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Arte na Educação. Profª. Cristiane Kreisch de Andrade Profª. Elisiane Souza Saiber Lopes Prof. Leomar Peruzzo. Indaial a Edição

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Indaial – 2020

A rte nA e ducAção

Profª. Cristiane Kreisch de Andrade Profª. Elisiane Souza Saiber Lopes Prof. Leomar Peruzzo

(2)

Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:

Profª. Cristiane Kreisch de Andrade Profª. Elisiane Souza Saiber Lopes

Prof. Leomar Peruzzo

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

A553a

Andrade, Cristiane Kreisch de

Arte na educação. / Cristiane Kreisch de Andrade; Elisiane Souza Saiber Lopes; Leomar Peruzzo. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

242 p.; il.

ISBN 978-65-5663-153-0

ISBN Digital 978-65-5663-154-7

1. Arte na educação. - Brasil. I. Andrade, Cristiane Kreisch de. II.

Lopes, Elisiane Souza Saiber. III. Peruzzo, Leomar. IV. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 707

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A presentAção

Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Arte na Educação. Esta é uma disciplina muito importante para a formação da docência, pois ela possui uma dimensão formativa que possibilita que as pessoas possam se transformar, bem como, transformar o que está ao seu redor. Vamos refletir e adentrar no contexto da arte e, conhecer e contextualizar acerca dessa expressão artística na atualidade frente a uma dimensão educacional e social.

Na primeira unidade será analisado o conceito de arte e, para isso, vamos refletir sobre o artista, a obra e o espectador. Vamos conhecer também, os diferentes campos que podemos encontrar na arte. Abordaremos a arte como conhecimento e sua relação com o contexto social, com a cultura, com a política, com o meio ambiente e com a tecnologia.

Na segunda unidade será possível compreender a arte no contexto educacional. Será analisada a importância do ensino de arte no currículo escolar nacional e a reflexão sobre as práticas pedagógicas dos professores em diferentes contextos. Esta unidade é um convite à reflexão sobre os processos de ensino e aprendizagem de acordo com a Base Nacional Comum Curricular – BNCC, fazendo com que você analise o papel do ensino de arte e do professor no contexto de educação escolar atual.

Na terceira unidade vamos estudar alguns dos principais autores sobre arte na educação que buscaram pesquisar as dimensões estéticas, processos de ensino e aprendizagem da arte e o papel da cultura e da arte na educação. Após a apresentação dos pesquisadores e suas teorias, a unidade adentrará ao projeto de pesquisa, sua elaboração e as devidas partes que o compõem. Ao final desta unidade, você, acadêmico, poderá ter recursos teóricos e conceituais para compor uma pesquisa em arte.

Bons estudos, esperamos que você possa construir saberes para compor sua caminhada!

Walter Marcos Knaesel Birkner

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Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

NOTA

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Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você

terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

LEMBRETE

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s umário

UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE ... 1

TÓPICO 1 — A FUNÇÃO DA ARTE ... 3

1 INTRODUÇÃO ... 3

2 FUNÇÃO PRAGMÁTICA ... 6

3 FUNÇÃO NATURALISTA ... 8

4 FUNÇÃO FORMALISTA ... 10

RESUMO DO TÓPICO 1... 13

AUTOATIVIDADE ... 14

TÓPICO 2 — PENSADO SOBRE A ARTE ... 15

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 O QUE É ARTE? ... 15

2.1 O ARTISTA ... 19

2.2 A OBRA DE ARTE ...26

2.3 O ESPECTADOR ... 29

3 CRÍTICA DE ARTE ... 34

RESUMO DO TÓPICO 2... 41

AUTOATIVIDADE ... 42

TÓPICO 3 — ARTE E CONHECIMENTO SENSÍVEL E INTELIGÍVEL ... 45

1 INTRODUÇÃO ... 45

2 ARTE COMO CONHECIMENTO ... 45

3 ARTE E A SOCIEDADE ... 47

4 ARTE E A CULTURA ... 49

5 ARTE E POLÍTICA ... 51

6 ARTE E O MEIO AMBIENTE ... 54

7 ARTE E TECNOLOGIA ... 60

LEITURA COMPLEMENTAR ... 63

RESUMO DO TÓPICO 3... 67

AUTOATIVIDADE ... 68

REFERÊNCIAS ... 70

UNIDADE 2 — ARTE NA EDUCAÇÃO ESCOLAR ... 75

TÓPICO 1 — A IMPORTÂNCIA DE ENSINAR E APRENDER ARTE NO BRASIL ... 77

1 INTRODUÇÃO ... 77

2 O PAPEL DA ARTE NA EDUCAÇÃO ESCOLAR ... 78

3 REALIDADE E EXPECTATIVAS FUTURAS DO ENSINO DA ARTE NO BRASIL ... 81

4 PRÁTICA REFLEXIVA ... 85

4.1 REFLEXÃO NA AÇÃO ...87

(8)

RESUMO DO TÓPICO 1... 91

AUTOATIVIDADE ... 92

TÓPICO 2 — CONHECENDO AS LINGUAGENS ARTÍSTICAS NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) ... 93

1 INTRODUÇÃO ... 93

2 EDUCAÇÃO INTEGRAL ... 94

2.1 INÍCIO DE CONVERSA PARA COMPREENDER A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) ... 94

3 AS LINGUAGENS ARTÍSTICAS NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) ... 98

4 EDUCAÇÃO PELA ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ... 105

4.1.1 O eu, o outro e o nós ... 108

4.1.2 Corpo, gestos e movimentos ... 109

4.1.3 Traços, sons, cores e formas ... 110

4.1.4 Escuta, fala, pensamento e imaginação ... 111

4.1.5 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações ... 112

4.2 ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL ... 113

4.2.1 BEBÊS (zero a 1 ano e 6 meses) ... 117

4.2.2 CRIANÇAS BEM PEQUENAS (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) ... 118

4.2.3 CRIANÇAS PEQUENAS (4 anos a 5 anos e 11 meses) ... 118

5 EDUCAÇÃO PELA ARTE NO ENSINO FUNDAMENTAL ... 119

6 EDUCAÇÃO PELA ARTE NO ENSINO MÉDIO ... 122

RESUMO DO TÓPICO 2... 127

AUTOATIVIDADE ... 129

TÓPICO 3 — PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM ARTE DE ACORDO COM A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) ... 131

1 INTRODUÇÃO ... 131

2 DIMENSÕES DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM ARTE NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) ... 132

2.1 CRIAÇÃO ... 132

2.2 CRÍTICA ... 133

2.3 ESTESIA ... 134

2.4 EXPRESSÃO ... 135

2.5 FRUIÇÃO ... 136

2.6 REFLEXÃO ... 136

3 COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E OBJETOS DE CONHECIMENTO EM ARTES VISUAIS NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR – BNCC ... 137

4 ARTES INTEGRADAS NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR – BNCC ... 144

LEITURA COMPLEMENTAR ... 148

RESUMO DO TÓPICO 3... 151

AUTOATIVIDADE ... 152

REFERÊNCIAS ... 154

UNIDADE 3 — PESQUISA EM ARTE NA EDUCAÇÃO... 157

TÓPICO 1 — TEÓRICOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO ... 159

1 INTRODUÇÃO ... 159

2 ANA MAE BARBOSA ... 160

3 JOÃO FRANCISCO DUARTE JÚNIOR ... 163

4 FERNANDO HERNÀNDEZ ... 167

(9)

