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Análise numérica e metodologias de calibração de sistemas de abastecimento de água

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Academic year: 2021

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Joana Sousa

Martins Soares

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Sistemas de Abastecimento de ´

Agua

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Joana Sousa

Martins Soares

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alise Num´

erica e Metodologias de Calibra¸

ao de

Sistemas de Abastecimento de ´

Agua

Numerical Analysis and Calibration Methods for

Water Supply Systems

Disserta¸c˜ao apresentada `a Universidade de Aveiro para cumprimento dos re-quisitos necess´arios `a obten¸c˜ao do grau de Mestre em Engenharia Mecˆanica, realizada sob a orienta¸c˜ao cient´ıfica do Doutor Ant´onio Gil D’Orey de An-drade Campos, Professor Auxiliar do Departamento de Engenharia Mecˆanica da Universidade de Aveiro.

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presidente Professor Doutor Jo˜ao Alexandre Dias de Oliveira Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro

Professor Doutor Jos´e de Jesus Figueiredo da Silva Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro

Professor Doutor Ant´onio Gil D’Orey de Andrade Campos Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro

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orientou neste trabalho e pela constante motiva¸c˜ao, apoio e dedica¸c˜ao. `

A Bernardete, por todo o suporte, orienta¸c˜ao e dedica¸c˜ao que me facultou ao longo da realiza¸c˜ao deste trabalho.

Aos meus colegas e amigos, Lu´ıs e Marcelo, por toda a for¸ca, ˆanimo e constante encorajamento.

Aos meus pais, pelo apoio incondicional.

Ao Jo˜ao, pela presen¸ca quer nas boas quer nas m´as fases de realiza¸c˜ao desta disserta¸c˜ao, pelo apoio e compreens˜ao.

Por fim, agrade¸co a todos os meus amigos e colegas pelas palavras de apoio e as sugest˜oes de melhoria que foram dadas.

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funcionamento destes sistemas, quando se pretende evitar os processos tra-dicionais de inspe¸c˜ao direta da rede. A simula¸c˜ao, tamb´em se torna muito ´

util na fase de projeto dos sistemas, ou mesmo, numa perspetiva de imple-menta¸c˜ao de medidas de melhoria das redes j´a existentes.

Nesta disserta¸c˜ao desenvolve-se uma metodologia autom´atica de calibra¸c˜ao de modelos num´ericos de sistemas de abastecimento de ´agua tendo em conta dados medidos da rede em funcionamento, sendo estes valores de press˜ao, n´ıveis de reservat´orios e caudais de ´agua. Desta forma, s˜ao obtidos modelos fi´aveis que reproduzem o funcionamento do sistema, permitindo estudar novas solu¸c˜oes a implementar nestes sistemas.

A metodologia apresentada consiste na minimiza¸c˜ao de uma fun¸c˜ao-objetivo atrav´es de t´ecnicas de otimiza¸c˜ao. Esta, por sua vez, para uma rede de abastecimento de ´agua, contabiliza a diferen¸ca entre press˜oes, n´ıveis e cau-dais medidos e calculados pelo programa de simula¸c˜ao EPANET 2.0. A minimiza¸c˜ao da fun¸c˜ao ´e obtida atrav´es da varia¸c˜ao de parˆametros selecio-nados, caracter´ısticos do sistema de abastecimento, que exercem influˆencia nos resultados obtidos por simula¸c˜ao hidr´aulica no programa EPANET. Os parˆametros selecionados s˜ao, assim, coeficientes relativos `a rugosidade das condutas, um coeficiente relativo a perdas de carga localizada, um coefici-ente relativo `a eficiˆencia das bombas hidr´aulicas e dois coeficientes relativos a perdas de ´agua por vazamento. Relativamente ao processo de otimiza¸c˜ao, o algoritmo selecionado para integrar a metodologia autom´atica de cali-bra¸c˜ao foi o m´etodo Trust Region Reflective. Este ´e um m´etodo cl´assico de otimiza¸c˜ao com restri¸c˜oes, baseado no gradiente, do tipo m´ınimos quadra-dos.

Nesta disserta¸c˜ao, utilizaram-se dois exemplos distintos de sistemas de abas-tecimento de ´agua para valida¸c˜ao. Em ambos os casos utilizaram-se valores “reais”obtidos virtualmente, conhecendo-se a priori os parˆametros finais desejados. Nestes exemplos, a metodologia autom´atica de calibra¸c˜ao apre-sentada neste trabalho permitiu obter valores de press˜ao, n´ıveis de tanques e caudais nas condutas da rede semelhantes aos valores reais, demonstrando a sua efic´acia. No entanto, nem todos os parˆametros de calibra¸c˜ao finais correspondem aos parˆametros desejados, mostrando que a fun¸c˜ao-objetivo cont´em m´ultiplos m´ınimos locais.

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the cases that is intended to avoid the traditional processes of direct inspec-tion of the network. The simulainspec-tion is also very useful in the design stage of those systems, or even for testing the implementation of some improvement measures in the existing networks.

In this thesis, a methodology for the automatic calibration of the models that simulate the water supply networks, based on real data measured in the networks such as pressures, reservoir’s levels and flows, is developed. Thus, more reliable models for reproducing the real behaviour of the networks are achieved, allowing to study the implementation of new solutions.

The presented methodology uses optimization techniques to minimize a spe-cific objective function. Such function accounts for the difference between measured and calculated pressures, reservoirs’ levels and flows of a water supply system. The calculated data is obtained from the simulation of the network using EPANET 2.0. The minimization of the function is obtai-ned by variation of selected parameters characteristic of the supply system, which influence the results computed by the EPANET. Such parameters are pipe roughness coefficients, minor head loss coefficients, an hydraulic pump speed factor for each pump and pipe leakage coeficients. The selec-ted optimization method is the Trust Region Reflective method, a classic gradient-based algorithm for nonlinear constrained optimization problems. In this thesis, two different examples of water supply systems are used in order to validate the presented methodology. In both cases, virtual data are considered by knowing in advance the desired final parameters. The calibration results showed that the pressure, the flow rate and the reservoir levels obtained are significantly similar to the real values of the network. However, the results for some of the parameters were not the expected ones, demonstrating the existence of multiple local minimums in the considered objective function.

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Conte´udo i

Lista de Figuras iii

1 Introdu¸c˜ao 1 1.1 Enquadramento . . . 1 1.2 Objetivos . . . 2 1.3 Guia de Leitura . . . 2 2 Revis˜ao da Literatura 5 2.1 Introdu¸c˜ao . . . 5 2.1.1 A ´Agua no Mundo . . . 6

2.1.2 Consumo de ´Agua em Portugal . . . 6

2.2 Sistemas de Abastecimento de ´Agua P´ublicos . . . 10

2.3 Simula¸c˜ao Hidr´aulica . . . 13

2.3.1 Simuladores Hidr´aulicos . . . 14

2.3.2 Modela¸c˜ao Matem´atica com EPANET . . . 15

2.4 Otimiza¸c˜ao . . . 18

2.4.1 M´etodos Cl´assicos . . . 19

2.4.2 M´etodos Heur´ısticos . . . 20

2.5 Calibra¸c˜ao de Sistemas de Distribui¸c˜ao de ´Agua . . . 20

2.5.1 Estado-da-arte . . . 21

3 Metodologia e Implementa¸c˜ao 24 3.1 Abordagem de Calibra¸c˜ao . . . 24

3.2 Formula¸c˜ao do Problema de Otimiza¸c˜ao . . . 25

3.2.1 Algoritmo de Otimiza¸c˜ao Selecionado . . . 27

3.3 Implementa¸c˜ao da Abordagem Proposta . . . 30

3.3.1 Calibra¸c˜ao das Perdas de Carga Hidr´aulica e Localizada . . . 30

3.3.2 Calibra¸c˜ao das Bombas Hidr´aulicas . . . 30

3.3.3 Calibra¸c˜ao das Fugas de ´Agua por Vazamento . . . 31

3.3.4 Processo de Otimiza¸c˜ao . . . 33

4 Valida¸c˜ao e Resultados 36 4.1 Sistema de Abastecimento Geral Simplificado . . . 36

4.1.1 Modela¸c˜ao da Rede . . . 36

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4.2 Sistema de Abastecimento Malhado . . . 46

4.2.1 Modela¸c˜ao da Rede . . . 46

4.2.2 Obten¸c˜ao de Dados Reais/Medidos da Rede . . . 49

4.2.3 Vari´aveis de Decis˜ao do Projeto . . . 49

4.2.4 Resultados da Calibra¸c˜ao . . . 49

5 Considera¸c˜oes Finais 57 5.1 Conclus˜ao . . . 57

Bibliografia 59 Apendices 63 A 63 A.1 C´alculo dos Coeficientes das F´ormulas de Perda de Carga . . . 63

A.2 Resultados do Processo de Calibra¸c˜ao da Rede Malhada . . . 64

A.3 Excertos de C´odigo Desenvolvido . . . 66

A.3.1 Programa Principal . . . 66

A.3.2 Excerto do C´odigo Desenvolvido para o C´alculo de Perdas de ´Agua por Vazamento . . . 67

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2.1 Quantidade global de ´agua utilizada anualmente pelos diferentes setores

con-sumidores, para as diferentes regi˜oes do mundo [3]apud [5]. . . 6

2.2 Evolu¸c˜ao do servi¸co de abastecimento de ´agua em Portugal [6]. . . 7

2.3 Varia¸c˜ao da procura anual de ´agua entre os anos de 2000 e 2009 [9]. . . 7

2.4 Volume distribu´ıdo nas redes, por setor de utiliza¸c˜ao final da ´agua [9]. . . 8

2.5 Varia¸c˜ao da ineficiˆencia nacional no uso da ´agua entre os anos de 2000 e 2009 [9]. 9 2.6 Tipos de configura¸c˜ao de uma rede de abastecimento de ´agua. . . 11

2.7 Exemplo de um modelo de um SAA obtido pelo simulador EPANET 2.0. . . 15

2.8 Representa¸c˜ao dos extremos de uma fun¸c˜ao. . . 19

3.1 Esquema representativo da metodologia desenvolvida para calibra¸c˜ao. . . 25

3.2 Exemplo (a) da constru¸c˜ao da matriz de conectividades para 5 links de uma rede e (b) respetivo tra¸cado da rede. . . 31

3.3 Interface gr´afica do programa EPANET para a fixa¸c˜ao de padr˜oes de consumo. 32 3.4 M´etodo utilizado para a cria¸c˜ao de novos padr˜oes de consumo associados a perdas de ´agua por vazamento na rede. . . 33

