• Nenhum resultado encontrado

Repositório Aberto da Universidade do Porto: Browsing Repository

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2023

Share "Repositório Aberto da Universidade do Porto: Browsing Repository"

Copied!
112
0
0

Texto

(1)

Joana Margarida Pinheiro Teixeira

Representação Social da Equipa Multidisciplinar Perspectiva do Doente Oncológico

Dissertação de Candidatura ao grau de Mestre em Enfermagem Oncológica submetida ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.

Orientador – Doutor Carlos Alberto da Silva Lopes Categoria – professor catedrático

Afiliação – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.

Co-orientador – Lic. José Manuel Silva Teixeira Categoria – Assistente Estagiário

Afiliação – Universidade Fernando Pessoa

(2)

Ao Professor Doutor Carlos Lopes, que com a sua experiência e sabedoria tornaram este trabalho mais enriquecido.

Ao Professor José Teixeira, pelo tempo e ajuda que tornou possível este trabalho.

Ao meu Marido, pelo seu apoio incondicional e colaboração na realização deste trabalho.

Aos meus Pais e Irmã pela presença contínua, apoio e ponto de equilíbrio neste e em outros momentos, e por permitirem mais uma etapa no meu conhecimento.

A Ana Almeida, grande amiga, que me ajudou na aplicação dos questionários e pela força dada ao longo da realização do mesmo, obrigada por não me deixares desistir.

Aos doentes que participaram neste estudo, sem eles não seria possível a realização do mesmo.

Ao IPO Porto que permitiu que desenvolvesse este estudo nos seus serviços de Cirurgia.

À Sílvia, Vânia e Mi…

(3)

frequência em diversas áreas. A teoria das representações sociais é um instrumento da compreensão e transformação da vida social e, por consequência, dos seus significados.

No campo profissional o estudo das representações é complexa uma vez que existe uma diversidade de saberes e culturas. Em contexto hospital é impensável que apenas alguns profissionais exercem com eficácia necessária um complexo número de acções. Este estudo aborda, a nível teórico a noção de Representação Social. Descreve a sua origem, evolução, estrutura, dimensão e formação. Aborda também o conceito de equipa multidisciplinar e competências dos seus intervenientes.

Objectivo: Perceber quais as diferentes evocações que levam à actual representação social da equipa multidisciplinar.

Método: A população do estudo foi os doentes internados nos serviços de cirurgia do IPO do Porto entre Janeiro de 2011 e Junho de 2011. A amostra é constituída por 181 doentes. Foi utilizado um processo de amostragem não probabilística e uma amostra por conveniência. É um estudo descritivo-correlacional e a metodologia utilizada na investigação do mesmo, insere-se num paradigma quantitativo. Como instrumento de colheita de dados utilizou-se um questionário e o tratamento estatístico foi realizado utilizando o programa SPSS (Statistic Package for Social Sciences) na sua versão 17.0.

Resultados: Verificou-se a existência de correlação entre algumas variáveis sócio- demográficas: entre as habilitações literárias e a categoria profissional que possui papel de maior importância durante o internamento; entre o género e habilitações literárias e a representação social que atribuem à equipa multidisciplinar; entre o número de internamentos e evocações associadas aos profissionais de saúde.

Conclusões: As evocações que contribuem para a representação social da equipa multidisciplinar que são: profissionalismo e ajuda como elementos do núcleo central e medicação e ajuda como elementos do núcleo periférico. No que respeita ao número de internamentos e a sua implicação para as representações sociais, podemos afirmar que estes alteram as mesmas. No que concerne às características sócio-demográficas apenas encontramos relação nas habilitações literárias e a sua implicação nas evocações atribuídas aos profissionais e implicação na escolha do profissional (s) da equipa multidisciplinar que possui o papel de maior importância durante o internamento.

(4)

In recent years, the concept of Social Representation have appeared frequently in various fields of knowledge. The theory of social representations is an instrument of understanding and transformation of social life and, consequently, on their meanings.

In the professional field the study of representations is complex since there is a diversity of knowledge and culture. In clinical context it is unthinkable that only a few professionals effectively perform a required number of complex actions. This study discusses the theoretical level the concept of Social Representation. Describes the origin, evolution, structure, size and training. It also discusses the concept of multidisciplinary team and skills of its players.

Objective: Understand which the different invocations that lead to the current social representation of the multidisciplinary team.

Method: The study population was patients hospitalized on surgical wards of Oporto IPO between January 2011 and June 2011. The sample is composed of 181 patients. We used a non-probability sampling process and a convenience sample. It is a descriptive- correlational study and the methodology used to investigate the same, part of a quantitative paradigm. As an instrument of data collection, was used a questionnaire and statistical analysis was performed using SPSS (Statistic Package for Social Sciences) version 17.0.

Results: Were found correlation between some socio-demographic variables: between the educational and professional category that has greater role during hospitalization;

between gender and educational and social representation that attach to the multidisciplinary team, among the number of evocations associated hospitalizations and health professionals.

Conclusions: The evocations which contribute to the social representation of the multidisciplinary team are: professionalism and help as the central core elements and medication and help as peripheral core elements. In the case the number of admissions and its implication for the social representations, we can say that they change the social representations. Regarding the socio-demographic characteristics we only found relationship between educational and its implication in evocations assigned to the professionals and involvement in the choice of the professional (s) of the multidisciplinary team that has the major role during hospitalization.

(5)

ÍNDICE

0. Introdução ... 10

Parte I – Enquadramento Teórico ... 13

1. Conceito de Representações Sociais ... 14

2. Evolução histórica das Representações Sociais ... 16

3. Teoria das Representações Sociais... 18

4. Formação das Representação Social ... 20

5. Dimensão e Função das Representações Sociais ... 22

6. Estrutura das Representações Sociais ... 24

6.1 Objectivação... 24

6.2 Ancoragem ... 25

7. Organização interna das Representações Sociais: Sistema Central e Sistema Periférico ... 28

7.1 Função do Núcleo Central... 30

7.2 Função do Núcleo Periférico ... 32

7.3 Zona Muda das Representações Sociais... 33

8. Formas de Estudo das Representações Sociais ... 35

9. Consequências das Novas Práticas nas Representações Sociais ... 36

10. Equipa Multidisciplinar... 38

11. A comunicação da Equipa Multidisciplinar ... 45

12. Competências dos diferentes profissionais da equipa multidisciplinar ... 47

12.1 Enfermeiros ... 48

12.2 Médicos ... 50

12.3 Assistentes Operacionais... 52

12.4 Fisioterapeutas... 54

12.5 Psicólogos ... 56

12.6 Assistentes Sociais ... 57

Parte II – Fase Metodológica ... 59

1. Investigação ... 60

1.1 Justificação de Investigação ... 60

1.2 Questão de Partida ... 60

1.3 Objectivos Gerais ... 61

1.4 Questões de Investigação... 61

1.5 Questões Éticas ... 61

(6)

