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A Teoria do Gatekeeper aplicada ao departamento de agenda e planeamento da TVI

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

A Teoria do Gatekeeper aplicada ao

Departamento de Agenda e Planeamento da TVI

- Versão Final -

Relatório de Estágio

2.º Ciclo de Estudos em Ciências da Comunicação Especialização em Jornalismo

Daniela Patrícia Santos Morais

Orientadora: Prof.ª Doutora Maria da Felicidade Araújo Morais

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

A Teoria do Gatekeeper aplicada ao

Departamento de Agenda e Planeamento da TVI

Relatório de Estágio

2.º Ciclo de Estudos em Ciências da Comunicação Especialização em Jornalismo

Daniela Patrícia Santos Morais

Composição do Júri:

______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

(3)

i

Declaração

Declaro que este relatório de estágio é o resultado do meu trabalho e investigação. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto ou nas referências bibliográficas.

Daniela Morais: ________________________________________

(4)

ii Aos meus pais e irmã pelo apoio incondicional,

Colegas de trabalho pelo companheirismo,

(5)

iii

Resumo

Este trabalho reflete as atividades realizadas ao longo do meu estágio na TVI, onde desempenhei as funções de jornalista no Departamento de Agenda e Planeamento. Nele apresento uma base teórica que permite enquadrar as rotinas da atividade jornalística do departamento onde estive inserida. É com recurso às teorias do jornalismo, e mais especificamente à teoria do gatekeeper, que consigo perceber a problemática existente à volta do processo de construção das notícias. As pesquisas de David Manning White sobre o papel do jornalista, na tomada de decisões sobre a informação que é selecionada, são a base que sustenta a minha investigação sobre o processo de seleção da informação no meu local de estágio. Os estudos de Mauro Wolf, sobre o conjunto de fatores que determinam a noticiabilidade dos acontecimentos, vieram ajudar a minha investigação no sentido de perceber o método de trabalho dos meus colegas naquele departamento. É então possível responder às questões fundamentais desta problemática: O que é acontecimento? Porque certos acontecimentos são notícia e outros são excluídos? O que é notícia?

A investigação teve como matéria de análise a agenda diária de um dia e o planeamento mensal de um mês e permitiu fazer um cruzamento das várias teorias do jornalismo.

Palavras-chave: Teorias do Jornalismo; Notícias; Gatekeeper; Jornalista; Informação; Noticiabilidade; Acontecimentos.

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iv

Abstract

This work reflects all the activities carried out during my internship at TVI, where I performed the duties of journalist in the Department of Planning and Agenda. In this paper I will present a theoretical basis for the daily routines in journalism department where I have been placed. Only by using the journalism theories and, more specifically, in the gatekeeper theory, I can realize all the issues involving the news construction process. The David Manning White research (platform or standard) regarding the role of journalist, in making decisions about the information that is selected, are the foundation that sustains my research about the information selection process in my training place. Taking into account the studies of Mauro Wolf, over a set of factors that determine the newsworthiness of events, helped me in my (analysis or investigation), to understand the working method of my colleagues in that department. It is possible then to answer the fundamental questions of this issue: What is event news? Which is the important event? Why certain events are newsworthy and why others are excluded? What is a report? This inquiry regards analysis of the daily schedule of one day, and the monthly planning a month. This allowed me to do the crossover of the various theories of journalism.

Keywords: Journalism Theories; News; Gatekeeper; Journalist; information; newsworthiness; Events.

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Índice

Introdução ... 1

1.ª Parte – Enquadramento Teórico ... 3

1. Jornalismo ... 3

2. Fontes de Informação ... 4

2.1. Perspetivas sobre as fontes de informação ... 7

2.1.1. Molostch e Lester – A fonte como promotor ... 7

2.1.2. Sigal – Fontes oficiais e não oficiais na criação da notícia ... 8

2.1.3. Hall et al. – O primeiro definidor ... 8

2.1.4. Gans – A negociação entre jornalistas e fontes ... 9

3. Teorias do Jornalismo ... 10

3.1. Teoria do Gatekeeper ... 11

3.1.1. Proposta de Kurt Lewin ... 11

3.1.2. Proposta de David Manning White ... 13

3.1.3. Críticas à Teoria do Gatekeeper ... 15

3.1.4. Rotinas produtivas ... 16

3.1.5. Do newsmaking aos critérios de noticiabilidade ... 17

3.2. Teoria do Agenda-setting ... 18

3.3. Teoria do Espelho ... 21

3.4. Teoria Espiral do Silêncio ... 22

3.5. Teoria Organizacional ... 23

3.6. Teoria da Ação Política ... 24

3.7. Teoria Contrucionista ... 25

2.ª Parte - Experiência de Estágio ... 27

4. A TVI e a televisão em Portugal ... 27

4.1. Órgãos e instalações ... 28

4.2. O Departamento de Agenda e Planeamento (DAP) ... 29

4.3. Atividades de estágio ... 31

4.3.1. Um dia de trabalho do Departamento de Agenda e Planeamento ... 31

4.3.2. Síntese das tarefas realizadas ... 33

5. Triagem e seleção da informação - dois estudos de caso ... 39

(8)

6

5.2. Caso I: Agenda diária ... 40

5.3. Caso II: Planeamento mensal ... 46

6. Apreciação Crítica ... 51

Conclusão ... 52

Bibliografia ... 54

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Índice de gráficos

Gráfico n.º 1: Quantidade de informação recebida da agenda de 12 de junho de 2012 . 41 Gráfico n.º 2: Quantidade de informação por editoria com saída de equipa no dia 12 de junho de 2012 ... 42 Gráfico n.º 3: Relação entre a presença/ausência de figuras públicas nos conteúdos agendados ... 43 Gráfico n.º 4: Relação entre a presença/ausência de figuras públicas nas saídas de equipa dos conteúdos agendados no gráfico anterior ... 44 Gráfico n.º 5: Natureza da informação que é colocada na agenda diária ... 45 Gráfico n.º 6: Relação entre a informação colocada em agenda diária e informação utilizada nas saídas de equipa ... 46 Gráfico n.º 7: A proximidade como fator decisivo na realização de notícias ... 47 Gráfico n.º 8: A origem da informação no planeamento mensal ... 48 Gráfico n.º 9: A presença/ausência de figuras públicas nos conteúdos agendados no planeamento mensal ... 49

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Índice de figuras

Figura n.º 1: Método de gatekeeping aplicado por Lewin………...12 Figura n.º 2: Modelo de gatekeeping de David Manning White……….14

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1

Introdução

O presente relatório dá corpo a seis meses de estágio na TVI – Televisão Independente. Inserido no 2.º ano de Mestrado em Ciências da Comunicação, vertente de Jornalismo, o meu estágio foi realizado no Departamento de Agenda e Planeamento e, nos últimos meses, também colaborei com o Departamento de Sociedade. Com esta experiência coloquei em prática os ensinamentos adquiridos ao longo dos estudos, estive em contacto direto com a realidade profissional e desenvolvi capacidades de autonomia no trabalho. De forma a clarificar o meu trabalho e perceber as rotinas diárias de um canal televisivo, procurei inserir todo este ambiente numa vertente teórica capaz de explicar cada tomada de decisão na seleção da informação. Recorri às teorias do jornalismo, dando maior destaque à teoria do gatekeeper ou da ação pessoal, para compreender a problemática inerente ao processo de construção das notícias.

Os meios de comunicação social têm a capacidade de moldar o nosso conhecimento ao selecionarem determinados acontecimentos em detrimento de outros. É feita uma seleção da informação onde os acontecimentos são transformados em notícias e o público tem apenas acesso às informações filtradas. Com a sua capacidade de aliar som, imagem e movimento, a televisão arrasta multidões desde meados do século XX. Veio trazer a possibilidade de se presenciarem acontecimentos que ocorrem em qualquer parte do mundo, contribuindo assim para a globalização da informação. Contudo, apesar da variedade de acontecimentos que ocorrem à nossa volta, acabamos por ter acesso apenas a uma pequena parte. Cada estação televisiva faz a sua própria seleção da informação, diferindo as notícias de canal para canal. O público pensa que está a ver as coisas tal e qual como elas são, não tendo noção de que está apenas a receber aquilo que as regras editoriais querem que ele veja, ou o que alguém decidiu selecionar para lhe dar a conhecer. É aqui que começa a manipulação perspicaz da informação.