3.5 Diagrama representativo de todos os ficheiros executados e sua respetiva ordem. 35 4.1 Tra¸cado da rede do sistema de abastecimento simplificado. . . 36

4.2 Curva caracter´ıstica da bomba hidr´aulica. . . 38

4.3 Evolu¸c˜ao da fun¸c˜ao objetivo ao longo do processo de otimiza¸c˜ao. . . 41

4.4 Evolu¸c˜ao da fun¸c˜ao objetivo a cada avalia¸c˜ao da mesma. . . 41

4.5 Procura pelo valor ´otimo de cada vari´avel de decis˜ao, efetuada pelo algoritmo de otimiza¸c˜ao. . . 42

4.6 Valores iniciais, reais e calibrados obtidos para a varia¸c˜ao da press˜ao do n´o J 3, ao longo de 24h. . . 43

4.7 Valores iniciais, reais e calibrados obtidos para a varia¸c˜ao dos n´ıveis de ´agua do reservat´orio tank, ao longo de 24h. . . 43

4.8 Valores iniciais, reais e calibrados obtidos para a varia¸c˜ao do caudal de ´agua na conduta P1, ao longo de 24h. . . 44

4.9 Valores reais e calculados das perdas de ´agua associadas ao sistema de abaste-cimento prim´ario. . . 45

4.10 Tra¸cado da rede de distribui¸c˜ao de ´agua do sistema malhado. . . 46

4.11 Evolu¸c˜ao da fun¸c˜ao objetivo ao longo do processo de otimiza¸c˜ao. . . 50

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iterativo. . . 51 4.14 Valores iniciais, reais e calibrados obtidos para a varia¸c˜ao da press˜ao do n´o J8,

ao longo de 24h. . . 51 4.15 Valores iniciais, reais e calibrados obtidos para a varia¸c˜ao dos n´ıveis de ´agua

do reservat´orio tank, ao longo de 24h. . . 52 4.16 Valores iniciais, reais e calibrados obtidos para a varia¸c˜ao do caudal de ´agua

na conduta P7, ao longo de 24h. . . 52 4.17 Evolu¸c˜ao dos parˆametros de rugosidade, C, durante o processo de calibra¸c˜ao. 53 4.18 Evolu¸c˜ao dos coeficientes de perda de carga localizada, kv, durante o processo

de calibra¸c˜ao. . . 53 4.19 Evolu¸c˜ao dos coeficientes de eficiˆencia das bombas hidr´aulicas, ω, durante o

processo de calibra¸c˜ao. . . 54 4.20 Evolu¸c˜ao dos parˆametros associados a perdas de ´agua por vazamento, β e α,

durante o processo de calibra¸c˜ao, para metade das condutas do sistema. . . . 55 4.21 Evolu¸c˜ao dos parˆametros associados a perdas de ´agua por vazamento, β e α,

durante o processo de calibra¸c˜ao. . . 55 4.22 Perda de ´agua m´edia, contabilizada ao longo de 24 horas, para cada conduta

da rede de abastecimento. . . 56 A.1 Diagrama de Moody - Factor de fric¸c˜ao de Darcy-Weisbach em fun¸c˜ao do

(17)

Introdu¸

ao

Neste cap´ıtulo ´e feito um enquadramento das principais motiva¸c˜oes que levaram ao surgimento do tema da presente disserta¸c˜ao. S˜ao apresentadas as principais metas a alcan¸car e a sua importˆancia. O cap´ıtulo termina com um breve resumo do conte´udo apresentado.

1.1

Enquadramento

A ´agua, como recurso essencial `a vida, tem um enorme valor econ´omico, social e ambiental. Se, no passado, os povos ancestrais necessitavam de se fixar perto de fontes de ´agua naturais de forma a terem acesso a este recurso, atualmente, as popula¸c˜oes fazem chegar ´agua at´e si atrav´es de sistemas de abastecimento preparados para suprir todas as suas necessidades.

Nos sistemas de abastecimento de ´agua ´e necess´ario despender energia de forma regular para a acumular sob a forma de energia potencial e utiliz´a-la quando necess´ario. O exemplo mais imediato ´e o uso das torres de press˜ao para cria¸c˜ao de press˜ao na rede ou dos reser-vat´orios para abastecimento de popula¸c˜oes. Neste ´ultimo exemplo, a ´agua ´e enviada para um ponto de cota mais elevada por meio de bombas e, quando necess´ario, a ´agua, atrav´es da energia potencial grav´ıtica, toma o rumo para o qual ´e guardada nas torres ou tanques de abastecimento.

Nos sistemas atuais ´e tomado como imperativo a garantia de existˆencia de uma reserva m´ınima de ´agua para qualquer eventualidade. Assim, a ´agua ´e bombeada para as torres ou tanques de abastecimento quando o n´ıvel atinge o valor m´ınimo. Contudo, esta a¸c˜ao n˜ao tem em conta o custo energ´etico que ´e dependente de um ciclo hor´ario, o que permite minimizar substancialmente os gastos com o consumo de energia. Do ponto de vista econ´omico torna-se muito aliciante definir um padr˜ao de funcionamento das bombas que tenha em conta a varia¸c˜ao do custo de energia ao longo do dia, assim como dos padr˜oes de consumo das popula¸c˜oes.

Quando o sistema de abastecimento de ´agua cont´em apenas um dep´osito de ´agua, esta tarefa ´e de baixa dificuldade pois o sistema comporta-se quase como linear e o n´umero de vari´aveis a controlar/monitorizar ´e de n´umero reduzido. No entanto, quando os sistemas apresentam ramifica¸c˜oes e v´arios equipamentos de bombagem e reservat´orios, a minimiza¸c˜ao

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dos recursos energ´eticos apresenta-se como uma tarefa de elevada complexidade, dado o grande n´umero de vari´aveis a controlar e o poss´ıvel comportamento n˜ao-linear do sistema.

A tarefa de encontrar a solu¸c˜ao de controlo mais eficiente para um sistema de abasteci-mento de ´agua (SAA) pode tornar-se muito complexa e desmedida caso se utilize o pr´oprio sistema real de abastecimento de ´agua. Adicionalmente, uma an´alise experimental utilizando o SAA poder´a por em causa o sistema, que, geralmente, ´e cr´ıtico para as popula¸c˜oes. Deste modo, a utiliza¸c˜ao de modelos num´ericos ´e uma alternativa eficiente e capaz desde que estes consigam reproduzir os fen´omenos existentes nos SAAs reais. Contudo, estes modelos, que s˜ao constru´ıdos baseados na teoria hidr´aulica, para reproduzirem os sistemas reais, tˆem de ser calibrados.

O sucesso da aplica¸c˜ao de modelos num´ericos `a an´alise de sistemas de abastecimento de ´

agua reside na precis˜ao e qualidade da informa¸c˜ao de entrada de todo o modelo. Se alguns parˆametros s˜ao pass´ıveis de ser determinados com precis˜ao, outros s˜ao de natureza desco-nhecida, que s´o o processo de calibra¸c˜ao permite obter. O processo de calibra¸c˜ao apresenta, ainda, a vantagem de poder detetar inconformidades no decorrer do abastecimento de ´agua, tais como perdas de ´agua por vazamento.

A calibra¸c˜ao de modelos num´ericos ´e um problema usual em engenharia. Por´em, no caso de modelos num´ericos de sistemas hidr´aulicos, n˜ao existem metodologias totalmente estabelecidas. Atualmente, a calibra¸c˜ao ´e feita geralmente para cada caso e de forma emp´ırica.

1.2

Objetivos

Neste trabalho efetua-se um levantamento dos parˆametros inerentes `a calibra¸c˜ao de modelos de sistemas de abastecimento de ´agua e de que forma estes exercem a sua influˆencia sobre os modelos num´ericos te´oricos existentes.

Assim, prop˜oe-se a an´alise e o desenvolvimento de uma metodologia autom´atica de cali-bra¸c˜ao de modelos num´ericos, utilizando dados medidos do funcionamento do sistema. Desta forma, um modelo calibrado permitir´a obter melhores resultados no que respeita `a simula¸c˜ao do comportamento real do escoamento da ´agua nas respetivas condutas.

Tendo sempre em vista a motiva¸c˜ao de poupar recursos energ´eticos e diminuir os cus-tos financeiros inerentes ao funcionamento das redes de abastecimento de ´agua, pretende-se desenvolver um programa que permita uma aplica¸c˜ao r´apida e acess´ıvel dos diferentes tipos de metodologia de otimiza¸c˜ao a qualquer tipo de rede, fornecendo os valores dos diversos parˆametros necess´arios `a an´alise de bombeamento da ´agua calibrados.

Ao encontro deste objetivo, prop˜oe-se tamb´em o desenvolvimento de uma ferramenta num´erica que valide a metodologia desenvolvida. Esta ferramenta ir´a utilizar o simulador hidr´aulico EPANET.

1.3

Guia de Leitura

O presente documento ´e constitu´ıdo por cinco cap´ıtulos. O primeiro cap´ıtulo, que se divide em trˆes sec¸c˜oes, inicia-se com uma introdu¸c˜ao ao tema a abordar, explicitando a sua importˆancia e atualidade atrav´es do enquadramento do mesmo. De seguida, s˜ao referidos os principais objetivos e ambi¸c˜oes a atingir e, por fim, surge esta sec¸c˜ao que pretende elucidar o leitor da forma como se encontra organizado o presente documento, com breves descri¸c˜oes do conte´udo de cada cap´ıtulo que permitam uma melhor orienta¸c˜ao de leitura.

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O segundo cap´ıtulo, que se encontra dividido em cinco sec¸c˜oes, ´e dedicado `a carate-riza¸c˜ao detalhada do tema a abordar, assim como `a defini¸c˜ao dos principais conceitos ineren-tes ao ˆambito do tema desenvolvido. Apresenta uma primeira sec¸c˜ao referente aos consumos energ´eticos relacionados com o abastecimento de ´agua em Portugal e no mundo, assim como diversas quest˜oes relacionadas com a ineficiˆencia dos sistemas a operar atualmente. Na se-gunda sec¸c˜ao, s˜ao caracterizados os sistemas de abastecimento de ´agua no seu todo, desde os componentes que o constituem, `as equa¸c˜oes hidr´aulicas que os caracterizam. A terceira sec¸c˜ao ´e dedicada ao conceito de simula¸c˜ao hidr´aulica e aos simuladores que a permitem efe-tuar. Segue-se a sec¸c˜ao que caracteriza o conceito de otimiza¸c˜ao e que clarifica a utilidade do mesmo no trabalho desenvolvido. A ´ultima sec¸c˜ao ´e dedicada ao processo de calibra¸c˜ao, em particular, onde consta uma revis˜ao da literatura, que fornece um ponto da situa¸c˜ao em que se encontra o estado-da-arte.

