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O COLÉGIO MILITAR DE CURITIBA: A MENTALIDADE DESEJADA

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Academic year: 2021

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Ana Maria Irribarem Soares Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR MESA-REDONDA Nº 35 – Eixo Temático 6 – Educação, Cidadania e Intercultura

O primeiro colégio militar do Brasil foi fundado em 1888, ainda no Império e tinha a educação assistencial como objetivo primeiro, no sentido de desenvolver uma ação educativa para a melhor formação dos alunos, dando a eles condições para a vida profissional futura, civil ou militar. O nascimento do primeiro colégio militar foi articulado pelo Conselheiro Thomaz José Coelho de Almeida, ministro da Guerra, inspirado em planos do Duque de Caxias.

O Colégio Militar do Rio de Janeiro foi um dos pioneiros na educação sistematizada leiga no Brasil, seguindo o padrão dos Colégios Militares europeus, dos quais herdou a forma de organização escolar, o conceito de qualidade de ensino de base positivista “ e uma utilização intensiva de meios auxiliares de ensino”, como aponta VIANNA. (2001, p.12)

O princípio assistencial dos primeiros tempos do Colégio Militar justifica-se pelo discurso de abrigo aos órfãos e os filhos dos inválidos da Guerra do Paraguai. Por este motivo o ensino deveria ter qualidade, “porque seria talvez a única herança para aquelas crianças. Dando assim, a eles, as melhores condições para a vida profissional futura, civil ou militar”. (VIANNA, 2001,p.14) Posteriormente o Colégio ganha renome entre a classe média, que via nele uma possibilidade de encaminhar seus filhos para a carreira militar ou para os cursos de engenharia.

Com o sucesso acadêmico de seus alunos, o Colégio Militar do Rio de Janeiro passa a ocupar um lugar de destaque dentro da sociedade civil, fazendo com que o Exército passe a entender o colégio militar como importante veículo de propaganda e de conexão com o mundo não militar.

Deste modo começa a se dar a expansão dos colégios militares no Brasil, seguindo os moldes ditados pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro.

Criado por um decreto ministerial no ano de 1956, o Colégio Militar de Curitiba – CMC - desde seu início adquiriu características não só militares, mas também tem incorporado algumas tipicamente curitibanas no que diz ao aproveitamento do espaço e tempo dedicado à educação de seus alunos.

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Kubitschek (1956-1960), sendo que o Ministério da Guerra era ocupado pelo então general Henrique Teixeira Lott, que ficou conhecido como o "Marechal da Legalidade". Em 1956, o Estado Maior elaborou o plano que previa a construção de vários colégios militares nas capitais brasileiras, entre elas, Curitiba.

Vianna relata que a intenção de constituir um sistema de Colégios Militares no Brasil não se deu sem resistência, sendo as idéias anti bélicas ou da Igreja Católica, representada por seus Colégios expoentes maiores desta resistência. Deste modo, ao chegaram ao Ministério da Guerra, as solicitações vindas do Paraná e a disposição do governador do estado em prestar auxílio na construção de um colégio militar em Curitiba, fez com que “a urgência fosse impulsionada pelo interesse do governo e outros setores em organizar, disciplinar e imprimir nos seus futuros alunos uma ‘mentalidade adequada’ ao Estado que se queria construir”. (VIANNA,2001,p.29) Esta mentalidade desejada pelo estado é justamente aquela que deseja imprimir em seus cidadãos a força do modelo europeu civilizado, ordeiro e trabalhador. A força de um colégio militar também vem da idéia de que o Exército pode assumir uma função educadora e disciplinadora, salvando a juventude do Brasil e por conseqüência contribuindo na formação dos jovens paranaenses, principalmente por acenar com a possibilidade de uma futura carreira militar, já que os alunos dos Colégios Militares do Exército possuiam vagas reservadas nas Academias Militares.

Portanto, em 1956, o ministro da Guerra nomeou uma comissão que iria estudar a viabilidade da implantação de um colégio militar em Curitiba. Este trabalho durou três anos, quando um estudo da região de Curitiba foi feito.

