O Uso
da Acupuntura no Tratamento da Dismenorréia
Tammy Negreiros Gouvêa1 E-mail: tammygouvea_@hotmail.com Orientadora: Dayana Priscila Maia Mejia.2
Pós-Graduação em Acupuntura
Resumo
A Acupuntura é um antigo método terapêutico chinês que se baseia na estimulação de determinados pontos do corpo com agulha ou com fogo, a fim de restaurar e manter a saúde. Os resultados mostraram que a Acupuntura apresentou-se eficaz em todos os estudos, diminuindo a dor, em grande parte dos casos a medicação tornou-se desnecessária e os sintomas de dor não ocorreram mais durante dois anos após o tratamento, também apresentou melhora na qualidade de vida das pacientes e na parte emocional houve melhora na depressão, ansiedade e irritabilidade. Com relação às técnicas que podem ser utilizadas observamos que a Acupuntura Sistêmica é de uso primordial e essencial destacando-se entre as outras técnicas como; Auriculoterapia, Moxaterapia, Laserpuntura, Acupressão, Eletroacupuntura, tratamentos com pontos Fonte que também podem ser utilizados com sucesso nesse distúrbio ginecológico tão freqüente.
Palavras Chave: Dismenorréia, tratamentos para Dismenorréia e Acupuntura na
Dismenorréia.
1. Introdução
A dismenorréia conhecida popularmente como cólica menstrual é um problema que atinge a maioria das mulheres nos dias de hoje, gerando vários transtornos e limitações, desde dores sendo o principal agravante, perda do dia de trabalho, em alguns casos afastamento, piora na qualidade de vida e distúrbios emocionais.1
O termo dismenorréia deriva do grego e significa menstruação difícil ou desconfortável; que gera dor uterina provocando vários sintomas como palidez, sudorese, cefaléia, náuseas, vômitos, aumento do número de evacuações, dor lombar e nos membros inferiores.2
A dismenorréia caracteriza-se por dor intensa, sob forma de cólica, durante a menstruação, manifestando-se habitualmente no baixo ventre ou região lombar. É causa de substanciosos prejuízos econômicos e diminuição na produtividade das mulheres acometidas.3
Seu estudo tem adquirido maior importância nas últimas décadas, devido às conseqüências socioeconômicas que acarreta. É uma dor pélvica que ocorre antes ou durante o período menstrual, que afeta cerca de 60% a 80% das mulheres em diferentes graus de intensidade, sendo que em 8% a 18% o desconforto menstrual é de tal intensidade que impede as atividades habituais, obrigando a paciente a procurar o pronto-socorro.4
Cerca de 90% das mulheres experimentam este quadro em alguma fase da vida, contudo a grande maioria não procura assistência médica, pois os sintomas são suportáveis. A prevalência da dismenorréia, embora de difícil estimativa por falta de definição precisa, é uma
1
Pós-graduanda do Curso de Acupuntura.
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Mestre em Bioética em Direito e Saúde, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Graduada em Fisioterapia.
das queixas mais freqüentes em consultórios de ginecologia e parece variar de 45% a 95%. Em 10% a 15% das vezes o quadro sintomatológico é intenso, interferindo com a vida social e produtiva da mulher, a ponto de causar grande índice de absenteísmo no trabalho. Hoje podemos encontrar várias formas de tratamento como: medicamentoso (o mais utilizado), a fisioterapia, a massagem e a Acupuntura que ainda muitas pessoas desconhecem.4
2. Fundamentação Teórica
2.1 Dismenorréia Segundo a Medicina Ocidental
2.1.1 Conceito
Dismenorréia, deriva do grego e significa menstruação difícil ou desconfortável, que se caracteriza por dor intensa sob forma de cólica, manifestando-se habitualmente no baixo ventre que ocorre antes ou durante o período menstrual, de modo cíclico.1
2.2 Prevalência
As taxas de prevalência de dismenorréia referidas na literatura são muito desiguais, embora de difícil estimativa por falta de definição precisa, é uma das queixas mais frequentes em consultórios de ginecologia, podendo variar de 45% a 95%.4
2.3 Classificação
Pode ser classificada quanto à sua intensidade e à sua etiologia. Quanto à sua intensidade, existem formas leves, moderadas e graves. As duas últimas podem até mesmo, interferir no bem estar das pacientes, chegando a ser uma das mais importantes causas de ausência no trabalho e na escola. Quanto à sua etiologia, a dismenorréia pode ser classificada como primária ou funcional, e em secundária ou orgânica.5
2.4 Etiologia