O estudo de David Manning White em 1950 foi um grande contributo para as teorias do jornalismo e para ajudar a compreender todo o processo de seleção das notícias, apresentando as principais razões para se publicar ou rejeitar uma notícia. Pamela Shoemaker apresenta uma breve descrição do processo de seleção das notícias, o chamado gatekeeping:

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2 Gatekeeping é o processo de seleção e transformação de vários pequenos pedaços de

informação na quantidade limitada de mensagens que chegam às pessoas diariamente, além de ser o papel central da mídia na vida pública moderna. […] Esse processo determina não apenas qual informação será selecionada, mas também qual será o conteúdo e a natureza de mensagens tais como as notícias, por exemplo. (Shoemaker, e Vos 2011: 11)

Tal como White, Mauro Wolf também apresentou um estudo muito importante para a compreensão dos meios de comunicação social com a explicação dos valores notícia como critérios de seleção e construção da notícia.

Inserida num departamento onde a função principal dos seus colaboradores se prende com a receção e seleção da informação, senti a necessidade de perceber todo este processo e desenvolver o conceito de gatekeeping introduzido por White. Com um tema definido para a minha investigação – o processo de gatekeeping – e tendo como objeto de estudo todo o trabalho realizado no Departamento de Agenda e Planeamento, é possível começar a pesquisa e tentar perceber porque certas informações são agendadas e outras são colocadas de parte.

O meu relatório começa por expor a componente teórica que sustenta toda a minha pesquisa – o jornalismo e os processos envolvidos na criação de notícias. Desta forma, é feita uma análise às várias teorias do jornalismo e, mais especificamente, à teoria do gatekeeper – a sua origem, princípios e críticas. De seguida, apresento a entidade onde estive inserida e, mais propriamente, o departamento onde realizei o meu estágio. Para finalizar e evidenciar todo o meu trabalho e dos meus colegas no Departamento de Agenda e Planeamento, apresento uma investigação que permite justificar algumas das escolhas que se fazem na seleção da informação.

Com a apresentação da minha experiência de estágio e a reflexão sobre alguns contributos teóricos relevantes, é possível contribuir para uma melhor compreensão do mecanismo que está subjacente ao processo de criação de notícias.

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3

1.ª Parte – Enquadramento Teórico

1. Jornalismo

Os meios de comunicação social são a principal fonte de informação da sociedade atual. Aqui, o jornalista utiliza as notícias para reproduzir acontecimentos e narrar factos. Torna-se um mediador que faz a ligação entre os acontecimentos e as pessoas, uma vez que “Toda a gente precisa de notícias. Na vida quotidiana, as notícias contam-nos aquilo a que nós não assistimos diretamente e dão como observáveis e significativos happenings que seriam remotos de outra forma” (Traquina 1993: 34).

É através do jornalismo que a sociedade se mantém atualizada e, ao mesmo tempo, obtém orientações e forma opiniões sobre variadíssimas questões do quotidiano. Traquina mostra a importância que o jornalismo assume na sociedade:

Vale a pena resumir a importância do jornalismo, ou, se preferirem, dos media noticiosos, e das notícias, em qualquer sociedade, incluindo as democracias. Por um lado, determinam quais são os acontecimentos (assuntos problemáticos) com direito a existência pública e que, por isso, figuram na agenda de preocupações, como temas importantes da opinião pública […] Por outro lado, definem o(s) significado(s) dos acontecimentos (assuntos e problemáticas), oferecendo interpretações de como compreendê-los (Traquina 1993:11).

O jornalista é um profissional que faz mais do que informar aquilo que acontece, ele estabelece a ligação dos acontecimentos e estimula o público. É por isso uma profissão mais difícil do que parece, como nos diz Traquina:

O jornalismo constitui uma actividade profissional de grande dificuldade e de grande complexidade, e, por isso, um alvo fácil de criticar. Afinal, os jornalistas são frequentemente obrigados a elaborar a notícia, a escrever a «estória», em situações de grande incerteza, com falta de elementos, confrontados com terríveis limitações temporais, pressionados pela concorrência dos outros órgãos de informação. Ainda mais, precisam de selecionar certos acontecimentos dentro duma avalancha de múltiplos acontecimentos, fazendo escolhas quase imediatas, sem grande tempo para refletir sobre o significado e o alcance histórico do que acaba de acontecer e que «precisa» de ser informado imediatamente. […] O jornalista corre o risco de só ver as árvores e não a floresta, ou ainda, se colocado em cima, de só ver as árvores coloridas (Traquina 1993: 12).

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4

2. Fontes de Informação

A transmissão de informações e ideias está presente em todos os momentos e é essencial à existência humana. Em sociedade essa comunicação é feita de forma direta entre os seus membros e pelas inter-relações que estabelecem, mas “Os primeiros atos comunicativos foram, sem dúvida, gestos e expressões, e só mais tarde, de uma forma misteriosa, apareceu a língua” (Santos 1992: 12). Atualmente, o jornalismo constitui uma das formas de comunicação que se assumem como um instrumento eficaz na transmissão de culturas, ideias e informações às sociedades de todo o mundo - toda essa comunicação é feita através do seu produto final: as notícias.

A comunicação é feita pelo contacto direto entre os indivíduos e os grupos que constituem a sociedade - aqui negoceiam-se diálogos, argumentos e perspetivas. A ligação entre estes intervenientes é potenciada pela mediação dos suportes da comunicação social, que cada vez mais ocupam um lugar privilegiado na construção da opinião pública. A notícia tem a capacidade de informar e formar opiniões e reações sobre todo o tipo de questões do quotidiano.

O jornalismo surgiu quando a diversidade e a complexidade das sociedades exigiram uma resposta que já não era transmissível pela simples comunicação de sinais e mensagens. A comunicação primitiva, eminentemente oral, individual e anárquica, cedia o passo a uma comunicação organizada e hierarquizada – a informação – capaz de selecionar os acontecimentos mais relevantes e de os levar ao conhecimento de comunidade. (Jespers 1998: 13)

Assim, torna-se indispensável o estudo das notícias e os seus efeitos sobre a sociedade, bem como todo o processo de criação da notícia e os agentes sociais que nelas intervêm: as fontes de informação.

Não existe jornalismo sem fontes de informação e todo o trabalho jornalístico está dependente de correspondências, tal como descreve Mar de Fontcuberta “La relación entre el medio y las fuentes es una de las más complejas y básicas de todo el processo de produción de notícias. Um medio sin fuentes es un medio muerto” (Fontcuberta 1993: 5). No processo de criação de notícias, os jornalistas usam informações que lhes chegam através de cartas, e-mails, telefonemas e outros meios de comunicação social e, até mesmo, o contacto direto com as fontes de informação –

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5 polícia, bombeiros ou entidades particulares. Cabe ao jornalista fazer uma recolha otimizada da informação recebida – função que o distingue enquanto profissional. Para Jorge Pedro Sousa todas as informações disponibilizadas por fontes de informação “devem ser tratadas sem adulteração, mas também devem ser, por princípio, verificadas” (Sousa 2001: 64).

O tratamento das fontes de informação está na base do trabalho jornalístico, pois não existe informação sem a cooperação entre jornalistas e fontes. Ao jornalista compete a análise e o tratamento da informação que lhe é fornecida uma vez que não existe informação verídica sem rigor no seu tratamento.

A Declaração de Munique1

1.– Respeitar a verdade, sejam quais forem as consequências que daí advenham para si próprio, e isto como consequência do direito do público a conhecer a verdade;

expressa os deveres do jornalista na sua prática profissional:

2.– Defender a liberdade de informação, do comentário e da crítica;

3.– Publicar somente as informações cuja origem seja conhecida; não suprimir as informações essenciais e não falsificar documentos;

4.– Não utilizar métodos desleais para obter informações, fotografias e documentos;

5.– Obrigar-se a respeitar a vida privada das pessoas;

6.– Retificar qualquer informação publicada que se revele inexata;

7.– Guardar segredo profissional e não divulgar a fonte das informações obtidas confidencialmente;

8.– Repudiar o plagiato, a calúnia, a difamação e as acusações sem fundamento, bem como a aceitação de vantagens obtidas por meio da publicação ou supressão de uma informação;

9.– Nunca confundir a profissão de jornalista com a de publicitário ou de propagandista, e não aceitar qualquer orientação, direta ou indireta, dos publicitários;

1 A Declaração dos Deveres e Diretos dos jornalistas é conhecida como Declaração de Munique.

Foi aprovada na cidade alemã, em 24 e 25 de novembro de 1971 pelos representantes dos Sindicatos de Jornalistas dos seis países membros da Comunidade Económica Europeia – países fundadores da CEE – Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo.

