• Nenhum resultado encontrado

A JURISPRUDÊNCIA DA OMC RELATIVA À APLICABILIDADE DAS MEDIDAS

Analisar se á os casos julgados pelo OSC que tiveram base no Acordo SPS, com o escopo de verificar a capacidade da OMC em evitar a adoção de medidas sanitárias e fitossanitárias como mera forma de protecionismo e não com o intuito de proteção da vida e da saúde dos homens, animais e vegetais.

R " F ? & . 2D

Reclamante: Estados Unidos;

Demandado: Comunidade Europeia;

Terceiros: Nova Zelândia, Austrália, Noruega, Canadá;

Acordos citados: SPS: art. 3,5,2; Acordo sobre agricultura: art.4; Acordo TBT art.2; Gatt 1994: art III, XI

" F ? & . BO

Reclamante: Canadá

Demandado: Comunidade Europeia

Terceiros: Austrália, Nova Zelândia, Noruega, Estados Unidos

Acordos citados: SPS: art. 3,5,2; Acordo sobre agricultura: art.4; Acordo TBT art.2,5; Gatt 1994: art III, XI

O caso dos hormônios13 foi a primeira controvérsia baseada no Acordo SPS a

ser julgada pelo OSC.

No dia 26 de janeiro de 1996, os Estados Unidos requereram consultas bilaterais com a Comunidade Européia, alegando que as medidas adotadas por aquele Membro eram inconsistentes com os artigos III ou XI do Gatt 1994, artigos 2, 3 e 5 do SPS, artigo 2 do TBT e artigo 4 do Acordo sobre Agricultura. Em 25 de abril do mesmo ano, os Estados Unidos solicitaram abertura do painel que foi estabelecido em 8 de maio. No dia 28 de junho de 1996 o Canadá requereu consultas com os mesmos fundamentos, tendo como terceiros interessados os EUA, a Nova Zelândia, a Austrália e a Noruega.

13

- . . ) /, 0" 1 2 !

Os Estados Unidos e Canadá sustentavam os seguintes argumentos: a) não existiam suficientes evidências científicas que conseguiam comprovar que o consumo de carne ou alimentos que continham carne dos animais tratados com os hormônios poderia fazer mal à saúde humana. Dessa forma, tal medida feria o disposto no artigo 2.2; b) tal medida não se baseava em padrões, normas ou recomendações internacionais como dita o artigo 3.1; c) a medida não havia sido objeto de verificação de riscos, ensejando a discriminação arbitrária e injustificada, ou constituindo restrição disfarçada ao comércio, o que violava os artigos 3.3, 5.1, e

5.5 do SPS; d) os europeus permitiam o uso de ' 5 como suplemento

alimentar para porcos, mesmo sabendo dos possíveis efeitos cancerígenos, o que provava o empenho em proteger o mercado interno e evidenciava a natureza contrária da medida. A Comunidade Européia negava todos estes argumentos.

O painel concluiu que a medida violava os artigos 3.1, 5.1 e 5.5 do Acordo SPS. O OA manteve esse entendimento.

O OSC adotou o relatório do OA no dia 13 de fevereiro de 1998, recomendando que a Comunidade Européia alterasse a medida de maneira que respeitasse o Acordo SPS, o que gastaria algum tempo. O prazo razoável para implementação acordado foi de 15 meses após a data de adoção do relatório pelo OSC. Dessa forma, a Comunidade Européia teria até 13 de maio de 1999 para a modificação de sua legislação de conformidade com as conclusões do OSC.

No final de abril de 1999, prazo final do período razoável, a Comunidade Européia informou que não poderia cumprir com o prazo e consideraria oferecer compreensão nos termos do ESC. Como o prazo não foi observado, os EUA e Canadá requereram arbitragem para determinar o nível de retaliação a ser aplicada. O OSC os autorizou a suspensão de concessões, enfatizando que seus prejuízos anuais corresponderiam respectivamente aos valores de US$116,8 milhões e

Can$11,3 milhões.14

Em 27 de outubro de 2003, a Comunidade Européia comunicou ao OSC que, conforme a verificação de risco refeita a partir de 1999 e revisada em 2000 e 2002, há evidências científicas evidentes para manter a proibição de produzir e importar

carne de animais tratados com hormônios.15

14

WT/DS26/ARB e WT/DS48/ARB,12/07/1999. Vale mencionar que os dois países ofereceram uma lista de produtos sobre os quais tinham interesse em suspender concessões, sendo alguns deles: carnes, tomate, chocolate, queijos, água mineral.

Tal posicionamento restou consubstanciado na Diretiva 2003/74/EC, de 22 de setembro de 2003.

