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J Prática de Leitura e Escrita

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Academic year: 2021

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Prática de Leitura e Escrita

Nas sendas do haicai

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7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental

J

ustificativa

A  literatura  corresponde  a  uma  necessidade  universal  que  deve  ser  satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar  forma  aos  sentimentos  e  à  visão  do  mundo,  ela  nos  organiza,  nos  liberta do caos e portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura  é mutilar a nossa humanidade.  

(Antonio Candido, “O direito à literatura”, 19952)  Procuraremos,  nesta  justificativa,  responder  a  três  perguntas:  Por  que  trabalhar  com  poesia?  Por  que  haicai? Por que essas atividades propõem não apenas ler poesia, mas também escrevê‐la?    A poesia faz com que tenhamos uma relação diferente com a palavra, com o texto. Tudo é mais instável  e fluido na poesia. Poucas são as certezas. Mais do que qualquer outro gênero de texto, a poesia nos tira  do prumo e nos obriga a lidar com a língua de forma muito peculiar. Ela nos arrebata do cotidiano, nos  põe em contato com outras dimensões da vida e da palavra. E é na volta à realidade da língua em seus  gêneros mais prosaicos que nos surpreendemos mais fortalecidos, equilibrados, conhecedores de nossa  natureza humana e de nossa língua.     Com relação à segunda pergunta – Por que haicai? –, as razões para ler e escrever haicais podem ser  muitas. Uma delas é que, por ser um tipo de poesia extremamente conciso, os haicais podem nos ajudar  a  compreender  os  processos  de  composição  de  poemas.  Se  a  poesia  é  a  mais  condensada  forma  de  expressão verbal, os haicais são a mais condensada forma de poesia. 

 

Não  é  à  toa  que  o  poeta  Guilherme  da  Almeida  (1937)3,  impressionado  com  a  forma  extremamente  curta do haicai, afirma: 

 

Não  há  ideia  poética,  por  mais  complexa,  que,  despida  de  roupagens  atrapalhantes,  lavada  de  toda  excrescência,  expurgada  de  qualquer  impureza,  não caiba estrita e suficientemente, em última análise, nas dezessete sílabas de  um  haicai.  “O  Melro”,  “O  Navio  Negreiro”,  “A  Vingança  da  Porta”,  o  “Ouvir  Estrelas”, os trinta e três sonetos do meu “Nós” (no caso, não é pretensão, senão  mero  estoicismo,  o  colocar‐me  em  tão  superior  companhia)  poderiam  ter  sido  reduzidos a simples haicais.  Além disso, já que estamos comemorando os 100 anos de imigração japonesa, por que não apresentar  aos alunos um tipo de poesia tipicamente japonês?  1  Elaborado por Laura Breda de Figueiredo.  2  O artigo “O direito à literatura” se encontra em CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p. 235‐263.    3

  ALMEIDA,  Guilherme.  “Os  meus  haicais”.  Artigo  publicado  no  jornal  O  Estado  de  S.  Paulo  de  28  de  fevereiro  de  1937.  Disponível  em:  <http://terebess.hu/english/haiku/almeida.html>. Acesso em: 6 out. 2008.

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Finalmente,  resta  saber:  por  que,  além  de  ler  haicais,  propomos  também  a  produção  desse  tipo  de  texto? Invertendo o senso comum, que diz que quanto mais se lê melhor se escreve, encontramos uma  boa resposta numa afirmação de Beatriz Citelli4: “Existe uma estreita relação entre a produção de textos  e  a  leitura.  A  minha  prática  com  alunos  (...)  tem  revelado  que  quanto  mais  se  escreve,  mais  existe  interesse pela leitura”.  Sobre o haicai  O haicai é um tipo de poesia tipicamente japonês. Sua origem data do século XVIII, com os poemas de  Matsuo Bashô.  Estas são as principais características dos haicais tradicionais:  • Compõem‐se de 17 sílabas, divididas em três versos de cinco, sete e cinco sílabas.  • Contêm alguma referência à natureza (diferente da natureza humana).  • Referem‐se a um evento particular (ou seja, não é uma generalização).  • Apresenta tal evento como “acontecendo agora”, e não no passado.  Haicai é um poema que se quer popular, por isso, na sua composição, usam‐se palavras cotidianas e de  fácil compreensão.   Cada haicai capta um momento preciso, como se fosse uma fotografia instantânea.  Outra característica do haicai é que ele não aceita sentimentalismos. É simples, seco e direto. 