Qual a idéia que tinha esta comissão de espaço escolar? Os relatórios estudados por VIANNA mostram que a idéia dos militares sobre espaço escolar eram altamente influenciados pelos modelos das academias militares. LUDWIG assim descreve o espaço pedagógico das academias militares: “O espaço físico destinado ao exercício da prática pedagógica é devidamente fechado e quadriculado para fazer com que os alunos adquiram a noção de que no decorrer do tempo sempre ocuparão um lugar determinado e exercerão atividades específicas, contribuindo assim para a harmonia do conjunto.” (1998,p.34) Além disso o terreno deveria ter uma área para prática esportiva e exercícios físicos e uma área para instrução militar e formaturas.

A área para construção do colégio foi escolhida criteriosamente. A existência “de escolas para ‘anormais’ e ‘desajustados’, ‘prostíbulos’, ‘cassinos’, ‘penitenciárias’, ‘dancing’, hospitais de tuberculosos, de leprosos, hospitais de ‘nervosos’ recebiam”

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baixo conceito na escolha; igrejas, áreas residenciais e clubes de classe média abonavam a área, ao passo que vilas operárias exerciam o efeito contrário. (VIANNA,2001,p.26) A área escolhida era um grande terreno que servira para a exposição do café no ano de 1952 e que contava com instalações usadas naquela exposição; naquela época ali se encontrava um orfanato. Porque para o Governo do Estado não era interessante fechar o orfanato, ele foi transferido, após acordo do governo com o Ministério da Guerra: o Estado doa o terreno, sob a condição de que o mesmo só pudesse ser usado para fins educacionais, sob pena de voltar para o Estado, caso o acordo não fosse cumprido. O Colégio Militar de Curitiba foi fundado em 1958 com apoio do governo do estado, reforçando o mito de que Curitiba era a “Cidade dos Estudantes” ou “Cidade Universitária”.

A parceria com o governo do estado que começa com a concessão do terreno para a construção do prédio do colégio perdura até os dias de hoje e o CMC tende a incorporar as tendências da cidade de Curitiba no que diz respeito a uma cultura de organização espacial.

O pavilhão escolar do Colégio Militar de Curitiba, construído entre 1964-1967, é um grande edifício construído no centro do terreno murado localizado no bairro do Tarumã. O acesso ao prédio se dá por uma via perpendicular ao mesmo, fazendo com que sejam visíveis as pessoas que para lá se dirigem. Acesso este permitido somente aqueles que no corpo da guarda se identificam.

Nos pavilhão escolar, as salas de aula ficam voltadas para o interior do colégio, com vista para o estacionamento, que antigamente era uma área arborizada por grandes pinheiros, pretendendo, com isso, evitar que a atenção dos alunos seja desviada por quaisquer acontecimentos de ordem externa. Desta maneira, no Colégio Militar de Curitiba, por causa de sua arquitetura e distribuição de seu espaço físico, destinado ao adestramento e controle, fica facilitando o trabalho contínuo de uma máquina que opera sob a ótica do vigiar e disciplinar. Vigilância esta que se pretende extensiva a todos os espaços do colégio: quadras esportivas abertas; quadras fechadas com acessos frontais e laterais; tudo permitindo a visibilidade das várias atividades desenvolvidas durante todo o tempo escolar.

Assim como a cidade proporciona a seus habitantes em idade escolar uma diversidade de opções para o uso do tempo livre, do mesmo modo o CMC oferece atividades de caráter permanente que visam ao aproveitamento total do tempo do estudante. As atividades que são oferecidas no período da tarde funcionam como diferencial para a

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formação do aluno no tempo em que ele não está ocupado com aulas regulares.

Dentre as atividades oferecidas, encontra-se o atendimento diferenciado para alunos portadores de altas habilidades. São alunos que são separados para que lhes seja proporcionada uma metodologia que ensina a pensar. Mesmo sendo parte da coletividade que obedece a uma rotina de ordens inculcada pela prática, estes alunos são escolhidos para fazer parte de um círculo mais alto de experiências dentro desta disciplina militar. São aos participantes do Programa de Desenvolvimento de Potencialidades (PRODEP). A escolha destes alunos se dá por meio de avaliação de diversos critérios que incluem um teste de inteligência e indicação de professores. O programa é conhecido por ser direcionado ao desenvolvimento de potencialidades em alunos portadores de altas habilidades (MEC,1995), ou seja, é um programa que separa alunos que tenham indicação de superdotação e lhes oferece um programa de enriquecimento (MEC,1995) além das aulas do ensino regular. Tal programa atualmente tem a duração de dois anos e é oferecido a aproximadamente 40 alunos no turno da tarde.

