• Nenhum resultado encontrado

Parte 2 Aplica¸c ˜oes Lineares

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Parte 2 Aplica¸c ˜oes Lineares"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

Parte 2

Aplica¸c ˜oes Lineares

2.1 Aplica¸c˜ao Lineares Cont´ınuas

Estaremos agora tratando das aplicac¸ ˜oes lineares entre espac¸os normados. Os as- pectos alg´ebricos destas aplicac¸ ˜oes s˜ao estudados no curso de ´Algebra Linear. Como um espac¸o normado tamb´em possui uma estrutura topol ´ogica, ´e natural estud´a-las tamb´em no que diz respeito `a continuidade.

SeX ´e um espac¸o normado denotaremos porBXa bola fechada de raio 1 centrada na origem. Ou seja BX = {x ∈ X : �x� ≤ 1}. A esfera unit´aria deX ´e o conjunto SX ={x ∈X:�x�=1}. Comec¸amos com o seguinte resultado.

Proposi¸c˜ao 2.1. Sejam x e Y espa¸cos normados e T:X →Y linear. Ent˜ao s˜ao equivalentes:

�a) T ´e cont´ınua;

�b) T ´e cont´ınua na origem;

�c) existe uma constante M>0tal que�T�x)� ≤ M para qualquer x∈BX.

�d) existe uma constante M>0tal que�T�x)� ≤ M�x�para qualquer x∈X.

Demonstra¸c˜ao. �a)⇒�b): ´E evidente.

�b) ⇒ �c): ComoT ´e cont´ınua na origem, paraε = 1, existe δ > 0 tal que, para qualquerx ∈X, com�x� �δ, temos que�T�x)��1. Sex ∈BX, temos que�δ2x� �δ e portanto�T�

δx 2

���1. Ent˜ao, pela linearidade deT,�T�x)�� 2δ. 17

(2)

�c)⇒ �d): Sex ∈ X\ {0}, temos que xx tem norma 1 e portanto T�

xx

� ≤ M.

Ent˜ao, �T�x)� ≤ M�x�. Sex = 0, temos que T�x) = 0 e a desigualdade tamb´em ´e satisfeita.

�d) ⇒ �a): Se existe M > 0 tal que�T�x)� ≤ M�x�para qualquer x ∈ X, ent˜ao dadosu,v∈ Xtemos que�T�u)−T�v)�=�T�u−v)� ≤M�u−v�. Isso mostra que T ´e lipschitziana e portanto (uniformemente) cont´ınua.

O item�c)nos mostra que aplicac¸ ˜oes lineares cont´ınuas s˜ao limitadas sobreBX. ´E por esse motivo que aplicac¸˜ao lineares cont´ınuas s˜ao tamb´em chamadas delimitadas.

Antes do pr ´oximo exemplo, salientamos que se � · � e � · �0 s˜ao normas equiva- lentes em X ent˜ao uma func¸˜ao f definida em X ser´a cont´ınua segundo� · � se, e so- mente se, o for segundo� · �0, pois por definic¸˜ao tais normas geram a mesma topologia emX.

Exemplo 2.2. Qualquer aplica¸c˜ao linear definida emKp ´e cont´ınua.Vamos demonstar este fato usando a norma da soma deKp. Como sabemos, ela ´e equivalente `a norma eu- clidiana e mais simples de se trabalhar. Seja {e1,e2, . . . ,ep} a base can ˆonica de Kp e considere uma aplicac¸˜ao linearT:Kp →Ylinear. Ent˜ao

�T�x1, . . . ,xp)� = �x1T�e1) +· · ·+xpT�ep)�

≤ |x1|�T�e1)�+· · ·+|xp|�T�ep)�

≤ max

i=1,...,p�T�ei)� ·|x1|+· · ·+|xp|

= M��x1, . . . ,xp)�1,

ondeM=maxi=1,...,p�T�ei)�. LogoT ´e cont´ınua pela proposic¸˜ao anterior.