Os  haicais  escritos  atualmente  têm  características  um  pouco  diversas  dos  haicais  tradicionais:  nem  sempre  retratam  uma  imagem  da  natureza;  muitas  vezes,  em  vez  disso,  expressam  concisamente  um  conceito ou um acontecimento pessoal fugaz. Em geral, não obedecem à métrica tradicional, mas busca‐ se não ultrapassar as 17 sílabas.  Segundo consta, a primeira divulgação do haicai na literatura brasileira aconteceu em 1919, por Afrânio  Peixoto:  Uma pétala caída  Que torna a seu ramo:  Ah! é uma borboleta!  Não muito tempo depois, o poeta Guilherme de Almeida, por volta de 1930, criou um estilo peculiar de  haicai, seguido até hoje por alguns grupos de haicaístas brasileiros: dentro da métrica de 5‐7‐5 sílabas, o  primeiro  verso  rima  com  o  terceiro.  No  segundo  verso,  rimam  a  segunda  sílaba  e  a  última.  Diferentemente dos haicais tradicionais, os desse poeta trazem títulos.  Guilherme de Almeida explicou com o seguinte gráfico a sua forma de haicai:  - - - - X - O - - - - O - - - - X 4  CITELLI, Beatriz. Produção e leitura de textos no Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez, 2001. (Coleção Aprender e Ensinar com Textos, v.  7.) 

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3 Vejamos este exemplo:  O PENSAMENTO  O ar. A folha. A fuga.  No lago, um círculo vago.  No rosto, uma ruga.  Caso o professor tenha interesse, há até concurso juvenil de haicai, em que alunos de escolas públicas e  particulares  participam  a  cada  ano.  Se  quiser  participar  com  seus  alunos,  consulte  o  site:  <http://www.kakinet.com/concurso/>. 

O

bjetivos

• Introduzir a linguagem poética por meio do haicai, a fim de que os alunos possam compreender a  natureza do texto poético.  • Promover momentos de investigação das possibilidades linguísticas para que o aluno seja capaz de  produzir efeitos de sentido e explorar esteticamente o recurso da concisão do significado.  • Propiciar momentos de fruição e produção literária por meio de haicais. 

P

rocedimentos metodológicos

As atividades que serão apresentadas a seguir pressupõem leitura e escrita de vários poemas. Escrever  um texto, literário ou não, é uma ação que exige planejamento, redação e reescrita.  Antes de se escrever um texto, é preciso garantir que temos conhecimentos suficientes sobre o gênero  de  texto  adequado  à  situação  de  comunicação  em  que  estamos  envolvidos  e  sobre  o  tema  que  será  desenvolvido em nosso texto, pois “se faltam ideias, se falta informação, vão faltar as palavras”5 para se  escrever o texto.  Em nossas aulas, portanto, devemos oferecer para leitura diversos textos no gênero escolhido, para que  os alunos se familiarizem com sua forma e também com os conteúdos que normalmente se expressam  nesse gênero. Diz‐se que essa é a fase de apropriação do gênero e alimentação temática.   Garantidos os conhecimentos necessários para a escrita, é hora de planejar o que será escrito: delimitar  o tema, escolher critérios de ordenação das ideias, considerar quem serão nossos leitores e decidir que  estratégias textuais podem deixar o texto adequado à situação.  A etapa seguinte é a da redação propriamente dita. É nesse momento que será posto em prática o que  foi planejado. Ao contrário do que normalmente pensamos, essa não é a etapa final do processo, mas a  etapa  intermediária,  que  deve  considerar  o  planejamento  e  também  prever  etapas  posteriores:  a 

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revisão  e  a  reescrita.  Isso  deve  ficar  claro  para  os  alunos  desde  sempre:  a  revisão  é  uma  atividade  integrante  da  escrita.  No  próprio  processo  de  escrita,  o  autor  vai  relendo  constantemente  o  que  está  escrevendo  antes  de  continuar  e  isso  também  deve  ser  ensinado  aos  alunos.  A  escrita  de  textos  coletivos na lousa é uma boa estratégia para demonstrar aos alunos como isso é feito.  

