Mormo
Por Tania Maria de Paula Lyra* e Victor Miguel Ayres**
1. Introdução
O mormo é uma doença contagiosa e geralmente fatal dos equídeos, em especial dos cavalos, jumentos e mulas. A doença foi descrita por Aristóteles (384-322 a C), citado por Blancou, 2000. É transmissível aos gatos (domésticos e selvagens), aos cães, cabras e ao homem e causa nódulos e ulcerações no trato respiratório superior e pulmões. A forma cutânea ocasiona nódulos superficiais ou profundos que se transformam em úlceras, que excretam um líquido que aglutina os pelos. Antigamente, o homem que se contaminava pelo contato com animais doentes contraia uma infecção quase sempre fatal. Atualmente, a doença no homem, caso seja imediatamente diagnosticada e, tratada com antibióticos, pode ser curada. Muitos casos de mormo foram descritos no passado em pesquisadores de laboratório, ao manipularem as culturas ativas. O controle da doença é realizado em testes de casos suspeitos, triagem de equídeos aparentemente normais e eliminação dos reagentes. O agente etiológico do mormo é o Burkholderia mallei, anteriormente descrito como Pffeiferella, Loefflerella, Malleomyces ou Actinobacillu smallei e mais recentemen- te, como Pseudomonas mallei. Mosby, em 1999.
2. Distribuição geográfica
Acha & Szyfres, 2003, relataram que a doença esteve muito difundida em todo o mundo, porém foi erradicada da Europa e das Américas (Estados Unidos em 1937). Em 1965, foram descritos focos na Grécia, Romênia e Brasil.
Atualmente o mormo é considerado endêmico no Oriente Médio, na, Ásia, África e Amé- rica do Sul (Brasil), onde a partir de 1999, vários casos foram reportados. A distribuição geográfica da B. mallei é dificultada pelas reações cruzadas com B. pseudomallei.
2.1- o mormo no Brasil
De acordo com os dados de Langenegger et al. (1960), no Brasil a doença foi descrita pela primeira vez em 1811, introduzida provavelmente por animais infectados importados da Europa (Pimentel 1938), ocorrendo verdadeiras epizootias em vários pontos do terri- tório nacional, vitimando muares, cavalos e humanos que adoeceram com sintomatologia de catarro e cancro nasal. Após vários relatos em diferentes estados, a doença parecia ter sido erradicada no Brasil sendo a última referência a um foco de mormo no município de Campos, no Rio de Janeiro, Langenegger et al. (1960). A partir de então, o mormo foi considerado, uma doença erradicada no Brasil.
Trinta e nove anos depois, em 1999, Rinaldo et al (2000), descreveram a presença do mormo em equídeos em Pernambuco e Alagoas. A doença foi estudada em três proprie- dades rurais, com realização de visitas, análise dos históricos, exames clínicos e reali-
27out
2015
* Tania Maria de Paula Lyra é médica veterinária, mestre em Medicina Veterinária Preventiva, doutora em Ciência Animal, consultora em Defesa Agropecuária da CNA.
** Victor Miguel Ayres é
engenheiro agrônomo,
assessor técnico da CNA
Fonte: WAHID-OIE, dados até junho de 2015
zação de necropsias
1. Os autores fi zeram um estudo completo realizando o diagnóstico clínico, anatomopatológico, sorológico e isolamento do agente.
Nesta primeira descrição do ressurgimento da doença os autores descreveram que as propriedades visitadas utilizavam os muares e equinos exclusivamente como animais de tração e de sela, para o trabalho de produção e benefi ciamento da cana-de açúcar.
Esses animais eram alimentados à base de pastagem nativa, broto de cana-de-açúcar e melaço. Alertou-se que a doença vinha acometendo os equídeos há aproximadamente cinco anos e, que ocorria, na maioria dos casos, em animais idosos e debilitados pelas más condições de manejo e nutrição. A partir de então, a doença foi se difundindo e, de 2005 a 2015 (até junho) foram notifi cados 528 focos no Brasil, de acordo com o sistema WAHID da OIE.
Em 2015, o sistema de informação da OIE, WAHID, relata a ocorrência da doença no Bra- sil, de janeiro a junho, com 75 casos em 10 estados. O Brasil é o único país da América com presença de Mormo.
Relatamos no quadro 1, o número de ocorrências de mormo no Brasil, em 2015, por unidades da federação.
Quadro 1- número de casos de mormo no Brasil de janeiro a junho de 2015 por unidade da federação
1