Exemplo 2.3. Considere o espac¸o vetorialP�R)de todos os polin ˆomios reais munido da norma �p� = supt∈[0,1]|p�x)|. Ent˜ao o operador derivac¸˜ao D : P�R) → P�R) n˜ao ´e cont´ınuo, pois para cadan ∈No polin ˆomiotnest´a emBP�R)mas sua derivada ntn1tem norman. Comonpode ser suficientemente grande, segue que ´e imposs´ıvel encontrarMcomo na proposic¸˜ao anterior.

Umisomorfismo entre espa¸cos normados, ou simplesmente isomorfismo, ´e uma aplica- c¸˜ao linear cont´ınua invers´ıvel e com inversa cont´ınua. Ou seja, ´e um isomorfismo no

(3)

2.1. Aplicac¸˜ao Lineares Cont´ınuas 19

sentido da ´Algebra Linear e um homeomorfismo. Se h´a um isomorfismo entreXeY, ent˜ao diremos queXeYs˜aoisomorfose escreveremosX ∼=Y.

Salientamos que inversa de aplicac¸˜ao linear ´e sempre linear, mas nem sempre ´e cont´ınua, como mostra o exemplo seguinte.

Exemplo 2.4. Considere X = c00 e o operador linear T : c00 → c00 dado por T�x1,x2,x3, . . .) = �x1,x22,x33, . . .). Temos que, sex= �x1,x2,x3, . . .)∈c00,

�T�x)�=��x1,x2 2 ,x3

3 , . . .)�=sup

nN

{|x1|,|x2 2 |,|x3

3 |, . . .} ≤ sup

nN

{|x1|,|x2|,|x3|, . . .}=�x�. Logo, T ´e cont´ınua pelo item �c) da proposic¸˜ao. Por´em, a inversa de T ´e dada por T1�x1,x2,x3, . . .) = �x1, 2x2, 3x3, . . .). Para cada n ∈ N, os vetores en = �0, . . . , 0,

nesima

����1 , 0, . . . ,)tˆem norma 1 mas�T�en)�= n. Logo,T1n˜ao satisfaz o item�c)da proposic¸˜ao.

Observe que no exemplo anterior o espac¸o normado em quest˜ao n˜ao era completo, como vimos em 1.16. Isso n˜ao foi por acaso. Veremos mais para frente que se os espac¸os forem completos, ent˜ao a inversa de uma aplicac¸˜ao linear cont´ınua ´e sempre cont´ınua.

Ser´a uma consequˆencia do Teorema da Aplicac¸˜ao Aberta.

O seguinte crit´erio ´e t˜ao simples quanto ´util.

Proposi¸c˜ao 2.5. Uma aplica¸c˜ao linear T : X → Y ´e um isomorfismo sobre sua imagem, se, e somente se, existem constantes positivas a e b tais que a�x� ≤ �T�x)� ≤b�x�,∀x∈X.

Demonstra¸c˜ao. SeT�x) = 0 ent˜ao a primeira desigualdade implica quex =0. Vemos ent˜ao que T ´e injetora e portanto invers´ıvel sobre sua imagem. A segunda desigual- dade nos diz que T ´e cont´ınua. Resta mostrar que T1 ´e cont´ınua. De fato, dado y ∈T�X), existex ∈Xtal queT�x) = ye portando�T1�y)�= �x� ≤ a1�T�x)� = a1�y�.

Corol´ario 2.6. Para que duas normas� · �e� · �0sejam equivalentes ´e necess´ario e suficiente que existam constantes positivas a e b tais que a�x�0 ≤ �x� ≤b�x�0,∀x ∈X.

Demonstra¸c˜ao. Que a condic¸˜ao acima ´e suficiente foi visto na proposic¸˜ao 1.6. Para mostrar que ´e necess´aria, basta observar que as normas serem equivalente significa que a identidade de�

X,� · �em�

X,� · �0 ´e um isomorfismo. Logo, pela proposic¸˜ao anterior, existem constantes positivasaebtais quea�x�0 ≤ �x� ≤b�x�0,∀x∈X.