Assim,  concluída  a  primeira  escrita  do  texto,  é  hora  de  fazer  a  revisão  e  a  reescrita  finais.  Esse  é  o  momento de confirmar se os objetivos planejados foram cumpridos, se o texto está claro e adequado ao  interlocutor, se não há erros gramaticais.  É fundamental que, após a atividade de produção pelo aluno, sejam desenvolvidas atividades de revisão  que conduzam o aluno à reescrita de sua produção inicial, de modo que se distancie do próprio texto e  assuma a posição de leitor. Nesse sentido, é interessante que, entre a primeira versão de um texto e a  versão final, sejam feitas atividades que ajudem o aluno a ter critérios claros e objetivos de revisão.   No  caso  das  atividades  a  seguir,  por  exemplo,  os  alunos  serão  levados  a  reescrever  seus  primeiros  poemas tendo em vista a maior concisão da linguagem e a incorporação de elementos que deem mais  ritmo e sonoridade ao texto. 

Atividades  de  reescrita  também  podem  ser  realizadas  coletivamente,  em  que  os  alunos  devem  ficar  atentos às necessidades de adaptações da linguagem e da estrutura dos poemas produzidos. 

A

ções

Quadro síntese das aulas 

Aula 1  Aula 2  Aula 3  Aula 4  Aula 5* 

Um primeiro  exercício de  “poetar”.  Imagem, som e  ritmo na poesia.  Concisão e  ritmo.  Apresentação ao  haicai, um gênero  muito conciso.  Produção de  haicais.  Produção inicial de  um poema.    Reescrita do poema  (incorporação de  elementos que  deem mais ritmo e  sonoridade ao  texto).  Segunda  reescrita do  poema (busca  pela maior  concisão).  Leitura de vários  haicais para  familiarização dos  alunos com o  gênero.  Produção, revisão  e reescrita de  haicais.  *O professor poderá redimensionar o número de aulas de acordo com o ritmo da turma e a dinâmica das mesmas. 

Aula 1

Objetivos:   • Introduzir o trabalho, explicitando o objetivo final do projeto.   • Chamar a atenção do aluno para as diferenças entre poesia e prosa. 

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5 • Solicitar uma primeira produção de poema. 

PASSO 1 – Explicitar objetivos aos alunos 

Dizer  aos  alunos  que  vocês  irão  trabalhar  com  um  tipo  de  poema  tipicamente  japonês:  os  haicais.  Portanto, o objetivo das próximas aulas será ler e iniciar um aprendizado de como escrever haicais. Ao  final, será feita uma exposição dos poemas para toda a escola. 

Este  é  o  momento  também  para  levantar  os  conhecimentos  prévios  dos  alunos  a  respeito  do  gênero  poético em questão. Pergunte a eles se já ouviram falar de haicai e se já leram esse tipo de poema.     PASSO 2 – Diferenciar poesia de prosa  Leve os dois textos que estão nos links abaixo para os alunos lerem, a fim de que respondam à seguinte  pergunta: Quais seriam algumas das principais diferenças entre poesia e prosa?  <http://editoraliteraturamarginal.blogspot.com/2006/11/o‐grande‐assalto‐ferrz.html> e   <http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira03.html#bicho>. 

Certamente,  esta  é  uma  questão  complexa,  que  suscita  muitas  discussões  entre  estudiosos  e  críticos  literários. Portanto, o objetivo aqui é apenas levar os alunos a uma reflexão, sem que necessariamente  cheguem a uma conclusão fechada.  

Uma boa definição de poesia, e que ajuda a diferenciá‐la da prosa, pode ser encontrada no livro ABC da 

literatura, de Ezra Pound: 

Grande  literatura  [seja  em  prosa  ou  em  poesia]  é  simplesmente  linguagem  carregada de significado até o máximo grau possível. 

Dichten = condensare 

Começo com a poesia porque é a mais condensada forma de expressão verbal.  Basil Bunting, ao folhear um dicionário alemão‐italiano, descobriu que a ideia de  poesia  como  concentração  é  quase  tão  velha  como  a  língua  germânica.  “Dichten”  é  o  verbo  alemão  correspondente  ao  substantivo  “Dichtung”,  que  significa  “poesia”  e  o  lexicógrafo  traduziu‐o  pelo  verbo  italiano  que  significa  “condensar”. 

