UNICAMP
LUCIANA TIEMI KURANISHI FERREIRA
CAPACIDADE PARA O TRABALHO,
QUALIDADE DE VIDA E SONOLÊNCIA
ENTRE A EQUIPE DE ENFERMAGEM EM
UTI
WORK ABILITY, QUALITY OF LIFE AND
SLEEPINESS AMONG THE NURSING TEAM
AN ICU
Campinas
2012
i
UNICAMPUNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Ciências Médicas
LUCIANA TIEMI KURANISHI FERREIRA
CAPACIDADE PARA O TRABALHO, QUALIDADE DE VIDA E SONOLÊNCIA ENTRE
A EQUIPE DE ENFERMAGEM EM UTI
WORKABILITY, QUALITY OF LIFE AND SLEEPINESS AMONG THE NURSING
TEAM AN ICU
Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP para obtenção do título de Mestra em Enfermagem. Área de Concentração: Enfermagem e Trabalho.
Dissertation submitted to the Faculty of Medical Sciences, University of Campinas – UNICAMP for the title of Master of Nursing. Area of Concentration: Nursing and Work.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Inês Monteiro
Tutor: Associate Professor Maria Inês Monteiro
Campinas, 2012
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA LUCIANA TIEMI KURANISHI FERREIRA E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. MARIA INÊS MONTEIRO.
__________________________ Assinatura do (a) Orientador (a)
ii
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA POR
ROSANA EVANGELISTA PODEROSO – CRB8/6652
BIBLIOTECA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
UNICAMP
Ferreira, Luciana Tiemi Kuranishi, 1987-
F413c
Capacidade para o trabalho, qualidade de vida e
sonolência entre a equipe de enfermagem em UTI /
Luciana Tiemi Kuranishi Ferreira. -- Campinas, SP :
[s.n.], 2012.
Orientador : Maria Inês Monteiro.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Ciências Médicas.
1. Avaliação da capacidade de trabalho. 2.
Condições de trabalho. 3. Trabalho em turnos. 4.
Sono. I. Monteiro, Maria Inês. II. Universidade Estadual
de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. III.
Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em inglês: W orkability, quality of life and sleepiness among the nursing team in
ICU.
Palavras-chave em inglês:
Work Capacity Evaluation
Working Conditions
Shift Work
Sleep
Área de Concentração: Enfermagem e Trabalho
Titulação: Mestra em Enfermagem
Banca examinadora:
Maria Inês Monteiro [Orientador]
Frida Marina Fischer
Heleno Rodrigues Corrêa Filho
Data da defesa: 03-07-2012
iv
DEDICATÓRIA
Aos meus pais e irmão, que me incentivaram em todo momento, não mediram esforços para ajudar e nunca me deixaram desistir.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus pela força nos momentos mais difíceis e desesperadores,
A Estrela por me guiar e confortar em todos os momentos de insegurança, dúvida e angústia,
Aos meus pais, Siley e Nilza, devo a minha eterna gratidão, por serem meu porto seguro e
inspiração! Obrigada pelo amor incondicional, grande carinho, muita paciência e dedicação,
preciosos conselhos, imensa compreensão e muito apoio durante todos esses meses de muito
trabalho, sem vocês a concretização dessa dissertação seria impossível, essa conquista é
NOSSA,
Ao meu irmão Caio, meu grande orgulho, e mesmo longe não recusou ajuda em todos os
momentos que precisei,
Aos Professores Prof Dr. Heleno Rodrigues Corrêa Filho e Profa Dra Frida Marina Fischer, por
aceitarem participar da minha banca, pelas contribuições, discussões e sugestões para
construção desse trabalho,
A Professora Drª Maria Filomena Ceolim pela contribuição na qualificação, com sugestões e
discussões pertinentes,
Aos estatísticos Cleyde e Helymar pela contribuição para as análises estatísticas do trabalho,
A todos os professores e funcionários da pós-graduação do departamento de Enfermagem,
As grandes amigas Patrícia Hirata e Flávia Mariotto que estiveram muito presentes, sempre
compartilhando todos os bons momentos, os sofrimentos, as angústias, as alegrias, as viagens
e momentos de felicidade nos encontros e saídas,
As amigas inseparáveis durante a graduação que na medida do possível contribuíram, com
palavras e mensagens de apoio durante essa caminhada Amanda Sena, Andressa Nunciaroni,
vi
A todos os amigos que participaram direta ou indiretamente apoiando, aconselhando,
confortando e incentivando em todos os momentos, cito, Stênio Manzoli, Valéria Masson,
Tatiana Vedovato, Noelia Bedoya, Fabiane Dalben, Fernanda Sobral, Fernanda Silva, Mariana
Akiti, Rosana Nazaro, Daniel Kacelnik, Jacimara Zandonella, Sabrina Coelho, Gabriel Lazari,
Walter Catão, Felipe Bhering, Fabrício Rocha, Sara Santos, Ricardo Thomazelli, Patrícia
Santos, Jessica Mello, Natacha Rodrigues;
Aos colegas do grupo de pesquisa e demais colegas da pós-graduação;
Aos colegas de trabalho e toda equipe de enfermagem, pelos aprendizados e crescimento
pessoal e profissional;
Aos funcionários do IAMSPE, em especial aos enfermeiros, técnicos e auxiliares de
enfermagem que participaram desta pesquisa.
A todos meu muito obrigada!
AGRADECIMENTO ESPECIAL
A Profª Drª Maria Inês Monteiro, por acreditar na concretização desse trabalho, pelos
conhecimentos transmitidos, pela imensa compreensão e apoio durante as dificuldades e
contratempos que surgiram, pelos conselhos, paciência, amizade, ensinamentos de vida e
vii
“Se pensarmos pequeno, coisas pequenas teremos... Mas se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar em nossa vida.”
viii
RESUMO
O trabalho em turnos entre a equipe de enfermagem que atua em Unidades de Terapia
Intensiva (UTIs) pode ser prejudicial à saúde e características de estilo de vida, saúde e trabalho podem interferir e favorecer a diminuição da capacidade para o trabalho, qualidade de
vida e aumento da sonolência. Os objetivos deste estudo foram avaliar a capacidade para o
trabalho e associá-las as dimensões de qualidade de vida e sonolência; e as características
sóciodemográficas, condições de saúde, trabalho e estilo de vida desses trabalhadores.
Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, realizado entre 193 trabalhadores de enfermagem
que atuavam em um hospital público de grande porte na cidade de São Paulo. Os
questionários autorrespondidos, usados para o levantamento de dados, continham dados
sociodemográficos, estilo de vida, aspectos de saúde e trabalho (QSETES); Índice de
Capacidade para o Trabalho (ICT), qualidade de vida com o WHOQOL-BREF; Escala de
sonolência de Epworth (ESS). Metade dos trabalhadores apresentou boa capacidade para o
trabalho (51%). Pela análise de regressão linear univariada o ICT apresentou associação
negativa com a sonolência (p<0,001) e associação positiva com todos os domínios de
qualidade de vida, domínio físico (p <0,001), domínio psicológico (p <0,001), domínio relações
sociais (p <0,001) e domínio meio ambiente (p <0,001). Houve associação entre ICT e a
percepção de saúde comparada (p<0,001), hábito de tabagismo (p=0,006), IMC (p=0,021),
presença de dor nos últimos seis meses (p<0,001) e problemas de saúde nos últimos 15 dias
(p<0,000), satisfação com a vida atual (p<0,000) e uso de medicamento (p<0,001). Os turnos
de trabalho apresentaram diferenças significativas com a qualidade de vida no domínio físico
(p=0,048) e no domínio relações sociais (p=0,026). A partir da identificação e avaliação precoce
do processo saúde-doença, é possível investir em programas preventivos, práticas de
promoção à saúde e estimular ações que melhorem a qualidade de vida desses trabalhadores e
ix
Linha de pesquisa: Trabalho, Saúde e Educação
Palavras-chaves: Avaliação da capacidade de trabalho. Condições de trabalho. Trabalho em
x
ABSTRACT
Shift work between the nursing staff that works in intensive care units (ICUs) can be harmful to
health and lifestyle characteristics, health and work can interfere with and facilitate the reduction
of work ability, quality of life and increased sleepiness. The objectives of this study were to
evaluate the ability to work and associate them with the dimensions of quality of life and
sleepiness, and sociodemographic characteristics, health status, work and lifestyle of these
workers. This is a cross-sectional epidemiological study, conducted among 193 nursing staff
who worked in a large public hospital in São Paulo. The self questionnaires answered, used for
data collection, containing sociodemographic data, lifestyle, health and labor aspects (QSETES)
Index the Work Ability (ICT), quality of life with the WHOQOL-BREF; sleepiness scale Epworth
(ESS). Half of the workers showed a good capacity for work (51%). By univariate linear
regression analysis WAI negatively associated with sleepiness (p <0.001) and positively
associated with all domains of quality of life, physical (p <0.001), psychological domain (p
<0.001), social relationships domain (p <0.001) and environment domain (p <0.001). An
association between ICT and health perception compared (p <0.001), smoking (p = 0.006), BMI (p = 0.021), pain in the last six months (p <0.001) and health problems in the past 15 days (p
<0.000), satisfaction with current life (p <0.000) and medication use (p <0.001). The work shifts
showed significant differences in the quality of life in the physical domain (p = 0.048) and the
social relationships domain (p = 0.026). From the early identification and assessment of the
health-disease process, it is possible to invest in preventive programs, health promotion
practices and encourage actions that improve the quality of life of workers and thus reduce
sleepiness and increase the capacity for work.
Keywords: Work Capacity Evaluation. Working Conditions. Shift Work. Sleep. Quality of Life.
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição das frequências absolutas e relativas dos profissionais do IAMSPE,
segundo variáveis sociodemográficas. São Paulo, 2012 (n=193).
Tabela 2 – Distribuição das frequências absolutas e relativas dos profissionais do IAMSPE,
segundo características do trabalho. São Paulo, 2012 (n=193).
Tabela 3– Distribuição dos valores média e desvio padrão dos profissionais do IAMSPE,
segundo as variáveis relacionadas ao trabalho. São Paulo, 2012 (n=193).
Tabela 4– Distribuição da equipe de enfermagem segundo aspectos da saúde e estilo de vida.
São Paulo, 2012.
Tabela 5- Distribuição da equipe de enfermagem segundo exposição a fatores de risco
ocupacionais. São Paulo, 2012 (n=193).
Tabela 6– Distribuição das frequências absolutas e relativas da equipe de enfermagem
segundo a capacidade para o trabalho (ICT). São Paulo, 2012 (n=192).
Tabela 7– Distribuição das frequências absolutas e relativas dos profissionais de enfermagem,
segundo aspectos relacionados ao ICT. São Paulo, 2012 (n=192).
Tabela 8 - Média dos escores da avaliação da qualidade de vida da equipe de enfermagem de
UTI´s segundo domínios do WHOQOL-BREF. São Paulo, 2012.
Tabela 9- Médias (DP) de faixa etária por ICT escala de sonolência de Epworth . São Paulo,
2012.
Tabela 10 – Médias (DP) de faixa etária por domínios do Whoqol-Bref. São Paulo, 2012.
Tabela 11 – Médias (DP) de turnos por ICT, escala de sonolência de Epworth. São Paulo, 2012.
xii
Tabela 13 – Médias (DP) de gênero por ICT, escala de sonolência de Epworth. São Paulo,
2012.
Tabela 14 – Médias (DP) de gênero por domínios do Whoqol-Bref. São Paulo, 2012.
Tabela 15– Associação média (DP) do Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) e variáveis
de saúde, hábito e estilo de vida. São Paulo, 2012.
Tabela 16- Análise de regressão linear univariada para identificar os fatores relacionados com o
escore do ICT (n=192).
Tabela 17- Análise de regressão linear univariada para identificar os fatores relacionados com o
escore do ICT (n=192).
xiii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Características do Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)
xiv
LISTA DE FIGURAS
xv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEAMAS - Centros de Assistência Médico Ambulatorial CEP – Comitê de Ética em Pesquisa
CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas CS – Centro de Saúde
DP – Desvio Padrão
DEPTO – Departamento
EPI – Equipamento de proteção individual
ESS – Escala de Sonolência de Epworth
FCM – Faculdade de Ciências Médicas
HSPE – Hospital do Servidor Público Estadual
IAMSPE – Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística ICT – Índice de Capacidade para o Trabalho
IMC – Índice de Massa Corpórea
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
NCR – Unidade de terapia intensiva da neurocirurgia
OMS – Organização Mundial da Saúde
PSQI – Índice de Qualidade de Sono de Pittsburg
QSETES – Questionário com Dados Socio demográficos, Estilo de Vida, Trabalho e Aspectos
de Saúde e Riscos Ocupacionais QV – Qualidade de Vida
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SAS- Statistical Analyses System
xvi SPSS – Statistical Package for the Social Sciences
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TI – Tecnologia da informação
UCO – Unidade coronariana
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UTI - Unidade de Terapia Intensiva WAI – Work Ability Index
WHOQOL - World Health Organization Quality of Life
xvii
S
UMÁRIO RESUMO...viii ABSTRACT...x CONSIDERAÇÕES INICIAIS...19 1- INTRODUÇÃO...21 1.1 – O trabalho em turnos...211.2 – A Capacidade para o trabalho...22
1.3 – Qualidade de vida e sonolência entre a equipe de enfermagem...24
1.4 – Hipóteses de estudo...26 2- OBJETIVOS...28 2.1- Objetivo geral...28 2.2- Objetivos específicos...28 3- MATERIAL E MÉTODOS...29 3.1- Características do estudo...29
3.2- Descrição do local da pesquisa...29
3.3- Sujeitos da pesquisa...31
3.4- Coleta de dados...31
3.5- Descrição dos instrumentos...32
3.5.1 – Índice de capacidade para o trabalho (ICT)...32
3.5.2 – Questionário de Qualidade de vida - WHOQOL–BREF...34
3.5.3 – Escala de Sonolência de Epworth - ESS ...34
3.5.4 - Questionário sociodemográfico e estilo de vida...35
3.6- Análise estatística...35
xviii
4- RESULTADOS...37
4.1- Algumas características do trabalho no IAMSPE...37
4.2- Dados sociodemográficos, estilo de vida e condições de trabalho...37
4.3- Dados referentes ao Índice de Capacidade para o Trabalho, Qualidade de Vida e Sonolência...44 5- DISCUSSÃO...61 6- LIMITAÇÕES DO ESTUDO...76 7- CONCLUSÃO...77 8- REFERÊNCIAS...80 9- ANEXOS...90 10- APÊNDICES...102
19
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O interesse em estudar a capacidade para o trabalho, qualidade de vida (QV) e
sonolência entre a equipe de enfermagem, na cidade de São Paulo originou-se a partir da
minha experiência profissional.
Quando terminei a graduação enviei muitos currículos solicitando trabalho e minha
primeira oportunidade de emprego foi atuar como docente supervisora de estágio em um Centro
de Saúde (CS) pela escola técnica SENAC e, como era de se esperar, adorei a experiência.
Foi um grande desafio estar recém formada, sem experiência na área, deparar-me com
a dificuldade para ensinar, executar a habilidade nos procedimentos técnicos com os alunos e
nortear algumas condutas. Após a primeira experiência de trabalho, minha visão sobre a
necessidade da pós graduação se solidificou bem como o desejo de compartilhar
conhecimentos e experiências.
Assim, ingressei no mestrado e continuei a busca pelo emprego que me daria a experiência profissional e, após seis meses, ao ser aprovada em concurso público, fui chamada
para trabalhar no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE). Por cursar as disciplinas do
mestrado, optei pelo período noturno de trabalho na enfermaria de neurologia clínica. Ainda
assim, os primeiros dois meses de treinamento foram realizados no período diurno das 7h às
13h15.
