali discutidas por conta de várias outras decisões já existentes e semelhantes ao caso, permitem, se

adequadamente aplicadas, o fortalecimento dos paradigmas e, consequentemente, a uniformização jurisprudencial e a segurança jurídica dela decorrente.

Mas a admissibilidade recursal, como se sabe, não é ferramenta exclusiva dos Tribunais

Superiores. No que se refere à admissibilidade do Recurso de Apelação, por exemplo, segue transcrito o disposto no artigo 518 do Código de Processo Civil (CPC), em seu parágrafo único:

Interposta apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar vista ao apelado para responder.

§ 1º O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade com Súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal. (grifo nosso)

A súmula impeditiva de recurso consiste na inadmissão e não conhecimento de recurso à

instância superior caso já existam súmulas de jurisprudência dominante do STF e do STJ, contrárias à tese jurídica contida nos recursos.

O que se espera é trazer à primeira instância judiciária o poder anteriormente conferido ao relator, de denegar o prosseguimento de recurso cuja matéria for pacífica e constante de súmula dos tribunais superiores. Mas, pela redação do Art. 518 do CPC, permite-se ao juiz de 1º grau

decidir contrariamente às súmulas do STJ e do STF, na medida em que do próprio dispositivo afirma-se: “quando a sentença estiver em conformidade com Súmula” (o juiz não receberá o

(34)

Entretanto, merece crítica o entendimento alhures. Não parece razoável que o julgador de 1ª

instância, mesmo ciente de que sua decisão será totalmente ineficaz e, em termos práticos, apenas protelatória, entenda por bem decidir na contramão das súmulas de STJ e STF, até porque é

evidente que, para a parte minimamente instruída, recorrer desta decisão será opção óbvia.

E pior, ainda que na hipótese em comento a parte entenda pelo não recurso, o trânsito em julgado de decisão contrária às súmulas dos tribunais superiores enseja extrema insegurança

jurídica e, mais que isso, torna inócua a própria função das súmulas e prejudica todo o sistema.

É por isso que deve ser visto com bons olhos o posicionamento de alguns julgadores de 1ª

instância que, apesar de ressalvarem suas opiniões, as vezes contrárias às súmulas, decidem de maneira coerente com o sistema, viabilizando julgamentos céleres e, mais importante que isso, a efetividade da tutela jurisdicional pretendida, sem a necessidade de exame de 2º grau.

É bem verdade que, ainda assim, a parte perdedora poderá recorrer. Desta feita, com embasamento do Art. 518 do Código de Processo Civil, referido petitório deixará de ser examinado em 2ª instância, por decorrência, justamente, do exame de admissibilidade recursal.

Pode-se afirmar, portanto, que a adoção da súmula impeditiva de recurso visa iniciar, às avessas, a efetividade da súmula vinculante, conferindo celeridade na prestação jurisdicional

através da aplicação imediata das decisões das mais altas cortes do país, conforme observa Theodoro Júnior:

O raciocínio determinante da reforma foi no sentido de que, se se admite que uma súmula vincule juízes e tribunais, impedindo-os de julgamento que a contrarie, valido é, também, impedir a parte de recorrer contra sentença proferida em consonância com o assentado em jurisprudência sumulada pelos dois mais altos tribunais do país. Nos dois casos está em jogo o mesmo valor, qual seja o prestígio da súmula do STJ e do STF pela ordem jurídica.4

4

(35)

No mesmo sentido o posicionamento de Marinoni a respeito:

Se a sentença afirma o entendimento contido em súmula do STF ou do STJ, não há razão para admitir que a parte possa se limitar a interpor a apelação reiterando argumentos definidos na súmula e consolidados no tribunal a que recorre. Em tais circunstâncias, a abertura de uma livre oportunidade para a interposição da apelação, não só traria prejuízo ao direito fundamental à duração razoável do processo, como também ocasionaria um acúmulo despropositado de recursos e processos nos tribunais [...].5

Seguindo a mesma linha explicativa, há que se mencionar o brilhante trecho abaixo:

Colegialidade das Decisões. A regra, para os recursos, é a colegialidade das decisões. Quer dizer: a pluralidade de julgadores, com o fim político de assegurar diversos exames no mesmo tempo, além do duplo ou múltiplo exame, no tempo, pelo juiz do primeiro grau e os demais juízes superiores. A ciência ensina-nos, hoje, que a assembleia não nos veio da reflexão; foi a reflexão que veio da assembleia. Portanto, o homem é que é produto da assembleia. Essa prioridade do exame múltiplo ao mesmo tempo, em relação ao exame de um só, se transforma em superioridade sempre que desejamos maior certeza. A colegialidade para a decisão dos recursos obedece a esse pendor íntimo do homem quando se desej a guiar pela razão.6

