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CONSELHO DE DISCIPLINA

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Academic year: 2021

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CONSELHO DE DISCIPLINA

SECÇÃO NÃO PROFISSIONAL

Processo disciplinar n.º 112 – 2020/2021

DESCRITORES: Clube – Deveres dos clubes –

Cumprimento de obrigações durante a época

– Declaração de inexistência de dívidas –

Campeonato de Portugal – Alteração dos

factos – Responsabilidade disciplinar –

Absolvição

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ESPÉCIE: Processo Disciplinar

PARTES: Clube Desportivo Carapinheirense, na qualidade de arguido

DATA DO ACÓRDÃO: 23 de julho de 2021

TIPO DE VOTAÇÃO: Unanimidade

RELATOR: Pedro Coelho Simões

OBJETO: Eventual incumprimento de obrigações durante a época

NORMAS APLICADAS: 12.º, 15.º, 116.º do RDFPF e 13.º do Regulamento do Campeonato de Portugal

SUMÁRIO:

I. Por força do disposto no artigo 13.º, n.º 2 do Regulamento do Campeonato de Portugal, é dever dos clubes apresentar à FPF, designadamente entre 1 e 15 de março, declaração de inexistência de dívidas relativas a retribuições, subsídios e outras compensações por despesas a jogadores e treinadores, emitida pelo clube, assinada por quem, legal e estatutariamente, o obriga e certificada por TOC ou ROC, contendo a relação discriminada dos jogadores e treinadores a que respeita, identificados por nome e número de licença ou número de identificação civil; e declaração que ateste que os seus jogadores não recorreram ao Fundo de Regularização Salarial na época em curso, ou que, tendo recorrido, faça prova de o clube ou sociedade desportiva já ter liquidado ou se encontrar a liquidar o débito, de acordo com o plano de regularização de dívida, junto do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol.

II. O incumprimento dos deveres previstos no número 2 do art.º 13.º do Regulamento do Campeonato de Portugal releva, em sede disciplinar, para efeitos do preenchimento da facti species da infração prevista e sancionada pelo art.º 116.º do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol, que sanciona «com multa entre 1 e 10 UC», «[o] clube que, em todos os casos não especialmente previstos neste Regulamento, viole dever imposto pelos

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regulamentos, normas e instruções genéricas da FPF e demais legislação desportiva aplicável» , quando «sanção mais grave não lhe for aplicável por força de outra disposição deste Regulamento».

III. Vindo o clube arguido acusado de não ter apresentado, de forma livre, consciente e voluntária, com conhecimento da ilicitude da sua conduta, «até ao dia 4 de maio de 2021, até às 23h e 59 minutos, qualquer documentação que atestasse a sua situação financeira, no que diz respeito à inexistência de dívidas relativas a retribuições, subsídios e outras compensações por despesas a jogadores e treinadores no decorrer da época desportiva 2020/2021», e demonstrando-se, após apresentação de defesa escrita, em sede de instrução, que o referido clube remeteu à FPF, dentro do prazo estabelecido no Regulamento do Campeonato de Portugal, por correio eletrónico, declaração de inexistência de dívidas, assinada por quem legalmente o representa e certificada pelo seu contabilista certificado, e acompanhada de relação discriminada dos jogadores e treinadores a que respeita, improcede a imputação deduzida, em face de se infirmar a factualidade que ancorava a tal imputação.

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ACÓRDÃO

Acordam, em Plenário, ao abrigo dos artigos 216.º, n.º 1 e 229.º do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol (1), os membros do Conselho de Disciplina,

Secção Não Profissional, da Federação Portuguesa de Futebol (2),

I – RELATÓRIO DE TRAMITAÇÃO PROCESSUAL

§1. Registo inicial

1. No dia 9 de abril de 2021, o CDSNP deliberou a instauração de processo disciplinar contra o Clube Desportivo Carapinheirense (3), tendo por fim averiguar da eventual

responsabilidade disciplinar do referido clube, por factos participados pela Direção de Competições da FPF, no que respeita ao eventual incumprimento de obrigações durante a época desportiva (2020/2021), pelo referido clube.

2. No dia 15 de abril de 2021, o processo disciplinar foi autuado, registado (cf. verso da capa) e distribuído a Inquiridor (nos termos e para os efeitos do previsto no art.º 232.º, n.ºs 4 e 5 do RDFPF), após o que, ainda na mesma data, foram os autos conclusos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF, em cujo contexto, por despacho do seu Coordenador, foi nomeada Instrutora (cf. fls. 11).

3. Na data da conclusão dos autos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF, o processo encontrava-se autuado com a deliberação de instauração do presente processo disciplinar (fls.

(1) Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol com as alterações aprovadas pelo

Direção da Federação Portuguesa de Futebol na sua reunião de 10 de julho de 2020, doravante abreviado, por mera economia de texto, por RDFPF. O texto regulamentar encontra-se disponível, na íntegra, na página oficial da FPF na internet e foi publicitado pelo Comunicado Oficial n.º 460, de 13 de julho de 2020. (2) Adiante apenas identificado como CDSNP.

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1 e 2), com a participação da Direção de Competições da FPF (fls. 3 e 4) e com a notificação ao Arguido da instauração do processo, realizada no dia 15 de abril de 2021 (fls. 5 a 10).

4. Em sede de inquérito, na sequência da respetiva nomeação, a Instrutora juntou aos autos o detalhe da inscrição do arguido na época desportiva 2020/2021 (fls. 12 e 13) e o seu cadastro disciplinar (fls. 14 e 15).

5. Na sequência, uma vez que por efeito do regime de suspensão de prazos decorrente do disposto no artigo 4.º, n.º 1 da Lei n.º 13-B/2021, de 5 de abril (o qual estabelece que «os prazos administrativos cujo termo original ocorreria durante a vigência do regime de suspensão estabelecido pelo artigo 6.º-C da Lei n.º 1-A/2020, de 19 de março, na redação introduzida pela Lei n.º 4 -B/2021, de 1 de fevereiro, consideram-se vencidos no vigésimo dia útil posterior à entrada em vigor da presente lei»), os clubes poderiam ter enviado a respetiva documentação até dia 4 de maio de 2021, a Direção de Competições da FPF, por comunicação datada de 21 de maio de 2021, informou o CDSNP os termos seguintes:

«[A]tento o teor das decisões proferidas até ao momento pela Secção Não Profissional do Conselho de Disciplina, no que respeita ao eventual incumprimento de deveres estabelecidos nos Regulamentos, remetemos infra lista de clubes que, até às 23h59 do dia 4 de maio de 2021, não respeitaram o dever de cumprimento de obrigações durante a época desportiva em curso (segundo período):

(…)

6. CD Carapinheirense (…) » (fls. 18).

6. Em virtude de tal, o CDSNP, por deliberação datada de 28 de maio de 2021, determinou, no que concerne ao clube arguido, «a remessa da presente comunicação» aos presentes autos (fls. 16 e 17).