O elemento histórico que parece predominar na educação do cidadão no PRODEP parece ser o econômico. Ao se utilizar de técnicas da inteligência empresarial e tomada de decisões, prepara-se o aluno para atingir posições mais cobiçadas dentro da sociedade capitalista, ou seja, cargos de chefia e consultoria, que exigem a rápida tomada de decisões. Na hierarquia militar esta função é delegada às patentes mais altas. Este tipo de função, tanto na vida civil, como na militar, é sempre melhor remunerada, dando a seus portadores um status de cidadão pensante, na maioria das vezes visto como superior aos demais.

Ora, já que a educação militar está impregnada pela idéia de hierarquia, visto que as altas posições militares não estão ao alcance de todos, nem entre militares profissionais, nem entre alunos, não é incoerente estabelecer uma elite cultural dentro da estrutura. A função de um programa de enriquecimento para alunos superdotados é questionável do ponto de vista da educação moderna, já que não se dá oportunidades iguais para que todos desenvolvam suas potencialidades, mas o desenvolvimento de tal projeto educativo é pertinente dentro do ensino militar.

Dentro da tradição militar, a prática de esportes sempre teve lugar de destaque. Deste modo, grande parte dos alunos tem seu tempo seqüestrado pela prática desportiva obrigatória dentro das instalações do colégio. Seja nas aulas de educação física, ou nas aulas extra-classe, a prática desportiva interna faz parte do cotidiano escolar.

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Estabelecidos por séries, os treinamentos acontecem de segunda a quinta-feira; as faixas etárias que compõe cada grupo de treinamento coincidem com aquelas destinadas às competições desportivas em nível municipal e estadual, para que o treinamento disciplinado tenha sempre seu exame nas competições municipais promovidas pela Prefeitura Municipal de Curitiba. Deste modo, assegura-se uma tênue integração com a comunidade e uma demonstração pública de que dentro daquele terreno cedido pelo Estado há quase meio século se pratica uma educação de qualidade, demonstrada pela qualidade dos jovens desportistas competindo em nome do Colégio.

Resgatando a tradição militar foi instituída a prática de esgrima e equitação. Estas práticas estavam incluídas nos primeiros currículos do colégio militar do Rio de Janeiro. A esgrima é praticada dentro dos muros da instituição no período da tarde. Já para a prática da equitação tornou-se necessário o convênio entre Exército e Polícia Militar do Estado, que cede suas instalações para que os alunos sejam educados na arte da cavalaria. A parceria entre Exército e Polícia é patente, já que no Colégio Militar de Curitiba encontram-se membros da polícia em função de monitores de alunos.

Nem todos os alunos preenchem os requisitos físicos necessários para a prática desportiva regular. Visando a formação intelectual dos alunos e o preenchimento do tempo daqueles menos aptos fisicamente, ou que não tenham interesse na cultura do corpo, há a possibilidade do aluno se integrar a banda ou ao coral, que também tem seus ensaios diários coordenados por um elemento militar especialmente destacado para esta função.

Também em função dos alunos do tipo não esportivo foram criados os clubes. São clubes de história, matemática, idiomas e informática, que oferecem atividades contínuas aos alunos neles inscritos no período não ocupado pelas aulas regulares. Via de regra estes clubes, que tem seu corpo administrativo formado pelos próprios alunos, na figura de um presidente do clube e seus assessores, se reúnem uma vez por semana. Entre as atividades desenvolvidas pelos clubes encontram-se: visitas a museus e exposições na cidade, exibição de filmes, gincanas, jogos, viagens, etc. O planejamento das atividades fica a cargo de um professor, incentivado com uma gratificação em seu salário para o bom desempenho de suas funções.

