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Medidas sanitárias e fitossanitárias na OMC : meio de defesa da vida e saúde humana, animal e vegeta

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Academic year: 2017

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Dissertação apresentada ao Programa de

Pós Graduação em Direito

da Pontifícia Universidade Católica de

Brasília, como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Direito.

Área de Concentração: Direito

Internacional Econômico

Orientador: Dr. Antônio de Moura Borges

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Dissertação de autoria de Mariana Rabelo Cunha, intitulada “Medidas sanitárias e fitossanitárias na OMC: Meio de defesa da vida e saúde humana, animal e vegetal”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Direito da Universidade Católica de Brasília, em 18 de abril de 2012, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

______________________________________________________________ Prof. Dr. Antônio de Moura Borges

Orientador

______________________________________________________________ Prof. Dr. João Rezende Almeida Oliveira

Examinador Interno

______________________________________________________________ Prof. Dr. José Querino Tavares Neto

(5)
(6)

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Agradeço primeiramente a Deus, constante em minha vida, razão maior de poder estar concluindo esta caminhada.

Ao Roberto, pelo apoio, amor, compreensão e carinho dispensados a mim durante esta trajetória, sempre me fazendo acreditar que poderia vencer. Obrigado por cada palavra de incentivo e pela presença forte nos momentos mais difíceis.

Aos meus pais, que com muito amor se mantiveram ao meu lado, meus irmãos, toda minha família pela compreensão, afeto e orações.

Aos professores e colegas de Mestrado pela convivência, pela amizade e sábios ensinamentos.

(7)

“O Cristo não pediu muita

coisa, não exigiu que as pessoas

escalassem o Everest ou fizessem

grandes sacrifícios. Ele só pediu que amássemos uns aos outros.”

(8)

CUNHA, Mariana Rabelo. 5 , 5 ! "#

, 6 7 + ( 6 0 -2012. 128f, Brasília, 2012.

A Organização Mundial do Comércio apresenta caráter multilateral por favorecer todas as nações mundiais, objetivando a promoção do livre comércio entre elas, além de promover fórmulas específicas para garantir a competitividade entre ambas, e, é claro, o crescimento de todas. Mas, é preciso atentar se que, vários países partem para a regulamentação da atividade comercial objetivando proteger o mercado produtor interno e a própria economia nacional da interferência do mercado externo. Nesse ínterim, surgem as inúmeras barreiras tarifárias que incrementam a regulação das atividades de importações. Existiam barreiras não tarifárias, mesmo antes da criação da OMC, que objetivavam a proteção dos consumidores internos de cada país. Deve se atentar para o uso das medidas sanitárias e fitossanitárias como barreiras técnicas ao comércio internacional e não com a verdadeira finalidade para as quais foram criadas, qual seja a proteção da saúde e da vida humana, animal e vegetal. Esta dissertação pretende abordar um estudo sobre as medidas sanitárias e fitossanitárias, enfocando os seus conceitos e objetivos, contemplando a análise de jurisprudência e, em especial, analisar o Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias.

6 + 6 # Acordo. Comércio. Medidas sanitárias e fitossanitárias. Meio

(9)

The World Trade Organization (WTO) has a multilateral character by favouring all nations worldwide and it aims to promote the free trade among them. Furthermore, WTO promotes specific rules to guarantee the competition and ensures the growth of all nations. However, it is necessary to pay attention that many countries promote the regulation of commercial activity intending to defend the domestic producer market and also the own national economy from the foreign market interference. At the same time, many tariff barriers which increase the guidelines of the importation activities arise. Even before the creation of the WTO, there were non tariff barriers (NTBs) which aimed to protect the consumers of each country. A key observation must be done about the use of sanitary and phytosanitary measures as technical barriers to the international trade and not as the true purpose for which they were created: protection of human being and health, animals and plants. This dissertation aims to deal with the sanitary and phytosanitary measures focusing their concepts and objectives considering the case law analysis, mainly the Sanitary and Phytosanitary Measures Agreement.

8 9 : : Agreement. Trade. Sanitary and Phytosanitary Measures. Natural

(10)

BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Banco Mundial) CE Comunidades Européias

CITES – Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção

CIPP – Convenção Internacional de Proteção das Plantas EC – Comunidades Européias

ESC – Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Controvérsias

EUA – Estados Unidos da América

GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio FMI – Fundo Monetário Internacional

MEAS Acordos Multilaterais Ambientais

NAFTA – Tratado Norte Americano de Livre Comércio NMF – Cláusula da Nação Mais Favorecida

OA – Órgão de Apelação

OIC – Organização Internacional do Comércio OIE Órgão Internacional de Epizootias

OSC – Órgão de Solução de Controvérsias PEDs – Países em desenvolvimento

PDs – Países desenvolvidos

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(11)

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1.1 O CENÁRIO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL NA ÉPOCA DA CRIAÇÃO DA OMC... 15

1.2 AS REGRAS BÁSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ... 16

1.3 OS REFLEXOS DA CONVENÇÃO DE BRETTON WOODS NA GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA... 18

1.4 AS RODADAS DO GATT E A OMC... 20

4-B-4 8 9... 23

4-B-2 ... 24

4-B-C ' 0 ... 25

1.5 AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO... 27

1.6 FUNÇÕES E ESTRUTURA DA OMC ... 29

1.7 ÓRGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS (OSC)... 31

2 !"' ;<! / ) ! = ;<! ' ) ! "! > " !... 33

2.1 COMÉRCIO E MEIO AMBIENTE... 33

2.2 A OMC E SUA COMPETÊNCIA... 35

2.3 A REGULAÇÃO DA PROTEÇÃO AMBIENTAL NA OMC ... 36

2.4 OS ACORDOS DA OMC E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE ... 38

2.5 A LIBERDADE DO COMÉRCIO E A PROTEÇÃO AMBIENTAL... 42

2.6 O CONFLITO ENTRE AS REGRAS DA OMC E O DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE ... 44

2-D-4 ! * 5 E ! "... 45

2.7 PREPONDERÂNCIAS DAS NORMAS COMERCIAIS SOBRE AS NORMAS AMBIENTAIS... 47

(12)

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3.1 BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS: O INTRÓITO DAS MEDIDAS SANITÁRIAS E FITOSSANITÁRIAS ... 50

3.2 52 3.3 O ACORDO SOBRE BARREIRAS TÉCNICAS AO COMÉRCIO (TBT): ESCOPO, DIREITOS E OBRIGAÇÕES E IMPLEMENTAÇÃO... 53

3.4 O ACORDO SOBRE A APLICAÇÃO DE MEDIDAS SANITÁRIAS E FITOSSANITÁRIAS (SPS) ... 56

C-B-4 F F ... 56

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C-B-L 6 M ... 62

C-B-D 6 16 F F F 5 5 ... 63

C-B-N 0 K ... 64

C-B-O ... 66

C-B-J F M F ... 67

C-B-43 M P F , ... 70

3.3 A JURISPRUDÊNCIA DA OMC RELATIVA À APLICABILIDADE DAS MEDIDAS SANITÁRIAS E FITOSSANITÁRIAS E A PROTEÇÃO AMBIENTAL... 71

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A importância das medidas sanitárias e fitossanitárias no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) tem sido tema de ampla discussão e

influenciado diretamente nas negociações multilaterais assim como regionais. Nestes debates, tais questões buscam a definição de regras e padrões sanitários e

técnicos, sempre com base científica, que se adaptem a todos os países signatários, visando à viabilidade comercial internacional, porém, sem perder de vista as questões ambientais.

Assim, dentre os diversos temas incluídos ou relacionados ao sistema multilateral de comércio, poucos assuntos são relevantes e atuais quanto à relação que a OMC tem com a proteção do meio ambiente e, para tanto, as medidas sanitárias e fitossanitárias têm grande importância, pois pode funcionar como

barreiras não tarifárias às relações comerciais de produtos agrícolas e

agroindustriais.

Nesse contexto, é relevante ressaltar que durante a Rodada Uruguai do GATT, foi instituído o Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias, destinado a regular a aplicação de medidas que visem à proteção da vida e da saúde humana, animal e vegetal, quando existirem fundamentos para tanto. Dessa forma, já no antigo GATT, a presença das medidas ambientais em tela foi tema patente, confirmando sua relevância e importância. De tal evento apenas aconteceram avanços e adesões, sempre com o escopo de disciplinar o tema de regulamentos técnicos, abrangendo as medidas de natureza sanitária.