(4)

Teorema 2.7. Seja T : X → Y um isomorfismo entre espa¸cos normados. Ent˜ao, se X for de Banach, ent˜ao Y tamb´em ser´a.

Demonstra¸c˜ao. Seja �yn)n uma sequˆencia de Cauchy em Y. Temos que mostrar que

�yn)nconverge. Seja ent˜aoε>0. Para cadan,yn =T�xn), comxn ∈X. Ent˜ao,

�xn−xm�=�T1�yn)−T1�ym)�=�T1�yn−ym)� ≤ M�yn−ym�,

poisT1 ´e cont´ınua. Logo, como�yn)n ´e de Cauchy existen0Ntal que�yn−ym��

ε

M, sen,m>n0. Assim, sen,m>n0, temos que�xn−xm� ≤ M�yn−ym�� Mε

M =ε. Vemos que�xn)n ´e uma sequˆencia de Cauchy em X e portanto converge para algum x ∈X, j´a queX ´e completo. Pela continuidade deT,yn =T�xn)→ T�x), o que mostra que�yn)nconverge.

Corol´ario 2.8. Se� · �e � · �0 s˜ao duas normas equivalentes em um espa¸co vetorial X ent˜ao

�X,� · �´e completo se, e somente se,�

X,� · �0o for.

Demonstra¸c˜ao. Novamente,� · �e� · �0serem equivalentes significa que a identidade de�

X,� · �em�

X,� · �0 ´e um isomorfismo. Basta aplicar o teorema anterior.

Observa¸c˜ao 2.9. O teorema anterior nos diz que ‘ser Banach’ ´e preservado por isomor- fismos. Talvez seja interessante observar que em espac¸os m´etrico em geral nem sempre ser completo ´e preservado por homeomorfismos. Por exemplo, Ne {1/n : n ∈ N} s˜ao homeomorfos pois ambos s˜ao enumer´aveis e discretos. Por´em, N ´e completo e {1/n : n ∈ N}n˜ao (convenc¸a-se disso). O que acontece ´e que os isomorfismos s˜ao sempre homeomorfismos uniformes, pela proposic¸˜ao 2.1. Estes sempre preservam a completude.

Como uma aplicac¸˜ao do teorema anterior, vamos mostrar que todo espac¸o de di- mens˜ao finita ´e de Banach.

Proposi¸c˜ao 2.10. Seja V um espa¸co normado sobreKde dimens˜ao finita p. Ent˜ao V ´e isomorfo aKp. Consequentemente, todo espa¸co normado de dimens˜ao finita ´e de Banach.

Demonstra¸c˜ao. Tomamos uma base {v1,v2, . . . ,vp} de V. Definimos a aplicac¸˜ao T : Kp → V pondoT�x1, . . . ,xp) =x1v1+· · ·+xpvp. Pela definic¸˜ao de base,T ´e um iso- morfismo alg´ebrico. Pelo exemplo 2.2,T´e cont´ınua. Resta mostrar queT1 ´e cont´ınua.

SKp ´e um subconjunto limitado e fechado deKpe portanto compacto. Ent˜ao a func¸˜ao

(5)

2.2. O espac¸oL�X;Y) 21

cont´ınua x �→ �T�u)�admite m´ınimo Mem SKp. Mas comoT ´e injetora, segue que T�u) �= 0, para todo u ∈ SKp e portanto�T�u)� ≥ M > 0. Assim, se x ∈ Kp\ {0},

�T�xx)� ≥ M>0 e portanto�T�x)� ≥ M�x�. Isso mostra queT ´e um isomorfismo, pela proposic¸˜ao 2.5.

QueV ´e um espac¸o de Banach segue imediatamente do teorema anterior.

Corol´ario 2.11. Se X ´e um espa¸co normado, ent˜ao todo subespa¸co V ⊂X de dimens˜ao finita ´e fechado.

Demonstra¸c˜ao. SeVtem dimes˜ao finita,V ´e Banach e portanto fechado pela proposic¸˜ao 1.17.

