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Mormo. 27out. Por Tania Maria de Paula Lyra* e Victor Miguel Ayres** 1. Introdução

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Mormo

Por Tania Maria de Paula Lyra* e Victor Miguel Ayres**

1. Introdução

O mormo é uma doença contagiosa e geralmente fatal dos equídeos, em especial dos cavalos, jumentos e mulas. A doença foi descrita por Aristóteles (384-322 a C), citado por Blancou, 2000. É transmissível aos gatos (domésticos e selvagens), aos cães, cabras e ao homem e causa nódulos e ulcerações no trato respiratório superior e pulmões. A forma cutânea ocasiona nódulos superficiais ou profundos que se transformam em úlceras, que excretam um líquido que aglutina os pelos. Antigamente, o homem que se contaminava pelo contato com animais doentes contraia uma infecção quase sempre fatal. Atualmente, a doença no homem, caso seja imediatamente diagnosticada e, tratada com antibióticos, pode ser curada. Muitos casos de mormo foram descritos no passado em pesquisadores de laboratório, ao manipularem as culturas ativas. O controle da doença é realizado em testes de casos suspeitos, triagem de equídeos aparentemente normais e eliminação dos reagentes. O agente etiológico do mormo é o Burkholderia mallei, anteriormente descrito como Pffeiferella, Loefflerella, Malleomyces ou Actinobacillu smallei e mais recentemen- te, como Pseudomonas mallei. Mosby, em 1999.

2. Distribuição geográfica

Acha & Szyfres, 2003, relataram que a doença esteve muito difundida em todo o mundo, porém foi erradicada da Europa e das Américas (Estados Unidos em 1937). Em 1965, foram descritos focos na Grécia, Romênia e Brasil.

Atualmente o mormo é considerado endêmico no Oriente Médio, na, Ásia, África e Amé- rica do Sul (Brasil), onde a partir de 1999, vários casos foram reportados. A distribuição geográfica da B. mallei é dificultada pelas reações cruzadas com B. pseudomallei.

2.1- o mormo no Brasil

De acordo com os dados de Langenegger et al. (1960), no Brasil a doença foi descrita pela primeira vez em 1811, introduzida provavelmente por animais infectados importados da Europa (Pimentel 1938), ocorrendo verdadeiras epizootias em vários pontos do terri- tório nacional, vitimando muares, cavalos e humanos que adoeceram com sintomatologia de catarro e cancro nasal. Após vários relatos em diferentes estados, a doença parecia ter sido erradicada no Brasil sendo a última referência a um foco de mormo no município de Campos, no Rio de Janeiro, Langenegger et al. (1960). A partir de então, o mormo foi considerado, uma doença erradicada no Brasil.

Trinta e nove anos depois, em 1999, Rinaldo et al (2000), descreveram a presença do mormo em equídeos em Pernambuco e Alagoas. A doença foi estudada em três proprie- dades rurais, com realização de visitas, análise dos históricos, exames clínicos e reali-

27out

2015

* Tania Maria de Paula Lyra é médica veterinária, mestre em Medicina Veterinária Preventiva, doutora em Ciência Animal, consultora em Defesa Agropecuária da CNA.

** Victor Miguel Ayres é

engenheiro agrônomo,

assessor técnico da CNA

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Fonte: WAHID-OIE, dados até junho de 2015

zação de necropsias

1

. Os autores fi zeram um estudo completo realizando o diagnóstico clínico, anatomopatológico, sorológico e isolamento do agente.

Nesta primeira descrição do ressurgimento da doença os autores descreveram que as propriedades visitadas utilizavam os muares e equinos exclusivamente como animais de tração e de sela, para o trabalho de produção e benefi ciamento da cana-de açúcar.

Esses animais eram alimentados à base de pastagem nativa, broto de cana-de-açúcar e melaço. Alertou-se que a doença vinha acometendo os equídeos há aproximadamente cinco anos e, que ocorria, na maioria dos casos, em animais idosos e debilitados pelas más condições de manejo e nutrição. A partir de então, a doença foi se difundindo e, de 2005 a 2015 (até junho) foram notifi cados 528 focos no Brasil, de acordo com o sistema WAHID da OIE.