Com a criação da Organização Mundial do Comércio, em 1995, que começaram a serem firmados os Acordos sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (Acordo TBT), assim como Acordos sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (Acordo SPS). Assim, baseando nesses acordos, os signatários passaram a ter o

poder de ajustar medidas que limitem tais relações comerciais, quando necessário for a proteção da saúde ou até mesmo da vida humana, animal e vegetal, assim como do próprio meio ambiente, de forma geral.

(14)

Acordo SPS legitimar a aplicação de barreiras ao comércio é que motiva o presente estudo, que sugere examinar se a OMC consegue demarcar critérios jurídicos eficientes com o escopo de controlar a adoção das medidas sanitárias e fitossanitárias como forma de proteger o mercado.

Analisar se á o Acordo SPS e os casos julgados diante do OSC, buscando assim responder os seguintes questionamentos, de que maneira a OMC lida com as

medidas sanitárias e fitossanitárias, focalizando principalmente sua utilização protecionista? O fato de o acordo SPS legitimar a aplicação de barreiras ao comércio consegue delimitar critérios eficientes, no âmbito da OMC, no tocante a proteção ambiental?

Dessa forma, o presente estudo objetiva analisar as medidas sanitárias e fitossanitárias, como forma de regulação da proteção ambiental e proteção da saúde humana, animal e vegetal, no âmbito da OMC, mostrando as exigências dos países importadores baseados no Acordo SPS, assim como a conveniência pelos países importadores em promover barreiras técnicas que decorrem de problemas sanitários e fitossanitários.

A presente pesquisa, a fim de se alcançar os objetivos propostos, buscou nas diversas fontes bibliográficas, a sustentação teórica para sua fundamentação. Far se á a análise de diversos autores, cruzando entendimentos e posicionamentos, levando em consideração a evolução histórica e posicionamento atual do tema. Dentre estes autores destacam se: Alberto do Amaral Júnior, Bela Balassa, Celso D. Albuquerque e Mello, Rodrigo Carvalho de Abreu Lima, Vera Thorstensen, Welber Barral. Foram analisados também alguns Acordos, como fontes primárias.

O presente trabalho tem como tema a proteção do meio ambiente na OMC, especificamente com referência às medidas sanitárias e fitossanitárias estabelecidas a este fim, o que inclui a análise dos instrumentos normativos e políticos oferecidos por esta instituição internacional para que o comércio e a proteção ambiental

possam dar se em conjunto.

(15)

aplicação das barreiras não tarifárias, objetivando a proteção não só do mercado, mas também da sua economia.

O trabalho também se justifica por outros temas ligados ao SPS, especialmente com relação à segurança dos alimentos e dos efeitos econômicos

indesejados provenientes da aplicação das medidas sanitárias e fitossanitárias. Para elucidar o propósito desta pesquisa, a dissertação será dividida em três

capítulos, apresentados da seguinte forma.

No Capítulo 1 tratará das relações comerciais bem como as regras básicas do comércio internacional. De forma breve, aborda a convenção Bretton Woods, que teve como objetivo governar as relações monetárias entre Estados. Ressalta as rodadas do Gatt/OMC e, por fim, trata da OMC, que será analisada com vistas a mostrar sua estrutura, funções, antecedentes históricos, e Órgão de Solução de Controvérsias.

O Segundo capítulo enfoca a preocupação ambiental na OMC, ressaltando a sua atuação nas questões ambientais. Frisa ainda, o conflito entre as regras da OMC e o Direito Internacional do meio ambiente.

(16)

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1.1 O CENÁRIO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL NA ÉPOCA DA CRIAÇÃO DA

OMC

Por volta dos anos 80, acontecia uma crescente “guerra comercial” entre as principais potências econômicas como: Comunidade Européia x EUA, EUA x Japão, CE e EUA contra os países asiáticos, e CE e EUA contra os países da América do Sul. Com a exasperação dos conflitos e para gerir as disputas de interesses, uma série de mecanismos artificiais foi instituída à margem das regras comerciais então estabelecidas dentro do antigo GATT. Dentre eles, a criação de acordos preferenciais de comércio dentro de zonas privilegiadas, bem como o comércio administrado por acordos de exportação entre países, controlados por quotas ou licenças. Assim, cada parceiro comercial passou a usar mais os instrumentos de comércio exterior existentes dentro das suas políticas comerciais, muitas vezes como meios de proteção a seus setores tradicionais e de menor competitividade.

Foi num contexto de exasperação dos conflitos internacionais na esfera comercial, derivados dos processos de globalização e de interdependência das economias, que nasceu em 1986, a necessidade de se começar uma nova e ampla negociação multilateral sobre o comércio externo. Diferindo das negociações anteriores que tinham como base a redução de tarifas e de barreiras não tarifárias, a nova negociação contava com variados temas como, investimentos, propriedade intelectual e serviços, que interessavam aos países desenvolvidos. Já para atingir os interesses dos países em desenvolvimento, foram incluídos temas como o acesso a mercados de bens, agricultura, têxteis, e regras operacionais que coibissem ações protecionistas praticadas pelos países desenvolvidos contra os países em

desenvolvimento.

(17)

1.2 AS REGRAS BÁSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Nota se que, no decorrer dos anos, vem ocorrendo um evidente

desenvolvimento do comércio internacional dentro de um sistema de regras,

definidas de início por meio de tratados bilaterais e, a partir da instituição do GATT, em 1947, vêm sendo aprofundadas por meio de negociações multilaterais.

O sistema de regras estabelecido no âmbito do GATT objetiva liberalizar as trocas entre as partes contratantes por meio da prática de um comércio aberto a todos, assim como a partir de um conjunto de regras que se fundamentam em alguns princípios básicos, sendo:

O primeiro é que o único instrumento de proteção permitido dentro das atividades de trocas comerciais é o definido em termos de tarifas aduaneiras, e um dos objetivos do Acordo Geral é de torná las cada vez mais reduzidas. O segundo é que uma vez estabelecida uma nova tarifa ou concedido um benefício, estes passam a ser estendidos de forma não discriminatória, isto e, de igual modo para todas as partes contratantes. O terceiro garante que uma vez dentro da fronteira de uma parte contratante, produtos importados não podem ser discriminados com relação aos produtos nacionais (THORSTESEN, 2009, p. 32).

Assim, percebe se que as normas definem bem a postura das partes contratantes. Nesse sentido, não pode ocorrer discriminação, o tratamento deve ser igualitário, objetivando, assim, a liberalização das trocas.

As regras básicas que foram estabelecidas no Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio são as seguintes (GATT, Acordo Geral de 1947):

Tratamento Geral de Nação Mais Favorecida (NMF) – é a mais importante das regras e dá caráter multilateral ao GATT, em detrimento do caráter bilateral. A regra proíbe a discriminação entre países que são partes contratantes do Acordo Geral. Fica estabelecido que toda vantagem, favor, privilégio ou imunidade afetando direitos aduaneiros ou outras taxas que são concedidos a uma parte contratante, devem ser acordados imediatamente e incondicionalmente a produtos similares comercializados com qualquer outra parte contratante. Essa regra é conhecida como a regra de “Não Discriminação entre as Nações” (Artigo I);

Lista das Concessões – determina a lista dos produtos e das tarifas máximas que devem ser praticadas no comércio internacional. A regra estabelece que cada parte contratante deve conceder ao comércio com outras partes tratamento não menos favorável do que o previsto nas Listas de Concessões anexadas ao Acordo. Antes da Rodada Uruguai os países desenvolvidos já haviam consolidado suas listas para a maioria dos produtos e só podiam alterá las mediante concessões às partes interessadas. Os países em desenvolvimento haviam consolidado apenas parte de suas listas e vieram a consolidá las amplamente apenas na Rodada Uruguai (Artigo II);

(18)

permitir a proteção dos produtos domésticos. Esta regra é conhecida como a regra de “Não Discriminação entre Produtos” (Artigo III);

Transparência – a regra cria a obrigatoriedade da publicação de todos os regulamentos relacionados ao comércio. Fica estabelecido que leis, regulamentos, decisões judiciais e regras administrativas tornadas efetivas por qualquer parte contratante devem ser publicados prontamente, de modo a permitir que governos e agentes de comércio externo possam deles tomar conhecimento (Artigo X);

Eliminação das Restrições Quantitativas – a regra determina que nenhuma outra proibição ou restrição tornada efetiva através de quotas, licenças de importação e de exportação, ou outras medidas, deve ser estabelecida ou mantida sobre importações ou exportações de produtos. O artigo deixa claro que as chamadas barreiras não tarifárias são proibidas e que apenas tarifas devem ser utilizadas como elemento de proteção. Regras especiais foram estabelecidas para produtos agrícolas e têxteis (Artigo XI).