O terceiro cap´ıtulo apresenta a metodologia de calibra¸c˜ao desenvolvida, assim como todos os conceitos em que esta assenta. Est´a divido em trˆes sec¸c˜oes, que permitem diferenciar uma abordagem geral do processo de calibra¸c˜ao, de uma formula¸c˜ao detalhada do problema, assim como da sua implementa¸c˜ao.

O quarto cap´ıtulo cont´em a valida¸c˜ao da metodologia proposta. Assim, este apresenta e discute os resultados obtidos e encontra-se dividido em duas sec¸c˜oes. Estas dizem respeito aos dois sistemas de abastecimento de ´agua que s˜ao testados para a valida¸c˜ao da metodologia desenvolvida.

O quinto e ´ultimo cap´ıtulo da presente disserta¸c˜ao encerra com as considera¸c˜oes finais, onde constam as principais conclus˜oes do trabalho desenvolvido e onde s˜ao expostas as pers-petivas para trabalhos futuros.

No final do documento encontram-se, ainda, anexados alguns apˆendices de suporte ao trabalho aqui exposto.

(20)
(21)

Revis˜

ao da Literatura

Neste cap´ıtulo encontram-se definidos e caracterizados os principais conceitos, a compreender, que est˜ao na base da metodologia proposta.

2.1

Introdu¸

ao

Tendo em conta o car´acter ´unico e insubstitu´ıvel da ´agua para o ser humano, ´e essencial o uso eficiente da mesma. N˜ao s´o pela sua disponibilidade, mas tamb´em pela conex˜ao indissoci´avel que existe entre ´agua e energia. As necessidades de ´agua e energia est˜ao, de certa forma, interligadas. A ´agua ´e um bem essencial ao quotidiano de qualquer popula¸c˜ao e a energia ´e indispens´avel ao transporte e distribui¸c˜ao da ´agua para consumo humano e utiliza¸c˜ao nos setores produtivos. A capta¸c˜ao, o processamento, a distribui¸c˜ao e at´e mesmo a utiliza¸c˜ao final de ´agua requer o consumo de eletricidade pelo que os custos energ´eticos relacionados com o abastecimento de ´agua representam elevados recursos or¸camentais que poderiam ser aproveitados noutros sectores municipais [1].

No ano de 2005, a procura de ´agua em Portugal para o sector urbano fora estimada em cerca de 570 milh˜oes de metros c´ubicos por ano, o que corresponde a um custo para a sociedade de 875 milh˜oes de euros, representando 0,77% do Produto Interno Bruto portuguˆes desse mesmo ano [2].

O aumento da popula¸c˜ao, o crescimento econ´omico, a crise energ´etica e os impactes das altera¸c˜oes clim´aticas que se tˆem vindo a sentir ao longo dos ´ultimos anos, tornam mais complexa a interdependˆencia entre energia e ´agua. Estimativas demonstram que o consumo de ´agua a n´ıvel global praticamente quadruplicou nos ´ultimos 50 anos [3].

Por sua vez, de forma a suprir as necessidades de procura de ´agua, os sistemas de abas-tecimento acabaram por sofrer uma expans˜ao demasiado r´apida e desordenada, crescendo em quantidade em detrimento de qualidade. Existem hoje em dia, por isto, uma s´erie de sistemas a operar de forma ineficiente. Este ´e um fator preponderante no aumento dos custos associados `a distribui¸c˜ao de ´agua. A n´ıvel mundial, os sistemas de distribui¸c˜ao de ´agua s˜ao respons´aveis por 7% do consumo total de energia [4].

(22)

2.1.1 A ´Agua no Mundo

A n´ıvel global, verifica-se que o setor respons´avel pela maior percentagem de utiliza¸c˜ao de ´

agua ´e o agr´ıcola (70%). Seguem-se os setores industrial e dom´estico, com as respetivas cotas de 22% e 8%, tal como se pode verificar pela Figura 2.1 (a). No entanto, ´e importante analisar estes dados para as diferentes regi˜oes, isto porque, esta diferen¸ca entre sectores n˜ao ´e t˜ao not´avel, por exemplo, nas regi˜oes da Europa ou Am´erica do Norte e Central, onde o setor agr´ıcola perde relevo para o industrial e dom´estico, tipicamente fortes em pa´ıses mais desenvolvidos (Figura 2.1 (b)).

(a) (b)

Figura 2.1: Quantidade global de ´agua utilizada anualmente pelos diferentes setores consu-midores, para as diferentes regi˜oes do mundo [3]apud [5].

2.1.2 Consumo de ´Agua em Portugal

Em Portugal, o abastecimento p´ublico de ´agua evoluiu significativamente nos ´ultimos anos. A entrada para a Comunidade Econ´omica Europeia, em 1986, representou uma altera¸c˜ao profunda no contexto de atua¸c˜ao do Estado portuguˆes e dos restantes intervenientes no setor, tendo dotado o Estado de meios financeiros para efetivar investimento no setor e tamb´em implicado mais responsabilidades relativas ao cumprimento das obriga¸c˜oes decorrentes das disposi¸c˜oes do direito comunit´ario em mat´eria de ambiente [6].

Os servi¸cos de abastecimento p´ublico de ´agua que, durante muitos anos, foram geridos exclusivamente pela Administra¸c˜ao Local (estando vedados a empresas privadas), passaram a poder ser geridos diretamente pelo Estado ou a sua gest˜ao ser atribu´ıda, em regime de concess˜ao, a uma entidade p´ublica de natureza empresarial ou a uma empresa resultante da associa¸c˜ao de empresas p´ublicas em posi¸c˜ao obrigatoriamente maiorit´aria no capital social com outras entidades, com a entrada em vigor do Decreto-lei no 372/93 de 29 de Outubro de 1993 [7]. Esta norma veio dar origem ao sistema organizacional que o pa´ıs apresenta hoje no setor, suportada pelo Decreto-lei no 23/95 de 23 de Agosto de 1995 que estabelece o regulamento destes sistemas [8]. Atualmente existem entidades gestoras que asseguram, individualmente ou em conjunto, o abastecimento de ´agua de cada regi˜ao e uma entidade reguladora dos servi¸cos de ´aguas e res´ıduos, a ERSAR, criada no ano de 2006 pela Lei Orgˆanica do Minist´erio do Ambiente, Ordenamento do Territ´orio e Desenvolvimento Regional, atrav´es do Decreto-Lei n.o 207/2006, de 27 de outubro e operacionalizada pelo Decreto-Lei n.o 277/2009, de 2 de outubro [6].

(23)

Fruto da evolu¸c˜ao do setor da ´agua, verificou-se um aumento significativo da cobertura do servi¸co de abastecimento, resultado de um importante investimento apoiado por fundos comunit´arios. Em termos de evolu¸c˜ao verifica-se que no in´ıcio da d´ecada de 90 a cobertura do servi¸co de abastecimento de ´agua era cerca de 80%, tendo esta percentagem vindo a aumentar cont´ınua e significativamente e atingido os 95% em 2011 (ver Figura 2.2).

Figura 2.2: Evolu¸c˜ao do servi¸co de abastecimento de ´agua em Portugal [6].

Dados referentes aos anos de 2002 e 2009 mostram que a totalidade da procura de ´agua anual para os trˆes sectores consumidores (urbano, agr´ıcola e industrial) rondava os 7500 a 4199 milh˜oes de metros c´ubicos, respetivamente. Em Portugal, o setor urbano representa apenas cerca de 12% do total da procura, sendo que o agr´ıcola ´e o respons´avel pelo maior consumo de ´agua. Relativamente ao setor industrial, ´e aquele que apresenta a menor parcela, apesar de se verificar um ligeiro aumento ao longo dos anos em quest˜ao.

Pela an´alise da Figura 2.3 ´e ainda poss´ıvel verificar que entre os anos de 2002 e 2009 a procura de ´agua estimada referente ao territ´orio continental vinha a ser reduzida. O mesmo fora resultado da aplica¸c˜ao de algumas medidas nos v´arios setores que proporcionaram uma melhoria da eficiˆencia do uso da ´agua [9].

Figura 2.3: Varia¸c˜ao da procura anual de ´agua entre os anos de 2000 e 2009 [9]. Em termos de custos de abastecimento, o setor urbano ´e tamb´em o mais representativo, dado que a ´agua transportada por sistemas de abastecimento ´e maioritariamente destinada

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a consumo dom´estico. No ano de 2000, os custos efetivos da utiliza¸c˜ao da ´agua rondavam 1.880 000 000 de Euros anuais (ver Figura 2.4). Hoje em dia, tendo em conta o aumento da popula¸c˜ao servida por sistemas de abastecimento p´ublico de ´agua, os mesmos ser˜ao mais elevados.

Figura 2.4: Volume distribu´ıdo nas redes, por setor de utiliza¸c˜ao final da ´agua [9].

Estado Atual dos Sistemas de Abastecimento de ´Agua Nacionais

Nem toda a ´agua captada ´e realmente aproveitada, uma vez que existe uma parcela importante de desperd´ıcio associada, por um lado, a perdas no sistema de armazenamento, transporte e distribui¸c˜ao e, por outro, ao uso ineficiente da ´agua para os fins previstos.

As perdas de ´agua correspondem a ´agua que n˜ao ´e faturada nem utilizada para outros usos autorizados, mas que ´e captada, tratada, transportada em infra-estruturas de elevado valor patrimonial e com custos de opera¸c˜ao e manuten¸c˜ao significativos. A dimens˜ao econ´ omico-financeira das perdas de ´agua ´e assim de grande relevˆancia e constitui em geral a principal motiva¸c˜ao das entidades gestoras que levam a cabo iniciativas no dom´ınio do controlo ativo de perdas.

De entre as perdas contabilizadas num sistema p´ublico de abastecimento, podem ser dis-tinguidos dois tipos de perdas: as reais e/ou as aparentes [2]. Os fatores que influenciam as perdas reais s˜ao o comprimento total de condutas, o estado das condutas e componentes, o seu material, a frequˆencia de fugas e de roturas, a densidade e comprimento m´edio de ramais, a press˜ao de servi¸co m´edia, a localiza¸c˜ao do medidor domicili´ario do ramal, o tipo de solo e as condi¸c˜oes do terreno, relevantes sobretudo no modo como se torna aparente ou n˜ao a ocorrˆencia de roturas e fugas. Os fatores que influenciam as perdas aparentes s˜ao em geral as liga¸c˜oes il´ıcitas, o uso fraudulento de bocas-de-incˆendio e os erros associados `a medi¸c˜ao.