Dessa forma, parece equivocado o posicionamento de parte da doutrina no sentido de que a súmula criaria um “gesso” que se impõe ao magistrado de primeira instância. Aliás, processos idênticos repetem-se de formas infinitas, sendo que uma das viáveis e práticas formas de

controle dessa segurança jurídica é a súmula impeditiva de recursos. Mais importante que a liberdade do julgador no ato de julgar, parece ser a efetividade e a adequação da tutela

jurisdicional almejada ao caso concreto.

5

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 5. ed. São Paulo: RT, 2006, p. 540.

6

MARTINS, F. P. Exame do artigo 557 do código de processo civil: um incitamento à reflexão e ao debate.

(36)

3.2 A Súmula Vinculante

Outro instrumento de grande relevância para o processo de uniformização dos julgados é a súmula vinculante, fruto da Emenda Constitucional nº 45/2004 (EC-45), que institui no art.

103-A da Constituição Federal, e definiu em seu §1º:

A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

A função da súmula vinculante não é novidade no direito pátrio, vez que, desde a década de 1960, por força da obra do Ministro Victor Nunes Leal em relação à súmula da jurisprudência

dominante, já existia um esboço do resultado a ser obtido pelo instituto.

Para Nunes Leal, ela tem por objetivo buscar o meio-termo ideal da estabilidade da jurisprudência, situando-se entre a dureza dos assentos a inoperância dos prejulgados.7 E, para Nelson Nery Jr., súmula é o conjunto das teses jurídicas reveladoras da jurisprudência reiterada e predominante no tribunal e vem traduzida em forma de verbetes sintéticos numerados e editados.8

É de vital relevância, todavia, destacar que a Emenda Constitucional nº 45 apenas introduziu um caráter constitucional à norma, conferindo-lhe força vinculante, diferenciando, assim, o

instituto, em relação às súmulas persuasivas de direito de 1963.

A EC-45, portanto, adquiriu características que vão além de uma simples alteração de forma ou procedimento. Ela foi seguida de verdadeira reforma do poder judiciário brasileiro, tendo a

súmula vinculante papel de extrema relevância neste contexto, na medida em que visa reduzir os entendimentos controvertidos sobre questões idênticas nos tribunais regionais e possibilitar

celeridade no trâmite processual e efetividade jurisdicional.

7

LEAL, Victor Nunes. Passado e futuro da súmula do STF. Revista de Direito Administrativo, São Paulo, n. 145, jul./set. 1981, p. 2.

8

(37)

3.3 Recursos Repetitivos – Artigos 543-B e 543-C do Código de Processo Civil

Conforme já restou demonstrado, a EC-45 foi seguida de diversas alterações procedimentais. Dentre elas a Lei n º 11.418/2006, por meio da qual foram introduzidos os artigos 543-B e

543-C ao Código de Processo Civil brasileiro.

O artigo 543-B do CPC instituiu hipótese de vinculação aos precedentes do Supremo Tribunal Federal, no que concerne ao exame da repercussão geral. Trata-se do incidente de análise da

repercussão geral por amostragem, nos moldes do que já existia para o julgamento do recurso extraordinário proveniente de Juizado Especial Federal (art. 321, § 5º, Regimento Interno do

Supremo Tribunal Federal).

Ou seja, quando houver uma multiplicidade de recursos extraordinários com fundamento em idêntica controvérsia, o presidente ou vice-presidente do tribunal de origem poderá selecionar

alguns recursos representativos de uma determinada questão constitucional, sobrestando o processamento dos demais até que o Supremo Tribunal Federal julgue definitivamente os recursos selecionados que serão utilizados como paradigmas.

Ou seja, a tese jurídica definida nos recursos selecionados como paradigmas, produzirá efeitos para além dos autos, vinculando outras demandas análogas e futuras.

Em razão da relevância do julgamento desse recurso paradigma é que Fredie Didier vislumbra a necessidade da intervenção de amicus curiae para que seja garantido o devido processo legal.9 Assim, o tema deve ser amplamente debatido de modo que o Supremo Tribunal Federal tome a decisão após longa e profunda discussão sobre o tema.