Foram citadas as regras básicas no âmbito do Acordo Geral do GATT. Vale ressaltar que tais quesitos tornaram se regras de atuação dos parceiros mundiais na área do comércio internacional.

Dessa maneira, vale citar as exceções que foram criadas não somente com a finalidade de atender a interesses específicos das partes do Acordo, mas também de almejar o controle do uso de instrumentos que acaso viessem admitir a não aplicação das normas negociadas, além do processo de transição para os compromissos assumidos, além disso, foram definidas os casos de exceções admitidas. Sendo:

Exceções Gerais – nada no Acordo deve impedir a adoção de medidas para proteger a moral pública e a saúde humana, animal ou vegetal; o comércio de ouro e prata; a proteção de patentes, marcas e direitos do autor; tesouros artísticos e históricos; recursos naturais exauríveis, e garantias de bens essenciais (Artigo XX);

Salvaguardas a Balanço de Pagamentos – qualquer parte contratante do Acordo pode restringir a quantidade ou o valor das mercadorias importadas de forma a salvaguardar sua posição financeira externa e seu balanço de pagamento. As restrições devem permanecer em vigor apenas pelo tempo necessário para resolver a crise (Art. XII). Países em desenvolvimento têm regras especiais para salvaguardar seus balanços de pagamento, e mesmo para proteger suas indústrias nascentes (Artigo XVIII);

Salvaguardas ou Ações de Emergência sobre Importações – se um produto está sendo importado em quantidades crescentes e sob condições que possam causar ou ameaçar causar prejuízo grave aos produtores domésticos, a parte contratante fica livre para suspender as concessões acordadas através de tarifas ou quotas, retirar, ou modificar as concessões, determinando novas tarifas e quotas. O Acordo Geral estabelece as condições para que tais medidas possam ser implantadas, em caráter temporário (Artigo XIX);

(19)

Comércio e Desenvolvimento – o Acordo Geral foi modificado em 1968, para incluir toda uma parte que estabelece princípios gerais para o comércio dos países em desenvolvimento e permitir assim seu crescimento econômico, segundo as recomendações da UNCTAD –

. É a chamada regra do Tratamento Especial e Diferenciado (Parte IV do GATT). (GATT, 1947)

Ante o exposto, compreende se que as exceções permitidas não atingem as partes contratantes no âmbito do comércio internacional. Com as regras e exceções ficou claro que os princípios foram determinados pelo Acordo Geral, entretanto cada parte deve instituir as normas do comércio, bem como os meios de implementá las dentro do seu território.

As rodadas de negociações multilaterais também tiveram papel relevante. Thorstensen salienta que:

No momento em que tais rodadas passaram a incluir outros temas que não só tarifárias, os interesses de cada parte na negociação, de melhor acesso para suas exportações e melhor defesa contra importações consideradas desleais, começaram a ser contrabalançados com os custos dos novos compromissos de abertura das economias. (THORSTENSEN, 2009, p.35 36)

A continuidade do processo de liberalização comercial internacional, por meio das rodadas e a participação da totalidade dos parceiros do comércio em tais rodadas, foram considerados como pontos fundamentais do sistema multilateral.

1.3 A CONVENÇÃO DE BRETTON WOODS E SEUS REFLEXOS ATUAIS NA GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA

A atual ordem econômica decorreu do esforço de reconstrução elaborado no mês de julho de 1944, quando se realizou a Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas.

A conferência teve como objetivo elaborar as condições para a construção de uma nova ordem financeira internacional em face da destruição advinda pela crise de entre guerras e pelo conflito armado de 1939 1945, dado que o sistema econômico internacional afeta diretamente o padrão de vida das pessoas e a sua instabilidade impulsiona novos conflitos mundiais.

Dinh (2003) ressalta que os Estados industrializados, sob a liderança dos EUA, acharam essencial organizar a reconstrução da Europa para impedir a

(20)

mercado, da concorrência nas suas relações mútuas, o que os incitou a estabelecer as organizações internacionais e a instituir regras convencionais internacionais.

Deste modo, instituíram o Fundo Monetário Internacional1 (FMI) e o Banco

Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) ou Banco Mundial2. O

intuito dos delegados foi estabelecer um sistema objetivando o equilíbrio e o desenvolvimento do comércio internacional, causando a estagnação da concorrência

monetária e, ao mesmo tempo, a cooperação monetária entre os Estados. Oliveira acrescenta que:

A ideia de uma organização internacional para gerir o comércio internacional tem suas origens nos acordos de Bretton Woods que fundaram o sistema econômico internacional, idealizado para contar com três pilares: (i) Banco Internacional para Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD, Banco Mundial), voltado para a redução da pobreza e elevação dos níveis de renda, por meio de apoio financeiro e técnico, (ii) o Fundo Monetário Internacional, destinado a promover a estabilidade do câmbio e a cooperação monetária internacional, (iii) Organização Internacional do Comércio, cujo objetivo seria promover a liberalização do comércio internacional por meio da diminuição sistemática de tarifas aduaneiras. Todas essas instituições foram idealizadas com o intuito de evitar se uma nova guerra mundial, por meio da cooperação interestatal e do aumento dos níveis de vida nos vários países, o que contribuiria diretamente para a manutenção da paz (OLIVEIRA, 2007, p. 39).

É evidente que as experiências da guerra tinham enraizado na memória de todos, destarte temiam que isso ocorresse novamente. Visando impedir novos conflitos, foram criados alguns institutos, que estabeleceria normas para a gestão da economia mundial, com o escopo de reduzir as tensões existentes em razão do conflito mundial, assim como de impulsionar o comércio e o desenvolvimento das nações do mundo.

De fato, Bretton Woods significou, em um primeiro momento, o que se poderia delinear como meio termo entre uma visão não unilateralista do mundo, mas, paradoxalmente, a admissão dos Estados Unidos como potência econômica dominante (SOUZA, 2006).

O sistema Bretton Woods foi o primeiro exemplo na história de uma ordem monetária inteiramente negociada, com o escopo de governar as relações monetárias entre Estados. Suas bases políticas são encontradas na confluência de diversas situações: as experiências comuns da Grande Depressão; a concentração

1 Principal órgão regulador do Sistema Monetário Internacional. Os Países membros são os

responsáveis pela formação do fundo, através da subscrição de cotas, que é feita de acordo com a capacidade de cada país.

2 O Banco Mundial ajudou, inicialmente, a reconstruir a Europa. O trabalho de reconstrução

(21)

de poder num pequeno número de países, e a presença de uma potência dominante capaz de assumir um papel de liderança.

A Conferência de Bretton Woods colaborou de forma decisiva para que os Estados Unidos se tornasse uma das maiores potências econômicas do mundo,

visto que nessa conferência estabeleceram que o dólar passaria a ser a principal moeda de reserva mundial.

Com efeito, os Estados Unidos, no final da Segunda Guerra Mundial, encontravam se em uma situação favorável e havia conseguido superar algumas posições tradicionais de grupos isolacionistas internos. Como nenhum outro país, naquela época, estava em condições de questionar a posição hegemônica norte americana, o domínio mundial norte americano cresceu ainda mais com a tendência de monopolização do capitalismo de forma bastante acelerada, surgindo, daí, os programas de privatização que se intensificaram, especialmente na década de 1980, abarcando muitos países em todo o mundo. A consequência disso foi a movimentação de trilhões de dólares em investimento.