Em 2015, o sistema de informação da OIE, WAHID, relata a ocorrência da doença no Bra- sil, de janeiro a junho, com 75 casos em 10 estados. O Brasil é o único país da América com presença de Mormo.

Relatamos no quadro 1, o número de ocorrências de mormo no Brasil, em 2015, por unidades da federação.

Quadro 1- número de casos de mormo no Brasil de janeiro a junho de 2015 por unidade da federação

1

Duas fazendas estavam localizadas na Zona da Mata do Estado de Pernambuco- municípios de Barra de Serinhaém

Unidade federativa Número de casos

Bahia 1

Ceará 3

Espírito Santo 6

Goiás 6

Mato Grosso 9

Mato Grosso do Sul 6

Minas Gerais 7

Paraíba 2

Pernambuco 4

Piauí 1

Pará 3

Rio de Janeiro 1

Rio Grande do Norte 7

Rio Grande do Sul 1

Rondônia 2

Santa Catarina 6

São Paulo 7

Total 75

3. Transmissão e disseminação da doença

A principal forma de transmissão do mormo ocorre através da ingestão de água e ali-

mentos contaminados, com descarga nasal purulenta eliminada por animais doentes e

na infecção por inalação (Wilson & Miles 1964). O manejo com confi namento dos animais

em estábulos para alimentação está associado à disseminação do agente no ambiente,

facilitando a infecção entre os animais.

(3)

A concentração de animais em estábulos coletivos tem grande impacto na epidemiologia do mormo em equídeos, sendo incriminado por Verma (1981) citado por Rinaldo, (2000), como o grande responsável pela dispersão da doença na propriedade. A transmissão en- tre propriedades ocorre pelo trânsito de animais que aparentam estar sadios. Os animais assintomáticos, na fase aguda da doença ou em estágios de convalescença, desempe- nham importante papel na transmissão direta e indireta do agente, pois apresentam a bactéria nas secreções cutâneas e respiratórias.

4. A doença no homem

Acha &Szyfres, 2000, consideravam de ocorrência excepcional a doença no homem. As amostras de P. mallei na Ásia, onde se supunha que mais persistia a infecção, eram de virulência atenuada. Langenegger, 1960 em descrição de um foco da doença no Brasil, não observou casos humanos.

5. Quadro clínico nos animais

Nos cavalos predomina o processo crônico e nas mulas e asnos, ocorre, quase sempre, a forma aguda. No quadro agudo, observa-se febre alta, tosse, corrimento nasal muco- purulento, nódulos ulcerantes na mucosa nasal, hipertrofi a dos linfonodos da cabeça e pescoço e nódulos na pele, com vasos linfáticos espessados e fi brosos, que se irradiam das lesões. Ocorre ainda, depressão, dispnéia, diarréia e desnutrição rápida; ocasionando assim, a morte do animal em poucas semanas.

O processo crônico pode durar anos e alguns animais morrem, outros se curam. O mor- mo crônico caracteriza-se por três formas clínicas que podem ocorrer simultaneamente ou de forma isolada.

a) Mormo pulmonar - pode ocorrer de forma inaparente por muito tempo. Os sinais clí- nicos, quando se apresentam, consistem de febre intermitente, tosse, depressão e adel- gaçamento.

Muar com mormo com descarga nasal purulenta bilateral Fonte: Santos et al 2001

b) Afeção das vias aéreas superiores- Mormo nasal- caracteriza-se por ulcerações da mucosa (necrose dos nódulos da lesão inicial) de uma ou ambas as fossas nasais e em seguida laringe e traquéia. As úlceras são de fundo cinza e bordos espessos. Ocorre fl uxo nasal mucoso ou mucopu- rulento de uma ou ambas as narinas, com forma- ção de crostas de cor marrom em torno. Os nódu- los são semelhantes a pústulas vermelhas que se desenvolvem nas mucosas.

c) mormo cutâneo – “ farcino ” – “lamparão” - co- meça com nódulos superfi ciais ou profundos, que logo se transformam em úlceras de fundo cinza que excretam um líquido espesso e oleoso que aglutina os pelos. Os vasos linfáticos formam cor- dões e os gânglios fi cam tumefeitos. Os nódulos podem crescer até o tamanho de uma avelã, são fi rmes, frequentemente confi nados às extremida- des. A típica distribuição em rosário dos linfáticos espessados é um importante aspecto diagnóstico. Esses nódulos se rompem, deixando uma lesão granulomatosa e de cura lenta.