7. Após, a senhora Instrutora, entendendo o inquérito findo e tendo logrado adesão expressa do senhor Inquiridor ao projeto por si elaborado (cf. fls. 31), considerou existirem indícios suficientes da prática de infração disciplinar e, consequentemente, ao abrigo do disposto no artigo 238.º, n.º 1 do RDFPF, deduziu, no dia 18 de junho de 2021, acusação contra o Carapinheirense, a quem imputou a prática de uma «infração disciplinar leve prevista e sancionada no artigo 116.º (Inobservância de outros deveres) do RDFPF, por violação dos deveres

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previstos no artigo 13º, nº 2 e 4 do Regulamento do Campeonato de Portugal da FPF, à qual corresponde, em abstrato, à aplicação da sanção de multa entre 2 e 20», considerando verificar-se, no vertente caso, circunstância agravante de reincidência (fls. 19 a 29).

8. No dia 18 de junho de 2021, a senhora Instrutora promoveu, através de mensagem de correio eletrónico (cf. fls. 32 a 34), nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 240.º do RDFPF, a notificação da acusação ao arguido, na sequência do que, nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 241.º, n.º 1 do RDFPF, foram os autos conclusos ao CDSNP e distribuídos a Relator (cf. fls. 35 a 37).

9. Regularmente notificado do referido libelo acusatório, o arguido apresentou a defesa escrita de fls. 41 a 49, subscrita por Ilustre Mandatário para esse efeito constituído (cf. procuração de fls. 49), onde, para além de apresentar prova documental, indica, para efeito de produção de prova, três testemunhas.

10. A senhora Instrutora, em deferimento do requerimento probatório do arguido, inquiriu, em diligência para esse efeito agendada e previamente notificada ao arguido, o Senhor Carlos Alberto Tavares Carvalho, Presidente do clube arguido, e o Senhor José Luís Fernandes Canoso, Vice-Presidente do mesmo clube (cf. fls. 50 a 53), tendo o Carapinheirense prescindido do depoimento da terceira testemunha arrolada (cf. fls. 70).

11. Na sequência de tal diligência de inquirição de testemunhas, a Senhora Instrutora, em face da prova documental apresentada pelo arguido, solicitou esclarecimentos complementares à Direção de Competições da FPF (fls. 56), que os prestou nos termos que constam de fls. 60, onde, além do mais, disse que «[a] listagem de agentes desportivos encontrava-se incompleta, uma vez que não foi incluído o seguinte jogador: Lucas Santos Cruz (…), nem enviado documento de desvinculação do referido atleta».

12. No dia 2 de julho de 2021, a Senhora Instrutora notificou, os sobreditos esclarecimentos da Direção de Competições da FPF, ao arguido, a quem concedeu prazo de 2 (dois) dias úteis para pronúncia (fls. 66 e 67). Em sede de contraditório, no prazo concedido, o arguido apresentou a pronúncia de fls. 68, em que afirma que «o jogador Lucas Santos Cruz (…), terminada a época desportiva viajou para o Brasil para o gozo de ferias, não mais regressando ou dando notícias, nem tendo solicitado a sua carta de desvinculação».

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13. Na sequência, a senhora Instrutora procedeu, em 9 de julho de 2021, à apresentação, nos autos, do relatório final do processo disciplinar, ao abrigo do disposto no artigo 243.º, n.º 1 do RDFPF, que consta de fls. 73 a 103 dos autos, e no qual propõe a aplicação, ao arguido, da «sanção de multa de 102 € (cento e dois euros) - pela prática da infração disciplinar leve prevista e sancionada no artigo 116.º (Inobservância de outros deveres) do RDFPF, em conjugação com o artigo 13.º, n.º 2 e 4 do Regulamento do Campeonato de Portugal da FPF».

14. Conclusos os autos ao Relator, este considerou encontrarem-se reunidas as condições processuais para encerramento da fase de instrução, na sequência do que prosseguiram os autos para elaboração de projeto de acórdão, nos termos do artigo 245.º do RDFPF (cf. fls. 103).

§2. Da acusação

15. Em sede de acusação (fls. 19 a 29), aduz-se que o Carapinheirense, em virtude de não ter apresentado, de forma livre, consciente e voluntária, com conhecimento da ilicitude da sua conduta, «até ao dia 4 de maio de 2021, até às 23h e 59 minutos, qualquer documentação que atestasse a sua situação financeira, no que diz respeito à inexistência de dívidas relativas a retribuições, subsídios e outras compensações por despesas a jogadores e treinadores no decorrer da época desportiva 2020/2021, violou – o dever de cumprir as suas obrigações legais e regulamentares referentes à transparência jurídica e financeira, o que redunda no incumprimento do dever de zelar pela defesa da ética e verdade desportiva previstos e punidos pelo ordenamento jus-disciplinar desportivo».

16. Em face de tal, o libelo acusatório, entendendo verificar-se, nos termos do disposto o artigo 43.º do RDFPF, circunstância agravante de reincidência, imputa ao arguido a prática de uma «infração disciplinar leve prevista e sancionada no artigo 116.º (Inobservância de outros deveres) do RDFPF, por violação dos deveres previstos no artigo 13º, nº 2 e 4 do Regulamento do Campeonato de Portugal da FPF, à qual corresponde, em abstrato, à aplicação da sanção de multa entre 2 e 20».

17. A imputação sustentada em sede de despacho de acusação vem suportada no acervo probatório mencionado nos pontos 3. a 6. do presente acórdão.