1.4 AS RODADAS DO GATT E A OMC

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, diversos países se manifestaram no sentido de buscar uma forma de regular as relações do comércio internacional, com o escopo de melhorar a qualidade de vida dos povos e buscar soluções para os problemas de ordem econômica que influenciavam de forma direta as relações entre os governos.

Como consequência, além de regular os aspectos financeiros e monetários, com a criação do FMI e do BIRD foram também debatidos os aspectos referente às relações comerciais, como a criação da Organização Internacional do Comércio (OIC), com a principal função de atuar como uma agência especializada nas

relações comerciais das Nações Unidas.

(22)

Os denominados países fundadores, reunidos com outros países interessados, formaram um grupo que formulou o projeto de criação da Organização Internacional do Comércio, tendo sido os Estados Unidos o principal país a defender a ideia de um liberalismo comercial regulamentado em bases multilaterais. (SOUZA, 2006, p. 80).

Há de se considerar que o FMI juntamente com o BIRD foram as duas instituições que vingaram, tomando corpo e exercendo as suas funções a partir de

1945, entretanto a OIC fracassou, pelo desinteresse do Congresso norte americano em ratificar o seu tratado constituinte, a Carta de Havana3. O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT 1947), constituía a principal instituição da OIT, passou a ser provisionalmente implementado a partir de 1947.

Necessário ressaltar que, mesmo durante muito tempo (1947 a 1995), a ordem econômica internacional tenha sido regulada pelos ditames do GATT 1947, não é possível incluir o GATT como uma organização internacional. Foi, na realidade, apenas um Acordo sobre Tarifas e Comércio utilizado pelos países contratantes. Nesse sentido, o doutrinador Celso Albuquerque de Mello diz que: “é interessante observar as relações do GATT com a ONU, uma vez que ele não é propriamente uma organização especializada da ONU”. (MELO, 1993, p.80)

No mesmo sentido pondera Accioly:

O antigo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT 1947) não era organização internacional, propriamente dita, mas acordo “temporário”, cuja vigência se estendeu de 1948 até 1944, quando veio a ser “absorvido” pelo conjunto institucional mais amplo e mais estruturado da Organização Mundial do Comércio. Assim, pôs se fim à lacuna institucional remanescente desde o fracasso da pretendida instauração da Organização Internacional do Comércio, que nunca tendo entrado em vigor, dera lugar ao “acordo” de “vigência provisória”, sobre o qual se estrutura e desenvolve, em considerável extensão, o sistema mundial de livre comércio. (ACCIOLY, 2008,p.421)

Já o doutrinador Amaral Júnior entende de forma diversa, para ele, o GATT foi um Organismo Internacional de fato, haja vista possuir um Secretariado, estabelecido em Genebra, e um Diretor Geral. Assim pondera:

O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, que em princípio seria provisório, acabou por originar uma organização internacional de fato, com Secretariado estabelecido em Genebra e um diretor geral que, em várias ocasiões, agiu com grande competência e imaginação no encaminhamento dos problemas e na busca de alternativas para os impasses havidos durante as negociações.(AMARAL JÚNIOR, 2008, p.10)

3

(23)

As “Rodadas do GATT” iniciaram se em 1947 e buscavam um contínuo de um processo de liberalização progressiva do comércio internacional, por meio da redução das barreiras tarifárias e não tarifárias. Para isso fez se necessária à inclusão de determinadas cláusulas liberatórias, como, por exemplo, medidas de

reparação contra o e os subsídios (Artigo VI do GATT 1947); regras de

transparências e publicação dos regulamentos nacionais relativos ao comércio

(Artigo X do GATT 1947); exceções relacionadas com a balança de pagamentos(Artigo

XII a XVII, seção B do GATT 1947); medidas de salvaguardas contra o aumento brusco das importações(Artigo X do GATT 1947); entre outros.

O GATT que foi inicialmente criado com o objetivo de regular de maneira provisória as relações comerciais internacionais, até a criação da OIC, acabou tornando se o mecanismo regulamentador das relações comerciais entre os países por muitos anos.

A fim de cumprir seus objetivos, o GATT estabeleceu, em seu documento constitutivo, princípios básicos que deveriam ser observados pelos países signatários do instrumento normatizador do comércio internacional (Souza, 2006). Com efeito cabe citar alguns desses princípios: princípio da não discriminação; princípio da proteção transparente; princípio da base estável para o comércio; princípio da concorrência leal; princípio das restrições quantitativas às importações;

princípio do reconhecimento dos acordos regionais; princípio da adoção de

medidas de urgência e princípio das condições especiais para os países em desenvolvimento.

Embora existam referidos princípios determinados claramente pelo Gatt, na realidade, nem sempre eles são cumpridos. Atualmente o que se verifica no contexto do comércio internacional é o descumprimento das normas por parte de alguns países desenvolvidos, que visam proteger apenas seus interesses, adotando assim barreiras comerciais.

Várias rodadas de negociação fora realizadas no âmbito do GATT, dentre as quais destacaremos:

(24)

f) Rodada Kennedy, 1964/1967 abordou reduções tarifárias e prática de dumping;

g) Rodada de Tóquio, 1973/1979 abordou reduções tarifárias, medidas não tarifárias e acordos comerciais;

h) Rodada Uruguai, 1986/1993 abordou reduções tarifárias, assim como

inaugurou um novo marco jurídico na história do Acordo, quando foi criada a OMC;

i) Rodada Milênio (Doha) – abordou investimentos, agricultura, serviços, saúde pública e ingresso da China.

Seitefus afirma que:

O objetivo das seis primeiras consistiu na redução das tarifas que protegiam os produtos manufaturados. Num primeiro momento, a negociação era feita produto por produto. Porém, a partir da Rodada de 1964, as Partes começaram a reduzir as tarifas de forma linear. (SEITEFUS, 2005, p.213) Sendo assim, torna se relevante apresentar o significado de algumas das rodadas de negociações realizadas nos últimos anos e os reflexos nas atuais relações internacionais do comércio.

4-B-4 8 9

Abrangendo o tema países em desenvolvimento, a Rodada Kennedy (1964 1967) trouxe alteração importante, emendando o Gatt com a inclusão da Parte IV, entretanto deixando de abordar a redução das tarifas para os produtos agrícolas. Ainda assim, é possível ponderar que representou o início da segunda fase do sistema multilateral de comércio, no momento em que novos temas passaram a ser discutidos e regulamentados.

Vale lembrar que, pela primeira vez, houve a participação da Comunidade Européia – CE. Devido o volume das transações internacionais, a CE apresentou se como uma nova potência no comércio internacional, capaz de fazer frente ao unilateralismo estadunidense que até então prevalecia. Na opinião de Lima (2005, p.58):

(25)

É válido lembrar que as negociações pela primeira vez tocaram no campo das barreiras não tarifárias, produzindo apenas poucos resultados, pois a autorização concedida ao presidente dos EUA não atingia esse âmbito, o que não permitia sua redução desestimulando as outras partes contratantes.

A abrangência dos temas tratados na Rodada Kennedy alcançou o artigo VI

do Gatt, que tratava de medidas de forma vaga, facultando sua

utilização como barreira não tarifária. Os esforços concentrados deram ensejo ao

Código de 1967, que trouxe exigências para a aplicação dessas

medidas e esclareceu conceitos como o de indústria doméstica, produto similar e relação casual. (LIMA, 2005).

4-B-2

Entre 1973 e 1979 realizou se a Rodada Tóquio que significou o despertar em direção a novos rumos do sistema multilateral de comércio. Durante a negociação, a situação vivida era caracterizada pela recessão e pela instabilidade monetária, uma vez que acontecia em 1973 a crise do petróleo e em decorrência, também, a crise econômica mundial.

Com a crise do petróleo, os países em fase de desenvolvimento tiveram sérios problemas relativos ao alto índice de desemprego e de inflação acelerada, tendo como resultado o aumento das restrições comerciais impostas pelos países industrializados (SOUZA, 2006).