Em novembro de 2003, a Comunidade Européia alegou que a entrada em vigor da Diretiva 2003/74/EC confrontava as determinações do OSC e que, portanto, as medidas de retaliação dos EUA e Canadá deveriam ser suspensas. Os EUA e Canadá discordaram da afirmativa da Comunidade Europeia, que entrou, em janeiro de 2005, com pedido de estabelecimento de painel para julgar se suas medidas obedeciam ou não às determinações do OSC.

Como ele tinha sido incapaz de completar a análise quanto à Diretiva 2003/74/EC trouxe das Comunidades Européias em conformidade substancial na acepção do artigo 22.8 do DSU, o Órgão de Apelação concluiu que as recomendações e decisões adotadas pelo OSC em EC Hormônios permanecem em funcionamento. À luz das obrigações decorrentes do artigo 22.8 do DSU, recomendou que o Órgão de Solução de Controvérsias solicitasse aos EUA e das Comunidades Européias para iniciar o artigo 21.5, sem demora, a fim de resolver o desacordo sobre o fato das CE foi removida a medida que foi considerada inconsistente em EC Hormônios e se a aplicação da suspensão de concessões por parte dos Estados Unidos continua a ser legitimamente válido. Na reunião de 14 de novembro de 2008, o DSB adotou o relatório do Órgão de Apelação e o relatório do painel, como modificado pelo relatório do Órgão de Apelação.

*R 5 ?

Reclamante: Canadá; Demandado: Austrália;

Terceiros: União Europeia, Índia, Noruega, Estados Unidos;

Acordos citados: Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (MSF): art. 3, 5, 2; Gatt de 1994: art. XI, XIII.

Em 5 de outubro de 1995, o Canadá fez uma solicitação de consultas à Austrália por entender que as restrições à importação de salmão, impostas pela Proclamação de Quarentena, eram incompatíveis com os artigos XI e XII do Gatt de

1994 e com o Acordo SPS.16

O Painel Austrália – salmão foi aberto em 7 de março de 1997, depois de dois anos de consultas bilaterais.

A Austrália alegou que vários dos riscos da transmissão de doenças com a importação do salmão não eram conhecidos. Demais, defendia que produto era de muita importância para o comércio da Austrália e que, uma vez introduzidas doenças exóticas, seria difícil extirpá las.

O Grupo Especial concluiu que, a medida imposta pela Austrália não baseava em verificação de risco, como quer o artigo 5.1 do SPS, e ainda era inconsistente com o artigo 2.2. Conclui também que a Austrália estabelecia distinções arbitrárias e injustificáveis com relação ao nível de proteção sanitária aplicado em situações distintas, salmões e produtos derivados de peixes adultos e selvagens, retirados no Oceano Pacífico. Arenques inteiros e congelados usados como iscas e peixes vivos para ornamentação, ocasionaram a discriminação ou as disfarçadas restrições comerciais, ferindo os artigos 5.5 e 2.3 do SPS.

Cabe acrescentar ainda que, a Austrália adotou uma medida bem mais restritiva que o necessário para alcançar seu nível de proteção, dessa forma, o grupo especial concluiu que o artigo 5.6 do SPS havia sido ferido.

Ante o exposto, o grupo especial concluiu que a ação da Austrália havia anulado ou prejudicado benefícios em favor do Canadá, recomendando que o OSC fizesse requerimento à Austrália, solicitando a adequação de sua medida ao teor de suas obrigações diante do Acordo Sobre a Aplicação das Medidas Sanitárias e Fitossanitárias.

A Austrália recorreu ao OA, que reverteu algumas das interpretações do painel, mas manteve a conclusão de que houve violação dos artigos 5.1 e 2.2 do SPS e que, assim sendo, havia a necessidade da Austrália colocar seus regulamentos de acordo com as normas da OMC.

No dia 29 de julho de 1999, o Canadá fez uma solicitação para a abertura de um painel de conformidade, como é chamado o painel baseado no art. 21.5 do ESC. O painel foi formado e concluiu que a Austrália não implementou medidas para adequar sua legislação às recomendações do OSC. Por isso, o Canadá obteve a autorização para retaliar a Austrália na extensão em que foi prejudicado, de acordo

com o julgamento do mesmo OSC.17

R S F ? 0 1 4O

Reclamante: Estados Unidos;

17 OMC. Informe do Grupo Especial, Austrália – Medidas que afetam a importação de salmão

Recurso ao artigo 21.5 do Canadá. WT/DS18/RW. Genebra, 18 de fevereiro de 2000.

