Prevalência das complicações da cirurgia de catarata em campanha assistencial/Prevalence of the complications of cataract surgery performed in an assistential campaign

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 7, p. 53783- 53790 jul. 2020. ISSN 2525-8761

Prevalência das complicações da cirurgia de catarata em campanha assistencial

Prevalence of the complications of cataract surgery performed in an

assistential campaign

DOI:10.34117/bjdv6n7-864

Recebimento dos originais:08/06/2020 Aceitação para publicação:31/ 07/2020

Mariana Gouveia Bastos Meirelles

Centro de Referência em Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil

Universidade Federal de Goiás, Q.ta Avenida - Setor Leste Universitário, Goiânia - GO, 74001-970

E-mail:mgbastos@hotmail.com

Tainara Sardeiro de Santana

Mestre e Doutoranda no Programa Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás e Faculdade Estácio de Goiás

Endereço:1ª Avenida, n 545 Setor Leste Universitário – CEROF/UFG Goiânia, Goiás – Brasil E-mail: enftainara@gmail.com

Lorena Tassara Quirino Vieira

Acadêmica de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Goiás –

Endereço:R. 235, s/n - Setor Leste Universitário - CEP 74605-050 - Goiânia - Goiás – Brasil E-mail: lorenatassara4@hotmail.com

Christina Souto Cavalcante Costa

Docente da Faculdade Estácio de Sá de Goiás

Endereço:Av. Goiás, 2151 - St. Central, Goiânia - GO, Brasil

Kênia Alessandra de Araujo Celestino

Docente da Faculdade Estácio de Sá de Goiás

Endereço:Av. Goiás, 2151 - St. Central, Goiânia - GO, Brasil E-mail:keniacelestino@hotmail.com

Murilo Batista Abud

Universidade Federal de Goiás, Q.ta Avenida - Setor Leste Universitário, Goiânia - GO, Brasil

E-mail: abudmurilo@gmail.com

Marcos Pereira de Ávila

Universidade Federal de Goiás, Q.ta Avenida - Setor Leste Universitário, Goiânia - GO, Brasil E-mail:marcosavila@cbco.com.br

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RESUMO

O processo de envelhecimento populacional é uma tendência mundial e traz, como consequência, o aumento da prevalência das doenças crônicas, dentre as quais se destaca a catarata. O objetivo do presente estudo foi identificar a prevalência das complicações relacionadas a cirurgia de catarata realizada em campanha assistencial. Realizou-se um estudo retrospectivo longitudinal, envolvendo a revisão dos prontuários referentes aos olhos que haviam sido submetidos a facectomia realizada em regime de campanha. Após serem separados aqueles em que se detectou complicações per e pós-operatórias, obteve-se um número de 67 casos, que foram catalogados conforme dados do paciente e do olho operado, em cada etapa do tratamento. Após a análise dos dados compilados, pode-se observar que, independentemente do tipo e da quantidade de complicações, os benefícios da facectomia, quando bem indicada, são indiscutíveis. Além disso, nota-se que as mais graves e definitivas complicações são as menos frequentes, justificando assim o risco-benefício do procedimento proposto. No entanto, este estudo mostra a necessidade de reflexão por parte de muitos cirurgiões quanto a importância de um bom seguimento pós-operatório, bem como de uma pesquisa da rede de apoio ao paciente, visando evitar a perda do acompanhamento.

Palavras-chave: Catarata, Campanha, Facectomia, Complicações. ABSTRACT

The population aging process is a worldwide trend and, therefore, it increases in the prevalence of chronic diseases, among which cataract stands out. The aim of the present study was to identify the prevalence of complications related to cataract surgery performed in an assistance campaign. A longitudinal retrospective study was carried out, involving the review of all medical records regarding the eyes that had undergone a facectomy performed under a campaign regime. After separating those in which per and postoperative complications were detected, a number of 67 cases was obtained, which were cataloged according to data from the patient and the operated eye, at each treatment step. After analyzing the compiled data, it can be seen that, regardless of the type and amount of complications, the benefits of a facectomy, when properly indicated, are indisputable. In addition, it is noted that the most serious and definitive complications are the least frequent, thus justifying the risk-benefit of the proposed procedure. However, this study shows the need for reflection on the part of many surgeons as to the importance of a good postoperative follow- up, as well as the research of the patient support network, in order to avoid the loss of monitoring the complication.