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6 10.– Recusar qualquer pressão e não aceitar qualquer diretiva redatorial que não

provenha dos responsáveis da redação. (Cf. Bogaerts 1976: 137-140)

As regras profissionais comportam uma sequência de operações que, quando seguidas à risca, permitem analisar as informações de forma a abordar adequadamente a realidade dos acontecimentos.

A pressa em dar a informação em primeira mão leva a que as fontes, por vezes, obriguem o jornalista a dar confirmações apressadas e sem certezas. Daniel Cornu avalia a relação de competitividade que existe entre as agências de informação: “As agências de imprensa concorrentes estão permanentemente envolvidas numa competição que as expõe a derrapagens, notícias imprecisas ou inexactas, corrigidas ou desmentidas algumas horas depois, por vezes alguns minutos mais tarde” (Cornu 1994:78).

Muitas vezes, a falta de tempo e urgência do trabalho levam a que o jornalista não consiga proceder a confirmações, acabando por colocar em causa as regras jornalísticas. A comparação entre diversas fontes de informação acaba por ser a melhor forma de garantir informações leais.

A relação entre jornalistas e fontes de informação deve estar assente no segredo redatorial, para que a pesquisa de informações seja feita com base no dever de verdade. A Declaração de Munique protege a sua fonte, ou seja, o jornalista que recebe as informações a título confidencial só é autorizado a servir-se delas se omitir a sua origem. Esta recomendação leva a que, muitas vezes, o jornalista tente baralhar as pistas de forma a não identificar a fonte. Por outro lado, a deontologia pode acarretar situações menos agradáveis quando a fonte informa e, ao mesmo tempo, bloqueia a informação. Estas situações ocorrem, geralmente, com detentores de poder político ou económico pois, por um lado, querem dar a informação ao jornalista e, por outro, não querem que esta seja publicada. Consciente da sua responsabilidade com a deontologia, o jornalista fica prisioneiro do compromisso assumido com a fonte e pode acabar por prejudicar o seu trabalho, chegando a anular a sua investigação acerca do assunto confidenciado pela fonte. O estatuto da deontologia profissional não é fácil de definir, pois pela sua composição codificada parece criar obrigações e o sentimento de medo de possíveis punições. Contudo, a deontologia pretende assegurar e otimizar a circulação da informação e proteger os jornalistas contra as pressões de quem os alicia a agir contra as suas regras profissionais tornando mais fácil a relação entre jornalistas, fontes e público.

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7 Em Portugal, o estatuto do jornalista agrega os direitos2, os deveres3 e as incompatibilidades4 da profissão. Contudo, estes direitos e deveres são, muitas vezes, desprezados pela concorrência entre os media e pela busca incessante de notícias em primeira mão. Para fazer a ligação entre a ética e a deontologia existem instrumentos legais que regulam os media, sendo este controlo feito pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

2.1. Perspetivas sobre as fontes de informação

Ao longo do tempo, diferentes autores contribuíram para o estudo das fontes de informação, com maior ou menor aproximação em termos de teorização. A investigação sociológica da organização da notícia concedeu destaque, durante muito tempo, às organizações noticiosas, tendo por base a perspetiva do jornalista e o seu posto de trabalho (Schlesinger 1978; Tuchman 1978; Fishman 1980; Ericson et al. 1978). Mais recentemente, é dada maior importância às fontes emissoras (Molotch e Lester 1974; Hall et al. 1978; Gans 1979; Hess 1984; Villafañé et al. 1987; Sigal 1986) e nas metodologias utilizadas pelas fontes na recolha de informações (Ericson et al. 1989; Schlesinger 1992; Tuchman 1991; Blumer e Gurevitch 1995; Curran 1996) (Santos 1997: 21-22)5

De modo a tornar mais claro o papel das fontes de informação, abordo o contributo de alguns estudiosos mencionados anteriormente.

2.1.1. Molostch e Lester – A fonte como promotor

Harvey Molotch e Marylin Lester empenharam-se na criação de tipologias ou categorias de acontecimentos: os acidentes, a rotina, o escândalo e o acaso, que surgem conforme exista ou não intenção de realização de notícia. Para estes autores a maior parte dos acontecimentos são planeados e realizados por uma entidade “promotora” e enviados aos jornalistas, que preparam a notícia. Interrogando-se sobre o modo como surge a notícia, Molotch e Lester escrevem “Partindo do princípio que ela nos narra

2 Artigo 6.º do Estatuto do Jornalista Português. 3 Artigo 14.º do Estatuto do Jornalista Português. 4 Artigo 3.º do Estatuto do Jornalista Português.

5 Para a revisão da literatura sobre as fontes de informação, apoiei-me na exposição feita por Santos

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8 aquilo a que não se tem acesso direto, tornando observáveis e com significado esses acontecimentos remotos” (Molotch e Lester 1974 apud Santos 1997: 22)

Os acontecimentos dividem-se em três níveis - numa primeira fase, surgem os promotores, designados como news promotors com interesse em divulgar certos acontecimentos ou impedir determinadas ocorrências de atingirem o grau de acontecimento; numa segunda fase, surgem os jornalistas news assemblers que recebem os materiais dos promotores e transformam as ocorrências em acontecimentos públicos; e, por último, os leitores news consumers recebem os acontecimentos difundidos pelos meios de comunicação social.

Quanto à tipologia dos acontecimentos, os autores identificam quatro tipos: a rotina, que se baseia em acontecimentos planeados e onde o empreendedor é, ao mesmo tempo, o promotor; o acidente, que é considerado um acontecimento não intencional, onde os promotores diferem dos realizadores; o escândalo, que se transforma em acontecimento devido à intenção dos informadores; por último, o acaso, que se insere num acontecimento não planeado e promovido pelo próprio effector.

2.1.2. Sigal – Fontes oficiais e não oficiais na criação da notícia

Dificilmente o jornalista está em posição de testemunhar os acontecimentos em primeira mão, pois não consegue prever os acontecimentos e, devido a esta impossibilidade, está dependente de fontes de informação. Assim, Leon Sigal defende que “A notícia não é o que os jornalistas pensam, mas o que as fontes dizem, mediada pelas organizações noticiosas, rotinas jornalísticas e convenções” (Sigal 1986 apud Santos 1997: 25 e 26).

Na procura de fontes de informação, o jornalista pode encontrar dois tipos: as fontes oficiais e as fontes não oficiais. Nesta escolha, Sigal sustenta que “Ao escolherem os ‘quem’, os jornalistas preferem os conhecidos aos desconhecidos, e quando não há conhecidos, eles criam-nos” (Sigal 1986 apud Santos 1997: 29).

2.1.3. Hall et al. – O primeiro definidor

Na visão de Stuart Hall et al. os meios de comunicação social têm uma disposição para “reproduzir, do ponto de vista simbólico, a estrutura existente do poder na ordem institucional da sociedade” (Hall 1978 apud Santos 1997: 29)

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9 É esta preferência que os meios de comunicação atribuem aos “senhores do poder” que leva Hall a criar a categoria de “definidores primários”, considerando que constituem uma hierarquia de credibilidade onde os mais poderosos têm as suas ideias ou informações mais bem aceites. As práticas jornalísticas favorecem as fontes com autoridade em detrimento das fontes anónimas.

2.1.4. Gans – A negociação entre jornalistas e fontes

Herbert Gans dedicou-se ao estudo do comportamento dos jornalistas nas redações de vários meios de comunicação (CBS, NBC, Times e Newsweek) e verificou que são um elemento fundamental na qualidade da informação difundida pelos meios de comunicação social. A sua definição de fonte é muito sucinta e esclarecedora: “pessoa que o jornalista observa ou entrevista e a quem fornece informações enquanto membro ou representante de um ou mais grupos (organizados ou não) de utilidade pública ou de outros sectores da sociedade” (Gans 1979 apud Santos 1997: 32). Posto isto, Gans conclui que “as relações entre a fonte e o jornalista correspondem a uma luta” (Gans 1979 apud Santos 1997: 34) na qual as fontes se esforçam ao máximo para obterem informações e dar o seu melhor, os jornalistas limitam-se a contactar as fontes com apenas um objetivo: retirar as informações que lhes interessam.