No mesmo sentido e até mais representativo, é a criação do artigo 543-C do CPC, por meio do

qual se instituiu que, quando houver multiplicidade de recursos especiais com fundamento na

9

(38)

mesma questão de direito, o presidente ou vice-presidente do tribunal de origem selecionará

um ou alguns recursos representativos – também chamados de recursos piloto, guia, paradigmal, padrão, dentre outras denominações – e encaminha-los-á ao STJ antes mesmo de

exercer o seu juízo de admissibilidade.

Está seleção deverá ser bem criteriosa, dando-se preferência aos recursos que contenham maior diversidade e clareza de argumentos, para que se viabilize a análise mais detalhada

possível por parte do Tribunal Superior (art. 1°, §1°, da Resolução nº 8/2008 do STJ).10

Importante destacar, que o Superior Tribunal de Justiça tem admitido o sobrestamento dos feitos,

mesmo daqueles que ainda não se encontram em fase de Recurso Especial, senão vejamos:

1. A submissão de matéria jurídica sob o rito prescrito no artigo 543-C, do Código de Processo Civil, inserido pela Lei n.º 11.672, de 8 de maio de 2008, justifica a suspensão do julgamento de recursos de apelação interpostos nos Tribunais. 2. A suspensão dos julgamentos das apelações que versam sobre a mesma questão jurídica submetida ao regime dos recursos repetitivos atende a exegese teleológico-sistêmica prevista, uma vez que decidida a irresignação paradigmática, a tese fixada retorna à Instância a quo para que os recursos sobrestados se adequem à tese firmada no STJ (art. 543-C, § 7.º, I e II, do CPC). 3. É que o novel instituto tem como ratio essendi evitar o confronto das decisões emanadas dos Tribunais da Federação com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, mercê de a um só tempo privilegiar os princípios da isonomia e da segurança jurídica. 4. A ponderação de valores, técnica hoje prevalecente no pós-positivismo, impõe a duração razoável dos processos ao mesmo tempo em que consagra, sob essa ótica, a promessa calcada no princípio da isonomia, por isso que para causas com idênticas questões jurídicas, as soluções judiciais devem ser iguais. [...] 7. Deveras, a estratégia político-jurisdicional do precedente, mercê de timbrar a interpenetração dos sistemas do civil law e do common law, consubstancia técnica de aprimoramento da aplicação isonômica do Direito, por isso que para “casos iguais”, “soluções iguais”. 8. Recurso especial conhecido e desprovido.11

10

Art. 1º Havendo multiplicidade de recursos especiais com fundamento em idêntica questão de direito, caberá ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido (CPC, art. 541) admitir um ou mais recursos representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça, ficando os demais suspensos até o pronunciamento definitivo do Tribunal. § 1º Serão selecionados pelo menos um processo de cada Relator e, dentre esses, os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de argumentos no recurso especial.

11

(39)

Contudo, os efeitos da aplicação do art. 543-C não são tão simples, pois, apesar do disposto

nos §§ 7º e 8º do Código de Processo Civil, existem controvérsias sobre como ocorrerá o julgamento dos recursos idênticos, conforme será a seguir demonstrado.

No caso do inciso I, do § 7º, não há problema algum, pois se tem a regra de que os recursos sobrestados terão o seu seguimento denegado na hipótese do acórdão recorrido coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça.

Contudo, já no caso do inciso II12 do citado parágrafo, vislumbra-se maiores dificuldades, como sinaliza José Rogério Cruz e Tucci:

Terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou serão novamente examinados pelo Tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.13

Neste caso, o STJ determinará o retorno do processo ao tribunal local para fins de

reapreciação, sendo, que, conforme entendimento do tribunal, não é cabível agravo contra decisão que inadmite recurso especial, com fundamento no art. 543-C, §7º, I, do CPC:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM QUE OBSTA O RECURSO ESPECIAL NOS TERMOS DO ART. 543-C, § 7º, I, DO CPC. NÃO CABIMENTO. PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. “A Corte Especial, no julgamento da Questão de Ordem no Ag 1.154.599/SP, entendeu ser incabível Reclamação ou Agravo contra decisão que nega seguimento a Recurso Especial com fundamento no art. 543-C, § 7º, I, do CPC” (AgRg na Rcl 9.404/RJ, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, Primeira Seção, DJe 11/09/13).

2. Agravo regimental não provido.

(AgRg na Rcl 4.950/RJ, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/02/2014, DJe 14/03/2014)

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§ 7o Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados na origem: I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

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Referências

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