A ineficiˆencia associada `as perdas no sistema de adu¸c˜ao e distribui¸c˜ao ´e a mais facilmente contabilizada. Entre os anos de 2000 e 2009, esta sofreu uma redu¸c˜ao, tendo sido o setor urbano aquele que apresentou a melhoria mais significativa (Figura 2.5). O mesmo resultou de um esfor¸co consider´avel, por parte das diversas entidades gestoras de distribui¸c˜ao de ´agua de abastecimento, para reduzir as perdas no sistema.

Dados mais recentes, compilados e publicados pelo jornal P´ublico [10] como forma de assinalar o Dia Mundial da ´Agua, demonstram que, em m´edia, cerca de 19% de toda a ´agua que ´e injetada nas canaliza¸c˜oes em todo o pa´ıs ´e desperdi¸cada em roturas e fugas nas redes municipais em Portugal. Ou seja, aproximadamente um em cada cinco litros de ´agua captada, tratada e pronta a ser consumida perde-se durante o seu percurso de transporte e n˜ao chega `

as torneiras [10]. Ainda a mesma fonte adianta que a m´edia nacional para a qual os dados apontam esconde grandes disparidades pois, na verdade, dois ter¸cos dos concelhos de

(25)

Portu-Figura 2.5: Varia¸c˜ao da ineficiˆencia nacional no uso da ´agua entre os anos de 2000 e 2009 [9].

gal continental apresentam perdas superiores. Em cerca de uma centena de concelhos, s˜ao desperdi¸cados mais de 30% da ´agua. Em 45, a taxa ultrapassa os 40% e h´a cinco munic´ıpios onde as perdas atingem valores superiores a 50% [10].

A dimens˜ao econ´omica das perdas de ´agua em Portugal pode ser analisada a partir da Tabela 2.1 que, para dados do ano de 2004, apresenta um valor aproximado de 70 milh˜oes de Euros anuais [2] correspondente a uma redu¸c˜ao para metade dos atuais n´ıveis de perdas.

Tabela 2.1: Valor anual aproximado do mercado das perdas de ´agua [2]. Popula¸c˜ao residente (hab) 10 356 000 Capita¸c˜ao total de ´agua (l/hab/dia) 207

Perdas totais m´edias (%) 0,35

Parcela de perdas reais (%) 0,6

Custos correntes m´edios (e/m3) 0,5 Custos de venda m´edios (e/m3) 0,53

Percentagem recuper´avel (%) 50 %

Perdas totais (m3/ano) 273 856 653

Perdas reais (m3/ano) 164 313 992

Perdas aparentes (m3/ano) 109 542 661 Valor do produto recuper´avel (e/ano) 82 156 996 Valor de vendas recuper´avel (e/ano) 58 057 610 Valor efetivo do produto recuper´avel (e/ano) 41 078 498 Valor efetivo de vendas recuper´avel (e/ano) 29 028 805 Dimens˜ao do mercado (e/ano) 70 107 303

Apesar do aumento verificado na eficiˆencia da utiliza¸c˜ao da ´agua ao longo dos ´ultimos anos, continuam a existir percentagens elevadas de desperd´ıcio com impactes ambientais, sociais e econ´omicos, em todos os sectores. As entidades gestoras devem procurar adotar con-tinuamente medidas conducentes `a minimiza¸c˜ao do consumo dos recursos naturais (´agua e energia), financeiros, t´ecnicos e humanos. Devem ser analisadas solu¸c˜oes mais eficientes para os sistemas por construir, que representem alternativas de menor impacto tanto financeiro como ambiental. Mas tamb´em, solu¸c˜oes para os sistemas j´a existentes, que obriguem a repen-sar a utiliza¸c˜ao da ´agua de forma integrada com outros setores e com a eficiˆencia energ´etica com vista a uma redu¸c˜ao dos custos de explora¸c˜ao. Assim, o uso eficiente da ´agua tem menor

(26)

impacto sobre o ambiente e liberta as utiliza¸c˜oes de custos desnecess´arios, que poder˜ao ser reinvestidos nos pr´oprios sistemas, beneficiando-os subsequentemente.

2.2

Sistemas de Abastecimento de ´

Agua P´

ublicos

Um sistema de abastecimento de ´agua caracteriza-se pelo conjunto de infraestruturas que permitem o transporte de ´agua desde a fonte at´e aos diversos sectores consumidores, sejam eles o dom´estico, p´ublico, industrial ou agr´ıcola. Para cumprir com este requisito, o sistema conta com um conjunto de equipamentos e instala¸c˜oes respons´aveis pela capta¸c˜ao, tratamento, transporte, armazenamento e distribui¸c˜ao. Dele fazem parte [7] [8]:

• Capta¸c˜ao - instala¸c˜ao onde a ´agua ´e retirada da sua origem natural.

• Posto de Cloragem (PC) e/ou Esta¸c˜ao de Tratamento de ´Agua (ETA) - instala¸c˜oes onde a ´agua ´e tratada de modo a ser pot´avel.

• Esta¸c˜ao Elevat´oria (EE) - instala¸c˜ao onde a ´agua ´e bombeada (ou elevada) para zonas situadas a altitudes superiores.

• Conduta adutora - tubagem que transporta a ´agua desde a capta¸c˜ao at´e `a rede de abastecimento, ligando os v´arios equipamentos e instala¸c˜oes.

• Rede de distribui¸c˜ao - condutas, regra geral instaladas sob a via p´ublica, que transpor-tam a ´agua at´e aos ramais de liga¸c˜ao, os quais asseguram o abastecimento de ´agua `as habita¸c˜oes.

• Ramais de liga¸c˜ao - os ramais de liga¸c˜ao asseguram o abastecimento predial de ´agua, desde a rede p´ublica at´e ao limite da propriedade a servir, em boas condi¸c˜oes de caudal e press˜ao.

Independentemente do tamanho e complexidade de cada sistema de distribui¸c˜ao, todos os sistemas devem ser capazes de responder `a procura de ´agua em qualquer local, a qualquer hora do dia e a press˜ao adequada. Para o correto dimensionamento das redes que comp˜oem o sistema de abastecimento de ´agua ´e necess´ario ter em conta alguns fatores, tais como a localiza¸c˜ao, a constitui¸c˜ao e configura¸c˜ao da rede, as for¸cas exercidas (pela press˜ao da ´agua e for¸cas externas) e ainda a parte econ´omica envolvida nesse dimensionamento [3].

Assim, quanto `a configura¸c˜ao, uma rede pode ser malhada, ramificada ou mista. Uma rede ramificada caracteriza-se por possibilitar apenas um sentido para o escoamento do caudal de ´

agua. No caso das redes malhadas, as tubagens encontram-se interligadas entre si formando malhas e permitindo assim a mudan¸ca do sentido tomado pelo caudal de acordo com a procura em cada n´o da rede. A vantagem destas ´ultimas ´e garantir o abastecimento de ´agua quando h´a a necessidade de fechar algum ponto da rede (por exemplo para manuten¸c˜ao), tal como se pode observar pela Figura 2.6. As redes mistas resultam de uma combina¸c˜ao dos dois ´ultimos tipos de rede referidos anteriormente.

Relativamente aos elementos constituintes da rede, segundo a perspetiva do programa EPANET, os principais componentes a exercerem a sua influˆencia s˜ao:

(27)

Figura 2.6: Tipos de configura¸c˜ao de uma rede de abastecimento de ´agua.

1. Reservat´orios

(a) De n´ıvel fixo. Representam geralmente reservat´orios naturais, tais como lagos, rios e aqu´ıferos que n˜ao sofrem grandes varia¸c˜oes do n´ıvel de ´agua ou ainda esta¸c˜oes de tratamento de ´agua (ETA).

(b) De n´ıvel vari´avel. Correspondem aos locais de armazenamento da ´agua. Nestes reservat´orios o volume de ´agua varia com o tempo, dependendo dos caudais de entrada e sa´ıda. ´E tamb´em levado em conta o diˆametro ou forma do reservat´orio (normalmente cil´ındrica), o n´ıvel inicial da ´agua, bem como os n´ıveis m´ınimo e m´aximo nos quais o reservat´orio pode operar. O c´alculo da mudan¸ca no n´ıvel da ´

agua (∆y) pode ser feito por:

∆y = Q

A∆t, (2.1)

em que Q representa o caudal que entra ou sai do reservat´orio num intervalo de tempo ∆t e A a ´area da sec¸c˜ao do mesmo.

2. Bombas. Utilizadas para aumentar a carga hidr´aulica. ´E comum atribuir-se a cada bomba a sua curva caracter´ıstica, que descreve a carga aplicada ao fluido em fun¸c˜ao do caudal que atravessa a bomba. A mesma ´e caracterizada pela equa¸c˜ao

H = a − bQn, (2.2)

em que H representa a altura manom´etrica `a qual a bomba permite elevar determinado caudal de ´agua. Q, a, b e n s˜ao coeficientes caracter´ısticos de cada tipo de bomba. As bombas podem funcionar a velocidade constante ou vari´avel e devem operar nos limites de carga e caudal impostos pelas suas curvas caracter´ısticas.

3. V´alvulas. S˜ao essencialmente utilizadas para regular o caudal ou a press˜ao. Estas podem abrir/fechar tubagens, aumentar/reduzir press˜oes e/ou controlar o caudal. 4. Jun¸c˜oes. Pontos de jun¸c˜ao das tubagens, de descarga, bocas de rega ou hidrantes.

(28)

5. Condutas e Ramais. Respons´aveis pela condu¸c˜ao da ´agua. O contacto da ´agua com a superf´ıcie dos tubos resulta em perdas de carga por atrito ao longo da rede, traduzidas pela equa¸c˜ao

HL= aQb, (2.3)

em que HL representa as perdas de carga hidr´aulica, Q o caudal, a o coeficiente de

resistˆencia (tamb´em denominado termo de perda de carga) e b o expoente de caudal. Para o c´alculo dos dois ´ultimos parˆametros existem trˆes metodologias poss´ıveis, a saber:

(a) F´ormula de Hazen-Williams: para c´alculo de perdas de carga em sistemas sob press˜ao. Apesar de ser a f´ormula mais utilizada, esta ´e v´alida apenas para a ´agua e foi desenvolvida especialmente para escoamento turbulento.

