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AS COMORBIDADES CORRELATAS AO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)

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ISSN 2176-1396

AS COMORBIDADES CORRELATAS AO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)

Jessica Thais Santos1 - FAESP Jeane Pereira Novais2 - UNIANDRADE Mariana de Oliveira Tozato3 - UFPR Grupo de Trabalho – Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

O presente artigo aborda um dos assuntos mais vivenciados em salas de aulas por professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, pois as dificuldades de aprendizagem, assim como os transtornos, são os mais identificados no ambiente escolar, dos quais acarretam diversas complexidades no desenvolvimento da aprendizagem e comportamento das crianças. Embora existam diversos Transtornos, o mais identificado no âmbito escolar é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais conhecido pela sigla TDAH, que geralmente vem acompanhada de sintomas concomitantes com outros transtornos e/ou dificuldades, nomeadas comorbidades. Em decorrência desse fato, percebeu-se a importância de conhecer os tipos de transtornos concomitantes com o TDAH para poder encaminhar o caso para especialistas da área da saúde, tais como psicólogos, psicopedagogos, psiquiatras entre outros, para que seja realizado um possível diagnóstico, com o objetivo de auxiliar pais, filhos e os professores, para que possam ser realizadas as possíveis intervenções existentes voltadas para alunos com TDAH e outros transtornos na escola. Para isso, como procedimento metodológico foi utilizado a pesquisa bibliográfica. O TDAH não tem cura, porém tem tratamento, assim como os outros transtornos concomitantes com o problema. Cabe ressaltar que quanto antes for identificado os possíveis sintomas do TDAH, melhores serão os avanços na vida pessoal e profissional das crianças, se a mesma for diagnosticada e realizar todos os acompanhamentos indicados pelos especialistas. Identificou-se também importância da existência do diálogo entre família, escola e outros profissionais da área educacional e da saúde, no tratamento da criança com o TDAH e/ou outros transtornos

1 Graduada em Pedagogia – Licenciatura, pela Faculdade Anchieta de Ensino Superior (FAESP), especialista em Alfabetização nos Anos Iniciais pela Faculdade Padre João Bagozzi, especialista em Educação Especial pela Faculdade Padre João Bagozzi. E-mail: jesika.santos_thais@hotmail.com.

2 Graduada em Pedagogia pela Universidade Campus de Andrade (UNIANDRADE), Especialista em Educação Especial e Inclusão em classes regulares de ensino pela UNICURITIBA. E-mail: jeane.educ@gmail.com

3 Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), especialista em Formação Pedagógica do Professor Universitário pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), especialista em Organização do Trabalho Pedagógico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Mestranda em Educação pelo Departamento Teoria e Prática de Ensino da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail:

mariana_tzt@hotmail.com

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Palavras-chave: Criança. TDAH. Transtornos Introdução

Nesta primeira década do século XXI, além das dificuldades de aprendizagem em sala de aula, outra situação que se encontra como um dos mais identificados em sala pelos professores são os transtornos, dos quais podem acarretar diversas complexidades no desenvolvimento da aprendizagem e comportamento das crianças.

Sabe-se que existem muitos transtornos que podem ser individuais ou concomitantes com outros transtornos e/ou dificuldades. Os transtornos podem ser um desafio para professores e familiares, por este motivo, torna-se imprescindível conhecer os tipos de transtornos existentes para poder encaminhar o caso para especialistas da área da saúde, tais como psicólogos, psicopedagogos, psiquiatras entre outros, para que seja realizado um possível diagnóstico, com o objetivo de auxiliar pais, filhos e os professores.

Embora existam diversos Transtornos, o mais identificado no âmbito escolar é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais conhecido pela sigla TDAH, que geralmente vem acompanhada de sintomas concomitantes com outros transtornos e/ou dificuldades.

Desse modo, justifica-se esta pesquisa no sentido de contribuir para o conhecimento de professores e pais, a respeito do TDAH e de suas comorbidades, para que assim, possam ser realizadas as possíveis intervenções existentes voltadas para alunos com TDAH e outros transtornos na escola.

Para isso, como procedimento metodológico foi utilizada a pesquisa bibliográfica, que segundo Antonio Carlos Gil (1999, p.65) é vantajosa, pois “reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”.

