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Repositório Institucional UFC: O médico por vocação é o mesmo homem que viu na política um meio para tentar curar todos os males

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Academic year: 2018

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e V is t{ n tr e v is ta

E n t r e v i s t a c o m H e i t o r F é r r e r , n o d i a 2 6 d e m a i o d e 2 0 1 1 .

G e o r g e -

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O senhor mencionou na pré-en-evista que teve o privilégio de nascer em uma

iarnflia que fundou Lavras da Mangabeira

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(m u -ic íp io n o C a riri c e a re n s e , aRQPONMLKJIHGFEDCBA4 1 7 , 4 k m d e F o rta le

-z a )e dominava politicamente a cidade até 1972. )e que forma crescer em meio a esse ambiente

rivilegiado de uma oligarquia tradicional in-enciou os primeiros anos da vida do senhor?

H e i t o r - Hoje, a gente dizer que tem esse rivilégio pode ter até uma conotação diferen-e, né? Mas pra época, em que você mora no nterior, menino de tenra idade que vê, naque-a cidnaque-ade, como se todos lhe olhassem com s nais de proteção, né? Nasci de uma família adicional que teve domínio político mesmo esde a origem da cidade, então era muito om você estar numa cidade em que podia sair pra onde saísse, brincar com quem brin-casse, voltasse tranquilo, saber que nada po-eria lhe ocorrer. Pela própria época, que era uito bom porque não tinha violência, e pela eferência que as pessoas tinham aos que eram da família da gente.

Ou seja, eu nasci num ambiente de muito carinho, tanto das pessoas que moravam na ci-...•ade, de deferência, e no seio da família, famí-a trfamí-adicionfamí-al do interior. Somos sete irmãos. ::lapai(O s v a ld o F é rre r S o b rin h o ) e mamãe (J o -e t-e C o rre ia F é rre r) são servidores públicos. ::lapaijá faleceu. E cresci nesse meio, dentro de

ma família que gozava de regalias, de

privilé-;jos. Como é que eu sentia essas regalias? Era

delegado que tinha deferência aos meus tios,

3 0 meu pai, que era vereador, presidente da

:::ãmara, o outro tio era prefeito. Qual era a de-erência que o delegado tinha? De ir tomar café, ...•e receber pedidos, na época, pra soltar fulano

ue estava preso. Era quando o circo vinha, era m permanente (e s p é c ie d e in g re s s o e s p e c ia l)

a minha família, para o meu pai, tinha um per-anente pra mandar os meninos entrar no cir-o, né? Entãcir-o, a gente sentia que a família tinha _ma deferência. Eu não via aquilo como um rivilégio, achava que era a coisa mais natural o mundo. Desde pequeno, a gente assiste a

sputas pela Prefeitura, e sempre houve essas sputas ... A gente se envolvia, mesmo criança, e envolvia com os pleitos, né? Era um tio que oncorria, era um primo do pai que concorria e

a gente acompanhava aquela coisa muito fer-vorosa de interior, o que, apesar de (o s p o lític o s d a fa m ília ) mandarem, sempre teve oposição que fazia frente a eles, né?

Cresci nesse ambiente de política, de elei-ções, de prefeituras. Quando vim pra cá (p a ra F o rta le z a ) em 1968, em março de 68, né? Pas-sei a ser mais um na multidão. Mais um na multidão. Fui pro Colégio São João porque não tinha vaga na escola pública - o Liceu do Cea-rá. Depois foi que eu fiz uma prova e comecei, naquele tempo, o segundo ano ginasial, que eram quatro anos: primeiro ano, segundo ano, terceiro ano e quarto ano, que era o nível mé-dio. No segundo ano fui para o Liceu, porque fui selecionado numa prova. Passei o resto dos anos no Liceu e depois fui pra Escola Técnica fazer química industrial.

Bom, aqui em Fortaleza passei a ser mais um na multidão mesmo, né? Família de con-dições limitadas, pai servidor público, mãe servidora pública, estudante de escola públi-ca, tudo era muito limitado, muito limitado. E talvez tenha sido essa limitação que me deu condição de estudar, ter muita responsabilida-de com estudo, né?

G e o r g e - O senhor mencionou que sua mãe era uma mulher r í q l d a . . .

H e i t o r - Era.

G e o r g e - Mas ela tem uma cobrança silen-ciosa. Como o senhor descreveria a personali-dade dela, como era ...

H e i t o r - (in te rro m p e n d o ) Ah, mamãe era muito rígida. E como assistiu em Lavras mui-tas dispumui-tas, né? E assistiu em Lavras, assim ... Pessoas serem perseguidas pela própria famí-lia dela ... Porque ela é Augusto da gema, neta de Fideralina e tal (F id e ra lin a A u g u s to L im a , p ro p rie tá ria d e la tifú n d io s e m L a v ra s d a M a n -g a b e ira , a tu o u n a p o lític a d o E s ta d o , fa le c e n -d o e m 1 9 1 9 ) . Ela viu muita gente do outro lado

sendo perseguida e via que uma família só do-minava os outros. O velho Gustavo Augusto, Raimundo Augusto eram os mais dominado-res e os outros eram quem dava sustentação. Eu me lembro muito bem quando a mamãe dizia assim: "Nós vamos embora pra Fortaleza porque meus filhos não vão ser capanga dos Augusto". Ora, ela sendo Augusto! O que era

Quem indicou Heitor Férrer para ser um dos en-trevistados foi George, ad-mirador da carreira e atu-ação política do deputado,

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Desejoso de que a tur-ma aprovasse o político, durante a votação dos escolhidos para as entre-vistas da edição, George pensou em combinar vo-tos com outros alunos. Acabou desistindo por considerar a manobra mo-ralmente questionável.

Uma das primeiras pes-soas com quem a produ-ção conversou foi a mãe de Heitor, dona Josete, que recebeu os produto-res em casa. A entrevis-ta teve a participação de Marta, irmã do deputado.

ser capanga? Era dar apoio a eles mesmos, né? Tinha o prefeito, tinha o chefe político, que era o coronel Raimundo Augusto, tinha meu padrinho Vicente Augusto, que foi deputado, foi senador.

Aquilo ela botou na cabeça que os filhos dela tinham de sair de Lavras pra poder es-tudar. Porque não tinha dinheiro pra mandar estudar na Casa do Estudante na época. Não tinha dinheiro pra alugar uma casa aqui, não tinha dinheiro pra bancar um hotel, o propó-sito dela pra sair desse meio de Lavras e pra vislumbrar que os filhos poderiam estudar, já

que eram sete, era

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v im embora. E veio embo-ra em

RQPONMLKJIHGFEDCBA

1 9 6 8 . No dia 4 de março, nós viemos de

trem pra cá.

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A m a n d a - Mas como era pro senhor, crian-ça, perceber isso? Perceber essa influência que a sua família tinha? O senhor notava, conseguia perceber alguma coisa ou era um universo muito natural pro senhor?

H e i t o r - Era natural, mas muito perceptí-vel. Eu nasci dentro desse universo ... Natural. Quando eu dei por mim ... O tio era prefeito, em 1 9 5 7 ,né? Em 1 9 6 3 também, quer dizer, em

1 9 5 7 eu tinha dois anos, nasci em 1 9 5 5 . . . Quan-do foi em 1 9 6 8 eu vim embora. Quer dizer, eu passei em Lavras o período todo sob poder da família, né? Quando em 1 9 6 7 eu vim embora,

meu tio era prefeito de Lavras. Como é que eu via essas regalias? Era deferência das pessoas, o respeito das pessoas com os meus. Isso era muito perceptível. Naquele tempo, então, era muito perceptível mesmo, né? Hoje, tem famí-lias que mandam, mas não têm essas deferên-cias todas. Naquele tempo tinha.

C a r o l - Heitor, quando criança o senhor era chamado de "cachorro de balaio" porque aonde o seu pai ia o senhor ia atrás. Vocês ti-nham uma relação muito próxima. Sua irmã Marta até falou pra produção que o senhor era um dos filhos preferidos do seu Osvaldo. Ha-via admiração mútua entre vocês dois. O que o senhor guarda de lição do seu pai e o que contribuiu para a formação do homem que o senhor é hoje?

H e i t o r - (s e e m o c io n a e n ã o c o n s e g u e re s -p o n d e r à -p e rg u n ta d e im e d ia to . V a i a o b a n h e iro d a s a la , m a s lo g o v o lta ) Vixe, Maria! Eu tenho de abstrair, sabia? Vou me abstrair. Vou me abs-trair. Eu vou me artificializar um pouco, assim, pra ... Deixar de ser eu. Eu vou me concentrar e conseguir. (fa la b a ix in h o , e n tre c o rta n d o v á rio s m o m e n to s d e s ilê n c io e u m c h o ro c o n tid o ). In-teressante, olha, meu pai faleceu em 1 9 9 8 e eu nunca consegui na missa fazer assim uma ... Ler alguma coisa, porque as pessoas conseguem ler, né? Em missa de sétimo dia, de um mês, de um ano, de dez anos, nada. Tem gente que consegue fazer um discurso na Igreja, né? Mas eu ainda tenho dificuldade ...