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3. Teorias do Jornalismo

Estudar o Jornalismo é fundamental para se entender de que forma os media contribuem diariamente para a construção da realidade social. A grande preocupação das pesquisas em jornalismo e produção da notícia, no decorrer do século XX, foi responder à questão: Por que é que as notícias são como são?

As investigações neste campo tiveram início no século XIX. Em 1910, na Universidade de Chicago, foi apresentada uma tese de doutoramento sobre o papel social do jornal; posteriormente, em 1918, o sociólogo alemão Max Weber escreveu sobre as notícias num trabalho e, quatro anos mais tarde, em 1922, é a vez do sociólogo norte-americano Robert Ezra Park publicar um estudo sobre a natureza das notícias. Neste mesmo ano, Walter Lippman publicou o seu livro Public Opinion, e no seu primeiro capítulo The world outside and the pictures in our heads mostra que os media são a principal ligação entre os acontecimentos do mundo e as imagens desses acontecimentos na nossa mente. Lippman estava a antecipar em 50 anos todo o conjunto de pesquisas em torno da Teoria do Agendamento (McCombs e Shaw 1972), que, no fim do século XX, constituiu uma das linhas de pesquisa mais dinâmicas no estudo dos media e do jornalismo. Contudo, foi o ano de 1950 que representou um marco histórico na investigação em jornalismo: David Manning White publicou um artigo na Journalism Quartely, a mais antiga revista académica sobre estudos em jornalismo. No seu artigo, White aplica ao jornalismo o conceito de Gatekeeper, termo introduzido por Kurt Lewin numa pesquisa publicada em 1947 sobre as decisões domésticas em relação à compra de alimentos para casa. Com este estudo, White acabara de criar uma das problemáticas do jornalismo: o processo de gatekeeping.

A inquietação em compreender a atividade jornalística passou a ter cada vez mais expressão e, por isso, Traquina fala-nos na existência de várias teorias:

Ao longo de várias décadas, e depois de muitos estudos realizados sobre o jornalismo, é possível esboçar a existência de várias teorias que tentam responder à pergunta porque as notícias são como são, recolhendo o fato de que a atualização do termo “teoria” é discutível, porque pode também significar aqui somente uma explicação interessante e plausível, e não um conjunto elaborado e interligado de princípios e proposições. De notar, também, que essas teorias não se excluem mutuamente, ou seja, não são puras ou necessariamente independentes umas das outras. (Traquina 2004: 146)

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11 As teorias aqui apresentadas estão inseridas na tendência divisionista, sendo a Teoria do Gatekeeper o meu objeto de estudo principal, por se aplicar na totalidade ao meu local de estágio e à minha participação ativa no Departamento de Agenda e Planeamento da TVI. Porque o trabalho jornalístico é influenciado pelas várias teorias, apresento uma breve abordagem sobre algumas e faço uma exposição mais aprofundada sobre a Teoria do Gatekeeper.

3.1. Teoria do Gatekeeper 3.1.1. Proposta de Kurt Lewin

A primeira vez que os termos gatekeeper e comunicação apareceram lado a lado foi em 1947 na publicação de um artigo, não acabado, por Kurt Lewin6

A Figura 1 ilustra de que forma os canais podem ser subdivididos em secções, e o início de cada uma delas representa um ponto de ação. No canal do armazém, por exemplo, as primeiras três secções incluem a descoberta do alimento no armazém, a compra e o transporte até casa. A viagem do alimento pelo canal da horta começa com a

e intitulado de “Frontiers in group dynamics II: channels of group life; social planning and action research” na revista Human Relations. A segunda versão deste artigo apareceu numa coleção sintetizadora do trabalho de Lewin, no capítulo “Ecologia psicológica” do livro Field theory in social science, de 1951. Neste livro, um grupo de psicólogos queria reduzir a pessoa e o ambiente a elementos isolados que podiam ser causalmente conectados. Assim, o contributo de Lewin neste estudo passou pela análise da possibilidade de uma mudança dos hábitos alimentares de uma população. Na sua análise sobre o consumo de alimentos, Lewin partiu da hipótese de que nem todos os membros de uma determinada população têm o mesmo nível de importância na determinação do que é alimento. Deste modo, a análise seria mais eficaz se o foco de investigação estivesse centrado junto das pessoas com maior controlo na seleção de alimentos que iriam chegar à mesa. Lewin pensava que os alimentos chegavam às mesas das famílias através de canais, sendo um dos canais o armazém onde o alimento é comprado. Contudo, existem outros canais que também transportam alimentos, como por exemplo, uma horta familiar.

6 Lewin era diretor do Centro de Pesquisas de Dinâmicas de Grupo do Instituto de Tecnologia

de Massachusetts (MIT), mas havia passado anteriormente por outras universidades dos Estados Unidos, inclusive pela Universidade de Iowa.

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12 compra de sementes ou plantas em uma agropecuária e com o seu plantio. Conforme as frutas e os vegetais crescem, alguns são eliminados, outros são comidos na horta por insetos ou crianças, os outros morrem por falta de fertilizantes ou água. Das frutas disponíveis para uso doméstico, apenas algumas são colhidas, outras padecem em parreiras e galhos. (Shoemaker e Vos 2011: 25)

Figura n.º 3: Método de gatekeeping aplicado por Lewin. Fonte: Lewin 1947 apud Shoemaker e Vos 2011: 25.

O método de gatekeeping de Lewin mostra como os itens alimentares percorrem dois canais até chegarem à mesa das famílias. Os canais estão divididos em secções e na frente de cada uma há um portão que regula o movimento pelo canal. As forças em ambos os lados do portão podem restringir ou facilitar o movimento dos itens pelos canais.

Neste ponto, os canais do armazém e da horta formam o canal da cozinha. É preciso tomar decisões sobre armazenamento (no frigorífico ou na despensa?) para cada unidade de alimento. Como consequência, alguns alimentos são “perdidos” na longa estadia no frigorífico, e outros são desperdiçados por serem incorretamente armazenados. Em seguida, o cozinheiro decide se (e como) deve cozinhar o alimento ou enviá-lo cru para a próxima secção, a preparação para a mesa. Finalmente, o cozinheiro

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13 coloca o alimento na mesa, pronto para ser consumido pela família (Lewin 1947 apud Shoemaker e Vos 2011: 26). Em cada uma das secções, o alimento pode ser rejeitado ou aceite e o processo de passar pelos diversos canais também o pode modificar. O processo de gatekeeping envolve não só a seleção ou rejeição de itens mas também o processo de modificação por forma a tornar os alimentos mais apelativos para o consumidor final. No momento da decisão final (consumo) até mesmo a forma como são dispostos no prato e na mesa podem afetar a decisão de comer ou não comer. Lewin acreditava que este modelo poderia ser aplicado a outras situações:

Essa situação vale não apenas para canais de alimento, mas também para a passagem de itens de notícia por certos canais de comunicação em um dado grupo, para a passagem de mercadorias, e a locomoção social de indivíduos em muitas organizações (Lewin 1947 apud Shoemaker e Vos 2011: 28)

Embora sejam usados certos termos, como por exemplo, portões, canal e secção, estes apenas servem como modelo de orientação e não passam em absoluto para o objeto em si. Os portões referem-se aos momentos de decisão ou ação; a secção corresponde ao que ocorre no canal. Lewin acreditava que compreender como é que o portão funcionava seria compreender que fatores determinam as decisões dos gatekeepers, mas para alcançar estas conclusões o investigador teria que conhecer os gatekeepers na sua plenitude.