2. Desenvolvimento da Investigação Empírica ... 63

2.1 Metodologia... 63

2.2 Selecção da População e da Amostra ... 64

2.3 Instrumento de Recolha de Dados... 64

2.4 Tratamento dos Dados... 66

Parte III – Fase Empírica ... 68

1. Apresentação e Análises dos Dados ... 69

2. Caracterização da amostra ... 69

3. Análise distribuição dos indivíduos por local e frequência de internamento ... 71

4. Análise da qualidade percepcionada no serviço ... 71

5. Análise da importância do papel e intervenção da equipa multidisciplinar ... 72

5.1. Análise da categoria profissional com papel mais importante no internamento por aspectos sociológicos... 73

5.2. Análise da categoria profissional com maior intervenção no internamento por aspectos sociológicos... 78

6. Análise da importância da equipa multidisciplinar por número de internamentos ... 82

7. Análise da disponibilidade da equipa multidisciplinar por aspectos sociológicos ... 84

8. Análise do desempenho da equipa multidisciplinar ... 86

9. Análise do modo de trabalhar da equipa multidisciplinar e influência de opinião por terceiros ... 87

10. Análise da autonomia no processo de decisão da equipa multidisciplinar ... 88

11. Análise das evocações associados à equipa multidisciplinar ... 89

11.1. Análise das evocações associados à equipa multidisciplinar por elementos sociológicos ... 89

11.2. Análise das evocações associados à equipa multidisciplinar por número de internamentos ... 92

12. Discussão dos Resultados ... 94

12.1. Concretização dos objectivos formulados... 94

Parte IV – Conclusão ... 98

Bibliografia ... 101

Anexos... 109

Anexo I – Instrumento de Recolha de Dados ... 110

Anexo II – Consentimento Informado ... 111

Anexo III – Autorização da Comissão de Ética ... 112

(7)

ÍNDICE TABELAS

Tabela 1. Distribuição dos indivíduos por idade, género, estado civil, habilitações e sector de actividade... 70 Tabela 2. – Distribuição dos indivíduos por local e frequência de internamento ... 71

Tabela 3. Distribuição da opinião dos inquiridos acerca das experiências negativas e positivas nas dimensões da qualidade nos serviços ... 72 Tabela 4. Distribuição da opinião dos inquiridos acerca dos profissionais de saúde relativamente à importância do seu papel e à frequência de intervenção no internamento..

... 73 Tabela 5. Análise da opinião dos inquiridos por categorias etárias da categoria profissional com papel mais importante no internamento ... 74 Tabela 6. Análise da opinião dos inquiridos por género da categoria profissional com papel mais importante no internamento ... 75 Tabela 7. Análise da opinião dos inquiridos por estado civil da categoria profissional com papel mais importante no internamento ... 75 Tabela 8. Análise da opinião dos inquiridos por habilitações literárias da categoria profissional com papel mais importante no internamento ... 76 Tabela 9. Análise da opinião dos inquiridos por sector económico de actividade da categoria profissional com papel mais importante no internamento... 77 Tabela 10. Análise da opinião dos inquiridos por categorias etárias da categoria profissional com maior intervenção no internamento ... 78 Tabela 11. Análise da opinião dos inquiridos por género da categoria profissional com maior intervenção no internamento ... 79 Tabela 12. Análise da opinião dos inquiridos por estado civil da categoria profissional com maior intervenção no internamento ... 80

(8)

Tabela 13. Análise da opinião dos inquiridos por habilitações literárias da categoria profissional com maior intervenção no internamento ... 81 Tabela 14. Análise da opinião dos inquiridos por sector económico de actividade da categoria profissional com maior intervenção no internamento ... 82 Tabela 15. Análise da opinião dos inquiridos por número de internamentos da categoria profissional com papel mais importante no internamento ... 83 Tabela 16. Análise da opinião dos inquiridos por número de internamentos da categoria profissional com maior intervenção no internamento ... 84 Tabela 17. Distribuição da opinião dos inquiridos pelas categorias dos elementos sócio- demográficas relativamente à disponibilidade dos profissionais de saúde ... 85 Tabela 18. Distribuição do desempenho dos diferentes profissionais de saúde ... 86

Tabela 19. Distribuição da opinião dos inquiridos acerca do modo de trabalhar da equipa multidisciplinar e influência de opinião por terceiros ... 87 Tabela 20. Distribuição da opinião dos inquiridos sobre a autonomia dos profissionais de saúde no processo de decisão ... 88 Tabela 21. Distribuição da opinião dos inquiridos relativamente às evocações associadas à equipa multidisciplinar de forma global... 89 Tabela 22. Distribuição da opinião dos inquiridos por idade sobre as evocações associadas à equipa multidisciplinar ... 90 Tabela 23. Distribuição da opinião dos inquiridos por género sobre as evocações associadas equipa multidisciplinar ... 90 Tabela 24. Distribuição da opinião dos inquiridos por estado civil sobre as evocações associadas equipa multidisciplinar ... 91 Tabela 25. Distribuição da opinião dos inquiridos por habilitações literárias sobre as evocações associadas equipa multidisciplinar ... 91 Tabela 26. Distribuição da opinião dos inquiridos por sector económico de actividade sobre as evocações associadas equipa multidisciplinar ... 92

(9)

Tabela 27. Distribuição da opinião dos inquiridos por número de internamentos sobre as evocações associadas equipa multidisciplinar ... 93

(10)

0. INTRODUÇÃO

O crescimento exponencial do conhecimento criou novas necessidades no mundo do trabalho. Na Antiguidade, sábios eram, ao mesmo tempo, filósofos, matemáticos, astrónomos, engenheiros, artistas, escritores etc. (Velloso 2005).

Na área da saúde, até a primeira metade do século passado, cerca de quatro profissionais formalmente habilitados dominavam todo o conhecimento e exerciam todas as acções do sector. Nos tempos actuais, é totalmente impossível que apenas alguns profissionais exerçam, com toda eficiência necessária, o conjunto amplo e complexo das acções de saúde (Velloso 2005).

No decorrer do século XX, a sociedade observou várias transformações de ordem económica, social, cultural e tecnológica, com reflexos nas organizações, constituindo grandes modificações no mundo do trabalho, o que provocou mudanças nas filosofias de administração, controle e gestão da produção de bens e serviços. (Alves et al, 1999).

As necessidades demandadas de saúde e o crescente desenvolvimento científico e tecnológico produziram estratégias e mecanismos para efectivar o trabalho em equipa, com qualidade e eficiência. É compreensível, dentro das características contraditórias do ser humano, que o aumento de profissões e essa tentativa de criar o trabalho em equipa tenha criado polémica, competição e disputa por espaço e poder (Velloso 2005).

A equipa multidisciplinar é, hoje, uma realidade insofismável e necessária em todos os espaços onde se praticam acções que visam melhorar a qualidade de saúde e de vida das populações (Velloso 2005).

Perceber quais as diferentes evocações que levam à actual Representação Social da Equipa Multidisciplinar, pode contribuir para alterar comportamentos que melhorem aspectos da forma de prestação de cuidados para que a representação social evolua positivamente.

O estudo do tema “Representação Social da Equipa Multidisciplinar – Perspectiva do Doente Oncológico” surge, na sequência de uma reflexão, do investigador, sobre a sua vivência diária no local de trabalho, onde a equipa multidisciplinar possui um papel de extrema importância, quer para o doente, quer para os profissionais.

(11)

Este estudo pretende dar cumprimento ao plano curricular do Curso de Mestrado em Oncologia do Instituto Abel Salazar.

O estudo é dividido em quatro capítulos: enquadramento teórico, fase metodológica, fase empírica e conclusão. O primeiro capítulo integra vários pontos, onde é abordada toda a revisão bibliográfica, que inclui os itens considerados essenciais para a compreensão do tema em estudo. O segundo capítulo é constituído por vários pontos onde são abordados os procedimentos metodológicos que servem de base para este estudo, na fase empírica são apresentados e interpretados os resultados obtidos, baseados nos dados colhidos através de um questionário, previamente testado através da realização do pré-teste. É feita ainda a discussão dos resultados de forma a dar resposta aos objectivos traçados.

No último capítulo é feita uma conclusão onde são apresentadas algumas sugestões, que consideramos úteis, no sentido alterar as representações que os doentes oncológicos têm dos profissionais da equipa multidisciplinar.