DELEUZE já aponta para esta desigualdade salarial como uma característica da empresa moderna. Ele diz que “sem dúvida a fábrica já conhecia o sistema de prêmios, mas a empresa se esforça mais profundamente em impor uma modulação para cada salário, num estado de perpétua metaestabilidade, que passa por desafios, concursos e

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colóquios extremamente cômicos.”. (1996,p.221)

A busca da qualidade de ensino exigida pela sociedade curitibana (pela imagem de excelência que existe no imaginário da população) se dá pelo aumento do uso do tempo escolar. Tempo este que é economicamente controlado, para que dele se aproveite o máximo. Deste modo não só alunos, mas também os professores tem todo o tempo do expediente escolar controlado e preenchido, começando às 7:00 e terminando às 16:30. O professor deve permanecer dentro dos muros do Colégio tendo ele aulas a ministrar ou não. Assim como acontece com o aluno, sobre o professor incidem permanentemente os olhos da vigilância. Organizados por seções de ensino (são seis seções – a de Língua portuguesa e artes, a de matemática e informática, a de ciências; a de estudos sociais e filosofia; a de educação física e a de línguas estrangeiras modernas) e chefiados por um oficial militar, os professores possuem tarefas variadas, que não se limitam à atividade pedagógica propriamente dita. A preparação de aulas é monitorada e vistoriada constantemente pelo chefe da seção de ensino, que deve observar periodicamente o livro de chamadas e o livro de planejamento de aulas do professor. A preparação de provas deve obedecer às normas do exército. O cumprimento das normas é assegurado através da vigilância permanente da seção técnica de ensino, cuja função principal é a de assegurar a normalização dos testes aplicados pelos professores. Existe a instituição de um clube de leitura para que se force o professor a sugerir para seus companheiros civis e militares a leitura de um livro por semestre. O livro escolhido por determinada equipe de leitura deve ser resenhado e apresentado em seção solene com data previamente determinada pela seção de informações. O comparecimento do professor às solenidades de formatura é obrigatório, devendo este se apresentar a seu responsável por ocasião da solenidade. Outra forma de controle é o uso de uniforme pelo professor, que deve estar identificado durante o período de expediente escolar, para que seus movimentos possam ser sempre identificados. Se, por ventura este profissional ainda conte com algum tempo livre, este pode ser aproveitado pela prática desportiva, que é incentivada para todos a partir de determinado horário já no final do período de aulas.

A permanência integral do professor e do aluno dentro dos muros do colégio tem tanta importância para a imagem de excelência e de disciplina que se quer transmitir, que mesmo com a atual crise nas forças armadas, quando a imensa maioria das unidades militares do Brasil trabalham em regime de meio expediente, por causa do violento corte no fornecimento de verbas para a alimentação ocorrida no final do governo FHC,

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o Colégio Militar de Curitiba faz questão de ignorar todo e qualquer sinal de crise1 e permanece com seu funcionamento em tempo integral.

A busca da excelência no que diz respeito à organização do corpo de alunos se dá de forma muito visível nas apresentações promovidas pelo Colégio envolvendo a comunidade. As formaturas abertas aos pais e a visitantes se destacam pela perfeição estética da formação dos alunos.É aí que se pode apresentar à comunidade toda a disciplina aprendida dentro do espaço e tempo escolar. A economia dos gestos explicitada por FOUCAULT se mostra como um espetáculo a todos aqueles que se dispõe a assistir às solenidades do CMC abertas a comunidade. Ao público se mostram os efeitos de uma educação altamente disciplinadora e que produz “corpos tornados legíveis e dóceis”. (1987,p.156)

Vê-se então que o Colégio Militar de Curitiba corresponde às expectativas da identidade cultural que na capital se desejou formar no passado: de um lado constrói um cidadão disciplinado, ordeiro, pronto para o trabalho, com base no modelo mais civilizado que se tem conhecimento, que é o modelo europeu. Por outro lado, nota-se que o modelo militar, pautado na idéia de progresso dentro de uma ordem positivista vem ao encontro da idéia de desenvolvimento urbanístico que se desejou imprimir à cidade a partir dos anos setenta.

Nota-se que a preocupação da prefeitura municipal de Curitiba em associar a educação de qualidade com o aumento do tempo escolar tem seu reflexo também no CMC. Neste sentido, a ampliação simples do tempo escolar passa a garantir a boa educação de seus alunos, já que estes passam na escola a maior parte de seu tempo, não o desviando para atividades menos produtivas.