3.1.2. Proposta de David Manning White

O primeiro investigador, da área da comunicação, a fazer a ligação entre a teoria dos canais e dos gatekeepers de Kurt Lewin para uma nova pesquisa foi David Manning White, que analisou os trabalhos de Lewin enquanto trabalhou como seu assistente de pesquisa na Universidade de Iowa. Para conseguir levar a cabo o seu estudo, White contou com a colaboração de um editor de um jornal (com 25 anos de experiência) de uma cidade do Midwest com 100 000 habitantes. Apelidado de Mr. Gates, o editor ficou com a responsabilidade de guardar todos os textos das agências Associated Press, United Press e International News Service que chegavam ao seu gabinete durante uma semana (fevereiro de 1949). Para além da recolha de informações, o Mr. Gates também ficou responsável por fornecer explicações sobre as razões pelas quais cada um dos

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14 itens rejeitados não tinha sido usado – cerca de 90% dos textos enviados pelas agências não eram usados. Esta pesquisa revelou que:

Das 1333 explicações para a recusa de uma notícia, cerca de 800 atribuíam-na à falta de interesse jornalístico, ou à falta de qualidade da escrita. Outros 76 casos diziam respeito a acontecimentos em áreas demasiado afastadas do jornal e, por isso, presumivelmente desprovidas de interesse para o leitor […]. Estatisticamente, no que respeita às explicações fornecidas pelo jornalista e relatadas por White, estas normas profissionais superavam as distorções subjetivas. (Hirsch apud Wolf 2001)

Com estas informações em mão, White conseguiu realizar uma comparação entre os itens utilizados e os itens que tinham recebido na totalidade. Segundo White, as decisões tomadas na seleção da informação eram “altamente subjetivas” (White 1950 apud Shoemaker e Vos 2011: 28) pois, 1/3 das vezes o Mr. Gates decidiu rejeitar as histórias com base na sua avaliação pessoal; os outros 2/3 da informação eram excluídos porque não havia espaço suficiente para as publicar.

A Figura 2 representa o modelo de gatekeeper na perspetiva de White, que resumidamente se pode explicar da seguinte forma: As fontes das notícias (N) enviam conteúdos jornalísticos ao gatekeeper, o qual rejeita algumas (N1 e N4) e envia outros (N2 e N3) para a audiência (M).

Figura n.º 4: Modelo de gatekeeping de David Manning White Fonte: McQuaid e Windahl 1981 apud Shoemaker e Vos 2011: 29

Desta forma, naquele espaço em que se decide o que atravessa o portão, o que é publicado e o que não atravessa o portão, ou seja, o que é rejeitado, parece notória uma certa margem de manobra para o jornalista. Este poder de decisão é contra a ideia

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pré-15 concebida do jornalista como alguém neutro que coloca de parte a subjetividade. Na perspetiva do gatekeeping o processo de produção de informação é

Concebido como uma série de escolhas onde um fluxo de notícias tem que passar por diversos «portões» (os famosos gates) que não são mais do que áreas de decisão em relação às quais o jornalista (gatekeeper) tem de decidir se vai escolher essa notícia ou não, ou seja, a notícia acaba por passar pelo «portão» ou a sua progressão é impedida, o que na prática significa a sua «morte» (Traquina 1993:134).

O jornalista perde a sua isenção e a sua imparcialidade quando toma a decisão do que deixa passar pelo portão e o que não deixa passar, ou seja, o jornalista perde a neutralidade no momento em que desempenha o papel de porteiro e daí que o termo gatekeeper seja aplicado “à pessoa que toma uma decisão numa sequência de decisões” (Traquina 2002: 77). Para Schudson, na teoria do gatekeeper as notícias são “explicadas como um produto das pessoas e das suas intenções” (Schudson 1978 apud Traquina 2002: 78). Os jornalistas ao desempenharem o papel de “porteiro” acabam por colocar em causa a primeira teoria clássica do jornalismo: Teoria do Espelho. Segundo esta teoria, o produto jornalístico deve ser apresentado como um espelho da realidade, onde a função do jornalista se resume apenas a informar.

3.1.3. Críticas à Teoria do Gatekeeper

Todo o trabalho de pesquisa e respetivas conclusões, apresentadas por White sobre o seu estudo em torno do Mr. Gates, foram reanalisadas e criticadas por vários autores, que concluíram que o jornalista decide mediante uma liberdade condicionada. Ou seja, as razões da tomada de decisão sobre o que passa ou não o portão estão intimamente ligadas ao foro profissional e não subjetivo, dependendo da estrutura burocrática e não das avaliações pessoais do indivíduo que está a exercer a atividade jornalística. Desta forma “a maior parte do gatekeeping cabe ao espaço organizacional, pois coloca limites ao trabalho do jornalista, que acaba por se submeter às políticas e aos interesses corporativos” (Abras e Penido 2006: 35)

A Teoria Organizacional (cf. Secção 3.5), proposta por Breed em 1955, tentou alargar a perspetiva teórica do gatekeeper, concentrando-se no estudo da organização jornalística. Aqui, o jornalista tende a seguir mais facilmente as normas editoriais, as normas organizacionais do local onde trabalha do que as suas ideologias. Deste modo o jornalista sabe que o seu trabalho vai passar por uma cadeia organizacional em que os

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16 seus superiores hierárquicos e os seus assistentes têm certos poderes e meios de controlo, pelo que tem de se antecipar às expectativas dos superiores para evitar retoques nos seus textos e reprimendas (Traquina 2002: 84-85). Através desta teoria ficamos a perceber que os jornalistas não são os únicos gatekeepers, pois os editores também têm uma palavra a dizer sobre a informação que é publicada. Com este processo de triagem, o público acaba por ter acesso a informações selecionadas por um conjunto de gatekeepers (jornalista, editor, chefe de redação); assim, a informação até chegar ao público passa por uma seleção que resulta da política editorial da empresa que determina o enquadramento a dar às notícias.

A Teoria da Ação Política (cf. secção 3.6) veio abordar a atividade jornalística sob o ponto de vista político e a sua capacidade de influência enquanto Quarto Poder, perspetivas em que os media são apresentados como um instrumento que serve os interesses políticos. Esta teoria atribui um papel ativo ao jornalista, mas considera “que o conteúdo das notícias não é determinado a nível interior […] nem a nível interno […] mas a nível externo, a nível macroeconómico” (Traquina 2002: 91). O processo noticioso estabelece uma relação direta com a estrutura económica da empresa, que decide o que é publicado.

3.1.4. Rotinas produtivas

Aquilo que se interpõe entre um jornalista (designado como primeiro gatekeeper) e uma informação que poderá ou não ser notícia pode ter como ponto de partida a falta de tempo, a competitividade e a concorrência como fatores que obrigam a classe jornalística a relatar acontecimentos com a maior brevidade possível. Com o aproximar do deadline, o jornalista começa a sofrer pressão da organização para quem trabalha e o resultado deste processo acaba por ser um relato dos acontecimentos sem a total confirmação dos factos. Para Mauro Wolf:

O conjunto de factores que determina a noticiabilidade dos acontecimentos permite efectuar, quotidianamente, a cobertura informativa, mas dificulta o aprofundamento e a compreensão de muitos aspectos significativos dos factos apresentados como notícias (Wolf 2001).

Os valores notícia são um fator essencial na seleção dos aspetos mais importantes de um acontecimento e são apenas um dos elementos de noticiabilidade. Através dos valores notícia o jornalista obtém uma ajuda na sua tomada de decisões,

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17 uma vez que responde ou ajuda a decidir sobre aquilo que é importante e que tem valor para ser noticiado.

3.1.5. Do newsmaking aos critérios de noticiabilidade

A grande diferença entre o gatekeeping (seleção da informação) e o newsmaking (produção da informação) centra-se no facto de, na produção (construção da notícia), este último não se referir apenas “à cobertura de um acontecimento particular, mas ao andamento normal da cobertura informativa por períodos prolongados” (Wolf 2001). O newsmaking mostra a importância da cultura profissional, da organização do trabalho e dos processos produtivos.

Embora cada acontecimento seja único, os jornalistas deveriam sentir a necessidade de criar um conjunto de critérios que permitiriam reduzir a quantidade de informação e facilitando a escolha sobre aquilo que será notícia. Segundo Wolf, os requisitos na seleção da informação e produção de notícias apresentam três obrigações: transformar um acontecimento desconhecido num acontecimento notável e reconhecido por todos; relatar os acontecimentos de forma a demonstrar que foram tratados de forma natural, sem qualquer tipo de pressões ou influências; organizar a informação no tempo e no espaço, de forma a ser trabalhada e planificada, permitindo então que os acontecimentos noticiáveis fluam (Wolf 2001) Assim, estabelece-se um conjunto de regras que procuram definir a noticiabilidade de um determinado acontecimento, que poderá ser transformado em notícia. Posto isto, é possível afirmar que os critérios noticiosos estão diretamente ligados às rotinas. Como nos diz Wolf:

A definição de noticiabilidade vem responder à questão de quais os acontecimentos/factos que são importantes. Deste modo, é notícia aquilo que é considerado pertinente por toda a classe jornalística, aquilo que é possível de ser tratado pelo órgão de informação sem fugir ao ciclo natural das coisas (Wolf 2001).