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§3. Da defesa

18. Em sede de defesa escrita, o arguido refuta a materialidade aduzida em sede de acusação e afirma que «remeteu á arguente FPF, mediante transmissão eletrónica de dados, para os endereços de correio eletrónico competicoes@fpf.pt e licenciamento.fpf@fpf.pt, no dia 13/03/2021 pelas 21:50 horas os documentos cuja a falta se acusa, a saber:

1. Declaração de inexistência de dívidas (Modelo FPF) 2. Reconhecimento de Assinaturas (Solicitador) 3. Declaração (TOC)

4. Declaração (TOC)

5. Listagem de equipe técnica e atletas seniores».

19. Em face de tal, o arguido sustenta que «a acusação deduzida é completamente infundada», pelo que requer que o processo disciplinar seja arquivado.

II – COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE DISCIPLINA

20. De acordo com o artigo 43.º, n.º 1 do RJFD2008 (4), compete a este Conselho, de

acordo com a lei e com os regulamentos e sem prejuízo de outras competências atribuídas pelos estatutos e das competências da liga profissional, instaurar e arquivar procedimentos disciplinares e, colegialmente, apreciar e punir as infrações disciplinares em matéria desportiva. No mesmo sentido, dispõe o artigo 15.º do Regimento deste Conselho (5).

III – QUESTÕES PRÉVIAS

(4) Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro (regime jurídico das federações

desportivas e do estatuto de utilidade pública desportiva) e alterado pelo artigo 4.º, alínea c), da Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro (Cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei) e ainda pelos artigos 2º e 4º Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho, cujo texto consolidado constitui anexo a este último.

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21. Inexistem questões prévias que obstem ao conhecimento da causa ou que cumpra previamente decidir, sendo os elementos constantes do processo disciplinar bastantes para conhecer do mérito.

IV – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

§1. A prova no direito disciplinar desportivo

22. Em sede de direito disciplinar desportivo, atenta a particular natureza sancionatória do respetivo processo, tem plena validade a convocação – em sede de exame crítico da prova – do princípio geral da livre apreciação da prova, consagrado no artigo 127.º do Código do Processo Penal, de acordo com o qual «[s]alvo quando a lei dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade competente». O RDFPF prevê expressamente este princípio no n.º 2 do art.º 220.º, onde estatui «[s]alvo quando o Regulamento dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção dos órgãos disciplinares».

23. Todavia, no âmbito disciplinar desportivo, a concreta conformação do mencionado princípio vê-se condicionada pelo valor especial e reforçado que os relatórios oficiais e declarações complementares das equipas de arbitragem e dos delegados da FPF merecem em tal contexto. Com efeito, o RDFPF – numa aproximação à previsão constante do art.º 169.º do Código de Processo Penal – dispõe, no n.º 3 do art.º 220.º, que os factos presenciados pelas equipas de arbitragem e pelos delegados da FPF no exercício de funções, constantes de relatórios de jogo e de declarações complementares, se presumem verdadeiros enquanto a sua veracidade não for ‘fundadamente’ posta em causa (6).

(6) O valor probatório qualificado a que o RDFPF alude constitui um mecanismo regulamentar

compreendido e justificado pelo cometimento de funções particularmente importantes aos árbitros e delegados da FPF, a quem compete representar a instituição no âmbito dos jogos oficiais, cumprindo e zelando pelo cumprimento dos regulamentos, nomeadamente em matéria disciplinar (ainda que isso possa não corresponder aos interesses egoísticos dos clubes). Na verdade, encontramo-nos, nesta sede, no domínio do exercício de poderes de natureza pública – in casu, disciplinares –, que se sobrepõem aos interesses particulares dos clubes. No quadro competitivo, enquanto os clubes concretizam interesses próprios, compete a quem tem o poder e o dever de organizar a prova e fazer cumprir os regulamentos prosseguir um interesse superior ao interesse próprio de cada um dos clubes que a integram. Neste

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24. Destarte, a credibilidade probatória reforçada de que gozam tais relatórios oficiais só sairá abalada quando, perante a prova produzida, existirem fundadas razões para acreditar que o seu conteúdo não é verdadeiro. Para além disso e em segundo lugar, no que tange à atividade decisória, a força probatória reforçada de que tais relatórios beneficiam impõe ao julgador, quando entenda impor-se o afastamento da presunção de veracidade, um “especial dever de fundamentação” (7).

25. Em todo o caso, importa ainda tomar em linha de conta que, à semelhança do processo penal, são neste contexto e à luz do que determina o n.º 1 do art.º 220.º do RDFPF, «admissíveis as provas que não forem proibidas por lei (…) podendo os interessados apresentá-las diretamente ou requerer que sejam produzidas quando forem de interesse para a justiça da decisão».

§2. Factos provados

26. Analisada e valorada a prova produzida nos autos, com relevância para a decisão da causa, consideram-se provados os seguintes factos:

1) O arguido Clube Desportivo Carapinheirense esteve inscrito, na época desportiva 2020/2021, entre outras competições, no Campeonato de Portugal, prova organizada pela FPF.

conspecto, o interesse superior da competição, realizado no âmbito de determinados poderes de natureza pública (que são exercidos em representação da própria FPF), justifica perfeitamente que os relatórios dos árbitros e dos delegados e declarações complementares respetivas – vinculados que estão a deveres de isenção e equidistância –, gozem da aludida presunção de veracidade (presunção “juris tantum”). Trata-se, afinal, da consequência necessária e justificada do exercício, no quadro do jogo, da autoridade necessária para assegurar a ordem, a disciplina e o cumprimento dos regulamentos, distanciando-se das disputas que envolvem os participantes nas provas.

(7) Convocando o pensamento de PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE, este «A limitação do julgador consiste em

que ele deve “fundadamente” pôr em causa a autenticidade ou veracidade do documento», In Comentário ao Código de Processo Penal, 2.ª Edição, Un. Católica Editora, 2008, pág. 452.