Keywords: cataracts, campaign, facectomy, complications

1 INTRODUÇÃO

Ainda que a intervenção cirúrgica para o tratamento da catarata seja um dos procedimentos mais realizados pela medicina nos dias de hoje, a catarata permanece sendo a principal causa de deficiência visual e cegueira no mundo (KARA-JOSÉ e TEMPORINI, 1999; LEAMING, 1999; KARA-JUNIOR, 2011).

Estima-se que, a cada ano, por volta de 1 a 2 milhões de pessoas se tornam cegas e a previsão é que os portadores de cegueira somem 76 milhões no ano de 2020. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem 45 milhões de casos de cegueira no mundo, sendo 40% devido a catarata,

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que é a maior causa de cegueira reversível, a exceção dos países desenvolvidos (KARA-JOSÉ e cols, 2008; KARA-JOSÉ e cols, 2009; ÁVILA e cols, 2012; CENTURION e cols, 2012; DOMINGUES e cols, 2016). A cegueira por catarata pode atingir cerca de 5% na Europa Ocidental, América do Norte e países mais desenvolvidos do Oeste do Pacífico, enquanto responde por 50% ou mais em países e regiões mais pobres (OTTAIANO e cols, 2019).

A incidência de catarata está estimada em 0,3%, segundo a OMS, e assim representa, no Brasil, cerca de 550.000 novos casos por ano. Sendo praticamente uma patologia da terceira idade, com o aumento da população idosa no país, estima-se que terá uma incidência ainda maior no futuro (ÁVILA e cols, 2012; OTTAIANO e cols, 2019).

A cegueira por catarata é totalmente reversível por meio de um procedimento cirúrgico, no entanto, há uma limitação complexa de acesso, em especial nas regiões mais pobres. (KARA-JOSÉ e cols, 2008; ÁVILA e cols, 2012; OTTAIANO e cols, 2019).

Os mutirões de facectomia, difundidos no Brasil, reduzem filas e tempo de espera e melhoram a qualidade de vida, por eliminarem limitações orçamentárias e gerenciais. Além de identificar outras patologias, este mutirões geram ações rápidas e efetivas (SILVEIRA e TRAVASSOS, 2004).

No entanto, sabe-se que as complicações são inerentes a qualquer tipo de procedimento cirúrgico, não sendo diferente para a oftalmologia, e atualmente não existem muitos estudos que abordem a prevalência e os tipos de complicações per e pós-operatórias, que envolvam as campanhas e os mutirões.

Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi identificar a prevalência de complicações e de casos não complicados após a cirurgia de catarata realizada em regime de campanha.

2 MÉTODOS

Trata-se de um estudo retrospectivo longitudinal, envolvendo a revisão dos prontuários, com abordagem quantitativa e descritiva-correlacional, a partir da análise de dados do mutirão de cirurgias de catarata desenvolvido em Macapá, Amapá, nos anos de 2013 e 2014, por meio de um convênio com o centro de referência em oftalmologia de Goiânia. Todas as cirurgias foram realizadas com financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

As cirurgias de catarata foram realizadas por profissionais qualificados e os seguimentos pós-operatórios, bem como a realização das visitas e revisões no período pós-operatório, que ocorreram no 1º (primeiro) e no 15º (décimo quinto) dia após a cirurgia (nesta última visita foi realizada a refração e a medida da AV corrigida).

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3.999 (três mil novecentos e noventa e nove) olhos foram submetidos as cirurgias de catarata, após triagem realizada pela equipe responsável, por meio do mutirão realizado entre os anos de 2013 e 2014. Dentre estes 3.999 olhos, todos aqueles casos que tiveram complicações per e pós-operatórias referentes as procedimento cirúrgico de catarata, foram encaminhados ao centro de referência responsável, perfazendo uma amostra de 67 (sessenta e sete) casos com complicações.