5 MIRIAN CELESTE MARTINS ... 170

6 SUSANA RANGEL VIEIRA DA CUNHA ... 172

RESUMO DO TÓPICO 1... 175

AUTOATIVIDADE ... 176

TÓPICO 2 — TEORIA E MÉTODOS DE PESQUISA EM ARTE E EM ARTE NA EDUCAÇÃO ... 179

1 INTRODUÇÃO ... 179

2 PESQUISA EDUCACIONAL BASEADA EM ARTE (PEBA) ... 180

2.1 A/R/TOGRAFIA ... 182

3 METODOLOGIA(S) DE PESQUISA EM ARTE NA EDUCAÇÃO ... 185

4 INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA EM EDUCAÇÃO ... 187

RESUMO DO TÓPICO 2... 191

AUTOATIVIDADE ... 192

TÓPICO 3 — PROJETO DE PESQUISA ... 195

1 INTRODUÇÃO ... 195

2 REFLEXÕES SOBRE O PROJETO DE PESQUISA ... 196

2.1 PESQUISAS DE CONCLUSÃO DE CURSO ... 197

3 ORGANIZAÇÃO E ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA ... 198

3.1 ESTRUTURA DA PESQUISA ... 199

3.2 TEMA ...200

3.3 PROBLEMÁTICA ... 201

3.4 OBJETIVOS: GERAL E ESPECÍFICOS ...202

3.5 CAMINHOS METODOLÓGICOS ...203

3.6 REVISÃO DE LITERATURA ...204

3.7 ANÁLISES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ...206

4 A PROBLEMATIZAÇÃO DA ARTE EM DIFERENTES CONTEXTOS DE ESTUDO ... 209

LEITURA COMPLEMENTAR ... 212

RESUMO DO TÓPICO 3... 215

AUTOATIVIDADE ... 216

REFERÊNCIAS ... 218

(10)

1

UNIDADE 1 —

O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o que é arte e suas diferentes funções;

• entender a relação existente entre artista, obra e espectador;

• conhecer a crítica da arte;

• compreender as linguagens artísticas como objeto de conhecimento;

• analisar a relação da arte com o contexto social, cultural, político, am- biental e com a tecnologia.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A FUNÇÃO DA ARTE TÓPICO 2 – PENSADO SOBRE A ARTE

TÓPICO 3 – ARTE E CONHECIMENTO SENSÍVEL E INTELIGÍVEL

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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(12)

3

TÓPICO 1 —

UNIDADE 1

A FUNÇÃO DA ARTE

1 INTRODUÇÃO

Desde o início dos tempos, o ser humano busca um espaço para expressar suas ideias, sentimentos e emoções. Compreendemos então, que a preocupação com a “arte” já ocorre desde a antiguidade, pois conforme menciona Azevedo Junior (2007) em cada sociedade a arte é vista de modo peculiar, pois considerando que cada sociedade possui sua própria cultura, influenciada por diversos valores, como religiosos e ou artísticos. A arte, então, é representada, a partir das vivências, valores e crenças dos seres humanos, sendo que cada grupo social a identifica de modo diferenciado, segundo cada qual com a sua função. Será que a arte tem uma função? E qual seria a sua função na sociedade?

Vamos compreender essa relação acerca da função da Arte? Por exemplo:

ao observarmos uma pintura realizada entre os séculos XIV e XVIII, podemos perceber que há uma história contida na obra. Para entender melhor o contexto da pintura, vamos rapidamente recordar como foi a arte nesse período.

A pintura surgiu há milhares de anos, por meio da expressividade dos homens pré-históricos. Essas pinturas foram encontradas em diversas cavernas que, retratavam as caçadas realizadas, os animais capturados, bem como a vida cotidiana. Na Idade Média, na Europa, passaram a pintar imagens religiosas em painéis de madeira. No final da Idade Média, os artistas europeus começaram a utilizar cavaletes para pintar telas e, dessa maneira, as pinturas se tornaram portáteis, podendo ser utilizadas para decoração em parede (ESCOLA BRITANNICA, c2020).

No Renascimento, período que ocorreu entre os séculos XIV e XVI, a arte avançou muito, pois houve inúmeras transformações e inovações. A pintura tornou-se mais realista, pois os artistas observavam tudo que o rodeavam. E desenvolveram muitas técnicas que criavam ilusão de um mundo tridimensional em superfícies planas. Nessa época, Leonardo da Vinci, considerado o precursor desse período, criou algumas técnicas, como os efeitos de luz e sombra (ESCOLA BRITANNICA, c2020).

No século XVII, iniciou na Europa um novo estilo artístico, as pinturas barrocas que enfatizavam as cores vivas, efeitos de luz e sombra para reluzir fortes emoções. Já no século XVIII, surgiu um estilo de pintura mais rebuscado, que retrata paisagens suaves e delicadas, sendo cenas com pessoas elegantemente

(13)

UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

vestidas. Como podemos observar na obra “O Balanço”, do artista Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) – uma obra cheia de rebuscamentos, onde as vestimentas parecem ter movimentos, requinte nos detalhes da obra (BERNARDES, c2020).

FIGURA 1 – OBRA “O BALANÇO” – JEAN-HONORÉ FRAGONARD – 1767

FONTE: <https://www.todoestudo.com.br/artes/rococo>. Acesso em: 5 abr. 2020.

Para finalizar o século XVIII, os artistas em reação ao Rococó, criaram um estilo que retratou cenas do mundo clássico, com linhas simplificadas e sem muitos detalhes, surge, então, o Neoclassicismo.

Agora, que já compreendemos o contexto histórico da pintura entre os séculos XIV e XVIII, vamos ao questionamento anterior: ao observar uma pintura, por exemplo, realizada entre os séculos XIV e XVIII, podemos perceber que há uma história presente na obra, isso porque em cada sociedade existe um modo peculiar de ver a arte, a partir das ações socialmente constituídas, e, desse modo, podemos inferir que a arte pode ter uma finalidade dentro do contexto cultural.

Vamos compreender esse contexto acerca da função da obra. A obra do artista Fragonard, mencionada anteriormente, que foi pintada na Europa, possui um mesmo valor artístico para a cultura europeia, porém para uma comunidade indígena, por exemplo, que conservam outros valores e tradições culturais, o valor não será o mesmo. Para os indígenas a arte não é separada do seu cotidiano e, sim presente, pois faz parte de seu dia a dia, estando apresentada nas suas vestimentas, nos seus adereços, nas suas peças de cerâmica, nas cestarias, nas pinturas corporais e entre outros artefatos e produções artísticas produzidos e manifestados por eles.

(14)

TÓPICO 1 — A FUNÇÃO DA ARTE

5

Se a arte é considerada universal, por que isso pode acontecer? Para os grupos étnicos o significado da arte é diferente, pois não pertencem ao mesmo contexto no qual vivem, pois no convívio social em que vivem, não a separam do seu dia a dia.

Podemos compreender, então, que a arte tem uma função, porém é diferente em cada sociedade, pois isso depende da tradição e da cultura de cada povo.

A preocupação com a arte é algo que já ocorre desde a Antiguidade, como vimos anteriormente, porém a partir do século XX, a arte começou a ser reconhecida e valorizada, sendo considerada como um objeto que possibilita uma experiência de conhecimento estético por seus valores inerentes. Vamos observar a charge a seguir:

FIGURA 2 – AS VANGUARDAS – CHARGE DO ILUSTRADOR MARCO MARILUNGO

FONTE: <https://bit.ly/31DP9T1>. Acesso em: 5 abr. 2020.

IMPRESSIONISMO

ESPRESSIONISMO

SUPREMATISMO METAFÍSICA

MINIMALISMO CONCETTUALE SURREALISMO CUBISMO

DADAISMODADAISMODADAISMODADAISMO DADAISMO

INFORMALE POP-ART

FUTURISMO ASTRATTISMO FAUVES ART NOUVEAU REALISMO

(15)

UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

A charge do ilustrador italiano Marco Malungo (nascido em 1971) representa a evolução da arte no contexto social. Podemos perceber que a cada período ela se transforma, evolui conforme o contexto social de cada época. Dessa maneira, podemos apontar que a arte possibilita a transformação do contexto social que está inserida, ou seja, ela tem uma função para aquela sociedade.