Neste artigo, os autores consultados sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e suas comorbidades foram: Thomas W. Phelan (2005); Ana Beatriz Barbosa Silva (2009); Paulo Mattos (2011); Gustavo Teixeira (2011), Simone Sena e Orestes Diniz (2007) Mauro Muszkat, Monica Miranda e Sueli Rizuuti (2011); entre outros.

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Breve histórico sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), formado por uma tríade que envolve desatenção, impulsividade e hiperatividade física ou mental, é um dos transtornos mais identificados em crianças nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, pois é nesta fase que as crianças iniciam o processo de alfabetização, começam a seguir rotinas e regras diárias. Por este motivo, o TDAH torna-se mais visível na criança, ainda sem o diagnóstico.

Cabe ressaltar que o professor é considerado por muitos especialistas como a “chave”, para este diagnóstico, por ser o primeiro a detectar os principais sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade na criança.

O TDAH não é um assunto recente, pois segundo Teixeira (2011), os sintomas do TDAH descritos nos dias atuais (2015), existem meio século antes do nascimento de Jesus Cristo, quando Hipócrates - médico e filósofo - fez a descrição de pacientes que demonstravam capacidade de concentração baixa e comportamento impulsivo. Muitos séculos depois, em 1693, o autor e poeta inglês William Shakespeare fez, em sua peça teatral a famosa história da vida do rei Henrique VIII, menção ao “distúrbio da atenção”.

Ainda Teixeira (2011) afirma que em meados 1845, o médico alemão Henrich Hoffman, lançou o livro Der Struwwelpeter, descrevendo o comportamento de crianças com hiperatividade, tal publicação foi de suma importância para a sociedade.

O psiquiatra alemão Henrich Hoffman, além de ter publicado a obra que descreve o comportamento de Philip como uma criança hiperativa, no mesmo ano, segundo Muszkat, et al. (2011), havia descrito pela primeira vez em um poema sobre um garoto que apresentava inquietude, distração e impulsividade.

No decorrer dos séculos, houve algumas importantes publicações a respeito do TDAH, entretanto, segundo os autores Silva, (2009) e Teixeira (2011) a primeira abordagem científica ocorreu em 1902, quando George Fredrick Still, considerado o pai da pediatria britânica, realizou palestras no Royal College of Physicians, na cidade de Londres, onde Still mencionou crianças com comportamento hiperativo e uma incapacidade de sustentar atenção.

De acordo com Vasconcelos (2004, p.15), as ideias de Still, suas deduções e observações influenciaram o “pai” da psicologia norte-americana Willian James (1890/1950), que “especulou que estes distúrbios de comportamento seriam devido a problemas na função

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inibitória do cérebro em relação a estímulos ou a algum problema no córtex cerebral, onde o intelecto acabava se dissociando da vontade ou conduta social”.

Complementando esta afirmação, os autores Muszkat, et al. (2011) acrescentam que Willian James argumentava que:

a atenção seria um elemento central no controle moral do comportamento, uma vez que tal controle ocorreria devido a uma comparação cognitiva ou consciente da atividade volitiva do indivíduo com o bem comum, aspecto que denominou de

“consciência moral” [...] tal defeito daria origem a falhas na relação cognitiva com o ambiente e uma dificuldade no controle instintivo. Propôs, assim, uma predisposição biológica a esse comportamento que por vezes era hereditária e que, em algumas crianças, resultava de lesões pré ou pós – natais. (MUSZKAT, et al. 2011, p.17).

Baseando-se nos esclarecimentos desses autores, compreende-se que, tanto George Still quanto Willian James, chegaram a mesma constatação. Ou seja, de que o comportamento das crianças descritas nas palestras, era devido à hereditariedade, que é passada de pai para filho, ao perceber que alguns membros familiares apresentavam dificuldades com depressão, álcool entre outros problemas, descartando o aspecto denominado de “consciência moral e/ou defeito de controle moral”, nomeados por James e Still em 1902.

Ainda no século XIX, em 1937, houve uma descoberta acidental feita pelo médico norte-americano Charles Bradley (SILVA, 2009; VASCONCELOS, 2004; TEIXEIRA, 2008), o qual observou que crianças com hiperatividade e impulsividade apresentaram uma melhora em seu comportamento agitado e “perturbador” com o uso de anfetaminas, que são

“medicamentos estimulantes do sistema nervoso central” que ajudaram crianças hiperativas a se concentrarem melhor (SILVA, 2009, p.205).