A dismenorréia primária é aquela que ocorre sem que haja lesões nos órgãos pélvicos, geralmente ocorre nos ciclos menstruais normais e logo após as primeiras menstruações na adolescência, podendo cessar ou reduzir significativamente quando a mulher atinge a faixa dos 20 anos. Quanto a sua etiopatogenia existem muitas teorias para explicar. As principais são: 1) espasmo vascular- onde ocorre uma vasoconstrição exagerada das arteríolas endometriais produzindo isquemia e conseqüentemente dor; 2) espasmo muscular - devido a contração uterina exagerada e incordenada, ou ainda uma hipersensibilidade à contração normal; 3) espasmos musculares e vasculares - as contrações incordenadas agravam a dor; 4) psicogênica - o emocional atuando através do sistema límbico sobre o organismo; 5) endócrina- a dismenorréia ocorre em ciclos ovulatórios, quando há atuação da progesterona; 6) prostaglandina – teoria de maior conotação terapêutica. É uma substância que estimula a contração dos músculos lisos levando a uma hipercontratilidade do miométrio.6
As prostaglandinas (Pg) são ácidos graxos constituídos por 20 átomos de carbono, derivados do ácido aracdônico e são produzidos em diversos órgãos (útero, estômago, rim, etc.). Sob a ação das fosfolipases A2, os fosfolipídeos da membrana celular liberam o ácido araquidônico, que é convertido em endoperóxidos ou prostaglandinas G2, isoprostanos e leucotrienos. A ação da isomerase redutase nos endoperóxidos produz as prostaglandinas (Pg F2a, Pg E2 e Pg D2).3
A liberação das prostaglandinas F2a pelo endométrio provoca contração da musculatura uterina, com conseqüente aumento do tônus uterino e da pressão intramiometrial. O aumento da pressão acarreta compressão do plexo vascular e nervoso do útero e, conseqüentemente, dor. Quanto menor for o volume uterino e/ou maior for a produção de prostaglandina, maior será concentração de Pg F2a intra-uterino e mais intensa será a dor, isso explica porque a Dismenorréia é mais comum e frequente nas adolescentes: possuem menor volume uterino. Com o crescimento, amadurecimento e gestação, o útero e o colo uterino se distendem diminuindo definitivamente a concentração de prostaglandinas e a dismenorréia.3
Um aumento anormal na contratilidade miometrial é observado em mulheres com Dismenorréia. Isso ocorre porque, após a queda de progesterona no fim do ciclo ovulatório, antes da menstruação, ácidos gordurosos ômega-6, particularmente acido aracdônico, são liberados e uma cascata de prostaglandinas e leucotrienos é iniciada, ocasionando uma elevada produção de prostaglandinas E2 e F2-a no útero que, por sua vez, causaram vasoconstrição e contração muscular. O aumento de leucotrienos determina os sintomas sistêmicos da Dismenorréia. O ácido aracdônico é transformado em prostaglandinas através de sistema de enzimas denominado de “via das cicloxigenases”. Quadros de dismenorréia mais severos têm sido associados a maior quantidade de níveis de prostaglandinas, principalmente nos primeiros dois dias da menstruação. 4
A dismenorréia secundária compreende 5% onde há uma causa orgânica que explique sua origem, ou seja, existe uma alteração anatômica no sistema reprodutivo. Nestes casos, a dor pode se apresentar de modo atípico imediatamente a partir da menarca ou numa idade mais avançada. A dor associada depende da causa básica, dentre as causas de dismenorréia secundária com origem ginecológica, as mais comuns são: inflamações pélvicas, varizes pélvicas, tumores pélvicos, adenomiose, endometriose, pólipos, miomas, uso de DIU, cistos ovarianos, estenose cervical, malformações congênitas do trato urinário.d
Em relação à etiopatologia da dismenorréia secundária as prostaglandinas também estão presentes, mas o fator desencadeante é anatômico (causado por mioma, congestão pélvica, malformação uterina etc.) e, portanto, a dor provocada pela liberação das prostaglandinas se associa a outros sintomas da doença de base. A obstrução à eliminação das prostaglandinas, associada aos fenômenos inflamatórios da doença de base, mais o fator psicológico do sofrimento repetitivo, acabam potencializando os sintomas, tornando a dor mais prolongada e mais intensa.3
É um quadro que, apesar de ser muito freqüente, não tem um diagnóstico preciso dificultando conhecer sua real prevalência entre as mulheres. O seu diagnóstico diferencial se baseia na anamnese e no exame físico, podendo haver necessidade de métodos auxiliares, como ultra-sonografia transvaginal, histeroscopia e laparoscopia. Além da dor pélvica cíclica, outros sintomas podem associar-se com a Dismenorréia primária, resultando, freqüentemente em alterações psicológicas.