Após assumir a enfermaria no período noturno, percebi algumas mudanças em relação à
disposição para o trabalho, apetite, ciclo sono e vigília, com discreta diminuição da atenção,
bem como ouvi relatos de outros integrantes da equipe de enfermagem relacionados ao mesmo
tema. Deste modo, tendo em vista um setor como a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que
demanda atenção e bom nível de alerta devido à instabilidade dos pacientes, questionei-me
20
trabalhadores. Isso porque meu nível de atenção após as 23 horas parecia diminuir, bem como
o aumento da sensação de mal estar à medida que avançavam as horas, o que me incomodava
muito, pois além do cansaço físico as horas de sono durante o dia eram fragmentadas.
Por meio de levantamento na literatura observei que não havia estudos que fizessem a
relação entre a capacidade para o trabalho, qualidade de vida e sonolência entre esses
trabalhadores. Para viabilizar o estudo no prazo determinado, devido à dificuldade para
aprovação e autorização do Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital no qual seria realizada a
pesquisa, optei pela coleta de dados entre os profissionais de enfermagem atuantes nas UTI´s.
A Professora Dra. Maria Inês Monteiro é responsável pelo meu acompanhamento em
estudos acadêmicos desde o primeiro ano de graduação onde iniciei como bolsista trabalho.
Posteriormente, realizei duas iniciações científicas nas quais estudei as condições de saúde e
estilo de vida entre motoristas de táxi na cidade de São Paulo (1).
Também, fui aluna de estágio supervisionado no Centro de Saúde DIC III onde desenvolvi atividades nos eixos de assistência, com consulta de enfermagem, gestão da
21
1- INTRODUÇÃO
1.1- O trabalho em turnos
Nas últimas décadas, houve aumento crescente na oferta dos serviços disponíveis à
população durante períodos prolongados do dia e finais de semana e com isso a necessidade
de os trabalhadores se revezarem em turnos de trabalho e horários irregulares para suprirem a
demanda de produção de bens e prestação de serviços. Contudo, observou-se que essa
organização do trabalho e revezamento em turnos, inclusive noturno, pode ser prejudicial a
saúde, ocasionando impactos no bem estar físico, mental e social dos trabalhadores (2).
No que se refere ao campo da saúde, os problemas que afetam esses profissionais são
semelhantes aos das demais áreas, isso porque todos estão sujeitos a sofrerem desgaste físico
e mental consideráveis, pois para alguns trabalhadores falta autonomia, especialmente quando
surgem dificuldades em controlar seus processos de trabalho. Além disso, muitos trabalhadores
possuem mais de um vínculo empregatício, outros têm carga horária de trabalho excessiva, além de sofrerem com a pressão no desempenho da função (3).
Tendo em vista que o trabalho em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) é complexo, por
ser uma unidade especializada e de alta complexidade, que necessita de recursos humanos em
continuo aperfeiçoamento, e que seus trabalhadores, principalmente os técnicos em
enfermagem, por desempenharem atividades assistenciais consideradas desgastantes como
higiene, alimentação, terapêutica medicamentosa, curativos e cuidados manuais, verifica-se
que esses profissionais estão sujeitos a vivenciarem um desgaste significativo, seja pelo
trabalho cotidiano, pelos turnos e processos de trabalho (4).
Há diversos estudos relacionados à carga de trabalho entre profissionais de
enfermagem em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), isso porque a demanda de trabalho
22
maioria são idosos, além da necessidade de instalação e manuseio de equipamentos de alta
tecnologia, espaço físico diferenciado e pessoas treinadas e qualificadas (5).
Um estudo realizado por Gonçalves e Padilha (6) que avaliou a carga de trabalho da
equipe de enfermagem exigida pelos pacientes predominantemente do sexo masculino e
idosos, submetidos a tratamentos clínicos e/ou procedentes do centro cirúrgico, com baixa
gravidade e baixa taxa de mortalidade identificou que a demanda foi elevada, com maior carga
de trabalho da equipe de enfermagem nos pacientes internados por mais de seis dias e que
evoluíram para óbito. Esses demandaram maior tempo de assistência na UTI.
Os profissionais de enfermagem que trabalham em unidades de alta complexidade,
como as UTIs, sofrem desgaste físico e mental consideráveis devido a carga de trabalho
exigida nesses setores, que é agravada pelo regime de trabalho em turnos, tornando-os
susceptíveis a sofrerem distúrbios neuropsíquicos, cardiovasculares e gastrointestinais, tendo a
vida social, a prejudicada em primeiro lugar (7).
Outros autores (8-9-10-11) referem que o trabalho em turnos podem ocasionar alterações
fisiológicas e psicológicas, alterações do ritmo biológico, distúrbios do sono, problemas de
saúde, diminuição do desempenho no trabalho, insatisfação no trabalho e isolamento social.
1.2 – A Capacidade para o trabalho
Estudos sobre população revelam o envelhecimento populacional brasileiro. Segundo
dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) no ano de 2002 a população considerada
idosa, acima de 60 anos era de 14 milhões e espera-se que em 2025 seja de 33, 4 milhões. Há
um aumento da população idosa nos países em desenvolvimento, e com isso a preocupação
para que haja o envelhecimento ativo dessa população. Assim, por meio de medidas eficazes,
espera-se maior participação dessas pessoas na sociedade de acordo com suas capacidades
23 De acordo com Tuomi (13):
“O conceito de capacidade para o trabalho abrange as
capacidades física, mental e social do individuo em relação às exigências do trabalho e leva em consideração também, aspectos como educação, conhecimento, habilidade, experiência e motivação. A definição conceitual de capacidade para o trabalho representa a questão de o quanto o trabalhador esta bem no momento e num futuro próximo e o quanto está apto a fazer seu trabalho com relação às exigências do trabalho, à saúde e aos recursos mentais”
Assim, com o aumento da expectativa de vida, a população economicamente ativa
trabalhará por mais anos, o que poderá acarretar mudanças na capacidade para o trabalho
desses profissionais.
Por ser uma tendência mundial, o envelhecimento populacional ocorrerá nos países
desenvolvidos e em desenvolvimento. Portanto, uma atenção especial deve ser dada e este
fator, para que as condições de vida e saúde não sejam afetadas com o passar dos anos, pois
há uma tendência da redução de capacidade para o trabalho à medida que o indivíduo
envelhece e aumenta o tempo de permanência na mesma função (14-15).
No estudo de Metzner e Fischer (15) a capacidade para o trabalho de trabalhadores em
turnos fixos de 12 horas fica prejudicada, pois afeta a percepção da fadiga, aumentando-a, e
dificulta a manutenção do sono, além de poder aumentar a carga de trabalho, influenciando
assim na capacidade para o trabalho.
Em estudo realizado por Chillida (16) avaliou-se o índice de capacidade para o trabalho
24
trabalhadores apresentou capacidade para o trabalho alterada entre as categorias moderada ou
baixa e que o trabalho noturno interferia negativamente na qualidade de vida (QV) desses
profissionais, uma vez que afetavam o humor, os hábitos de alimentação e de sono, além de
causar prejuízo social.
Em outros estudos (17-18-19-20-21-22-23) que avaliaram a capacidade para o trabalho de
profissionais em diversos ramos produtivos apontam-se e destacam-se a importância para a
promoção da saúde no trabalho como um dos aspectos fundamentais na manutenção da
qualidade de vida e capacidade para o trabalho.
Para isso, sabe-se que a prevenção de acidentes e de doenças ocupacionais realizadas
por meio da promoção a saúde do trabalhador são essenciais. E essas discussões são
necessárias para aprofundar os conhecimentos existentes para prevenir os agravos à saúde
decorrentes do trabalho. Por meio das práticas educativas é possível proporcionar ao
trabalhador autonomia para intervir em seus processos de trabalho, inclusive pelo reconhecimento dos problemas decorrentes dele para com isso manter boa qualidade de vida e
prevenir os danos à saúde (24).