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2) No dia 13 de março de 2021, pelas 21 horas e cinquenta minutos, o arguido remeteu, através de transmissão eletrónica de dados, para os endereços de correio eletrónico

competições@fpf.pt e licenciamento.fpf@fpf.pt, os seguintes documentos:

a. Declaração de inexistência de dívida, no formulário disponibilizado pela FPF, datada de 12 de março de 2021, subscrita pelos Presidente, Vice-Presidente e Tesoureira do clube arguido, cujas assinaturas e poderes foram reconhecidos, nos termos do disposto nos artigos 38.º do Decreto-Lei n.º 76-A/2006 e Portaria 657-B/2006, de 29 de junho, por solicitador inscrito na Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução;

b. Declaração subscrita por Manuel Albano de São José Cardoso, contabilista certificado do Carapinheirense, datada de 12 de março de 2021, onde, além do mais, se declara que «[d]e acordo com os procedimentos referidos, a declaração da Direção, e todos os elementos que conhecemos registados na contabilidade do clube, certificamos, que à data deste relatório, não existem dívidas a jogadores e treinadores constantes da listagem incluída na declaração»; c. Declaração subscrita por Manuel Albano de São José Cardoso, contabilista

certificado do Carapinheirense, datada de 12 de março de 2021, onde se declara «para os efeitos previstos no artº 30º, n.º 3, do Regulamento de Licenciamento de Clubes para as Competições da FPF, que, após consulta à contabilidade inerente, não se regista qualquer dívida recorrente [sic] de transferência de jogadores»;

d. Listagem de equipa técnica e atletas seniores com identificação dos seguintes agentes desportivos:

1. Nuno Raquete – treinador principal; 2. Mesquita – treinador adjunto; 3. Pedro Costa – atleta;

4. Tomás Santos – atleta; 5. Michael Santos – atleta; 6. Dhiego Bento – atleta; 7. Carlos Lima – atleta;

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8. Diogo Fortunato – atleta; 9. Tomás Piedade – atleta; 10. Rodrigo Tirso – atleta; 11. David Pires – atleta; 12. Ricardo Faria – atleta; 13. Paulo André – atleta; 14. Rui Ferreira – atleta; 15. Ricardo Tavares – atleta; 16. Vinicius Augusto – atleta; 17. Willian Nascimento – atleta; 18. Jailson Nobre – atleta; 19. Cleiton Abreu – atleta; 20. Alexandre Lavrador – atleta; 21. André Lisboa – atleta; 22. António Ventura – atleta; 23. Bruno Embaló – atleta; 24. Simão Monteiro – atleta; 25. Diego Avelino – atleta; 26. Sandro Moço – atleta; 27. Giovani Fabri – atleta.

3) O Clube Desportivo Carapinheirense, à data de 4 de maio de 2021, apresentava, por referência ao Campeonato de Portugal, em sede de cadastro disciplinar, na época desportiva 2020/201 e nas três épocas desportivas anteriores em que esteve inscrito na referida competição, os seguintes averbamentos:

a. Na época desportiva 2020/2021, a prática por duas vezes da infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 109.º, n.º 1, do RDFPF e por uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 116.º do RDFPF.

b. Na época desportiva 2017/2018, uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 84.º, n.º 1, do RDFPF;

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c. Na época desportiva 2016/2017, uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 188.º, n.º 1 do RDFPF;

d. Na época desportiva 2013/2014, duas infrações disciplinares previstas e sancionadas pelo artigo 104.º, n.º 1, do RDFPF.

§2. Factos não provados

27. De igual modo, analisada e valorada a prova produzida nos autos, com relevância para a decisão da causa, consideram-se não provados os seguintes factos:

1) O arguido Clube Desportivo Carapinheirense não remeteu à FPF, entre 1 de março de 2021 e 4 de maio de 2021, até às 23 horas e 59 minutos, qualquer documento que atestasse a sua situação financeira perante jogadores e treinadores no decorrer da época desportiva 2020/2021.

2) O arguido Clube Desportivo Carapinheirense, enquanto clube participante no Campeonato de Portugal, ao não ter remetido à FPF, até ao dia 4 de maio de 2021, até às 23h e 59 minutos, qualquer documentação que atestasse a sua situação financeira, no que diz respeito à inexistência de dívidas relativas a retribuições, subsídios e outras compensações por despesas a jogadores e treinadores no decorrer da época desportiva 2020/2021, violou – o dever de cumprir as suas obrigações legais e regulamentares referentes à transparência jurídica e financeira, o que redunda no incumprimento do dever de zelar pela defesa da ética e verdade desportiva previstos e punidos pelo ordenamento jus-disciplinar desportivo.

3) O arguido Clube Desportivo Carapinheirense agiu de forma livre, consciente e voluntária, não podendo ignorar que o seu comportamento consubstanciava conduta prevista e sancionada pelo ordenamento jus-disciplinar desportivo, e, apesar disso, pretendeu efetivamente adotá-lo.

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28. A factualidade dada como provada resulta da valoração dos elementos probatórios juntos ao processo à luz das regras da experiência comum.

29. O vertido no ponto 1) decorre do detalhe de inscrições de fls. 12 e 13.

30. No que concerne à materialidade apresentada no ponto 2), decorre a mesma da documentação apresentada pelo arguido, em sede de defesa, e dos depoimentos prestados nos autos pelo respetivos Presidente e Vice-Presidente.

31. Concretizando, o clube arguido juntou, a fls. 43, impressão de mensagem de correio eletrónico, remetida no dia 12 de março de 2021, pelas 21h50, para os endereços

competicoes@fpf.pt e licenciamento.fpf@fpf.pt, com o seguinte texto «Bom dia, enviamos em anexo declaração de [in]existência de dívidas e reconhecimento de assinaturas» e com a indicação da junção, em anexo, de cinco documentos [“Scan.pdf; Scan1.pdf; Scan2.pdf; Scan3.pdf; Scan4.pdf; Listagem.xlsx”]. Ainda de acordo com a prova documental produzida pelo Carapinheirense, os cinco documentos enviados, em anexo à mencionada mensagem de correio eletrónico, foram os seguintes:

a) Uma “Declaração de inexistência de dívida”, emitida no formulário disponibilizado pela FPF, datada de 12 de março de 2021, subscrita pelos Presidente, Vice-Presidente e Tesoureira do clube arguido (fls. 44),

b) Uma declaração de reconhecimento presencial das assinaturas e poderes dos subscritores do primeiro documento, nos termos do disposto nos artigos 38.º do Decreto-Lei n.º 76-A/2006 e Portaria 657-B/2006, de 29 de junho, emitida, no dia 12 de março de 2021, por solicitador inscrito na Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução (fls. 45);

c) Uma declaração subscrita por Manuel Albano de São José Cardoso, contabilista certificado do Carapinheirense, datada de 12 de março de 2021, onde, além do mais, se declara que «[d]e acordo com os procedimentos referidos, a declaração da Direção, e todos os elementos que conhecemos registados na contabilidade do clube, certificamos, que à data deste relatório, não existem dívidas a jogadores e treinadores constantes da listagem incluída na declaração» (fls. 46);

d) Uma declaração também subscrita por Manuel Albano de São José Cardoso, contabilista certificado do Carapinheirense, datada de 12 de março de 2021, onde