Foram vários os autores que se debruçaram sobre o estudo dos critérios de noticiabilidade e apresentaram as suas listas de valores-notícia (Wolf, Ericson, Baranek, Chan, Traquina). Galtung e Ruge (1965) foram os primeiros a referir a existência de critérios que facilitam o trabalho jornalístico. Dos vários critérios apontados pelos autores, podemos destacar os que Jorge Pedro Sousa apresenta na sua obra (Sousa 2001: 39):

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18 Proximidade – quanto mais próximo ocorrer um acontecimento, mais

probabilidades tem de se tornar notícia; Momento do acontecimento – quanto mais recente for um acontecimento, mais probabilidades tem de se tornar notícia; Significância - Quanto mais intenso ou relevante for um acontecimento, quantas mais pessoas estiveram envolvidas ou sofrerem consequências, quanto maior for a sua dimensão, mais probabilidades tem de se tornar notícia; Proeminência social dos sujeitos envolvidos – quanto mais proeminentes forem as pessoas envolvidas num acontecimento, mais hipóteses ele tem de se tornar notícia; Proeminência das nações envolvidas nas notícias - quanto mais proeminentes forem as nações envolvidas num acontecimento internacional, mais probabilidades ele tem de se tornar notícia; Consonância - quanto mais agendável for um acontecimento, quanto mais corresponder às expectativas e quanto mais o seu relato se adaptar ao medium, mais probabilidades tem de se tornar notícia; Imprevisibilidade – quanto mais surpreendente for um acontecimento, mais hipóteses terá de se tornar notícia; Continuidade – os desenvolvimentos de acontecimentos já noticiados têm grandes probabilidades de se tornar notícia; Composição – quanto mais um acontecimento se enquadrar num noticiário tematicamente equilibrado, ou seja, num noticiário com espaço para diversos temas, mais probabilidades tem de se tornar notícia; Negatividade – quanto mais um acontecimento se desvia para a negatividade, mais probabilidades tem de se tornar notícia.

Segundo Sousa, “os critérios de noticiabilidade não são rígidos nem universais […] Eles funcionam conjuntamente em todo o processo de fabrico e difusão das notícias e dependem da forma de operar da organização noticiosa (Sousa 2001: 39).

Apesar da quantidade de críticas apresentadas à teoria do Gatekeeper, esta não se pode considerar errada ou inválida porque as empresas trabalham as teorias de acordo a sua política editorial, ou seja, com as suas ideologias de trabalho e rotinas jornalísticas.

3.2. Teoria do Agenda-setting

Para se compreender o processo de elaboração do produto jornalístico e o seu efeito na sociedade, torna-se necessário abordar a Teoria do Agendamento e a sua evolução ao longo dos anos (Lippmann 1922; Cohen 1963; Molotch & Lester 1974; McCombs & Shaw 1972, 1976, 1993; Traquina 2000). O trabalho jornalístico de promover a inclusão ou exclusão de determinados temas na agenda mediática é classificado, nas Teorias da Comunicação, como Teoria do Agendamento ou Agenda-Setting. Elaborada por

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19 Maxwell McCombs e Donald Shaw (1972), esta teoria sustenta a ideia de que os meios de comunicação social possuem a capacidade de incluir temas que serão objeto de discussão pelo público. Reformulando as ideias de Shaw, mais recentemente Wolf (2001) escreve:

Em consequência da acção dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos.

As pessoas têm tendência para incluir ou excluir de seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos mass media aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas. (Wolf 2001: 144)

Todo este poder que os media possuem em influenciar o alcance dos acontecimentos na opinião pública comprova o seu papel importantíssimo na moldagem da realidade social. A Teoria do Agendamento é caracterizada pela inserção de determinados assuntos nos temas a abordar pelos media e a visibilidade que estes alcançam ao fazerem parte da agenda jornalística. A forma como os meios de comunicação efetuam a sua seleção das informações, a apresentar como prioritárias, transmite, ao público, o conceito do que é prioritário, por isso “O pressuposto fundamental do agenda-setting é que a compreensão que as pessoas têm de grande parte da realidade social lhes é fornecida, por empréstimo, pelos mass media.” (Wolf 2001: 144).

As pesquisas sobre a Teoria do Agendamento foram iniciadas por McCombs e Shaw nas eleições presidenciais norte-americanas de 1968 em Chapel Hill, na Carolina do Norte, embora o seu estudo tenha sido publicado apenas em 1972. A génese desta teoria surgiu, no entanto, já nos anos 20, pela mão de Walter Lippmann ao atribuir aos media o papel principal na ligação entre os acontecimentos publicados pelos media e a imagem que as pessoas traçavam sobres esses mesmos acontecimentos. Com o título de The Agenda-Setting Function of Mass Media e publicado no The Public Opinion Quarterly, a pesquisa de McCombs e Shaw fundamentou-se na obra de Lippmann Public Opinion, publicada em 1922, e nas palavras de Bernard Cohen (1963) que afirmava: “se a imprensa nunca pudesse convencer as pessoas de que é preciso pensar (what to think) ela teria mais sucesso em dizer no que é preciso pensar (what to think about)” (Cohen 1963 apud Breton e Proulx 2002: 201).

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20 Na sua obra, McCombs e Shaw (1972) defendiam que “durante uma campanha eleitoral, os media constituem a ordem de importância (set the agenda) dos desafios políticos, influenciando com isso as atitudes dos leitores em face dessas questões.” (Shaw 1972 apud Breton e Proulx 2002: 201).

Segundo Traquina (2000: 127-128), a evolução histórica da Teoria do Agendamento pode ser dividida em quatro fases: 1968 – o estudo sobre a campanha presidencial norte-americana que pretendia verificar a inter-relação entre a agenda mediática e a agenda pública; 1972 – com novos estudos e o objetivo de repetir os resultados originais sobre a hipótese básica do agendamento, além de encontrar uma explicação psicológica para este; 1976 – expansão da ideia para dois novos campos, o da agenda das características dos candidatos e o da agenda das preocupações sociais; 1980 – o foco da análise estava centrado nas fontes da agenda dos media. Traquina descreve a camada jornalística como uma tribo em que:

As características e ideologia dessa tribo são um fator crucial na elaboração do produto jornalístico, na definição da agenda jornalística. Assim, entre outras, há duas variáveis que parecem ser determinantes na constituição da agenda jornalística: toda a atuação dos membros da tribo jornalística e, em particular, os critérios de noticiabilidade que utilizam na seleção das ocorrências; a ação estratégica dos promotores de notícias e os recursos que possuem e que são capazes de mobilizar para obterem acesso ao campo jornalístico. (Traquina 2000: 25-26)

O conceito do Agenda-Setting veio evoluindo ao longo dos anos e levou McCombs e Shaw a publicar mais um artigo em torno deste tema – com a publicação de um artigo intitulado “A evolução da pesquisa sobre o agendamento: vinte e cinco anos no mercado das ideias”, em 1993. Com este novo trabalho, os autores constataram que este era um tema a ser estudado por vários investigadores e estudiosos da área da comunicação e que tem sofrido algumas variações. O paradigma inicial do agendamento questionava “quem determina a agenda pública e em que condições?” Esta nova fase coloca a sua questão de outra forma: “quem determina a agenda dos media?” (Traquina 2000:128)

Sob a perspetiva de Mauro Wolf, no estado atual:

A hipótese do agenda-setting é, portanto, mais um núcleo de temas e de conhecimentos parciais, susceptível de ser, posteriormente, organizado e integrado

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21 numa teoria geral sobre a mediação simbólica e sobre os efeitos de realidade

exercidos pelos mass media, do que um modelo de pesquisa definido e estável (Wolf 2001: 140).

3.3. Teoria do Espelho

Desenvolvida a partir dos anos 1850, é a Teoria do Jornalismo mais antiga e comporta dois momentos históricos na sua evolução: meados do século XIX, com o nascimento do jornalismo informativo, que separa opinião de informação; início do século XX, onde o jornalismo surge associado à objetividade, aqui entendida como método de pesquisa dos factos.

Nesta teoria, o jornalista assume um papel desinteressado, um observador isento e imparcial que apenas descreve objetivamente os factos. A afirmação de um correspondente da agência noticiosa Associated Press, de Washington, em 1856 reflete a forma como este assumia o seu papel enquanto jornalista: “O meu trabalho é comunicar factos: as minhas instruções não permitem qualquer tipo de comentários sobre os factos, sejam eles quais forem” (Traquina 2005: 147-148).