Corol´ario 2.12. Toda aplica¸c˜ao linear definida em um espa¸co normado de dimens˜ao finita ´e cont´ınua.

Demonstra¸c˜ao. Seja T : V → Y, V de dimens˜ao finita. Tomamos S : Kp → V iso- morfismo. Ent˜ao T◦S ´e cont´ınua pois est´a definida em Kp (exemplo 2.2). MasT =

�T◦S)◦S1e portanto ´e cont´ınua.

Corol´ario 2.13. Quaisquer duas normas definida em um espa¸co vetorial de dimens˜ao finita s˜ao equivalentes.

Demonstra¸c˜ao. SeVtem dimens˜ao finita ent˜ao a aplicac¸˜ao identidade de�

V,� · �em

�V,� · �0´e sempre isomorfismo. Logo�

V,� · �e�

V,� · �0tˆem a mesma topologia.

2.2 O espa¸co L� X; Y )

SejamX eY espac¸os normados. Denotaremos porL�X;Y) o espac¸o vetorial das aplicac¸ ˜oes linearescont´ınuas(ou limitadas) deXemY. As operac¸ ˜oes de espac¸o vetorial emL�X;Y)s˜ao as usuais.

Em particular, seY =KdenotaremosL�X;K)porX. Ou seja,X ´e o espac¸o de todos os funcionais lineares cont´ınuos definidos emX. Note queX ´e sempre Banach, poisK´e completo. Para evitar confus˜ao, o espac¸o vetorial dos funcionais lineares emX ser´a chamado de dual alg´ebrico deXe o denotaremos porX#. Como vimos, seVtem

(6)

dimens˜ao finita, ent˜ao todo funcional linear ´e cont´ınuo e portantoV=V#. Por´em, se Xtem dimens˜ao infinitaX#sempre possui funcionais descont´ınuos. Veja os exerc´ıcios.

Considere a func¸˜ao T ∈ L�X;Y) �→ �T� = supxBX�T�x)�. Pela proposic¸˜ao 2.1 temos que supxB

X�T�x)� ´e finito e portanto �T� est´a bem definida. Se �T� = 0, �T�x)� = 0 para todo x em BX e portanto T ´e identicamente nula em BX. Pela linearidade,T ´e a aplicac¸˜ao nula. De maneira indˆentica ao exemplo 1.3 mostramos que

λT� = |λ|�T�e �T+S� ≤ �T�+�S�. Vemos ent˜ao que�T� = supxBX�T�x)� ´e uma norma emL�X;Y).

Note que se T ∈ L�X;Y)ent˜ao pela definic¸˜ao de supremo �T�x)� ≤ �T�, para todo x ∈ BX. Ent˜ao para todox ∈ X n˜ao nulo, �T�x)� = �T�xx)��x� ≤ �T��x�. Portanto�T�x)� ≤ �T��x�, para todo x ∈ X (pois a desigualdade ´e trivial sex = 0).

Al´em disso, se M ´e tal que �T�x)� ≤ M�x�, para todo x ∈ X, ent˜ao em particular

�T�x)� ≤ M, para todox ∈BX. Pela definic¸˜ao de supremo�T� ≤ M. Ou seja,�T�´e o menorMque satisfaz a Proposic¸˜ao 2.1.

O pr ´oximo teorema ´e sobre a completude deL�X;Y).

Teorema 2.14. O espa¸co normadoL�X;Y)´e um espa¸co de Banach, se Y o for.