Na elaboração deste trabalho foi utilizado o método expositivo/descritivo, uma vez que se pretende transmitir sucintamente e de uma forma clara e objectiva a informação seleccionada através da pesquisa bibliográfica, tanto através de livros científicos, Internet, artigos.

Pretendemos com este estudo conseguir responder à questão “Quais as evocações que levam à Representação Social da Equipa Multidisciplinar por parte do doente oncológico”

Pretende-se também com este trabalho atingir os seguintes objectivos:

 Identificar a relação das variáveis sociológicas com a categoria profissional com papel mais importante no internamento

 Identificar a relação das variáveis sociológicas com a categoria profissional com a categoria profissional com maior importância nas diferentes etapas do internamento

 Identificar a relação das variáveis sociológicas e a representação que os doentes atribuem à equipa multidisciplinar

 Identificar a relação entre o número de internamentos e a representação que os doentes atribuem à equipa multidisciplinar

 Identificar as evocações que pertencem ao núcleo central e periférico das Representações Sociais resulte da influência do trabalho dos mesmos sobre os utentes

(12)

Este estudo decorreu entre Janeiro de 2011 e Junho de 2011. Foram aplicados questionários aos utentes internados nos serviços de internamento de cirurgia do IPO Porto.

As dificuldades na elaboração deste trabalho, prende-se, na maioria das vezes, devido ao estado de saúde do doente ou a desmotivação dos mesmos, assim como à falta de contacto dos doentes com alguns dos elementos da equipa multidisciplinar, não por falta de acessibilidade aos mesmos mas porque não ser necessário a sua intervenção.

Com este trabalho de investigação identificamos as evocações que contribuem para a representação social da equipa multidisciplinar que são: profissionalismo e ajuda como elementos do núcleo central e medicação e ajuda como elementos do núcleo periférico.

(13)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

 

(14)

1. CONCEITO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Para compreendermos o verdadeiro significado das representações sociais não podemos deixar de definir representação. Representação vem do latim “repraesentatione” que significa a forma como o objecto é percebido pelo espírito. A representação é “acção de tornar sensível qualquer coisa, através de uma figura de um símbolo ou de um signo”.

“Por representação eu quero dizer um conjunto de estímulos feitos pelos homens, que têm a finalidade de serem como um substituto a um sinal ou som que não pode ocorrer naturalmente. Algumas representações funcionam como substitutos de estímulos, elas produzem a mesma experiência que o mundo natural produziria”(Bower, 1977).

“Representar significa, a uma vez e ao mesmo tempo trazer presentes coisas ausentes e apresentar coisas de tal forma que satisfaçam as condições de uma coerência argumentativa, de uma racionalidade e da integridade normativa do grupo” (Moscovici, 2005).

“ Representar uma coisa (…) não é com efeito simplesmente duplica-la, repeti-la ou reproduzi-la; é reconstituí-la, retocá-la, modificar-lhe o texto. A comunicação que se estabelece entre o conceito e a percepção, um penetrando no outro, transformando a substância concreta comum, cria a impressão de

“realismo” (…) Essas constelações intelectuais uma vez fixadas nos fazem esquecer de que são obra nossa, que tiveram um começo e que terão um fim, que a sua existência o exterior leva a marca e uma passagem pelo psiquismo individual e social” (Moscovici, 1976).

A representação social “é uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visão prática e contribuindo para a construção de uma realidade comum de um acontecimento social” (Jodelet cit in Guareschi 2003).

Após a leitura e análise dos trabalhos de Moscovici podemos afirmar que as representações sociais dependem de mecanismos cognitivos, das características individuais do assunto e da realidade social. Uma representação social é determinada pela estrutura na qual se desenvolve.

Segundo Pereira (2002) a representação social provem quer de indivíduos quer de grupos, dando-se grande ênfase nos processos comunicacionais. Contudo, e segundo o autor supracitado há uma grande diferença entre representação social e representação colectiva. A representação social está em constante reconstrução devido à interacção entre as pessoas e grupos, as representações colectivas não variam e são estáticas.

(15)

Como consequência da grande difusão da Teoria das Representações Sociais no meio científico a partir da década de 1970 e devido à complexidade do fenómeno em questão, surgiram diferentes concepções sobre a noção de representação social.

As “representações sociais são sempre complexas e necessariamente inscritas dentro de um referencial de um pensamento preexistente. Sempre dependentes, de sistemas de crenças ancorados em valores, tradições e imagens do mundo e da existência”

(Moscovici, 2005 p. 216).

Segundo este autor, nós não conseguimos obter informação antes que esta seja sujeita às representações impostas pelos objectos e pelas pessoas que lhe dão credibilidade e fazem delas parcialmente inacessíveis.

“Quando contemplamos os indivíduos ou objectos, a predisposição herdada, as imagens, os hábitos que aprendemos, as recordações que preservamos e as nossas categorias culturais, tudo isto se junta para fazê-las tal e qual como as vemos” (Moscovici 2005).

Ainda segundo a ideia deste autor toda a “representação social é constituída como um processo em que se pode localizar uma origem, mas uma origem é sempre inacabada, a tal ponto que outros factos e discursos virão nutri-la ou deteriora-la” (Moscovici 2005).

“Elas são, sobretudo, o objecto de um permanente trabalho social, que pode ser reincorporado dentro de modelos explicativos e justificativos que são familiares e consequentemente aceitáveis”. (Moscovici, 2005, p. 216)

Segundo Jodelet, na comunidade científica, existe consenso em definir a representação social como “ uma forma de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado, tendo a finalidade prática de uma realidade comum de um conjunto social” (Jodelet cit in Guareschi 2003).

Esta autora faz referência ao papel da comunicação nos processos da formação das representações sociais. Assim, tem-se a noção que “a representação social é compreendida como sistema de interpretação, teorias não oficiais e espontâneas, saber prático de senso comum que rege a relação do homem com o mundo, além de orientar e organizar a sua conduta e as comunicações sociais” (Jodelet, 2001).

(16)

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

No século XIX Emile Durkheim (1858-1917) foi o primeiro a evocar a noção de representações que chamava de “colectivas” através de estudos das religiões e dos mitos. Para este sociólogo, “os primeiros sistemas de representações que o Homem tem do mundo e dele são de origem religiosa” (Durkheim, 1991).

Este autor distinguiu as representações colectivas das individuais: “A sociedade é uma realidade sui generis, com características próprias que não se encontram da mesma forma, no resto do universo. As representações que experimentamos em conjunto têm um conteúdo diferente que as representações puramente individuais e podemos assegurar que as primeiras incorporam alguma coisa das segundas” (Durkheim, 1991).

Só no século XX, decorridos 30 anos, o conceito de representação social conhece um interesse renovado em todas as disciplinas das ciências humanas.

A teoria das Representações Sociais foi elaborada inicialmente pelo psicólogo Romeno, naturalizado em França, Serge Moscovici, a partir dos dados recolhidos em estudos realizados entre 1952 e 1959 e a partir dos quais resultou na sua tese de doutoramento.

O objectivo da sua pesquisa era compreender como uma novidade, no campo do conhecimento especializado, no caso a psicanálise, era recebida pelo público francês na década de 1950 e reconstruída no imaginário social, transformando-se em saber prático do senso comum.

Uma das preocupações de Moscovici era a construção de uma psicologia mais socialmente orientada em oposição à perspectiva individualista da tradição norte- americana dominante.

Durkheim (1968) define representações por uma dupla separação.

Numa primeira fase as representações colectivas separam-se das individuais, como o conceito se separa da percepção ou imagem. Estas, próprias de cada indivíduo são variáveis e alteram-se de forma interrupta. O conceito não varia, é universal e impessoal.