Mas, esta descoberta feita por Bradley ocasionou um efeito contrário à lógica, pois, como afirma Vasconcelos (2004, p.15) sobre a Attention Deficit Disorder (ADD), “os estimulantes em adultos produziam um aumento de atividade no sistema nervoso central, enquanto o inverso acontecia em crianças com ADD”. A autora diz ainda que a resposta para este fato ficaria ainda décadas sem respostas.

Ainda nas palavras de Silva (2009), no ano de 1973, foram apresentados à Associação Médica Americana, pelo Dr. Feingold, diversas pesquisas e estudos que demonstravam haver uma ligação entre determinados alimentos e aditivos químicos e a habilidade de aprender e de se comportar de alguns indivíduos. Mas, esta teoria não foi aceita pela comunidade médica.

Enquanto Muszkat, et al. (2011) ressaltam que, a partir de 1970, o termo Disfunção Cerebral Mínima (DCM), foi substituído pelo da hiperatividade. Para os autores, era considerada uma criança hiperativa, aquela que sempre estava em movimento e conduzia suas

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atividades a uma velocidade acima do normal. Afirmam ainda que, nesta época, a ênfase voltou-se para a agitação psicomotora, cujo sintoma é o mais característico do transtorno.

Citam também que, no mesmo ano, os medicamentos estimulantes estavam sendo o tratamento para as crianças com disfunção cerebral mínima e hiperatividade. Termos que, segundo os autores, eram correntes na literatura da época.

Já as autoras Silva (2009) e Teixeira (2008) afirmam que, com a teoria apresentada por Virginia Douglas de que o déficit em manter a atenção poderia provir de situações e condições em que não houvesse a hiperatividade; em 1970, o foco das pesquisas passou a mudar de hiperatividade para as questões atentivas, destacando-se especialmente o déficit de atenção que, anteriormente, era subvalorizado ampliando a percepção deste transtorno.

Embora os autores Muszkat, et al. (2011) afirmem que, em 1970, a hiperatividade era o foco e a atenção voltou-se para a agitação psicomotora, os pesquisadores complementam a afirmação de Silva e Teixeira explicitando como Virginia Douglas procedeu para chegar a sua teoria em relação ao déficit de atenção. Os autores explicam que Virginia observou crianças e que, nestas observações, ela percebeu que a “dificuldade no controle dos impulsos era o traço mais marcante que caracterizava estas crianças e não necessariamente a hiperatividade”

(MUSZKAT, et al. 2011, p.20).

Além da contribuição de Virginia Douglas, no ano de 1976 uma nova concepção surgiu. Por meio de estudos realizados por Gabriel Weiss, mostrou-se que quando as crianças com hiperatividade atingissem a adolescência, este sintoma poderia diminuir. Porém, a impulsividade e os problemas de atenção permaneceriam na vida do indivíduo. Tais conclusões foram importantes porque estudos anteriores “tratavam a síndrome como uma alteração exclusiva da infância e que [...] “desapareceria” na adolescência e na vida adulta”

(SILVA, 2009, p.206).

Baseando-se nesta afirmação, percebe-se que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade não tem cura. Pois, a autora deixa claro que a hiperatividade, a impulsividade e a desatenção podem acompanhar o indivíduo ao longo de sua vida. Por outro lado, o sintoma da hiperatividade pode diminuir, pois, quando adulto, dificilmente a pessoa portadora do TDAH ficará pulando em cima da cama, no sofá ou até mesmo ficará correndo dentro de uma sala de reunião. Já o impulso e a desatenção podem continuar com a mesma intensidade.

Para cada novo estudo no decorrer dos anos, novas teorias surgiram, pois Silva (2009) caracteriza o Transtorno de Déficit de Atenção (TDA) como um funcionamento mental caracterizado por uma aceleração muito grande, que leva a uma alteração de atenção que faz

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com que a atenção funcione em um esquema chamado de on e off. Por exemplo, se uma criança está fazendo algo que gosta como jogar vídeo game, a criança pode ficar com o hiperfoco, que é a capacidade de concentração total. O hiperfoco acontece quando a criança está muito concentrada no que está fazendo. Neste caso, a mãe pode chamar ou até mesmo “a casa desabar”, que ele não consegue se desligar daquilo.

A autora afirma que entre o Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA) e o TDA o segundo é mais adequado, porque não é uma doença; mas sim um transtorno, uma maneira de ser que acaba trazendo transtorno na vida de quem possui este tipo de funcionamento. Trata se de um funcionamento mental acelerado e inquieto.