Afinal, qual é a função da arte?

Como vimos, ela possui muitas funções. As funções que a arte apresenta, corrobora em demonstrar para que o objeto artístico serve, como vimos anteriormente, depende do período histórico, da região geográfica, bem como, dos aspectos relacionados a cultura de cada povo. Para entender melhor a função que ela possui, foi necessário dividir em três perspectivas: pragmática ou utilitária, naturalista e formalista. Vamos entender melhor cada função da arte.

2 FUNÇÃO PRAGMÁTICA

Uma pessoa pragmática pode ser considerada como uma pessoa prática, ou seja, uma pessoa objetiva que procura solucionar seus problemas e conflitos, com soluções simples e práticas para a sua vida. E assim é a arte também, na função pragmática, é utilizada como um meio para conseguir alcançar um fim que não é considerado artístico, ou seja, não é valorizada pelo que o objeto é, e sim, pela finalidade que possui (EDUCAR BRASIL, c2020). Vamos entender melhor a partir da observação da imagem a seguir:

FIGURA 3 – VASO DE CERÂMICA DA CULTURA MARAJOARA

(16)

TÓPICO 1 — A FUNÇÃO DA ARTE

7

O vaso de cerâmica Marajoara representa um artefato produzido pelas tribos indígenas que moravam na ilha de Marajó durante o período pré-colonial de 400 a 1400, situada no estado do Pará, próximo a foz do Rio Amazonas:

Em seu apogeu, a ilha de Marajó pode ter tido mais de 100 mil habitantes.

Entre eles havia diversos artistas, que fabricavam objetos cerâmicos ricamente decorados, vasilhas. Estatuetas, urnas funerárias e adornos. [...] Os objetos produzidos pelas culturas antigas estavam, muitas vezes, associados a rituais que eram verdadeiros espetáculos artísticos, pois reuniam todas as manifestações (música dança, adereços, vasos) (GARCEZ; OLIVEIRA, 2004, p. 15-16).

Conforme mencionam Garcez e Oliveira (2004), nós podemos perceber que eles fabricavam seus vasos, urnas funerárias entre outros artefatos para uma finalidade, para uso próprio e ou do cotidiano, pois a criação dessas peças de cerâmicas estava ligada aos rituais. Dessa maneira, eles não criavam as peças de cerâmica para se tornarem objetos artísticos, mas sim, para ter uma utilidade no contexto social em que viviam. A sociedade atual, após a descoberta da origem desse povo indígena, acabou considerando as peças como artísticas, devido ao seu valor cultural e social.

Na função pragmática, o objeto artístico pode ser considerado bom, quando ele se torna útil, ou seja, quando tem uma utilidade. Conforme, mencionamos anteriormente, na cultura marajoara os objetos eram criados para serem utilizados em determinadas finalidades, por exemplo, as urnas funerárias para armazenar os restos mortais.

Por isso que na função pragmática a arte pode servir para fins práticos, religiosos e ou políticos, porém não se questiona a perspectiva estética das peças, somente a sua utilidade, ou seja, para que fim é determinada. Outro exemplo de arte pragmática é percebido na Arte Egípcia, quando seus artesões criavam muitas peças para serem utilizadas pelas pessoas no seu cotidiano, como é o caso dos sarcófagos, vasos e jarros para armazenamento de alimentos e bebidas.

Também foi um povo que criou adereços, adornos, peças de cerâmicas e pinturas em geral. Vamos visualizar um exemplo:

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UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

FIGURA 4 – SARCÓFAGO EGÍPCIO

FONTE: <https://www.pinterest.com.mx/pin/771593348631568988/>. Acesso em: 10 abr. 2020.

O sarcófago atualmente é considerado uma obra de arte, com um requinte em detalhes de pintura e escultura, porém para os egípcios, esse objeto tinha outra finalidade, ou seja, tinha uma função específica, como uma urna funerária.

Desse modo, compreendemos que a função pragmática da arte se refere acerca da finalidade da obra, ou seja, para o que ela vai ser utilizada. A seguir vamos conhecer outra função da arte conhecida como naturalista.

3 FUNÇÃO NATURALISTA

Na função naturalista, a arte é apresentada por meio do conteúdo que a obra aborda. O principal objetivo dessa função é apresentar, como realmente ela é, ou seja, o mais próximo da realidade. A obra torna-se tão simplória que o espectador, não tem muitas dificuldades para compreendê-la. Vamos compreender melhor essa função, observando a obra a seguir:

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TÓPICO 1 — A FUNÇÃO DA ARTE

9

FIGURA 5 – OBRA: D. PEDRO I. ARTISTA: SIMPLÍCIO RODRIGUES DE SÁ. OBRA CRIADA EM 1830

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/historiab/dom-pedro.htm>. Acesso em: 10 abr. 2020.

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/historiab/dom-pedro.htm>. Acesso em: 10 abr. 2020.

Podemos observar no retrato de D. Pedro I, que esta obra trata de uma pintura realista, que apresenta o imperador do Brasil com uma riqueza em detalhes, sendo uma obra que tinha como objetivo servir aos propósitos do governo. Para o espectador que observar a obra, reconhecerá logo que se trata de um retrato de D. Pedro I. Essa é a função naturalista da arte, ou seja, apresentar de forma mais natural possível, sendo uma representação da realidade e da imaginação, de modo que o espectador ao fruir, logo compreenda seu significado.

Vamos conhecer outro exemplo:

FIGURA 6 – OBRA: INDEPENDÊNCIA OU MORTE. ARTISTA: PEDRO AMÉRICO DE FIGUEIREDO E MELO. OBRA CRIADA EM 1886

(19)

UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

Se observarmos a obra denominada por Pedro Américo de “Independência ou Morte”, na qual configura a representação famosa que ocorreu em 7 de setembro de 1822 sobre a independência do Brasil, podemos perceber, que se trata de uma obra de arte que apresenta um fato histórico ocorrido pela corte, ou seja, pelo governo. Utilizando a estética clássica, a pintura aborda de modo naturalista e idealista. Isso é perceptível pela representação ser de forma realista, onde o artista apresenta seu líder em um ato heroico (EDUCAR BRASIL, c2020).

Podemos considerar que as pinturas clássicas buscam pela perfeição estética, porém o seu entendimento é representar o mais natural possível a sua finalidade. Também podemos analisar uma obra de arte pela sua forma e elementos básicos que apresenta, a essa função denominamos de formalista. A seguir, vamos conhecer melhor as características dessa função.

4 FUNÇÃO FORMALISTA

Na função formalista, a preocupação é voltada para a forma e, considera os elementos básicos da visualidade como cor, ponto, linha e textura, importantes aspectos a serem considerados na elaboração da obra. A função formalista da arte considera na produção artística a estrutura intrínseca existente na composição, atribuindo mais valor na forma de apresentação da obra de arte. Com isso, sua preocupação está direcionada para os valores, significados, bem como, pelos motivos estéticos existentes na obra (EDUCAR BRASIL, c2020).

A arte na função formalista, preocupa-se com os aspectos estéticos existentes na obra e com a sua organização, ou seja, elementos e a composição e, com o seu significado. Vamos entender melhor essa função, analisando uma obra de arte.

FIGURA 7 – OBRA: O ABAPORU. ARTISTA: TARSILA DO AMARAL. OBRA CRIADA EM 1928

(20)

TÓPICO 1 — A FUNÇÃO DA ARTE

11

O Abaporu, criada pela artista brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973) foi pintada para presentear seu marido Oswald de Andrade (1890-1954) no seu aniversário. Em conversa com o poeta Raul Bopp (1898-1984) e, analisando a pintura, enxergaram ali além de uma figura enigmática, mas também, um homem antropófago, ou seja, aquele que estava pronto para devorar a cultura para depois reinventá-la. A partir dessa conversa, Tarsila procurou num dicionário tupi-guarani o significado de homem que come, e, daí, surgiu a palavra Abaporu (VEIGA, 2019).