Demonstra¸c˜ao. Seja�Tn)numa sequˆencia de Cauchy emL�X;Y). Ent˜ao para todoε>0, existe algumn0Ntal que

n,m>n0 ⇒ �Tn−Tm�= sup

xBX

��Tn−Tm)�x)��ε. �∗)

Assim, para cadax ∈ X,�Tn�x)−Tm�x)� =��Tn−Tm)�x)� ≤ �Tn−Tm��x�. Ent˜ao, para cadaxfixado temos por�∗)que a sequˆencia�Tn�x))numa sequˆencia de Cauchy em Y e portanto converge (pois Y ´e Banach). Defina T : X → Y pondo T�x) =

nlimTn�x). Observe que, sex∈BX en,m>n0

�Tn�x)−T�x)� ≤ �Tn�x)−Tm�x)�+�Tm�x)−T�x)� ≤ �Tn−Tm�+�Tm�x)−T�x)�

� ε+�Tm�x)−T�x)�. Fazendom→∞, obtemos que�Tn�x)−T�x)� ≤ εpara qualquerx ∈BX. Ent˜ao,

sup

xBX

�Tn�x)−T�x)� ≤ε, sen>n0 �∗∗)

(7)

2.2. O espac¸oL�X;Y) 23

Devemos mostrar queT∈ L�X;Y). T ´e claramente linear, pois T�x+λy) = lim

nTn�x+λy) = lim

n�Tn�x) +λTn�y)) = lim

nTn�x) +λ lim

nTn�y)

= T�x) +λT�y), pela continuidade das operac¸ ˜oes.

Mostremos agora queT ´e cont´ınua. Fazendoε =1 em�∗∗), encontramosntal que

�Tn�x)−T�x)��1 para qualquerx ∈BXe portanto

�T�x)� ≤ �T�x)−Tn�x)|+�Tn�x)� ≤1+�Tn�, ∀x ∈BX. Logo,T ´e limitada emBX.

Finalmente, ´e imediato por�∗∗)que�Tn)nconverge paraT.

SeYn˜ao ´e Banach n˜ao h´a motivo deL�X;Y)ser. Daremos exemplo nos exerc´ıcios.

O proximo resultado ´e sobre extens˜ao de aplicac¸ ˜oes lineares.

Teorema 2.15. Sejam X um espa¸co normado e Y um espa¸co de Banach. Se M um subespa¸co de X e T ∈ L�M;Y), ent˜ao T admite uma ´unica extens˜ao cont´ınua T : M→ Y. Tal extens˜ao

´e tamb´em linear e�T�=�T�.

Demonstra¸c˜ao. Seja x ∈ M. Ent˜ao existe uma sequˆencia �xn)n convergindo parax. A sequˆencia�xn)n, por ser convergente, ´e de Cauchy em M. Ent˜aoT�xn)ntamb´em ´e de Cauchy emYe portanto converge, porYser completo. DefinimosT�x) =limnT�xn). Note que se �yn)n ´e outra sequˆencia que converge para x, ent˜ao, limnT�xn)− limnT�yn) = limnT�xn−yn) = T�limn�xn−yn)) = 0. Logo, T est´a bem definida.

´E f´acil ver que T ´e linear. Sem ∈M, ent˜ao tomando a sequˆencia constante igual a m, vemos queT�m) =limnT�m) =T�m). Logo,TestendeT.

Pela densidade deBMemBMe pelo modo queTfoi definida, vemos que supxM�T�x)�= supxM�T�x)�=�T�, o que mostra queT ´e cont´ınua e�T�=�T�.

A unicidade segue do fato de que se duas func¸ ˜oes cont´ınuas coincidem em um conjunto denso do dom´ınio, ent˜ao coincidem em todo dom´ınio.

(8)

2.3 Isometrias

Uma aplicac¸˜ao linearT : X→Y ´e umaimers˜ao isom´eticase�T�x)�=�x�,∀x ∈X.

As seguintes propriedades s˜ao imediatas.

Proposi¸c˜ao 2.16. Seja T:X →Y uma imers˜ao isom´etica. Ent˜ao

�a) T ´e cont´ınua;

�b) T ´e injetora;

�c) T ´e invers´ıvel sobre sua imagem e T1 : ImT → X tamb´em ´e uma imers˜ao isom´etrica e portanto ´e cont´ınua.

Demonstra¸c˜ao. (a) Basta tomarM=1 na proposic¸˜ao 2.1.