Com base nesta teoria, as notícias são vistas como o espelho da realidade e sem intervenções subjetivas. Seguindo o modelo positivista, inspirado em August Comte, esta teoria é a favor da racionalidade e da ideologia profissional clássica dos jornalistas. Influenciada pela invenção da fotografia, relata que a realidade é reproduzida por meio da imagem, entendendo-se que as notícias refletem a verdade. Segundo Nelson Traquina, a Teoria do Espelho:

Estipula que as notícias apenas reflectem o mundo exterior porque os jornalistas são observadores neutros, porque os jornalistas, ainda mais obrigados pelas normas profissionais, limitam-se a recolher a informação e a relatar os factos, porque, enfim, os jornalistas são simples mediadores que «reproduzem» o acontecimento na notícia. E, certamente, as notícias são um discurso centrado no referente, onde a invenção é uma violação das mais elementares regras jornalísticas, onde «a realidade» não pode deixar de ser um factor determinante do conteúdo noticioso (Traquina: 1993).

Nesta produção de informação o jornalista ocupa um lugar de neutralidade, assumindo-se que pode fazer um relato fiel da realidade. Para o senso comum, é até hoje a conceito dominante no jornalismo ocidental. Para esta corrente ideológica, o jornalista é um comunicador desinteressado que conta a “verdade” doa a quem doer. A Teoria do

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22 Espelho pressupõe que as notícias são como são porque a realidade assim as determina. Contudo, apesar de estar estreitamente ligada com a legitimidade do campo jornalístico tem sido posta em causa pelo aparecimento do conceito de gatekeeping.

3.4. Teoria Espiral do Silêncio

Os estudos que desenvolveram a Teoria Espiral do Silêncio tiveram início na década de 60, pela mão de Elizabeth Noelle-Neuman, socióloga e cientista política alemã, e as suas pesquisas sobre os efeitos dos meios de comunicação de massa. O seu conceito surgiu, pela primeira vez, em 1972 num congresso internacional de psicologia, em Tóquio, que contou com a participação de Noelle-Neumann. Contudo, só em 1984 a teoria foi publicada em livro com o nome Espiral do Silêncio. Esta teoria procura explicar a influência da opinião pública na opinião de cada individuo pois, quando a opinião individual difere da maioria ou do pensamento coletivo, pode surgir uma reação de isolamento social, em que as pessoas acabam por alterar a sua forma de pensar ou são silenciadas. Para Noelle-Neumann, a escolha do silêncio como reação individual está diretamente ligada ao medo da solidão social. Esta teoria esforça-se por entender a sociedade que é silenciada e acaba por ser influenciada pelas rotinas baseadas no senso comum, ou seja, da maioria. José Rodrigues dos Santos, na sua obra, conclui que:

Noelle-Neumann defendeu que a formação das opiniões maioritárias é o resultado das relações entre os meios de comunicação de massas, a comunicação interpessoal e a percepção que cada indivíduo tem da sua própria opinião quando confrontada com a dos outros. Ou seja, a opinião é fruto de valores sociais, da informação veiculada pela comunicação social e também do que os outros pensam. (Santos, José Rodrigues dos 1992: 107)

Na teoria proposta por Noelle-Meumann, os meios de comunicação têm uma predisposição para dar mais atenção às opiniões dominantes, fortalecendo-as e contribuindo para silenciar as minorias através da não referenciação. Jorge Pedro Sousa descreve sucintamente as ideias da fundadora desta teoria:

As ideias de Noelle-Neumann (1977) vêem a opinião pública como uma espécie de clima de opinião onde o contexto influencia o indivíduo independentemente da sua vontade, até porque as pessoas estariam sujeitas à necessidade de observar continuamente as mudanças que ocorrem no meio social para não se isolarem da comunidade. Isto significa que as pessoas necessitariam de consumir as informações

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23 veiculadas pelos órgãos de comunicação, que, por sua vez, exerceriam sobre elas

uma influência forte e directa, a curto ou longo prazo, provocando mudanças de opinião e de atitude. (Sousa 1999)

Para tornar percetível a influência que os media têm na sociedade, será necessário apresentar os mecanismos que tornam os meios de comunicação tão poderosos na formação de convicções da opinião pública: a) acumulação, que se refere ao excesso de exposição de determinados temas nos media; b) consonância, que destaca a forma como as notícias são elaboradas e das suas semelhanças; c) ubiquidade, pela presença dos media em todos os lugares e situações.

3.5. Teoria Organizacional

A Teoria Organizacional foi desenvolvida por Warren Bread na sua tese de doutoramento e ganhou uma nova dimensão com a publicação do seu estudo introdutório, a esta teoria, na revista Forças Sociais (1955). Denominado de “Controlo social da redacção: uma análise funcional”, o seu estudo sustenta que para o jornalista as normas editoriais passam a ser mais importantes que as crenças individuais e, por outro lado, a principal fonte de orientações e valores não é o público, mas os seus colegas e superiores. Esta teoria de modelo funcionalista teve origem na administração e na psicologia adaptadas ao jornalismo e pode ser observada no seio das redações, onde as notícias são produzidas.

Para Nelson Traquina nesta teoria “é sublinhada a importância duma cultura organizacional, não uma cultura profissional” (Traquina 2005: 153) A influência na produção de notícias, de acordo com esta teoria, pode ser de dois níveis: a) ao nível organizacional com o desejo de lucro, a competição entre editores e editorias, a escolha das fontes e a hierarquia; b) ao nível extra-organizacional com a audiência e a relação entre jornalistas e fontes.

Esta teoria observa que o jornalismo trabalha a ideia de mercado, em que a notícia é vista como um produto à venda e o jornalista atua num sistema de recompensa e punição, submisso à política editorial. A adaptação do jornalista a este ambiente de constrangimento deve-se a várias razões, tais como: promoção profissional, hierarquia superior, autoridade e sanções, ausência de conflitos de grupos; prazer pelo trabalho e, por último, o valor das notícias.

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24 Nesta teoria subentende-se que as notícias são como são porque as organizações jornalísticas assim as determinam.

3.6. Teoria da Ação Política

A Teoria da Ação Política tornou-se um elemento importante dos estudos de jornalismo a partir de 1970 tendo como ponto de partida a relação existente entre os jornalistas e a sociedade, esta teoria analisava ligações políticas e sociais com o jornalismo, o papel das notícias e “a capacidade do Quarto Poder em corresponder às enormes expectativas em si depositadas pela própria teoria democrática” (Traquina, 2005: 163). Nesta teoria é entendido que os media estão ao serviço do interesse político e o jornalismo funciona como uma espécie de propaganda. Este conceito de Modelo de Propaganda (MP) foi desenvolvido por Edward Herman e Noam Chomsky e publicado no livro Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media em 1988, com inspiração em Walter Lippmann e na sua obra Public Opinion (1922). Neste livro, Herman e Chomsky exploram o relacionamento entre os meios de comunicação e o poder:

It is concerned with exploring the relationships between ideology, communicative power and social class interests. More specifically, attending to the interlocks that exist between the media, dominant social institutions, powerful elites and the market, the PM explores the interplay between economic power and communicative power (Mullen e Jeffery 2010).

Neste jornalismo de MP existem cinco razões para a subordinação dos jornalistas aos interesses capitalistas: a) propriedades dos media; b) lucratividade; c) oficialismo; d) punições; e) ideologia anticomunista dominante entre jornalistas.

Jorge Pedro Sousa afirma que existem duas versões desta “teoria”. Uma destas versões defende que as notícias são dissonantes da realidade porque os jornalistas, sem autonomia, estão sujeitos a um controle ideológico e mesmo conspirativo que leva os media noticiosos a agirem como um instrumento ao serviço da classe dominante e do poder. Por isso, para esses teóricos, as notícias dão uma visão direitista, liberal e conservadora do mundo e contribuem para a sustentação do status quo. A outra versão sustenta que os media noticiosos são instrumentos da ideologia dos jornalistas. Estes são vistos como quase totalmente autónomos em relação aos diversos poderes. As notícias

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25 seriam enviesadas da realidade porque refletem as convicções ideológicas e políticas dos jornalistas e as suas ideologias profissionais (Sousa 2002: 4-5).

