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INCLUSÃO DIGITAL: ARTE, EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA

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Academic year: 2021

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257 INCLUSÃO DIGITAL: ARTE, EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA

ENSINO DE ARTE: TRANSDISCIPLINARIDADE, CIDADANIA E INCLUSÃO

Shirleine Angelo Gomes Diego dos Passos Miranda (UFRJ -Universidade Federal do Rio de Janeiro) RESUMO:

O presente estudo propõe uma reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem em Artes no contexto de “violência”, exemplificando com as nossas vivências em projetos de extensão da UFRJ. Buscando uma melhor compreensão sobre o tema, iniciamos o artigo com um breve pensamento sobre a família e a escola através da perspectiva aberta por Paulo Freire. Deste modo, o nosso propósito é convidar o leitor para uma análise mais densa sobre relação arte e sociedade, tendo em vista uma abordagem que procura destacar a sua “função social”, no sentido da possibilidade de a encararmos como um fator de libertação do sujeito “oprimido”.

PALAVRAS-CHAVE: Escola ; Arte-Educação ;Violência

1. Considerações iniciais

O discurso do educador Paulo Freire sobre a educação constitui uma verdadeira concepção política do ato de educar, que adota como princípios fundamentais a valorização do cotidiano do aluno e a construção de práxis educativas que estimulem a leitura crítica do mundo. Em sua visão, a escola não é apenas uma instituição social responsável por transmitir conhecimentos, mas um centro de cultura aberta ao mundo, sendo influenciada pela sociedade.

Por isso, o pensamento de Paulo Freire serve como ponto de partida para o entendimento do princípio dessa pesquisa, desencadeada por questões relacionadas ao ensino da arte na escola, à educação e à violência dentro e fora da escola, causada e sofrida por todos. Observando com acuidade a postura do Estado brasileiro diante dessa realidade, convidamos o leitor a refletir sobre o hiato que há entre a escola que temos e a escola que queremos, dando ênfase ao quadro visto em grande parte das escolas localizadas nos bairros de classes populares da Cidade do Rio de Janeiro.

A reflexão sobre o papel da família na escola e na sociedade se nutre do desejo pessoal de contribuir para a realização de uma escola democrática e libertadora, e acreditamos estar em ambas a chave para essa conquista.

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258 Dessa forma, acreditaremos encontrar os caminhos necessários para o êxito no processo de ensino-aprendizagem, junto com uma boa relação entre professor e aluno , aluno e aluno.

Como parte integrante desse processo está a Arte-Educação, um processo de aprendizagem que possibilita ao educando – incluindo os que vivem em um ambiente de opressão - participar de novas experiências, alcançando assim a auto-realização. Ao mesmo tempo, que aprendem a contribuir para a construção de uma sociedade melhor. Esclarecendo a importância da arte na escola Ana Mae Barbosa explica:

“Acredita-se que Arte não é apenas uma consequência de modificações culturais, porém o instrumento provocador de tais modificações e, portanto, baseia-se principalmente em pensamento divergente, enquanto que Educação, pela sua natureza conservativa, baseia-se na convergência do pensamento.” (BARBOSA, 1985, p 11).

Este trabalho está fundamentado em uma visão libertária que tem como propósito pensar os possíveis problemas que os futuros professores de artes visuais encontrão, provavelmente na sua prática escolar tanto nas escolas públicas como também nas escolas particulares de todo o País, objetivando refletir sobre as nossas práticas e buscar juntos soluções para reverter esse quadro apresentado na educação.

2. A família na escola

Observando a tirinha acima e pensando a família através do seu conceito sociológico, vemos que ela representa um grupo social primário que influencia e é

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259 influenciada por outras pessoas e instituições. É importante considerarmos que ela é uma das bases fundamentais para a formação e o desenvolvimento ético e moral do indivíduo, visto que, é a partir dela que o sujeito irá adquirir seus primeiro hábitos e costumes, formará conceitos, analisará e reproduzirá atitudes. Sendo assim, é por essa aliança social que outras alianças serão formadas, como a da sociedade escolar.

Mesmo diferentes, família e escola devem caminhar juntas, buscando um relacionamento produtivo e solidário. Mas, como nas demais relações, existem complexidades a serem superadas, retrocessos e avanços, erros e acertos. Duas instituições, ambas possuindo tarefas semelhantes como a de educar a criança para a vida, por isso, essa parceria se torna fundamental para alcançar o êxito buscado nesse processo de ensino-aprendizagem que irá se perpetuar não só por toda a vida humana.