" E u e r a m u i t o l i g a d o

.

.

a o p a p a l p o r q u e s a l a

d e m a i s c o m

e l e ( . . . ) .

O p e s s o a l p a s s o u a

m e a p e l i d a r d e " c a

-c h o r r o d e b a l a i o " ,

p o r q u e s e m p r e

e l e

m e c a r r e g a v a

p r a

o n d e i a . "

L i a n a - A Dona Josete, sua mãe, e a Marta, sua irmã, falaram que o senhor era um dos pre-feridos e no dia de aniversário o seu pai sempre

comprava ...

H e i t o r - Uns sequilhos, era ...

L i a n a - Comprava uns pacotes de sequi-lhos,n e ra ? Como se o senhorfosse o preferido.

H e i t o r - Era...

L i a n a - Eu achei isso bem interessante também ...

H e i t o r - Era o seguinte, olha. (c o m a v o z e m b a rg a d a ) Eu era muito ligado ao papai por-que saia demais com ele, saia demais e ... Eu ouvia todas as conversas de Lavras, ele era político, né? O pessoal passou a me apelidar de "cachorro de balaio", porque sempre ele carregava pra onde ia, né? Por exemplo, eu ando de cavalo. Pras vaquejadas ... (s e e m o -c io n a m a is u m a v e z ) Pelo amor de Deus, não tem condição ... Se eu soubesse tinha tomado

um Lexotan. (ris o s d e to d o s ).

(A p e d id o d o p ro fe s s o r R o n a ld o , C in a ra v a i à o u tra s a la p a ra p e g a r u m c o p o d e á g u a p a ra H e ito r)

H e i t o r - Agora vou me concentrar. Por exemplo, nas vaquejadas, papai gostava muito de cavalo, boi, gado e tal. Eu tinha um cavalo, ainda hoje eu tenho essa sela. Essa sela foi feita em 1 9 6 7 . . . Tem quantos anos? Uma selinha, né? (a lg u n s re s p o n d e m a id a -d e -d a s e la ) Quarenta e três anos, né? Ainda hoje tenho e ando de cavalo com meu me-nino. Quando eu passo nas águas, os cava-los passam e digo: "Vixe, voltei pra Lavras, em 1 9 6 6 " . Porque, quando o cavalo passava na água, eu gostava porque era a zoada do casco dele (im ita ob a ru lh o ). Quando eu faço cavalgada, eu fico procurando água, procu-rando esses ...(C in a ra v o lta e e n tre g a a á g u a )

(6)

a pra vaquejada com o papai. Eu peguei sa minha sela que estava lá em Lavras e sa sela eu mandei remontar todinha e hoje

eu meninozinho é quem anda, meu meni-

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J o ã o V ic to r C a b ra l C o rre ia F é rre r) de 14 os. Mas (J o ã o V ic to r) já está grande (p ra a r a s e la ), eu era muito pequenininho (n a

z: o c a e m q u e u s a v a a s e la ). Em

RQPONMLKJIHGFEDCBA

6 8 , eu ain-a usain-avain-a cain-alçain-a curtain-a, né? Pra onde papai ia,

- ia também. Nas noites, por exemplo, ele - pra casa do tio Bibi, que era o Aloizio, ia a casa do seu Fiel, que era da farmácia, ia a casa do compadre Assis Via na. Tanto é e os compadres dele são todos meus com-adres porque eu me habituei a chamar, né? :ompadre Assis, compadre João de Fausto, compadre Aloizio. Tudo era compadre dele e _ a compadre meu porque passei a habituar.

Então, eu ouvia tudo de política, às vezes, ate de segredos eu ouvia. Quando papai bo-.ava a gente pra dormir, botava eu e José Os-aldo na mesma rede, um do lado do outro, e izia assim: "Quando José Osvaldo dormir, vá ra casa de Aloizio". Eu ficava com papai até 10, 1h da noite. Tinha uma casa lá que fazia muito - io ... Era a casa de cumpadre Assis Viana. Eu

'i c a v a dormindo na cadeira assim ó (le v a n ta --s e d a c a d e ira e s e n ta --s e a o c o n trá rio e m o u tra c a d e ira ). Os outros diziam assim "Ô Osvaldo, deixa de perversidade, leva esse menino pra casa". (v o lta p a ra a c a d e ira e m q u e e s ta v a )

Eu não ia pra casa mesmo, só ia quando ele voltasse. Passei a ser chamado assim de

"ca-chorro de balaio, ca"ca-chorro de balaio. Pra onde Osvaldo vai, ele vai atrás". A história dessa pre-dileção era porque eu ia mesmo, buscava, eu 'a atrás. Os outros talvez não fossem ... Quando era meu aniversário, ele mandava fazer esses sequilhos, que é aquelas bichinhas, umas

mas-sinhas, tipo docinho, lembra? Docinho de trigo.

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L i a n a - Até hoje tem ...

H e i t o r - Tem, tem. Então, toda vida no dia 11 de outubro, que é meu aniversário, era um bule que ele tinha lá, um bule de sequilho. Dona Rosina era quem fazia os sequilhos. Pois bem, agora estou pé no chão. (fa la c o m ê n fa s e d e -p o is d e s e s e n tir re c o m -p o s to d a e m o ç ã o ).

C a r o l - Vou só retomar a pergunta ... Eu dizia que o senhor tinha uma grande admiração pelo seu pai. Que lições o senhor ...

H e i t o r - (le m b ra a p e rg u n ta e in te rro m p e )

Papai era uma pessoa ... Vocês acreditam que eu nunca ouvi de papai um nome feio? Uma pornofonia? Nunca na minha vida! E era um ho-mem de estatura pequena, mas muito deste-mido. Papai era uma pessoa muito destemida, muito respeitada em Lavras, conhecido na

que-e tque-empo como um homem valente. Naquele empo as pessoas se impunham pela valentia, pela disposição de enfrentar as coisas. Mas, mesmo com esse temperamento, de ser uma

Elas contaram muitas curiosidades sobre o en-trevistado: aos quatro anos, por exemplo, Heitor já queria ser médico e, por conta disso, só usava rou-pas brancas.

(7)

Hoje, ele tem uma fa-zenda em Aquiraz, região metropolitana de Forta-leza, onde cria cavalos e está quase todos os fins de semana.

Dona Josete revelou que Heitor gosta muito de cães. Um cachorro da raça pins-cher presente em sua casa pertence ao deputado.

pessoa muito conhecida como destemida, eu nunca vi ele falar, mesmo nos momentos de raiva, algum nome feio, alguma pornofonia. Nunca! Ele era muito equilibrado, Humilde de dizer chega! E nunca se deixou humilhar. Era um homem humilde, mas nunca ninguém che-gou pra humilhar meu pai,

Isso era uma qualidade muito boa, E a ou-tra era a sinceridade. Sinceridade ... Era muito alegre, muito leve, era muito honesto, Ele dizia que só tinha inveja de uma coisa na vida dele: era não ter estudado mais pra saber fazer um bom discurso, Papai só invejava a pessoa pelo saber. Nós tínhamos um primo que era depu-tado federal, foi depudepu-tado estadual, foi prefeito

de Lavras, foi senador da República, que era

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V

i-cente Férrer Augusto Lima. Ele dizia assim: "Ra-paz, o que eu admiro no V ic e n te é a sabedoria dele, é a inteligência dele". Era homem simples, mas muito honesto, muito leal, de uma lealda-de exemplar, lealda-de ser amigo e o amigo não tinha defeito, procurava ser sempre muito solidário, E um grande irmão, Ele tinha a qualidade de se dedicar aos irmãos dele de corpo e alma,

Transferiu muito pra gente.

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R a p h a e l l e - O senhor é descrito pelos seus

familiares e por alguns de seus amigos como

um homem muito católico, Durante a

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p r é e n

-trevista, inclusive, o senhor disse que é pauta-do pela religião, Qual o impacto da formação religiosa que o senhor recebeu para a constru-ção dos princípios seguidos pelo senhor ...

H e i t o r - (in te rro m p e n d o ) É Frei Damião, viu? O que me causou assim essa fé ..,

R a p h a e l l e - Mas tanto na vida política quan-to na vida pessoal.