1.3 - Qualidade de vida e sonolência entre a equipe de enfermagem
Para a OMS (25) qualidade de vida é
“a percepção que o indivíduo tem de sua posição na vida dentro do contexto de sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito muito amplo que incorpora de uma maneira complexa a saúde física de uma pessoa, seu estado psicológico, seu nível de dependência, suas relações sociais, suas
25
crenças e sua relação com características proeminentes no ambiente” (25).
Sabe-se que a qualidade de vida no trabalho depende de inúmeros fatores, entre eles,
salário que evite a multiplicidade de empregos, espaço físico adequado que permita o exercício
da equipe de enfermagem sem limitações, integração social, a fim de permitir um trabalho
coeso, privacidade para guardar os materiais pessoais e refeitório, recursos materiais para o
trabalho, satisfação no trabalho pela adequada remuneração e atividades laborais que
proporcionem relaxamento antes do inicio do trabalho (26).
Em estudo que avaliou a relação de trabalho e a qualidade de vida entre médicos e
enfermeiros foi encontrado que ambos os profissionais realizavam grandes esforços físicos,
sofriam pressões psicológicas e apresentavam insegurança no trabalho, o que afetou,
diretamente, a qualidade de vida dessa população (27).
Outros agentes estressores, também podem influenciar de maneira negativa os indicadores de qualidade de vida, pois a equipe de enfermagem está submetida a um rígido
controle do tempo seja pela administração de medicamentos, banho no leito, aspiração de vias
aéreas e curativos e/ou realização de outros procedimentos, podendo estar aliada a falta de
materiais e equipamentos adequados, a existência de conflitos de relacionamentos entre os
membros da equipe, ao estado crítico de saúde do paciente, a dupla jornada de trabalho devido
à necessidade de complementação da renda e o trabalho em finais de semana e feriados pela
forma de organização e estruturação do ambiente de trabalho em uma UTI (28).
Paschoa (29) avaliou a qualidade de vida entre auxiliares e técnicos de enfermagem que
atuam em UTIs de um hospital escola e identificou escores médios insatisfatórios nos domínios
físicos e meio ambiente, e concluiu que o trabalho pode ser um dos fatores que contribuíram
26
Sabe-se que os transtornos do sono podem interferir consideravelmente na qualidade de
vida de uma pessoa. Esses podem estar relacionados à insônia, a distúrbios respiratórios, a
depressão e a distúrbios do movimento noturno. Uma má noite de sono pode ser prejudicial a
curto, médio ou longo prazo, pois afetam as atividades diárias, o desempenho profissional, e
ocasionam alterações no humor e alterações fisiológicas (30-31).
Em estudo realizado por Fischer (32) em trabalhadores de enfermagem, foi encontrado
pior qualidade de sono em situações diurna, após o trabalho noturno, com diminuição dos níveis
de alerta à noite à medida que aumentavam as horas de trabalho.
Dessa forma, busca-se por meio da abordagem à equipe de enfermagem e ao seu
trabalho, entender como os trabalhadores atuantes em unidades complexas como as UTIs
percebem sua capacidade para o trabalho, qualidade de vida e sonolência, esperando-se, com
isso, que os dados possam fornecer subsídios para a discussão, elaboração e implementação
de programas de promoção à saúde e possibilitando mudanças nas condições de trabalho para sua melhoria.
Assim, para nortear este estudo propõe-se a seguinte questão de pesquisa:
- A qualidade de vida, sonolência, características sociodemográficas, estilo de vida, condições
de trabalho e problemas de saúde influenciam a capacidade para o trabalho dos trabalhadores
que atuam predominantemente em turnos nas diferentes UTIs em um hospital público de
grande porte na cidade de São Paulo?
1.4 – Hipóteses de estudo
- Há diminuição da capacidade para o trabalho entre os trabalhadores do turno noturno em
27
- Há diminuição da qualidade de vida entre os trabalhadores do turno noturno em relação ao
turno diurno na equipe de enfermagem que atua em UTI.
- Há aumento da percepção da sonolência entre os trabalhadores do turno noturno em relação
28
2- OBJETIVOS 2.1- Geral
Avaliar a capacidade para o trabalho e associá-la aos domínios de qualidade de vida e a sonolência entre a equipe de enfermagem atuante em diferentes Unidades de Terapia
Intensiva.
2.2- Específicos
Caracterizar o perfil sociodemográfico, condições de saúde, trabalho e estilo de vida desses profissionais;
Avaliar a capacidade para o trabalho e associá-la às características sociodemográficas, turno, categoria profissional e problemas de saúde;
Avaliar a qualidade de vida e sonolência associada à faixa etária, sexo, turno, categoria profissional e problemas de saúde;
29
3- MATERIAL E MÉTODO 3.1- Características do estudo
Estudo epidemiológico transversal, descritivo e exploratório com levantamento de dados
por meio da entrega dos questionários auto- respondidos a todos os trabalhadores em todos os
turnos de trabalho. Foram utilizados questionários que avaliaram a qualidade de vida,
sonolência e capacidade para o trabalho entre os integrantes da equipe de enfermagem que
trabalham em Unidades de Terapia Intensiva.
3.2- Descrição do local de pesquisa
Este estudo foi realizado no Hospital do Servidor Público Estadual Francisco Morato de
Oliveira (HSPE/IAMSPE) entre os trabalhadores da equipe de enfermagem que atuam nas
Unidades de Terapia Intensiva (UTI da Neurocirurgia 9 leitos, Unidade Coronariana (UCO) com
8 leitos, UTI gerais do 6º e 7º andares 32 leitos intensivos e 10 semi intensivos, e UTI pediátrica
6 leitos) que totalizam 65 leitos e aproximadamente 271 trabalhadores em turnos diurnos e noturnos de trabalho.
O Hospital do Servidor Público Estadual Francisco Morato de Oliveira (HSPE) também é
conhecido como Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE), sendo
uma entidade autárquica autônoma, sem fins lucrativos, e vinculado à Secretaria de Gestão
Pública do Estado de São Paulo. O Hospital está localizado na zona sul da cidade de São
Paulo.
O HSPE é um dos maiores Hospitais do Estado, contrata cerca de cinco mil
trabalhadores, sendo aproximadamente dois mil profissionais da equipe de enfermagem, com
regime de trabalho predominantemente em turnos diurno e noturno de 12 horas. O hospital
oferece serviços em 43 especialidades nos 15 andares, com leitos hospitalares e atendimento
30
O hospital foi inaugurado em 1961 com 1200 leitos hospitalares. Porém, muitos quartos
tiverem que ser desativados para fins administrativos, pois a planta inicial não possuíam salas
para secretaria médica e de enfermagem, sala de reuniões, chefia de enfermagem e copa.
Atualmente o HSPE conta com 1034 leitos (33).
A instituição é mantida pela contribuição compulsória mensal de 2% de cada funcionário
público estadual e disponibiliza atendimento ambulatorial na capital e interior do Estado, nos 18
Centros de Assistência Médica Ambulatorial (Ceamas) espalhados pelas cidades no interior do
estado. O complexo hospitalar conta com 108 mil metros quadrados, que incluem serviços de
laboratório clínico, farmácia, banco de sangue, serviço de emergência e Hospital Dia para
atender os pacientes de cirurgias eletivas, que necessitam de curto período de internação.
A estrutura física do hospital recebe regulares reformas, tanto pela deterioração por uso,
quanto para adequação a novos equipamentos. A planta física do prédio é em formato de cruz,
composta por duas alas, ímpar e par, além da ala central (34).
Sua organização é apresentada no organograma abaixo, no qual o superintendente é o
responsável geral.