3. Pensando Paulo Freire

Para este pensador o processo educativo nunca seria um ato politicamente neutro, mas sim, uma ação cultural que resultaria numa relação de domínio ou de liberdade entre os seres humanos. Quando escreveu a “Pedagogia do Oprimido” mostrou qual é o objetivo maior da educação: conscientizar o aluno. Isso significa, que em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade,seria importante levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. Uma pedagogia que libertasse os oprimidos deveria estar estruturada em bases de intenso diálogo entre professores e alunos. Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava a educação onde o professor era o depositante e o aluno o depositário, pois quem é educado desta forma torna-se alienado não sendo capaz de ler o mundo de maneira autônoma. É importante salientar que, trata-se de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos. .Cabe ao professor um comportamento provocador de situações, animador cultural em um ambiente em que todos aprendam em comunhão.

Para Freire ”ninguém ensina a ninguém, mas as pessoas não aprendem sozinhas”. Essas idéias serviram de base para a atual “ escola cidadã “ que

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260 prepara o aluno para tomar decisões, e adverte para a necessidade de cada escola ter um projeto pedagógico que reconheça a cultura local. Neste contexto todos têm voz dentro da escola, ele se dá na democratização da educação, o que seria a inclusão do cidadão. A ideia é trabalhar com palavras geradoras que estão fazendo parte do interesse de todos, e dessa forma, valorizar o cotidiano do aluno e a ação educativa.

Enfatizando que a Escola não se limita a ser uma instituição social responsável por transmitir conhecimentos, e/ou apresentar informações, nós conduziremos essa breve reflexão no sentido de pensá-la como algo muito maior e abrangente, um centro de cultura aberto ao mundo, recebendo a influência na sociedade.

Trata-se de uma proposta emancipadora, uma “Educação popular” voltada para todos, não omitindo-se quanto à Educação de adultos, sendo que para estes em particular e para todos é a verdadeira Pedagogia da Esperança.

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4. A função da Arte na sociedade e na escola

Em 1995 foram encontrados durante escavações de um acampamento neandertal fragmentos do fêmur de um urso do que seria o primeiro instrumento melódico que se tem se notícia.

Fatos como estes instigam a reflexão que mesmo antes de desenvolver e dominar complexos mecanismos de comunicação através da dicção hoje vigentes e estruturarmos a vida em sociedade como hoje é conhecida, o homem já sentia a necessidade de expressar-se através da arte.

A arte é questionadora, conscientizadora, transformadora e flui a espreita de nossos pensamentos, a fim de expressar algo que seria vago para expressar em palavras ou definições. Através da arte pessoas encontram refúgio para suas aflições e vêem a real possibilidade de mudar a realidade em se inserem; seja de forma terapêutica ou a fim de fomentar discussões pertinentes a seus interesses ou de interesse comum à sociedade.

Pensando em complementar o sistema público educacional do Estado do Rio de Janeiro através da arte, alunos de graduação juntamente com parte do corpo docente de graduação da UFRJ; fundaram a cinco anos o grupo GEM (Grupo de

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261 Educação Multimídia), onde através da inclusão digital são trabalhados os mais variados temas através de animações, vídeos, documentários, e reportagens criadas e editadas pelos próprios alunos do ensino médio e fundamental.

Com o passar dos anos pode-se constatar que o desempenho acadêmico de alunos que se envolveram com projetos extracurriculares do GEM foi mais satisfatório do que alunos que continuaram apenas com as aulas normais em sala de aula.

A intenção do grupo GEM é possibilitar que cada vez mais pessoas possam mudar a realidade de seu aprendizado através de processos empíricos sinestésicos extracurriculares, possibilitando não só a inclusão digital de alunos oriundos da rede pública de ensino, mas também mostrar-lhes como a arte pode ser utilizada como ferramenta profissional e transformadora.