H e i t o r - Essa fé e esse temor a Deus foi Frei

D a r n i ã o . Porque ele fazia as missões em La-vras e aquelas missões de LaLa-vras eram quase que uma visita do Criador, Frei Damião conse-guia contagiar a cidade naquelas missões dele como se ele tivesse incorporando ali a figura

de um santo, como se ele tivesse ali sendo Jesus Cristo, Eu me lembro que numa dessas missões, estava havendo umas quermessezi-nhas, uns bares abertos .., E o Frei Damião fa-lou com tanta ... Não vou dizer ira .., Chateado porque aquelas mercearias estavam abertas .., Pois você me acredita que eu presenciei uma ventania pra derrubar as coisas, como se ele tivesse assoprando .., Tudo era motivo de fé, né? Eu era menino e Frei Damião teve essa coi-sa muito marcante, de a gente ter muita fé em Deus, E a religião, quando a gente começa a ler, né? E eu gosto de ler a Bíblia ...V o c ê tem os ensinamentos que você molda, pauta sua con-duta por ela (B íb lia ), Então eu tenho fé e temor a Deus, Eu até chego a dizer que tenho mais temor do que fé,

R a p h a e l l e - Mas na hora de legislar, o se-nhor separa a religião da sua atuação?

H e i t o r - O fato de você legislar, você coloca dentro da legislação aquilo que você é, V o c ê

quer colocar no papel condutas que você ado-ta e queria adoado-tar pra todos, né? E, obviamente, que nas leis que eu apresentei .., Se fizerem um estudo .., Que todas as leis que apresentei são leis muito boas, que muitas delas foram rejeita-das, né? Porque eu ampliava benefícios, que eu continha corrupçâo, limitava a fraqueza huma-na de querer domihuma-nar, né? Sempre querendo pautar a sociedade com equilíbrio, E isso eu devo muito à religião,

C a m i l a - O senhor acabou de falar que sua mãe quis mudar pra Fortaleza porque não que-ria que os filhos fossem capangas dos Auqusto,

H e i t o r -

É...

Sendo ela bem Augusto!

É

bom que se diga, porque quando os Augusto forem ler, aí..,(ris o s )

C a m i l a - O senhor disse na pré-entrevista que sua mãe conhecia bem o sofrimento da política lá em Lavras da Mangabeira, Que sofri-mento era esse a que sua mãe se referia?

(8)

~ a e o avô dela ... O avô dela era filho mais - vo de Fideralina Augusto. E tinha o Gustavo, e eu acho que era o mais velho ou o segun-mais velho, que era quem dominava. E esse - o de minha mãe, o coronel Correia, que era

_ avô dela, o Francisco Augusto Correia Lima,

RQPONMLKJIHGFEDCBA

= r c I adversário do outro irmão e adversário de

_ 'T l sobrinho que era quem substituiu o pai,

e era Raimundo Augusto. E essa família que minava, que era esses Augusto, eles

impu-am muita força contra os outros. E ela

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(d o n a s e te ) era filha do outro lado. Nós tínhamos

Jn

tio, que é tio dela, Idelfonso Augusto Cor-":!ia Lima, que foi obrigado a deixar Lavras em _ horas porque um primo, que era coronel na epoca, coronel João Augusto, disse que ele ti-- a 24 horas pra deixar Lavras da Mangabeira. :: era o homem mais rico da cidade.

Ela presenciou tudo isso. Ela viu na própria ~mília dela essas perseguições ... Eram perse-:;uições com o tempero da violência mesmo.

=

a não admitia que nós, ao longo da vida, pas-sássemos ou a dar apoio àquele lado, como via s outros darem ... A família do meu pai dava -nuíto apoio. Ou então estar do outro lado sen-o perseguidsen-o. Por isso que minha mãe veio ora Fortaleza em 1968 ... E tirando um episódio que ela foi de manhã e voltou de tarde, ela

nun-a mnun-ais foi nun-a Lnun-avrnun-as. Nuncnun-a mnun-ais foi nun-a Lnun-avrnun-as.

E n t ã o são quantos anos de 1968 pra cá? Qua-renta e ...

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U v i a - Três.

C i n a r a - Quais foram as dificuldades que o senhor sofreu quando chegou aqui em Fortaleza?

H e i t o r - Menino de interior, um a mais na multidão, tudo aquilo que eu tinha desapare-ceu, né? Aquela deferência, os professores, as pessoas, aquilo tudo desapareceu. O que, então, eu senti? Um impacto de uma cidade grande. Pra não ser mais um na multidão, tal-vez pela formação, o único caminho era estu-dar. E eu passei a ser um bom aluno. Porque aquelas regalias de Lavras, de certa forma, me deram uma vontade de não perder. Mas existe um desejo de domínio? Não.

É

só de respeito. Por isso que os dois anos que pas-sei pra me adaptar, com saudade da terra na-tal, foram pra enfrentar esse mundo que era o que eu ia conviver.

C a r o l - O senhor disse até que sofreu

b u //y in g , né?

H e i t o r - É , no Colégio Liceu do Ceará.

C a r o l - Como foi?

H e i t o r - Tinha um colega que dominava todos, dominava pela força. Não era bom alu-no, era do interior também, mas ele era muito valente. Ele fazia imposição de domínio com todos. Quando foi nesse dia na aula de educa-ção física, ele bateu a minha cabeça ... O dente bateu no bebedouro. Minha mãe tinha muito

"Eu

g o s t o d e l e r

a B í b l i a ( . . . ) . V o c ê

m o l d a

s u a c o n d u t a

p o r e l a . E u t e n h o

f é

e t e m o r

a D e u s . E u

a t é c h e g o

a d i z e r

q u e t e n h o

m a i s

t e m o r

d o q u e f é . "

zelo pela saúde, arcada dentária ... Eu senti que ele quebrou meu dente, tinha trincado o den-te. Foi quando eu reagi também com violência. Eu acho que foi uma grande coisa que eu fiz porque eu perdi o medo dele e não deixei mais que ele dominasse nem a mim nem aos outros.

G e o r g e - O senhor mencionou que a sua mãe tinha uma aversão à atuação política dos parentes. Mas como o senhor enxerga o lega-do político da sua família?

H e i t o r - Da minha família em Lavras?

G e o r g e - É , como o senhor enxerga?

H e i t o r - A época era daquela maneira, né? Ou seja, na época em que ela dominou a cidade era porque tinha grandes extensões de terras, porque tinha naquela época os seus capangas, porque tinha um poder econômico. Esse lega-do ... Na época, era desse jeito, ou era lega- dominan-te ou era dominado. Ou a pessoa dominava ou era dominada. Esse legado ... Que hoje a gente diz assim: "Olha, minha família foi aristocrática, dominante, cometeu erros", mas pra época, a cultura era aquela, era natural, hoje se con-dena, mas na época se vivia isso ... E, de certa forma, termina por passar ao seu descenden-te essa informação de que ele não deve ser só mais um na multidão, ele tem de procurar se respeitar e buscar respeito das outras pesso-as. Então, o legado dela (fa m ília e m L a v ra s ) pra mim é que eu me respeito e busco respeito. Não busco prestígio, busco apenas o respeito.

L i a n a - Ainda sobre essa aversão que sua mãe tinha com relação ao senhor entrar na po-lítica. O senhor acha que tinha a ver com o fato dela prezar tanto pelo estudo de vocês, pela formação como médico, no caso, e a partir do momento que o senhor entraria na política, perderia muito espaço pra estudar?

H e i t o r - Pronto, eu acho que era o princi-pal.

É

porque a formação médica, que dá mui-to orgulho às famílias, entrando na política ia abdicar muito dessa atividade. Era o primeiro

Durante a conversa, dona Josete nos ofere-ceu bolo e refrigerante, servidos pela simpática Raimunda. Lanche muito bem-vindo.

(9)

Nos primeiros contatos por telefone, Gabriela, es-posa de Heitor, já mostrava empolgação para ser entre-vistada. O resultado foi mais de uma hora de conversa, a mais longa da produção.

Mais de 30 minutos da

entrevista foram dedicados

RQPONMLKJIHGFEDCBA

à história de amor do casal. Do primeiro telefonema, passando pelo anel de com-promisso, até o casamento.

ponto. E porque o que ela passou em Lavras, ela viu que política era uma vida de muito so-frimento até para os que dominavam, porque perdia a individualidade, perdia a liberdade. O dia a dia é muito estressante! Ela via por esses dois lados, que a profissão ia ficar à margem, que ela lutou tanto pra gente se formar, no meu caso em medicina, e a política ia terminar absorvendo esse lado da profissão e ia inibir a minha atividade. Como de fato inibiu. Eu era um grande aluno em medicina. Hoje faço um consultório de clínica médica, fiz uma pós-gra-duação em doenças infecciosas e saúde públi-ca, mas, se eu fosse simplesmente médico, eu estaria entre os bons profissionais da cidade.

Eu não me considero ruim ...

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G a b r i e l a - Eu tenho uma curiosidade. O

Heitor Correia Férrer não se contenta com o doutor Heitor e teve de ir buscar o Heitor políti-co? O que move o senhor?

H e i t o r - É como eu disse pra você

naque-le dia, né?