Podemos perceber, nessa obra modernista, que as figuras são estilizadas e distorcidas, com predominância de cores vivas. A figura retratada não tem a preocupação de atentar com a anatomia real humana, mas com a forma de apresentação estética da arte em si. A arte na função formalista, portanto, preocupa-se com os aspectos estéticos existentes e com a organização da obra, ou seja, elementos e a composição e, com o seu significado.

Vamos verificar a função formalista, em outra obra de arte.

FIGURA 8 – OBRA: ARLEQUIM COM GUITARRA. ARTISTA: JUAN GRIS. OBRA CRIADA EM 1917

FONTE: <https://bit.ly/3mjWezU>. Acesso em: 18 jul. 2020.

Juan Gris (1887-1927) é um famoso pintor e escultor da arte cubista, ele é considerado um expoente do cubismo sintético. Faleceu muito cedo com apenas 40 anos de idade, porém deixou um acervo referente a obras cubistas, inicialmente analítico e mais tarde enfatizou o cubismo sintético. Numa viagem para Paris

(21)

UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

em 1906, conheceu Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque (1882-1963) e foi por influência desses artistas que Juan adotou como estilo de pintura o cubismo (FRAZÃO, 2018).

O cubismo foi um movimento que revolucionou as artes no início do século XX, com influência de Pablo Picasso e Georges Braque, quando para retratar uma paisagem utilizavam-se formas geométricas, sem qualquer intenção de representar a realidade.

Uma obra cubista abandona as noções tradicionais de perspectiva, a busca pela perfeição ao retratar a realidade, tendo como principal objetivo de demonstrar que um objeto pode ser analisado por diversos ângulos, em um único plano (GESTÃO c2020). A abstração é um tipo artístico bem peculiar da arte formalista, pois nessas obras se anula a temática, destacando-se a forma.

Nesse tópico conhecemos as funções da arte pragmática, naturalista e formalista, bem como suas características. No próximo tópico, vamos conhecer o conceito de arte, bem como, a relação existente entre artista, obra e espectador.

(22)

13 Neste tópico, você aprendeu que:

• As obras de arte, desde a antiguidade até os dias de hoje, nem sempre tiveram a mesma função. Ora serviam para contar uma história, ora para rememorar um acontecimento importante, ora para despertar o sentimento religioso ou cívico, portanto, a arte é dividida em três funções: pragmática, naturalista e formalista.

• Na função pragmática, o objeto artístico é criado para ser utilizado e ter uma determinada utilidade.

• Na função naturalista, a arte é apresentada por meio do conteúdo que a obra aborda. O principal objetivo dessa função é apresentar, como realmente ela é, ou seja, o mais próximo da realidade. A obra torna-se tão simplória que o espectador, não tem muitas dificuldades para compreendê-la.

• A função formalista da arte considera a estrutura intrínseca existente na composição, atribuindo mais valor na forma de apresentação da obra. Com isso, sua preocupação está direcionada para os valores, significados, bem como, com motivos estéticos existentes.

• Foi só neste século que a obra de arte passou a ser pensada como um objeto desvinculado de funções para propiciar experiência estética por seus valores íntimos.

RESUMO DO TÓPICO 1

(23)

1 Dependendo do propósito e do tipo de interesse com que alguém se aproxima de uma obra de arte, podemos distinguir ela em três funções principais: naturalista, pragmática e formalista. Analise as alternativas a seguir e assinale (V) para verdadeiras e (F) para falsa sobre o significado de cada uma das funções da arte:

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/olho-vivo/pra-que-serve-a-arte/. Acesso em: 29 maio 2020.

( ) A função naturalista investiga a natureza existente na obra de arte.

( ) A função pragmática valoriza apenas os elementos da visualidade na obra de arte.

( ) A função formalista se preocupa com as formas considerando os elementos básicos.

Assinale a sequência CORRETA:

a) ( ) F – F – V.

b) ( ) V – V – V.

c) ( ) F – F – F.

d) ( ) V – F – V.

2 A arte está ligada à estética, porque é considerada uma faculdade ou ato pelo qual, trabalhando uma matéria, a imagem ou o som, o homem cria beleza ao se esforçar por dar expressão ao mundo material ou imaterial que o inspira. Partindo desse pressuposto, escolha uma obra de arte que tem como característica a função naturalista da arte e explane sobre ela.

Socialize com sua turma:

FONTE: <https://www.significados.com.br/arte/>. Acesso em: 29 maio 2020.

3 Arte é a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objetivo de estimular esse interesse de consciência em um ou mais espectadores, e cada obra de arte possui um significado único e diferente. Partindo desse pressuposto, escolha uma obra de arte que tem como característica a função formalista da arte e explane sobre ela. Socialize com sua turma:

FONTE: <https://www.significados.com.br/arte/>. Acesso em: 29 maio 2020.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2 —

UNIDADE 1

PENSADO SOBRE A ARTE

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, nós vamos refletir acerca da arte. Você, acadêmico, sabe o que é arte e qual seu sentido para a vida do ser humano? Neste estudo, compreendemos que a arte é conhecimento, pois é uma linguagem que possibilita às pessoas interpretarem o contexto no qual estão inseridos de forma a relacionar as percepções sensíveis e os saberes inteligíveis. Essa linguagem expressiva, possibilita o desenvolvimento da consciência, da emoção, da criatividade, da percepção, da imaginação e do conhecimento.

Desse modo, vamos conhecer que a arte contribui para que o ser humano possa vivenciar experiências significativas, desenvolvendo sua expressividade criativa e o pensamento visual, sonoro e tátil por meio da sua relação com o mundo e da realidade no qual está inserido. Nesse contexto acerca da arte, vamos conhecer e estudar a relação existente entre artista, obra e público.

2 O QUE É ARTE?

Vamos parar um pouco nossa vida corrida e, imaginar sobre o que podemos observar ao nosso redor. Você consegue listar o que você imaginou e, é possível relacionar com a arte? Agora, pense em alguns móveis que você tem na sua casa, os espaços que eles ocupam, como são? E as roupas que você escolhe para utilizar? Que tipo de estampas as vestimentas possuem? Pense também em revistas, livros, histórias em quadrinhos, utensílios domésticos, objetos decorativos, enfim, verifique tudo o que circundam você. As placas, os outdoors, panfletos, imagens e vídeos divulgados em redes sociais e nas diversas mídias. E os filmes a que assistimos? E as músicas que ouvimos? Você já parou para pensar que tudo isso é uma expressão e manifestação artística?

Afinal, o que é arte? Você sabe o que podemos afirmar como arte? Como se aprende e se ensina arte? Vamos entender esse contexto. Podemos afirmar que o universo da arte é muito amplo, pois envolve diversas linguagens artísticas.

Ponderamos que ela pode ser representada muito além das pinturas, desenhos, esculturas, músicas, peças teatrais, entre outras linguagens. Hoje, a arte, por meio da criação estética, está envolvida com muitas áreas do conhecimento que socialmente se apresentam pela arquitetura, designer, moda, publicidade, produção cultural, eventos, turismo etc.