Este quadro álgico associa-se à ação de prostaglandinas decorrentes da queda prévia dos níveis de progesterona na fase de pré-menstruação. Os antiinflamatórios não hormonais, seguidos pelos contraceptivos orais, são a forma mais comum de tratamento, embora existam alternativas.4
2.5 Tratamentos da Dismenorréia
A dismenorréia é uma das principais causas de abstinência ao trabalho. Durante séculos foi considerada como um problema psicológico, relacionado à negação da feminilidade e que melhorava com o casamento. Somente após a descoberta das prostaglandinas a sua fisiopatologia foi esclarecida e novos tratamentos puderam ser utilizados. A abordagem terapêutica e o tratamento da Dismenorréia podem ser efetuadas em três etapas: 1) drogas ou medidas que atuam diretamente nas prostaglandinas, como os antiinflamatórios não hormonais, hormônios ou calor local; 2) medicamentos que relaxam a musculatura uterina, como os antiespasmódicos; 3) drogas ou medidas que interferem com a dor, tanto em nível periférico como central, tais como analgésicos, Acupuntura, psicotrópicos.5
2.6 Medicamentoso
O tratamento medicamentoso é direcionado ao alívio dos sintomas e podem ser utilizados:4
2.6.1 Analgésicos e AINEs (Antiinflamatório não esteroidal)
É a primeira linha no manejo da dismenorréia primária. Agem pela redução da atividade da via da cicloxigenase, inibindo a síntese de prostaglandinas. Dentre os AINEs há relatos de melhora entre 17% e 95% das mulheres nos mais diferentes estudos. Inibidores específicos de COX-2 têm sido bastante efetivos contra dismenorreia.4
2.6.2 Contraceptivos Hormonais
Agem por inibição da ovulação e reduzem a proliferação endometrial, limitando a produção de prostaglandinas. Embora ainda não existam estudos robustos para evidência de eficácia deles no tratamento da dismenorréia, acredita-se que haja benefício em torno de 65% das mulheres que utilizam esta forma terapêutica.
2.6.3 DIU com Levonorgestrel (MIRENA)
Até 50% das mulheres se tornam amenorréicas após 12 meses e redução da dismenorréia tem sido relatada. O dispositivo demonstrou ser efetivo contra dismenorréia secundária associada à endometriose após um ano. Benefícios deste dispositivo: efetiva contracepção e em muitos casos elimina o sangramento menstrual, função ovariana é mantida para mulheres climatéricas que necessitam tratamento hormonal, a terapia pode ser só com estrógeno.4
2.7 Fisioterapia
Existem inúmeros recursos fisioterapêuticos para diminuir a severidade dos sintomas da dismenorréia ou até mesmo para eliminar a dor, promovendo, assim, a analgesia. Entre eles destacam-se a Termoterapia e a Crioterapia. A Termoterapia consiste em aplicações de calor, e a Crioterapia, em aplicação de gelo ou outros elementos frios. Esses tratamentos fisioterápicos são utilizados como recursos terapêuticos.7
2.7.1 Estimulação Elétrica Transcutânea (Tens)
A estimulação elétrica transcutânea (TENS) vem sendo muito utilizada como recurso não farmacológico no alívio da dor, nas mais diversas doenças. Suas aplicações variam conforme a intensidade, a freqüência, a largura do pulso na estimulação e a colocação dos eletrodos sobre a pele. Observa-se que seu uso vem sendo cada vez mais freqüente nas doenças ginecológicas que cursam com dor, principalmente em pós-operatório de laparotomias, Dismenorréias primárias, vulvodinias, cefaléias pré-menstruais, distúrbios dolorosos da tensão pré-menstrual.8
2.7.2 Atividade Física
Outra provável forma de tratamento da Dismenorréia envolve a prática de atividades físicas. Acredita-se que a atividade física promova melhor funcionamento dos órgãos pélvicos e extrapélvicos por adequar o metabolismo, o equilíbrio hidroeletrolítico, as condições hemodinâmicas e o fluxo sanguíneo, principalmente na região pélvica, o que contribui para significativa redução da dismenorréia.