Com a publicação do DSM III, que definiu o termo TDA, ficou claro que o foco do problema era a dificuldade de manter a atenção e a dificuldade de se concentrar. O doutor Thomas W. Phelan (2005), pai de uma criança como TDAH, baseando-se na classificação do DSM III, afirma que existem dois tipos de TDA: o TDA com hiperatividade e o TDA sem hiperatividade. Para Phelan, os dois tipos envolvem a dificuldade atentiva, porém as crianças que eram impulsivas e ativas ao extremo se enquadravam mais no quadro TDA com a hiperatividade, o qual normalmente era mais identificado no sexo masculino.

Diante das pesquisas realizadas até agora, percebe-se que, antes do termo Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ser definido pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) e publicado no Diagnostic and Statical Manual of Mental Disorders (DSM) IV, ao longo da história o TDAH recebeu várias nomenclaturas as quais geraram dúvidas ao longo dos séculos. Pois, a cada estudo realizado, um novo termo surgia para definir este transtorno e cada pesquisador com seus estudos aprofundados nomeava a síndrome de acordo com os resultados de suas pesquisas.

Agora, para se conhecer os tipos de TDAH é necessário compreender qual é a finalidade da Associação Americana de Psiquiatria e do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Pois é a APA que, por meio de pesquisas, publica o DSM, que atualmente é um subsídio, um apoio para os especialistas chegarem a um diagnóstico com precisão. O DSM fornece listas e tabelas com os critérios para se chegar a um diagnóstico.

A Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2012) foi fundada em 1844 e é a maior organização do mundo psiquiátrico nos Estados Unidos. A APA conta com uma sociedade de especialidade médica que representa mais de 36 mil médicos psiquiátricos. O seu objetivo é garantir atendimento humano e eficaz para todas as pessoas com transtornos mentais, transtornos do desenvolvimento intelectual e transtornos por uso de substâncias.

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Segundo a Associação de Psiquiatria Americana (APA, 2012), o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) é o padrão de classificação dos transtornos mentais. Explicita também que o DSM IV foi projetado para uso em ambientes clínicos e pode ser usado também por uma variedade de profissionais de saúde mental e de saúde, incluindo psiquiatrias e outros especialistas como psicólogos, terapeutas ocupacionais e de reabilitação, assistentes sociais e enfermeiros.

Conhecendo um pouco sobre o processo histórico do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), torna-se indispensável conhecer também os diversos Transtornos concomitantes com o TDAH.

De acordo com a APA (2012), estudos diversificados mostram que o TDAH é um transtorno caracterizado por um funcionamento alterado no sistema neurobiológico cerebral e que, atualmente, o TDAH pode ser entendido também como um transtorno que afeta as funções executivas (FE) relacionadas a comportamentos tipicamente associados ao funcionamento das áreas frontais do cérebro.

Os autores Mattos, Saboya, Kaefer, et al. (2003, p.67-68) mostram que as funções executivas depreendem de uma série de atividades sofisticadas, que:

capacitam o indivíduo ao desempenho de ações voluntárias, independentes, autônomas, auto - organizadas e orientadas para metas específicas. Em conjunto, englobam todos os processos responsáveis por focalizar, direcionar, regular, gerenciar e integrar funções cognitivas, emoções e comportamentos, visando à realização de tarefas simples e de rotina e também, principalmente, à solução ativa de problemas novos.

Alguns bons exemplos das (FE) são a organização, o gerenciamento do tempo, o controle das emoções e da impulsividade, estabelecimento de objetivos e planejamentos. Para usufruirmos das (FE), diversos especialistas ressaltam que dependemos totalmente do nosso cérebro. Por este motivo, é necessário conhecermos um pouco das principais funções do cérebro para conseguir compreender o que e como causa alteração no comportamento e nas ações de um indivíduo. Apresentamos a seguir as comorbidades relacionadas ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Principais Comorbidades do TDAH

Os sintomas do TDAH são basicamente a desatenção, a impulsividade e a hiperatividade. Quando o portador do TDAH apresenta apenas estes sintomas, pode-se considerar que ele ou ela tem o TDAH que muitos autores e especialistas chamam de puro ou

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limpo. Mas, como muitas pesquisas mostram, na maioria dos casos se a criança tem o TDAH ela pode apresentar uma ou mais comorbidades, termo utilizado para designar a presença de outros problemas comportamentais e psiquiátricos associados em um mesmo indivíduo.