(b) ´E injetora poisT�x) =0⇒ �T�x)�=0 ⇒ �x�=0⇒KerT ={0}. (c) Dadoy ∈ImT, sejax∈Xtal queT�x) = y. Ent˜ao

�T1�y)�=�T1

T�x)�=�x�=�T�x)�=�y�.

LogoT1 : ImT→ X ´e uma imers˜ao isom´etrica e portanto cont´ınua pelo item (a).

Tendo em vista a proposic¸˜ao anterior, para uma imers˜ao isom´etrica ser um isomor- fismo basta que seja sobrejetora. Chameremos ent˜ao uma imers˜ao isom´etrica sobreje- tora de isomorfismo isom´etrico ou simplesmente isometria. Se existir um isomorfismo isom´etrico entreXeYescreveremosX ≡Y. Quando dois espac¸os s˜ao isom´etricos, ex- iste uma correspondˆencia entre seus elementos que preserva tanto a estrutura alg´ebrica quanto a norma. Ou seja, podem ser diferentes como conjunto, mas s˜ao idˆenticos como espac¸os normados.

Veremos um exemplo importante de imers˜ao isom´etrica quando estudarmos os espac¸os duais.

2.4 Espa¸co Quociente e Aplica¸c˜ao Quociente

Seja X um espac¸o vetorial e M um subespac¸o vetorial de X. Lembramos que o espac¸o quociente de X por M ´e o espac¸o vetorial X/M formado pelas classes de

(9)

2.4. Espac¸o Quociente e Aplicac¸˜ao Quociente 25

equivalˆenciasx+M={x+m:m∈ M}, munido das operac¸ ˜oes�x+M) + �y+M) =

�x+y) +Meλ�x+M) = �λx) +M.

Note que a classex+M ´e igual a classex+Mse, e somente se, x−x ∈ M. De fato, suponha que x+M = x+M. Note que x = x+0 ∈ x+M. Ent˜ao existe m ∈ M tal quex = x+m. Logo x−x = m ∈ M. Reciprocamente, se x−x ∈ M, ent˜ao dado um elementox+m∈x+Mpodemos escreverx+m=x+x−x+m= x+ �x−x+m) ∈ x+Me portanto x+M ⊂ x+M. A outra inclus˜ao se vˆe de maneira idˆentica.

A partir dai ´e f´acil ver que as operac¸ ˜oes est˜ao bem definidas. Por exemplo,

x+M = x+M ⇒ x−x ∈ M ⇒ λ�x−x) ∈ M ⇒ λxλx ∈ M ⇒ λx+M = λx+M. A soma se faz de maneira an´aloga.

As propriedades de espac¸o vetorial s˜ao f´aceis de serem verificadas usando as de X. Salientamos apenas que o elemento neutro deX/M ´e 0+M= M.

Agora suponha queXseja normado. Estamos interessados em definir uma norma em X/M. Considere a func¸˜ao �x+M� = inf

mM�x+m�. Como M ´e um subespac¸o, ent˜ao inf

mM�x+m� = inf

mM�x−m� = d�x,M)s˜ao outras formas de se calcular �x+ M�. Temos o seguinte resultado.

Proposi¸c˜ao 2.17. Seja X um espa¸co normado e M um subespa¸co de X. Ent˜ao a fun¸c˜ao definida em X/M por�x+M�= inf

mM�x+m�´e uma semi-norma. Se M for um subespa¸co fechado, ent˜ao� · �ser´a uma norma.

Demonstra¸c˜ao. Sejamx+Mey+Melementos deX/M. Para quaisquerm1,m2 ∈ M temos que

��x+M) + �y+M)�=��x+y) +M�= inf

mM�x+y+m� ≤ �x+y+ �m1+m2)�

≤ �x+m1�+�y+m2�. Tomando o ´ınfimo obtemos��x+M) + �y+M)� ≤ �x+M�+�y+M�.