Os critérios de inclusão foram casos que apresentavam diagnóstico de catarata; casos inscritos no Projeto “Visão Para Todos”; casos que tinham a descrição das complicações ocorridas durante e após o procedimento cirúrgico. Os critérios de exclusão analisaram os casos que não apresentavam catarata; casos não inscritos no Projeto “Visão Para Todos”; casos que não continham a descrição de complicações.

Os dados coletados primariamente adquiridos foram oriundos da avaliação de cada um dos prontuários de todos os olhos que foram submetidos ao procedimento cirúrgico neste mutirão realizado entre 2013 e 2014, e que permaneceram em acompanhamento pós-operatório junto a equipe do centro de referência. Após esta primeira avaliação, foram coletados e compilados, separadamente, todos os dados dos prontuários que continham descrições referentes às complicações, caracterizando detalhadamente cada uma delas.

Foi utilizado o Software for Statistics and Data Science (STATA®) versão 14.0 para Windows nesta análise. Realizou-se o teste Exato de Fisher para comparação das proporções entre grupos de variáveis categóricas. O nível de significância utilizado para todos os testes foi de 5% (p < 0,05).

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica (CEP), do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (CEP/HC/UFG), conforme parecer nº 2.125.837 (anexo A), e somente foi desenvolvido após parecer favorável deste comitê.

3 RESULTADOS E DISCUSSAO

Durante os anos de 2013 e 2014, na campanha realizada em Macapá, no Estado do Amapá, participaram do mutirão de cirurgias de catarata 3.999 (três mil novecentos e noventa e nove) olhos, dentre os quais foram detectados 67 (sessenta e sete) casos que apresentaram complicações per e pós-operatórias, sendo estes, então, selecionados para o presente estudo. Os outros 3.932 (três mil novecentos de trinta e dois) olhos não apresentaram complicações per e pós-operatórias, e representam 98,32% desta amostra. Este baixo índice de complicações reflete as evidências encontradas na literatura, (LAVINSKY e cols, 2002; DELPHINO e cols, 2016; LIN e cols, 2020) notando-se que estes parâmetros podem ser repetidos em diferentes cenários, este estudo

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apresentando uma prevalência inferior a alguns trabalhos realizados em centros de ensino (VENTURA e BRANDT, 2004; BARRETO JUNIOR e cols, 2010; CARRICONDO e KARA-JOSE, 2010; KANGE e cols, 2015).

Houve uma variação de 42 a 92 anos de idade, sendo a média de idade dos participantes, ou seja, dentre aqueles 67 casos que apresentaram complicações, de 66,57 anos (DP = 12,29; mínimo = 40,00; máximo = 92,00).

Analisando cada faixa etária, pode-se observar que 7 (sete) casos tinham menos de 50 anos, representando 10,44% da amostra, e os outros 60 (sessenta) casos apresentavam 50 anos de idade ou mais, e representaram 89,55% desta amostra, a maioria.

Desta amostra de 67 casos que apresentaram complicações per e pós- operatórias, 42 (62,69%) eram do sexo masculino e 25 (37,31%) eram do sexo feminino.

Em relação a presença de comorbidades, 39 casos (58,20%) não apresentavam doenças preexistentes, 15 casos (22,38%) apresentavam Diabetes Mellitus (DM) e 33 casos (49,25%) eram portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS).

Outras comorbidades não foram referidas pelos pacientes ou não foram registradas nos prontuários médicos do CEROF/HC/UFG analisados neste estudo.

Com relação ao número médio de complicações, observando-se que alguns casos apresentaram mais de uma complicação per ou pós-operatória, o número médio de complicações, por olho, foi de 2,95 (DP = 0,91; mínimo = 1,00; máximo = 5,00).