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UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

A arte tem origem da necessidade do ser humano em se expressar, em deixar transparecer seus sentimentos e emoções, tornando uma prática social resultante em vivências sócio-histórico-culturais. Para Martins e Picosque (2012, p. 115), “[...] arte... essa linguagem de força estranha que ousa, se aventura a falar de tudo, do desconhecido, daquilo que é percebido pelos sentidos, materializando os sentidos humanos ou os diferentes olhares que o ser humano pousa sobre as coisas”. Ao refletirmos sobre a arte e, considerando-a como uma linguagem universal intrínseca a vida social e, analisando-a como conteúdo, podemos representar a arte, como um dos trabalhos realizados pelo ser humano.

Compreendemos que a arte, segundo Vygotsky (1999), “é o social em nós”, ou ainda, podemos mencionar que a arte é uma linguagem da expressividade, que contribui para o desenvolvimento da consciência, dos sentimentos, da criação, da percepção, da criação imagética. Desse modo, a arte possibilita que os conhecimentos adquiridos sejam agregados nas experiências, por meio de suas emoções, por meio da abstração, das percepções sobre o contexto e, pela imaginação mediante a relação social com o meio. Para Hans-Georg Gadamer a experiência na arte é entendida como:

[...] ver a experiência da arte de tal maneira que venha a ser entendida como experiência. A experiência da arte não deve ser falsificada como um fragmento da formação estética que está na sua posse e, com isso não deve ter neutralizada sua reivindicação própria. Veremos que nisso reside uma consequência hermenêutica de longo alcance, na medida em que todo encontro com a linguagem da arte é um encontro com um acontecimento não acabado e, ela mesma, uma parte desse acontecimento (GADAMER, 1999, p. 171).

Ao ver, ouvir e sentir uma obra de arte, pode ser compreendido como um encontro, mas para o filósofo Gadamer, nem sempre esse encontro significa uma experiência, mas o acontecimento que reverbera no encontro por meio das sensações provocadas é que ocasiona a experiência;

[...] compreender o que a obra de arte diz a alguém é certamente um encontro consigo mesmo. Como um encontro com o que é propriamente, porém, como uma familiaridade que encerra com exceder-se a si mesmo, a experiência da arte é experiência em um sentido autêntico e sempre tem de dominar novamente a tarefa apresentada pela experiência: integrá-la no todo da própria orientação pelo mundo e da própria autocompreensão. Justamente isso constitui a linguagem da arte, o fato de sua fala alcançar a própria autocompreensão de cada um – e ela faz isso como uma arte respectivamente atual e por meio de sua própria atualidade (GADAMER, 2010, p. 7).

A experiência, nesse sentido, não é apenas vivenciar algo, fazer alguma coisa, mas é no sentido subjetivo e intersubjetivo que se apresenta como aquilo que nos traz significados, percepções, memórias, afetos e encantamentos, acerca da compreensão da arte mediante a fruição, produção e contextualização.

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TÓPICO 2 — PENSADO SOBRE A ARTE

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Compreendemos que a arte vai se modificando com o passar dos tempos, ou seja, que passa por algumas transformações devido às concepções contemporâneas dos artistas; por influências da sociedade, por meio das manifestações culturais das pessoas, que agregam influências do meio em que vivem e vão modificando sua maneira de agir ou pensar, e deste modo, reflete em sua forma de ver e sentir tudo que está ao seu redor.

Assim, é importante que os sujeitos passem por vivências que auxiliam e ampliem sua visão de mundo. As experiências com a arte podem ser vivenciadas a partir do contato com espaços formais de ensino, que é o caso de instituições escolares, como espaços não formais que é o caso de museus, galerias, teatros, shows musicais, espetáculos etc. Todos esses espaços possibilitam fazer com que as pessoas expressem suas emoções, percepções, sentimentos, criatividade de diferentes maneiras, contribuindo assim, para a sua formação humana.

Para Martins e Picosque (2012) a arte é percebida enquanto território de invenção, ou seja, é um devir que nos coloca em movimento, em mudança de velocidades, dimensões e direções, desvios de trajetórias e esperas. Para essas autoras a criação artística é contaminada pela vida e da mesma forma a arte contamina a vida, quando somos envolvidos no processo estético, portanto, a arte propicia ao ser humano o desenvolvimento da expressividade, por meio de suas emoções em relação ao mundo em que está inserido. Segundo Pillotto (2008), tão importante quanto os conhecimentos adquiridos sobre a arte, as informações históricas, as produções e experiências artísticas, é construirmos relações de sentidos naquilo que realizamos, lemos sobre nós e sobre o mundo que nos rodeia.

Deste modo, a arte possibilita aos sujeitos que seus conhecimentos e emoções sejam conectados de tal forma que o encontro com a arte se transforme em experiência, explorando as percepções reais e imaginárias, materiais e imateriais, concretas e abstratas para provocar sentimentos.

Compreendemos que ao passar por uma experiência, esta é única, pois jamais poderemos vivenciar outra igual, da mesma maneira, na mesma intensidade, no mesmo lugar e, do mesmo modo. Sempre haverá algo de diferente para agregar emoções as nossas experiências. O ser humano tem a capacidade de transformar a arte de acordo com o cotidiano, com a sua vida, portanto, por meio da arte, as pessoas expressam percepções sensíveis e inteligíveis.

Segundo Barbosa (2012, p. 4), a “arte [...] exercita nossa habilidade de julgar e de formular significados que excedem nossa capacidade de dizer em palavras”. Deste modo, existem coisas que não precisamos nos expressar através das palavras, às vezes, uma imagem é o suficiente para representar o que estamos pensando ou sentindo.

Para tanto, os sujeitos precisam estar “livres para” e “prontos para fruir”

inter-relacionando a arte com o seu meio social, ou seja, inter-relacionando o objeto de arte ao meio social e interagindo com ele, mudando assim, seu modo de

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UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

ver e sentir as coisas ao seu redor. Umberto Eco (1991, p. 40) apresenta o seguinte conceito de fruição de obra de arte: “[...] cada fruição é, assim, uma interpretação e uma execução, pois em cada fruição a obra revive dentro de uma perspectiva original. O filósofo explica que a ação fruitiva é relativa aos estímulos onde o possível fruidor possa recompreender por meio da sensibilidade e da inteligência numa perspectiva individual.

Já a realização da contextualização de uma obra de arte, seja ela concebida por uma imagem, por um vídeo, por um objeto, pelo som, por uma performance, ou mesmo pelo silêncio e ausência do objeto, como é o caso de algumas obras de arte contemporâneas, não é apenas fazer observações acerca da biografia do artista, apesar de também ser importante, mas contextualizar e analisar aquele projeto ao ponto de produzir um sentido na vida dos sujeitos/espectadores envolvidos. É fundamental situar a arte no tempo e no espaço e estabelecer relações com diferentes campos de conhecimento, seja com a história, sociologia, antropologia etc.

Compreendemos até aqui a importância que a arte tem para a formação humana, porém, para a arte existir, é necessária a sua criação que depende do projeto artístico desenvolvido pelo artista e pela fruição do espectador:

A arte contemporânea, não estando mais preocupada com a beleza do objeto, nem exclusivamente com sua forma, mas com os significados que os objetos e os materiais podem produzir no observador, ou ao se propor como reflexão sobre o homem e o seu tempo, não permite uma contemplação rápida e inconsciente (BINI, 2018, p. 76).

A arte contemporânea está preocupada em incorporar a vida cotidiana ao universo artístico, sendo uma arte que uni diferentes linguagens. Atualmente, utiliza-se a tecnologia, bem como, os meios digitais como fortes aliados na arte contemporânea, com o objetivo de provocar questionamentos e experiências significativas e inovadoras, tanto para o artista quanto para o espectador (AIDAR, 2010).

A arte contemporânea valoriza as ideias e o processo artístico em detrimento da forma final ou do objeto, ou seja, os artistas buscam estímulos para refletir acerca do mundo, bem como, da sua própria arte. Ademais, a intencionalidade do artista é quebrar as barreiras acerca das linguagens artísticas tradicionais, bem como, unir diversos tipos de fazeres artísticos em sua criação, abandonando os suportes convencionais (AIDAR, 2010).