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(fa la n d o c o m a p ro d u ç ã o ). Quando eu me formei, eu fiz uma promessa, como

es-tudante de escola pública e uma maneira de retribuir era passar cinco anos numa coletivi-dade atendendo gratuitamente. Eu passei lá no Pio XII (b a irro d e F o rta le z a ), numa área pobre do Pio XII. Ia toda semana, fazia atendimento

à tarde nas quintas-feiras. Eu vi que o

atendi-mento médico é muito bem-vindo, as pessoas se sentem muito confortadas ... E via com esse atendimento médico em comunidade carente, eu via que algo mais deveria ser feito, não só pelo médico, mas pelo homem público. Aí des-pertou o interesse pela política. Porque aquelas pessoas vinham a mim, inclusive, para pergun-tar em quem elas deveriam vopergun-tar. "Doutor, em quem eu vou votar pra prefeito? Doutor, em quem eu vou votar pra deputado?" Aquilo me deu uma certa liderança. Eu associei a condi-ção de ter naquele bairro uma liderança com a vontade de, na política, fazer mais coisas.

Por-"Aquelas

r e g a l i a s

d e L a v r a s , d e c e r t a

f o r m a ,

m e d e r a m

u m a v o n t a d e

d e

n ã o p e r d e r .

M a s

e x i s t e u m

desejo

d e

d o m í n i o ?

N ã o . E s ó

d e r e s p e i t o . "

que o médico faz ao doente, faz ao que precisa do atendimento médico. O político faz na socie-dade como um todo, de outras doenças, que é a escola que não presta, é o calçamento que não presta, o saneamento básico que não exis-te, segurança pública. Tudo isso é vinculado à

política. Só a Medicina é muito limitada.

L i a n a - Falando sobre a época em que sur-giu o interesse pela medicina. A gente leu no material de produção que o senhor era uma criança que usava roupas brancas que a sua mãe fazia, o senhor tem a ideia de médico no interior como o salvador, aquele que entra na sua casa pra lhe curar. Então será que essa cul-tura de interior o trouxe à medicina?

H e i t o r - Não tenho dúvida. A figura do mé-dico na minha vida é desde quando eu me en-tendo de gente. Eu não imaginava outra pro-fissão, desde pequeno eu queria ser médico. Teve uma época, não sei se alguém falou ... Eu dizia que queria era ser padre. Não, né? Eu me lembro disso porque diziam que padre não morria (ris o s ). Depois que eu vi que padre mor-ria, eu disse: "Bom, então eu vou ser é médico mesmo". Mas desde o começo era medicina, só medicina.

C i n a r a - O senhor disse que o fascínio de amenizar a dor foi o que motivou o senhor a exercer a medicina. E a política, foi um fascí-nio também?

H e i t o r - Porque a política é um instrumento para curar todos os males. Não existe nada na vida das pessoas, nada que não seja política. Se você tem uma cidade que aplica bem os recursos de educação, é política de educação Porque a política orçamentária levou recursos para a política de educação. Se você tem um atendimento médico ruim ou bom, é política de saúde. Se você mora bem ou mal, é polí-tica de habitação. Se você tem segurança ou insegurança, violência ou não, é política de se-gurança pública. Se você tem o Estado econo-micamente bem ou mal, é política econômica. Então, tudo na vida do cidadão é política. Não existe nada que não seja política. E tudo que é política ou passa pela Câmara de Vereado-res ou passa pela Assembleia Legislativa ou passa pelo Congresso Nacional. Se você quer contribuir para equilibrar a sociedade, o único caminho é a política.

C i n a r a - Mas ela fascina o senhor?

(10)

Eu, na verdade, apesar de ser médico e con-inuar médico, mas o dia todinho fico atrás de

nformes para enriquecer o mandato.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C a r o l - A sua relação com o estudo é

mui-o fmui-orte. Isso não mudou tanto no colégio

quando o senhor veio pra Fortaleza, estudar

RQPONMLKJIHGFEDCBA

' 1 0 Liceu, no São João ... Tanto da faculdade

que o senhor disse que era muito recluso por-que os estudos eram muito pesados. Isso foi um fator pro senhor não entrar no Movimento Estudantil? Porque muitos políticos começam a carreira no Movimento Estudantil e o senhor não. Por que isso?

H e i t o r - Eu acho que tive ... Acho não, tive extremas limitações em desenvolver esta área na vida estudantil, eu não conseguia penetrar. Logo nessa época ... De 1968, quando cheguei aqui, até 1975, quando entrei na faculdade de medicina, e até 1985, quando eu já tinha ternado o curso 1981... Todo esse período foi mi-litar. Eu me lembro que mamãe dizia sempre: "Não se envolvam contra os militares". Porque ela queria dizer assim: "Não participem de mo-vimentos estudantis pra preservar a vida". En-tão pra mim não existia.

C a r o l - O senhor não tinha nem vontade de participar?

H e i t o r - Nem conhecimento. Eu inibi de tal forma, por conta da instrução de mamãe, que ... Ela disse: "Olhe, cuidado porque esses movi-mentos são perigosos", ou seja, eles tinham conhecimento, eu não tinha. Que fulano desa-pareceu, que fulano foi morto, né? Justamen-te nesse período de 1968 a 1972, né? Tempo

do Médici

ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(E m ílio G a rra s ta z u M é d ic i, g e n e ra l d o E x é rc ito e P re s id e n te d o B ra s il d u ra n te o

R e g im e M ilita r - 1969a 1973). Então, foi uma

castração. Eu me senti, durante todo esse pe-ríodo, castrado por temor de me envolver com esse movimento, tanto do colégio como da faculdade, não me envolvi. Porque houve uma castração em todos os setores do País. Nessa época há a ausência de muitas lideranças, os que foram, foram pra Araguaia, né? (G u e rrilh a d o A ra g u a ia , m o v im e n to c ria d o n o fim d a d é -c a d a d e 1 9 6 0 , -c o m b a s e n a re g iã o a m a z ô n ic a , e tin h a c o m o o b je tiv o u m a re v o lu ç ã o s o c ia lis ta , in s p ira d a n a s R e v o lu ç õ e s C u b a n a e C h in e s a ) e

outros movimentos. E muitos morreram.

G a b r i e l a - O senhor afirmou na entrevista com a produção que a sua entrada na política foi impulsionada, além da convivência com a comunidade carente, pela pouca importância que o Lúcio Alcântara (e x -s e n a d o r e e x -g o v e r-n a d o r d o C e a rá ) deu aos votos que o senhor conseguiu para a campanha dele a deputado federal em 1982, como forma de retribuir o seu primeiro emprego público, arranjado por Lúcio. Eu pergunto: se não existissem esses fatores, como esse caso do Lúcio e essa motivação na comunidade, o senhor consegue se enxergar I

fora do cenário político, ou contribuindo, de ou-tra forma, sem estar à frente?

H e i t o r - Se sem ter havido esses dois fato-res eu estaria político?

G a b r i e l a - É .

H e i t o r - A motivação inicial foi a de pergun-tarem em quem eu votava. "Doutor, em quem eu vou votar?", demonstrando que eu tinha li-derança, né? Isso desperta, naturalmente des-perta. "Olha eu ját ô indicando em quem votar. Posso ser político". Mas o que me motivou mes-mo foi nem ser político foi apenas demes-monstrar que tinha alguns votos. Quando, dentro de toda

Simpática e falante, Gabriela arrancou vários risos dos produtores. Contou que, no começo do relacionamento, Heitor enviava bilhetes assinan-do "Rotieh" para despistar o pai dela.

(11)

Gabriela cursa a facul-dade de direito na Univer-sidade de Fortaleza (Uni-for) e afirma conquistar vários votos para Heitor entre os estudantes.

Heitor cursava também Direito na Unifor quando ainda era vereador. Eleito deputado, o tempo ficou mais curto e teve de tran-car a matrícula.

a sua bondade, dentro do homem público que é o Lúcio Alcântara, ele é muito frio. Quando eu fui demonstrar esses votos que teria a intenção de dar, ele demonstrou pouco apreço ou que

eu não tinha

ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(o s v o to s ) ...Eu resolvi fazer assim: "Olha, eu vou mostrar que eu tenho esses

vo-tos". Não foi por ódio, de maneira nenhuma, foi apenas pra mostrar que tinha aqueles votinhos. Terminei me elegendo, mostrando que tinha essa liderança lá naquela região, que foi uma

região que me votou muito na época.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

G a b r i e l a - Então o senhor considera que

foi determinante?

H e i t o r - Foram fundamentais.

G e o r g e - O senhor sempre aderiu bastante aos conselhos da sua mãe. Mas a entrada na política foi um momento em que o senhor dis-cordou, quebrou essa .

H e i t o r -

É

verdade .

G e o r g e - Essa influência. Por quê? Como foi que se deu?

H e i t o r - Talvez (p o rq u e e u )(e s ta v a ) de pescoço mais grosso, né? Eu tenha dito as-sim ... Por convicção, eu achava que naquele momento eu podia não aceitar mais aquele conselho. Era um desafio. Foi um desafio. Tan-to é que mamãe ... Hoje ela até pede algum voTan-to a um amigo. Na época, ela nunca pediu voto pra ninguém. Fazia questão de dizer: "Se de-pender de mim, você não tem um voto". Por zelo também, porque ela achava que política não era uma área que pudesse nos fazer felizes.