Dessa maneira, os países na Rodada de Tóquio buscavam negociar um maior número de itens que constituíam objeto das restrições. Discutiam, sobretudo, a proliferação das barreiras não tarifárias que eram criadas de maneira sistemática. Sendo assim, após várias discussões sobre o assunto, resultaram graves obstáculos à prática das relações comerciais livres, alguns deles foram obtidos nesse fórum de debates, dentre os quais cabe mencionar:

Negociação para reduzir a tarifa média dos produtos industrializados em cerca de 30%; a criação de códigos com o objetivo de regular os procedimentos concernentes às barreiras não tarifárias, tais como valoração aduaneira, barreiras de natureza técnica, licenciamentos de importação, compras governamentais, prática de subsídios e aplicação de medidas

(26)

aperfeiçoado o sistema de solução de controvérsias entre os países (SOUZA, 2006, p. 84).

A Rodada Tóquio atingiu uma variedade de temas que careciam de regulamentação, sem, no entanto, ter uma base forte que efetivamente obrigasse à implementação dos acordos e o respeito pelos princípios do Gatt, como a cláusula da nação mais favorecida e o tratamento nacional.

O sistema multilateral de comércio desenhado pelo Gatt e pelas rodadas de negociações alcançava uma fase que merecia análise, carecendo de mais comprometimento das Partes Contratantes, vez que um novo protecionismo neoprotecionismo – passou a despontar a partir de 1970, amparando se na utilização das barreiras não tarifárias, em meio a um cenário econômico difícil (crise do petróleo e efeitos subsequentes) em que novos países produtores despontavam (LIMA, 2005).

Em suma, o Gatt atingiu objetivos mais simples como a redução tarifária, deixando de lado temas como barreiras não tarifárias, agricultura e países em desenvolvimento o que acabou ressaltado pela carência de segurança jurídica das decisões dos painéis, estabelecendo uma reestruturação do sistema multilateral de comércio.

4-B-C ' 0

No ano de 1986 iniciava a rodada de negociações no Uruguai. Prevista para

durar três anos, não se vislumbravam objetivos tão ambiciosos como os que foram sendo incorporados à pauta de negociações, à medida que se estendia o prazo para sua conclusão. Todavia esta Rodada durou o dobro do tempo inicialmente previsto. Quando foi concluída, em 1994, os textos negociados e seus anexos compunham 26.000 páginas de regras, abordando os mais diversos temas, e envolvendo a maior parte do comércio internacional4.

No dizer de Thorstensen (2009, p. 39), os principais temas negociados na Rodada Uruguai foram:

1) a criação da OMC – Organização Mundial do Comércio, que substitui o antigo órgão internacional, o GATT, simples secretariado de um acordo multilateral, por uma nova organização internacional; 2) rebaixamento tarifário para produtos industriais e para produtos agrícolas; 3) introdução de novos setores para o quadro do GATT e liberalização dos mesmos:

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agricultura, têxteis, serviços e propriedade intelectual; 4) reforço das regras do GATT em temas como: $ , subsídios, salvaguard , regras de origem, licenças de importação, barreira técnicas, medidas fitossanitárias, valoração aduaneira, inspeção de pré embarque e investimentos relacionados ao comércio, dentre outros; 5) negociação de um novo processo de solução de controvérsias, que tornou a nova OMC muito mais forte e respeitada como organização, quando comparada com o antigo GATT; 6) prazo de implantação dos temas negociados em período que variam de cinco a dez anos, a partir da instalação da nova OMC, isto é 1995. Países em desenvolvimento e menos desenvolvidos tiveram prazos mais alargados para a implementação. 7) negociação de uma série de entendimentos sobre diversos artigos do Acordo Geral: Artigo XXIV sobre a formação de acordos preferenciais de comércio, Artigo XII e XVIII sobre problemas relativos ao balanço de pagamento e assistência ao desenvolvimento econômico, Artigo XXVIII sobre alterações nas listas de concessões e negociações sobre tarifas, e Artigo XVII sobre empresas estatais de comércio exterior.

Nesse sentido, Amaral Júnior pondera:

O resultado mais significativo da Rodada Uruguai foi a criação da Organização Mundial do Comércio, a primeira organização internacional do mundo PÓS GUERRA Fria, instituída a partir da conjuntura internacional propiciada pela queda do muro de Berlim e pela desintegração da União Soviética.(AMARAL JÚNIOR, 2008, p.50)

Por intermédio da instituição da Organização Mundial do Comércio pretendeu se promover a expansão do comércio global. Para que ocorresse essa expansão, no

entanto, a conjugação de dois elementos: instituir um ambiente permanente

de negociações comerciais multilaterais e consolidar um sistema de solução de controvérsias entre os países membros. (VARELLA, 2009)

Os resultados da Rodada Uruguai passaram a definir as regras de comércio internacional, tanto dos grandes parceiros internacionais, dirimindo os conflitos, quanto dos demais parceiros, que a partir daí passaram a ter na OMC a organização que supervisionaria e apoiaria para garantir o acesso aos mercados protegidos dos próprios países mais desenvolvidos, assim como dos grandes acordos regionais de comércio. Nesse sentido, Thorstensen (2009, p. 40) ressalta que:

(28)

Lima (2005) enfatiza que as alterações trazidas pelo Acordo de Marraqueche davam novos rumos ao sistema multilateral de comércio, principalmente quando se observa que alcançou a criação da Organização Mundial do Comércio. Diante do exposto evidencia a ampliação do comércio internacional a partir da criação da

OMC.

Assim, o GATT que antecedeu à Organização Mundial do Comércio tem,

doravante, a sua atuação como coadjuvante no cenário do comércio global. A OMC é a organização responsável pela coordenação das negociações das regras do comércio internacional e pela supervisão da prática de tais regras, além de coordenar as negociações sobre novas regras ou temas relacionados ao comércio. Assim, o termo GATT ficou estabelecido para designar o conjunto de todas as regras sobre o comércio negociadas desde 1947, além das modificações implantadas pelas sucessivas rodadas de negociações até a Rodada Uruguai. Desta forma, “o GATT morreu como órgão internacional, mas está vivo como o sistema das regras do comércio internacional” (THORSTENSEN, 2009, p. 41).

Surgiram, nas últimas décadas, muitos fenômenos de natureza política e econômicas que acabaram por influenciar diretamente os rumos tomados pela

economia internacional, como por exemplo, o crescimento da tradicional

comercialização de bens e mercadorias; a prestação de serviços o avanço da tecnologia e o surgimento e fortalecimento das organizações econômicas por meio da formação e sedimentação de blocos comerciais regionais; a falência da filosofia de governo comunista e a consequente expansão das fronteiras do sistema capitalista, exercendo sua influência sobre os países do leste europeu (SOUZA, 2006).

Apesar de todas as dificuldades, a Rodada Uruguai pode ser encerrada com o Acordo Marraqueche em 1994. A partir daquele momento, desapareceu o GATT, após meio século de atividades, e surgiu como herdeira dos compromissos

assumidos a OMC, que será esboçada em seguida, salientando seus objetivos, princípios e estrutura.

1.5 AS ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO

(29)

relações internacionais, objetivando assim reconstruir a economia mundial. No ano de 1944, em Bretton Woods, foi finalizado um acordo que objetivava instituir um ambiente de maior cooperação na área da economia internacional, baseado no estabelecimento das seguintes instituições internacionais: FMI, Banco Mundial e

OIC. O FMI com papel de manter as taxas de câmbio estáveis e auxiliar os países com problemas de balanço de pagamentos por meio de acesso a fundos especiais,

e de tal modo desestimular a prática da época de se empregar restrições ao comércio sempre que aparecesse um desequilíbrio do balanço de pagamentos. O Banco Mundial com o objetivo de fornecer subsídios para a reconstrução dos países atingidos pela guerra.

A Organização Internacional do Comércio com função de coordenar e supervisionar a negociação de um novo regime para o comércio mundial baseado nos princípios do multilateralismo e do liberalismo. Com o fim da guerra, o Banco Mundial e o FMI foram instituídos, contudo a OIC nunca se consolidou, pois a carta de Havana, que tratava de seus objetivos e funções, não foi ratificada. O real motivo pelo qual a carta não foi encaminhada ao Congresso dos EUA foi porque grande parte dos deputados temia que a nova instituição restringisse de forma excessiva a soberania do país nas questões do comércio internacional.