A Teoria da Ação Política pressupõe que as notícias são como são porque os interesses políticos assim as determinam.

3.7. Teoria Contrucionista

A Teoria Construcionista foi adaptada ao jornalismo nos anos 70 e estudada por alguns teóricos como Gaye Tuchman, Michael Schudson, Elizabeth Bird, Robert Dardenne e Stuart Hall. Segundo estes, a notícia deixa de ser um relato e passa a ser considerada como uma construção com diferentes versões sobre o mesmo facto. A notícia é vista como uma construção social, ajudando a traçar a realidade. Segundo Jorge Pedro Sousa, as notícias:

São histórias que resultam de um processo de construção, linguística, organizacional, social, cultural, pelo que não podem ser vistas como o espelho da realidade, antes são artefactos discursivos não ficcionais -indiciáticos- que fazem parte da realidade e ajudam-na a construir e reconstruir (Sousa 2002: 4-5).

Esta teoria propõe um novo modelo onde a autonomia do jornalista é considerada e a visão instrumentalista é rejeitada, opondo-se à ideia de notícias como uma distorção da realidade. Assume-se como uma alternativa ao determinismo da Teoria da Ação Política e opõe-se à Teoria do Espelho.

Esta teoria considera que as notícias são como são devido às interações entre os agentes produtores da notícia: as fontes, os jornalistas e a sociedade, onde o texto jornalístico se aproxima da narração e se distancia da simples exposição dos factos. Pode-se dizer que se trata da interação entre os elementos do campo jornalístico.

A Teoria Construcionista comporta duas teorias: a Estruturalista e a Interacionista, que com abordagens micro e macrossociológicas pontuam a interação do jornalista não apenas na organização à qual pertence, mas também na comunidade jornalística, o que as torna, ao mesmo tempo, transorganizacionais. Na perspetiva de Traquina:

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26 Ambas as teorias sublinham a importância da cultura jornalística, nomeadamente a

estrutura dos valores-notícia dos jornalistas, a ideologia dos membros da comunidade, as rotinas e os procedimentos que os profissionais utilizam para levar a cabo o seu trabalho. Assim, ambas rejeitam categoricamente uma visão instrumentalista das notícias (Traquina 2005: 173).

3.8. Teoria Estruturalista

Segundo esta teoria, os jornalistas têm uma reduzida margem de autonomia e trabalham num ambiente rotinizado, onde estão sujeitos ao controlo da classe superior. O trabalho jornalístico favorece as fontes oficiais, que se encontram mais aptas para promover informações com maior credibilidade (governo e grandes empresas). O jornalismo contribui, desta forma, para a manutenção da estrutura vigente.

3.9. Teoria Interacionista

Segundo esta teoria as notícias são produzidas num processo dinâmico e numa busca incessante de uma vantagem pelo acesso ao campo jornalístico. É também reconhecida uma certa vantagem das fontes oficiais em detrimento das não oficiais. Reconhece-se ainda, um papel mais ativo aos jornalistas:

As notícias resultam de um processo de percepção, selecção e transformação de acontecimentos em notícias, sob a pressão do tempo, por um corpo de profissionais relativamente autónomo e autorizado, que partilha de uma cultura comum. Os jornalistas são vistos não como observadores passivos, mas sim como participantes activos na construção da realidade (Sousa 2002: 4-5).

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2.ª Parte - Experiência de Estágio

A TVI foi a estação televisiva que me acolheu durante seis meses, de 7 de fevereiro a 7 de agosto de 2012, e permitiu realizar o meu estágio inserido no Mestrado em Ciências da Comunicação – vertente de Jornalismo. Na TVI consegui realizar o “sonho” de estar em contacto com a realidade profissional e aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo do meu percurso académico.

4. A TVI e a televisão em Portugal

A televisão chegou a Portugal em 1957, com a emissão regular do canal estatal RTP. Nesta época, Portugal encontrava-se em pleno domínio da ditadura – imposta pelo Estado Novo. Só com a sua queda, em 25 de Abril de 1974, os meios de comunicação social alcançaram a liberdade desejada. A RTP era a única televisão portuguesa até 1992, mas em outubro desse mesmo ano abriu a primeira estação televisão privada – a SIC. Poucos meses depois, em fevereiro de 1993 nascia o segundo canal privado – a TVI (Televisão Independente) e inicialmente apelidada como a “Quatro”. Neste momento, existem quatro estações televisivas a emitir em sinal aberto – a RTP1, a RTP2, a SIC e a TVI.

A TVI foi fundada em março de 1991 por um grupo de 46 acionistas, no qual se compreendiam instituições ligadas à igreja católica. A Universidade Católica Portuguesa, a Rádio Renascença e o Santuário de Fátima eram exemplo disso. Este canal televisivo, mesmo quando não passava apenas de projeto, candidatou-se ao licenciamento do terceiro e quarto canal de televisão. Entretanto, conforme resolução de Conselho de Ministros nº 49/90 de 31 de Dezembro e pela Resolução do Conselho de Ministros 6/12, publicada no Diário da República, 2ª série e nº 45, em 22 de fevereiro, foi atribuído à TVI o quarto canal de televisão. Assim, com as questões inerentes à criação deste quarto canal resolvidas, é a 20 de fevereiro de 1993 que têm inicio as emissões regulares da TVI. Afirmando-se como um canal com uma programação generalista, com destaque para a informação, a ficção nacional, o entretenimento e o cinema.

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28 4.1. Órgãos e instalações

Desde a sua criação e até 1996, a TVI tinha as suas instalações repartidas em dois edifícios, ambos na cidade de Lisboa. A Direção de Informação encontrava-se localizada no antigo Cinema Berna e os restantes departamentos distribuídos em dois pisos do edifício Altejo, em Cabo Ruivo. A partir de julho de 1996 e até ao momento, a estação concentra todas as suas instalações em Queluz de Baixo – um edifício com uma área de 30.000m2, que permite a utilização de dois estúdios em simultâneo: o maior com cerca de 300m2, exclusivo para a informação; o outro com cerca de 160m2

Desde o seu início, a TVI é identificada como a “Quatro” ou a televisão da igreja. A “Quatro” por ser o quarto canal em Portugal, mas também porque esse era o dígito do seu logotipo. A razão pela qual era identificada com a religião devia-se ao facto de os seus fundadores se identificarem com a Igreja Católica.

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Os seus primeiros anos de “vida” não foram fáceis. Com a obrigação em seguir uma grelha com ideais da Igreja Católica, a conquista de um espaço próprio no mercado audiovisual e a fidelização de audiências, que tardava, constituíam os primeiros obstáculos para uma jovem estação televisiva. É quando se começa a avistar uma possível “falência”, que muda de atitude e se vê obrigada a adotar outra estratégia – os anos de 1997 e 1998 foram decisivos. A estação entra numa nova fase de mudanças e o ponto de partida é a perda de influência da Igreja Católica. Efetua-se uma mudança na administração, ao mesmo tempo que surge uma mudança de imagem e respetivo logotipo. A “Quatro” dá lugar à TVI.

Sob a administração do Grupo Media Capital, em novembro de 1998, a TVI afirma-se no mercado como uma estação dinâmica e inovadora. Para complementar e fortificar este novo conceito de estação televisiva, é consultada a McKinsey, empresa responsável pela realização de um estudo de mercado, para delinear as principais estratégias a empregar nesta nova era. As mudanças que estavam a acontecer foram acompanhadas por uma nova dinâmica da imagem do ecrã e pela criação de um novo logotipo. A conceituada empresa Pittard Sullivan, nos EUA, foi a responsável por estas evoluções.

Setembro de 2000 marca o arranque de uma nova TVI e o seu logotipo, que mantém o I como elemento principal, vem robustecer a ideia de um canal de caráter independente, inovador e irreverente. A renovação dos estúdios e do próprio edifício da sede fizeram parte deste percurso de mudança. Com estas inovações, faltava apenas

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Figura n.º 3: Método de gatekeeping aplicado por Lewin.
Figura n.º 4: Modelo de gatekeeping de David Manning White  Fonte: McQuaid e Windahl 1981 apud Shoemaker e Vos 2011: 29
Gráfico n.º 1: Quantidade de informação recebida da agenda de 12 de junho de 2012
Gráfico n.º 2: Quantidade de informação por editoria com saída de equipa no dia 12 de junho de 2012
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Referências

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