Essa tendência propicia a valorização da aproximação entre a arte e a vida, trazendo reflexões sobre o âmbito coletivo, aliando política e imaterialidade, apresentando novas temáticas e assuntos da atualidade, como exemplo, a questão racial, patriarcado, questões de sexualidade e gênero, desigualdades entre outros temas (AIDAR, 2010).

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TÓPICO 2 — PENSADO SOBRE A ARTE

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Outra característica fundamental da arte contemporânea é a valorização da interação entre o espectador com a obra de arte, muitos artistas buscam proporcionar experiências únicas quando as pessoas têm contato com a sua criação (AIDAR, 2010).

FIGURA 9 – OBRA: LÍMITE DE UNA PROYECCIÓN I. ARTISTA: DAVID LAMELAS. OBRA CRIADA EM 1967

FONTE: <https://bit.ly/2FSfLYK>. Acesso em: 18 jun. 2020.

Na obra intitulada de “Limite de uma projeção”, o artista David Lamelas (nascido em 1946) busca a realização do exercício de atenção que envolve a imaterialidade de uma luz projetada com a espacialidade que ela constrói. A obra apresenta um foco de luz emitido do teto e projetado no chão, em um espaço totalmente escuro, da qual produz um círculo claro de luz branca. Contemplar tal situação de extrema essencialidade espacial nos permite vivenciar uma expansão do ato perceptivo e descobrir a materialidade com a qual a arte é construída. O conteúdo artístico é algo que surge ao interagir com a obra é, como uma imagem, precisa ser construído e não encontrado.

Afinal! Qual é o papel do artista frente ao desenvolvimento de uma obra de arte? Nesse sentido, iremos analisar e reconhecer a relação do artista para a execução e para a efetivação do projeto artístico criado.

2.1 O ARTISTA

O artista é considerado como tal, devido à arte que produziu. Assim, o artista é aquele que transmite sua ideia por meio da criação que está implícita em sua obra de arte. Para compreender quem é e, como surgiu o artista, precisamos voltar um pouco no tempo.

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UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

O reconhecimento do artista como um profissional, nunca foi tão fácil e, passou por um longo e lento processo histórico. Segundo Costa (2004), na Grécia, lugar considerado o berço da criação da estética e da consciência do belo, o artista que muito se dedicava para criar suas magníficas obras, não era considerado como um profissional.

Conforme postula Costa (2004, p. 43), nem mesmo “Platão, um dos mais importantes filósofos, ao conceber a sociedade perfeita, a República, dela excluía o artista, que segundo ele, era uma espécie de imitador”. Em diversos povos antigos, o artista também era tratado em diferentes posições sociais.

Na Idade Média, na Europa, a valorização do artista era considerada igual ao de um artesão, ou seja, segundo Costa (2004), a produção artística desenvolveu seguindo os padrões das corporações de ofícios, que eram responsáveis por toda a produção artesanal daquele período.

Os artistas, então, se submetiam às rígidas regras de produção e, de mercado em oficinas familiares, pois somente tinham campo de trabalhos os artistas que vinham de famílias de ourives, escultores e ou fundidores. Foi no Renascimento, entre os séculos XIV e XVI que a produção artística se intensificou:

Devido ao desenvolvimento do comércio e a formação dos estados nacionais, que os artistas começaram a se tornar independentes das guildas medievais, tendo por clientes os comerciantes enriquecidos e a nobreza. A arquitetura, o teatro e a literatura se desenvolveram como nunca; e os artistas, mantidos pelos reis, pelos papas e nobres, tornaram-se independentes das corporações de ofício (COSTA, 2004, p. 43).

No século XV, a sociedade burguesa em Paris, ou seja, a corte europeia, solicitava a presença dos artistas, que eram responsáveis pelo embelezamento das cidades, da construção dos castelos e dos jardins. A sociedade europeia que primava pela aparência e, considerava a etiqueta como os princípios de distinção, tornava cada vez mais o artista visível numa sociedade que seguia padrões estéticos, artísticos e culturais.

Desse modo, a corte precisava dos artistas, que passaram a ser contratados, para “emprestar seu brilho” (COSTA, 2004, p. 44) aos mecenas. Foi nesse momento, que os artistas passaram a viver na corte, colocando-se à disposição dos nobres, emprestando, um tom humanista e intelectual ao reinado.

Conforme postula Costa (2004, p. 44), “os artistas eram sustentados por eles, vivendo, na maioria das vezes, junto a seus mecenas, gozando de uma proximidade inédita com o poder. Para isso, eram homenageados com títulos de nobreza que lhes facultava o acesso à intimidade real”.

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TÓPICO 2 — PENSADO SOBRE A ARTE

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FIGURA 10 – OBRA: RETRATO DE ISABEL DE PORTUGAL. ARTISTA: TICIANO VECELLIO. OBRA CRIADA EM 1548

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Retrato_de_Isabel_de_Portugal_(Ticiano)>. Acesso em:

20 abr. 2020.

Ticiano realizou a pintura renascentista do quadro da Imperatriz Isabel (1503-1539), a pedido do rei Carlos V, pois após a morte da imperatriz. Para criar o retrato da Imperatriz, Ticiano se baseou nas feições existe numa máscara mortuária, que naquela época, era comum a criação das máscaras de cera das pessoas ilustres. O pintor Ticiano era considerado um exímio artista pela corte europeia, suas obras baseavam-se em retratos dos nobres da corte, bem como, paisagens e temas religiosos.

Já o artista Arcimboldo ficou famoso pelas suas obras de retrato, na qual utilizava frutas, vegetais, flores, animais, entre outras figuras para representar.

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UNIDADE 1 — O MODO DE PENSAR A LINGUAGEM DA ARTE

FIGURA 11 – OBRA: A PRIMAVERA. ARTISTA: GIUSEPPE ARCIMBOLDO. OBRA CRIADA EM 1563

FONTE: <https://bit.ly/3mhk0Nb>. Acesso em: 20 abr. 2020.

Após a coroação do Rei Maximiliano II, Arcimboldo foi contratado para realizar as pinturas na corte e organizar festas e bailes, o que lhe deu muita popularidade. Podemos perceber pelos artistas mencionados, que essa valorização pela corte, contribuía para o benefício do reconhecimento que, segundo Costa (2004), acerca do exercício da arte era vista como uma virtude, pois exigia do artista o uso de sua inteligência e principalmente de sua criatividade. Dessa maneira, “a arte deixava de ser um trabalho físico e artesanal para ascender ao estatuto de atividade de espírito” (COSTA, 2004, p. 44).

É nesse momento, do século XVI que a arte deixava a posição subalterna, para disputar lado a lado com a filosofia e com a ciência as atividades do conhecimento:

O artista foi ganhando autonomia e importância dentro da sociedade e seu trabalho deixou de se confundir com o do artesão, cuja produção obedecia aos modelos tradicionais de uma cultura e região. Ao contrário, o artista era estimulado à criação inovadora, à expressão individual e à produção de obras originais, capazes não só de distingui- lo como de notabilizar seu mecenas (COSTA, 2004, p. 45).

No Renascimento, os reis emprestavam seus pintores e arquitetos a outros

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surgiu também a criação de muitas academias e conservatórios, que contribuíam para institucionalizar a prática, bem como, organizar o campo artístico. Costa (2004) aborda que com uma rigorosa metodologia e intensos trabalhos técnicos, os artistas eram instruídos acerca dos conceitos referentes à estética clássica, à filosofia e à história, consideradas muito importantes para o desenvolvimento interior do artista.

