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As previsões ambientais relativas à OMC se estabeleceram desde seu Acordo Constitutivo, já em seu preâmbulo do Acordo de Marraqueche(1994), que constituiu a OMC, quando previu:

Reconhecendo que as suas relações, na esfera da atividade comercial e econômica, devem objetivar a elevação dos níveis de vida, o pleno emprego e um volume considerável e em constante elevação de receitas reais e demanda efetiva, o aumento da produção e do comércio de bens e serviços, permitindo ao mesmo tempo a utilização ótima dos recursos mundiais em conformidade com o objetivo de um desenvolvimento sustentável e buscando proteger e preservar o meio ambiente e incrementar os meios para fazê lo, de maneira compatível com suas respectivas necessidades e interesses segundo os diferentes níveis de desenvolvimento econômico.

Tal previsão existia no texto anterior do GATT 1947, tendo sido incorporado, em parte, ao Acordo da OMC na Rodada Uruguai, demonstrando a preocupação com as questões ambientais, dentro das relações internacionais, concernentes à coexistência da atividade econômica e a proteção do meio ambiente.

No entanto, o que se deve ter em vista é que, quando se faz tais prescrições somente no preâmbulo da normativa, tira se a condição punitiva que poderia haver na norma.

Contudo, as previsões ambientalistas dentro da OMC não param por aí. O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) estabeleceu os princípios essenciais em matéria comercial. Entretanto, não contemplou os termos “meio ambiente” ou “proteção ambiental”. Ainda assim trouxe alguns dispositivos de grande importância para o assunto presente, dentre eles o Art. I, sobre o Princípio da Nação Mais Favorecida; o Art. III, que dispõe sobre o Princípio do Tratamento Nacional; Art. XI, que dispõe sobre Restrições Quantitativas e Licenças e, finalmente, o Art. XX, que dispõe sobre Exceções Gerais.

O Art. I estabelece que os membros do Acordo devem aplicar o mesmo tratamento aos produtos dos diversos países, e se um tratamento mais benéfico for oferecido a um país, que seja membro ou não da OMC, deverá ser estendido também a todos. Todavia, tal previsão possui exceções. Dentre elas, e que merece destaque, temos a previsão de alguns países ricos que usam requisitos de proteção ambiental nos seus programas de preferência (GSP – Sistemas Generalizados de Preferência), visando o acesso a mercado para países em desenvolvimento ou os chamados emergentes.

O Art. III proíbe a discriminação entre produtos nacionais e produtos importados, referente à tributação, assim como medidas administrativas ou regulatórias. Dessa forma, visa tal dispositivo, equiparar produtos nacionais e estrangeiros, no mercado interno. Contudo, a interpretação dada pela OMC a tal dispositivo, é que produtos não similares podem ser tratados de forma diferente, e a definição do termo com base nos princípios ambientais (se um produto é mais poluente que outro, ou tem menor eficácia que outro durante o seu ciclo de vida – produção, uso e transformação em resíduo) é de extrema importância para a concretização do ideal do desenvolvimento sustentável. Isto é, se bens ambientais puderem receber tratamento mais benéfico (seja com maior diminuição tributária ou isenção ou por meio de um tratamento menos burocrático) isto terá impacto positivo

para o meio ambiente, pois mais países interessar se ão em produzir e comercializar tais produtos.

Dessa maneira, a questão ambiental é considerada, inclusive no tocante a se conceituar e verificar a natureza de similitude entre os produtos, verificando se se realmente possuem essa igualdade, até mesmo sobre o aspecto ambiental.

O Art. XI impõe limites à possibilidade de os membros restringirem o comércio internacional por meio de imposição de restrições quantitativas. Isso traz uma impossibilidade de criar restrições a certos produtos no âmbito da OMC, como por exemplo, produtos que agridam ou afetem, de alguma maneira, o meio ambiente.

O Art. XX do GATT é o de maior relevância no assunto em tela, já que é o que trata da questão ambiental na estrutura normativa da OMC, existindo, inclusive, jurisprudência sobre sua previsão. Sobre o tema, assim se manifesta Bárbara Oliveira:

Ainda que não falasse em desenvolvimento sustentável, a redação do Artigo XX (g) transparece a preocupação com os recursos naturais passíveis de esgotamento, dando lhes tratamento excepcional, mas não transformando a sua proteção em uma regra do regime multilateral do comércio. (OLIVEIRA, 2007,p. 126)

Marcelo Dias Varella, em sua obra Direito Internacional Econômico Ambiental, comenta a previsão em tela nos termos seguintes:

O Artigo XX do GATT é a base que permite concretizar as exceções à liberdade de comércio, fundamentada na esfera do meio ambiente. As normas ambientais no corpo do acordo comercial são sempre negociadas entre os Estados Unidos, a União Européia e a Noruega, de um lado, e a Índia, o Brasil, e o Egito, do outro. Meio Ambiente tornou se uma moeda de troca para o acesso aos mercados no Norte dos produtos do Sul, uma vez que os países do Sul aceitam o avanço das normas ambientais na ordem jurídica internacional econômica em troca de regras mais favoráveis para os seus produtos, para o acesso aos mercados do Norte. Este cenário está sempre presente na evolução da discussão ambiental, tanto nas negociações do GATT 94 quanto nas reuniões ministeriais, a exemplo de Doha, em 2001. (VARELLA, 2004, p.257)

Em termos de conteúdo, o artigo XX, ora em comento, contém duas alíneas específicas:

Artigo XX – Exceções gerais. Sob reserva que estas medidas não sejam aplicadas de modo a constituírem seja um meio de discriminação arbitrário ou injustificável entre os países onde as mesmas condições existem, seja uma restrição disfarçada ao comércio internacional, nenhum ponto do presente Acordo será interpretado como impedimento à adoção ou aplicação por qualquer parte contratante das medidas (...)

b) necessárias à proteção da saúde e da vida das pessoas e dos animais ou à preservação dos vegetais (...)

g) relacionando se à conservação dos recursos naturais esgotáveis, se tais medidas são aplicadas conjuntamente com as restrições à produção ou ao consumo nacional.

Assim, clara a previsão direta de proteção ao meio ambiente. Todavia, também se denota da normatização em tela, uma primazia do comércio sobre o meio ambiente, conforme já comentado acima. Verifica se certa imprecisão no Art. XX, o que abre margem aos intérpretes do Acordo Geral, como por exemplo, o Órgão de Solução de Controvérsias. Esta análise ou interpretação acaba sendo importante por ser fator de determinação do valor do meio ambiente no âmbito dos acordos comerciais da OMC.

De qualquer modo, constata se a existência da preocupação com a questão

“desenvolvimento sustentável/meio ambiente”, visando uma cooperação

internacional no sentido de se considerar a necessidade de desenvolvimento atrelada às questões ambientais. Assim, essa matéria tem relação estreita com o princípio da cooperação internacional para o desenvolvimento, que é base fundamental da estrutura da OMC.

Já os acordos SPS e TBT foram negociados durante a Rodada Uruguai de Negociações do GATT e passaram a vigorar em 1995.

Lima (2005), elucida que o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio foi celebrado em 1979 e seu objetivo foi suprir as deficiências do GATT no que tange às barreiras não tarifárias. Desta forma, prefere se denominar o acordo de

(SC) (ou Código sobre Barreiras Técnicas ao Comércio), posto que, na

tentativa de acabar com os privilégios dos , os Estados Unidos

propuseram negociar certos temas na forma de códigos anexos ao GATT, os quais teriam efeitos limitados entre seus signatários.

A abrangência das regras referentes ao Acordo sobre Barreiras Técnicas TBT passou a ser consideravelmente maior, comparando o ao SC, visto que dos 125 países que participaram das negociações da Rodada Uruguai, 111 assinaram a Ata Final da Rodada Uruguai que criou a OMC.

Nas palavras de Lima (2005), o TBT não possui previsão expressa de quais as regras e regulamentos técnicos que devem ser utilizados pelos Membros; mas reúne princípios e regras que delinearão a base sobre a qual serão adotadas e criadas normas que deverão fazer parte de acordos específicos em termos de padrões técnicos, de normas criadas por instituições internacionais normalizadoras e, ainda, de regulamentos técnicos adotados por certo país.Em outras palavras, o

Acordo TBT funciona como “uma meta norma” em matéria de padronização internacional, a orientar a produção legislativa sobre o tema.

Assim sendo, os Membros da OMC podem aplicar barreiras técnicas ao comércio. Entretanto tais barreiras não podem ser mais restritivas ao comércio do que o necessário para atingir os objetivos legítimos previstos no artigo 2.2 do Acordo TBT, que inclui segurança nacional, prevenção de práticas enganosas; proteção da saúde ou segurança humana, vida e saúde animal e vegetal ou meio ambiente.

No que tange ao Acordo SPS, este tem como intuito regular as medidas necessárias à segurança alimentar à proteção da vida e da saúde humana, animal e vegetal, contra pestes e doenças, enquanto barreiras não tarifárias ao comércio internacional. Pretende se evitar riscos advindos da importação de produtos com certas características, que serão explicadas mais adiante.

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