A maioria dos autores considera que as lesões de mormo das vias respiratórias superio-

res e cutâneos são secundárias ao mormo pulmonar.

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6. Ações de controle a serem desenvolvidas à campo

Para controlar a doença no campo recomenda-se verifi car a ocorrência de diagnóstico clínico, em especial a forma cutânea, cicatrizes na região do pescoço, que podem sugerir lesões antigas e notifi car ao serviço ofi cial.

O serviço ofi cial deverá realizar a vigilância em todas as propriedades onde foram notifi ca- dos casos em anos anteriores e efetuar o levantamento da população de equídeos na área, das condições de criação e das modifi cações efetuadas no manejo da propriedade, tais como ingresso de animais e aglomerações.

Do ponto de vista de saúde pública é importante efetuar o levantamento de possíveis casos humanos e entrevistar proprietários e profi ssionais de saúde do município.

A propriedade onde foi constatada a doença deve ser submetida ao isolamento completo, sendo efetuada a cremação dos cadáveres, incineração dos materiais contaminados e desinfeção das baias.

Com adoção dessas medidas o mormo pode ser erradicado da propriedade evitando as perdas para o produtor ocasionadas pela doença. Para manter a condição de propriedade livre, só devem ser introduzidos animais negativos.

7. Amparo legal para o controle do Mormo no Brasil

Devido a sua importância para a equideocultura e aos aspectos de zoonose o mormo é assunto relevante na legislação de Defesa Sanitária.

O Decreto n° 24.548, de 3 de julho de 1934, em seu Art. 61 – relaciona o mormo entre as doenças passíveis de aplicação das medidas de defesa sanitária animal, dentre as quais relacionamos: a notifi cação obrigatória, o controle de trânsito e o sacrifício doa animais afetados.

Em 2004, foi publicada a instrução normativa nº 12, de 29 de janeiro de 2004 que estabe- lece os Requisitos de Qualidade para o Credenciamento e Monitoramento de Laboratórios para Diagnóstico Sorológico do Mormo por meio da Técnica de Fixação do Complemento.

Foi publicada também em 2004 a instrução normativa nº 24, de 5 de abril de 2004 que

“Aprova as Normas para o Controle e a Erradicação do Mormo”. Esta norma defi ne as pro- vas de diagnóstico; os critérios para certifi cação de propriedades; a erradicação dos focos;

a participação de equídeos em eventos hípicos; as exigências para o controle do trânsito intra e interestadual de equídeos e, os modelos de requisição de exames laboratoriais.

Em 2008, foi publicada a instrução normativa nº 17, de 8 de maio de 2008, que instituiu o Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos -PNSE, no âmbito do Ministério da Agricul- tura, Pecuária e Abastecimento.

8. Situação Atual do Mormo no mundo

Fonte: OIE, WAHID, outubro de 2015

Mapa I- Distribuição mundial do Mormo em 2015, OIE

(5)

Na publicação da Organização Mundial de Saúde Animal- OIE referente à distribuição do mormo no mundo fi ca revelado que a doença em 2015, se apresenta no Brasil e no Iran.

Este fato revela que em face da importância da Equideocultura brasileira o mormo neces- sita da implantação de uma política pública de erradicação com um programa específi co Federal com representações nos estados e participação do setor privado.

9. Importância da Equideocultura nacional

O Brasil possui o maior rebanho de equinos na América Latina e o terceiro mundial. Soma- dos aos muares (mulas) e asininos (asnos), são 8 milhões de cabeças, movimentando R$

7,3 bilhões, somente com a produção de cavalos.

O rebanho envolve mais de 30 segmentos, distribuídos entre insumos, criação e destinação fi nal e compõe a base do chamado Complexo do Agronegócio Cavalo, responsável pela geração de 3,2 milhões de empregos diretos e indiretos, MAPA, 2015.

A mesma fonte revela que a exportação de cavalos vivos é signifi cativa. Esta exportação foi ampliada em 524% entre 1997 e 2009, passando de US$ 702,8 mil para US$ 4,4 milhões.

Este patamar se manteve até 2014.