R a p h a e l l e - O senhor fala desse momen-to de reclusão que passou logo que chegou em Fortaleza e depois na faculdade. Mas em contra ponto a isso, o senhor percebeu que ti-nha uma influência, titi-nha uma liderança sobre aquelas pessoas, sobre aquela comunidade carente, mas também com seus amigos, que ajudaram e incentivaram o senhor a participar da política. Eu queria que o senhor analisasse

"Eu

d i z i a q u e q u e r i a

e r a s e r p a d r e

( . . . )

p o r q u e

d i z i a m

q u e

p a d r e

n ã o m o r r i a .

D e p o i s

q u e e u v i

q u e p a d r e

m o r r i a ,

e u d i s s e :

/180m,

e n t ã o v o u s e r é

m é d i c o

m e s m o . "

um pouco essa transição desse homem reclu-so, desse jovem recluso pra esse líder.

H e i t o r - Olhe, eu acho que o tempero disto é só alegria. Eu era muito extrovertido. Depois dessa fase dos dois anos (d e re c lu s ã o ), eu pas-sei a ser o que eu era mesmo, extrovertido, ale-gre, solidário, gostava muito de brincar, e isso vai penetrando nas pessoas.

É

uma presença leve, pessoa alegre que está sempre de astral elevado, vai contagiando e as pessoas vão se aproximando como que buscando uma alegria que não estão tendo. Porque as pessoas mais alegres aonde chegam se deixam notar, né? Eu considero que no meio dos meus amigos, o que me deu a ideia de ser político, era essa ale-gria e o fato de sempre estar, depois de estu-dante de medicina, atendendo, mesmo como estudante, já atendia, né? Tinha aquele apare-lho de tirar pressão, eu ia na casa das pessoas que me pediam: "Olha, fulano não tá bem" e eu ia atender. Quer dizer, a medicina foi um instru-mento, depois da alegria pessoal, da aura que a pessoa tem natural, né? A medicina foi o ins-trumento principal pra essa entrada na política.

G e o r g e - E o pai do senhor como enxerga-va o fato de o filho seguir os mesmos passos do pai?

H e i t o r - Também nunca aconselhou que entrasse. Não dizia nada contra, mas também nunca foi de estimular, nunca estimulou.

G a b r i e l a - O senhor se reconhece na atua-ção dele como político, na sua atuaatua-ção hoje? O senhor se inspira nele?

H e i t o r - Não. Por quê? Porque naquela épo-ca os políticos viviam apenas de manter o

ste-tu s q u o . Papai foi vereador, foi presidente da Câmara, pra manter o s ta tu s q u o . A vida par-lamentar do meu pai pode passar em brancas nuvens. Porque era uma coisa tão intocável. tão pouco cobrada ... Hoje eu não me lembro do meu pai como vereador fazer o que hoje eu vejo as pessoas fazerem ... Aquela multidão de gente dentro da casa. Não. Eu nunca vi lá em casa ninguém aperreando o papai por ele ser vereador, ou seja, era cumprir uma tabela. Pa-pai teve uma ação parlamentar de ... Não, por-que era dos por-que dominavam, né? Eles queriam manter aquele s ta tu s q u o .

G a b r i e l a - Mas na postura dele, como a Ca-rol tinha perguntado ao senhor ...

H e i t o r - Aí é a figura humana.

G a b r i e l a - O senhor reconhece na sua atu-ação política?

(12)

- gos, mas a atuação parlamentar ... Primei-- porque a Câmara se reunia uma vez por semana, como se reúne hoje, né? E, naquele

srnpo, muito, muito, muito rapidamente. En-

RQPONMLKJIHGFEDCBA

- : ; 0 , a vida parlamentar do papai, eu posso

_ zer, que passa em brancas nuvens.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

G a br i e l a - Eu vou insistir ... Quando o se-or tenta refletir sobre o político que é hoje,

=

tenta lembrar da sua infância, o que viria ao senhor dessa figura do seu pai, da admiração

e o senhor tinha pelo seu pai?

H e i t o r - Pois é, eu não consigo ver papai, -unca vi papai como representante popular

=

eito pelo voto popular. Porque era uma coi-sa tão natural que acontecia ...

É

como se não ""'Ouvessenem disputa naquela época. A figura ao papai que me impressiona, que eu gosto de dizer que pareço com ele, é a figura humana.

as a figura política, digamos assim, passou em brancas nuvens. Eu nunca, praticamente, senti que papai tinha tido voto pra ser vereador.

G e o r g e - A sua primeira candidatura para ereador foi feita com o apoio dos amigos, que ajudaram financeiramente e na administração da campanha. Ouais foram as dificuldades des-sa campanha entre amigos?

H e i t o r - Foi uma campanha muito sem compromisso, eu não entrei pra ganhar, eu en-ei apenas com o intuito de dizer que tinha al-guns votos. Como uma autoafirmação: "Eu vou mostrar que tenho esses votos". Tanto é que eu não me elegi logo no primeiro momento.

Fortaleza tinha 33 vereadores, eu fui o sétimo

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e m n ú m e ro d e v o to s ) do POT. Nessa época o

a tu a lm e n te s e n a d o r d a R e p ú b lic a ) Inácio Arru-da foi coligado do PC do B. O POT fez sete (v e -re a d o -re s e le ito s ) com o Inácio. Fez seis e com

Inácio, sete. Eu, com 1710 votos, fiquei como primeiro suplente. Quando eu me elegi (e m v e rd a d e , e le q u e r d iz e r s e c a n d id a to u ), passei a ser o primeiro suplente, aquilo não represen-tou derrota porque ... Os amigos sabiam que a gente estava entrando naquilo, mas não tinha chance de ganhar, não tinha chance de ganhar. Quando houve o aumento da Câmara de Vere-adores, de 33 para 41(v a g a s ), foi em 1988, eu fui chamado pra preencher essas 41 vagas, que são as que têm hoje.

L i a n a - Quando o senhor se legitimou como vereador, quais foram as primeiras impressões, as primeiras responsabilidades que o senhor acha que ...

H e i t o r - (a n te c ip a n d o -s e ) A grande respon-sabilidade é que a gente teve de ser constituin-te. Eu passei a estudar ... Era a Constituição de

1988, que foi promulgada em 5 de outubro, né? A (C o n s titu iç ã o ) do Ceará foi em 1989 e a Lei Orgânica (d e F o rta le z a ) seria logo em seguinte, ou seja, o grande desafio do primeiro mandato foi estudar pra ser um grande constituinte mu-nicipal. Então, a expectativa toda era porque a

"Eu

i r p a r a o P D T ,

f o i p e l a f i g u r a d e

B r i z o l a . E p o r q u e

a c r e d i t a v a

q u e o

ú n i c o c a m i n h o

q u e

f a z d i f e r e n ç a

e n t r e

f r a c a s s o

e s u c e s s o

é

a e d u c a ç ã o . "

gente ia fazer a Lei Orgânica de Fortaleza.

C a m i l a - O senhor falou que entrou nessa primeira disputa por questão de autoafirma-ção. Por que foi necessária essa autoafirmação, além daquela questão de provar pro Lúcio que tinha os votos?

H e i t o r - Pronto. Só isso.

L í v i a - Mas como o senhor tinha afirmado antes, no ambiente familiar, esse imaginário político, não de maneira tão clara, sempre lhe cercou. O senhor falou que tinha a necessida-de ou sentia que, como parte daquela família, o senhor deveria ser respeitado e tinha de buscar o respeito. Isso também fez parte dessa moti-vação, isso entra na questão de tentar se auto-afirmar perante a sociedade?

H e i t o r - Não, não. Quando eu busquei a candidatura pra ter esses votinhos era pra dizer que tinha. Quando eu tive o risco de ser eleito e fui ... Aí muda tudo porque você está dentro de um contexto onde você passar a ser agora representante popular, que tem uma outorga popular, que tem um mandato popular, e você vai como que passar a borracha em tudo aqui-lo que poderia apenas ser uma brincadeira pra mostrar que tinha voto ou pra mostrar que tem liderança naquela área. Isso teve de desapa-recer. Porque tive de botar os pés no chão e dizer que eu era agora representante popular, eu tinha de ter uma desenvoltura pra poder retribuir a quem me elegeu, que eram muitos anônimos já nessa época porque eu não tinha 1700 amigos, que eu fui apertar cada mão. Os votos que vieram foram de pessoas que pedi-ram a outras, né? Um colega, um amigo, pediu a outro, pessoas desconhecidas. Baixou em mim o espírito que deve baixar em todos nós: de homem público, da responsabilidade de ter um mandato popular e fazer com que esse mandato tenha uma responsabilidade de ser bem representado.