Diante do impasse, em 1947, as partes contratantes negociaram um Acordo Provisório, que adotava um segmento da Carta de Havana, aquela que tratava das negociações de tarifas e regras sobre o comércio. O referido segmento (GATT), de simples acordo, terminou por tornar se uma organização internacional “de fato”, com sede em Genebra, cujas atribuições envolviam o oferecimento da base institucional para várias rodadas de negociações sobre comércio, a resolução de conflitos, a supervisão das regras do comércio até o final da Rodada Uruguai e a criação da atual OMC.

O atual sistema de regras do comércio internacional foi concebido ao longo do

(30)

de uma organização internacional que se denominou Organização Mundial do Comércio.

1.6 FUNÇÕES E ESTRUTURA DA OMC

A OMC foi instituída com o objetivo de aumentar os níveis de vida dos povos,

o pleno emprego e a expansão da produção e do comércio de bens e serviços mundiais, bem como objetiva também a proteção do meio ambiente, a utilização otimizada dos recursos naturais em níveis sustentáveis, assim como a participação efetiva dos países em fase de desenvolvimento econômico no comércio internacional.

O artigo III do Acordo constitutivo da OMC dispõe que são funções da OMC: 1. A OMC facilitará a aplicação administração e funcionamento do presente Acordo e dos Acordos Comerciais Multilaterais e promoverá a consecução de seus objetivos e constituirá também o quadro jurídico para a aplicação, administração e funcionamento dos Acordos Comerciais Plurilaterais; 2. A OMC será o foro para as negociações entre seus Membros acerca de suas relações comerciais multilaterais em assuntos tratados no quadro dos acordos incluídos nos Anexos ao presente Acordo. A OMC poderá também servir de foro para ulteriores negociações entre seus Membros acerca de suas relações comercias multilaterais e de quadro jurídico para a aplicação dos resultados dessas negociações segundo decida a Conferência Ministerial;

3. A OMC administrará o entendimento relativo às normas e procedimentos que regem a solução de controvérsias (denominado a seguir ‘Entendimento sobre Solução de controvérsias’ ou ‘ESC’) que figura no Anexo 2 do presente Acordo;

4. A OMC administrará o mecanismo de Exame das Políticas comerciais (denominado a seguir ‘TPRM’) estabelecido no anexo 3 do presente Acordo; 5. Com o objetivo de alcançar uma maior coerência na formulação das políticas econômicas em escala mundial, a OMC cooperará no que couber com o Fundo Monetário Internacional e com o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento e com os órgãos a eles afiliados.

Neste sentido Varella enfatiza que:

O objetivo da OMC é promover a expansão do comércio global. Os principais instrumentos para tanto são a institucionalização de um ambiente permanente de negociações multilaterais comerciais e a consolidação de um sistema de solução de controvérsias entre os Estados. Segue se a idéia liberal de que a expansão do comércio aumentará o nível de desenvolvimento dos Estados, assim como a interdependência econômica global, diminuindo as possibilidades de guerra e melhorando a qualidade de vida das pessoas em todo o planeta. (VARELLA, 2004, p.288)

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Administrar acordos comerciais; atuar como um fórum para negociações comerciais; resolver disputas comerciais; avaliar políticas nacionais de comércio; assistir países em desenvolvimento em assuntos de políticas comerciais, por meio de assistência técnica e programas de treinamento e qualificação; cooperar com outras organizações internacionais em direção de seus objetivos. (LASMAR, 2006, p. 158)

Dessa forma, a OMC foi estruturada visando o devido cumprimento de suas funções. Ficou determinado que a Conferência Ministerial, um grupo formado por todos os representantes dos países participantes do Acordo, seria a autoridade máxima da OMC e que deveriam reunir se a cada dois anos, pelo menos.

Foram criados vários órgãos subsidiários com função específica para se ocupar dos trabalhos na OMC, são os seguintes, elencados por Souza (2006):

Conselho Geral que é formado por representantes escolhidos entre os países participantes do Acordo que se reúne como Órgão para Solução de Controvérsias e como Órgão para Exame e Análise das Políticas Comerciais entre os países.

Conselho de Comércio de Bens: o Conselho Geral o incumbiu de supervisionar as aplicações práticas e o funcionamento dos acordos na área de comercialização de bens e mercadorias.

Conselho de Comércio de Serviços: o Conselho Geral concedeu lhe o encargo de supervisionar as aplicações práticas e o funcionamento dos acordos nas relações de prestação de serviços na esfera internacional.

Conselho de Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio: tem a responsabilidade, por incumbência do Conselho Geral, de supervisionar as aplicações práticas e o funcionamento dos acordos na área de registro e uso das propriedades intelectuais relacionadas com a prática do comércio internacional.

Órgãos de Supervisão Específicos que são também denominados de Comitês estão subordinados aos Conselhos de cada segmento específico, encarregados de executar tarefas designadas por cada Conselho.

Secretaria da OMC: é um órgão da administração da OMC, dirigida por um diretor geral escolhido entre os representantes dos países membros do Acordo.

A OMC, atualmente, compõe se de 153 países membros. Para se habilitar à OMC, o país requerente, necessita, antes de tudo, adequar sua legislação interna aos vários acordos existentes na esfera do órgão. Após isso, dá a etapa das concessões e desgravações tarifárias, em que cada país integrante do acordo elabora uma lista contendo os pedidos de redução tarifária de mercadorias e produtos que sejam de seu interesse nas operações de exportação que realiza.

As listas de pedidos de redução tarifária são encaminhadas aos países requerentes, que analisarão e concederão a redução em relação às mercadorias e produtos que não venham causar prejuízos à economia deles.

(32)

será admitido na Organização. Entretanto se o contrário ocorrer, ou seja, caso não haja consenso sobre as concessões apresentadas, a negociação é retomada, com o intuito de chegar a um denominador comum.

1.7 ÓRGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS (OSC)

Após intensas negociações, a Rodada Uruguai foi concluída em Marrakesh, em 1994, tendo resultado na criação da OMC e do seu respectivo Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Controvérsias (ESC), também conhecido como Acordo Sobre Solução de Controvérsias. O ESC é composto por 27 artigos que regulam as regras e procedimentos que devem ser aplicados às controvérsias entre os membros da OMC, relacionadas aos acordos abrangidos pela organização.

O sistema anterior do GATT, nas situações de conflitos comerciais, previa um processo de consultas e em seguida estabelecia painéis de especialistas, que criavam um relatório sobre a controvérsia. Todavia, neste sistema, o relatório deveria ter a aprovação do Conselho Geral, por consenso, dentro do sistema decisório do antigo GATT. Destarte, se a parte perdedora não aceitasse o relatório, acontecia então o bloqueio de todo o processo.

Na opinião de Thorstesen (2009), o novo sistema é mais forte, porque o relatório do painel passa a ser obrigatório, exigindo que o novo Órgão de Solução de Controvérsias derrube a decisão por consenso, o que é muito mais difícil de ser conseguido. É o chamado consenso negativo, que garante a automaticidade das decisões do Órgão. O novo sistema também reduz o recurso de resolução de conflitos, já que, ao contrário do antigo GATT, não leva os casos para os Comitês. Portanto, é comum dizer que agora a OMC “tem dentes”, o que significa que a OMC tem o poder de tornar obrigatório o relatório dos painéis e do Órgão de Apelação,

permitindo que o membro violado aplique retaliações5 contra o membro violador, caso este não aceite as decisões e recomendações do OSC.

No mesmo sentido, Barral (2000) ressalta que, a grande inovação da OMC se substancia no Órgão de Solução de Controvérsias mais eficaz do que o existente no

5As retaliações são tecnicamente chamadas de compensações ou suspensão de concessões ou de

(33)

Gatt,6pois apresenta uma estrutura mais complexa com a definição de prazos para a constituição e o funcionamento dos painéis e a elaboração dos relatórios bem como para a apresentação da defesa e da apelação, exigindo se a regra do consenso apenas para a rejeição de um relatório no Conselho da OMC. O Estado

vencido é obrigado a oferecer uma compensação ou ajustar a sua política comercial ao relatório aprovado.

Outra novidade do Acordo é o estabelecimento de um Órgão de Apelação, que funciona no sistema como um Tribunal de Apelação, e tem como função verificar os fundamentos legais do relatório do painel e das suas conclusões.