Numa segunda fase as representações individuais têm base a consciência de cada um, enquanto que as representações colectivas têm por base a sociedade na sua totalidade.

(17)

Assim, estas não são o denominador comum daquelas, mas antes a sua origem, correspondendo “á maneira pela qual esse ser especial, que é a sociedade, pensa as coisas da sua própria experiência” (Durkheim, 1968, p. 621).

Compreende-se que tal representação seja homogénea e vivida por todos os membros de um grupo, da mesma forma que partilham uma língua. Ela tem por função preservar o vínculo entre eles, prepará-los para pensar e agir de modo uniforme. Ela é colectiva porque perdura pelas gerações e exerce uma coerção sobre os indivíduos, traço comum a todos os factores sociais.

Em geral, Durkheim (1968,p.609) opõem as representações colectivas às representações individuais por meio de um mesmo critério, a estabilidade da transmissão e da reprodução de algumas, a variabilidade ou o carácter efémero das outras.

“ Se é comum a todos é porque é obra da comunidade. Já que não traz a marca de nenhuma inteligência particular, é porque é elaborada por uma inteligência única, onde todas as outras se reúnem e vêm, de certa forma, alimentar-se. Se ele tem mais estabilidade que as sensações ou as imagens é porque as representações colectivas são mais estáveis que as individuais, pois, enquanto o indivíduo é sensível até mesmo a pequenas mudanças que se produzem em seu meio interno ou externo, só eventos suficientemente graves conseguem afectar o equilíbrio mental da sociedade”.

Weber (1971) faz das representações sociais um quadro de referência e um vector da acção dos indivíduos.

“ É evidente que essas situações colectivas que fazem parte do pensamento quotidiano ou do pensamento jurídico (ou de qualquer outro pensamento especializado) são representações de algo que, para uma parte do ser, para uma parte do dever ser, paira sobre a cabeça dos homens reais (não só os juízes e os funcionários, mas também o público), segundo as quais eles orientam sua actividade;

e tais estruturas têm uma importância causal considerável, até mesmo frequentemente dominante, para a natureza do desenvolvimento da actividade dos homens reais” (Weber, 1971, p.12).

(18)

3. TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Em 1898 Durkheim para explicar diversos fenómenos de ordem psicológicos utilizou a noção de representações colectivas. A ideia de Durkheim reside sob o postulado pelo qual a sociedade forma um todo, uma entidade original, diferente da simples soma dos indivíduos que a compõem. A ideia específica do conceito de representações sociais é o modo como o conhecimento se constrói colectivamente. Uma representação social não é fruto de uma minoria de indivíduos que propõem a sua visão sobre certos aspectos do mundo. Trata-se de uma elaboração colectiva que de certa maneira vai definir um conceito social.

Moscovici (1961) com a publicação do seu trabalho Psychanalyse: son image et son public, tentou mostrar como e porquê, diversos grupos sociais elaboram a representação de um objecto mal conhecido, e no fundo, como é uma teoria científica, difundida e como é que esta muda a visão que as pessoas têm.

O autor supracitado distingue-se por sugerir a existência de um pensamento social resultante das experiências, das crenças e das trocas de informações presentes na vida quotidiana. Para Moscovici (1961) o fenómeno das representações sociais é próprio das sociedades pensantes “thinking society”. Este fenómeno constitui uma forma de pensamento social que incluiu as informações, experiências, conhecimentos e modelos que são recebidos e transmitidos através das tradições, educação e pela comunicação social, circulam na sociedade.

A partir de Moscovici concluiu-se que a representação social é de ordem cognitiva:

articula as informações sobre o objecto de representação e as atitudes do sujeito relativas a este. É deste modo, um guia para a acção e um modelo de interpretação da realidade.

No contexto das representações sociais verificam-se 2 grandes modelos de representações sociais: o representacional e o construtivista. O primeiro procura sustentar a representação nos seus aspectos discursivos admitindo que não existem diferenças significativas entre o discurso e pensamento. O segundo procura incorporar todos os elementos que possam explicar a génese das representações. O modelo representacional recorre ao que é comum e partilhado entre os indivíduos.

(19)

A partir Moscovici foram muitos os trabalhos desenvolvidos sobre as representações sociais.

Abric (1984) e Flament (1989) desenvolveram ainda um modelo teórico que caracteriza a representação social formada a partir de um núcleo central e um núcleo periférico. Esta concepção foi aceite e validada através de trabalhos laboratoriais e constituiu um grande progresso na compreensão das representações sociais.

(20)

4. FORMAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Para operacionalizar o conceito de representação social, Moscovici (1961) recorreu a outros teóricos para apoiar a sua perspectiva a respeito da formação do saber e do valor do saber prático. Vários foram os autores a quem Moscovici recorreu, mas os que maior contributo deram foram: Piaget, Freud e Lévy-Bruhl.

Piaget esteve sempre muito íntimo ao pensamento de Lévy-Bruhl, tanto no seu método, como na sua psicologia. Sem exagero, pode-se dizer que a psicologia das representações “primitivas” estabelecidas por Lévy-Bruhl é repetida na psicologia das representações das crianças por exemplo, no animismo infantil, no realismo intelectual, etc. Por outras palavras, um descobriu nas representações públicas das sociedades, o outro redescobriu, de maneira transposta, nas representações supostamente privadas das crianças.

Piaget, contudo, distanciou-se de Lévy-Bruhl, e aproximou-se de Durkheim e Freud, quando ele imaginou uma evolução contínua estendendo-se dessas representações “pré- lógicas” da criança, para as representações mais lógicas e individuais dos adolescentes.

Piaget, deu o seu contributo a respeito do desenvolvimento do pensamento infantil – a forma como se estrutura e se configura, mostra que ele se dá por imagens e também por corte-e-cola, juntando fragmentos do que a criança já conhece para formar uma configuração que traduza o que ela desconhece – o que muitas vezes se manifesta mais claramente para os adultos como o “falar errado” das crianças. Mas também a partir do julgamento moral, indicando a importância do contacto com os adultos, primeiramente, e com outras crianças, mais tarde, para o desenvolvimento desse tipo de juízo e para a construção das regras pelas crianças. A contribuição de Piaget diz respeito ao desenvolvimento do pensamento infantil, a forma como se estrutura e se configura.

Freud através das teorias sexuais acerca das crianças mostrou como elas elaboram e interiorizam as suas próprias teorias sobre questões fundamentais para a humanidade, que carregam marcas sociais da sua origem.

Lévy- Bruhl contribuiu por meio dos seus estudos sobre pensamento místico encontrado em povos distantes, aponta outras formas lógicas para pensar o mundo, baseado em princípios diversos dos do pensamento ocidental.

(21)

Com estas contribuições Moscovici encontrou alguns fundamentos da construção do saber prático. Segundo Moscovici (1984) há dois tipos de universos de pensamento, o consensual e o reificado. O consensual é o senso comum, encontra-se na prática interactiva diária onde se constroem as representações sociais através de pressões do dia-a-dia e de contradições da sociedade. O universo reificado refere-se ao mundo das ciências, da objectividade.

(22)

5. DIMENSÃO E FUNÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Desde o inicio dos anos oitenta que têm sido realizadas inúmeros estudos sobre a organização interna das representações sociais (Abric, 1984; Flament, 1989; Sá, 1996).

Umas das primeiras proposições quanto á organização interna das representações, estabelece que esta se configura ao longo de três dimensões: informação, atitude e campo de representação ou imagem.