C a r o l - Desde o início da sua carreira como

Flávio Torres, ex-sena-dor e um dos amigos de Heitor entrevistados pre-viamente pela produção,

é entusiasta de esportes radicais, como aviação de ultraleves e motociclismo.

o

político e físico já esta-va com uma viagem mar-cada para o dia seguinte à

(13)
(14)
(15)

Sobre as característi-cas pessoais do amigo,

Flávio disse que "ele

RQPONMLKJIHGFEDCBA

é de uma delicadeza feminina".

Brincou ainda dizendo que, provavelmente, Hei-tor nunca se candidatou a deputado federal porque tem pavor de avião.

o

vereador Iraguassú Teixeira foi contatado pela produção para falar sobre o colega de partido, mas a entrevista acabou sendo cancelada devido à agen-da lotaagen-da do político.

político, O senhor está no POT. Por que essa

es-colha pelo POT, que tipo de identificação o se-nhor viu entre os seus princípios e os princípios

pregados pelo partido?

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

H e i t o r - Por conta de Brizola

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(L e o n e l B riz o la , p o lític o g a ú c h o fu n d a d o r d o P D T q u e m o rre u

e m 2 0 0 4 ). Eu ir para o POT, foi a figura de Bri-zola (q u e m o tiv o u ). E porque acreditava que o único caminho que faz diferença entre fracasso e sucesso é a educação. E como Brizola defen-dia muito essa área da educação, e minha mãe defendia também ... Então, o que me fez ir para o POT é que o programa de Brizola, o que Bri-zola pregava com Oarcy Ribeiro (a n tro p ó lo g o , e s c rito r e p o lític o fu n d a d o r d o p a rtid o , m o rto e m 1997), através do que ele queria ter que era PTB, mas que terminou ficando como POT por-que tomaram, era a educação de qualidade em tempo integral. Aquilo ali era pra mim o princí-pio e o fim de uma política de respeito. Era ter escola pra todos de maneira igual.

R a p h a e l l e - O presidente de honra do POT

(n o C e a rá ) e seu amigo, Flávio Torres (e x s e n a -d o r p e lo p a rti-d o ), disse em entrevista à produ-ção que o senhor é "uma pessoa extremamen-te fiel, mas é mais a ele do que ao partido". Em passagem pelo curso dos Novos Talentos, do jornal OP o v o , o senhor afirmou que "queria ser mais estudioso para fundamentar a tese de que não precisamos de partidos políticos porque eles só servem para barganhar cargos". Qual é a importância, então, do POT pro senhor e por que o senhor se mantém nele?

H e i t o r - O Flávio não peca em dizer isso, não. Hoje eu estou sendo mais partidário. Hoje estou procurando ser mais partidário. O Araújo Castro, que já é falecido, que era secretário-ge-ral do POT,dizia que eu tinha três facetas: o Hei-tor médico, o HeiHei-tor amigo e o HeiHei-tor político. E o Heitor político partidário era um fracasso.

(d iz ia A ra ú jo C a s tro :) "Você como homem de partido é um fracasso. Você é amigo, você é um médico que quando eu preciso você está aqui em casa, mas como político partidário você não existe". Porque eu me abstraí muito da vida partidária e procurei, dentro do meu mandato - embora a figura do Brizola é o espe-lho, é a meta -, eu passei a ser muito pedetista sem a vida partidária dentro do partido, sem ter a vida vivida dentro da militância política do POT. Eu abracei as bandeiras do partido, tan-to é que hoje tan-todo mundo sabe que eu sou do POT. "0 Heitor é a cara do POT", mas com essa visão que o Flávio tem.

R a p h a e l l e - Mas quando o senhor diz que queria defender a tese de que não é preciso existir partidos políticos, é uma contradição, né? Como é que o senhor ...

H e i t o r - (in te rro m p e n d o ) Oeixa eu explicar ...

R a p h a e l l e - Por que isso?

H e i t o r - Os partidos políticos no Brasil, com

raríssimas exceções, e não sei nem se tem ... Todos querem chegar ao poder. Todos querem o poder. E, quando os partidos chegam ao po-der, todos querem aparelhar o poder pro par-tido. E o aparelhamento que se faz do partido no poder é um mecanismo de se apoderar do poder da máquina através de cargos. No Brasil, a marca dos que detêm a direção de partidos é de querer apoiar governos para ter prestígio na máquina, pra ter cargos na máquina. Por exemplo, o Tony Blair (e x -p rim e iro m in is tro d o R e in o U n id o , d e 1997a 2 0 0 7 ), o Gordon Brown

(ta m b é m e x -p rim e iro m in is tro d o R e in o U n id o , d e 2 0 0 7

a

2 0 1 0 ),esse agora, o Oavid Cameron

(a tu a l p rim e iro -m in is tro ), eles têm o direito de indicar na Inglaterra 110 cargos quando rece-bem o ministério. Isso eu peguei na Internet. Sai Chica e entra Maria ... A personalidade da máquina inglesa, e de muitos países, é própria. Quer chegue A, B ou C.

No Brasil, eu vou dar um exemplo que eu conheço ... Fortaleza tem quase 4 mil cargos para a prefeita dizer de quem são, cargos de confiança. E para quem são esses 4 mil car-gos? Para os donos de partidos, incluindo os parlamentares, incluindo as lideranças, indi-carem um a um: diretor, chefe, coordenador, secretário. Fortaleza tem 4 mil cargos. O Go-verno do Ceará tem 8 mil cargos, pra quem? Para os que detêm lideranças partidárias. 0 0

-nos de partidos, parlamentares, lideranças re-gionais. A Presidência da República, (te m ) 23

mil cargos! Você já pensou o tempo que leva para o governador distribuir 8 mil cargos? E pra quem são esses cargos? Para os que de-têm partidos políticos. Quem não quer cargos, fica fora. No caso, eu ... Nunca negociei cargos dentro do partido!

O partido agora está apoiando o Cid (G o

-m e s , g o v e rn a d o r d o C e a rá ), né? Não tem um cargo que eu vá pedir lá. Porque eu acho que

"Acho

q u e a r e l i g i ã o

t e m

e s s e v i é s d a

m a n u t e n ç ã o

d o

s t a t u s q u o ( . . . ) .

E s s e s d o g m a s

n ã o

m e i n i b e m . A j o c o m

c e r t a i n d e p e n d ê n c i a .

(16)

_ parlamentar deve ser independente para

der exercer o seu

ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

m is te r, que é a represen-

RQPONMLKJIHGFEDCBA

- - ç ã o popular. Quando você passa a ter o

ta-ã o do partido dizendo como você se conduz, cê termina deixando de ser você pra ser o e o partido quer. E muitas vezes o partido

4 er que você seja submisso por conta

des-s podes-siçõedes-s no Governo.

É

o que defendo: o eal era que não existisse partido para que as essoas pudessem ser independentes sem a

reção partidária.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

L í v i a - O senhor falou do aparelhamento

os partidos e do contexto nacional dos par-dos. Quando o senhor foi presidente do PDT Ceará, o senhor teve uma tentativa de esti-ular uma estratégia que seja diferente a essas ue são mais usuais na política partidária?

H e i t o r - Eu fui um péssimo presidente de oartido, Péssimo presidente! Eu praticamen--e não existia como presidente do PDT.

Por-ue fui eleito pelo Flávio e pelo Araújo, que raticamente me nomearam presidente. Fui ~ eito pelo voto, mas me entregaram a presi-dência. Porque assim que eu me elegi, houve ma ruptura muito grande no PDT, um lado do =Iávio (e o u tro ) de Pedro Albuquerque (s o e i-lo g o , a d v o g a d o e m e m b ro d o P D T d o C e a

--á). E eu, dividido, não administrei o partido. E

t a m b é m nunca tive a percepção de aparelhar o partido pra mim. Nunca! Quando passei a presidência pro André, passei desprendido de todo o desejo de domínio. Tanto é que passei e ele (A n d ré F ig u e ire d o ) perguntou: "Heitor,

você

tem interesse de ser reeleito?". Eu disse: Não". Ele disse: "Porque eu queria ser can-didato", "Pois então de minha parte não tem nenhum problema. Fala só com o Flávio e com o Araújo porque são eles que detêm o poder partidário". E foi dada a ele a condição de ser eleito presidente do PDT.

L í v i a - Mas fora essa ruptura, que foi um dos problemas, o senhor teve outras dificulda-des de tentar exercer essa figura partidária?

H e i t o r - Muitas, porque eu nem poderia de-sagradar ao Flávio, por lealdade e gratidão, e ti-nha muito respeito pelo Pedro Albuquerque. E eles viviam em confronto. Então, eu levei uma presidência sem marca, eu não tive nenhuma marca como presidente do PDT.

G e o r g e - O Flávio mencionou que uma das causas da sua dificuldade na presidência do partido foi porque o senhor não tinha interes-se de trocar favores com políticos, em oferecer cargos, benefícios ...