A meta de todo o processo é de reforçar a adoção de práticas compatíveis com os acordos negociados e não de punir pela adoção de práticas consideradas incompatíveis com as regras. Na realidade, a prioridade é solucionar casos de controvérsia entre membros, primeiro através de consultas, e somente se um acordo não for possível é que se parte para o painel. O sistema permite a qualquer momento a solução do conflito via um acordo entre as partes.(THORSTENSEN, 2009)

O estabelecimento dos painéis objetiva fazer com que a parte afetada altere sua política de comércio exterior, conforme as regras da OMC. Apenas nos casos de oposição de tal cumprimento é que a OMC permite retaliações.

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(34)

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A proteção ambiental e a liberalização comercial têm sido vistas como questões contraditórias por uns e complementares por outros. Seja porque a não proteção do ambiente pode gerar vantagens competitivas para alguns ou para outros, porque a proteção rigorosa pode servir de barreira ao comércio internacional. Assim, é possível analisar como as normas ambientais internacionais protegem o meio ambiente, serão demonstradas como as normas do sistema internacional do

comércio, no caso as normas da OMC, funcionam e podem melhor funcionar no sentido de proteger o meio ambiente.

2.1 COMÉRCIO E MEIO AMBIENTE

A Organização Mundial do Comércio (OMC), existente desde 1995, tem se destacado no cenário internacional e na estrutura das relações internacionais entre os estados. Tal organização foi estruturada a partir do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT 1947), celebrado entre 23 partes contratantes, cujo principal objetivo fora o de promover a diminuição progressiva de tarifas para os mais variados produtos, em especial manufaturados.

As normas que existem nessa sede são normas que oferecem ou almejam oferecer determinada flexibilidade para os Membros estabelecerem medidas unilaterais, dentro de sua jurisdição, em relação aos produtos domésticos e aos importados, fundamentadas em diferentes razões de política pública, dentre elas a proteção ambiental.

O sistema multilateral do comércio, ao contrário do sistema multilateral ambiental, possui um vasto conjunto de normas vinculantes para os seus membros e com um sistema de solução de controvérsias cujas decisões são de cumprimento obrigatório e execução praticamente imediata. Enquanto isso, as normas internacionais de proteção ambiental, várias delas de caráter jurídico não

obrigatório, além de não sistematizadas, pois que espalhadas em várias convenções, cada uma com a sua própria secretaria, são dotadas de uma eficácia

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solução de controvérsias ambientais, cujas decisões sejam de execução forçada, sendo mais utilizados os mecanismos de acompanhamento de implementação das obrigações impostas pelos acordos (Oliveira,2007) .

Isso tudo pode ocasionar uma relativa fragilidade dos mecanismos

internacionais de proteção ambiental e a uma preponderância das normas de comerciais em caso de conflito de obrigações, ainda que na teoria não exista uma

hierarquia normativa ou institucional entre esses dois institutos. Isso também faz com que, na prática, controvérsias que contemplem matérias ambientais, mesmo que relacionadas a normas ambientais alheias a OMC, e que tragam impacto negativo ao comércio internacional, possam vir a ser analisadas pelo OSC, caso um membro faça uma reclamatória alegando violação das obrigações elencadas nos Acordos da OMC.

Esse panorama gera uma impressão em especial, entre os ambientalistas, de que a liberalização comercial internacional tem sido feita em detrimento da proteção do meio ambiente e de que as regras atuais de comércio não seriam suficientes para garantir o desenvolvimento sustentável, posto que existiria um desequilíbrio de forças entre esses dois objetivos.

No entanto, como foi explicitado no transcorrer deste trabalho, essa afirmativa não é inteiramente justificada e merece uma análise mais intensa, no sentido de desmistificar a idéia comumente disseminada que a “OMC é inimiga do meio ambiente”. O desafio da OMC, e de seu Órgão de Solução de Controvérsias (OSC), é, portanto, oferecer uma interpretação e uma aplicação que cumpram os reais objetivos da norma (evitar a discriminação entre Membros ao mesmo tempo em que se protege o meio ambiente); e coibir seus abusos, de modo a garantir a sua credibilidade, tanto perante aqueles que defendem a liberalização do comércio quanto perante os que almejam a proteção ambiental. O ideal, em realidade, é aliar os dois objetivos e sair do extremismo.(Oliveira, 2007)

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2.2 A OMC E SUA COMPETÊNCIA

Atualmente, o planeta enfrenta crescentes desafios ambientais que só serão

abordados se houver uma cooperação internacional direcionada no sentido de descobrirmos soluções de salvaguarda.

Os primeiros instrumentos internacionais de cooperação ambiental multilateral datam de trinta anos. Os Acordos Multilaterais Ambientais (MEAS), que podiam ser tanto regionais como multilaterais, apresentavam como finalidade firmar tratados entre estados, que objetivavam lidar com os problemas concernentes ao meio ambiente, vez que admitiam que tais situações não se limitavam às suas fronteiras políticas ou físicas, e que a normatização referente à matéria, para ser verdadeiramente eficaz, deveria, da mesma maneira, transpor as fronteiras e ser

abordada em nível internacional, o que determinou o surgimento do direito

internacional ambiental.

O direito internacional ambiental, envolve diversos órgãos internacionais que corroboram com o objetivo de ordenar, acompanhar e até implementar suas normas, esforçando para sua consolidação. Entre eles há o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), a Conferência para o Desenvolvimento Sustentável (CSD), e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Vale dizer que, a OMC também compõe o rol acima. Talvez não relacionado diretamente aos problemas do meio ambiente, porém que vem abordando o assunto, sobretudo, na esfera de seus Comitês. Como exemplo tem se a discussão da compatibilidade entre os dispositivos comerciais contidos em MEAs e as regras da OMC, feita pelo próprio Comitê sobre Comércio e Meio Ambiente (CTE).

Entretanto, Varella (2004), enfatiza que os problemas ambientais e os

comerciais, principalmente a liberação destes últimos têm sido vistos como pontos contraditórios por alguns, já que um implica no outro diretamente, de forma, muitas vezes, a inviabilizar ações, servindo de verdadeiras barreiras à implantação de medidas.

Percebe se assim, que a competência ambiental na OMC está

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celebração de normas obrigatórias em matéria ambiental, mas sim comerciais, ficando a norma ambiental restringida à competência da regulação das relações comerciais dos membros.

Vale ressaltar que, diante de tal questão, a OMC não fica proibida de ampliar

sua competência, ou seja, não há impedimento de que a OMC passe a impor normas obrigatórias de proteção ambiental. Entretanto, para que isso pudesse vir a

ocorrer, será necessário muito mais que a criação de um novo acordo de imposição de normas ambientais para os Membros. Será preciso obter a aprovação de todos os seus membros, como prevê o Art. X.2 e X.3 do seu acordo.

Contudo, enquanto isso não ocorre, as previsões em matéria ambiental ainda são tímidas, mas que proporcionam já, amplas discussões, até porque, já no preâmbulo do Acordo de Marraqueche, que estabeleceu a OMC, firmou se a preocupação da OMC pelo meio ambiente. Ademais, foi criado o Comitê sobre Comércio e Meio Ambiente, já mencionado anteriormente, que tem como finalidade fazer com que “políticas de comércio internacional e políticas ambientais apoiem se mutuamente”. Outra previsão relevante nesse sentido é o artigo XX do GATT que, nos dizeres de Varella (2004), “O Artigo XX do GATT é a base que permite concretizar as exceções à liberdade de comércio, fundamentada na defesa do meio ambiente”.

2.3 A REGULAÇÃO DA PROTEÇÃO AMBIENTAL NA OMC

A OMC nem proíbe nem obriga a proteção do meio ambiente. Não é, tampouco, um sistema de harmonização de padrões ambientais e vê a proteção ambiental como objetivo legítimo de política doméstica a ser perseguido pelos seus membros. Dessa forma é que o Membro é livre para perseguir esse objetivo, desde que não o faça, em linhas gerais, a) de maneira discriminatória em relação aos

demais membros, b) e que a medida de proteção ambiental não tenha como objetivo restringir disfarçadamente o comércio internacional, isto é que não seja protecionista (OLIVEIRA, 2007).