Para início dessa reflexão, portanto, peça que os alunos se atenham mais à forma do texto do que ao tema. Se  eles perceberem que a linguagem da poesia é mais concisa do que a da prosa e que, naquela, há um certo ritmo  que a diferencia desta, já será o suficiente. 

Fique  atento  para  pontuar  eventuais  equívocos  que  possam  ser  ditos  pelos  alunos,  como  dizer  que  a  poesia  é  mais  subjetiva  que  a  prosa  –  já  que  é  possível  haver  textos  em  prosa  altamente  subjetivos  (como os diários íntimos ou certos contos psicológicos) –, ou dizer que poema é apenas o texto que tem  rima (o poema de Manuel Bandeira não tem rimas, por exemplo). 

     

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Passo 3 – Um primeiro exercício de “poetar” 

Como os haicais referem‐se, em geral, a elementos da natureza, proponha inicialmente que os alunos  falem livremente palavras que de alguma forma possam ser associadas a um desses elementos, seja de  forma  positiva  ou  negativa.  Por  exemplo,  podem‐se  propor  associações  ou  relações  com  as  palavras 

mar,  chuva,  vento,  verão  ou  floresta  etc.  Vá  escrevendo  na  lousa  as  palavras  que  os  alunos  forem 

falando. 

Veja este exemplo: 

Palavras que podemos associar à chuva 

Água,  nuvem,  orvalho,  temporal,  garoa,  vento,  frio,  crescimento,  resfriado,  espirro,  lenço,  regador,  guarda‐chuva,  capa,  galocha,  pingo,  gota,  cristal,  telhado,  vidro  embaçado,  bolinho  de  chuva,  sofá,  cobertor, pipoca, lama, inundação, enxurrada, escorregão, goteira, prejuízo etc. 

Outro exemplo: 

Palavras que podemos associar ao mar  

Areia, ondas, praia, águas, horizonte, luar, peixes, sol, siri, água‐viva, pérolas, marisco, pescador, navio,  anzol,  gaivotas,  cachorros,  garrafas,  banhistas,  surfistas,  latas,  turistas,  palitos,  óleos,  copo  plástico,  sorvete, barcos, guarda‐sol, afogamento etc.  

 

PASSO 4 – Leitura de poemas (não precisam ser haicais) 

O objetivo aqui ainda não é tratar especificamente dos haicais, mas sim de aspectos característicos do  fazer  poético  (concisão  da  linguagem  e  ritmo/sonoridade).  Para  tanto,  ler  um  ou  dois  poemas  relacionados à palavra‐chave do exercício acima, a fim de que os alunos tenham uma espécie de modelo  para a produção que farão a seguir.  Sugestões (caso a palavra da atividade feita em classe tenha sido “chuva” ou “mar”):  1) Leia o poema III (de Manoel de Barros), que inicia com o verso Chove torto no vão das árvores e que  pode ser encontrado neste link:  <http://melinaresende.multiply.com/journal/item/12/Retrato_Quase_Apagado_em_que_se_Pode_Ver _Perfeitamente_Nada>.   Repare como esse poema de Manuel de Barros traz várias dessas palavras listadas a partir da palavra  chuva.  2) Leia também um poema de Cecília Meireles, que traz várias palavras daquelas relacionadas ao mar:  <http://www.revista.agulha.nom.br/ceciliameireles01.html#cancao1>.  PASSO 5 – Primeira produção  Pedir para os alunos produzirem um poema com, no mínimo, três palavras da lista feita.  

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Atenção: Não peça, ainda, que esses poemas sejam em forma de haicai. Podem ser poemas de qualquer tipo e  tamanho. Se os poemas forem mais longos, melhor,  pois mais adiante  poderão servir de matéria‐prima para  um exercício de condensação do texto, cujo processo, afinal, os levará a compreender como compor um haicai. 