H e i t o r - Eu nunca usei a presidência para prestigiar partidários. O próprio presidente de partido no Brasil que não se utiliza da presidên-cia para satisfazer partidários é fadado ao fra-casso, porque esses cargos que eu falei estão

à disposição dos partidos. E eu tinha e tenho grandes dificuldades em aceitar esse s ta tu s

"você

t e m

d e

f a z e r a f u n ç ã o

d o r e p r e s e n t a d o .

P o r q u e

e l e d i s s e

(...) "você

v a i s e r

m e u

r e p r e s e n t a n t e ,

m e u

d e p u t a d o " .

P r a q u e s e r v e

u m

d e p u t a d o ?

P r a

f i s c a l i z a r

e l e g i s l a r . "

q u o , sou contra ele. Esse s ta tu s q u o , eu sou totalmente contra ele. Os partidos e os parla-mentares devem dar governança, mas sem submissão e sem troca de favores.

G e o r g e - Mas essa postura idealista não torna mais difícil fazer política?

H e i t o r - Torna, torna. Tanto é que até pou-co tempo eu era completamente só, comple-tamente só. A minha vida partidária, embora não me submeta a isso, é que hoje eu já tenho dentro do partido uma melhor avaliação pelos partidários por conta da vida partidária, mas não de se beneficiar, de indicar cargos.

C a r o l - O senhor vem de uma família de políticos, de uma tradição política muito forte. Mas, quando o senhor entra na política, aca-ba com vários privilégios políticos como, por exemplo, a pensão de vereador que podia se aposentar com dois mandatos, acabou com o 13Q e 14Q salários de vereador. Isso é um

re-flexo do que o senhor via no interior, do que sua mãe contava dos mandos e desmandos daquelas pessoas em Lavras?

H e i t o r - Não, não. Essa visão foi adqui-rida na capital. E foi adquirida muito, muito, muito, muito pela ... Pautada pela imprensa. Essa posição, essa conduta ... Muito da minha conduta foi pautada pela imprensa, pelo que a imprensa achava como correto e aquilo eu absorvi com muita facilidade. Tanto é que es-sas minhas lutas todas, eu só consegui che-gar até elas ... A primeira, a pensão, eu disse que foram sete companheiros, né? Porque a imprensa nos apoiou integralmente contra essas imoralidades.

G a b r i e l a - Heitor, nós sabemos que, hoje, para o senhor conseguir uma campanha po-lítica, é preciso ter apoio político e financeiro, que são situações difíceis de contornar,

mes-Para fazer a pré-entre-vista com Heitor, a produ-ção teve de esperar quase 2h no gabinete do deputa-do até ter uma chance de falar com ele. A demora já era esperada.

(17)

Algumas ruas da região estavam interditadas, o que dificultou o acesso ao local. Por conta disso, três alunos chegaram alguns minutos atrasados.

o

imprevisto, porém, não afetou o bom anda-mento da entrevista. Os estudantes que chegaram atrasados prontamente se juntaram aos colegas.

mo quando a pessoa não gosta desse tipo de

apoio. Em entrevista ao jornal O

ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

P o v o , no dia 25 de outubro do ano passado, o coronel (b a n

-q u e iro e e x -g o v e rn a d o r d o C e a rá ) Adauto Be-zerra afirmou que contribuiu financeiramente com a sua campanha. Como o senhor lida com essas obrigações que a política traz? Eu quero saber também se o apoio financeiro prejudica a atuação.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

H e i t o r - Não, não prejudica. Eu respondo por mim. Pela primeira vez na minha campa-nha eleitoral eu tive uma ajuda exponencial de alguém como foi a do Adauto Bezerra, ele é ex--governador, ex-deputado federal, banqueiro. E por que eu tive ajuda do coronel Adauto? Por-que pedindo voto lá no banco, ele sai da sala dele, e me viu pedindo voto com cartãozinho, aquele santinho, né? Aí: "Meu filho, você vai se candidatar a deputado pedindo voto assim?" "Como, coronel?" "De um em um?" Eu disse:

"É".

"V o c ê faz sua campanha de deputado

pe-dindo voto de cartãozinho em cartãozinho?" Eu disse:

"É,

é desse jeito." "Quer dizer que você se elege dessa maneira?". Eu disse que sim. "E daqui você vai para onde?" "Daqui, coronel, vou para a(a v e n id a ) Monsenhor Tabosa, que eu fi-quei de passar de loja em loja lá." Ele disse: "Eu lá acredito nisso! V o c ê quer uma ajudinha?" Eu digo: "Ora, coronel, quem não quer?" Ele disse: "Pois eu vou lhe dar um material de campanha, papel, você quer?" Eu disse: "Ah, você salvou minha campanha". Porque aí me deu a ideia de eu ter milhões de santinhos. Quando eu fui lá, disse: "Coronel, tem de ser oficial". Ele dis-se: "Não, é oficial. Eu vou lhe dar, você traga o recibo, que eu quero assinar". Aliás, ele dis-se assim antes: "Só quero que você não diga a ninguém, que eu lhe ajudei". Eu disse: "Tem de ser oficial". E ele: "Não, oficial eu sei que é,

mas não diga a ninguém". Eu não disse nem

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à

minha mulher.

Quando foi na entrevista (n o jo rn a l OP o v o ),

para minha surpresa, estava lá que ele tinha me ajudado. Eu digo: "Bom, já que ele disse, eu agora posso dizer". Ele mesmo que pediu segredo e ele mesmo disse à imprensa, ótimo. Porque o que poderia ser segredo, que não é segredo porque está declarado na Justiça Elei-toral, né, a ajuda que ele me deu está lá. E como ele disse. Depois minha mulher (d is s e :) "Mas Heitor, tu nunca me disse que o coronel Adauto tinha te ajudado". Ele pediu segredo, como é que eu ia dizer? Mas em nenhum momento o coronel Adauto me ligou para dizer: "Olha, vote assim, veja assim, veja assado". Ele me conhe-cendo, ele sabe da minha conduta, né? Pode até pedir coisas que a gente concorde.

G a b r i e l a - Mas nessa entrevista ele de-monstrou uma admiração pelo senhor. Seria uma forma de agradar a alguém que ele ad-mira, ele demonstrou por que essa admiração

pelo senhor como político?

H e i t o r - Pela minha conduta como verea-dor. E esse bem querer lhe agradou. Pela minha conduta, minha valentia cívica. Tanto como ve-reador, quanto como deputado. Eu não tenho com o coronel Adauto nenhuma aproximação de vida pessoal. Ele conhecia meus pais. Tenho um tio que foi prefeito de Juazeiro que era mui-to amigo dele. Mas, com ele mesmo, não tenho convivência.

É

admiração (d e le ) pelo mandato.

C a r o l - Muitos falam que o senhor não tem um discurso ideológico, o seu discurso é mais prático. O senhor não levanta bandeiras isola-das, como educação ou saúde. O senhor não tem nenhuma identificação ideológica?

H e i t o r - Não, eu sou mais é a prática do dia a dia, o meu ideal é buscar a solução dos pro-blemas que hoje estamos vivendo. E não tem escola maior na vida do que a própria vida. O dia a dia é uma grande escola! Quem é médi-co, como eu, do serviço públimédi-co, todo dia nós temos problemas batendo para ter soluções Todos os dias.

G e o r g e - Alguns dizem que o seu maior compromisso é com seus próprios princípios morais e éticos, que, segundo o senhor mes-mo, são influenciados pela religião. No entan-to, a religião frequentemente funciona na for-mação de personalidades mais conservadoras defensoras dos ta tu s q u o . Por que no seu caso a religião colaborou para uma personalidade mais questionadora?

H e i t o r - É . Eu acho que a religião tem esse viés da manutenção do s ta tu s q u o mesmo não quer grandes avanços. Eu me posicionc do outro lado. Mantendo os princípios éticos mas sempre avançando e buscando o que a sociedade inteira quer. Esses dogmas não me inibem, não prevalecem. Eu ajo com certa in-dependência. Aliás, com muita independência

Esse discurso aqui do Flávio Torres me orienta muito (m o s tra u m a m o ld u ra c o m

urr

d is c u rs o d o e x -s e n a d o r): "V o u encerrar dizer-do que exerço meu mandato obedecendo -três lealdades: a primeira é com meu estadc junto com os senadores Tasso (J e re is s a ti) s :

Inácio Arruda, com os quais me dou perfeita-mente bem. A segunda lealdade é com o me, partido, que ajudei a fundar e cujo program= ajudei a escrever. A terceira lealdade, que g verna as duas anteriores, são os princípios m -rais e éticos que construí ao longo de rnlnba vida. Não há Ceará e não há partido que Il'~

faça contrariar esses princípios". Isso aqui boto porque eu gosto de fazer também.

C a m i l a - Heitor, quais são esses dogma que o senhor acabou de falar que o senhor ...

(18)

"Tenho

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u m a c a s a

d e a p o i o

p a r a

r e c e b e r

p e s s o a s

c a r e n t e s .