(b) F´ormula de Darcy-Weisbach: teoricamente ´e a mais correta e adapta-se a todo o tipo de l´ıquidos e escoamento.

(c) F´ormula de Ch´ezy-Manning: utiliza-se em problemas de caudal com conduta aberta.

A Tabela 2.2 inclui uma s´ıntese das trˆes metodologias e respetivas express˜oes de c´alculo das perdas de carga hidr´aulica em condutas, assim como dos parˆametros a e b.

Tabela 2.2: F´ormulas para o c´alculo das perdas de carga hidr´aulica em condutas [11]. F´ormula Perdas de Carga Hidr´aulica

Hazen-Williams HL= 10, 7C−1.852d−4,87LQ1,852

Darcy-Weisbach HL= 0, 083f (, d, Q)d−5LQ2

Ch´ezy-Manning HL= 10, 3n2d−5,33LQ2

C, Coeficiente de rugosidade de Hazen-Williams. , Coeficiente de rugosidade de Darcy-Weisbach. f , Fator de atrito dependente de , d e Q. n, Coeficiente de rugosidade de Manning. d, Diˆametro do tubo [m].

Q, Caudal [m3/s]

Os diferentes coeficientes das f´ormulas de perda de carga (C,  e n) variam consoante o material da tubagem e podem sofrer altera¸c˜oes com a idade da mesma. Os intervalos de varia¸c˜ao destes coeficientes para diferentes materiais, bem como o m´etodo de c´alculo do fator de Darcy-Weisbach (f ) encontram-se descritos no anexo A.1. Poder˜ao tamb´em ter-se em conta perdas de carga singulares (ou localizadas), associadas `a turbulˆencia em curvas, estreitamentos e/ou alongamentos. Estas revelam-se particularmente importan-tes em condutas de menor dimens˜ao (p.ex. ramais). A express˜ao que traduz este tipo de perda ´e dada por:

HL = k

v2

2g, (2.4)

em que v representa a velocidade do escoamento, g a acelera¸c˜ao grav´ıtica e k o coeficiente de perda de carga localizada. Este ´ultimo depende da geometria da singularidade, do n´umero de Reynolds e, em alguns casos, de determinadas condi¸c˜oes de escoamento.

(29)

2.3

Simula¸

ao Hidr´

aulica

O termo simula¸c˜ao refere-se, geralmente, ao processo de tentar reproduzir o comportamento de um sistema, atrav´es das fun¸c˜oes de outro. ´E precisamente esta a fun¸c˜ao de um simulador hidr´aulico, que permite representar o funcionamento de sistemas reais de transporte e distri-bui¸c˜ao de ´agua, atrav´es de modelos matem´aticos[1]. Estes s˜ao ferramentas que permitem, com uma margem de erro estim´avel, analisar e prever o comportamento hidr´aulico, a partir das caracter´ısticas dos seus componentes, da sua forma de opera¸c˜ao e dos consumos solicitados.

As redes de distribui¸c˜ao de ´agua s˜ao infraestruturas cujos componentes se encontram maioritariamente instalados no subsolo sendo, por isso, dificilmente inspecion´aveis. Por outro lado, a sua complexidade, variabilidade e n´umero de pontos de consumo s´o permite a mo-nitoriza¸c˜ao do estado dos sistemas atrav´es de medi¸c˜oes de press˜ao e caudal. Deste modo, o processo de inspe¸c˜ao direta do sistema revela-se bastante oneroso. Muitas vezes, problemas s´o s˜ao detetados atrav´es de sintomas exteriores tais como a falta de press˜ao, a falta de ´agua, elevados volumes de perdas ou mesmo surgimento de ´agua `a superf´ıcie do solo. Por tudo isto, torna-se imprescind´ıvel recorrer a modelos que permitam efetuar an´alises de sensibilidade, assim como simular os cen´arios mais variados, evitando interferir com o sistema em causa ou, mesmo, submetˆe-lo a paragens dada a necessidade de fazer chegar, continuamente, ´agua `as popula¸c˜oes [1]. Para al´em disso, dado o elevado custo das infraestruturas e a variabilidade das condi¸c˜oes a prever em sistemas por construir, torna-se imprescind´ıvel fazer uso destes mode-los de forma a verificar a viabilidade das solu¸c˜oes propostas pelo projetista. Desta forma, os problemas podem ser antecipados, assim como as solu¸c˜oes avaliadas antes de os investimentos serem feitos.

Uma simula¸c˜ao pode ter car´acter est´atico ou ser efetuada para um per´ıodo alargado de tempo [1]. A simula¸c˜ao toma a designa¸c˜ao de est´atica no caso de ser efetuada para um deter-minado momento no tempo e equivale a uma ´unica “fotografia” do sistema no tempo. Se a simula¸c˜ao for referente a um intervalo de tempo pr´e-definido, toma a designa¸c˜ao de simula¸c˜ao em per´ıodo alargado, ou SPA, e equivale a uma sucess˜ao de “fotografias”, de simula¸c˜oes est´aticas, onde as condi¸c˜oes de fronteira s˜ao representadas pelos n´ıveis nos reservat´orios (pelos volumes de armazenamento que lhes correspondem e pelos padr˜oes de consumo) e ajustadas na transi¸c˜ao entre cada dois momentos sucessivos. Enquanto o primeiro tipo de simula¸c˜ao pode ser ´util na an´alise a curto prazo dos efeitos de testes em bocas-de-incˆendio, o ´ultimo ´e mais utilizado para avaliar o desempenho do sistema ao longo do tempo. Permite mo-delar o enchimento e a drenagem de tanques, a abertura e o fecho de v´alvulas reguladoras e a varia¸c˜ao da press˜ao e do escoamento em fun¸c˜ao de diferentes condi¸c˜oes de procura de ´agua.

O modelo de simula¸c˜ao hidr´aulica de um SAA ´e composto por [1]:

(a) Um conjunto de dados descritivos das caracter´ısticas f´ısicas do sistema, das suas soli-cita¸c˜oes (consumos) e das suas condi¸c˜oes operacionais;

(b) Um conjunto de equa¸c˜oes matem´aticas (na sua maioria n˜ao-lineares) que reproduzem o comportamento hidr´aulico dos componentes individuais e do sistema como um todo, expressas em termos das principais vari´aveis de estado (p. ex., o caudal nas condutas ou a press˜ao nos pontos not´aveis) e instanciadas pelos dados mencionados em (a); (c) Os algoritmos num´ericos necess´arios para a resolu¸c˜ao desse conjunto de equa¸c˜oes

(30)

2.3.1 Simuladores Hidr´aulicos

Ao longo dos ´ultimos anos, tem-se verificado uma crescente evolu¸c˜ao no desenvolvimento de software aplicado `a an´alise de sistemas de abastecimento de ´agua. N˜ao s´o em n´umero se tem verificado tal evolu¸c˜ao, mas tamb´em ao n´ıvel das suas funcionalidades, aspeto gr´afico e ferramentas auxiliares. Para al´em da capacidade de simula¸c˜ao referente `a an´alise hidr´aulica de escoamento da ´agua, novas ferramentas tˆem surgido, baseadas em sistemas de informa¸c˜ao geogr´afica (GIS) e de monitoriza¸c˜ao e controle de dados (SCADA). Atualmente, este tipo de ferramentas j´a se encontram incorporadas numa s´erie de programas de simula¸c˜ao hidr´aulica, muitos deles dispon´ıveis em vers˜oes gratuitas. Para al´em disso, a maioria n˜ao apresenta limita¸c˜ao no tamanho das redes a modelar [4].

Dos programas comerciais que j´a apresentam ferramentas GIS e SCADA incorporadas s˜ao exemplo os programas Aquadapt, MISER, Eraclito e Pipe2012. Por outro lado, os programas AquaNet e Cross s˜ao exemplos de programas que, apesar de n˜ao serem dotados deste tipo de ferramentas, permitem tamb´em a modela¸c˜ao e simula¸c˜ao de sistemas de tubagens.

Existem, ainda, uma s´erie de outros programas de modela¸c˜ao e simula¸c˜ao comerciais que tˆem por base o mesmo programa de modela¸c˜ao hidr´aulica, o EPANET, e diferentes m´odulos de otimiza¸c˜ao em separado. Destes fazem parte programas como o AQUIS, Mike Net, H2ONET/H2OMAP, SynerGEE Water, igualmente dotados de ferramentas GIS e SCADA.

O EPANET 2.0 ´e um programa com o c´odigo open source, gratuito, desenvolvido pela EPA (U. S. Environmental Protection Agency) que permite a execu¸c˜ao de simula¸c˜oes est´aticas e dinˆamicas do comportamento hidr´aulico e de qualidade da ´agua de sistemas de distribui¸c˜ao de ´agua, onde esta circula sob press˜ao. Este simulador permite obter os valores de caudal em cada tubagem, da press˜ao em cada n´o, da altura da ´agua em cada reservat´orio, do custo energ´etico do bombeamento e ainda de parˆametros de qualidade da ´agua durante o per´ıodo de simula¸c˜ao. Oferece ao utilizador a possibilidade de optar pelo tipo de interface, assim como pelo sistema de unidades (m´etrico ou US units).

A n´ıvel de modela¸c˜ao hidr´aulica, o EPANET permite a an´alise de redes de dimens˜ao ilimi-tada, calcula perdas de carga utilizando as f´ormulas de Hazen-Williams, Darcy-Weisbach ou Chezy-Manning e ainda permite a modela¸c˜ao de diversos tipos de bombas, v´alvulas e reser-vat´orios. Permite ainda atribuir m´ultiplas categorias de consumo aos n´os, cada uma com um padr˜ao espec´ıfico ao longo do tempo e possibilita o comando do sistema atrav´es de controlo simples e/ou controlo com condi¸c˜oes m´ultiplas.

Para se proceder `a simula¸c˜ao devem-se seguir os seguintes passos [3]: 1. Desenhar um esquema da rede pretendida;

2. Editar as propriedades dos objetos (n´os, tubagens, bombas, etc.);

3. Descrever as condi¸c˜oes de operacionalidade do sistema (curvas, padr˜oes, controlos, etc.); 4. Selecionar as condi¸c˜oes de simula¸c˜ao pretendidas (op¸c˜oes de hidr´aulica, de energia, de

tempo, etc.);

5. Executar a simula¸c˜ao hidr´aulica e visualizar os resultados dessa simula¸c˜ao - Figura 2.7. Pelo facto de terem vindo a ser desenvolvidas uma s´erie de aplica¸c˜oes de dom´ınio p´ublico para o simulador EPANET 2.0, este tornou-se o programa mais utilizado em simula¸c˜ao, a

(31)

n´ıvel acad´emico. Foi tamb´em, por isto, este o escolhido para simula¸c˜ao no presente trabalho.