De acordo com Moscovici (cit in Sá 2002), “a informação refere-se à organização dos conhecimentos que um grupo possui a respeito de um objecto social.”

Ainda segundo o mesmo autor “o campo de representação remete para a ideia de imagem, de modelo social, ao conteúdo concreto e limitado das proposições acerca de um aspecto preciso do objecto da representação social.”

A atitude “termina por focalizar a orientação global em relação ao objecto da representação social”.

“… a atitude é a mais frequente das três dimensões e, talvez geneticamente a primeira. Por conseguinte, é razoável concluir que as pessoas se informam e representam alguma coisa somente depois de terem tomado uma posição e em função da posição tomada” (Moscovici cit in Sá 2002).

Todos estes trabalhos permitiram reduzir incertezas relativamente aos elementos constituintes das representações sociais,

“ Com efeito, o tipo de realidade social para que aponta o conceito de representação social está finamente tecido por um conjunto de elementos de natureza muito diversa: processos cognitivos, inserções sociais, factores afectivos, sistemas de valores… que devem caber simultaneamente no instrumento conceitual utilizado para elucidá-lo” (Ibañez cit in Sá 2002).

Moscovici (1981) atribui às representações sociais a função de tornar uma novidade algo familiar. Percebe-se, assim, a sua importância como fonte de segurança para um grupo, na medida em que representar o novo permite ao grupo manter o seu sentimento de estabilidade diante de algo estranho e desprovido de significado.

Uma explicação adequada sobre as representações sociais deve ter em conta a sua origem, fins ou funções e das circunstâncias da sua produção. Deste modo Abric sistematizou a questão das finalidades próprias das representações sociais, atribuindo- lhe quatro funções essenciais:

(23)

“Funções de saber: permitem compreender e explicar a realidade. (…) elas permitem aos actores sociais adquirir conhecimentos e integrá-los a um quadro assimilável e compreensível para eles, em coerência com o seu funcionamento cognitivo e os valores aos quais aderem. Por outro lado, elas facilitam – e são mesmo condição necessária para a comunicação social;

Funções identitárias: definem a identidade e permitem a salvaguarda da especificidade dos grupos. “ (…) As representações têm também por função situar os indivíduos e os grupos no campo social (permitindo) a elaboração de uma identidade social e pessoal gratificante, ou seja compatível com sistemas de normas e de valores sociais e historicamente determinados;

Funções de orientação: guiam comportamentos e as práticas. A representação intervém directamente na definição da finalidade da situação, determinando assim a priori o tipo de relações pertinentes para o sujeito;

Funções justificatórias – permitem justificar a posteriori as tomadas de posição e os comportamentos”

Abric (cit in Sá 2002).

Segundo este autor, as representações sociais podem preservar e justificar a diferenciação social, contribuindo para a discriminação e manutenção da distância social entre diferentes grupos.

(24)

6. ESTRUTURA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

“Não é fácil transformar palavras, ideias, seres desconhecidos em palavras usuais, próximas e actuais. Para que seja possível entendê-las é necessário pôr em funcionamento dois mecanismos de um processo de pensamento baseado na memória e em conclusões passadas” (Moscovici, 2001).

“O primeiro mecanismo tenta ancorar ideias estranhas, reduzi-las a categorias e imagens comuns, coloca-las num contexto familiar. O segundo mecanismo tem como finalidade objectivá-los, ou seja, transformar algo abstracto em concreto, transferir algo que esta na mente em alguma coisa presente no mundo físico. Estes mecanismos transformam o não familiar em familiar, primeiramente transferindo-o para a nossa própria esfera particular onde nós somos capazes de compará-lo e interpretá-lo e depois reproduzindo-o entre as coisas que nós podemos ver e tocar e consequentemente controlar” (Moscovici, 2001).

Os processos constitutivos da representação social, a ancoragem e a objectivação segundo Moscovici 2001 estão relacionados com a formação e o funcionamento das mesmas, estão intrinsecamente ligados e são delineados por factores sociais.

“A ancoragem e a objectivação são maneiras de lidar com a memória” (Moscovici, 2005).

“A ancoragem mantém a memória em movimento e a memória é dirigida para dentro, está sempre a colocar e a retirar pessoas, objectos e acontecimentos, que classifica de acordo com um tipo e rotula com um nome. A objectivação é direccionada para fora, para os outros, tira daí conceitos e imagens para juntá-los e reproduzi-los no mundo exterior, para fazer as coisas conhecidas a partir do que já é conhecido” (Moscovici, 2005).

6.1. Objectivação

“A objectivação refere-se á forma como se organizam os elementos constituintes da representação e ao percurso através do qual tais elementos adquirem materialidade, isto é, se tornam expressões de uma realidade vista como natural” (Vala, 2002,p. 465).

A objectivação une a ideia de não-familiar com a de realidade, torna-se a verdadeira essência da realidade.

Objectivar é “descobrir a qualidade icónica de uma ideia, ou ser mal definido isto é, fazer equivaler o conceito com a imagem”(Moscovici, 1981, p. 199).

(25)

As imagens que foram seleccionadas, devido a sua capacidade de ser representadas, são integradas no núcleo figurativo, um complexo de imagens que reproduzem visivelmente um complexo de ideias.

“Aquelas [palavras] que, devido à sua capacidade para serem representadas, tiverem sido seleccionadas, (…) são integradas ao que chamei de um padrão de núcleo figurativo, um complexo de imagens que reproduz visivelmente um conjunto de ideias (…). Uma vez que a sociedade tenha adoptado tal paradigma ou núcleo figurativo, fica mais fácil falar sobre qualquer coisa que possa ser associado ao paradigma e, por causa dessa facilidade, as palavras referentes a ele são usadas mais frequentemente” (Moscovici cit in Sá, 2002).

De acordo com Cabecinhas (2004, pág.128) o processo de objectivação envolve 3 etapas:

 Na primeira fase, as informações e crenças sobre um objecto da representação sofrem um afastamento e descontextualização para que apenas uma parte da informação disponível seja retida. Este processo depende dos valores e das normas de cada grupo.

 A segunda fase da objectivação corresponde à organização dos elementos.

Para a organização dos elementos Moscovici recorre ao esquema de nó figurativo, em que os elementos da representação estabelecem entre si um padrão de relações estruturadas.

 A terceira e última fase da objectivação diz respeito à naturalização, ou seja, os elementos adquirem materialidade, tornam-se concretos através da sua expressão em imagens.

Objectivar significa transformar (ou materializar) elementos do pensamento em elementos reais, que fazem parte da língua ou do vocabulário e são controlados pela memória.

Corresponde, também, “a um processo de associação de uma imagem a um conceito, que fica concluído quando as diferenças entre a imagem e a realidade deixem de existir e o conceito se transforma numa “cópia da realidade” (Oliveira, 2008).

6.2. Ancoragem

“Processo que transforma algo estranho e perturbador, que nos intriga, no nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de uma categoria que nós pensamos ser apropriada” (Moscovici, 2005, p.61).

(26)

A ancoragem é designada como operação mental que vai permitir incorporar qualquer coisa que não conhecemos ou conhecemos pouco, aproximando-a de qualquer coisa que já conhecemos.

“No momento em que determinado objecto ou ideia é comparado ao paradigma de uma categoria, adquire características dessa categoria e é reajustado para que se enquadre nela, se a classificação, assim obtida, é geralmente aceite, então qualquer opinião que se relacione com a categoria irá se relacionar também com o objecto ou com a ideia” (Moscovici, 2005, p.61).

“Ancorar é classificar e dar nome a alguma coisa”(Moscovici, 2005).