2.7.3 Dança Do Ventre
A dança do ventre no tratamento da dismenorréia mostrou que a grande maioria das praticantes apresentou um alívio não apenas quanto á dor pélvica, mas também nos inúmeros sintomas incômodos associados ao período menstrual. Relacionado à contribuição desta dança de origem oriental para a redução da dismenorréia e a semelhança entre os seus principais movimentos e os utilizados na fisioterapia, demonstra-se a possibilidade de contribuição da cinesioterapia para o alívio do desconforto menstrual.9
2.8 Acupuntura
A teoria da Medicina Tradicional Chinesa é extremamente complexa e originou há milhares de anos através da observação meticulosa da natureza, o cosmos e o corpo humano. As principais Teorias da MTC incluem o Yin-Yang, os Cinco Elementos, Qi e Sangue, e Zang-Fu (Teorias dos Órgãos e Vísceras). Na MTC, o entendimento do corpo humano está baseada na compreensão holística do universo, conforme descrito no taoísmo e no tratamento da doença baseia-se principalmente no diagnóstico e na diferenciação de síndromes.10
A acupuntura é um antigo método terapêutico chinês que se baseia na estimulação de determinados pontos do corpo com agulha ou com fogo, a fim de restaurar e manter a saúde. A Acupuntura foi idealizada dentro do contexto global da filosofia do Tao e das concepções filosóficas e fisiológicas que norteiam a Medicina Tradicional Chinesa. A concepção dos Canais de Energia e dos pontos de Acupuntura, o diagnóstico energético e o tratamento baseiam-se nos preceitos do Yang e do Yin, dos Cinco Movimentos, da Energia QI e do Xue (Sangue).10
As Teorias Yin e Yang e dos Cincos Elementos são dois aspectos do materialismo simples e da dialética que datam da China antiga. A Medicina Tradicional Chinesa emprega estas teorias para explicar as funções fisiológicas do organismo, as mudanças patológicas e as
relações internas dos órgãos e também para explicar as leis gerais do diagnóstico e tratamento.12
O mesmo autor afirma que o conceito Yin e Yang sintetiza as duas partes contraditórias e complementares dos fenômenos da natureza que se relacionam mutuamente. Podem representar dois fatores opostos, assim como duas partes que compõem a essência de um aspecto. A natureza de Yin ou Yang não é absoluta, mas relativa, já que a existência é determinada pelas condições interiores.
Yin e Yang também servem de base para diagnóstico e determinam os princípios de tratamento. Todas as síndromes podem ser classificadas em síndromes Yin ou síndromes Yang, sendo que na prática clinica usa-se mais a diferenciação segundo os Oito Princípios, sendo síndromes Yin (Interior, Frio e Deficiência), já as síndromes Yang (Exterior, Calor e Excesso). Para tratarmos doença seja ela de característica Yin ou Yang devemos tonificar ou sedar de acordo com cada caso.12
A Teoria dos Cinco Elementos sustenta que a natureza está constituída por cinco substâncias: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. O desenvolvimento e as mudanças de todas as coisas e de todos os fenômenos são resultados do movimento contínuo, da intergeração, da dominância entre os Cinco Elementos. Na Medicina Tradicional Chinesa, esta teoria aplica-se principalmente para explicar as características fisiopatológicas dos órgãos internos e dos tecidos do corpo, as relações fisiopatológicas entre eles e as relações entre o corpo e o meio ambiente que é sempre mutante, assim, essa teoria pode servir de guia para o diagnóstico e para o tratamento.12.