18

Demandado: Japão;

Terceiros: Brasil, União Européia, Hungria;

Acordos citados: Acordo SPS: art. 4, 5, 7, 8, 2; Acordo sobre Agricultura: art. 4 ; Gatt de 1994: art. XI

No dia 7 de abril de 1997, os EUA solicitaram consultas ao Japão, tendo em vista a proibição de importar produtos agrícolas, uma vez que, para cada produto que requeria tratamento de quarentena, proibia a importação de suas variedades até que um tratamento fosse testado. Os EUA alegaram infrações aos artigos 2, 4, 5 e 8 do Acordo SPS, assim como o artigo XI do Gatt 1994 e do artigo 4 do Acordo sobre agricultura.

Devido ao fracasso das consultas, em 18 de novembro de 1997, os EUA tiveram atendido o seu pleito de estabelecimento de painel contra o Japão, incluindo ainda como fundamento o artigo 7 do Acordo SPS, que aborda a transparência.

Os japoneses argumentaram que as medidas aplicadas eram compatíveis com o disposto no Acordo SPS, do artigo XI do Gatt e do artigo 4 do Acordo sobre Agricultura e sua aplicabilidade era inteiramente baseada em considerações fitossanitárias. O Japão ainda alegou que tais medidas eram de caráter temporário, tendo em vista o desconhecimento do real risco da importação dos produtos agrícolas dos Estados Unidos.

O painel concluiu e OA entendeu no mesmo sentido de que o artigo 2.2 fora violado, pois, a medida japonesa não reunia suficientes evidências científicas e que conforme art. 5.7 que diz respeito à manutenção de medidas temporárias, o Japão não conseguiu cumprir com todas as condições necessárias para justificar e caracterizar uma medida temporária. O OSC adotou ambos os relatórios, do painel e do AO, na reunião de 19 de março de 1999. O prazo considerado razoável para o Japão proceder às alterações recomendadas seria de nove meses e doze dias, ou seja, até o final do ano de 1999.

Japão e EUA informaram solução mutuamente satisfatória quanto à implementação das recomendações do OSC em 23 de agosto de 2001. O regulamento que impunha tratamento quarentenário a todos as espécies foi revogado e as partes discutiriam de que maneira os produtos seriam testados dali

para frente.19

OMC. Japão – medidas afetando produtos agrícolas – Comunicação de Japão e EUA. WT/DS76/12. Genebra, 30 de agosto de 2001.

Tal posicionamento por parte do Japão finalizou a controvérsia nos termos dos artigos 3.7, 21.1 e 22.1 do ESC, ou seja, a medida foi colocada de acordo com o Acordo SPS, atendendo as recomendações do OA.

R S F ?

Reclamante: Estados Unidos Demandado: Japão

Terceiros: Austrália, Brasil, China, Taipé Chinesa, União Europeia, Nova Zelândia.

Acordos citados: Acordo SPS: Anexo B, art. 5.1, 5.2, 5.3, 5.5, 5.6, 6.1, 6.2, 7, 2.2, 2.3; Acordo sobre Agricultura: art. 4.2, 14; Gatt 1994: art XI.

Em painel estabelecido em 7 de maio de 2002, os EUA interpelaram o Japão em decorrência das medidas adotadas por aquele país para a importação de maçãs.

O caso das maçãs20 aborda uma medida fitossanitária imposta pelo Japão,

com o objetivo de barrar a importação das maçãs produzidas pelos EUA, tendo em

vista a ameaça da entrada, estabelecimento e disseminação da bactéria %

+ , causadora da praga conhecida como fogo bacteriano ou ' 8 O

Japão ainda requeria que os pomares destinados à exportação fossem inspecionados três vezes ao ano para verificar a presença de fogo bacteriano e o descredenciamento de qualquer pomar que exportasse para o Japão onde se detecte o fogo bacteriano em um perímetro de 500m em torno do pomar contaminado.

Para os EUA, as restrições impostas pelo Japão, à importação de suas maçãs, mostravam se inconsistentes com as seguintes regras: artigos 2.2, 2.3, 5.1, 5.3, 5.6, 6.1, 6.2, 7 e anexo B do Acordo SPS; art. XI do Gatt 1994 e artigo 14 do Acordo sobre Agricultura.

Os principais argumentos sustentados pelas partes foram:

R ' #

a medida não estava de acordo com o artigo 2.2 do SPS, uma vez que era mantida sem evidências científicas suficientes;

a medida não levou em conta o artigo 5.1, que prevê a necessidade de se ter verificação de risco, e deixou de considerar as informações científicas disponíveis, afrontando o artigo 5.2;

20

a medida é inconsistente com o artigo 5.6, uma vez que é mais restritiva do que o necessário para alcançar o nível apropriado de proteção japonês; d) O Japão não notificou as alterações relativas às medidas fitossanitárias no que diz respeito à

' 8 , como quer o artigo 7 e anexo B do SPS.