Classificar alguma coisa, significa que nós o limitamos a um conjunto de comportamentos e regras que estipulam o que é, ou não é, permitido, em relação a todos os indivíduos pertencentes a essa classe.

Rotular, relaciona-se à nomeação com uma palavra que o faz, significa, segundo Moscovici, receber uma posição segura dentro da matriz de identidade da cultura a qual o grupo pertence.

Desta forma no final desse processo o não identificável passa a ter uma identidade, o que permite, por exemplo, que um conceito científico penetre na linguagem do dia-a-dia.

“Mas classificar e dar nomes não são simplesmente meios de graduar e de rotular pessoas ou objectos considerados como entidades discretas. O seu principal objectivo é facilitar a interpretação de características, a compreensão de intenções e motivos subjacentes às acções das pessoas, ou seja, formar opiniões” (Moscovici, 2005).

“A grande maioria das classificações são feitas comparando as pessoas a um protótipo, geralmente aceite como representante de uma classe e que o primeiro é definido através da aproximação, ou da coincidência com o último. Classificar e dar nome são dois aspectos da ancoragem das representações sociais” (Moscovici, 2005).

De encontro com Cabecinhas (2004) o processo de ancoragem por um lado precede a objectivação e, por outro lado, situa-se na sua sequência. Como precedente a ancoragem necessita de pontos de referência para tratar a informação, como sequente refere-se à função social, ou seja permite compreender de que forma os elementos que estão representados contribuem para construir as relações sociais.

(27)

Segundo Jodelet (cit in Cabecinhas 2004) “a ancoragem serve à instrumentalização do saber conferindo-lhe um valor funcional para a interpretação e a gestão do ambiente”

Vala (1993, p.363), afirma “o processo de ancoragem é, a um tempo, um processo de redução do novo ao velho e reelaboração do velho tornando-o novo”.

(28)

7. ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: SISTEMA CENTRAL E SISTEMA PERIFÉRICO

Foi na base das constatações feitas por Abric (1976) que ele procurou mostrar que na representação social existem elementos centrais em torno dos quais a representação se organiza.

Assim sendo, a organização interna das representações sociais contém dois sistemas fundamentais:

“ um central e outro periférico que em permanente dinâmica influenciam por sua vez as ancoragens e as tomas de posição, colocando em relevo duas dimensões, uma individual, através das atitudes a influenciaremos princípios organizadores das tomadas de posição e outra social através das pertenças grupais”. (Pereira cit in Vala, 1993)

Todas as representações sociais são organizadas em redor de um núcleo central, que tem como função a estrutura e gere o conjunto do campo representativo em relação a um objecto. Segundo Flament (1989) o núcleo central de uma representação corresponde a uma estrutura que dá coerência e sentido à representação.

Á volta do núcleo central e organizados para este encontram-se os elementos periféricos que desempenham funções importantes.

Em 1992 Abric afirmou que as representações sociais têm a estrutura proposta por Flament.

“ A organização de uma representação apresenta uma característica particular: não apenas os elementos da representação são hierarquizados, mas além disso toda a representação é organizada em torno do núcleo central, constituído de um ou alguns elementos que dão á representação o seu significado” (Abric, 1994,p. 19).

O sistema central possui, segundo Abric (1994, p.20), as seguintes características:

“É determinado pela história do grupo, pelas suas referências ideológicas e normativas assim é extremamente marcado pela memória colectiva;

Tem uma função consensual porque constitui a base comum colectivamente compartilhado das representações sociais;

A sua estabilidade, a sua coerência, a sua resistência às mudanças permitem-lhe assegurar uma segunda função, a de continuidade e a permanência da representação;

(29)

Por fim o sistema central é pouco sensível ao contexto imediato”.

“Os elementos periféricos são governados pelo núcleo central que determina as suas funções. Têm um papel essencial na dinâmica das representações sociais porque podem ser definidos como modelos, prescritores de comportamentos” (Flament, 1989).

“O sistema periférico tem como primeira função a concretização do sistema central em termos de conduções ou tomadas de posição. Por outro lado, o sistema central é menos flexível e evolutivo, o que permite assegurar uma segunda função, a de regulação e adaptação deste à realidade concreta na qual o grupo está organizado” (Flament, 1989).

São os elementos periféricos que protegem o núcleo central, alguns destes elementos podem ser transformados sem que haja diminuição do significado central.

“Duas representações diferem unicamente se os seus núcleos centrais não forem os mesmos” (Guimelli, 1994).

“As representações sociais são consensuais pelos seus núcleos centrais mas podem absorver fortes diferenças inter-individuais nos seus sistemas periféricos. É a articulação deste duplo sistema que permite as representações sociais assumir a sua função essencial: a adaptação sócio cognitiva”

(Guimelli, 1994).

Abric (2005), aponta, num trabalho recente, para a existência de uma região de difícil explicitação das representações sociais, que denominou “zona muda” (zone muette).

“Esse fenómeno aconteceria, sobretudo, para determinados tipos de objectos mais sensíveis, fortemente marcados por valores e normas sociais” (Abric, 2005).

Nesta perspectiva, Flament, Guimelli e Abric (2006) afirmam que os sujeitos seleccionariam os aspectos expressáveis da representação de determinados objectos em razão da normatividade que percebem estar em jogo na situação em que se encontram e, então, apresentam aquilo que imaginam ser a “boa resposta” ou o discurso “politicamente correcto”.

“Exactamente, nessas situações existem duas facetas da representação: uma representação explícita, verbalizada pelos sujeitos; e uma segunda parte da representação, não verbalizada ou não expressa pelos sujeitos, a qual consistiria em uma zona muda das representações sociais” (Abric, 2005).

Segundo Abric (2005) é importante salientar que a zona muda das representações sociais não é a parte inconsciente das representações. Os elementos nela contidos

(30)

integram a consciência de cada indivíduo, mas devido à situação social, normas e valores não podem ser expressos.

A representação social por conseguinte é constituída por conjunto de elementos ou modelos cognitivos, estruturados e hierarquizados. Efectivamente, alguns desses elementos ocupam uma posição estruturante que constitui assim o sistema central. Estes elementos ocupam uma posição privilegiada no campo representativo porque o núcleo central constitui o coração da representação. “É o elemento mais estável e mais resistente à mudança” (Guimelli, 1994).

O conjunto do campo representativo compreende os elementos ou modelos cognitivos centrais mas igualmente os modelos ou elementos periféricos. Estes desempenham um papel diferente. Estão sob a dependência do núcleo central. A importância que pode tomar um elemento periférico no campo representativo depende essencialmente da estrutura e significado do núcleo central para o assunto. Os elementos periféricos são muito mais flexíveis e mais evolutivos que os elementos centrais. Podem, sob efeito de práticas novas mais ou menos contraditórias com a representação, sofrer uma transformação, sem que o núcleo central seja posto em causa. Asseguram assim a protecção dos elementos centrais.

7.1. Função do Núcleo Central

O núcleo central é o elemento mais estável da representação. É muito difícil de modificar, nesta prestectiva Mugny e Carugati (1985) falam de “núcleo duro”. É a volta deste que se organizam os elementos periféricos. “A mudança do núcleo central implica uma mudança da representação social” (Pereira cit in Vala, 1993).

“ Ele será na representação o elemento que mais vai resistir à mudança. Com efeito, toda modificação do núcleo central conduz a uma transformação completa da representação. Nós assumimos portanto que é o levantamento desse núcleo central que permite o estudo comparativo das representações.

