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BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS: O INTRÓITO DAS MEDIDAS SANITÁRIAS E

As denominadas “rodadas do GATT” iniciaram se em 1947 e tinham como objetivo principal a busca contínua de um processo de liberalização progressiva do comércio internacional, por meio da redução das chamadas barreiras tarifárias e não tarifárias, o que gradualmente ocorreu com significativo sucesso, visto que até o final da Rodada Uruguai, a tarifa média dos produtos manufaturados tinha caído de

40% para 5%. (TREBILCOCK, 2001)

Dessa forma, ressalta se que, na medida em que os níveis tarifários foram reduzidos pelas Partes Contratantes do GATT, novas maneiras de protecionismo ganharam força com a utilização das barreiras não tarifárias.

Carreau (1998), citado por Lima (2005), elucida que, uma barreira não tarifária representa “toda medida ou prática, qualquer que seja sua origem (pública ou privada), que tenha o efeito de restringir o acesso dos produtos de origem estrangeira a um mercado nacional, seja no estágio de importação ou de comercialização”.

As barreiras não tarifárias objetivam resguardar bens jurídicos importantes para os Membros, tais como a saúde e vida dos homens, animais e plantas, a segurança nacional, o meio ambiente, os consumidores, entretanto quando não houver fundamento que as justifiquem, funcionaram de maneira a proteger o mercado.

As seis primeiras rodadas de negociação visaram basicamente à diminuição dos direitos aduaneiros, por meio de negociações de concessões tarifárias

recíprocas. As duas últimas foram mais abrangentes, contudo também

contemplaram reduções tarifárias. Entretanto sem alcance significativo. Por outro lado, durante a Rodada Tóquio (1973 1979), negociou além de redução de tarifas, determinados acordos para diminuir a incidência de barreiras ditas não tarifárias e que passam a ser usadas por vários países como forma de proteger a produção nacional. A Rodada obteve maior sucesso, e ainda aumentou o campo de regulamentação do comércio internacional em razão da matéria tratada, suprindo a deficiência do GATT, que abordava o tema nas exceções gerais do artigo XX.

Destarte, surge o Acordo Sobre Barreiras Técnicas ao Comércio ou , que veio regulamentar a atuação governamental no concernente às especificações quanto aos produtos industriais e agrícolas, com o escopo de impedir distorções ao comércio.

Como resultado efetivo, a Rodada do Uruguai, além da importante decisão de criar a OMC, pode se destacar o grande avanço que houve em direção à regulamentação das barreiras não tarifárias, no momento em que celebraram acordo específicos para as barreiras técnicas e para as barreiras sanitárias e fitossanitárias, acolhendo se no novo sistema multilateral de comércio temas sensíveis a seus Membros.

É com fundamento na inevitável tensão entre os objetivos legítimos, proteção da vida e da saúde humana, animal e vegetal, e a aplicação de medidas de caráter protecionista que se situam as barreiras não tarifárias, entre as quais as sanitárias e fitossanitárias. E justamente por essas barreiras ganharem aplicabilidade e abrangência tem forma a ideia de neoprotecionismo.( BALASSA, 1978)

Barral ressalta que:

Os mecanismos regulatórios podem ser entendidos como aqueles que implicam exigência adicional para o produto estrangeiro, encarecendo o processo de sua importação e diminuindo sua vantagem competitiva. Os exemplos de padrões sanitários, técnicos, e até ambientais, florescem nas legislações comerciais domésticas. Assim, os mecanismos regulatórios vêm

se tornando a forma mais perniciosa do novo protecionismo (BARRAL, 2002, p.20).

Assim, serão abordadas as especificidades desses acordos, explicando conceitos e classificações, a forma de implementação, a relação com os princípios do sistema multilateral de comércio.

3.2

Durante a Rodada Tóquio, foi celebrado o Código sobre Barreiras Técnicas

ao comércio ou . Pela primeira vez, o GATT acolheu as questões

relacionadas às barreiras técnicas, mesmo que de maneira rudimentar, uma vez que não atentou a contento dos produtos agrícolas e não levava em consideração os métodos e processos de produção.