Considere agoraλ ∈K\ {0}. Ent˜ao

λ�x+M)�=�λx+M�= inf

mMλx+m�= inf

mMλx+λm�=|λ| inf

mM�x+m�=|λ|�x+M�. O casoλ=0 ´e trivial (note que 0∈ M�). Vemos ent˜ao que� · �´e uma semi-norma.

(10)

Suponha agora que Mseja fechado. Ent˜ao�x+M�=0 significa qued�x,M) =0 e portantox ∈M=M. Ent˜aox+M= M=0.

O proposic¸˜ao anterior nos diz queX/M´e mais interessante quandoMfor fechado, pois neste casoX/M´e normado. Al´em disso, seX´e completo, tal propriedade ´e repas- sada paraX/M:

Teorema 2.18. Seja X um espa¸co de Banach e M um subespa¸co fechado de X. Ent˜ao X/M ´e um espa¸co de Banach.

Demonstra¸c˜ao. Pela proposic¸˜ao anterior X/M ´e um espac¸o normado. Temos apenas que mostrar que ´e completo. Usaremos a caracterizac¸˜ao vista em 1.21. Seja

nN

xn+M uma s´erie absolutamente convergente em X/M. Pela definic¸˜ao de ´ınfimo, para cada n ∈ N existe yn ∈ xn+M com �yn� � �xn +M�+2n. Ent˜ao a s´erie

nN

yn ´e absolulamente convergente no espac¸o de Banach X e portanto converge. Seja y seu limite e considere a classey+M. Como

��y+M)−

k

n=1

�xn+M)� ≤ �y−

k

n=1

ynk−→0, vemos que

nN

xn+Mconverge paray+M. Mostramos ent˜ao que toda s´erie absolu- tamente convergente emX/Mconverge, o que equivale dizer queX/M´e Banach.

Seja Msubespac¸o fechado do normado X. Aaplica¸c˜ao quocientede X emX/M ´e definida porπ�x) =x+M. Veremos agora algumas propriedades dessa aplicac¸˜ao.

Teorema 2.19. Se M ´e um subespa¸co fechado de um espa¸co normado X, aplica¸c˜ao quociente π :X →X/M tem as seguinte propriedades:

�a) π´e aplica¸c˜ao linear cont´ınua.

�b) πleva a bola unit´aria aberta de X na de X/M.

�c) π´e uma aplica¸c˜ao aberta.

�d) Kerπ= M

(11)

2.4. Espac¸o Quociente e Aplicac¸˜ao Quociente 27

Demonstra¸c˜ao. (a) Pela definic¸˜ao das operac¸ ˜oes emX/M,π ´e claramente linear. Dado x ∈X, pela definic¸˜ao da norma emX/Mtemos que�π�x)� =�x+M� ≤ �x�, o que mostra queπ ´e cont´ınua.

(b) SejamU1eU2as bolas unit´arias abertas deXeX/Mrespectivamente. Sex ∈ U1,�π�x)�=�x+M� ≤ �x��1. Logoπ�x) = x+M∈U2. Seja agorax+M∈U2. Ent˜ao �x+M� � 1. Novamente pela definic¸˜ao de ´ınfimo, existe y ∈ x+M tal que

�x+M� ≤ �y��1. Ent˜aoy ∈U1eπ�y) = y+M=x+M, e portantoπ�U1)⊃U2. (c) Considere um conjunto U �= aberto em X. Seja x+M ∈ π�U)arbitr´ario.

Como U ´e um conjunto aberto, deve existir r > 0 tal que x+rU1 ⊆ U. Logo, pela linearidade deπe pelo item anterior,π�y) +rπ�U1) = �x+M) +rU2⊂T�U). Segue ent˜ao queT�U)´e um conjunto aberto.

(d) Claro que Mest´a contido no n ´ucleo deπ. Por outro lado, seπ�x) �=0, ent˜ao x+M�=0 =Me assim�x+M�=d�x,M)�=0. Logox�∈ M.

