PENSAMENTO CRÍTICO
Aula 5
Profa. Dra. Patrícia Del Nero Velasco Universidade Federal do ABC
IDENTIFICANDO ARGUMENTOS
• As conjunções coordenativas explicativas, cuja função é justamente a de unir duas sentenças, das quais uma é a explicação ou justificação da outra, são indicadores de premissas: desde que, como, porque, pois (como sinônimo de porque), assumindo que, visto que, admitindo que, como consequência de, como mostrado, pelo fato que, dado que, sabendo-se que, supondo que, a razão é que, isto é verdade porque, etc.
• Os indicadores de conclusão são geralmente conjunções
coordenativas conclusivas, as quais unem duas sentenças, das quais
uma é a conclusão ou consequência da outra. Os indicadores de conclusão precedem a sentença conclusiva: portanto, assim, assim sendo, daí, logo, segue-se que, por conseguinte, consequentemente, o qual implica, dessa maneira, o qual acarreta, neste caso, o qual prova que, o qual significa que, de modo que, da qual inferimos que, resulta que, podemos deduzir que, então, pois, etc.
PROPOSTA DE EXERCÍCIO
•Identificar a(s) premissa(s) e
a conclusão dos excertos
filosóficos selecionados.
ARISTÓTELES. Tópicos, VIII, 14, 164b-10. Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 152. – (Os Pensadores).
EXERCÍCIO 1. “Não se deve argumentar com todo
mundo, nem praticar argumentação com o homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por força degenerar. Com efeito, contra um homem que não recua diante de meio algum para aparentar que não foi derrotado, é justo tentar todos os meios de levar a bom fim a conclusão que nos propomos; mas isto é contrário às boas normas. Por isso, a melhor regra é não se pôr levianamente a argumentar com o primeiro que se encontra, pois daí resultará seguramente uma má argumentação.”
MAQUIAVEL. O príncipe, capítulo III. Tradução de Lívio Xavier. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 11. – (Os Pensadores)
EXERCÍCIO 2. “É necessário fazer isso [organizar
colônias], ou ter lá muita força armada. Com as colônias não se gasta muito, e sem grande despesa podem ser feitas e mantidas. [...] Mas conservando, em vez de colônias, força armada, gasta-se muito mais, e tem de ser despendida nela toda a receita da província. A conquista torna-se, pois, perda, e ofende muito mais, porque prejudica todo o Estado com as mudanças de alojamento das tropas. Estes incômodos todos os sentem, e todos por fim se tornam inimigos que podem fazer mal, ainda batidos na própria casa. Por todas as razões, pois, é inútil conservar força armada, ao contrário de manter colônias.”
HOBBES. Leviatã, capítulo XIII. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 74. – (Os Pensadores)
EXERCÍCIO 3. “Pois a natureza dos homens é tal
que, embora sejam capazes de reconhecer em muitos outros maior inteligência, maior eloquência ou maior saber, dificilmente acreditam que haja muitos tão sábios quanto eles próprios; porque veem sua própria sabedoria bem de perto, e a dos outros homens à distância. Mas isto prova que os homens são iguais quanto a esse ponto, e não que sejam desiguais. Pois geralmente não há sinal mais claro de uma distribuição equitativa de alguma coisa do que o fato de todos estarem contentes com a parte que lhes coube.”
DESCARTES. Meditações Metafísicas. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 92. – (Os Pensadores)
EXERCÍCIO 4. “Mas há algum, não sei qual,
enganador mui poderoso e mui ardiloso que emprega toda a sua indústria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele me engana; e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição Eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito.”
PASCAL. Pensamentos, §233. In: FISHER, A. A lógica dos verdadeiros argumentos. Tradução de Rodrigo Castro. São Paulo: Novo Conceito, 2008, p. 03.
EXERCÍCIO 5. “Ou há um Deus cristão ou não
há um Deus cristão. Suponha que você acredita na
existência dEle e que observa uma vida cristã.
Então, se Ele realmente existir, você gozará da
felicidade eterna. Se Ele não existir, você perderá
muito pouco. Mas suponha que você não acredita
na existência dEle e que não observa uma vida
Cristã. Se Ele não existir, você nada perderá, mas
se Ele existir, você será condenado por toda a
eternidade! Então é racional e prudente acreditar na
existência de Deus e observar uma vida cristã.”
ROUSSEAU. Discurso sobre as ciências e as artes. Tradução de Lourdes Santos Machado. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 342-343. – (Os Pensadores)
EXERCÍCIO 6. “Era tradição antiga, levada do
Egito para a Grécia, que o inventor das ciências
fora um deus inimigo do repouso dos homens. [...]
A astronomia nasceu da superstição; a eloquência,
da ambição, do ódio, da adulação, da mentira; a
geometria, da avareza; a física, de uma curiosidade
infantil; todas elas, e a própria moral, do orgulho
humano. As ciências e as artes devem, portanto,
seu nascimento a nossos vícios: teríamos menor
dúvida quanto às suas vantagens, se o devessem a
nossas virtudes.”
KANT. Crítica da razão pura. Tradução de Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 46. – (Os Pensadores))
EXERCÍCIO
7.
“Visto que todas as
representações, tenham como objeto coisas
externas ou não, em si mesmas, como
determinações
da
mente, pertencem ao
estado interno, ao passo que este estado
interno subsume-se à condição formal de
intuição interna e portanto ao tempo, então o
tempo é uma condição a priori de todo
fenômeno em geral.”
HEGEL. Fenomenologia do Espírito. Tradução de Paulo Meneses. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992, p. 31.
EXERCÍCIO 8. “O verdadeiro é o todo. Mas o
todo é somente a essência que se implementa
através de seu desenvolvimento. Sobre o absoluto,
deve-se dizer que é essencialmente resultado; que
só no fim é o que é na verdade. Sua natureza
consiste justo nisso: em ser algo efetivo, em ser
sujeito ou vir-a-ser-de-si-mesmo. [...] É portanto
um desconhecer da razão [o que se faz] quando a
reflexão é excluída do verdadeiro e não é
compreendida como um momento positivo do
absoluto.”
WITTGENSTEIN. Investigações filosóficas, 156. Tradução de José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 68. – (Os Pensadores)
EXERCÍCIO 9. “O uso dessa palavra,
nas
circunstâncias
da
nossa
vida
habitual, nos é naturalmente muito bem
conhecido. Mas o papel que a palavra
desempenha em nossa vida, e, além
disso, o jogo de linguagem no qual a
empregamos, seriam difíceis de expor
mesmo em traços grosseiros.”
FOUCAULT. Em defesa da sociedade. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 45.
EXERCÍCIO 10. “De fato, as disciplinas têm seu discurso
próprio. Elas mesmas são, pelas razões que eu lhes dizia agora há pouco, criadoras de aparelhos de saber, de saberes e de campos múltiplos de conhecimento. Elas são extraordinariamente inventivas na ordem desses aparelhos de formar saber e conhecimentos, e são portadoras de um discurso, mas de um discurso que não pode ser o discurso do direito, o discurso jurídico. O discurso da disciplina é alheio ao da lei; é alheio ao da regra como efeito da vontade soberana. Portanto, as disciplinas vão trazer um discurso que será o da regra; não o da regra jurídica derivada da soberania, mas o da regra natural, isto é, da norma.”