Segundo os autores Sena (2007), Muszkat et al. (2011), Teixeira (2011), Silva (2009), Mattos (2011), Phelan (2005), Rohde e Mattos (2003), as principais comorbidades que são correlatas ao TDAH são: o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO), Transtorno de Conduta (TC), Transtorno Bipolar do Humor, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Pânico, Depressão infantil, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Distúrbios do sono e Transtorno de tiques (TT). Além destes transtornos, cabe aqui ressaltar as dificuldades de aprendizagem que podem coexistir com o TDAH.

Teixeira (2011) afirma que o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) é um comportamento que pode ser definido como um padrão de comportamento persistente de desobediência, hostilidade, negatividade e se caracteriza por um desafio ativo da criança para com os pais, amigos e professores. O autor cita ainda que a perda frequente de paciência, discussões com adultos, relutação a obedecer solicitações e regras, e implicância constante com as pessoas são as principais características do TDO.

Ainda nas palavras do autor, quando a criança apresenta o TDAH e o TDO ela se comporta de forma mais agressiva, apresenta mais dificuldades nos estudos e os seus sintomas de impulsividade se tornam mais graves. Complementando a afirmação de Teixeira, os autores Rohde e Mattos (2003, p.86) citam que a criança com o TDO apresenta baixa autoestima, devido às frequentes críticas e rótulos que recebe. Os autores chamam a atenção, afirmando que “a maioria dos estudos encontra níveis de 35% a 65% de ocorrência simultânea de TDO em pacientes com o TDAH [...]. A comorbidade também varia de frequência de acordo com os sexos dos pacientes com o TDAH. Em 1991[..] foram encontrados taxas de 63% de TDO em meninos e de 32% nas meninas”.

Já o Transtorno de Conduta, embora não seja tão frequente como o TDO, é também um dos transtornos mais preocupantes, por ser um dos problemas comportamentais mais graves na infância. Como explicita Phelan (2005), a criança que apresenta o TC magoa as pessoas, é mais agressiva do que as crianças com o TDO, elas não se importam se os deixam com raiva, podem ser cruéis com animais e pessoas.

Os jovens com TC roubam, incendeiam e destroem propriedades, intimidam as pessoas, brigam, mentem constantemente e com frequência têm dificuldades de se relacionar com os demais. Diante da afirmação do autor, percebe-se que o TC caracteriza-se basicamente

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por comportamentos em que se desrespeitam o próximo na sociedade em geral. Comparada ao TDO, trata-se de uma condição mais complicada. O autor afirma também que o Transtorno de Conduta ocorre em 25% dos meninos e 8% das meninas.

Outro Transtorno que geralmente é identificado em crianças portadoras do TDAH é o Transtorno Bipolar do Humor que, segundo os pesquisadores Teixeira (2011) e Phelan (2005), é uma condição comportamental que apresenta como principal característica a mudança súbita de humor, ou seja, as chamadas tempestades comportamentais que são períodos de muita irritação apresentados por ataques de fúrias, instabilidade emocional e impulsiva. Desse modo, a pessoa portadora do Transtorno Bipolar do humor vivencia altos e baixos de humor e de comportamento. Ao mesmo tempo em que estão felizes, já não estão mais e estas pessoas vivenciam períodos de depressão.

Teixeira ainda afirma que a insônia, o afeto inapropriado, a fala acelerada, a agitação motora, a excitabilidade, a agressividade e os acessos de raiva são alguns dos sintomas do Transtorno Bipolar. Os autores Rohde e Mattos (2003, p.96) explicam que o diagnóstico de manias na infância é difícil, pois “os sintomas podem ser confundidos com outros diagnósticos psiquiátricos, tais como a depressão, TDAH, psicose ou transtorno de conduta grave”.

Percebe-se que o Transtorno Bipolar não é tão grave quanto o TDO e o TC. Mas, cabe aqui ressaltar que, como diferentes pesquisam mostram, a bipolaridade causa a depressão e este sintoma pode ocasionar grandes riscos e problemas para o portador.