Para definirmos uma aplicac¸˜ao emX/Mtemos que tomar certo cuidado para n˜ao depender da escolha dos representantes das classes. Veja como fizemos quando defin- imos as operac¸ ˜oes emX/M. Neste sentido, o teorema seguinte ´e ´util.

Teorema 2.20. Sejam X e Y espa¸cos normados e T : X → Y linear. Suponha que M seja um subespa¸co fechado de X contido no n ´ucleo de T. Ent˜ao existe uma ´unica fun¸c˜ao S: X/M→Y tal que T = S◦π. Tal fun¸c˜ao S ´e linear e tem a mesma imagem de T. Se M = Ker T, S ser´a injetora. A aplica¸c˜ao S ser´a cont´ınua se, e somente se, T o for. Neste caso, �S� = �T�. Analogamente, S ser´a aberta se, e somente se, T tamb´em for aberta.

Demonstra¸c˜ao. Defina S�x+M) = T�x)para cadax ∈ X. Se x+M = y+M, ent˜ao x−y∈ M⊂KerTe portantoT�x) =T�y). Ent˜aoSest´a bem definida. ´E imediato que T = S◦π e portanto est´a provada a existˆencia. Suponha queS : X/M → Yseja tal queT =Sπ. Ent˜aoS�x+M) =Sπ�x)) = T�x) = S�x). Isso mostra a unicidade.

Tamb´em ´e imediato que S ´e linear e que T e S tˆem a mesma imagem. Suponha ent˜ao que M=KerT. Ent˜ao

S�x+M) =0⇒ S�π�x)) = 0⇒T�x) =0⇒ x∈KerT⇒ x ∈M⇒ x+M=M=0.

LogoS ´e injetora.

(12)

SeU1eU2denotam as bolas abertas unit´arias deXeX/Mrespectivamente, ent˜ao pelo Teorema 2.19π�U1) =U2e portanto

sup

x+MU2

�S�x+M)�= sup

xU1

�S�π�x))�= sup

xU1

�T�x)�.

Assim,S ser´a cont´ınua se, e somente se, T for cont´ınua e em caso afirmativo,�S� =

�T�.

Finalmente, seSfor aberta,Ttamb´em ser´a, como composta de aplicac¸ ˜oes abertas.

Reciprocamente, seT ´e aberta, ent˜ao dado um abertoUemX/Mtemos que S�U) = S�

π�π1�U))=T�π1�U)).

Pelo Teorema 2.19,π ´e cont´ınua e portantoπ1�U)´e aberto emX/M. comoT´e aberta, segue queS�U) ´e aberto emX. Logo,Stamb´em ´e aberta.

Nos exerc´ıcios h´a algumas aplicac¸ ˜oes do teorema anterior. Dele tamb´em resul- tar´a oTeorema do Isomorfismopara espac¸os de Banach, que ´e uma vers˜ao do conhecido teorema hom ˆonimo para grupos. Mas antes precisaremos do Teorema da Aplicac¸˜ao Aberta, que veremos na parte seguinte.

Referências

Documentos relacionados

As it was expected, the AMOVA conducted before the reallocation process has shown high genetic variance between populations from different forest fragments (83%) when the

Com base nas teorias de Aebersold e Field 1997, Nuttall 1987 e Harmer 1998 sobre as concepções de leitura, e nos estudos dos Parâmetros Curriculares Nacionais BRASIL, 1998 e das

A Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei nº 12.305/2010, apresenta como prioridade a redução de resíduos nas fontes geradoras, a redução da

Diante dos relatos acima é possível perceber que a utilização da técnica de espectrometria de absorção molecular de fonte contínua com alta resolução (HR-CS MAS) surge

Estimativa dos parâmetros dos efeitos fixos e efeitos aleatórios pelo modelo não linear misto, adotando estrutura autorregressiva de primeira ordem heterogênea na matriz de

Caso consigam todos os itens que precisam, nas quantidades e apresentação necessárias para seu projeto em apenas uma das empresas consultadas, devem procurar outras duas

• Capítulo 9: Para continuar: expressões numéricas, págs... • Palavras que são escritas