Figura 2.7: Exemplo de um modelo de um SAA obtido pelo simulador EPANET 2.0.

2.3.2 Modela¸c˜ao Matem´atica com EPANET

Nesta subsec¸c˜ao pretende-se analisar as equa¸c˜oes matem´aticas que comp˜oem os modelos de simula¸c˜ao hidr´aulica e que permitem ao simulador reproduzir o comportamento dos compo-nentes individuais e do sistema como um todo, tal como referido em 2.3.

As condi¸c˜oes de equil´ıbrio hidr´aulico de uma rede, num dado instante, s˜ao resolvidas pelo chamado M´etodo N´o-Malha, tamb´em designado por M´etodo do Gradiente [12]. As condi¸c˜oes de equil´ıbrio hidr´aulico da rede s˜ao dadas pelas equa¸c˜oes de continuidade e de conserva¸c˜ao da energia e ainda pela rela¸c˜ao entre o caudal e a perda de carga [12]. As mesmas s˜ao apre-sentadas em seguida.

Rela¸c˜ao entre Caudal e Perda de Carga

Seja H a cota piezom´etrica de um dado n´o, h a perda de carga total e Q o caudal, ´e poss´ıvel obter a seguinte rela¸c˜ao entre dois n´os i e j:

Hi− Hj = hij = rQnij + mQ2ij, (2.5)

em que n ´e o expoente do caudal, m o coeficiente de perda de carga localizada e r o termo de perda de carga.

O valor do termo de perda de carga depende da f´ormula de resistˆencia adotada. Para bombas, pode ser representada por:

hij = −ω2(h0− r(Qij/ω)n), (2.6)

em que h0 representa a altura de eleva¸c˜ao para o ponto de funcionamento em vazio (caudal

nulo), ω a regula¸c˜ao de velocidade, r e n os coeficientes da curva da bomba. O sinal negativo da express˜ao representa a altura de eleva¸c˜ao.

(32)

Conserva¸c˜ao dos Caudais nos N´os

O segundo conjunto de equa¸c˜oes que devem ser satisfeitas refere-se `a conserva¸c˜ao dos caudais nos n´os1

nlinks

X

j

Qij− Di = 0 para i=1,...N , (2.7)

em que Di representa o consumo no n´o i e N o n´umero de n´os. Por conven¸c˜ao, o caudal que

chega ao n´o ´e positivo. nlinks corresponde ao conjunto de condutas que derivam do n´o i.

Continuidade dos Caudais nos N´os

No M´etodo do Gradiente a determina¸c˜ao, em cada itera¸c˜ao, das novas cotas piezom´etricas implica a resolu¸c˜ao do sistema de equa¸c˜oes n˜ao lineares

AH = F, (2.8)

em que A representa a matriz Jacobiana (N × N ) da perda de carga, H o vetor (N × 1) das inc´ognitas de cota piezom´etrica e F o vetor (N × 1) dos termos do lado direito da equa¸c˜ao. Os elementos da diagonal de A s˜ao dados por

Aii=

X

j

pij (2.9)

e os elementos n˜ao nulos fora da diagonal por

Aij = −pij, (2.10)

sendo pij o inverso da derivada da perda de carga total entre os n´os i e j em rela¸c˜ao ao caudal.

O mesmo pode ser calculado, para tubagens, atrav´es da express˜ao pij =

1

nr|Qij|n−1+ 2m|Qij|

, (2.11)

enquanto que, para bombas,

pij =

1 nω2rQij

ω

n−1. (2.12)

Cada termo do lado direito da matriz ´e composto por uma parcela respeitante ao balan¸co de caudal no n´o, `a qual ´e adicionado um fator de corre¸c˜ao de caudal:

Fij =   X j Qij − Di  + X j yij+ X f pifHf, (2.13)

sendo o ´ultimo termo aplic´avel a qualquer tro¸co que ligue um n´o i a um n´o f de cota pi-ezom´etrica fixa. O fator de corre¸c˜ao de caudal, yij, ´e dado pela seguinte express˜ao para

tubagens: yij = pij  r|Qij|n+ m|Qij|2  sgn(Qij). (2.14)

(33)

Para bombas, ´e considerada a seguinte express˜ao: yij = −pijω2 h0− r  Qij ω n! , com Qij > 0. (2.15)

O termo sgn(Qij) vale 1 quando Qij ´e positivo e -1 quando Qij ´e negativo. Para bombas

Qij ´e sempre positivo. Este termo ´e definido positivo de acordo com o sentido do tra¸cado da

conduta.

Ap´os terem sido calculadas as cotas piezom´etricas na primeira itera¸c˜ao, podem ser obtidos novos caudais, de acordo com a equa¸c˜ao seguinte:

Qij = Qij− (yij− pij(Hi− Hj)). (2.16)

As equa¸c˜oes 2.8 e 2.16 s´o ser˜ao novamente resolvidas caso a soma de todas as varia¸c˜oes de caudal (em valor absoluto), relativamente ao caudal total em todos os tro¸cos, for superior `a tolerˆancia especificada.

De forma a implementar as equa¸c˜oes apresentadas na an´alise de sistemas hidr´aulicos, o programa EPANET segue alguns passos cruciais [13]:

1. Resolu¸c˜ao da equa¸c˜ao 2.8 atrav´es de um m´etodo de matriz esparsa baseado na reor-dena¸c˜ao dos n´os.

2. Considera-se, na primeira itera¸c˜ao, que a velocidade numa tubagem ´e de 1 ft/s (30,48 cm/s) e que o caudal que passa numa bomba ´e o mesmo considerado no seu dimensio-namento.

3. O termo de perda de carga para uma tubagem, a, ´e calculado a partir das f´ormulas j´a referidas na sec¸c˜ao 2.2.

4. O coeficiente de perda de carga localizada, k, definido em fun¸c˜ao da altura cin´etica, ´e convertido para um coeficiente m definido em fun¸c˜ao do caudal, atrav´es da express˜ao seguinte:

m = 0.02517k

d4 . (2.17)

5. A verifica¸c˜ao do estado das bombas, tubagens, v´alvulas de reten¸c˜ao e reguladoras de caudal efetua-se ap´os cada itera¸c˜ao at´e `a d´ecima. Ap´os este n´umero, apenas se verifica o estado quando se atinge a convergˆencia. No caso das v´alvulas de controlo de press˜ao, a verifica¸c˜ao ´e feita em cada itera¸c˜ao.

As bombas s˜ao fechadas se a altura de eleva¸c˜ao for superior `a altura do ponto de funcio-namento em vazio; as v´alvulas de reten¸c˜ao s˜ao fechadas se a perda de carga for negativa; os tro¸cos ligados a reservat´orios de n´ıvel vari´avel tamb´em s˜ao fechados quando a dife-ren¸ca de cotas piezom´etricas leva `a sa´ıda de caudal num reservat´orio vazio ou `a entrada de caudal num reservat´orio cheio.

(34)

2.4

Otimiza¸

ao

Ao n´ıvel dos sistemas de abastecimento de ´agua, `a medida que as taxas de cobertura das in-fraestruturas se v˜ao aproximando dos seus limites poss´ıveis, assiste-se a uma evolu¸c˜ao da fase da constru¸c˜ao dos sistemas para a fase da sua gest˜ao. Come¸ca a ser dada maior importˆancia a quest˜oes de eficiˆencia e efic´acia, numa perspetiva de racionaliza¸c˜ao de investimentos e ava-lia¸c˜ao do seu retorno efetivo [1]. Mesmo ao n´ıvel da constru¸c˜ao de novos sistemas de abas-tecimento de ´agua, n˜ao ter em conta qualquer processo de otimiza¸c˜ao no seu planeamento resulta em sistemas ineficientes, baseados essencialmente na resposta imediata ao aumento da procura de ´agua por parte das popula¸c˜oes e ind´ustria.

Atualmente, os simuladores hidr´aulicos utilizados para a modela¸c˜ao de sistemas de abas-tecimento de ´agua reais n˜ao permitem a determina¸c˜ao das suas condi¸c˜oes ´otimas de funcio-namento ao n´ıvel do design, estruturas/componentes, assim como das condi¸c˜oes em que estes operam [4]. ´E por tudo isto que os processos de otimiza¸c˜ao s˜ao cruciais na gest˜ao e planea-mento deste tipo de sistemas.

Para formular e resolver problemas de otimiza¸c˜ao ´e essencial conhecer o significado de determinados parˆametros:

1. Fun¸c˜ao-objetivo: ´e a fun¸c˜ao que se pretende otimizar, podendo depender de uma ou mais vari´aveis. Geralmente, esta ´e representada por uma express˜ao anal´ıtica que permite o c´alculo de determinadas caracter´ısticas da fun¸c˜ao, tais como as suas derivadas. Podem tamb´em existir problemas perante os quais n˜ao ´e poss´ıvel reproduzir a fun¸c˜ao objetivo por meio de um pequeno conjunto de equa¸c˜oes. Este tipo de problemas, em que o acesso `

as equa¸c˜oes que reproduzem a fun¸c˜ao objetivo est´a limitado ou interdito, ´e vulgarmente designado de black box. O seu nome resulta da necessidade de fornecer vari´aveis a um programa que retorna o valor das fun¸c˜oes. A fun¸c˜ao objetivo pode, ainda, ser cont´ınua e, assim, diferenci´avel ou apresentar descontinuidades. Pode ser linear ou n˜ao-linear, como ´e o caso da maioria das fun¸c˜oes de problemas reais.

2. Vari´aveis de decis˜ao de otimiza¸c˜ao: correspondem aos parˆametros que se alteram du-rante a resolu¸c˜ao do problema, at´e ser encontrado o valor ´otimo pretendido. Conhecer as vari´aveis que levam `a minimiza¸c˜ao ou maximiza¸c˜ao da fun¸c˜ao ´e o objetivo do problema. 3. Restri¸c˜oes: correspondem a fun¸c˜oes de igualdade ou desigualdade, que a fun¸c˜ao objetivo deve respeitar. Podem tamb´em corresponder ao espa¸co de procura das vari´aveis de otimiza¸c˜ao.