Vemos também que a imagem democrática que se quer tanto para a cidade como para o Colégio acabam por não se realizar. Na cidade, uma arquitetura de exclusão acaba por determinar quem pode ou não participar das atividades oferecidas pela cidade. Do mesmo modo, uma concepção de competências e aptidões vão determinar as atividades das quais os alunos poderão tomar parte. Para os mais aptos intelectualmente, por exemplo, há a oferta de um curso de gestão de pensamento, que é negado aqueles que não apresentam rendimento escolar acima do que é esperado. Também com os esportes acontece o mesmo: somente os mais aptos vão ser os escolhidos para representar o

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Uma matéria interessante sobre a crise nas forças armadas foi publicada pela revista Carta Capital do dia 28 de agosto de 2002, sob o título: “O ministro da defesa alerta FHC: a insatisfação com a falta de verbas agita os quartéis”.

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Colégio perante a comunidade. Mas todos, ao menos aparentemente, vão ter seu período de tempo escolar aumentado ligado a uma excelência do ensino.

A título de conclusão, gostaríamos de fazer uma comparação mais moderna entre a cidade e o colégio baseada na teoria da sociedade de controle da qual nos fala DELEUZE.

Este autor afirma que a sociedade disciplinar (da qual um dos maiores expoentes é justamente a organização militar) começa a enxergar seu fim na década de setenta. A partir daí assistimos o nascer de uma nova sociedade, que ele chama de sociedade de controle, que se põe a reformar todos os meios de confinamento em geral. Assistimos a reformas na educação, na saúde, na justiça e na vigilância.

Diz o autor que as palavras de ordem desta nova sociedade são a senha e as cifras, a divisão em partes e o controle de todas as ações do indivíduo. Assim assistimos a uma cidade que vigia seus habitantes através de câmeras de vídeo instaladas nas ruas de maior trânsito e dentro dos grandes os prédios. Vemos a expansão dos shoppings na cidade e a explosão de consumo incentivada de todas as maneiras. Diz DELEUZE que “o homem não é mais o homem confinado, mas o homem endividado.” (1996,p.224) Logicamente, esta lógica da sociedade de controle não consegue alcançar as populações mais pobres, os não normais.

Dentro do regime escolar, o controle se dá , entre outros aspectos, pela avaliação contínua e pela invasão da empresa na escola. E é exatamente esta a tendência que se vê ebulir no Colégio Militar de Curitiba: ao lado de práticas disciplinadoras como o exame, vemos aumentar o controle de alunos por meio da avaliação continuada de conteúdos. O acesso a qualquer tipo de informação se dá por meio de senhas e log-ins diferentes. Um professor somente possui senha para internet, para cadastrar notas, para entrar em rede e para acessar seu contracheque. A direção que toma o ensino, cada vez mais voltado para a preparação de um jovem dinâmico e adaptado ao mercado de trabalho do futuro convive com os velhos instrumentos disciplinadores dos corpos. A paisagem do colégio, que antes era pensada para que a vigilância fosse privilegiada, vai aos poucos se transformando, dando a impressão a quem entra no Colégio Militar de Curitiba de estar entrando em um parque da cidade de Curitiba – a semelhança com o Jardim Botânico parece ser perseguida como ideal - onde prevalece a harmonia das formas, feitas justamente para atrair e satisfazer cada vez mais seus clientes. É a lógica do shopping center que assola inclusive a educação militar. Mas isso é tema para um outro artigo. Resumindo, o Colégio Militar de Curitiba ainda é um instrumento, dentro da instituição

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militar, que visa à reprodução e à permanência de um "status" conseguido pelo Exército, como fator de unidade nacional, por meio da formação de indivíduos para a sociedade civil. Para a cidade de Curitiba ele é motivo de orgulho, já que se encaixa de modo exemplar no imaginário do povo curitibano que tem como ideal a organização do espaço e do tempo.

REFERÊNCIAS

DELEUZE, G. Sobre as Sociedades de Controle. In: ________ Conversações. 1972-1990. Rio de Janeiro: Editora 34, 1996.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1983.

LUDWIG, Antonio Carlos W. Democracia e ensino militar. São Paulo: Cortez, 1998. VIANNA,G.S. O Sabre e o Livro-Trajetórias Históricas Do Colégio Militar De Curitiba (1959-1988) Curitiba, 2001. 96p. Dissertação (Mestrado em Educação) Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná.

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