Figura 1- Organograma hierárquico do hospital
Superintendência
Chefia de
Gabinete Gestão de TI HSPE
Gerência de enfermagem Outras gerências (clínicas gerais, cirúrgicas, pacientes,técnica e ambulatorial,apoio terapêutico PREVENIR Centro de desenvolvimento ensino e pesquisa DEPTO DE CONVÊNIOS E ASSISTÊNCIA MÉDICO AMBULATORIAL Gerência de rede Gerência de contas médicas DEPTO ADMINISTRATIVO Gerência de finanças Gerência de materiais, e serviços, infra-estrutura
31
3.3- Sujeitos de pesquisa
Os sujeitos da pesquisa foram todos os profissionais integrantes da equipe de
enfermagem (Enfermeiros assistenciais, encarregados e supervisores, Técnicos e Auxiliares de
Enfermagem) que atuam nas unidades de terapia intensiva do HSPE.
Os critérios de inclusão para o estudo foram: concordância em participar
voluntariamente do estudo e estarem atuantes no local da pesquisa. Os de exclusão foram:
profissionais afastados das atividades devido a férias, que entraram em afastamento ou que
estavam em afastamentos prolongados ou licenças médicas no período da coleta dos dados.
3.4- Coleta de dados
Os trabalhadores foram abordados individualmente pela pesquisadora durante o horário
de trabalho e foram explicados os objetivos do estudo e o modo de preenchimento do
questionário. Da população total de 271, foram excluídos 24 trabalhadores que se encontravam
em licença maternidade, médica e estavam afastados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ou entraram em afastamento por algum problema de saúde durante o período de coleta.
Assim, a coleta dos dados foi realizada por meio da entrega dos questionários auto
respondidos aos 247 profissionais atuantes nas cinco UTI´s. Desses, houve devolução de 193
(78,1%) questionários, e mesmo após diversos retornos e esclarecimentos sobre a importância
da participação, 54 (21,9%) dos trabalhadores não devolveram os questionários dentro do prazo
estabelecido, mas não houve recusa direta e imediata de participação.
Desses trabalhadores não respondentes, 22 (40,7%) eram do sexo masculino, quase
metade do número entre os respondentes e 32 (59,3%) eram do sexo feminino. Em relação aos
turnos de trabalho, 3 (5,5%) trabalhavam no turno da manhã, 2 (3,7%) no turno da tarde, 25
(46,3%) no turno diurno e 24 (44,5%) no turno noturno, os dados proporcionalmente são
32
enfermeiros e 46 (85,2%) técnicos de enfermagem, a maioria encontrada entre os
respondentes também são dessa categoria, técnico em enfermagem.
Em relação aos locais de trabalho, os trabalhadores não respondentes pertenciam as
seguintes unidades: 5 (9,3%) da UTI pediátrica, 5 (9,3%) da neurocirurgia, 8 (14,8%) da
unidade coronariana, 27 (50%) da UTI e 9 (16,6%) da UTI crítica. Assim a distribuição dos
dados foi semelhante entre os respondentes, no qual a maioria trabalhava na UTI geral.
Iniciou-se a coleta de dados em Iniciou-setembro e foi finalizada no mês de novembro de 2011.
Os questionários continham os seguintes dados: variáveis sociodemográficas (idade,
escolaridade, tempo no trabalho, renda familiar, filhos), hábitos e estilo de vida (uso e consumo
de fumo, álcool, atividade física) (35), sintomas e doenças diagnosticadas, controle, demanda,
apoio e índice de capacidade para o trabalho, qualidade de vida e sonolência.
3.5- Descrição dos instrumentos
A coleta de dados ocorreu por meio da aplicação quatro de questionários para avaliação de dados sociodemográficos, estilo de vida, aspectos de saúde e trabalho (QSETES) (35); Índice
de Capacidade para o Trabalho (ICT) (13), Avaliação da qualidade de vida com o WHOQOL–
BREF (36); Escala de Sonolência de Epworth (ESS) (37-38).
3.5.1- Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)
O Índice de capacidade para o trabalho (ICT) é um questionário finlandês auto aplicável,
traduzido por Fischer et al e validado por Martinez et al (39) e retrata o conceito que o próprio
trabalhador tem sobre sua capacidade para trabalho (13)(ANEXO 4).
O ICT é composto pelos seguintes itens (13):
1) capacidade para o trabalho atual comparada a trabalhos anteriores (com a melhor de
33
2) capacidade para o trabalho em relação às exigências do trabalho, possui uma questão
sobre a capacidade física e outra sobre a capacidade mental, podendo variar entre um (muito
baixa) e cinco (muito boa), com média entre as duas para o escore final;
3) número atual de doenças diagnosticadas pelo médico;
4) perda estimada ao trabalhador devido a doenças, que varia entre um (na minha
opinião estou totalmente incapacitado para trabalhar) e seis pontos ( não há impedimento/ eu
não tenho doenças), podendo ser assinalada mais que uma alternativa;
5) faltas ao trabalho devido a doenças no último ano, com variação entre um e cinco
pontos;
6) prognóstico próprio sobre a capacidade para o trabalho daqui a dois anos, com três
alternativas;
7) recursos mentais, representada por três questões referentes a vida no geral. Possuem
pontuação entre zero (nunca) e quatro pontos (sempre).
Quadro 1 – Características do Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) (13):
Pontos Capacidade para o trabalho Objetivos
7 - 27 Baixa Restaurar a capacidade para o trabalho
28 - 36 Moderada Melhorar a capacidade para o trabalho
37 - 43 Boa Melhorar a capacidade para o trabalho
34
3.5.2- World Health Organization Quality of Life (WHOQOL–BREF)
O “World Health Organization Quality of Life” (WHOQOL–Bref) (36) é um instrumento
para avaliação da qualidade de vida (QV). Sua versão abreviada é composta por 26 questões
extraídas do WHOQOL-100 que obtiveram os melhores desempenhos psicométricos (36) e é
composta por quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente
(Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida-OMS, 2011) (ANEXO 5), sendo que os quatro
domínios representam cada uma das 24 facetas do instrumento original (WHOQOL- 100).
“São elas: (a) Domínio I – Físico: dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade, atividades da vida cotidiana, dependência de medicação ou de tratamentos e capacidade de trabalho; (b) Domínio II – Psicológico: sentimentos positivos, pensar, aprender, memória e concentração, auto-estima, imagem corporal e aparência, sentimentos negativos, espiritualidade, religião e crenças pessoais; (c) Domínio III Relações sociais: relações pessoais, suporte (apoio) social, atividade sexual; (d) Domínio IV – Meio ambiente: segurança física e proteção, ambiente no lar, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade, oportunidade de adquirir informações e habilidades, participação e oportunidades de recreação/lazer e ambiente físico (poluição, ruído, trânsito, clima e transporte.” (36, 40-41)
3.5.3- Escala de Sonolência de Epworth - ESS
A “Escala de Sonolência de Epworth” publicada por Johns (37), no Hospital de Epworth,
na Austrália e traduzida e validada por Bertolazi (38), descreve a frequência com que se pode
dormir ou cochilar em situações comuns da vida cotidiana.
Consiste de oito questões que avaliam o grau de sonolência, pontuando cada questão
de 0 a 3 de acordo com a menor ou maior probabilidade de ficar sonolento em determinadas
situações comuns, podendo totalizar de 0 a 24 pontos, com menor pontuação indicando menos
35
As seguintes situações são pontuadas pelo respondente de acordo com sua chance de
cochilar em cada uma delas: sentado e lendo, assistindo TV, parado em um lugar público, em
uma viagem de carro com duração aproximada de uma hora como passageiro, deitado para
descansar a tarde quando as circunstâncias permitem, sentado e conversando com alguém,
sentado calmamente após o almoço, no carro parado por alguns minutos no trânsito. E utilizado
o escore para cada situação acima: 0 – Nunca durmo; 1 – pequena chance de dormir; 2 – moderada chance de dormir; 3 – grande chance de dormir.