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se declara «para os efeitos previstos no artº 30º, n.º 3, do Regulamento de Licenciamento de Clubes para as Competições da FPF, que, após consulta à contabilidade inerente, não se regista qualquer dívida recorrente [sic] de transferência de jogadores» (fls. 47);

e) Listagem de equipa técnica e atletas seniores com identificação dos seguintes agentes desportivos aludidos na alínea d. do ponto 2) dos factos provados (fls. 48).

32. O envio da sobredita mensagem e a apresentação dos referidos documentos foi confirmada, a fls. 60, pela Direção de Competições da FPF, que, para além de tal confirmação, afirma que essa «documentação foi analisada pela Direção Jurídica, pelo Departamento Financeiro e pela Divisão de Registos e Transferências».

33. A materialidade aludida no ponto 2) foi igualmente confirmada pelos dirigentes inquiridos em sede de instrução (fls. 52 e 53), nomeadamente pelo Senhor Carlos Alberto Tavares Carvalho, Presidente do arguido, que, no seu depoimento, afirmou «nós enviámos essa declaração no dia 12 de março», esclarecendo «enviámos para competicoes@fpf.pt e enviámos também para licenciamento.fpf@fpf.pt, no dia 13 do 3 de 2021, às 21 e 50», ou seja, «precisamente para o mesmo endereço que em dezembro. E em dezembro não tivemos esse problema». Em sentido convergente, o Senhor José Luís Fernandes Canoso, Vice-Presidente do mesmo clube, disse «eu assinei, sou o responsável, e estava tudo completo» e «já houve o envio de documentos desses, iguais. Acho que foi no final do ano. Não houve problemas nenhuns. Acho que estava tudo correto Foi para os mesmos endereços».

34. Prosseguindo, a factualidade apresentada no ponto 3), atinente aos antecedentes disciplinares do Carapinheirense, resulta do cadastro disciplinar que consta de fls. 14 e 15.

35. No que concerne à factualidade dada como não provada, resulta a mesma da absoluta ausência de prova que a demonstrasse, além de que a prova produzida pelo clube arguido a afasta necessariamente.

36. Neste particular, cumpre referir que o despacho de acusação, além da factualidade de natureza conclusiva ou argumentativa apresentada nos pontos 6.º a 14.º e 16.º e 17.º do libelo acusatório, resumia a sua imputação à alegação de que «o arguido Clube Desportivo Carapinheirense não remeteu à FPF, entre 1 de março de 2021 e 4 de maio de 2021, até às 23

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horas e 59 minutos, qualquer documento que atestasse a sua situação financeira perante jogadores e treinadores no decorrer da época desportiva 2020/2021» (destaque nosso).

37. Para chegar a tal adução, o libelo acusatório considerou que incumbia ao referido clube o envio, em alternativa, «declaração de inexistência de dívidas relativas a retribuições, subsídios e outras compensações por despesas a jogadores e treinadores, emitida pelo clube, assinada por quem, legal e estatuariamente, o obriga e certificada por TOC ou ROC» ou «tratando-se de dívidas pagas perante o Fundo de Regularização Salarial, (…) declaração que atestasse que os jogadores do clube não recorreram ao Fundo de Regularização Salarial no decorrer da época desportiva 2020/2021; ou tendo recorrido, (…) feito prova de já ter liquidado, ou de que se encontra a liquidar, o débito, de acordo com o plano de regularização de dívida, junto do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, situação que, a subsistir, o clube arguido também não veio demonstrar dentro do prazo estipulado» e, ainda, neste último caso, quanto a «dívidas que tenham sido objeto de acordo escrito de regularização ou cuja existência ou exigibilidade seja, objeto de litígio submetido a entidade competente, o clube deveria ter feito prova desse acordo, através de declaração de treinador ou jogador, com reconhecimento presencial da sua assinatura, ou da pendência judicial, documentação que, caso exista, o clube arguido igualmente não enviou à FPF entre 1 de março e 4 de maio de 2021».

38. Nessa medida, considerou a acusação que o referido clube, omitindo o comportamento devido, não remeteu documento algum que se incluísse em alguma das possibilidades alternativas aludidas nos artigos 15.º a 17.º do referido libelo.

39. E essa adução vinha apenas ancorada, em termos indiciários, na mensagem da Direção de Competições da FPF constante de fls. 3, datada de 7 de abril de 2021, onde se atestava a «lista de clubes participantes nas Provas em apreço que, na presente data, não concluíram o processo, no prazo fixado, relativa ao cumprimento dos deveres referidos nos artigos mencionados», nomeadamente os previstos no «artigo 13.º, n.º 4 do Regulamento do Campeonato de Portugal e do artigo 14.º, n.º 4 do Regulamento da Liga Placard» e na mensagem, remetida pela mesma Direção, no dia 21 de maio de 2021 (fls. 18), em que se certificou a «lista de clubes que, até às 23h59 do dia 4 de maio de 2021, não respeitaram o dever de cumprimento de obrigações durante a época desportiva em curso».

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40. Contudo, é evidente, na simples leitura de tais documentos, que a Direção de Competições neles não afirma, nem, muito menos, certifica, que os clubes identificados (e, nomeadamente, o ora arguido) não enviaram documento algum naquele contexto, vindo apenas afirmado, para efeitos de aferição da eventual relevância disciplinar, que tais clubes «não concluíram o processo, no prazo fixado» e que, em sentido convergente, «não respeitaram o dever de cumprimento de obrigações durante a época desportiva em curso».

41. Deste modo, não suportando tais afirmações o cerne da imputação lançada em sede de acusação, certo é que, perante a documentação junta pelo arguido (acima já devidamente escalpelizada), a demonstração da factualidade subjacente soçobra inapelavelmente, porquanto, como veio confirmar a Direção de Competições a fls. 60, o clube arguido promoveu o cumprimento dos deveres previstos no artigo 13.º, nº 4 do Regulamento do Campeonato de Portugal, tendo remetido a documentação a cujo envio tal regulamento obrigava.

V – FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO

§1. Enquadramento jurídico-disciplinar – Fundamentos e âmbito do poder disciplinar

42. O poder disciplinar exercido no âmbito das competições organizadas pela Federação Portuguesa de Futebol assume natureza pública. Com clareza, concorrem para esta proposição as normas constantes dos artigos 19.º, n.º 1 e 2, da Lei n.º 5/2007 de 16 de janeiro (Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto), e dos artigos 10.º, 13.º, alínea i), do RJFD2008.

43. A existência de um poder disciplinar justifica-se pelo dever legal – artigo 52.º, n.º 1, do RJFD2008 – de sancionar a violação das regras de jogo ou da competição, bem como as demais regras desportivas, nomeadamente as relativas à ética desportiva, entendendo-se por estas últimas as que visam sancionar a violência, a dopagem, a corrupção, o racismo e a xenofobia, bem como quaisquer outras manifestações de perversão do fenómeno desportivo (artigo 52.º, n.º 2, do RJFD2008).

44. O poder disciplinar exerce-se sobre os clubes, dirigentes, praticantes, treinadores, técnicos, árbitros, juízes e, em geral, sobre todos os agentes desportivos que desenvolvam a atividade desportiva compreendida no seu objeto estatutário (artigo 54.º, n. º1, do RJFD2008).

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Em conformidade com o artigo 55.º do RJFD2008 o regime da responsabilidade disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal. O quadro normativo agora sumariado alumia estarmos na presença de um poder disciplinar que se impõe, em nome dos valores mencionados, a todos os que se encontram a ele sujeito, no âmbito já delineado e que, por essa razão, assenta na prossecução de finalidades que estão bem para além dos pontuais e concreto interesses desses agentes e organizações desportivas.

§2. Das infrações disciplinares em geral

45. Antes de prosseguir, cumpre referir que no dia 22 de junho de 2021, foi divulgado o Comunicado Oficial da FPF n.º 623, que, além do mais, deu publicidade às alterações ao RDFPF aprovadas pela Direção da FPF, na sua reunião de 8 de junho de 2021. Esta versão do RDFPF (que, de ora em diante, se apelida de RDFPF2021), vigente a partir do início da época desportiva 2021/2022 (8), não consubstanciando um novo corpo normativo totalmente distinto do vigente

na época 2020/2021, justifica que, no vertente caso, se divise qual a versão aplicável, em termos substantivos, ao caso vertente.

46. Com efeito, o art.º 10.º, n.º 1 do referido diploma (em ambas as versões agora abordadas) estabelece que «[a]s sanções são determinadas pelas normas sancionatórias vigentes no momento da prática dos factos que constituem a infração disciplinar», o que impõe que, antes de mais, se indague do regime substantivo estabelecido no RDFPF (ou seja, na versão do RDFPF vigente à data dos factos e invocado em sede de libelo acusatório), para depois e eventualmente, equacionar se a versão do regulamento disciplinar entretanto aprovada estabelece “regime que concretamente se mostre mais favorável ao infrator” que se sobreponha, nos termos do disposto do art.º 10.º, n.º 4 do RDFPF, ao vigente à data dos factos.

(8) Nos termos do disposto no número 4 do artigo 262.º do RDFPF, na versão atualmente vigente, «[a]s

alterações ao presente Regulamento, aprovadas em reunião da Direção da Federação Portuguesa de Futebol de 8 de junho de 2021, entram em vigor no primeiro dia da época desportiva 2021/2022, sendo publicado em Comunicado Oficial». Ora, como referido no Comunicado Oficial n.º 1 da FPF, a época desportiva 2021/2021 tem «início a 1 de julho de 2021 e termo a 30 de junho de 2022».

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47. Neste contexto, deve, antes de mais, notar-se que a versão vigente à data aludida no ponto 2) (RDFPF) se encontrava estruturada, no estabelecer das infrações disciplinares, pela qualidade do agente infrator – clubes, dirigentes, jogadores, delegados dos clubes e treinadores, demais agentes desportivos, espectadores, árbitros, árbitros assistentes, observadores de árbitros e delegados da FPF (estrutura que o RDFPF2021 igualmente apresenta). Para cada um destes tipos de agente o RDFPF recorta tais infrações e respetivas sanções em obediência ao grau de gravidade dos ilícitos, qualificando assim as infrações como muito graves, graves e leves.

§3. Das infrações disciplinares concretamente imputadas

48. Neste contexto, vem o clube arguido acusado da prática da infração prevista e sancionada pelo art.º 116.º do RDFPF, que sanciona com «multa entre 1 e 10 UC, se sanção mais grave não lhe for aplicável por força de outra disposição deste Regulamento», «[o] clube que, em todos os casos não especialmente previstos neste Regulamento, viole dever imposto pelos regulamentos, normas e instruções genéricas da FPF e demais legislação desportiva aplicável».

49. No caso concreto, tal imputação sustenta-se no disposto no Regulamento do Campeonato de Portugal – época desportiva 2020/2021 (doravante RCP), nomeadamente no seu art.º 13.º, cujo n.º 1 exige «aos Clubes participantes no Campeonato de Portugal o cumprimento dos deveres assumidos para a época desportiva 2020-2021» e lhes impõe, nos termos do número 2 do mesmo artigo, a «entrega entre as datas 15 e 31 de dezembro e, posteriormente, entre 1 e 15 de março, de:

a) Declaração de inexistência de dívidas relativas a retribuições, subsídios e outras compensações por despesas a jogadores e treinadores, emitida pelo clube, assinada por quem, legal e estatuariamente, o obriga e certificada por TOC ou ROC. A declaração deve conter relação discriminada dos jogadores e treinadores a que respeita, identificados por nome e número de licença (jogadores) ou número de identificação civil (treinadores). b) Declaração de clube ou sociedade desportiva que ateste que:

i. Os jogadores do clube ou sociedade desportiva não recorreram ao Fundo de Regularização Salarial na época em curso;

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ii. Tendo recorrido, nos termos da alínea anterior, o clube ou sociedade desportiva faça prova de já ter liquidado, ou de que se encontra a liquidar, o débito, de acordo com o plano de regularização de dívida, junto do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol”

50. Acrescenta o número 3 do mesmo artigo, como ressalva ao disposto no n.º 2, que «as dívidas que tenham sido objeto de acordo escrito de regularização ou cuja existência ou exigibilidade seja, objeto de litígio submetido a entidade competente, devendo o clube ou sociedade desportiva apresentar prova desse acordo, através de declaração de treinador ou jogador, com reconhecimento presencial da sua assinatura, ou da pendência judicial» e, o número 4, que «[o] não cumprimento atempado da obrigação de entrega dos documentos referidos no número 2 constitui infração disciplinar, sancionada nos termos do Regulamento Disciplinar».