Aula 2

Objetivo: Levar os alunos a perceberem as potencialidades sonoras, rítmicas e imagéticas das palavras.    PASSO 1  Fazer uma nova lista de palavras, como na aula anterior, ou retomar a lista já feita, para reagrupar as  palavras de acordo com os sons e as imagens a que remetem. Por exemplo:   Água, nuvem, orvalho, temporal, relâmpago, trovão, garoa, vento, frio, crescimento, resfriado, espirro,  lenço,  regador,  guarda‐chuva,  capa, galocha,  pingo,  gota,  cristal,  telhado,  vidro  embaçado,  bolinho  de  chuva, sofá, cobertor, pipoca, lama, inundação, enxurrada, escorregão, etc.    palavras com sons sombrios/tristes    nuvem, frio, vidro, cobertor, enxurrada,  escorregão, inundação, trovão  palavras que transmitem ideias/imagens  sombrias/tristes    frio, temporal, vento, embaçado  palavras com som luminoso    cristal    palavras que transmitem ideias/imagens luminosas   orvalho, cristal  palavras com som gostoso    pipoca, enxurrada, regador, pingo, espirro    palavras que transmitem ideias/imagens gostosas    bolinho de chuva, cobertor  palavras com “som molhado”    orvalho, guarda‐chuva, telhado    palavras que transmitem “ideias/imagens  molhadas”    lama, inundação, água, temporal, regador, guarda‐ chuva, pingo, gota, enxurrada  palavras lentas    inundação, crescimento, embaçado, enxurrada,  palavras rápidas    lama, pingo, cristal, trovão, relâmpago  ATENÇÃO:  1. Este quadro é exemplar. As “palavras com som molhado”, por exemplo, para seus alunos podem ser outras.   2.  Dependendo  do  grupo  de  palavras,  pode‐se  pensar  em  outras  descrições  de  sons  e  imagens  (“palavras  rápidas”, “palavras lentas”, “palavras moles”, “palavras duras”, “palavras oleosas”, “palavras fofas” etc.). 

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3. Nesta atividade, não deve haver preocupação em obedecer com rigidez conceitos literários ou fonológicos. O  que importa é que os alunos participem ludicamente e percebam as potencialidades expressivas das palavras a  partir também de sua sonoridade.  

PASSO 2 

Continue  a  reagrupar  as  palavras  acima  por  semelhança  de  sons.  Por  exemplo:  sons  que  rimam,  sons  com eco, sons nasais, sons fortes, sons abertos, sons fechados.  Por exemplo:  Sons que rimam: resfriado/telhado/embaçado, cristal/temporal   Sons com “eco” (aliterações): frio/resfriado  Sons fortes: trovão, enxurrada, temporal, inundação  Sons fechados: trovão, frio, garoa  Sons abertos: temporal, telhado, pipoca    PASSO 3 – Leitura de poemas   Leia alguns poemas em que o ritmo e a sonoridade das palavras sejam marcantes e vá apontando como  o poeta conseguiu esse efeito.  Por exemplo:  • “Os sapos” ou “Belo belo”, de Manuel Bandeira.  <http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira01.html#sapos> 

Chame  a  tenção  dos  alunos  para  os  sons  nasais  desse  poema,  assim  como  a  predominância  das  vogais  “o”  e  “u”, de certa forma reproduzem o coachar da saparia.  <http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira01.html#belo2 • “Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto.  <http://www.revista.agulha.nom.br/joao02.html> Nesse último poema, por exemplo, pode‐se mostrar como os sons nasais dos versos E se encorpando em  tela, entre todos, / se erguendo tenda, onde entrem todos, / se entretendendo para todos, [...] passam a  ideia de ações que se encadeiam e se prolongam até completarem a ação de tecer a manhã.  PASSO 4 – Reescrita 

Retomar  o  poema  escrito  na  aula  anterior  e  reescrevê‐lo,  procurando  utilizar  palavras  de  um  mesmo  grupo, para que o poema adquira unidade sonora e ritmo, aliados ao seu sentido.  

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9 Por exemplo, se o objetivo é retratar a chuva de forma positiva, luminosa, dinâmica, pode‐se incluir no  poema  as  palavras  da  tabela  que  se  relacionam  a  essas  características  (cristal,  relâmpago,  pingo, 

enxurrada). Se, por outro lado, o aluno quiser escrever um poema mais sombrio, pode incluir nessa nova 

versão  mais  palavras  relacionadas  a  essa  característica  (nuvem,  frio,  vidro,  cobertor,  escorregão, 

inundação, trovão), mas sempre com foco em imprimir mais ritmo e sonoridade ao poema. 