As partes contratantes do GATT poderiam utilizar barreiras técnicas quando fosse necessário resguardar a segurança nacional, evitar práticas enganosas ao comércio, proteger a saúde e segurança humana, vida e saúde animal e vegetal e o meio ambiente, tendo em vista fatores climáticos e geográficos, ou ainda, problemas tecnológicos fundamentais. (artigo 2.2 do SC).

O SC resguardava o princípio do tratamento nacional (artigo 2.1), uma vez que a possibilidade de aplicação das barreiras técnicas era ampla, envolvendo as características dos produtos.

Dentre as 102 Partes Contratantes da Rodada Tóquio, apenas 42 aderiram ao

, o que se explica pela prática dos e pela sensibilidade

do tema regulado. Ainda assim, pode se dizer que o representou a

base para a criação dos Acordos SPS e TBT.

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Free rider é o país que se beneficia dos resultados de negociações entre outros países, sem ter feito qualquer concessão comercial. O benefício ao país que não fez concessões se dá, em geral, via aplicação da cláusula da nação mais favorecida. É o que ocorre, por exemplo, nas negociações dos temas sistêmicos, como subsídios agrícolas, em que uma redução em um contexto regional produz efeitos para outros agentes externos ao contexto regional e que efetivamente não participaram da negociação. (ÍCONE BRASIL, Glossário)

3.3 O ACORDO SOBRE BARREIRAS TÉCNICAS AO COMÉRCIO (TBT): ESCOPO, DIREITOS E OBRIGAÇÕES E IMPLEMENTAÇÃO

Durante a Rodada Uruguai criou se o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio com o escopo de regular a aplicação de barreiras técnicas ao comércio. É importante lembrar que o TBT não prevê expressamente quais os regulamentos técnicos e as regras que os Membros devem utilizar, entretanto reúne regras e princípios possíveis de nortear a base sobre a qual serão adotadas e instituídas normas que deverão estar presentes nos acordos específicos em matéria de

padrões técnicos, de normas instituídas por instituições internacionais

normalizadoras, e, também, de regulamentos técnicos adotados por determinado país.

A título de exemplificação de barreiras técnicas ao comércio tem se que a exigência quanto ao tamanho de uma fruta pode funcionar como uma arma protecionista bastante eficaz.

Dessa maneira, ao invés de trazer uma lista de regras, o que é impensável, o Acordo TBT funciona como uma “meta norma em matéria de padronização internacional, a orientar a ‘produção legislativa’ sobre o tema”.(BARRAL, 2002, p.61 86)

Nesta esteira, o Acordo TBT institui que os regulamentos e as normas técnicas não devem ser mais restritivos ao comércio do que o necessário para alcançar os objetivos legítimos elencados no artigo 2.2 do TBT, sendo: segurança nacional, prevenção de práticas enganosas, proteção da saúde ou segurança humana, vida e saúde animal e vegetal, e meio ambiente. Para tanto a verificação dos riscos precisa levar em consideração não apenas as informações científicas e técnicas, mas também as tecnologias de processamento e a destinação final dos produtos.

É extenso o número de barreiras que podem ser impostas, requerendo seja importante diferenciar regulamentos, normas e procedimento de verificação de conformidade. Conforme o parágrafo 1 do Anexo 1 do TBT, os regulamentos técnicos dizem respeito a exigências relativas às características dos produtos ou seus processos e métodos de produção, sendo de cumprimento obrigatório.

A norma técnica, de caráter não obrigatório, provém de um documento consentido por uma instituição normalizadora que estabeleça normas, diretrizes e características relacionadas a um produto ou ao processo e método de produção.

As barreiras técnicas impõem o cumprimento de certas exigências para que determinado produto seja comercializado, portanto, há a necessidade de uma verificação que demonstre a adequação a esses requisitos. Conforme o TBT, a verificação pode ser feita por amostragem, teste e inspeção, avaliação, registro, credenciamento e aprovação, levando se em consideração a possibilidade de combinação de tais processos.