A diferenciação segundo os Oito Princípios é o diagnóstico sindrômico mais básico na Medicina Tradicional Chinesa e vai servir para orientar os diagnósticos mais complexos. Por isto, é o primeiro passo que deve ser tomado na análise dos sinais e sintomas do paciente. A precisão do diagnóstico sindrômico do paciente é fundamental para que o tratamento seja acertado, pois apenas com a compreensão do desequilíbrio apresentado pelo paciente é que é possível corrigi-lo. O diagnóstico segundo os Oito Princípios é que vai iniciar o processo de compreensão da natureza da desarmonia apresentado pelo paciente, sendo assim, considerado quatro critérios básicos que admitem dois opostos que são os Oito Princípios; onde está a doença (profundidade se está no Exterior ou Interior), quais as características da manifestação da doença (Calor ou Frio), qual a intensidade da doença (Excesso ou Deficiência) e qual é a natureza (Yang ou Yin).14
2.9.1 Dismenorréia segundo a Medicina Tradicional Chinesa
Para a Medicina Chinesa a etiologia da dismenorréia é caracterizada por tensão emocional, atividade sexual excessiva e partos, fator patogênico Frio-Umidade, esforço excessivo e doença crônica. Quando as emoções ficam reprimidas impedem a circulação de Qi gerando Estagnação de Xue (Sangue) na matriz (útero e anexos), a presença de Frio Perverso (bebidas frias durante a menstruação) que impede a circulação do Qi, obstruindo os canais de energia relacionados a matriz ou por uma doença grave ou crônica onde a energia do Xue (Sangue) fica insuficiente e os vasos são mal nutridos, impedindo o fluxo da menstruação.12
As etiologias nos períodos menstruais dolorosos são estresse emocional como raiva, frustração, ódio e ressentimento que são fatores muito importantes que podem levar a Estagnação de Qi do Fígado e essa Estagnação faz com que o Sangue do Útero se estagne gerando dor, em alguns casos o Qi estagnado do Fígado pode se converter-se em Fogo e este por sua vez leva o Calor no Sangue que combina com Umidade Calor no Útero.13
A exposição excessiva ao Frio e a Umidade também geram períodos dolorosos na menstruação, especialmente na puberdade onde o Frio pode invadir o Útero, com o Frio o
Útero se contrai e gera a Estase de Sangue. As mulheres são mais propensas a invasão do Frio no Útero durante e logo após a menstruação quando o Útero e o Sangue estão em relativo estado de fraqueza e também quando apresentam uma condição pré existente de Deficiência de Yang. Outra causa seria o excesso de trabalho físico e doença crônica que levam a Deficiência do Qi e do Sangue, especialmente do Estômago e Baço. A Deficiência do Sangue leva à má nutrição dos Canais Chong Mai e Ren Mai, de modo que o Sangue não tem força para mover-se adequadamente gerando Estagnação e dor. A atividade sexual excessiva e número de partos enfraquecem os Rins e o Fígado induzindo a um Vazio nos Canais Chong Mai e Ren Mai de modo que eles não podem mover adequadamente o Qi e o Sangue causando dor.13
De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa existem duas formas de Dismenorréia, a de Plenitude (Excesso) e a de Vazio (Deficiência). A de Plenitude caracteriza-se pela antecipação do fluxo menstrual em torno de cinco dias ou mais, associados a aumento de fluxo sanguíneo, que apresenta cor vermelho-vivo, tendendo a vermelho-escuro e acompanha sintomas, como, nervosismo, irritabilidade, cefaléia, enxaqueca, vertigens, náusea, e vômitos. Pode ser ocasionada por emoções reprimidas que aumentam o Yang do Fígado. Entretanto a de Padrão Vazio caracteriza-se pelo atraso menstrual em torno de cinco dias ou mais e se instala após o início da menstruação, associando-se a diminuição do fluxo sanguíneo, e com cor pálida. Manifestações de astenia psicomotora, fadiga, palpitações, desânimo, lombalgia, distúrbios digestivos são freqüentes nessas pacientes. Deve-se a Deficiência da Energia do Shen (Rins) que leva a insuficiência energética e desnutrição do útero. Pode também ser conseqüência à penetração de Frio Perverso, frente ao Vazio do Shen (Rins), promovendo a Estagnação de Xue (Sangue) na matriz.11
O diagnóstico na Medicina Tradicional Chinesa envolve dois processos diferentes: o diagnóstico etiológico e o sindrômico. O diagnóstico etiológico visa levantar quais as causas da doença, para afastar possíveis agentes que estejam prejudicando o paciente e dificultando o tratamento, já o diagnóstico sindrômico tem como objetivo identificar a natureza do desequilíbrio orgânico representado pela doença, onde se encontra a quem afeta. O diagnóstico sindrômico na Medicina Tradicional Chinesa, chama-se Diferenciação dos Sinais e Sintomas e consiste em agrupar os sinais e sintomas segundo seus significados. Para tanto utiliza-se um sistema referencial para orientar a linha de raciocínio. Por isto, existem várias diferenciações (Padrões Sindrômicos) na Medicina Chinesa, de acordo com o que está ocorrendo e qual o sistema que está sendo mais afetado.14
O diagnóstico é realizado através da época de instalação da dor, se ocorre dor antes e durante o período menstrual é caracterizado por um Padrão de Plenitude, enquanto que a dor após o mesmo é um Padrão de Vazio, se melhora com a pressão e com Calor apresenta um quadro de Vazio e Frio, entretanto se piora com a pressão e melhora com o Frio temos em quadro de Plenitude e Calor.