Quadro 2- Escala de graduação de Sonolência Excessiva (SE) por Nosek (42)
Pontuação Epworth Características da SE
0 a 6 pontos Normal
7 a 9 pontos SE limite
10 a 14 pontos SE leve
15 a 20 pontos SE moderada
Acima de 20 pontos SE
3.5.4- O QSETES (Questionário com dados sociodemográficos, estilo de vida, trabalho e
aspectos de saúde e riscos no trabalho) (35) (ANEXO 3).
3.6- Análise estatística
Os dados foram inseridos em banco de dados no Programa Excel® e utilizado para a
análise estatística dos resultados SPSS (Statical Package for the Social Sciences) versão 20 e
Statistical Analysis Software - SAS (versão 9.1.3). Adotou-se o nível de 5% de significância
36
Os dados foram analisados por frequências absolutas (n) e relativas (%) e inseridas em
tabelas de frequência de variáveis categóricas e estatísticas descritivas (média, desvio padrão,
mínimo, mediana e máxima) e de variáveis contínuas.
Foi aplicado o alfa de Cronbach a fim de verificar a consistência interna dos
instrumentos (ICT, Whoqol-Bref e Sonolência).
Por meio do teste de Shapiro-Wilk verificou-se a ausência da distribuição normal dos
dados, e posteriormente, foram realizados os testes de Spearman afim de testar a existência de
relacionamento entre duas variáveis ordinais, e os testes de Mann-Whitney para verificar a
diferença de dois grupos independentes e Kruskall-Wallis para diferença nas classificações dos
escores de três ou mais grupos independentes entre variável independente nominal e variável
dependente ordinal e análises de regressão linear univariada e múltipla, utilizando o processo
de seleção de stepwise (43).
3.7- Aspectos éticos
Quanto aos aspectos éticos o projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) FCM/ Unicamp e aprovado em abril de 2011, sob parecer CEP: N° 287/2010
(ANEXO 1). Posteriormente, foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do IAMSPE e
aprovado em junho sob parecer CEP: nº 54/2011 (ANEXO 2).
Para a participação no estudo os trabalhadores foram orientados sobre a possibilidade
de recusa e de se retirar da pesquisa em qualquer momento, a proteção e confidencialidade, o
sigilo e anonimato dos dados fornecidos.
Assim, após breve apresentação do tema e dos objetivos da pesquisa, os trabalhadores
foram convidados a participar do estudo mediante assinatura do termo de consentimento livre e
37
4- RESULTADOS
4.1- Algumas características do trabalho no IAMSPE
O trabalho na HSPE é caracterizado predominantemente por jornadas de doze horas de
trabalho diurno e/ou noturno, sendo que alguns profissionais optam por plantões extras de doze
horas perfazendo vinte e quatro horas de trabalho consecutivas.
O período de trabalho diurno é de 12 horas com horário de entrada às 7h e saída às
19h, com uma hora de almoço. Os trabalhadores do período da manhã iniciam a jornada de
trabalho às 7h e concluem às 13h15, os do período vespertino das 13h15 às 19h e do noturno
das 19 às 7h da manhã com uma hora de descanso. Há um acordo interno entre a chefia e
supervisão noturna quanto a disponibilização de três horas destinadas ao descanso, mas por
ser um acordo verbal não há local e mobiliário adequados ao descanso.
Sabe-se que o tempo para o descanso pode ser diferente de um hospital público em
relação a um hospital privado.
A instituição oferece a ceia para os trabalhadores do noturno, que consiste em um
lanche (dois pães recheados, um suco, um iogurte ou achocolatado, uma fruta e uma barra de
cereal ou doce), pois o refeitório está em reforma há um ano.
O regime de trabalho é baseado na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) para
todos os participantes desde estudo. Os benefícios são vale transporte ou direito a
estacionamento do hospital, vale alimentação ou refeição, cesta básica, creche e, plano de
assistência médica, descontada em folha de pagamento.
No que se refere à assistência médica, todos os servidores têm direito a assistência pelo
próprio hospital e por clínicas conveniadas, podendo ser estendido à familiares (pais, filhos)
38
4.2- Dados sociodemográficos, estilo de vida e condições de trabalho
Em relação aos dados sociodemográficos na amostra estudada houve predominância do
sexo feminino (74%) e faixa etária entre 30 e 39 anos (44%). A idade variou entre 21 e 58 anos
sendo a média de 36,7 anos e (DP ±8,1). A maioria residia em São Paulo (62,7%), eram
casados (42,5%), com filhos (53,8%), sendo que destes apenas 24 trabalhadores (11,92%)
possuiam filhos menores que sete anos de idade. A escolaridade variou de ensino fundamental
completo, apenas um trabalhador (0,51%), a pós-graduação completa (17,1%). O nível de
escolaridade predominante foi ensino médio completo (40,9%) (Tabela 1).
Quanto à locomoção para o trabalho o meio de transporte mais utilizado foi ônibus
(39,2%), seguido do carro (24,7%), porém muitos utilizavam mais de um transporte para chegar
ao trabalho (28,3%), utilizando o metrô, ônibus ou trem e o tempo médio de deslocamento foi de
131 minutos (DP ± 76).
O tipo de moradia predominante foi alvenaria (92,75%). Em relação à religião 150 relataram ter uma crença, sendo a religião católica predominante (36,7%). Em relação ao Índice
de massa corpórea (IMC) encontrou-se média de 26 (DP ± 4,7), sendo que apresentaram IMC
entre 18,5 e 24,9 (41%), apresentaram IMC maior igual a 25 (36,8%) e IMC maior ou igual a 30
(16,6%).
Verificou-se por meio do teste de correlação de Spearman que o Whoqol-Bref
apresentou associação significava para as variáveis IMC e tempo de deslocamento. Ou seja,
com o aumento do IMC há uma tendência para diminuição da pontuação do domínio psicológico
(p=0,024). Foi encontrada associação entre o aumento do tempo gasto para ida e volta ao
trabalho com menores escores no domínio de meio ambiente (p= 0,000) e maior a sonolência
39
Por meio do teste de correlação de Spearman encontrou-se associação estatística
significativa negativa entre IMC e ICT (p=0,029) com tendência de diminuição do ICT à medida
que aumenta o IMC.
Tabela 1 – Distribuição das frequências absolutas e relativas dos profissionais do IAMSPE,
segundo variáveis sociodemográficas. São Paulo, 2012 (n=193).
Variáveis Categorias n % Sexo Masculino Feminino 50 143 25,1 74,1 Idade (anos) 21-29 30-39 40-49 ≥ 50 Não consta 45 85 44 14 5 23,3 44,0 22,8 7,2 2,6 Estado civil Casado/companheiro (a) Solteiro Viúvo/Separado/ Divorciado Não consta 82 75 32 4 42,5 38,9 16,6 2,1 Cidade de residência São Paulo Cidades metropolitanas Cidades não metropolitanas
Não consta 121 46 6 20 62,7 23,8 3,1 10,4 Filhos Sim Não Não consta 104 85 4 53,9 44,0 2,1 Escolaridade
Ensino fundamental completo Ensino médio incompleto
Ensino médio completo Ensino superior incompleto
Ensino superior completo Pós-graduação 1 3 79 36 41 33 0,51 1,5 40,9 18,6 21,2 17,1 Total 193 100
40
Foram encontradas três categorias profissionais sendo a maioria técnico de enfermagem
(72%), e o local de trabalho predominante foi a UTI geral com (51,8%) e entre os respondentes
houve predomínio do turno noturno (46,1%). Os dados referentes ao trabalho estão
representados abaixo na tabela 2.
Tabela 2 – Distribuição das frequências absolutas e relativas dos profissionais do IAMSPE,
segundo características do trabalho. São Paulo, 2012 (n=193).