O Transtorno da Depressão Infantil é o quadro mais presente entre os portadores com o TDAH. Os pesquisadores Sena e Neto (2007) afirmam que a depressão pode levar a alterações do comportamento da criança, como: recusa em ir para a escola, agressividade e reiteramento social, pois a depressão é composta por perda de interesse nas atividades que antes eram mais prazerosas, fadiga constante, lentificação psicomotora, alterações no apetite, humor triste ou irritável, ideias de suicídio, entre outros.

Muszkat et al. (2011) ressaltam que, como o transtorno bipolar, o transtorno da depressão também apresenta desafios para ser reconhecido, pois as variações dos sintomas da depressão infantil são muitas. Os sintomas mais importantes neste caso são as perdas de energia vital, perda de iniciativa, autodepreciação, distúrbios de sono e queixas de dores de cabeça e dores abdominais.

Outro transtorno que está concomitante com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que, segundo a definição da

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psiquiatra Silva (2009), é popularmente conhecido por “manias”. É um transtorno que se caracteriza por obsessões que, muitas vezes, causam grande sofrimento para os portadores e as pessoas que convivem com eles.

As pessoas com o TOC geralmente lavam as mãos a todo instante com medo de se contaminar. Frequentemente checam várias vezes os mesmos trincos, mantêm utensílios rigorosamente empilhados e rigorosamente arrumados, entre outras manias que acabam gerando irritabilidade para as pessoas com as quais convivem.

As crianças que apresentam ansiedade constantemente com diversos assuntos, como se o mundo fosse cheio de problemas e perigos, são negativistas, apresentam excessiva preocupação e medos com intensas dificuldades para controlar estas situações, pode-se considerar que esta criança tem o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).

Os pesquisadores Sena e Neto (2007) afirmam que o TAG caracteriza-se pela presença de um quadro de ansiedade em níveis elevados. Complementando esta afirmação, os autores Keller e cols. (1988 apud SOUZA; PINHEIRO, 2003, p.97) ressaltam que vários estudos epidemiológicos “demonstraram que 25% a 46% das crianças diagnosticadas como portadoras de transtorno da ansiedade mantêm esse diagnóstico por um período de 04 a 08 anos quando não tratadas, e os transtornos de ansiedade na infância podem ser precursores de depressão maior na idade adulta”.

Um dos casos mais sofridos, segundo pesquisas, é o TDAH acompanhado do Transtorno do Pânico. Por ser uma das faces que mais representa o sofrimento humano, Silva (2009) esclarece que um ataque de pânico dura de vinte a trinta minutos e neste espaço de tempo a pessoa passa por muitas sensações como falta de ar, tremores, náuseas e outras reações fisiológicas, acompanhadas da angustiante impressão de que irá morrer naquele momento ou enlouquecer.

Já o Transtorno do Sono é menos apavorante que o de pânico. Mas, é também frequente em portadores com o TDAH, afetando emocionalmente o portador e favorecendo a sua baixa autoestima, ansiedade e depressão. O médico Thomas Phelan (2005, p.105) ressalta que os pais de crianças com o TDAH têm dificuldades em fazer estas crianças irem para a cama à noite e, conforme os anos vão passando, a dificuldade torna-se o ato de fazê-las levantar da cama cedo. Ainda nas palavras do autor, alguns anos atrás uma teoria dizia que o TDAH era causado pala privação de sono. Embora esta crença não seja verdadeira, a privação de sono pode ter um impacto significativo não apenas no TDAH, mas também em distúrbios comórbidos, como ansiedade e depressão.

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O Transtorno de Tiques (TT) pode não parecer, mas é uma comorbidade que acompanha o TDAH e aparece, segundo esses autores, com uma frequência maior em portadores do TDAH do que na população normal. Quando os tiques se tornam múltiplos e muito significativos, pode ser chamado de transtorno. Mas, quando existem tiques vocais que são os sons feitos com a língua ou a garganta, chama-se Transtorno de Tourette.

O médico Thomaz Phelan (2005) explicita que, quando tanto os tiques motores quanto os tiques vocais já existem há algum tempo produzindo um sofrimento acentuado, a Síndrome de Tourette pode ser diagnosticada. Estima-se que apenas 60% das crianças com essa síndrome se enquadram no TDAH, ou seja, apenas uma pequena porcentagem de crianças com TDAH apresentam também a Síndrome de Tourette.