Aula 3

Objetivo: Agora que os alunos já lidaram com dois dos principais aspectos da poesia – a construção de 

imagens e a sonoridade –, vamos levá‐los a refletir sobre um terceiro: a concisão. 

Como  já  foi  dito  anteriormente,  citando  Ezra  Pound,  a  “grande  literatura  é  simplesmente  linguagem  carregada  de  significado  até  o  máximo  grau  possível”  e  a  poesia  “é  a  mais  condensada  forma  de  expressão verbal”.  Assim, é esse exercício de condensação, sem deixar de lado a busca pela sonoridade, que vamos propor  aos alunos nesta aula.    PASSO 1 – Exercício de concisão e ritmo  Dar para os alunos um texto do qual eles deverão eliminar tudo o que é “acessório” ou “dispensável”  (por exemplo: verbos de ligação, conjunções, redundâncias, exemplos, paráfrases etc.) para transformá‐ lo em um poema. Se achar conveniente, permita que os alunos trabalhem em duplas para que discutam  a melhor forma de chegar a um bom resultado.  Por exemplo:  O texto  “Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se  não  julgasse,  e  razões  não  tivesse  para  julgar,  que  este  amor  assim  absoluto  e  assim  exagerado  é  partilhado  por  todos  vós.  Nós  somos  irmãos,  nós  nos  sentimos  parecidos  e  iguais;  nas  cidades,  nas  aldeias,  nos  povoados,  não  porque  soframos,  com  a  dor  e  os  desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este  mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste  às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é  mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas  fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior,  o amor da rua. [...]” (João do Rio. A alma encantadora da rua.6)  Um poema possível de ser feito a partir do texto:  A RUA  tudo se transforma, tudo varia  os séculos passam e deslizam  6

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só o amor da rua  persiste e fica 

Certamente,  cada  aluno  apresentará  um  resultado  diferente  para  esta  atividade.  O  que  vale  aqui  é  o  exercício de concisão. 

Pode‐se também fazer o caminho inverso. Apresente aos alunos, por exemplo, os primeiros 16 versos  do  poema  “Morte  e  vida  Severina”,  de  João  Cabral  de  Melo  Neto,  que  você  pode  encontrar  no  link  <http://www.jornaldepoesia.jor.br/joao01.html>. 

Depois peça para que eles, em duplas, os transformem em prosa. Veja a seguir como pode ser feito. 

Antes  de  solicitar  que  os  alunos  transformem  o  poema  em  prosa,  provoque‐os  com  as  seguintes  questões:  1) Qual o sentido das palavras pia, freguesia e sesmaria nesses versos?  pia = pia batismal  freguesia = agrupamento, povoação que vive próximo a uma paróquia/igreja  sesmaria = terreno abandonado, sem cultivo    2) Por que Severino fica tentando encontrar outros nomes para si? 

Resposta:  Ele  está  procurando  se  diferenciar  dos  outros  homens  de  sua  comunidade,  mas  não  consegue.  Uma possível transformação do poema em prosa:  Meu nome de batismo é Severino e não tenho sobrenome.   Severino é o nome de um santo de romaria, por isso há muitas pessoas nesta região com o nome igual  ao meu. Então, para não haver confusão, resolveram me chamar de Severino de Maria, que é a minha  mãe. Mas aludir ao nome de minha mãe ainda não era suficiente para evitar a confusão, pois há nesta  região  muitos  homens  chamados  Severino  que  têm  uma  mãe  chamada  Maria.  A  solução  encontrada,  então, foi fazer alusão também ao nome de meu pai, Zacarias. Porém, mais uma vez essa tentativa foi  frustrada e não evitou que eu fosse confundido com outros homens chamados Severino, pois Zacarias  era o nome de um coronel que foi o mais antigo senhor destas paragens, portanto, há muitas pessoas  chamadas Severino que são filhos, afilhados ou descendentes dele. Logo, isso também não foi suficiente  para evitar que eu fosse confundido com outros homens desta região abandonada.  PASSO 2 – Reescrita da produção dos alunos 

Pedir  aos  alunos  que  releiam  o  poema  escrito  na  aula  anterior,  a  fim  de  que  eliminem  os  termos  “acessórios” ou trechos “dispensáveis”. Em seguida, que deem o poema para outro colega ler e verificar  se consegue condensá‐lo mais ainda sem, obviamente, que o poema perca o sentido. 