4. Valor ´otimo: ´e o valor que se pretende encontrar, atrav´es das vari´aveis e restri¸c˜oes de otimiza¸c˜ao impostas. Corresponde a um ponto extremo, m´aximo ou m´ınimo da fun¸c˜ao objetivo. Estes podem ser extremos locais, ou seja, serem m´aximos ou m´ınimos da fun¸c˜ao num intervalo espec´ıfico pertencente ao dom´ınio da mesma, ou globais, corres-pondentes ao valor mais elevado ou mais baixo de toda a fun¸c˜ao. Assim o representa a Figura 2.8. Os pontos b e f representam m´aximos locais e d representa o m´aximo global no dom´ınio apresentado. Os pontos a e e representam m´ınimos locais e c o m´ınimo global.

(35)

Figura 2.8: Representa¸c˜ao dos extremos de uma fun¸c˜ao.

Assim, um problema de otimiza¸c˜ao ´e tipicamente definido pela minimiza¸c˜ao (ou maxi-miza¸c˜ao) de uma fun¸c˜ao, sujeita `a igualdade e/ou desigualdade de restri¸c˜oes. Geralmente, ´e expressa por:

min(ou max) f (x)

sujeito a gm(x) ≤ 0, m = 1, . . . , M,

hm(x) = 0, l = 1, . . . , L

(2.18)

onde x ´e o vetor das vari´aveis de otimiza¸c˜ao, cont´ınuo ou discreto, de dimens˜ao n; M e L s˜ao, respetivamente, o n´umero de restri¸c˜oes de desigualdade e igualdade que s˜ao imperativas no processo de otimiza¸c˜ao da fun¸c˜ao-objetivo f . Estas restri¸c˜oes est˜ao, geralmente, relacionadas com os requisitos do sistema hidr´aulico, tais como as rela¸c˜oes da conserva¸c˜ao de energia e massa, parˆametros operacionais ou de design da rede e parˆametros dependentes da press˜ao manom´etrica.

Atualmente, n˜ao existe um algoritmo de otimiza¸c˜ao “perfeito” para este tipo de aplica¸c˜ao. A forma de atingir os melhores resultados pode, por vezes, surgir da combina¸c˜ao de diferentes algoritmos [3]. Atrav´es da utiliza¸c˜ao de mais do que um m´etodo de otimiza¸c˜ao, tal como a utiliza¸c˜ao de mais do que um algoritmo em paralelo, ou em cascata (sequencialmente), ou at´e mesmo da mistura de ambos, pode levar a melhores solu¸c˜oes.

Para a resolu¸c˜ao de problemas de otimiza¸c˜ao, podem ser aplicados m´etodos tradicionais de tentativa erro ou m´etodos de otimiza¸c˜ao mais efetivos. No entanto, em sistemas de abas-tecimento de ´agua, o processo de otimiza¸c˜ao por tentativa erro pode apresentar dificuldades dada a complexidade deste tipo de sistemas [4]. De entre os componentes e parˆametros a ter em conta nestes sistemas est˜ao: as bombas, v´alvulas e reservat´orios, as perdas de carga, as varia¸c˜oes de press˜ao e as necessidades de procura de ´agua. Por este motivo, tˆem vindo a ser explorados novos algoritmos de otimiza¸c˜ao n˜ao-linear para aplica¸c˜ao neste tipo de processos. Os algoritmos de otimiza¸c˜ao n˜ao-linear podem ser divididos em duas categorias: algorit-mos cl´assicos e algoritmos heur´ısticos.

2.4.1 M´etodos Cl´assicos

Os m´etodos cl´assicos de otimiza¸c˜ao baseiam-se essencialmente na avalia¸c˜ao de uma fun¸c˜ao objetivo e/ou na avalia¸c˜ao das suas derivadas. Este tipo de m´etodos permite encontrar a posi¸c˜ao exata da solu¸c˜ao ´otima. No entanto, apenas garante que a solu¸c˜ao ´e a ´otima a n´ıvel local o que, por vezes, pode n˜ao coincidir com aquela que ´e a solu¸c˜ao ´otima global [14]. Apresentam a vantagem de requerer baixo custo computacional, no entanto, quando ´e necess´ario recorrer ao c´alculo de derivadas pode complicar o processo de otimiza¸c˜ao.

(36)

Assim, os m´etodos cl´assicos podem ser classificados em m´etodos de ordem zero, m´etodos de primeira ordem ou ainda m´etodos de segunda ordem, consoante o tipo de informa¸c˜ao que necessitam durante o processo de c´alculo [4]. Caso n˜ao recorram a qualquer derivada da fun¸c˜ao objetivo, s˜ao considerados de ordem zero. No caso de necessitarem de avaliar derivadas de primeira e/ou segunda ordem da fun¸c˜ao objetivo, s˜ao considerados de primeira e segunda ordem, respetivamente.

Deste grupo, fazem parte algoritmos do tipo programa¸c˜ao linear (LP), programa¸c˜ao n˜ ao-linear (NLP), programa¸c˜ao inteira n˜ao-linear e programa¸c˜ao dinˆamica.

2.4.2 M´etodos Heur´ısticos

Os m´etodos de otimiza¸c˜ao heur´ısticos consistem em algoritmos explorat´orios, geralmente ba-seados em fen´omenos da natureza ou mesmo em inteligˆencia artificial, que permitem encontrar as melhores solu¸c˜oes poss´ıveis para problemas [3]. Dada a natureza deste tipo de m´etodos, estas solu¸c˜oes apresentam grande probabilidade de corresponderem a extremos globais.

Deste grupo de algoritmos, aqueles que s˜ao maioritariamente aplicados `a resolu¸c˜ao de problemas de otimiza¸c˜ao de sistemas de abastecimento de ´agua s˜ao os Algoritmos Gen´eticos (GA) e os Algoritmos Evolucion´arios (EA)[4]. No entanto, outras t´ecnicas tˆem vindo a ser desenvolvidas, tais como a otimiza¸c˜ao por enxame de part´ıculas (PSO), tabu search (TS), col´onia de formigas (ACO), recozimento simulado(SA), evolu¸c˜ao complexa baralhada (SCE) e procura de concordˆancia (HS).

Estes m´etodos apresentam a grande vantagem de n˜ao necessitarem do c´alculo de derivadas da fun¸c˜ao objetivo e n˜ao s˜ao dependentes dos valores iniciais das vari´aveis [3]. No entanto, quando comparados com os m´etodos cl´assicos, apresentam tempos de processamento mais elevados e implicam um maior n´umero de avalia¸c˜oes da fun¸c˜ao objetivo.

2.5

Calibra¸

ao de Sistemas de Distribui¸

ao de ´

Agua

A constru¸c˜ao de modelos num´ericos de sistemas de abastecimento de ´agua pressup˜oe uma s´erie de aproxima¸c˜oes `aquelas que s˜ao as reais condi¸c˜oes de funcionamento de uma rede. Os componentes de um sistema, tais como bombas e tubagens, s˜ao representados em mapas ou desenhos das instala¸c˜oes. Por sua vez, estes ´ultimos s˜ao convertidos em modelos, repletos de liga¸c˜oes e n´os, cujo comportamento ´e descrito atrav´es de diversas rela¸c˜oes matem´aticas [11]. Por isto, o sucesso da implementa¸c˜ao de um modelo decorre essencialmente da qualidade destas aproxima¸c˜oes que s´o pode ser conseguida `a custa do processo de calibra¸c˜ao. Este permite determinar com corre¸c˜ao os dados de entrada a fornecer ao modelo hidr´aulico, atrav´es do ajuste de diversos parˆametros f´ısicos e operacionais, tais como:

• Rugosidade das tubagens;

• Necessidades de procura de ´agua (espacial/temporal);

• Coeficientes de v´alvulas reguladoras de press˜ao e bombas hidr´aulicas; • Press˜ao manom´etrica nos n´os;

(37)

S´o assim ´e poss´ıvel aproximar os valores de press˜ao e caudal calculados aos valores me-didos numa rede de abastecimento de ´agua. Calibrar um modelo ´e, por isto, uma tarefa bastante complexa cujo sucesso depende da disponibilidade, precis˜ao e detalhe dos dados pass´ıveis de serem medidos, da transmiss˜ao e interpreta¸c˜ao matem´atica dos mesmos e ainda dos mais diversos tipos de erros (sistem´aticos ou aleat´orios) que possam afetar a qualidade das informa¸c˜oes recolhidas [2]. ´E um passo indispens´avel no processo de construir modelos ´

uteis e fi´aveis de sistemas de distribui¸c˜ao de ´agua reais que permitam a procura por op¸c˜oes de projeto mais eficientes ou melhorias no funcionamento de sistemas j´a existentes [11]. A ava-lia¸c˜ao de perdas de ´agua ´e um exemplo de uma forma privilegiada de identificar as situa¸c˜oes mais graves de degrada¸c˜ao precoce de infraestruturas, a carecer de interven¸c˜ao.

Diversas metodologias de calibra¸c˜ao de sistemas de abastecimento de ´agua tˆem vindo a ser exploradas ao longo dos ´ultimos anos por uma s´erie de autores, tais como Walski [15] e Ormsbee [16], que s˜ao apresentados de seguida.

2.5.1 Estado-da-arte

Walski foi um dos precursores no desenvolvimento de metodologias de calibra¸c˜ao de modelos hidr´aulicos. Apresentou, no ano de 1983, um conjunto de equa¸c˜oes que permitem auxiliar a corre¸c˜ao dos valores de rugosidade das condutas e as procuras de ´agua a introduzir nos modelos hidr´aulicos [15]. Para se fazer uso destas f´ormulas, o autor pressup˜oe a necessidade de observar os valores de press˜ao do sistema durante, pelo menos, duas taxas de utiliza¸c˜ao diferentes. Adicionalmente, Walski considera a medi¸c˜ao de dados feita em testes de escoamento em bocas-de-incˆendio. Este ´e um dos primeiros trabalhos que surge sobre calibra¸c˜ao de modelos de redes de abastecimento de ´agua e, talvez por isso, considera um reduzido n´umero de vari´aveis a corrigir. Apresenta uma metodologia bastante complexa e ainda muito centrada na vertente experimental.