O autor ressalta que, devido ao aumento da exposição sobre o assunto na mídia, os Transtornos de Tiques ou Distúrbio de Tiques (assim chamados por Phelan) estão sendo mais compreendidos pela sociedade, embora também tenham tornado-se mais temidos. O autor chama a atenção para a importância de se ter em mente que esses distúrbios ou transtornos concomitantes com o TDAH são, em geral, o maior problema.

Há muitas outras comorbidades que estão presentes nos casos das pessoas com o TDAH, mas nesta pesquisa foram citados os principais, ou seja, aqueles que os médicos mais identificam e diagnosticam nas crianças e adolescentes. Não se pode deixar de citar os transtornos da aprendizagem que aumentam ainda mais os problemas na escola. Segundo pesquisas são os transtornos de leitura, também chamados de dislexia; o transtorno da expressão escrita, conhecido como disortografia; o transtorno da matemática, identificado como discalculia; e os transtornos de linguagem os exemplos mais comuns.

Silva (2009) conceitua problemas mais comuns de aprendizagem afirmando que a dislexia é a dificuldade que aparece na leitura, pois os alunos fazem trocas ou omissões de letras, invertem sílabas, apresentam leitura lenta e dão pulos de linhas ao ler um texto. A disgrafia é definida pela dificuldade motora na escrita, os traços variam, ora fortes, ora poucos leves, as letras podem ficar ilegíveis, geralmente sendo confundido com a letra feia. E a discalculia corresponde a uma dificuldade muito grande para cálculos e números.

De um modo geral, os portadores não identificam os sinais das quatro operações e não sabem usá-los, não entendem sequências lógicas, não entendem enunciados de problemas, não conseguem quantificar ou fazer comparações.

O psiquiatra Mattos (2011) afirma que o transtorno da linguagem é geralmente o mais grave que os citados acima. Para o autor, existem dois tipos: o expressivo e o expressivo

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receptivo. O primeiro é quando há muita dificuldade de se expressar, tanto por escrito quanto oralmente. Por exemplo, quando a criança apresenta frases longas, muitas vezes sem a utilização de verbos, conjunções e com os substantivos usados em um sentido diferente. Mas, neste tipo de transtorno, embora a criança apresente estas defasagens ela possui uma compreensão normal daquilo que foi dito. Já no segundo tipo, o expressivo receptivo, além das dificuldades mencionas acima a criança apresenta também a dificuldade na compreensão.

Diante destas afirmações percebe-se que uma criança com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade pode apresentar outros problemas concomitantes. Sendo assim, questiona-se como é feito o processo para se diagnosticar o TDAH e as outras comorbidades existentes. Qualquer profissional pode diagnosticar uma criança ou um adolescente?

Diversas pesquisas mostram que, para se chegar a um diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, e as possíveis comorbidades, devem ser feitas várias avaliações, testes, entrevistas com familiares das crianças e pessoas do convívio escolar, além de outros processos que conheceremos mais detalhadamente no tópico a seguir. Somente após os levantamentos das informações, os profissionais especializados poderão fazer um diagnóstico mais seguro e mais correto.

Considerações Finais

Diante da pesquisa realizada, identificou que os transtornos estão cada vez mais presentes no ambiente escolar. Constatou-se que existem diversos tipos de transtornos e que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos mais identificados em alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental.

O TDAH não tem cura, porém tem tratamento, assim como os outros transtornos concomitantes com o problema. Cabe ressaltar que quanto antes for identificado os possíveis sintomas do TDAH, melhores serão os avanços na vida pessoal e profissional das crianças, se a mesma for diagnosticada.

Nesta pesquisa, identificou-se também importância da existência do diálogo entre família, escola e outros profissionais da área educacional e da saúde, no tratamento da criança com o TDAH ou outros transtornos. Por isso, os professores devem estar seguros de que não estão sozinhos na tarefa de educar, pois recebem apoio dos profissionais especializados, da família da criança, realizando assim um trabalho em conjunto e significativo.

Ainda no ambiente escolar, constatou-se que os professores estão conseguindo identificar mais precocemente os sintomas do TDAH e que, o professor, sendo conhecedor

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dos sintomas e das consequências que o TDAH traz para a criança, poderá transformar a sala de aula em um ambiente motivador e estimulante, contribuindo positivamente no desenvolvimento da criança

REFERÊNCIAS

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Rohde, Luis Augusto. (Org.). Princípios e Práticas em TDAH. Porto Alegre: 2003, p. 67-68.

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PHELAN, Thomas W. TDA/ TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

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Referências

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