Para que duas representações sejam diferentes, elas devem ser organizadas em torno de dois núcleos centrais diferentes. A simples descrição do conteúdo de uma representação não é portanto suficiente para reconhecê-la e especificá-la. É a organização desse conteúdo que é essencial: duas representações definidas pelo mesmo conteúdo podem ser radicalmente diferentes, se a organização desse conteúdo, e portanto a centralidade de certos elementos, for diferente” (Abric, 1994, p.22).

(31)

É este núcleo central que permite determinar, se uma representação é ou não autónoma.

É autónoma se, segundo Flament (1989) o princípio organizador (núcleo central) em si mesmo é único.

Este autor refere ainda que a teoria do núcleo central procura explicar as diferenças individuais a partir do sistema periférico. Para a teoria do núcleo central as diferenças individuais são materializadas nas diferentes organizações do sistema cognitivo, a partir de crenças normativas que impõe modulações diferentes.

A noção de núcleo figurativo, elaborado por Moscovici, foi retomada e desenvolvida por Abric sob o tema de núcleo central ou (núcleo estruturante). Segundo esta teoria, uma representação é um conjunto organizado à volta do núcleo central, composta por elementos que dão significado à representação. O núcleo estruturante é um elemento fundamental da representação. A sua localização permite o estudo comparativo das representações sociais.

Abric (1994, p.22) afirma que o núcleo central assegura o comprimento de duas funções essenciais:

“uma função geradora: ele é o elemento pelo qual se cria, ou se transforma, a significação dos outros elementos constitutivos da representação. É por ele que esses elementos tomam um sentido, um valor;

uma função organizadora: é o núcleo central que determina a natureza dos laços que unem entre si o elemento unificador e estabilizador da representação”.

Para se saber o que está a ser representado é necessário encontrar o objecto de representação, ou seja, precisamos de fazer o levantamento do núcleo central.

“ Observação em nosso entendimento fundamental: pois qualquer objecto não é necessariamente objecto de representação. Para que um objecto seja objecto de representação é necessário que os elementos organizadores de sua representação façam parte ou sejam directamente associados ao próprio objecto” (Abric, 1994, p.24).

O conteúdo do núcleo central é constituído por elementos que dão sentido à representação:

 A natureza do objecto representado;

 A relação deste objecto com o sujeito ou grupo;

(32)

 O sistema de valores e de normas (o contexto ideológico).

7.2. Função do Núcleo Periférico

Mesmo sendo o núcleo central o fundamento da representação, os elementos periféricos têm um lugar importante na representação.

“ Eles compreendem as informações retidas, seleccionadas e interpretadas, os julgamentos formulados a propósito de um objecto e da sua envolvente, os estereótipos e as crenças… Eles constituem o interface entre o núcleo central e a situação da elaboração e funcionamento da representação” (Abric, 1994, p.25).

Se o sistema central é normativo, o sistema periférico é funcional isto é, é devido ao sistema periférico que a representação pode ancorar-se na realidade do momento.

Assim sendo, Sá cit in Abric (1994a) descreve as funções periférico em complementaridade com o sistema central:

“ A sua primeira função é portanto a concretização do sistema central em termos de tomadas de posição ou de condutas. Contrariamente ao sistema central ele é pois mais sensível e determinado pelas características do contexto imediato. Ele é (…) mais flexível que os elementos centrais, assegurando assim uma segunda função: a de regulação e de adaptação do sistema central aos constrangimentos e às características da situação concreta à qual o grupo se encontra confrontado.

Ele é um elemento essencial nos mecanismos de defesa que visam proteger a significação central da representação. É o sistema periférico que vai inicialmente absorver as novas informações ou eventos susceptíveis de colocar em questão o núcleo central.

Por outro lado (…), o sistema periférico permite uma certa modulação individual da representação. Sua flexibilidade e sua elasticidade permitem a integração na representação das variações individuais ligadas à história própria do sujeito, a suas experiências pessoais, ao seu vivido. Ele permite assim a elaboração de representações sociais individualizadas organizadas não obstante em torno de um núcleo central comum”.

De acordo com Sá (2002), o núcleo central é muito resistente à mudança. Os elementos periféricos permitem a integração de elementos novos na representação o que conduz, á sua transformação.

Para Flament, os elementos periféricos são os esquemas que indicam o que é normal, ou que não é, numa dada situação. São então os esquemas normais.

(33)

Dependendo de certas circunstâncias os esquemas normais podem transformar-se em esquemas estranhos. Assim, são definidas quatro componentes:

 A noção de normal;

 A designação do elemento estranho;

 A afirmação de uma contradição entre dois termos;

 A proposição de uma racionalização que permita suportar (no decurso do tempo) a contradição (Flament, 1994).

Os modelos periféricos asseguram o funcionamento quase instantâneo da representação como grelha descodificada de uma situação: indicam a maneira, às vezes muito específica, do que é normal (e por contraste, o que não o é) e por conseguinte, o que é necessário compreender e memorizar. Ainda segundo o autor supracitado os modelos normais permitem que a representação funcione eficientemente, sem que haja necessidade, a cada momento, de analisar a situação em relação aos princípios organizadores que é o núcleo central.

7.3. “Zona Muda” das Representações Sociais

Segundo Abric (2005), há algum desfasamento entre o que as pessoas dizem e o que elas pensam, entre o que elas dizem (nos seus discursos) e o que elas fazem (na sua prática), o que coloca em dúvida a compreensão das representações sociais. Para este autor as pessoas entrevistadas não nos dizem tudo, elas escondem alguns componentes dos seus pensamentos em certas situações, e nestas existem duas facetas da representação: uma explícita, verbalizada e outra não verbalizada, não expressa, denominada “zona muda”.

A impossibilidade de estudar as representações sociais a partir apenas do que as pessoas expressam verbalmente de forma directa tem sido defendida por diversos especialistas das representações sociais, uma vez que elas não são necessariamente totalmente conscientes. As explicações em relação à falta de consciencializar de elementos que integram as representações são diversas e estão em consonância com as concepções teóricas sobre as representações sociais que têm sido elaboradas por diferentes autores.

(34)

Para Abric (2005), a “zona muda” é “constituída pelos elementos da representação que têm um carácter contra-normativo”. Para explicar essa ideia, Abric (2005) toma as concepções de Guimelli e Deschamps (2000), que denominam a zona muda como um subconjunto específico de cognições ou de crenças que, mesmo sendo disponíveis, não são expressas pelos sujeitos nas condições normais de produção, e, se fossem expressas (notadamente em certas situações), poderiam questionar os valores morais ou as normas valorizadas pelos grupos.

Assim, certos elementos de representação – mesmo aqueles que seriam centrais – podem ficar “escondidos” ou “mascarados”, de modo que aparecem só os elementos periféricos. Abric (2005), considerando ainda, que os elementos do núcleo central podem ser funcionais – práticas em relação ao objecto da representação –, ou normativos – avaliação, julgamentos, atitudes ou estereótipos em relação ao objecto da representação sugere que os que ficam na zona muda são os normativos, pois estes são mais ligados a avaliações e valores, que aparecem como ilegítimos para o grupo de pertença do indivíduo que os representa.

Para Abric (2005) e Menin, (2006), conseguir revelar os elementos da zona muda de representação implica descobrir e desenvolver novos instrumentos de investigação que permitam demarcá-la e evidenciá-la.

Menin (2006) sugere instrumentos que reduzam a pressão normativa sobre o sujeito que representa, permitindo que ele expresse seus pensamentos através da redução dos riscos de julgamento negativo da parte de seus interlocutores.

(35)

8. FORMAS DE ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

O estudo teórico das Representações Sociais pode ser feito, segundo Camargo (1998) de 3 formas:

 Dimensional

 Estrutural

 Dinâmica

O estudo da abordagem dimensional iniciou-se com Moscovici que prioriza o conteúdo e trabalha com três dimensões: a informação, a atitude e o campo de pesquisa.