J´a em 1989, surge um outro trabalho, desenvolvido por Ormsbee, que apresenta um modelo matem´atico baseado no m´etodo da deriva¸c˜ao impl´ıcita. A metodologia usa um algoritmo de otimiza¸c˜ao n˜ao-linear, juntamente com um solver. Este ´ultimo permite ajustar parˆametros do modelo selecionados para condi¸c˜oes de funcionamento em estado dinˆamico ou estacion´ario. De entre os parˆametros constavam a rugosidade das tubagens, a press˜ao manom´etrica e o caudal de ´agua nos n´os. Do trabalho consta um exemplo de calibra¸c˜ao para cada tipo de estado de funcionamento (dinˆamico e estacion´ario). No entanto, o modelo n˜ao ´e aplicado a uma rede real de abastecimento de ´agua, mas sim a um exemplo de rede simplificado [16].

Em ambos os trabalhos apresentados por Walski e Ormsbee os m´etodos de otimiza¸c˜ao escolhidos e aplicados na resolu¸c˜ao das formula¸c˜oes de calibra¸c˜ao, eram m´etodos de natureza cl´assica.

No ano de 2002, surge um novo trabalho publicado por Ormsbee e seu colaborador, Lin-gireddy. Desta vez ´e apresentado um m´etodo de calibra¸c˜ao baseado na otimiza¸c˜ao de um algoritmo gen´etico, que j´a se inclui na categoria dos m´etodos modernos [17]. S˜ao ainda apresentadas evolu¸c˜oes ao n´ıvel dos parˆametros a calibrar pois, para al´em da corre¸c˜ao dos coeficientes de rugosidade das condutas, a metodologia permite o ajuste da procura temporal e espacial de ´agua. Consta ainda do trabalho a aplica¸c˜ao do modelo a dois sistemas de distri-bui¸c˜ao de ´agua benchmark2. Num dos sistemas, o modelo ´e aplicado com vista a determinar

(38)

os coeficientes de rugosidade dos tubos e a varia¸c˜ao espacial da procura de ´agua. No outro, ´e aplicado com vista a determinar a distribui¸c˜ao temporal da procura de ´agua, atrav´es de dados de telemetria do tanque. A metodologia acaba por se revelar incompleta por n˜ao incluir a determina¸c˜ao de todos os parˆametros de um s´o sistema de distribui¸c˜ao de ´agua.

Em 2003 surge uma extens˜ao do programa ArcView GIS, a GISRed, totalmente orien-R

tada para a modela¸c˜ao de redes de distribui¸c˜ao de ´agua. Desenvolvida por Mart´ınez e Bartolin [18], este programa surge da integra¸c˜ao dos mecanismos de an´alise do simulador EPANET na tecnologia GIS3. Esta permite simular, analisar e devolver o estado atual de uma rede, sujeita a determinadas condi¸c˜oes de funcionamento. Uma vez que tem por base a tecnologia GIS, as simula¸c˜oes podem ter em conta caracter´ısticas geogr´aficas, tais como a eleva¸c˜ao do terreno, a varia¸c˜ao da popula¸c˜ao ou as poss´ıveis ´areas de expans˜ao. Para al´em disto, a aplica¸c˜ao permite ao utilizador calibrar o modelo do sistema de abastecimento de ´agua atrav´es de um m´odulo de otimiza¸c˜ao que funciona de forma integrada com a extens˜ao. Assim, ´e poss´ıvel obter um modelo calibrado, proveniente da base de dados GIS.

No ano de 2010, Takahashi apresenta uma metodologia de calibra¸c˜ao com vista `a dete¸c˜ao de fugas de ´agua por vazamento, assim como de eventuais liga¸c˜oes `a rede de abastecimento de ´

agua n˜ao previstas (ilegais) [19]. A metodologia visa a calibra¸c˜ao dos parˆametros diˆametro e rugosidade das condutas, perdas de carga localizadas, procura de ´agua nodal e perdas de ´agua por vazamento. ´E implementado um algoritmo gen´etico como algoritmo de otimiza¸c˜ao que faz uso direto dos crit´erios hidr´aulicos para avan¸car no espa¸co das solu¸c˜oes. A metodologia ´e testada num sistema real, na Colˆombia, com resultados satisfat´orios.

Em 2011, Laucelli et al. publicam mais um trabalho que caracteriza o processo de cali-bra¸c˜ao como um problema a ser formulado e resolvido pela minimiza¸c˜ao de diferentes tipos de erros relativos e absolutos de uma fun¸c˜ao de otimiza¸c˜ao multiobjectivo [20]. Os autores des-tacam como parˆametros a calibrar os coeficientes de rugosidade das tubagens, os coeficientes de duas v´alvulas por cada DMA (do inglˆes District Metered Area) e um fator de velocidade de uma bomba hidr´aulica. Neste trabalho ´e destacada uma an´alise topol´ogica da rede que per-mite a decomposi¸c˜ao e simplifica¸c˜ao espacial da mesma, sem comprometer a fiel reprodu¸c˜ao das reais condi¸c˜oes de funcionamento. Para al´em disso, ´e empregue um algoritmo gen´etico multi-objectivo (MOGA, do inglˆes Multi-Objective Genetic Alorithm) para a resolu¸c˜ao da formula¸c˜ao proposta. Este trabalho consegue avan¸car no n´umero de parˆametros a calibrar simultaneamente e apresenta um m´etodo inovador no que toca `a simplifica¸c˜ao topol´ogica da rede.

No ano de 2013, ´e publicado por Sanz e P´erez [21] um estudo que visa a calibra¸c˜ao de sistemas de abastecimento de ´agua atrav´es da an´alise dos padr˜oes de consumo de ´agua. Este tipo de dados ´e um dos parˆametros mais dif´ıceis de estimar dado o baixo n´umero de sensores dispon´ıveis na maioria das redes reais. Assim, Sanz e P´erez apresentam uma metodologia que permite determinar os padr˜oes de procura de ´agua com base em dados hist´oricos, fazendo uso de um m´etodo de decomposi¸c˜ao em valores singulares (SVD, do inglˆes Single Value Decom-position). A metodologia ´e validada pela sua aplica¸c˜ao a uma rede simplificada (benchmark ) e a uma rede real, da qual constam dados medidos.

No ano de 2014, Mastik and Oslfeld prop˜oem um m´etodo de calibra¸c˜ao baseado na corre¸c˜ao de parˆametros referentes a perdas por vazamento em condutas de sistemas de abastecimento de ´agua. Estas apresentam um forte impacto sobre o sistema, uma vez que podem representar

3

GIS, do inglˆes Geographic Information System, ´e um sistema desenvolvido para capturar, armazenar, manipular, analisar e apresentar todos os tipos de informa¸c˜ao espacial ou geogr´afica.

(39)

entre 5% a 55% da totalidade da ´agua transportada na rede. Por sua vez, relacionam-se com a press˜ao do sistema pela f´ormula

qk−leak = βklkPkαk, (2.19)

onde P ´e a press˜ao m´edia e l o comprimento de cada conduta da rede e, α e β, os parˆametros a calibrar [22]. Este trabalho incide no estudo da rela¸c˜ao destes parˆametros com a idade e a rigidez das condutas de transporte de ´agua e utilizam o software EPANET, assim como um al-goritmo gen´etico de otimiza¸c˜ao para conseguir calibrar os modelos de uma rede de acordo com os dados medidos da mesma. Esta metodologia mostra-se bastante inovadora relativamente aos trabalhos apresentados anteriormente. No entanto, devido `a sua especificidade, toma o seu valor como complemento de outras metodologias de calibra¸c˜ao (restringe o processo de calibra¸c˜ao a perdas por vazamento).

No mesmo ano, Morosini e seus colaboradores [23] v˜ao um pouco mais al´em ao apresentar um m´etodo, denominado Bayesiano, para a dete¸c˜ao de fugas por vazamento, atrav´es do processo de calibra¸c˜ao. A metodologia utiliza um ´ındice µ que tem em conta a rugosidade das tubagens de modelos calibrados com e sem fugas. S˜ao ainda apresentados alguns exemplos de casos de estudo, onde esta metodologia ´e aplicada a redes simplificadas (benchmark ) na dete¸c˜ao de fugas. No entanto, estes exemplos vˆem refor¸car a dependˆencia da quantidade e qualidade dos dados de entrada dos modelos na obten¸c˜ao de bons resultados.

Para al´em dos trabalhos publicados, ´e poss´ıvel encontrar a aplica¸c˜ao de algoritmos gen´eticos em calibra¸c˜ao de sistemas de abastecimento de ´agua no conjunto de programas comerciais Darwin Calibrator para WaterCAD [24]. Este programa utiliza os parˆametros rugosidade das condutas, procura de ´agua e, mais recentemente, perdas por vazamento como vari´aveis a serem calibradas.

Surge ainda em 2014 um novo m´etodo para a calibra¸c˜ao simultˆanea dos padr˜oes de procura de ´agua e coeficientes de Hazen-Williams [25]. Este faz uso de algoritmos de otimiza¸c˜ao do tipo Col´onia de Formigas (ACO) em conjunto com o simulador hidr´aulico EPANET2, atrav´es de um c´odigo MATLAB. Para al´em dos parˆametros a calibrar, o m´etodo faz uso de dados medidos do caudal e da press˜ao, ao n´ıvel dos n´os das instala¸c˜oes. O m´etodo ´e testado num exemplo de rede de duas malhas e numa rede de distribui¸c˜ao de ´agua real.

Alves e seus colabores [26] basearam-se num processo de tentativa erro de forma a tentar ajustar um modelo de uma pequena por¸c˜ao de rede de distribui¸c˜ao de ´agua, situada na cidade de Castelo Branco, que revelava problemas de press˜ao. Deste trabalho resultou um modelo calibrado que possibilitou ditar medidas a tomar, com vista a resolver os problemas de press˜ao verificados na rede. No entanto, a metodologia de calibra¸c˜ao utilizada passou por um processo de tentativa erro e, de uma forma geral, o trabalho desenvolvido lida com poucos dados, dada a por¸c˜ao de rede analisada. Assim, verifica-se que a metodologia desenvolvida e apresentada neste trabalho ainda se encontra muito afastada de um processo geral de calibra¸c˜ao.

Imagem

Figura 2.1: Quantidade global de ´ agua utilizada anualmente pelos diferentes setores consu- consu-midores, para as diferentes regi˜ oes do mundo [3]apud [5].
Figura 2.3: Varia¸ c˜ ao da procura anual de ´ agua entre os anos de 2000 e 2009 [9].
Figura 2.7: Exemplo de um modelo de um SAA obtido pelo simulador EPANET 2.0.
Figura 3.4: M´ etodo utilizado para a cria¸ c˜ ao de novos padr˜ oes de consumo associados a perdas de ´ agua por vazamento na rede.
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Referências

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