5. As violências e suas causas

Nos últimos anos muito se tem falado de violência, até porque esta passou a fazer parte do nosso cotidiano, o que explica o interesse em discuti-la. Esta motivação é comprovada em pesquisa realizada recentemente pelos meios de comunicação, sobre os problemas que mais inquietam a população. A violência, entre outros, foi destacada por pessoas de diferentes camadas sociais, como um dos principais problemas, principalmente aquela que atinge a vida e a integridade física dos indivíduos. Diversos são os fatores que contribuem para o aumento da violência nos meios sociais e educacionais, diferentes esferas sociais encontram-se dentro de sala de aula gerando conflitos e discriminação, agressões verbais e físicas. O dialogo entre escola, família e sociedade se faz necessário a fim de se chegar a um consenso sobre o que é ou não relevante no que se refere a educação sem violência.

6. Como a Arte na escola pode ser um fator de diminuição da violência ?

Tendo em vista que a formação educacional do cidadão é dever da sociedade como um todo, cada vez mais é necessário fomentar discussões entre sociedade e escola para melhorias no âmbito educacional.

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262 Na maioria das vezes a violência escolar é tratada de forma omissa ou velada por pais, professores e profissionais de educação por ser muito difícil transformar determinados tipos de comportamentos oriundos de convivência com os pais e com o meio que cercam as crianças e adolescentes.

É preciso trabalhar de forma objetiva e concreta acerca do que se pode realmente ser feito para diminuir índices -de violência tão alarmantes nos dias de hoje. Assim como no esporte, a arte também pode atuar como um caminho de inserção social, não apenas para extravasar possíveis ações violentas inesperadas futuramente, mas também para se trabalhar conceitos, dinâmicas variadas em grupo a fim de gerar afinidade na relação alunos X professores , alunos X alunos e alunos, professores e sociedade.

É importante lembrar que para alcançar tais objetivos não deve-se elaborar receitas prontas, mas analisar criteriosamente cada situação a fim de diagnosticar qual a melhor solução e discuti-las abertamente, entre sociedade e escola, para poder somar entre pais, alunos e educadores em pró da educação. Por isso, para que a Arte na escola possa ser um fator de diminuição da violência, propomos um trabalho que aborde o tema de maneira interdisciplinar, elaborando um Projeto Político e Pedagógico que os alunos e toda a comunidade em torno da escola também tenham voz para buscar soluções próprias para esquivar-se da violência.

Nas aulas de Artes, com técnicas de expressão corporal poderá ser trabalhado sensações de insegurança que a violência traz, também como refletir as suas diversas faces. Dessa forma, objetivamos alcançar durante esse processo a atenção dos alunos para o tema, e como recurso, sugerimos músicas de diversos estilos, conversa sobre os pensamentos que elas trazem. Auto massagens para se perceber como indivíduo, trabalhar o olhar no outro e em si. No audiovisual, o tema pode ser representado com o cinema de animação, gerando espaço para as reflexões sobre questões geradoras de violência.

7. Considerações finais

Este registro formal só se valida pela possibilidade de ampliar diálogos e pela esperança de suscitar novos caminhos, a partir de uma percepção mais crítica da Arte na Escola. Não resta dúvida que para se conquistar êxito escolar em um

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263 ambiente de violência faz-se necessário novas formas de ensinar e apreciar arte de modo que o aluno reflita sobre a sua vivência e de como ele tem o poder de ser autor da sua própria história de vida.

REFERÊNCIAS:

BARBOSA, Ana Mãe. A imagem no ensino da arte: anos oitenta. São Paulo: Perspectiva,1999.

_______________. Teoria e prática da educação artística. São Paulo: Cultrix, 1985.

BUORO,Anamelia Bueno. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola. Cortez. São Paulo, 2001.

FREIRE,Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro,Paz e Terra,1983. ____________. Pedagogia da Autonomia. São Paulo : Paz e Terra, 2009.

____________. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. São Paulo : Paz e Terra, 2008..

PCNs Arte -Parâmetros curriculares nacionais/Secretaria da Educação fundamental. 2 ed. Rio deJaneiro: DP&A, 2000.

FERRAZ, Maria Heloísa & Fusari, Maria F. De Rezende. Arte na Educação Escolar. Cortez, São Paulo. 1992

_________. Metodologia do Ensino de Arte. Cortez. São Paulo, 1993

SHAPIRO, Harry L. Homem, cultura e sociedade/ organizador. Martins Fontes: São Paulo , 1982.

Saviani, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas.São Paulo: Autores Associados, 2001

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