Em relação às exportações de carne equina, o Brasil é o oitavo maior exportador com 2.118 toneladas em 2014. Os principais países importadores são: Rússia, Bélgica, Japão, Vietnã, Austrália, Holanda, Itália, Espanha e França.

A maior população brasileira de equinos encontra-se na região Sudeste. Logo em seguida aparecem as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Norte. Destaque para o Nordeste, que além de equinos, concentra maior registro de asininos e muares. Segundo o último levan- tamento do IBGE, o rebanho brasileiro de equinos foi de 5.450 cabeças em 2014.

Tabela. Rebanho efetivo de equinos em 2014:

Grandes Regiões Equinos (cabeças)

Brasil 5 450 601

Norte 877 176

Nordeste 1 246 471

Sudeste 1 320 259

Sul 962 747

Centro-Oeste 1 043 948

Para garantir o fortalecimento da equideocultura nacional, o Ministério da Agricultura inves- te também na formulação de políticas públicas, como desenvolvimento de linhas de crédito, incentivo a acordos internacionais, estudos e pesquisas e apoio e difusão de eventos rela- cionados ao setor. Fonte, MAPA.

Conclusões

• O ressurgimento do Mormo no Brasil indicou a necessidade de realização de inquéritos soro-epidemiológicos em todo o plantel de equídeos dos estados de Pernambuco e Alagoas e naqueles suspeitos de ocorrência do mormo. Medidas de controle e profi laxia devem ser adotadas pelos órgãos competentes no sentido de evitar a disseminação do agente para regiões livres da doença. A dissipação da doença no país, porém revelou que ou ela se disseminou desses primeiros estados ou encontrava-se presente.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal 2014.

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• O diagnóstico da doença é um problema científi co internacional, pois existem poucas pesquisas. Assim, é necessário que o Brasil tenha condições de efetuar as pesquisas ne- cessárias com apoio do CNPq e outras instituições.

• Em face da importância da equideocultura brasileira torna-se imprescindível o esta- belecimento de um programa de erradicação do mormo, estabelecendo-se as seguintes premissas:

a) Padronização do diagnóstico.

b) Credenciamento dos laboratórios para o diagnóstico.

c) Eliminação de animais positivos com indenização dos produtores através de fundos administrados pelas Associações de produtores e outras entidades privadas do setor.

d) Para atingir o objetivo, torna-se imprescindível que o programa de erradicação do Mormo seja prioridade absoluta do governo com participação do setor privado.

Referências

Acha P.N. & Szyfre B. 1986. Zoonoses y Enfermidades Transmissíveis Comunes al Hombre y a los Animales. 2ª ed. Publicación Científi ca nº 503, Organizacion Panamericana de La Salud, p.131-135.

Langenegger J., Döbereiner J. & Lima A.C. 1960. Foco de mormo (Malleus) na região de Campos, estado do Rio de Janeiro. Arqs Inst. Biol. Animal, Rio de J., 3:91-108.

Lyra, Décio; Lyra, Tania, M. P. O Mormo no Brasil- histórico e situação atual. In Press.

PIMENTEL, W. Coronel Dr, João Muniz Barreto de Aragão, Patrono da veterinária militar. Rio de Janeiro: Duarte e Neves, 1942. 143 p.

Rinaldo A. Mota, Marilene F. Brito, Fabrício J. C. Castro e Marcos Massa. Mormo em eqüíde- os nos Estados de Pernambuco e Alagoas. Pesq. Vet. Bras. 20(4): 155-159, out./dez. 2000.

Santos, F.Leandro; Kerber, C. Ehlers; Manso Ftlho, H. Cordeiro: Lyra, Tania. M. P; Souza.

J. C. A; Marques, S. R; Silva, H, V. Mormo- Glanders. Rel. educ. Continuada, CRMV·SP / Continuous Education Journal CRMV-SP, São Paulo, volume 4, fascículo 3. p. 20·30, 2001.

Verma R.D., Venkateswaran K. S., Sharma J. K. & Agarwal G. S. 1994. Potency of partially purifi ed malleo-proteins for mallein test in the diagnosis of glanders in equines. Vet. Micro- biol. 41:391-397.

Wilson G.S. & Miles A. 1964. Glanders and Melioidosis, p.1714-1717. In: Topley and

Wilson’s Principles of Bacteriology and Immunity. Edward Arnold, London.

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