Diante do acordo TBT, a verificação de conformidade deve respeitar o princípio do tratamento nacional e da cláusula da nação mais favorecida, uma vez que, um Membro não pode exigir que os produtos importados sejam submetidos a testes mais rigorosos do que os aplicados aos seus próprios produtos similares, e ainda este tratamento deve se estender aos demais Membros.

Esse procedimento de verificação de conformidade é relevante no momento em que se trata das barreiras técnicas com caráter protecionista, uma vez que na medida em que os produtos comercializados precisarão levar em consideração padrões iguais ou similares, há uma tendência dos Membros, em impor testes e certificações com bases próprias, elaboradas por laboratórios credenciados por eles, surgindo dessa forma, uma nova obrigação que deve ser cumprida pelos exportadores, caso queira vender seus produtos, o que se pode chamar de “ (

” ou “ ) ”.

Após análise de tais fatos, vale ressaltar o artigo 2.2 como um dos pilares do TBT, ao prever:

os membros devem assegurar que os regulamentos técnicos não sejam preparados, adotados ou aplicados de maneira a, ou com efeito de criarem obstáculos desnecessários ao comércio internacional. Para esse propósito, os regulamentos técnicos não devem ser mais restritivos ao comércio do que o necessário para atingir um objetivo legítimo, levando se em conta os riscos que o não preenchimento pode criar. Esses objetivos legítimos podem ser, inter alia: requerimentos de segurança nacional, a prevenção de práticas enganosas; proteção da saúde ou segurança humana, vida e saúde animal e vegetal ou o meio ambiente. Na verificação dos riscos, são relevantes elementos a serem considerados, inter alia: as informações técnicas e científicas disponíveis, tecnologias de processamento e a destinação final de produtos.

O do artigo traz um elemento intensamente presente quando se trata de

barreiras não tarifárias, ou seja, almeja impedir a adoção de medidas que obstem desnecessariamente o comércio internacional.

Jackson (1997), citado por Lima (2005), pondera que tal acepção mostra se lógica na medida em que acolhe os fins da OMC. Destaque se, contudo, que o termo “objetivos legítimos” é relevante para se poder auferir o caráter protecionista ou não de uma barreira técnica ou uma barreira sanitária e fitossanitária. Desta forma, uma medida empregada para proteger a segurança nacional, prevenir a adoção de práticas enganosas, proteger a saúde ou segurança humana, a vida e a saúde animal e vegetal ou o meio ambiente pode ser considerada legítima, não deixando de conter boa dose de subjetividade e inventividade.

Insta ressaltar que, o Acordo instituiu um Comitê sobre Barreiras Técnicas com a função de foro de consultas sobre temas ligados à sua implementação ou a promoção de seus objetivos.

O Acordo TBT permite a aplicação de exceções ao livre comércio quando for necessário proteger, por exemplo, a saúde e a segurança dos homens, animais e vegetais. Entretanto, quando a regra a ser adota for distinta dos padrões internacionais já existentes, se não houver padrões, ou caso a medida tiver efeito significativo sobre o comércio de outros Membros da OMC, deverá ser notificada ao Secretariado para assegurar aos demais Membros transparência na aplicação dos regulamentos. Como meio de fomentar a transparência de tais notificações, o artigo

10 do TBT prevê a criação dos * + ou pontos focais, responsáveis por

prestar informações sobre quaisquer regulamentos adotados pelos Membros. No Brasil, o ponto focal é o INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial.

O Acordo ainda estabelece um Código de Boa Conduta, que trata da adoção e aplicação de regras e regulamentos técnicos por instituições normalizadoras. Na realidade, ele estabelece parâmetros para a definição de normas ou regulamentos técnicos a fim de evitar que os mesmos violem o princípio do tratamento nacional e a cláusula da nação mais favorecida e dessa forma levem a uma discriminação arbitrária ou injustificável ao comércio. O Anexo 3 do TBT define esse Código e incentiva a aderência das instituições a ele, mesmo sendo de aceitação não obrigatória.

3.4 O ACORDO SOBRE A APLICAÇÃO DE MEDIDAS SANITÁRIAS E

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