*R S F #

O Japão pediu que não fossem apreciadas as alegações dos EUA contidas no pedido de estabelecimento do painel que não estivessem presentes no pedido de consultas ou na primeira submissão escrita;

a medida era condizente com o artigo 2.2, possuindo justificação científica. De forma alternativa era justificada como medida provisória, nos termos do artigo 5.7;

O Japão cumpriu com a verificação de risco prevista no artigo 5.1, como

demonstra a ) : + apresentada, que respeita o artigo 5.2;

A medida é condizente com o artigo 5.6, pois leva em consideração as possibilidades econômicas e técnicas;

O Japão seguiu o artigo 7 e o anexo B do Acordo, agindo de forma transparente.

O relato do painel condenou as medidas fitossanitárias do Japão, pois eram contrárias aos artigos 2.2 e 5.7 do Acordo SPS e ainda deixava de cumprir com a verificação de risco, como prevê o artigo 5.1 do SPS.

O Japão, em sua apelação, fez nova interpretação dos artigos 2.2, 5.1, 5.7 e 11 do Acordo SPS, pois o painel teria equivocado ao entender que: a medida fitossanitária era mantida sem suficientes evidências científicas; ao entender que a medida não era mantida temporariamente e quanto à falta de verificação de risco.

O OA manteve todas as conclusões do Grupo Especial e, assim, o relatório foi adotado pelo OSC em 10 de dezembro de 2003.

Os EUA entenderam que os japoneses não alteraram sua medida de acordo com as recomendações do OSC e, por isso, recorreram com base no artigo 21.5 do ESC, objetivando questionar a adequação da medida diante de novo painel. No painel de implementação, a medida japonesa foi considerada mais uma vez como inconsistente com os acordos da OMC, SPS e com o ESC. O relatório foi publicado em 23 de junho de 2005.

No dia 30 de junho de 2005, Japão e Estados Unidos relataram uma solução acordada entre eles, com a alteração da notificação n.354 de 1997, do Ministério da

Agricultura Japonês, bem como do Requerimento Detalhado para Maçãs Frescas produzidas nos EUA, de 2004. Os requerimentos para certificação e importação

foram modificados e os Estados Unidos os consideraram satisfatórios.21

Lima acrescenta que:

O fato da medida fitossanitária aplicada pelo Japão não ter passado pelo crivo do painel e do OAp traz reflexos importantes para a formação da jurisprudência do SPS. Primeiramente, denota coerência entre a interpretação dos principais artigos já analisados e suscitados pelas partes, o que é de extrema importância quando se busca certo grau de segurança e previsibilidade na solução de controvérsias.

Merece ênfase, no entanto, o entendimento de que a restrição de importar s maçãs norte americanas pela ameaça de que viessem a contaminar os pomares japoneses não tinha cabimento quando confrontada com as evidências científicas existentes, o que fez transparecer o caráter protecionista da medida (LIMA, 2005, p.234).

O relatório do OA cristalizou o entendimento de pontos relevantes do Acordo SPS, em especial a necessidade de possuir evidências científicas que justifiquem a medida a ser adotada, o que exige a verificação de risco, ou ainda que a aplicação de um medida temporária exige que sejam cumpridos determinados requisitos.

R T ? F 0 1 ? BC3 ? D 2342-22

Reclamante: Estados Unidos; Demandado: Índia

Terceiros:

Acordos citados: Acordo SPS: Anexo B, Art. 3.1, 5, 5.1, 5.2, 5.5, 5.6, 5.7, 6, 6.1, 6.2, 7, 2, 2.2, 2.3 e Gatt de 1994: art. I, XI.

Em 6 março de 2012, os Estados Unidos solicitaram consultas com a Índia no que diz respeito às proibições impostas pela Índia sobre as importações de diversos

produtos agrícolas dos EUA, supostamente por causa de preocupações

relacionadas com a gripe aviária.

As medidas em causa são: a Lei de Importação indiano, Pecuária 1898 (9 de 1898) (“Livestock Act”), um número de ordens emitidas pelo Departamento da Índia de Pecuária, Indústria de Laticínios e Pesca nos termos da Lei, Pecuária, mais recentemente, SO 1663 (E), bem como quaisquer alterações, medidas relacionadas, ou medidas de execução. 21 OMC. 6 ; - * <; < <; . . WT/DS245/21. Genebra, 02/09/2005. 22 & - . 8 & ) 8 " 1 2 3=>

Os EUA argumentam que as medidas não parecem ser compatíveis com os artigos: 2.2, 2.3, 3.1, 5.1, 5.2, 5.5, 5.7, 6.1, 6.2, 7, e Anexo B, parágrafos 2, 5 e 6 do Acordo SPS; e com os artigos I e XI do Gatt 1994.