M a s e u

v o u p e n s a r n e s s e

a s s i s t e n c i a l i s m o

.

c o m o

u m a

coisa

e g a t i v a

s e e u e s t o u

f a z e n d o

o b e m

a q u e m

n ã o t e m

c o m o

f a z e r l á ? "

muito... A

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(u n iã o ) homoafetiva

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é um horror para eles ... Preservativo. Tem outro ... Aborto. O

aborto eu defendo como está, não aceito avan-ços também. Que a pessoa vá abortar, como queria um segmento da política, ter o Estado pronto para fazer aborto em quem quisesse vir fazer. Não pode. O aborto é feito dentro do que estabelecem hoje os códigos brasileiros. O es-tupro, se a pessoa quiser. Doenças que podem comprometer ... Aí tudo bem! Avançar mais, de você querer dar mais liberdade para a pessoa fazer o abortamento, eu não concordo .

C i n a r a - O senhor estava dizendo sua opi-nião sobre o aborto. E a sua religiosidade inter-fere em sua opinião em relação a esses outros assuntos que o senhor citou, a homoafetivida-de, o uso de ...

H e i t o r - (in te rro m p e n d o ) Não, aí eu vou ... Se (a re lig iã o ) interferisse, eu seria contra a homoafetividade, e eu não sou. Porque não é nem opção, é direito. A pessoa tem o direito porque é desejo, porque é hormonal, e contra isso não tem como você querer conter com le-gislação, ou então por determinação religiosa.

L í v i a - Mas esse ímpeto questionador, essa influência vem de onde, se não da religião, en-tão de leituras? Ou tem algum processo ...

H e i t o r - Eu acho que esse ímpeto ques-tionador vem da religião, sim, porque Jesus Cristo foi um grande questionador da Justiça da época.

G e o r g e - O senhor foi oposição ao Juraci

(M a g a lh ã e s , p re fe ito d e F o rta le z a p o r trê s m a n -d a to s ), como vereador, e ao Lúcio (A lc â n ta ra , e x -g o v e rn a d o r), como deputado estadual, jun-to com seu partido. Mas, com a vitória de Cid, o senhor teve uma chance única de aderir à base aliada do governo. Por que o senhor decidiu contrariar o partido e manter-se na oposição?

H e i t o r - Olha, a função do parlamento é de dar governança, sem se submeter. A função do parlamentar, que está constitucionalmente es-tabelecida, é de legislar e fiscalizar os atos de governo. Fiscalizar todos os atos do Governo, não é do governador, é do Governo. Você tem de fiscalizar os atos do governante e também fiscalizar os atos do Governo, que são seus colaboradores. O governo é cheio de parti-dos. Hoje o Governo do Estado do Ceará tem PMDB, tem PT, tem PSB, PCdoB, PDT, PSC, PHS ... Todos os partidos, quase todos, fora o PSDB, estão na base do Governo. A minha res-ponsabilidade de fiscalizar o gestor e a gestão é porque a ele foi dado o direito de manipular o que é nosso, que é o nosso dinheiro. E a ele foi dado o direito de, discricionariamente, dizer o que é ou não prioridade para o Estado. Mesmo o partido estando aliado, eu não posso deixar de exercer as minhas funções constitucionais, que são de cumprir o juramento, de cumprir a Constituição do Brasil e do Ceará. Está pregado

Liana chegou com "cara de choro" e sentou ao lado do entrevistado. Depois, ela contou que, por causa dos desvios e do nervosismo, se perdeu e foi parar na Av. Antônio Sales, na altura do Colégio 7 de Setembro (distante cerca de dois quilômetros da Assembleia).

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No começo da entre-vista, o sistema de som da sala transmitia os pro-nunciamentos dos parla-mentares. O barulho atra-palhava Camila, Amanda e Carol, que estavam sentadas bem abaixo das caixas de som.

Logo o professor Ronal-do pediu para Heitor dimi-nuir o volume e tudo se re-solveu. Mas a televisão da sala continuou a transmitir as imagens do plenário.

na minha bancada lá, desde o primeiro manda-to, está lá fixado: "Cumprir a Constituição do Estado e a do Brasil".

Então, dentro do cumprir a Constituição e a legislação infraconstitucional, existe a le-galidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência. Todo governo, o que norteia a administração pública ... E a ad-ministração pública é Judiciário, Legislativo e Executivo ... O governo são os três poderes. O governo não é só o governador, o Executivo é o governador. Mas o governo é tudo. O Execu-tivo é o Presidente da República. Todos os atos do governo, eu tenho de fiscalizar se eles são legais, impessoais, morais, públicos e eficien-tes. Se sair disso, pode ser do meu partido, eu sou obrigado a questionar.

Por exemplo: é moral o governador peqar uma aeronave, alugar uma aeronave por quase 400 mil reais e ir para a Europa para ver aquele

Carnaval? E dentro dele jogar familiares seus

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(re fe re -s e a u m a v ia g e m fe ita p e lo g o v e rn a d o r C id G o m e s n o a n o p a s s a d o )? Claro que não é moral.

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É ilegal? É ilegal também, porque a lei estabelece que não pode. Diante de um ato desse eu vou ficar calado, porque o partido dá apoio? Não. Porque eu tenho de cumprir a mi-nha função, constitucional que o partido tam-bém deve cumprir, porque o partido não está acima da Constituição. Ele tem de estar em consonância com o que diz a Constituição Bra-sileira e a Constituição do Ceará. Diante de um fato desse eu posso estar a favor do Governo? Claro que não! O governador sai daqui com um empresário que trata de negócios no Estado, na aeronave dele.

É

moral? Não, é imoral.

É

crime de improbidade, embora a Assembleia entenda que não. Porque, se todos aqui têm negócios com o Estado, todos disputam ICMS

(Im p o s to s o b re C irc u la ç ã o d e M e rc a d o ria s e S e rv iç o s ), disputam área do Estado, impos-tos ... Você tem uma aeronave e fica me dando essa aeronave para eu viajar. Chega um mo-mento em que o Estado vai distribuir as benes-ses, e eu vou dar para quem? Para quem me deu a aeronave (re fe re -s e a o u tra v ia g e m fe ita p e lo g o v e rn a d o r e m u m a a e ro n a v e d o g ru p o e m p re s a ria l G re n d e n e , a o s E U A ). Por isso que é proibido o Governo do Estado tratar pessoal-mente com alguém que, impessoalpessoal-mente, tem negócio com o Estado. Posicionei-me contrário também, levei a público.

O Estado do Ceará faz um investimento de 21 milhões em uma estrada. São essas aqui

(e n q u a n to fa la , m o s tra v á ria s fo to s d e e s tra d a s d o E s ta d o ). Vocês já viram, né? O governador, em março, inaugura uma estrada, entrega para a sociedade, essa estrada que ele inaugura em março toda bem asfaltadazinha, quando é em maio está desse jeito (m o s tra a fo to d a s itu a ç ã o d a e s tra d a e m m a io ), uma estrada que custou

"Carqos

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q u e

a p a r e l h a m

a p r e f e i t u r a ,

( v o u ) r e d u z i r

d r a s t i c a m e n t e ,

-

-p o r q u e

n a o s a o

n e c e s s á r i o s ,

e l e s

e x i s t e m

p a r a

a c o m o d a r

a s

f o r ç a s

p o l í t i c a s . "

21 milhões aos cofres públicos, tá certo? O que eu fiz? Levei à imprensa, denunciei que essa estrada teve problemas de feitu-ra. Essa daqui não foi entregue ainda, já está tampando os buracos, 21 milhões também, tá aqui a própria construtora fazendo tapa buraco, essa liga Maranguape a Palmácia (m u n ic íp io s s e rra n o s n a R e g iã o M e tro p o lita n a d e F o rta le

-z a ). Diante disso, que o Governo mostrou que

é ineficiente, eu posso ficar calado? Não posso, porque a constituição me obriga a fiscalizar os atos do governo. Tenho de levar a público, por-que o Governo está sendo ineficiente ou então está usando maios recursos públicos. O parti-do está erraparti-do? Tá erraparti-do. É por isso que cria esse problema entre mim e o partido. Eu não posso me calar diante de um compromisso que eu tenho, que é fiscalizar os atos do Governo.

G a b r i e l a - O senhor é tido como oposição, como já ficou claro, mas o senhor também já afirmou várias vezes que votou mais a favor do Governo do que contra, e de uma forma bem significativa. Então o senhor diria que no geral se identifica com as ideias do Governo?

H e i t o r - É , muito do que ele apresentou eu concordo, muitas das matérias que ele man-dou para cá, de 110 eu votei contra sete, é por-que está no caminho mais certo do por-que errado. Agora, eu não posso é dar unanimidade a ele, e achar que ele tá certo em tudo, ele mandou 17 mensagens para cá, eu votei contra uma.

L í v i a - O senhor acha um paradoxo, então, ser identificado pela imprensa ...

Referências

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