Variáveis Categorias n % Categoria profissional Auxiliar em enfermagem Técnico em enfermagem Enfermeiro 6 139 48 3,1 72,0 24,9 Local de trabalho UTI pediátrica UTI geral UTI Crítica UCO UTI neurocirurgia 16 100 20 26 31 8,2 51,8 10,4 13,5 16,1 Turno de trabalho Manhã Tarde Diurno Noturno 19 10 75 89 9,8 5,2 38,9 46,1 Total 193 100
Em relação a possuir outro emprego 44,6% afirmaram possuir outro vínculo
empregatício, sendo que, 79% em outro serviço de saúde. No HSPE, 48,2% relataram fazer
horas extras. A proporção entre hora extra e horas trabalhadas na semana para os que
trabalhavam somente no IAMSPE foi de 84% e para os trabalhadores que possuíam outro
emprego foi de 68%.
O desemprego ocorreu para 63,2% dos profissionais em alguma etapa da vida
profissional. A faixa salarial predominante foi de R$ 830,00 a R$ 1559,00 (36,8 %) e o valor do
41
A idade média em que se começou a trabalhar foi de 17,2 anos (DP ± 4,5), a média do
tempo de trabalho na área da saúde foi de 9,7 anos com (DP ± 6,7), o tempo médio de trabalho
no IAMSPE foi de 3,2 anos (DP ± 4,6), a média de horas extras na semana foi de 24,3 (DP ±
21,5) e número total de horas trabalhadas na semana com média de 22,4 e (DP ± 51,2), pois
apesar da jornada semanal ser de 30 horas as entrevistas registraram os dias trabalhados
contados a partir do primeiro útil da semana corrente e não os últimos sete dias anteriores à
entrevista (Tabela 3).
Tabela 3– Distribuição dos valores média e desvio padrão dos profissionais do IAMSPE,
segundo as variáveis relacionadas ao trabalho. São Paulo, 2012 (n=193).
Variáveis Média Desvio Padrão
Idade que começou a trabalhar (anos) 17,2 4,5 Tempo de trabalho na área da saúde (anos) 9,7 6,7
Tempo de trabalho no IAMSPE (em anos)
3,2 4,6
Total de hora extra na semana 24,3 21,5
Total de horas trabalhadas na semana 22,4 51,2
Os acidentes de trabalho ocorreram em 8,2% da amostra e, desses, 62,5 % foram com
materiais perfuro cortantes, seguido por quedas 18,7%.
O uso de equipamentos de proteção individual (EPI) foi relatado por 90,7% dos
trabalhadores, sendo as luvas de procedimento as mais citadas, seguidas por máscara e
avental, entre outros.
O trabalho no HSPE foi considerado diferente de outros serviços de saúde para (42,8%)
dos trabalhadores, entre os 155 que responderam a questão. As justificativas citadas pelos
42
menor que outras instituições”, “trabalha-se à vontade”, “o ambiente é desorganizado”, “há
estabilidade e respeito ao funcionário”, “ambiente é bom”, “tem liberdade profissional”, “a
instituição não visa lucros, sendo menos rigorosa com a qualidade do serviço”, “quase não
existe controle de materiais”, “maior autonomia”, “a rotina é diferente”, “existe um treinamento
prévio”, “tem horário de descanso”, “grande rotatividade de profissionais em setores diferentes”,
“hospital é grande com maiores recursos”, “dinâmica é diferente”, “é sistematizado”, “têm
intercorrências”, “mais tranquilo”, “baixo salário”, “desgastante”, “estressante”.
Alguns itens apontados pelos profissionais sobre o que realizam no trabalho foram:
assistência e cuidados integrais (controle de sinais vitais, banho no leito, curativos, auxílio em
procedimentos, transporte de pacientes, anotação de enfermagem, administração de
medicações, coleta de exames, punção de acesso venoso, aspiração de vias aéreas, reposição
de materiais no almoxarifado, higienização de inaladores) gerência e liderança (escala diária de
serviço, visita aos pacientes, avaliação das necessidades dos pacientes, interação com a equipe multiprofissional, supervisão da equipe de enfermagem).
Em relação ao uso de medicamento, a maioria relatou não fazer uso de medicamento
(61,1%), entre os trabalhadores que faziam uso de algum medicamento (37,8%), os mais
citados foram os anticoncepcionais- repositores hormonais e anti-hipertensivos, seguido de
analgésicos e outros.
Na amostra estudada, afirmaram ser tabagistas 9,8%; relataram uso de bebidas
alcoólicas 28,5% e praticavam atividade física 36,3% e realizavam alguma atividade de lazer
93,8%. A presença de dor nos últimos seis meses foi relatada por 60,6% dos trabalhadores e
dor na última semana 54,9%. Em relação à percepção de saúde comparada a outra pessoa da
mesma idade, apenas 9,8% referiram saúde um pouco pior e 1,3% relataram ter saúde pior
43
Tabela 4– Distribuição da equipe de enfermagem segundo aspectos da saúde e estilo de vida.
São Paulo, 2012. Variáveis Respostas n % Tabagismo Sim Não Não consta 19 173 1 9,8 89,6 0,5
Uso de bebidas alcoólicas Sim
Não
55 138
28,5 71,5
Atividade física Sim
Não Não consta 70 116 7 36,3 60,1 3,6
Atividade de lazer Sim
Não
181 12
93,8 6,2
Dor na última semana
Sim Não Não consta 106 83 4 54,9 43,0 2,1
Dor nos últimos seis meses Sim
Não Não consta 117 72 4 60,6 37,3 2,1
Saúde comparada com
outra pessoa da mesma idade
Muito melhor Melhor Igual Um pouco pior Pior Não consta 29 74 62 19 3 6 15 38,3 32,1 9,8 1,3 3,1 Total 193 100
Em relação aos dados sobre exposição à fatores de risco no trabalho, a equipe de
enfermagem referiu estar exposta a ruído e barulho (87,6%), a movimentos repetitivos (86%),
ao trabalho ser estressante (90,7%), a realizarem esforço físico (97,9%), a contado com
materiais perfuro cortantes (97,4%), e ao contato com algum tipo de líquido orgânico (93,3%)
44
Tabela 5- Distribuição da equipe de enfermagem segundo exposição a fatores de risco no
trabalho. São Paulo, 2012 (n=193).
Variáveis Categorias n %
Ruído/ Barulho Sim
Não Não consta 169 11 13 87,6 5,7 6,7
Movimento repetitivo Sim
Não Não consta 166 12 15 86,0 6,2 7,8
Trabalho estressante Sim
Não Não consta 175 7 11 90,7 3,6 5,7
Esforço físico Sim
Não Não consta 189 1 3 97,9 0,5 1,6
Perfuro cortantes Sim
Não Não consta 188 0 5 97,4 0 2,6
Líquido orgânico Sim
Não Não consta 180 2 11 93,3 1 5,7 Total 193 100
4.3- Dados referentes ao Índice de Capacidade para o Trabalho, Qualidade de Vida e Sonolência
O ICT foi calculado como descrito na metodologia, e na tabela 6 estão os resultados referentes
45
Tabela 6– Distribuição das frequências absolutas e relativas da equipe de enfermagem do
segundo a capacidade para o trabalho (ICT). São Paulo, 2012.
Variáveis Categorias n % ICT Ótima Boa Moderada Baixa 55 98 36 3 28,6 51,0 18,7 1,6 Total 192 100
Nota-se que a maioria apresentou boa capacidade para o trabalho (51%), seguida de
ótima (28,6%), moderada (18,7%) e baixa (1,6%). A média do valor do ICT entre os
pesquisados foi de 40,2 e mediana 41 (DP ±5,0), sendo o mínimo 27 e o máximo 49 pontos.
A consistência entre as variáveis componentes do cálculo do ICT foi avaliada por meio
do coeficiente alfa do Cronbach padronizado obtendo 0,69, optou-se por utilizá-lo, pois o cálculo
do escore do ICT utiliza muitos fatores.
Para o instrumento de qualidade de vida Whoqol-Bref encontrou-se alfa de Cronbach =
0,89 e para a escala de sonolência de Epworth = 0,82. Os resultados demonstram valores
aceitáveis de 0,7, de acordo com a literatura (44).