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Uma das dificuldades que permeia o uso de medidas domésticas com o escopo de proteger a saúde ou a vida humana, animal e vegetal, bem como do meio ambiente são os meios, nem sempre transparentes ou mesmo razoáveis, escolhidos para implementar tais medidas. Os variados níveis de proteção entre os países

podem ser distorcidos com facilidade, objetivando camuflar políticas protecionistas, de proteção da indústria doméstica contra a concorrência estrangeira.

Vale ressaltar que tais políticas nem sempre são utilizadas neste sentido. Pelo contrário, pois que são essas medidas, acolhidas pelo ordenamento jurídico da OMC, que darão vida à proteção ambiental no contexto desta organização. O que se percebe é que a atenção dispensada pela OMC à maneira como as medidas são implementadas é totalmente justificada, uma vez que, por diversas vezes, fins legítimos acabam servindo de pano de fundo para a exclusão do produto ou produtor externo, em detrimento do consumidor interno, do mercado e do sistema multilateral de comércio.

Segundo afirmação de Trebilock e Howse (2005), citados por Oliveira (2007), ainda quando não há uma intenção protecionista, por meio da falta de coordenação meras diferenças nos padrões regulatórios ou nos regimes de imposição das normas podem funcionar no sentido de impedir o comércio. Nas últimas três décadas, nota se que ocorreu um aumento progressivo das normas internas dirigidas à proteção da saúde, segurança, dos consumidores e do meio ambiente.

As barreiras técnicas, incluindo se aí as sanitárias e fitossanitárias, são uma saída para os intuitos protecionistas de grupos específicos que ainda contam com o apoio do legislativo doméstico, mesmo ainda que não estejam amparados pela norma internacional. Deste modo, essas normas protetivas da saúde ou segurança do consumidor passam a ser enxergadas como restrições comerciais, essas e as outras políticas comerciais começaram a confrontar se, e dessa maneira atraindo a atenção dos negociadores e levando o assunto para a esfera normativa

internacional.

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A OMC tem preocupação com tais acordos domésticos, já que acabam promovendo reflexos transfronteiras e atingindo os interesses internacionais. Por essa razão, preza se pela cooperação na padronização, tanto da aplicação do Art. XX do GATT, quanto nos Acordos SPS (Acordo Sobre a Aplicação de Medidas

Sanitárias e Fitossanitárias) e TBT (Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio), já que, estes trazem uma parcela de equilíbrio entre o direito do país de impor a

medida e a necessidade de levar se em conta as dificuldades de sua implementação por parte dos parceiros exportadores.

A fim de ilustrar cita se o caso do comércio de tomates no NAFTA. Mesmo com a adoção do NAFTA, os tomates mexicanos continuam encontrando dificuldades de penetração no mercado Norte Americano, devido à proteção outorgada aos produtores da Flórida que não têm tido capacidade competitiva de acompanhar os novos concorrentes. Diversas ações foram implementadas visando a barrar o acesso ao mercado Norte Americano, incluindo barreiras por motivos de saúde e segurança, possuindo como fundamento questões relacionadas a práticas

de irrigação e ao uso de adubos. Tal ilustração exemplifica como um acordo

chamado doméstico acaba influenciando internacionalmente o mercado, levando interesse aos debates da OMC. Entretanto, os países participantes da OMC, não perdem seu direito de realizarem acordos bilaterais, por exemplo, por estarem incluídos em organismo que visa o interesse multilateral. Contudo, tais acordos não devem opor ao que está previsto nas próprias determinações da OMC, a qual o país pertence, devendo ter conduta coerente nos acordos que efetua.

2.4 OS ACORDOS DA OMC E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

As previsões ambientais relativas à OMC se estabeleceram desde seu Acordo Constitutivo, já em seu preâmbulo do Acordo de Marraqueche(1994), que constituiu

a OMC, quando previu:

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Tal previsão existia no texto anterior do GATT 1947, tendo sido incorporado, em parte, ao Acordo da OMC na Rodada Uruguai, demonstrando a preocupação com as questões ambientais, dentro das relações internacionais, concernentes à coexistência da atividade econômica e a proteção do meio ambiente.

No entanto, o que se deve ter em vista é que, quando se faz tais prescrições somente no preâmbulo da normativa, tira se a condição punitiva que poderia haver

na norma.

Contudo, as previsões ambientalistas dentro da OMC não param por aí. O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) estabeleceu os princípios essenciais em matéria comercial. Entretanto, não contemplou os termos “meio ambiente” ou “proteção ambiental”. Ainda assim trouxe alguns dispositivos de grande importância para o assunto presente, dentre eles o Art. I, sobre o Princípio da Nação Mais Favorecida; o Art. III, que dispõe sobre o Princípio do Tratamento Nacional; Art. XI, que dispõe sobre Restrições Quantitativas e Licenças e, finalmente, o Art. XX, que dispõe sobre Exceções Gerais.

O Art. I estabelece que os membros do Acordo devem aplicar o mesmo tratamento aos produtos dos diversos países, e se um tratamento mais benéfico for oferecido a um país, que seja membro ou não da OMC, deverá ser estendido também a todos. Todavia, tal previsão possui exceções. Dentre elas, e que merece destaque, temos a previsão de alguns países ricos que usam requisitos de proteção ambiental nos seus programas de preferência (GSP – Sistemas Generalizados de Preferência), visando o acesso a mercado para países em desenvolvimento ou os chamados emergentes.

O Art. III proíbe a discriminação entre produtos nacionais e produtos importados, referente à tributação, assim como medidas administrativas ou regulatórias. Dessa forma, visa tal dispositivo, equiparar produtos nacionais e estrangeiros, no mercado interno. Contudo, a interpretação dada pela OMC a tal

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para o meio ambiente, pois mais países interessar se ão em produzir e comercializar tais produtos.

Dessa maneira, a questão ambiental é considerada, inclusive no tocante a se conceituar e verificar a natureza de similitude entre os produtos, verificando se se

realmente possuem essa igualdade, até mesmo sobre o aspecto ambiental.

O Art. XI impõe limites à possibilidade de os membros restringirem o comércio

internacional por meio de imposição de restrições quantitativas. Isso traz uma impossibilidade de criar restrições a certos produtos no âmbito da OMC, como por exemplo, produtos que agridam ou afetem, de alguma maneira, o meio ambiente.

O Art. XX do GATT é o de maior relevância no assunto em tela, já que é o que trata da questão ambiental na estrutura normativa da OMC, existindo, inclusive, jurisprudência sobre sua previsão. Sobre o tema, assim se manifesta Bárbara Oliveira:

Ainda que não falasse em desenvolvimento sustentável, a redação do Artigo XX (g) transparece a preocupação com os recursos naturais passíveis de esgotamento, dando lhes tratamento excepcional, mas não transformando a sua proteção em uma regra do regime multilateral do comércio. (OLIVEIRA, 2007,p. 126)

Marcelo Dias Varella, em sua obra Direito Internacional Econômico Ambiental, comenta a previsão em tela nos termos seguintes:

O Artigo XX do GATT é a base que permite concretizar as exceções à liberdade de comércio, fundamentada na esfera do meio ambiente. As normas ambientais no corpo do acordo comercial são sempre negociadas entre os Estados Unidos, a União Européia e a Noruega, de um lado, e a Índia, o Brasil, e o Egito, do outro. Meio Ambiente tornou se uma moeda de troca para o acesso aos mercados no Norte dos produtos do Sul, uma vez que os países do Sul aceitam o avanço das normas ambientais na ordem jurídica internacional econômica em troca de regras mais favoráveis para os seus produtos, para o acesso aos mercados do Norte. Este cenário está sempre presente na evolução da discussão ambiental, tanto nas negociações do GATT 94 quanto nas reuniões ministeriais, a exemplo de Doha, em 2001. (VARELLA, 2004, p.257)

Em termos de conteúdo, o artigo XX, ora em comento, contém duas alíneas específicas:

Artigo XX – Exceções gerais. Sob reserva que estas medidas não sejam aplicadas de modo a constituírem seja um meio de discriminação arbitrário ou injustificável entre os países onde as mesmas condições existem, seja uma restrição disfarçada ao comércio internacional, nenhum ponto do presente Acordo será interpretado como impedimento à adoção ou aplicação por qualquer parte contratante das medidas (...)

b) necessárias à proteção da saúde e da vida das pessoas e dos animais ou à preservação dos vegetais (...)

Referências

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