Foi com essa expansão que as artes chegaram no final do século XVI, na qual começavam a se diferenciar das demais áreas de conhecimento, adquirindo seu próprio espaço de atuação. Conforme postula Costa (2004), no século XV, os artistas, como Leonardo da Vinci, eram além de pintores, escultores, desenhistas, filósofos, matemáticos, arquitetos, engenheiros e cientistas. Já os considerados artistas modernos se especializavam somente em sua área de atuação, ou seja, eram pintores.

Nessa nova configuração do campo artístico, era necessário o estabelecimento e organização dos mercados, ou seja, a rivalidade que existia entre as famílias mais abastadas no século XVII, contribuiu para a ascensão dos artistas, que agora, elaboravam contratos comerciais autônomos. Desse modo, todos os artistas tinham campo de trabalho, quem não estava a serviço da corte ou das famílias mais ricas, já podia oferecer seus serviços a outra classe em ascensão, como militares, professores, prefeitos e demais burocratas (COSTA, 2004).

Para Costa (2004), no século XVIII, os contratos com os artistas já elegiam como objeto no documento o que consideravam o talento do artista, dessa maneira, essa atitude contribuiu para o desenvolvimento da consciência referente ao fazer artístico e de sua especificidade. Assim, a arte passou a ser vista pela sociedade como uma atividade de espírito e o artista recebia um salário por sua produção, pela matéria-prima, bem como pelos auxiliares para realizar tal feito o tempo que fosse considerado necessário.

Ainda no século XVIII, os artistas passaram por outro e grande desafio, que foi a criação da indústria cultural. Conforme corrobora Costa (2004, p. 46), a “produção em série de bens culturais realizada através de tecnologia e por iniciativa de um empresário”. Essa nova visão que emergia no contexto social daquele século, fez com que os artistas competissem com a era industrial, porém toda essa mudança se opunha a visão renascentista que os artistas tanto defendiam, pautada na independência, na autoria reconhecida e na valorização da criatividade individual.

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A indústria cultural é aquela que produz em série e por meio de máquinas bens culturais e artísticos. Confira a charge denominada “Indústria Cultural e Indústria de Massa”:

Quem estimula mais o cérebro: a televisão ou o livro?

DICAS

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/industria-cultural/>. Acesso em: 20 abr. 2020.

Desse modo, muitos artistas tiveram que empregar-se na nascente indústria cultural, pois para muitos artistas a indústria possibilitou à população a alfabetização cultural, que por meio da leitura dos jornais e folhetins sabiam o que acorria na via pública. Conforme podemos observar no cartaz a seguir de “Henri Toulouse – Lautrec de 1896, que foi realizado para um fabricante de tintas de imprensa, que recorre à utilização de conceitos tradicionais da imagem publicitária da época” (COSTA, 2004, p. 47).

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FIGURA 12 – NO CONCERTO. ARTISTA: TOULOUSE – LAUTREC. IMAGEM CRIADA EM 1896

FONTE: <https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Henri-de-Toulouse- -Lautrec/198498/No-concerto,-1896-(zincograph).html>. Acesso em: 20 abr. 2020.

Conforme menciona Costa (2004), a indústria cultural promoveu um novo ritmo à produção cultural, além de tê-la popularizado para um público que é considerado fiel e cativo, também contribuiu para o sucesso da produção editorial, pois novos empresários sempre estavam em busca de novos autores para testarem diferentes conceitos estéticos:

Artistas desconhecidos puderam criar de maneira independente e livre de grilhões tanto das corporações como da elite econômica, por vezes, bastante conservadora. Dessa forma, a indústria cultural apoiou as vanguardas artísticas que tiveram espaço para propor novos caminhos para a arte, acelerando ainda mais o dinamismo próprio da produção artística (COSTA, 2004, p. 47).

Devido a essas mudanças, Costa (2004) menciona que o campo das artes ficou ainda mais complexo, pois trabalhavam lado a lado, o artista considerado erudito que servia as classes abastadas, o artista popular que era contratado pela indústria e o artista independente, que realizava suas criações em seu ateliê, e assim, podia realizar experimentos acerca de novas possibilidades estéticas, porém, também tinha aquele artista que desempenha todos esses papéis.

O artista também teve que se adaptar às mudanças que ocorreram na passagem dos séculos XVIII para o século XIX, conforme infere Costa (2004), a instauração da República e do povo. Sendo o artista considerado um protagonista

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nessa sociedade republicana, ao contrário que previu Platão em “A República”

(379 a.C.), sua relação com o público tornou-se cada vez mais distante, pois havia uma crescente proliferação de manifestações artísticas, bem como a inserção de novos artistas no contexto social.

Devido ao avanço da tecnologia, tornando o trabalho artesanal obsoleto, o artista procurou novos consumidores, porém com o valor de novos produtos cada vez menos artesanais, bem como, pela mobilidade social que teve avanço com os meios de comunicação de massa e de transporte, o artista precisou do auxílio dos críticos de arte, para se manterem na sociedade, inclusive nos tempos atuais.

Como podemos observar o artista na atualidade? Nesse contexto social atual, o artista busca agregar na sua criação suas vontades, seus sonhos, suas fantasias, seus devaneios, com o intuito de proporcionar ao espectador a participação na construção de sua obra de arte. Desse modo, a obra pode não ser concluída, pois a cada nova interação surge outra criação.

Desta forma, conhecemos a trajetória e importância que o artista teve no desenvolvimento da sociedade, porém temos que reconhecer que a sua criação, ou seja, a obra de arte é resultado de toda a sua pesquisa e seu trabalho. Desse modo, vamos adentrar no contexto do valor que a obra de arte tem na sociedade e no âmbito da educação humana.

2.2 A OBRA DE ARTE

Quantas vezes ao ver uma obra de arte, nos interrogamos sobre o que faz dela uma obra de arte? Podemos considerar a obra a seguir como arte?

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FIGURA 13 – OBRA: A CONDIÇÃO HUMANA. ARTISTA: RENÉ FRANÇOIS GHISLAIN MAGRITTE.

OBRA CRIADA EM 1933

FONTE: <https://citaliarestauro.com/o-que-e-uma-obra-de-arte/>. Acesso em: 21 abr. 2020.

Podemos observar na obra de René Magritte (1868-1967) uma cena um tanto inusitada, pois mostra um cavalete que foi colocado numa sala e na frente de uma janela. Nesse cavalete podemos observar uma tela com uma pintura de uma paisagem, que apresenta todos os detalhes da paisagem vista fora da janela.

Primeiramente, o espectador pode considerar a pintura no cavalete como parte da paisagem que está fora da janela. Após refletir acerca da pintura, percebe-se que essa suposição se baseia num questionamento falso, ou seja, que as imagens acerca da pintura são reais, enquanto a paisagem pintada na tela na verdade são uma representação da realidade, porém, podemos inferir que não há diferença nas paisagens, pois fazem parte da mesma pintura. Refletindo acerca dessa pintura, o espectador pode acreditar que uma paisagem seja real e a outra uma representação, sem perceber que se trata de um mesmo contexto.

Na verdade, é necessário refletir acerca de diversos aspectos, que vão muito além do que propriamente o objeto físico em questão. Ao refletirmos acerca do conceito de beleza, em relação à estética, podemos percepcionar a relação de troca existente entre a obra e o espectador. Essa troca está baseada em informações carregadas de sentidos e significados, que possibilitam a transformação da obra de arte num testemunho acerca de um contexto histórico/artístico/ cultural e social.

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Quando o espectador apreciar uma obra de arte, possibilita a ampliação da análise, acerca dos elementos visuais presentes na obra, bem como, é possível refletir sobre os elementos intrínsecos e extrínsecos. Desse modo, contribuirá para o espectador compreender melhor a obra de arte e aquilo que o artista pretende transmitir.