Veja  a  seguir  um  exemplo  real  de  um  aluno  que  se  encontra  no  já  citado  livro  Produção  e  leitura  de 

textos no Ensino Fundamental: poema, narrativa, argumentação, de Beatriz Citelli (p. 40). 

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11 O mar está cheio de ondas de esgoto  e por isso caranguejos escondem‐se  nos castelos de areia  os barcos estão sem rumo,   os peixes fugiram  e as pessoas também.  Reescrita:  Mar: ondas de esgoto  caranguejos escondem‐se  nos castelos de areia.  Barcos sem rumo.  Os peixes fogem  e as pessoas também. 

Aula 4

Objetivo: Explicar o que são haicais e fazer com que os alunos se familiarizem com o gênero.  PASSO 1 – Explicar brevemente o que é haicai e exemplificar  Haicais são poemas curtíssimos, de três versos apenas. São poemas que usam uma linguagem simples,  sem  palavras  rebuscadas,  e  procuram  descrever  um  momento  particular,  como  se  fossem  uma  fotografia.   Os temas dos haicais costumam ser a natureza, um acontecimento fugaz ou a síntese de um conceito.  Muitos deles trazem um toque surpreendente de humor no último verso.  Os haicais originais não têm rima, mas há autores modernos, ocidentais, que as incluem em seus haicais.  Apesar de não terem rimas, os haicais tradicionais obedecem a uma métrica: têm 17 sílabas, divididas  preferencialmente em três versos, desta forma: 5, 7, 5 sílabas – mas essa métrica também nem sempre  é seguida pelos autores de haicais contemporâneos.  PASSO 2 – Ler vários haicais  Para exemplificar, imprima em uma folha haicais em número suficiente para que haja pelo menos um  haicai para cada aluno da sala. Distribua uma coletânea de haicais para cada aluno. De preferência, leia  alguns em voz alta.   Muitos haicais podem ser encontrados nos seguintes sites: 

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• <http://www.kakinet.com/caqui/antojap.shtml> (haicais tradicionais) 

• <http://www.kakinet.com/caqui/leminsha.htm>  (haicais  do  grande  poeta  curitibano  Paulo  Leminski. Vale conferir!) 

• <http://seabra.com/haikai/> (seleção de 1.400 haicais de autores diversos) 

• <http://www.custodio.net/>  (haicais  bem‐humorados,  escritos  pelo  cartunista  Custódio.  Vale  conferir!) 

• <http://www.aliceruiz.mpbnet.com.br/bibliografia/hai.tropikai/luzes_acesas.htm>  (haicais  da  poetisa Alice Ruiz) 

• <http://haicaisequetais.blogspot.com/> (blog com uma coletânea de haicais de Carlos Seabra)   • <http://www.kakinet.com/caqui/ipe.shtml>  (link  para  o  site  do  Grêmio  Haicai  Ipê,  grupo  de 

poetas que se reúne mensalmente para estudar, produzir e apreciar haicais) 

Se a escola contar com laboratório de informática, leve os alunos para navegar nesses sites, com a tarefa  de escolherem alguns haicais que considerarem mais interessantes. 

Ao ler os poemas com os alunos, vá apontando os aspectos que os caracterizam como haicais: uso de  linguagem  simples;  descrição  de  um  momento  particular,  como  se  fosse  uma  fotografia;  ênfase  em  elementos da natureza; algo surpreendente ou de humor no último verso. 

PASSO 37 

Cada aluno deve escolher um haicai de que mais gostou, transcrevê‐lo para um papel em letras grandes  sem  se  identificar  e  entregar  a  folha  para  o  professor,  que  deverá  embaralhá‐los.  Os  haicais  devem,  então, ser afixados na parede da sala. O jogo aqui é descobrir qual haicai cada um escolheu. 

Para  isso,  cada  aluno  deve  dizer  um  sinônimo,  ou  uma  expressão  sinônima,  de  uma  palavra‐chave  contida no haicai que ele escolheu. Se algum aluno preferir, pode representar a palavra (por desenho ou  mímica, por exemplo) sem propriamente dizê‐la. O grupo deve tentar descobrir o haicai escolhido por  meio dos sinônimos. Isso permite que os alunos percebam as imagens contidas nos haicais.  O objetivo é fazer os alunos lerem vários haicais para se familiarizarem com a forma e refletirem sobre  os seus sentidos. 