Com relação a característica da dor, as dores que melhoram após eliminação de coágulos indica Estase de Sangue; a dor com distensão indica Estagnação de Qi; em queimação, Calor no Sangue; tipo cólica, Frio no Útero; em pontada, Estase de Sangue; dor em repuxamento para baixo antes do período menstrual indica Estase de Sangue, e em repuxamento após o período menstrual, Deficiência dos Rins. Perguntas sobre o ciclo também são importantes para o diagnóstico como se o ciclo é prolongado (períodos menstruais atrasados) e o sangue menstrual é escuro e coagulado, indica Estase de Sangue, se o Sangue menstrual é vermelho com pequenos coágulos escuros indica Frio no Útero, agora se o ciclo é curto e o período menstrual abundante e o Sangue é vermelho-brilhante, indica Calor no Sangue.13
3. Metodologia
Foi utilizado o método descritivo e exploratório. A pesquisa exploratória é realizada em área em qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado, por sua natureza de sondagem não comporta hipóteses que, todavia poderão surgir durante ou ao final da pesquisa. Já a pesquisa descritiva expõe características de determinado fenômeno, pode ainda, estabelecer correlações entre as variáveis e definir sua natureza, não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação tem com finalidade de registrar, classificar, analisar e interpretar os dados coletados, mas sem interferência do pesquisador.
A natureza deste estudo foi a qualitativa que proporciona todas as perspectivas possíveis para o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessária que venha enriquecer a investigação, dessa forma é destinada ao estudo sobre o comportamento humano.
Em relação à técnica utilizada para levantar os dados que consubstanciaram este estudo foi a revisão bibliográfica que consiste no estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais redes eletrônicas, isto é material acessível ao público em geral. Desse modo a pesquisa bibliográfica trata-se do levantamento de tudo que foi publicado, em forma de livros, revistas, publicações avulsas, e imprensa escrita. A partir do levantamento de fontes, onde foi realizada a seleção e fichamento de informação de interesse ao estudo dessa temática.
4. Resultados e Discussão
Na Medicina Chinesa os sintomas menstruais são causadas porque a ausência de Sangue no corpo ou Qi e Sangue estagnados . Os princípios gerais de tratamento da Medicina Chinesa para dismenorréia são para Tonificar a Deficiência do Rim, Sedar a acumulação de Fogo do Fígado, Dissipar o Frio, Expulsar Vento, e Mover Qi e Sangue.15
A dismenorréia é uma desordem ginecológica comum que é tratada sintomaticamente, se não for causado por qualquer doença subjacente. A Acupuntura é utilizada com sucesso para desordens menstruais e o Laser utilizado na Acupuntura a Laserpuntura é um procedimento novo, não-invasivo que pode substituir as agulhas, assim sendo um tratamento indolor. Em seu estudo participaram 48 mulheres com idade entre 18-50 anos com quadro de dismenorréia, sendo que 30 pertenciam ao grupo placebo e 18 ao grupo de tratamento real com Laserpuntura. Cada mulher foi tratada com os mesmos 8 pontos de Acupuntura BP6, F3 e IG4 bilateral, VC3 e E36 à direita sendo realizados em 8 sessões de 20 minutos cada, durante um período de três ciclos menstruais. O objetivo desse estudo foi comparar se a Laserpuntura real tem efeito superior a Laserpuntura placebo (sem atividade do laser). No grupo da Laserpuntura real, a taxa de sucesso foi de 16,7% e no grupo placebo 20%. Não foi possível encontrar uma vantagem significativa de Laserpuntura real em comparação com ao grupo placebo. Novas investigações são recomendadas, porque o tratamento com Laseracupuntura é uma técnica não-invasiva e permite estudos de Acupuntura duplo-cego. Na Medicina Tradicional Chinesa a eficácia da Acupuntura na dismenorréia é atribuída ao fortalecimento da circulação do Sangue e da Energia Vital que alivia as dores no útero. Aplicando pressão no Acuponto BP6 (Sanyinjiao), pode-se revigorar o fornecimento de Sangue e reduzir a dor. Neste estudo o objetivo foi analisar os efeitos da Acupressão no ponto BP6 (Sanyinjiao) em adolescentes na percepção da dor, ansiedade e síndromes menstruais durante a dismenorréia.17