A informação identifica e estuda todas as informações que os sujeitos/grupos têm sobre o objecto de pesquisa. A atitude identifica o tipo de disposição que o sujeito tem perante o objecto, exprime a orientação geral do grupo. O campo da pesquisa permite visualizar o conhecimento que o grupo tem do objecto e a articulação deste conhecimento.

A abordagem estrutural das Representações Sociais funciona como sistema de interpretação da realidade de determinado comportamento. Segundo Camargo (1998) esta concepção define quatro funções para a Representação Social: de saber, identitária, de orientação e justificadoras.

Abric (1998) organiza a abordagem estrutural da mesma forma que Moscovici, e trabalha com a teoria do núcleo central das representações.

O núcleo central é identificado através das palavras que são primeiramente evocadas e possuem maior frequência, o sistema periférico é identificado através das demais palavras, possui uma maior variedade mas uma menor frequência.

No que diz respeito à abordagem dinâmica trabalha-se com dois elementos: a ancoragem e a objectivação, abordados anteriormente.

(36)

9. CONSEQUÊNCIAS DAS NOVAS PRÁTICAS NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

“Ser profissional é exercer uma actividade geralmente no seio de uma organização pública ou privada, depois de obtida uma formação, que garanta uma competência específica e assegure a obtenção de um diploma” (Blin, 1997).

As representações sociais evoluem e transformam-se. Estas representações não se transformam de um dia para o outro. Como todos os fenómenos sociais evolutivos a transformação de uma representação é condicionada pela história prévia.

“A história de uma representação social é marcada por acontecimentos sucessivos que são susceptíveis de interferir com o seu objecto” (Rouquette et al, 1992).

“Certos acontecimentos têm um grau de incidência mais ou menos importante nas representações sociais de um grupo. Assim sendo, para que um determinado acontecimento possa ter repercussões a nível das representações sociais dos indivíduos é necessário que estes sejam particularmente implicados. Naturalmente, nem todos os grupos sociais são implicados da mesma forma para um mesmo acontecimento. Isto, depende da natureza do grupo ao qual o indivíduo pertence” (Rouquette, 1990).

Segundo o autor supracitado, o grau de implicação dos actores sociais numa situação nova não é o suficiente para desencadear transformações nas representações sociais.

Flament (1994) introduziu a noção de reversibilidade da situação. Quando os indivíduos implicados numa situação levam a efeito novas práticas pode considerar-se que esta situação é reversível ou não. Isto é, o regresso às práticas antigas é impossível ou de outra forma este regresso é possível e a situação actual é apenas temporária.

A evolução das representações sociais em termos de transformação, será totalmente diferente conforme a situação é reversível ou não.

“É unicamente na medida em que as modificações das circunstâncias são percebidas como irreversíveis que o processo de transformação das representações sociais (…) se pode conduzir”

(Roquette e Guimelli, 1992,p.14).

As práticas estão actualmente a sofrer modificações irreversíveis. Quando estas modificações são percebidas como reversíveis, estas vão provocar modificações superficiais ao nível das representações, vão apenas interferir com o núcleo periférico.

Por outro lado, se as novas práticas são percebidas como irreversíveis, vão ter

(37)

consequências muito importantes a nível da estrutura representativa atingindo assim núcleo central.

Actualmente pode falar-se de três tipos de transformação das representações sociais., segundo o autor Abric (1998):

Transformação Resistente – Quando as práticas podem ser desenvolvida pelo sistema periférico, forma-se os chamados esquemas estranhos, configurações de elementos que evitam, provisoriamente, a contestação do sistema central. No entanto, a proliferação desse tipo de formação leva à mudança do sistema central.

Transformação progressiva – No caso em que as novas práticas não contradizem totalmente o núcleo central, e os novos elementos são gradativamente acrescentados a ele, constituindo uma nova representação a isto chama-se

Transformação brutal – Quando as novas práticas atacam o núcleo de modo inegociável pelo sistema periférico, tem-se uma transformação imediata do sistema central e, consequentemente, da representação.

(38)

10. EQUIPA MULTIDISCIPLINAR

Segundo Peduzzi (1998), o termo equipa deriva da palavra francesa “esquif”, cujo significado se relacionava com filas de barcos amarrados uns aos outros e rebocados por homens ou cavalos. Como os homens que puxavam os barcos trabalhavam colectivamente na busca de um objectivo comum – rebocar a fila de barcos amarrados – compartilhando sua tarefa, acabou-se por utilizar o termo equipa de trabalhadores para designar o trabalho colectivo, compartilhado, de vários trabalhadores no desenvolvimento de uma tarefa, compreendida como a meta comum do grupo.

“O crescimento exponencial do conhecimento criou necessidades no mundo do trabalho.

Na Antiguidade, sábios eram, ao mesmo tempo, filósofos, matemáticos, astrónomos, engenheiros, artistas, escritores, etc.” (Velloso, 2005).

De acordo com Velloso (2005) na área da saúde até à primeira metade do século passado, cerca de quatro profissionais formalmente habilitados dominavam todo o conhecimento e exerciam todas as acções do sector

“No decorrer do século XX, a sociedade observou várias transformações de ordem económica, social, cultural e tecnológica, com reflexo nas organizações, constituindo grandes modificações no mundo do trabalho, o que provocou mudanças nas filosofias das administrações, controle e gestão da produção de bens e serviços” (Alves et al 1999).

Peduzzi (1998) caracteriza o trabalho como um processo de transformação que ocorre porque o homem tem necessidades que precisam ser satisfeitas. Para este autor um determinado processo de trabalho não ocorre isoladamente, mas sim numa rede de processos que se alimentam reciprocamente. Nessa rede, ocorre o encadeamento de distintos processos de trabalho que se diferenciam pela sua peculiar conexão dos elementos constituintes (objecto, instrumentos, actividades) e se integram por meio das relações entre as necessidades que precisam interligar para se realizar. Tal como ocorre no campo da saúde, em que distintas áreas profissionais, cada qual realizando um processo de trabalho próprio, encontram nas necessidades de saúde seu ponto de convergência.

Equipa, e trabalho em equipa são noções que fazem parte da mitologia das profissões relacionadas com a saúde. Trabalhar em equipa implica a realização de um conjunto de tarefas ou missões concretas como expressão da nossa linguagem profissional.

Referências

Documentos relacionados

“Como referido, «a ideia de ser adversário deve ser desconstruída», pelo que não se pretende a demolição da competitividade, mas sim algo mais saudável e

A Comissão de Emergência Catástrofe (CEC) teve, desde o inicio da sua tarefa, o cuidado de procurar explicar a todos os estratos profissionais do HSB, as permissas

A sua participação poderá trazer benefícios na melhoria dos cuidados de enfermagem a prestar aos Pais Idosos que têm filhos adultos com deficiência. O estudo tem a autorização

5 – Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com o seu trabalho ou outra actividade regular diária, como consequência de algum problema emocional

Seja fruto de factores económicos ou políticos, seja pela evolução natural dos cuidados/tratamentos e sua filosofia, a tendência actual é para que, cada vez

1 - O sistema de saúde é constituído pelo Serviço Nacional de Saúde e por todas as entidades públicas que desenvolvam actividades de promoção, prevenção

Deste modo, a cárie dentária representa um processo dinâmico caracterizado por fases cíclicas de desmineralização e de remineralização, sendo cada uma destas

Com relação à definição para Doença do Refluxo Gastroesofágico Não-Erosiva (NERD – non erosive esophageal reflux disease) ainda não há consenso pois alguns