Aula 5

Objetivo:  Agora  que  os  alunos  já  estão  mais  familiarizados  com  a  linguagem  poética  e  já  fizeram 

diversos exercícios de concisão, é hora de produzirem haicais.  PASSO 1 – Leitura de haicais  Retomar a coletânea de haicais ou apresentar novos haicais aos alunos, para sensibilizá‐los novamente  para a forma e os temas desse tipo de poesia.   7

  Baseado  no  artigo  “Bardos  e  trovadores”,  de  Maria  Auxiliadora  Cunha  Grossi,  publicado  no  volume  Práticas  de  leitura  e  escrita,  organizado por Maria Angélica Freire de Carvalho, Rosa Helena Mendonça. Brasília: Ministério da Educação, 2006. Também disponível em  <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/grades/salto_ple.pdf>. Acesso em: 10 set. 2009. 

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13 PASSO 2 – produção de haicais usando uma “fórmula”  Como forma de “aquecimento”, para iniciar, pode‐se fornecer aos alunos uma “fórmula” facilitadora de  se produzirem haicais:    1º verso: substantivo + termo ou expressão adjetivadora  2º verso: uma ação   3º verso: a revelação da imagem sugerida nos primeiros versos  Sem que haja necessidade de se usar metalinguagem, esta atividade é, afinal, uma espécie de exercício  de sinédoque (a parte pelo todo), em que o aluno, nos primeiros versos, apresentará partes da imagem  que se revelará inteira no último verso.  Exemplos:  Folhas ao vento  Caem na terra úmida  Outono que chega    Chaleira fervendo  Apito ecoa  Noites de inverno    Cadernos pela mesa  Mão na testa  Período de provas  PASSO 3 – Produção de haicais a partir de um tema dado  Para dificultar um pouco a tarefa, pode‐se usar a estratégia comum nos grêmios de haicai: eleger um  único tema sobre o qual todos deverão escrever.  No nosso caso, pode‐se propor como tema, por exemplo, a sala de aula ou a escola. Peça que agora os  alunos  tentem  se  libertar  da  fórmula  do  exercício  anterior  e  procurem  escrever sobre  coisas  que  lhes  alegram ou irritam na escola, sempre procurando “fotografar” um momento específico. 

Se achar conveniente, para aumentar um pouco o desafio, peça aos alunos que procurem não exceder o  número  de  sílabas  dos  haicais  tradicionais:  17,  divididas  aproximadamente  desta  forma:  1º  verso:  7  sílabas; 2º verso: 5 sílabas; 3º verso: 7 sílabas. 

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Por exemplo:  Toca o sinal de saída  Silêncio  Na boca do professor    Barulho na sala  Toca o sinal  Mas ninguém cala    Tristeza no recreio  Aquela gata  Hoje não veio  PASSO 4 – Reescrita do poema inicial 

Peça  para  os  alunos  retomarem  os  poemas  elaborados  no  início  deste  projeto  e  solicite  que  tentem  transformá‐los em haicais.    PASSO 5 – Revisão e reescrita  Depois que os haicais estiverem prontos, solicitar que cada aluno entregue o seu a um colega para que  este o analise de acordo com os seguintes critérios:  • O poema tem apenas três versos?  • Fica claro qual foi o momento exato representado no poema?  • O último verso tem algo de “revelador” ou surpreendente?  • É possível deixá‐lo mais conciso?    PASSO 6 – Ilustrar e expor   Em casa, os alunos devem escolher suas melhores produções e ilustrá‐las. Para essa ilustração, podem  produzir um desenho ou buscar uma imagem em revistas antigas ou internet.  O professor deve se encarregar de conseguir espaço para expor os trabalhos para toda a escola. 

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Atividade extra – Haicai em inglês 

Veja se há a possibilidade de o professor de Inglês trabalhar essa atividade com os alunos.   Crie seu próprio haicai em inglês, acessando este site:   <http://www.insite.com.br/rodrigo/poet/haicreate.html>.   Recursos necessários:  • Impressão e/ou cópia xérox dos poemas para todos os alunos.  • Impressão das orientações para o professor.  • Acesso a computador com internet.  • Papel sulfite A4.   • Tinta ou tonner para impressão. 

Referências

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