Podemos considerar como obra de arte toda e qualquer criação realizada por um artista, que é fruto de sua imaginação e criatividade, e expressada por meio de uma manifestação emocional e ou sensível. Dessa maneira, compreendemos que a obra de arte é uma criação e, que fica visivelmente evidente a intencionalidade do artista.

A obra de arte é considerada com um objeto artístico que é produzido pelo artista. Isso é um fato! Sabemos que todo artista transborda sua criativida- de na realização de sua obra de arte. Segundo Silva (2009), existe um grande va- lor acerca da realização do trabalho de uma artista, porém muitas obras de artes impõem-se por si mesma. Isso advém, porque muitas obras enfatizam a capa- cidade de falar sobre si mesma, ou seja, pronunciam algo além da sua própria época, apresentando inspiração e significados que perpassam pelos tempos.

Já Osborne (1970) aborda que o conceito e a função da obra de arte, durante a história da evolução da arte, passaram por grandes mudanças, pois as obras de artes eram consideradas como artefatos, sendo fabricadas para promover algum valor imediato, porém, hoje, é feita propriamente para serem obras de arte e, apreciadas esteticamente. No contexto atual, a interação e a participação do espectador se tornam uma ação fundamental para ressignificar a arte.

No século XVI, na Renascença, a obra de arte se destacou devido ao surgimento do que foi considerado como obra-prima, sendo que os trabalhos eram submetidos às academias e ou corporação profissional, para que fossem avaliados, para comprovar que o artista realmente, dominava as habilidades e técnicas necessárias. Dessa maneira, o artista era avaliado pelas qualidades referente ao intelecto e à imaginação.

Por volta do século XVIII e adentrando no século XIX e, com o desenvolvimento do comércio da arte, as encomendas para elaborar uma obra de arte, era realizada por um patrono. O patrono determina como queria a obra, ou seja, as condições, para definir o tema e qual a aparência a obra deveria ter.

Segundo Silva (2009), os maiores patrocinadores eram as igrejas católicas, bem como, as cortes de reis europeias. Para Coli (1995) o conceito referente à arte, está intrínseca na obra de arte, todavia estritamente ligado a tudo que envolve esse objeto artístico, como: a temática, o discurso, as atitudes de admiração, o virtuosismo técnico, o mercado, biografia do artista etc.

Desse modo, podemos inferir que a arte pode ser considerada como um

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possui um entendimento, uma interpretação, que por meio de suas sensações e sentimentos transborda sua criatividade na criação de sua obra de arte que atualmente, pode ser compreendida como projeto artístico.

Isso porque a arte na atualidade é entendida como uma possibilidade de reflexão, de liberdade de criação, de provocação do sensível e se configura em um trabalho de memória da própria arte, com uma concepção de estética que rompe com paradigmas tradicionais para se situar além do belo e do feio. Uma arte que busca atrair o público para estimular a interação e a descoberta. Neste sentido, a arte atual considera a interpretação:

[...] a obra de arte diz algo a alguém, e isso não apenas como um documento histórico diz algo ao historiador – ela diz algo a cada um como se isso fosse dito expressamente a ele, enquanto algo atual e simultâneo. Desse modo, vem à tona a tarefa de compreender o sentido daquilo que ela diz e de torná-lo compreensível – para si e para os outros (GADAMER, 2010, p. 6).

Para Gadamer (1999), obra de arte carrega a possibilidade de se tornar uma experiência que irá transformar aquele que experimenta. O “sujeito” da experiência da arte, o que fica e persevera, não é a subjetividade de quem a experimenta, mas a própria obra de arte, portanto, é perceptível a importância da compreensão da arte que é revelada pela experiência estética apresentada pela criação do artista na atualidade. Essa compreensão se dá pela provocação causada mediante o encontro com o projeto artístico, que propõe a participação ativa do espectador. Mas quem é o espectador nesse contexto social atual? Qual é a importância do espectador diante das obras de arte? Na sequência, vamos conhecer e refletir acerca da relação entre o espectador e a arte.

2.3 O ESPECTADOR

Acerca da relação existente entre o espectador e a obra de arte, diversas áreas de estudos, como a antropologia, e ou sociologia já realizaram estudos enfatizando a pesquisa ao espectador. Segundo Ramaldes (2016), um dos motivos do estudo dessa relação é que o espectador é considerado como uma figura fundamental para que a obra de arte se concretize.

Conforme corrobora o educador Dewey (2010, p. 182), “a ciência afirma significados; a arte os expressa”. Vamos compreender esse contexto! Por meio da ciência que nos apresenta a resolução de significados, nos faz compreender que uma verdade está constituída. Até que seja provado o contrário, a verdade apresentada é absoluta, já que para a ciência todo conhecimento deve ser testado para comprovar os fatos. Já a arte, não comprova fatos e, sim, expressa significados.

Dessa maneira, a arte nos possibilita diversas interpretações para uma mesma obra de arte, ou seja, a arte não termina em apenas um significado, porém isso vai depender da leitura realizada pelo espectador porque a arte envolve a subjetividade tanto do artista como do espectador para que seja efetivada.

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Para Dewey (2010, p. 215) “a obra de arte só é completa na medida em que funciona na experiência de outros que não aquele que a criou”. Por meio de Dewey, podemos compreender a importância do espectador diante da expressividade da obra de arte, pois a relação que é estabelecida entre a obra de arte com o espectador, essa experiência somente ocorre uma única vez porque cada espectador diante da obra de arte apresenta uma vivência diferente e única, pois nunca será a mesma sensação para os demais que observam a obra também.

Dessa maneira, compreendemos que sem o espectador uma obra de arte não faz sentido, pois o artista produz a obra de arte para que as pessoas possam fruir, vivenciar e ou experimentar. No caso das artes, essa relação com o espectador é intrínseca, pois é desse modo que ele se aproxima da obra de arte e nela adentra.

Para Costa (2004, p. 129) “esse movimento sensível do público para o interior da obra é chamado de projeção e é responsável pelos sentimentos que a arte nos desperta e pela possibilidade de nos identificarmos com aquilo que está acontecendo na tela ou no palco”. Para que isso ocorra, é necessário que o espectador se provoque a experienciar a arte, ou seja, deixar transparecer seus sentimentos, suas emoções, suas angústias, seus anseios para fruir, sentir, descobrir e, portanto, vivenciar aquele momento.

A relação do espectador com a obra no século XXI, mudou consideravelmente, pois nesse momento o espectador torna-se ativo e participativo das obras de arte, relação esta que nos séculos passados não acontecia. Segundo Costa (2004), o comportamento formal e introspectivo do espectador que costumava haver diante de uma obra de arte no passado, mudou muito devido ao aparecimento de novos gêneros e formas artísticas. Surge apresentações rápidas e curtas como as performances, mais informais como os happenings, ou ainda, a arte que faz uso da tecnologia. Essas alterações permitem que o espectador mude suas atitudes contemplativas para agir e participar das obras de artes, que, em muitos projetos artísticos contemporâneos, o público faz parte da própria obra, pois, nesses casos, a proposta somente é concretizada com a participação do espectador, podendo ser ele também coautor da obra:

Percebemos, assim, que não é só a arte que está em constante sintonia com o seu tempo. Também o público, parte necessária da obra, adapta seu comportamento e sua sensibilidade de acordo com a dinâmica da arte. É no convívio com ela que vamos nos tornando sensíveis a seus significados e à sua forma peculiar de se apresentar (COSTA, 2004, p. 131).

Costa (2004) acrescenta que o papel do artista é tão importante, pois ele consegue mudar o olhar do espectador diante daquilo que o cerca a sua volta,

“sem o público que percebe sua beleza e a transpõe para o seu cotidiano, a obra de arte também não existiria” (2004, p. 132). Desse modo, podemos compreender

Referências

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