§4. O caso concreto: subsunção ao direito aplicável

51. A subsunção ao direito aplicável pressupõe que se efetue a exegese das normas sancionatórias, para assim verificar se se encontram preenchidos os elementos típicos, objetivos e subjetivos, que as mesmas estabelecem. Assim, cumpre, antes de mais, atentar que, nos termos do disposto no art.º 15.º, n.º 1 do RDFPF, constitui “infração disciplinar o facto voluntário, ainda que meramente culposo, que por ação ou omissão previstas ou descritas neste Regulamento viole os deveres gerais e especiais nele previstos e na demais legislação desportiva aplicável”.

52. O arguido, sendo acreditado pela FPF, nos termos do art.º 4.º, al. d), em conjugação com o art.º 3.º, n.º 1, ambos do RDFPF, está sujeito ao exercício do poder disciplinar por parte da mesma, na medida em que pratique factos que possam ser integrados nalgum dos tipos de infração regulamentarmente previstos.

53. Deste modo, atentando na concreta imputação lançada em sede de acusação, deve referir-se que a eventual aplicação do disposto no art.º 116.º do RDFPF (por referência ao disposto no artigo 13.º, n.º 2 a 5 do RCP) requer a verificação, no caso concreto, de materialidade que – não se subsumindo em diferente ilícito disciplinar previsto no RDFPF – revele que (i) um

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clube, (ii) não procedeu ao cumprimento atempado da obrigação de entrega dos documentos referidos no número 2 do artigo 13.º do RCP.

54. Neste particular, deve atentar-se, em consonância com o referido no libelo acusatório, que, atenta a natureza eminentemente pública dos poderes exercidos pela FPF, mormente dos respetivos poderes regulamentares (nomeadamente, entre outros, o de estabelecer o regime previsto no citado artigo 13.º do Regulamento do Campeonato de Portugal), é evidente que toda a sua atividade, nesse contexto, se encontra sujeita, por força do disposto no artigo 2.º, n.º 1, do Código do Procedimento Administrativo (CPA de ora em diante), às «disposições [desse] Código respeitantes aos princípios gerais, ao procedimento e à atividade administrativa» e em consonância com o que a sucessão de atos e formalidades tendentes à execução de tais prerrogativas públicas consubstancia, nos termos do disposto no artigo 1.º, n.º 1, do mesmo diploma, verdadeiro procedimento administrativo, pelo que não se pode deixar de considerar que os prazos previstos naquele artigo 13.º do Regulamento do Campeonato de Portugal – que não têm natureza meramente privada, nem se configuram como prazos judiciais –, são verdadeiros prazos de natureza administrativa, sujeitos ao regime previsto no referido CPA.

55. Ora, nos termos do art.º 6.º-C (prazos para a prática de atos procedimentais), aditado à Lei n.º 1-A/2020, de 19 de março por força do art.º 2.º da Lei n.º 4-B/2021, de 1 de fevereiro, foram suspensos, com efeitos a 22 de janeiro de 2021 (art.º 4.º), os prazos para a prática de atos em procedimentos administrativos no que respeita à prática de atos por particulares. Tal regime vigorou até dia 6 de abril, data da entrada em vigor da Lei n.º 13-B/2021, de 5 de abril, que revogou o referido art.º 6.º-C da Lei n.º 1-A/2020, na redação à data vigente, estabeleceu ainda, no seu art.º 4.º, n.º 1, que “[o]s prazos administrativos cujo termo original ocorreria durante a vigência do regime de suspensão estabelecido pelo artigo 6.º-C da Lei n.º 1-A/2020, de 19 de março, na redação introduzida pela Lei n.º 4-B/2021, de 1 de fevereiro, consideram-se vencidos no vigésimo dia útil posterior à entrada em vigor da presente lei”.

56. Pelo exposto, os prazos administrativos previstos no art.º 13.º do Regulamento do Campeonato de Portugal, cujo termo ocorreria a 15 de março de 2021, estiveram suspensos até dia 6 de abril de 2021, tendo o seu termo sido prorrogado para o vigésimo dia útil posterior à entrada em vigor da Lei n.º 13-B/2021, de 5 de abril, ou seja, dia 4 de maio de 2021.

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57. Regressando ao caso sub judice, cumpre recordar que, em sede de Fundamentação de Facto, se demonstrou que o clube arguido, no dia 12 de março de 2021 (e, por conseguinte, muito antes do final do aludido prazo), remeteu à FPF as declarações [melhor identificadas no ponto 2) dos Factos Provados] cuja apresentação, como atesta a Direção de Competições a fls. 60, se lhe impunha.

58. Não se ignora, porém, que a Direção de Competições, na referida comunicação de fls. 60, afirma que «[a] listagem de agentes desportivos encontrava-se incompleta, uma vez que não foi incluído o seguinte jogador: Lucas Santos Cruz (…), nem enviado documento de desvinculação do referido atleta», o que, em rigor, se não afigura disciplinarmente irrelevante. Acontece, porém, que, para além de tal indiciar a prática de um ilícito diferente do que vem imputado (o libelo acusatório imputa infração disciplinar cometida por omissão, quando a referida irregularidade, por tanger com a veracidade ou completude do conteúdo das declarações, concerniria à eventual prática, por ação, de outro tipo de conduta disciplinarmente relevante), certo é que se não encontra, na materialidade lançada no libelo acusatório, factualidade que nos permita, em sede de subsunção jurídica, chegar a conclusão diferente da acima sindicada.