Quanto a análise dos tipos de complicações per e pós-operatórias mais frequentes, 1,48% dos casos apresentaram rotura da cápsula posterior.

Para esta análise, esta amostra não apresentou diferenças significativas na relação entre a idade e a ocorrência das complicações, mesmo quando cada uma das complicações foi avaliada separadamente.

Analisando as complicações operatórias encontradas, se manifestaram no período pós-operatório tardio da cirurgia de catarata, 70,14% dos 67 casos complicados. Este dado demonstra a importância do devido acompanhamento e da realização de múltiplas avaliações durante o seguimento dos pacientes submetidos a cirurgia de catarata, independentemente da execução das cirurgias em regime de campanhas assistenciais.

Ao avaliar a associação do sexo com as complicações individualmente, foi verificada uma maior frequência de descolamento de retina no sexo masculino (40,48% vs 8,00%, p = 0,005) e uma maior frequência de luxação da LIO no sexo feminino (20,00% vs 2,38, p = 0,024). Por outro lado, não foi verificada associação das complicações com a presença de DM e a HAS.

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A acuidade visual após o tratamento da complicação não pode ser analisada em todos os 67 casos, pois 15 (quinze) deles perderam o seguimento no CEROF/HC/UFG (representando 22,38%), totalizando ao final 52 (cinquenta e dois) olhos nos quais foi aferida a acuidade visual após o tratamento das complicações.

É válido ressaltar que todas as cirurgias de catarata deste mutirão foram executadas em um hospital da região, e as cirurgias para tratamento de todas as complicações foram realizadas no centro cirúrgico do centro de referência responsável.

Existem casos no Brasil em que a população fica desassistida após o mutirão, não tendo acesso ao devido acompanhamento pós-operatório e ao seguimento das possíveis complicações per e pós-operatórias que podem surgir. No entanto, faz-se necessário um sistema de vigilância ativa que se proponha a acompanhar sinais oftalmológicos adversos no pós-operatório de catarata pode agir como um bom indicador para a detecção precoce de evento adverso (LUZ e cols, 2015).

Afinal, independentemente do baixo índice de complicações, a facectomia não é isenta deste risco, e cada paciente deve ter acesso a um cuidado humanizado e individualizado. É necessário que haja uma combinação de esforços, que envolva além das campanhas e mutirões, a estruturação de polos especializados, para que proporcionem acesso permanente aos serviços de Oftalmologia no país, ainda que esta medida seja desafiadora (ÁVILA e cols, 2012).

O estudo se propôs a descrever a prevalência das complicações per e pós-operatórias da facectomia, em campanha assistencial, no intuito de diminuir a prevalência de futuras complicações, em outros cenários, através do desenvolvimento de medidas que busquem esta prevenção. É válido observar que o presente trabalho pode indicar a importância da avaliação constante do impacto dos mutirões no risco e no benefício para a vida do paciente, destacando a prevalência das complicações per e pós-operatórias que podem surgir, o que se reflete numa mais detalhada descrição do panorama dos indicadores de saúde ocular.

4 CONCLUSÕES

O estudo contemplou a discussão sobre a prevalência e os tipos das complicações per e pós-operatórias, decorrentes das cirurgias de catarata realizadas através de uma campanha comunitária, voltada para a população de baixa renda do Estado do Amapá, situado na região Norte do Brasil.

Foi observado que não houve diferença significante entre as complicações das cirurgias de catarata realizadas em regime de campanhas por este estudo com aquelas realizadas em protocolos convencionais, em hospitais universitários. A baixa incidência detectada confirmou os dados da

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literatura e foi inferior a encontrada por alguns autores, sendo detectada uma prevalência de 98,32% de casos não complicados.

A ocorrência de complicações per e pós-operatórias, associada ao fato de a equipe que realiza o procedimento estar em uma cidade ou estado tão distantes da cidade atendida previamente, trazem sérias dificuldades para a execução de um bom seguimento pós-operatório destes pacientes, quando atendidos em mutirões e campanhas.

REFERÊNCIAS

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