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ENSINO-ESCRITA COMO ENLACES DO TEMPO

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Academic year: 2020

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DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO COLÉGIO PEDRO II – RIO DE JANEIRO

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Editorial

Ensino-Escrita como enlaces do Tempo Ana Maria Ribas

O compromisso com o ensino-pesquisa e, a ele intimamente relacionado, com o trabalho docente expressam a razão de ser da Revista Encontros do Departamento de História do Colégio Pedro II, sob a chefia da Profª. Dra. Silvana Bandoli Vargas. Criada no ano de 2003 e em fase de reconfiguração quanto aos seus rumos, ora respaldada por novos caminhos institucionais, a proposta da Revista parte da concepção do ensino e da escrita como fundamentos de uma mesma epistéme, apesar de finalidades, atitudes e resultados diferenciados. Proposta essa que objetiva ampliar os diálogos da História enquanto área de conhecimento e disciplinar, e com outras áreas sob uma perspectiva pluri e/ou interdisciplinar, tendo em vista buscar novos velhos entendimentos acerca dos percursos e enunciações do Ensino. Estes, importa dizer, encontram-se compreendidos como formadores de um campo genuinamente político, que contempla a prática docente como instituinte de um saber que deve ser necessariamente articulado ao nosso ofício. Somente assim será possível ampliar as interlocuções dos docentes entre e no interior das instituições, bem como refazer pontes para produzir e socializar o conhecimento; e, ainda, repensar hierarquias, tendo em vista enfrentar distâncias entre o universo da academia e aquele da escola

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silenciosamente erguidas naqueles “tempos do mundo” de que nos fala François Hartog.

O número 22 apresenta, em seu Dossiê, reflexões sobre o movimento político militar de 1964 e a implantação do Estado Autoritário. Porquanto, para além de sacralizar o acontecimento, a data de 31 de março de 1964 rememora e eterniza, na perplexidade do tempo, o período mais difícil da história contemporânea da República brasileira. Frente à tentativa de desmantelamento dos vínculos do homem com a história e à cobrança das utopias não realizadas, a ditadura militar e seus desdobramentos convergem para o repensar do processo de reconstrução democrática do país em uma atitude de claro enfrentamento do presente

do passado. Chronos e Clio se en-laçam, não apenas para desafiar os

danos do Letes, mas para desvelar experiências de pertencimento marcadas por uma tradição cultural que precisa ser continuamente apreendida e questionada. Exercício esse que integra a nossa própria condição humana.

Entrecruzando temporalidades históricas, seja para aproximar distâncias seja para lidar com ausências, os artigos que compõem o dossiê ora promovem encontros entre política e cultura, ora suscitam outras possibilidades de ensino sobre a ditadura militar. A análise entre cinema e educação destaca o projeto de criação do Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE), em 1936, e a produção da série Brasilianas, por Humberto Mauro, em uma conjuntura histórica que resultou na decretação do Estado Novo por Getúlio Vargas; o que amplia leituras da

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cultura em tempos de autoritarismo. As reflexões em torno da autobiografia do homem público Juscelino Kubitschek apontam para estratégias de afirmação da sua memória que confluem para a elaboração do mito político enquanto obra individual e coletiva, recolocando em pauta os desdobramentos político-institucionais do Estado autoritário e apreendendo a história republicana contemporânea no (des)encontro de múltiplos tempos. A trajetória do ex-presidente da República João Goulart foi problematizada pelos autores para sublinhar as possibilidades de Ensino da História articulado a uma perspectiva crítica das narrativas didáticas, além de delinear outros enfoques ao tratamento do tema. E, por fim, mas não menos, a proposta histórica e pedagógica em torno da ditadura civil-militar, vista como imprescindível à formação crítica dos estudantes, incita perguntas e busca respostas às demandas democráticas colocadas nesse presente; o que leva o autor a destacá-la como eixo político-pedagógico da construção curricular na Educação Básica.

Por seu turno, temos outros trabalhos, igualmente relevantes, acerca das associações entre literatura e história e, também, sobre o ensino na Educação Básica em diferentes áreas do saber. A abordagem das narrativas literárias como fonte e objeto de ensino-escrita da história apresenta ricas contribuições ao desvelar como a cultura pode ser trabalhada mediante práticas pedagógicas que apreendem o patrimônio cultural enquanto espaço de memória, de transmissão de saberes e de constituição de identidades; o que oferece uma rara fusão entre poesis,

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história e vivências humanas nas urdiduras do tempo. A proposta didático pedagógica, construída na interface das Artes Visuais e Desenho Geométrico, une sensibilidade estética, recursos técnicos e tecnológicos, tradições artísticas e saber histórico; e exemplifica como o ensino pode avançar nos espaços da criatividade humana e tecer outras formas de interação entre individual e coletivo. A discussão referida às Ciências da Natureza ressalta a preocupação da autora em entender a crise no ensino dessa área, associada no geral às metodologias ainda vigentes, do mesmo modo que defende a aproximação dos conteúdos ao cotidiano dos estudantes.

Informados por matrizes teóricas diversas, os artigos projetam o Ensino e a Escrita como enlaces do tempo. Do Brasil de tantos tempos, cuja centralidade reside por ora no cinquentenário da ditadura militar e no que desejamos ou podemos ousar nesse presente, para que possamos avançar na construção de uma outra perspectiva de sociedade e da República brasileira. De professores, que re-elaboram saberes e refletem, pela e na prática, o que significa ensinar-aprender no compasso de suas trajetórias de vida. De tecituras do tempo, que permitiram, sem tornarem opacas as singularidades de cada autor, a composição desse ensaio coletivo capaz de reunir política, cultura, arte, ciência e educação. Uma referência de agradecimento a todos os professores e, em especial, aqueles inseridos em outras instituições, que, partícipes da revista, acreditam na Educação como diálogo entre visões de mundo e de homem. E como ponte capaz de compreender o ensino em seu viés transformador,

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permitindo prosseguir nos espaços possíveis da vida. Porque ser professor não é meramente uma nuança, porém prática sociopolítica que, a cada passo, busca, sob olhares diferenciados, habitar o tempo.

A reflexão e a inquietação precisam existir sempre entre nós, evitando as armadilhas do ceticismo, da sedução, da crítica destrutiva e da negação da diversidade. Devemos continuar acreditando no potencial criador e transformador do homem, a fim de evitar o estratagema de que os seres humanos não são sujeitos de sua própria história. O Ensino e a Escrita recriam territórios e formatam identidades, a partir dos quais podemos reconstruir e socializar o conhecimento, com aquela fértil “imaginação para a verdade da realidade” e sem abrir mão do “espírito poético”, como em outro tempo advertia Goethe em conversa com o seu amigo

Eckermann1. Porque Ensinar-Escrever é também uma forma de resistir...

1 Fragmento da conversa de Goethe com o seu amigo Eckermann, em 1825, que foi

retomada por Ernst Cassirer quando elabora uma discussão sobre a História. CF. CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem; introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 331-2.

Referências

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