Os EUA também afirmar que as medidas parecem anular ou prejudicar os benefícios para os EUA, direta ou indiretamente no âmbito dos acordos citados.

"! ;A

A proteção ambiental como obrigação e dever de todos os Estados, deve ser feita de modo global, por meio da cooperação constante e total dos Estados, refletindo sobre as seguintes situações: soberania, interesse nacional e a afirmação de força nas relações internacionais.

O comércio internacional fundamenta se também na cooperação e

interdependência dos Estados para gerir um sistema fundamentado em regras de transparência e boa fé, norteado por normas e não pelo poder, com a instituição de regras e disciplinas relacionadas ao unilateralismo, restringindo a competência discricionária das soberanias nacionais em prol do interesse comum.

Os dois sistemas de proteção têm, destarte, uma conexão, a da cooperação e interdependência, e é esta conexão que permite a conciliação entre comércio e meio ambiente.

Apesar das políticas ambientais e comerciais parecerem contraditórias e incompatíveis, uma vez que estas almejam a liberalização de mercados, enquanto aquelas outras visam à preservação ambiental como um todo e, diversas vezes, impactando de forma direta na livre circulação de produtos e serviços que venham ocasionar deterioração ou colocar em risco a sobrevivência das espécies e esgotamento dos recursos naturais exauríveis.

Ademais, o sistema da OMC deve ser reconhecido mais como um sistema de liberalização comercial gerenciada, do que um sistema de livre comércio e, desta maneira, como administrador do comércio mundial, não pode continuar alheio às outras questões que o permeiam, dentre elas, o meio ambiente.

A eleição de organismos internacionais, a exemplo da OMC, pode ser usada em benefício do meio ambiente, e a questão ambiental necessita pautar suas decisões, sem que aconteça o aumento ou a diminuição dos direitos e obrigações que os Membros assumiram nos acordos da organização.

Por causa do descompasso entre os distintos níveis de proteção do ambiente de cada Estado, barreiras comerciais começam a ser adotas buscando assim a adequação dos bens e serviços à legislação ambiental do país de destino e

restrições comerciais acabam sendo introduzidas nos acordos ambientais

restringindo o comércio de produtos controlados, com Membros e não Membros dos Acordos.

Essas barreiras ambientais ao comércio unilateralmente impostas pelos países com o escopo de adaptar os produtos a sua legislação nacional ou para cumprir os compromissos firmados nos MEAS acabam sendo direcionadas para o âmbito da OMC e OSC. A relação entre as normas vigentes na OMC e as obrigações comerciais instituídas nos acordos ambientais multilaterais é uma situação notadamente sensível na organização, tendo sido introduzida na Rodada Doha, possuindo possíveis conflitos entre os Acordos da OMC e as disposições constantes de vários MEAS, bem como entre seus Órgãos de Solução de Controvérsias.

A OMC possui acordos fundamentais, Gatt, Gats e TRIPS. Além destes, há vários acordos complementares que tratam de matérias específicas, com implicações regulatórias para o comércio internacional. Com relação ao meio ambiente além das exceções gerais do artigo XX do Gatt, dois acordos merecem atenção especial pois contêm normas importantes para a aplicação de medidas ambientais, o Acordo TBT e o Acordo SPS, que objetivam evitar que medidas

técnicas, sanitárias e fitossanitárias sejam aplicadas com a finalidades

discriminatórios e protecionistas .

Em regra, as medidas ambientais fixadas pelos Membros da OMC precisam estar em conformidade com as regras do ordenamento único ou enquadrar se nas exceções gerais do artigo XX do Gatt, por meio do preenchimento dos pressupostos nele arrolados, e assim as controvérsias que aparecerem serão resolvidas por meio do OSC.

Cada Membro da OMC não só pode como deve instituir seus níveis próprios de proteção do ambiente e adotar medidas apropriados a sua consecução, desde que não sejam usadas como forma de discriminação arbitrária e injustificada contra países onde predominem as mesmas condições ou como restrição disfarçada ao comércio internacional. Assim também, as barreiras técnicas, sanitárias e fitossanitárias devem obedecer aos padrões internacionais e levar em consideração as regras elencadas nos Acordos SPS e TBT.

Documentos relacionados