59. Na verdade, vindo a acusação ancorada em simples conduta omissiva, em nenhum momento se desenvolve factualidade alguma relativa ao concreto envio de documentação, ao respetivo conteúdo e, muito menos, à necessidade de inclusão, na lista de agentes desportivos, do referido Lucas Santos Cruz (o que sempre requereria a alegação e demonstração da inscrição do mesmo, na época desportiva 2020/2021, como jogador do clube arguido e a manutenção de tal qualidade à data da consumação da conduta disciplinarmente relevante), a partir da qual se retirasse a conclusão de irregularidade no cumprimento de obrigações regulamentares.

60. É certo que, nos termos do disposto no artigo 243.º, nº 4 do RDFPF, se permite, ao CDSNP, proceder à «alteração não substancial dos factos», caso em que tal norma exige a notificação ao arguido «da alteração e para, querendo, se pronunciar sobre a alteração no prazo de 5 dias e requerer prova complementar, salvo se a alteração da qualificação ou dos factos resultar da defesa do arguido ou representar a imputação de uma infração menos grave que a constante da acusação, desde que não comporte alteração substancial dos factos».

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61. Porém, como aclaram JORGE DE FIGUEIREDO DIAS e SUSANA AIRES DE SOUSA, «cabe, desde logo, distinguir duas hipóteses quanto à emergência de “novos factos” conhecidos durante a audiência: ou os factos agora descobertos alteram a questão de facto referida no ato acusatório; ou constituem um acrescento autónomo e cumulativo relativamente a ele. Distinção pressuposta em alguma literatura, quando salienta que os novos factos de alteração pressupõem “um mínimo de identidade” ou que devem incluir-se no âmbito “do mesmo facto histórico unitário”. Deste modo, as alterações pressupostas pela lei processual serão sempre “variações” ao facto processual referido no ato acusatório» e, por isso, «novos factos desligados ou autónomos perante o facto processual acusado não cabem no conceito de alteração dos factos. Nesta hipótese, em causa estará não uma mera alteração do facto processual acusado, mas sim um outro facto ou, se quisermos, um outro e autónomo pedaço de vida» (9).

62. Tendo tal ensinamento presente e regressando ao caso vertente, afigura-se-nos inequívoco que a possibilidade de apreciação – em sede disciplinar – da regularidade das declarações efetivamente apresentadas (e, nomeadamente, a veracidade do respetivo conteúdo), se não enquadra no conceito de alteração de factos admitido pelo artigo 243.º, n.º 4 do RDFPF, porque sempre implicaria a apreciação de factos que «constituem um acrescento autónomo e cumulativo relativamente» ao facto acusado. Além disso, mesmo que assim se não entendesse, certo é que uma tal materialidade, a demonstrar-se, implicaria a imputação ao arguido de um ilícito disciplinar diverso (mormente o previsto no artigo 103.º do RDFPF), que alteraria – agravando – a moldura sancionatória aplicável ao caso. E, desse modo, sempre se veria a consideração de uma tal materialidade (que, assim, consubstanciaria, à luz do disposto na alínea f) do artigo 1.º do Código de Processo Penal – aplicável ex vi artigo 11.º do RDFPF –, alteração substancial dos factos) impedida, no caso sub judicio e sob pena de nulidade, por força do disposto no artigo 245.º, n.º 5 do RDFPF.

63. Por conseguinte, atento o teor da documentação apresentada pelo clube arguido, cuja apresentação foi confirmada pela Direção de Competições da FPF, vê-se infirmado o cerne da materialidade aduzida em sede de libelo acusatório e, nessa medida, afastada a

(9) In O objeto da audiência no processo penal português, Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano

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demonstração da factualidade que consta nos pontos 1) a 3) dos factos não provados, o que, inapelavelmente, determina a improcedência da acusação.

64. Pelo exposto, não se encontrando reunidos os pressupostos de natureza objetiva e subjetiva de que dependeria a responsabilidade disciplinar do clube arguido, à luz do que dispõe o art.º 116.º do RDFPF (por referência ao disposto no artigo 13.º, n.º 2 a 5 do RCP), deve o mesmo ser absolvido. Nessa medida, infirmando-se, no contexto do RDFPF, a imputação lançada ao arguido, torna-se desnecessária, por inútil, a aferição da eventual aplicação do RDFPF2021, entretanto entrado em vigor.

VI – DECISÃO

Nestes termos e com os fundamentos expostos, o Conselho de Disciplina - Secção Não Profissional – da Federação Portuguesa de Futebol considera totalmente improcedente a acusação deduzida contra o Clube Desportivo Carapinheirense e, nessa medida, absolve-o da prática da infração que lhe vem imputada.

Sem custas.

Registe, notifique e publicite.

Cidade do Futebol, 23 de julho de 2021

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RECURSO DESTA DECISÃO

As decisões do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol são passíveis de recurso, nos termos da lei e dos regulamentos, para o Conselho de Justiça ou para o Tribunal Arbitral do Desporto.

De acordo com o artigo 44.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro, na redação conferida pelo artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 93/2014 de 23 de junho, cabe recurso para o Conselho de Justiça das decisões disciplinares relativas a questões emergentes da aplicação das normas técnicas e disciplinares diretamente respeitantes à prática da própria competição desportiva.

O recurso deve ser interposto no prazo de 5 dias úteis (artigo 35.º do Regimento do Conselho de Justiça aprovado pela Direção da Federação Portuguesa de Futebol, em 18 de dezembro de 2014 e de 29 de abril de 2015 e publicitado pelo Comunicado Oficial n.º 383, de 27 de maio de 2015).

Em conformidade com o artigo 4.º, n.ºs 1 e 3, da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto (aprovada pelo artigo 2.º da Lei n.º 74/2013 de 6 de setembro, que cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei, na redação conferida pelo artigo 3.º da Lei n.º 33/2014 de 16 de junho - Primeira alteração à Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro, que cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei), compete a esse tribunal conhecer, em via de recurso, das deliberações do Conselho de Disciplina.

Exclui-se dessa competência, nos termos do n.º 6 do citado artigo, a resolução de questões emergentes da aplicação das normas técnicas e disciplinares diretamente respeitantes à prática da própria competição desportiva.

O recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto deve ser interposto no prazo de 10 dias, contados da notificação desta decisão (artigo 54.º, n. º2, da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto).

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