A demanda de trabalho predominante encontrada foi à mista (97,4%), no qual o trabalho
da enfermagem exige esforço físico e mental concomitantemente.
A média da capacidade atual para o trabalho foi 8,1 (DP ± 1,5), sendo o mínimo quatro e
o máximo 10 (a pontuação do instrumento é de zero a 10 pontos). A capacidade física para o
trabalho de acordo com as respostas obteve média 4,0 (DP ±0,8) e capacidade mental média
de 4,0 (DP ± 0,7) e a capacidade total média de 7,7 (DP ± 1,3).
Entre os entrevistados 38,9% relataram a presença de doenças com diagnóstico médico,
46
hipertensão arterial (5,7%), obesidade (5,7%), lesão nos braços e ou mãos (5,2%) e problemas
respiratórios (5,2%). Foi referida a presença de alguma doença na própria opinião, sem o
diagnóstico médico, sendo as mais frequentes: problemas respiratórios (57,5%), lesão nas
costas (16,1%), doenças da parte superior costas ou região do pescoço com dores frequentes
(14%), distúrbios emocionais (11,9%), dor nas costas que se irradiam para as pernas (11,4%).
Nos últimos doze meses a maioria dos sujeitos (77,7%) não esteve ausente do trabalho.
Com relação aos dados relacionados ao ICT encontrou-se que os trabalhadores não
estavam certos ou julgavam impossível manter a capacidade atual para o trabalho em dois anos
(20,1%); verificou-se os trabalhadores referiram sentir-se capaz de apreciar as atividades
diárias às vezes/raramente ou nunca (35,5%), e relataram que as vezes, raramente ou nunca
mantém a capacidade de se sentir ativo e alerta (19,6%). Ter esperança para o futuro as vezes,
raramente ou nunca foi citado por (21,6%) dos trabalhadores (Tabela 7).
Tabela 7– Distribuição das frequências absolutas e relativas dos profissionais de enfermagem,
segundo aspectos relacionados ao ICT. São Paulo, 2012 (n=192).
Variáveis Categorias n %
Capacidade para trabalhar após dois anos Bastante provável Não estou certo
Impossível 153 23 16 78,9 11,9 8,2
Sentir-se capaz de apreciar as atividades diárias
Sempre Quase sempre Ás vezes Raramente/nunca 64 59 54 15 33,0 30,2 27,8 7,7
Capacidade de se sentir ativo e alerta
Sempre Quase sempre Ás vezes Raramente/nunca 71 83 34 4 36,6 42,8 17,5 2,1
Esperança para o futuro
Continuamente Quase sempre Ás vezes Raramente/nunca 94 56 35 7 48,5 28,9 18,0 3,6 Total 192 100
47
Em relação aos domínios do Whoqol-Bref obteve-se no domínio físico média de 54,9
(DP ± 10,3), no domínio psicológico 63,8 (DP ± 12,7), no domínio de relações sociais 68,1 (DP
± 18,5) e no domínio meio ambiente média de 55,1 (DP ± 13,5) (Tabela 8).
Tabela 8 - Média dos escores da avaliação da qualidade de vida da equipe de enfermagem de
UTI´s segundo domínios do WHOQOL-BREF. São Paulo, 2012.
Domínios do WHOQOL-BREF Média Mínimo Máximo
Físico 54,9 (10,3) 28,6 78,6
Psicológico 63,8 (12,7) 25,0 100
Relações Sociais 68,1 (18,5) 8,3 100 Meio Ambiente 55,1 (13,5) 21,9 100
Observa-se menor média de ICT 38,3 (DP ± 5,9) e menor escore de sonolência 8,4 (DP
± 5,5) entre os trabalhadores com 50 anos e (Tabela 9).
Para avaliar comparar a diferença entre as variáveis faixas etária, ICT e sonolência foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis, porém a associação entre essas variáveis não foram
significativas ICT (p=0,094) e Epworth (p=0,489).
Tabela 9- Médias (DP) de faixa etária por ICT, escala de sonolência de Epworth. São Paulo,
2012. Faixa Etária (anos) ICT Epworth 21-29 39,8 (4,9) 10,8 (5,5) 30-39 39,7 (5,4) 10,9 (5,3) 40-49 41,9 (3,9) 10,8 (5,2) ≥ 50 38,3 (5,9) 8,5 (5,5) Total 40,1 (5,0) 10,6 (5,3)
48
Em relação aos domínios de qualidade de vida, houve semelhança da média no domínio
físico entre a faixa etária de 30 a 39 anos 53,3 (DP ± 10,5) e faixa etária maior ou igual a 50
anos 53,3 (DP ± 9,5). A faixa etária de 30 a 39 anos apresentou menor média no escore do
domínio psicológico 62,7 (DP ± 11,7) e domínio de relações sociais 64,6 (DP ± 18,3). A faixa
etária de 21 a 29 anos obteve menor média no escore do domínio meio ambiente 54,1 (DP ±
12,7) (Tabela 10).
Para avaliar a associação entre as variáveis faixas etária e domínios de qualidade de
vida foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis, porém a associação entre essas variáveis não foram
significativas domínio físico (p=0,302), domínio psicológico (p=0,714), domínio relações sociais
(p=0,226), domínio ambiente (p=0,844).
Tabela 10- Médias (DP) de faixa etária por domínios do Whoqol-Bref. São Paulo, 2012.
WHOQOL- Bref Faixa Etária (anos) Domínio Físico Domínio Psicológico Domínio Relações Sociais Domínio Meio Ambiente 21-29 55,0 (10,8) 65,0 (10,0) 72,0 (13,9) 54,1 (12,7) 30-39 53,3 (10,5) 62,7 (11,7) 64,6 (18,3) 54,6 (13,1) 40-49 57,2 (9,2) 64,1 (15,2) 68,4 (19,8) 55,6 (14,4) ≥ 50 53,3 (9,5) 64,0 (18,1) 69,9 (21,6) 56,8 (16,0) Total 54,7 (10,3) 63,5 (12,7) 67,7 (18,0) 54,9 (13,5)
Verificou-se por meio do teste de correlação de Spearman que o Whoqol-Bref
apresentou associação significativa com escore de sonolência. Assim, quanto maior a
pontuação para o Epworth, menor é a pontuação no domínio físico (p=0,020), domínio
49
As menores pontuações de ICT foram encontradas durante o período de trabalho diurno
(manhã, tarde, diurno) em relação ao noturno que obteve a maior média de ICT 40,9 (DP ± 4,7).
O turno da manhã apresentou maior escore de sonolência Epworth 13,2 (DP ± 6,8) (Tabela 11).
A associação entre as variáveis turnos de trabalho e ICT (p=0,530) e sonolência
Epworth (p=0,230) não foram significativos. Foi utilizado o teste estatístico de Kruskal-Wallis.
Tabela 11 – Médias (DP) de turnos por ICT e escala de sonolência de Epworth. São Paulo,
2012.
Turnos ICT Epworth
Manhã 39,6 (5,1) 13,2 (6,8)
Tarde 39,7 (4,9) 8,5 (3,6)
Diurno 39,6 (5,4) 10,6 (5,5)
Noturno 40,9 (4,7) 10,6 (4,9)
Total 40,2 (5,0) 10,7 (5,3)
O turno da manhã obteve menor escore no domínio físico 51,5 (DP ± 10,5), o turno
noturno apresentou menor escore no domínio psicológico 63,4 (DP ± 13,7) e relações sociais
64,5 (DP ± 17,9) e o turno diurno apresentou menor escore no domínio meio ambiente 54,0 (DP
± 13,2) (Tabela 12).
Obteve-se associação entre turnos e o domínio físico (p=0,048) e domínio relações
sociais com (p=0,026) nos demais domínios as associações não foram significativas, domínio
psicológico (p= 0,833) e domínio meio ambiente (p=0,847). Foi utilizado o teste estatístico de