Sobre os efeitos da Acupuntura Auricular nos sintomas menstruais para mulheres com dismenorréia primária, participaram da pesquisa dois grupos sendo 36 mulheres do grupo
randomizado e 35 do grupo controle, utilizando esta técnica com sementes seguindo de Acupressão nos Acupontos Auriculares da região de Fígado, Rim e Endócrino, massageando 15 vezes em cada Acuponto, três vezes ao dia, totalizando 20 dias. Os resultados mostraram que a Acupuntura Auricular com a utilização de sementes e sua Acupressão foi eficaz para as mulheres na melhora dos sintomas menstruais, como dor, irritabilidade, depressão e na sua qualidade de vida.15
5. Conclusão
Pode-se concluir que de acordo com a revisão bibliográfica levantada a Acupuntura apresentou-se eficaz em todos os tratamentos de dismenorréia. O Tratamento com Acupuntura Sistêmica foi o mais observado nesse estudo, sendo que os resultados mostraram vários benefícios como redução substancial na dor em 87% das pacientes, devido ao efeito gerado através do mecanismo fisiológico energético da Acupuntura, onde ocorre um fortalecimento da circulação do Sangue e da Energia Vital, agindo na inibição da produção de prostaglandina, que é um fator primordial para desencadear as contrações uterinas que levam a dor, ou seja, aos quadros de dismenorréia. Outros efeitos observados são relaxamento, calma e sentimentos de angústia reduzidos, devido à ação do ponto IG4 em diminuir o Sistema Nervoso Simpático e aumentar o Sistema Nervoso Parassimpático após a sessão, trabalhando o aspecto emocional como melhora no humor, ansiedade e irritabilidade nessas pacientes. A medicação tornou-se desnecessária e os sintomas de dor não ocorreram mais durante dois anos após o tratamento em grande parte dos casos, houve menor necessidade do uso de AINE (antiinflamatório não esteroidal) e outro benefício muito importante é que a Acupuntura pode ser indicada para tratar dor nos quadros de dismenorréia relacionados, em particular nos assuntos em que os contraceptivos orais e AINEs são contra-indicados ou onde há recusa no tratamento.
Além da Acupuntura Sistêmica existem outras técnicas foram observadas como a Acupuntura Auricular que se mostrou eficaz para as mulheres na melhora dos sintomas menstruais como, dor, irritabilidade, depressão e na melhora da qualidade de vida; a Eletroacupuntura que foi utilizada no ponto BP6 obtendo um efeito imediato e significativo na dor menstrual; a Moxaterapia utilizada no ponto VC8 sendo superior a medicação oral de analgésico nos quadros de dismenorréia e sua principal vantagem é de não apresentar nenhum efeito colateral. Outras técnicas como Laserpuntura, Acupressão e técnicas com pontos Fonte apresentaram resposta favorável e podem ser utilizadas com sucesso nesse distúrbio ginecológico tão freqüente que atinge a maioria das mulheres nos dias de hoje.
Os pontos primários mais citados nos estudos foram BP6, VC3, IG4 e F3 além dos pontos de acordo com o Padrão de Desarmonia de cada paciente, sendo VC4, VC6, VG4, BP4, BP8, BP10, E36, E29, F2, B17, B18, B20 e B23 os mais utilizados. Em todos os estudos pesquisados o ponto BP6 esteve presente, segundo a teoria dos antigos Chineses a fertilidade feminina depende principalmente da homeostase de Qi e Sangue, que estão intimamente relacionados com os órgãos Fígado, Rim e Baço. O BP6 é a junção dos Meridianos do Baço, Fígado, Rins e é considerado para fortalecer o Baço, o Fígado, nutrir o Rim e regular e harmonizar o Qi e Sangue, portanto, mostrando que comumente é usado para os quadros de dismenorréia.
A Acupuntura é um método de tratamento que vem crescendo, sendo bem aceito e conhecido pela sociedade com altas taxas de efetividade e melhora dos quadros de dismenorréia.
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